Prévia do material em texto
…. Sistema Cardiovascular …. Bioquímic� 4.1.Metabolism� d� Miocárdi� O coração necessita de energia diariamente para poder exercer sua função de bombear o sangue por todo o corpo humano e, assim, perfundir os tecidos. Para que isso ocorra em harmonia, é necessário que haja uma oferta contínua de oxigênio e substratos energéticos, o que é obtido através da circulação coronariana. O órgão cardíaco trabalha ininterruptamente, dependendo, então, de grande quantidade de energia. Por isso, esse tecido precisa, naturalmente, gerar grande quantidade de ATP ao nível celular. Inicialmente, é preciso ressaltar que o próprio evento da contração muscular depende de ATP. A miosina é uma ATPase que hidrolisa essa molécula constantemente durante o ciclo cardíaco. O miócito cardíaco, então, além de suas organelas usuais (túbulos T, retículo sarcoplasmático, núcleo, …) tem grande quantidade de mitocôndrias funcionais para que, através do metabolismo aeróbio, elas possam suprir a demanda energética de ATP. O músculo cardíaco é extremamente dependente do metabolismo aeróbio. A produção de energia pela mitocôndria se dá através da transferência de energia de macromoléculas combustíveis à síntese de ATP. A reação de quebra dessas macromoléculas é acoplada à reação de fosforilação do ADP, sintetizando, assim, uma molécula de ATP. A utilização de cada substrato pelo coração é definida tanto pela concentração arterial de cada um deles, quanto pela demanda energética do miocárdio em um determinado momento. Como o ATP não é uma molécula estável, é necessário que haja uma maquinaria de síntese dessa molécula muito bem desenvolvida no coração, sendo que a maquinaria mais sofisticada é a própria mitocôndria. O coração não depende de ATP apenas para a contração muscular, mas também para outros processos, como a manutenção da atividade da Na-K-ATPase, a síntese de proteínas, o desempenho organelar e muitos outros processos. O coração é um órgão altamente oxidativo, sobretudo porque precisa de alta demanda de gás oxigênio para produzir ATP. A demanda por oxigênio pode mudar conforme a atividade da musculatura cardíaca: uma alta atividade (taquicardia) precisa de uma maior captação de gás oxigênio, enquanto uma baixa atividade (bradicardia) precisa de uma menor captação desse gás. O metabolismo basal do coração, inclusive, despende maior quantidade de oxigênio do que o metabolismo de órgãos como o cérebro, o rim e a pele. Isso se dá porque esse tecido, mesmo em “repouso”, continua trabalhando ininterruptamente, consumindo altas quantidade de ATP e oxigênio. 4.1.1.Combustívei� d� Coraçã� Human� As principais fontes de energia do coração são os carboidratos e ácidos graxos , utilizados em maior proporção nos estados pós-prandial e de jejum, respectivamente. Os substratos se transformam …. Sistema Cardiovascular …. bioquimicamente no intermediário acetil-coA , que ingressa no Ciclo de Krebs e sintetizam ATP. Durante o jejum, o nível de ácidos graxos livres no sangue é alto, e estes são preferencialmente utilizados para o metabolismo oxidativo, tornando-se a principal fonte de energia. Quando os ácidos graxos são oxidados, a oxidação da glicose é inibida, sendo altamente convertida a glicogênio (“ efeito econômico da oxidação do ácido graxo ”). Vale ressaltar que o glicogênio cardíaco tem um papel diferente do glicogênio sintetizado pela musculatura esquelética. Não se sabe muito bem a função do glicogênio cardíaco, apesar de existirem vários estudos que apontem que a presença dessa substância seja indispensável ao funcionamento do tecido. Em contrapartida, no período pós-prandial, quando os níveis de glicose e insulina circulantes estão elevados, os níveis de ácidos graxos circulantes são suprimidos. Assim, o coração diminui a captação de ácidos graxos e, com isso, a inibição da glicólise é removida e a oxidação da glicose, aumentada. Ademais, o próprio metabolismo da glicose suprime diretamente a oxidação de ácidos graxos. Refeições ricas em gorduras levam a um aumento acentuado de triglicerídeos no sangue durante a lipemia pós-prandial. Nestes casos, a enzima lipase lipoprotéica converte o triglicerídeo a ácidos graxos, entrando nas vias de oxidação. Nestas circunstâncias excepcionais, os triglicerídeos circulantes tornam-se o principal combustível do miocárdio. Durante exercícios físicos intensos, os níveis de lactato sanguíneo eleva-se e este se torna o principal combustível do coração, enquanto a oxidação da glicose e a captação de ácidos graxos passam a contribuir para a obtenção de apenas 15 a 20% da energia necessária ao coração durante o exercício. Também em estado de jejum, ou de cetose diabética, os corpos cetônicos contribuem significativamente para o metabolismo energético do coração. Sua utilização, assim como os ácidos graxos e o lactato, é dependente de sua concentração. Na isquemia, o padrão de captação de substratos modifica-se de uma predominância da utilização de lipídeos para a de carboidratos. 4.1.1.1.Cicl� Glic��-Ácid� Gr�� O ciclo glicose-ácido graxo é baseado na variação dos papéis relativos da glicose e do ácido graxo como principais fontes de energia entre os estados abastecidos e em jejum. A produção cíclica (liga/desliga) de ácido graxo pelo tecido adiposo é o evento básico no ciclo. Durante o jejum, o tecido adiposo é quebrado para liberar ácidos graxos, inibindo o metabolismo da glicose pelocoração. Após as refeições, a produção de insulina é estimulada pela presença de glicose, que se torna o principal combustível do coração. A contribuição de determinado combustível para o metabolismo oxidativo do coração varia no decorrer do dia, de acordo com seus níveis circulantes, com o tipo de alimento ingerido e com a prática de exercício físico. Os miócitos cardíacos transportam a glicose para o seu interior através dos transportadores GLUT 1 e GLUT 4. A glicose é metabolizada na via glicolítica e produz piruvato, que pode ser oxidado a acetil-coA pela enzima piruvato desidrogenase, na mitocôndria. A acetil-coA entra no Ciclo de Krebs e gera equivalentes redutores para a produção de ATP na cadeia transportadora de elétrons. …. Sistema Cardiovascular …. Já os ácidos graxos entram nos miócitos por difusão passiva ou mediada por translocases específicas. Estes são, então, esterificados pela acil-coA sintase e, subsequentemente, transportados à mitocôndria pela via da carnitina acil transferase 1 (CAT-1/CPT-1), onde são oxidados e geram acetil-coA. 4.1.1.2.Metabolism� Oxidativ� d� Glic�� Como dito anteriormente, a captação da glicose pelas células cardíacas é controlada pelos transportadores de glicose GLUT 1 e GLUT 4. Como a concentração de glicose no meio extracelular é maior que no meio intracelular, este transporte não requer energia. A absorção de glicose aumenta sempre que os transportadores são estimulados, como durante o trabalho cardíaco aumentado, no período pós-prandial, ou em situações de hipóxia ou isquemia, condições que também aumentam a glicólise. Por outro lado, a absorção de glicose é reduzida pelos fatores que inibem a glicólise, como o baixo trabalho cardíaco, jejum, ou casos de diabetes mellitus severa. Nas duas últimas situações, os níveis de ácidos graxos no sangue encontram-se elevados. No período pós-prandial, com o consumo de carboidratos, os níveis circulatório de glicose aumentam, estimulando a liberação de insulina, responsável por aumentar o número de transportadores GLUT 1 e GLUT 4 no sarcolema. Em diversas doenças, como a diabete tardia, falha cardíaca congestiva e alguns tipos de hipertensão, o transporte de glicose encontra-se prejudicado, mesmo com níveis de insulina aparentemente normais ou elevados. Estes são casos de resistência à insulina. 4.1.1.3.Vi� Glicolític� A glicólise é a via metabólica que converte a glicose a piruvato, que é oxidado no Ciclo de Krebs, durante o metabolismo oxidativo normal. Ao entrar na célula cardíaca, a glicose é rapidamente convertida pela enzima hexoquinase a glicose-6-fosfato, que é dirigida para a síntese de glicogênio ou para a glicólise. A glicose-6-fosfato é convertida a frutose-1,6-bifosfato pela fosfofrutoquinase (PFK) . Quando sua atividade é aumentada, como em hipóxia, a conversão da glicose-6-fosfato a frutose-1,6-bifosfato, via frutose-6-fosfato, ocorre em uma taxa aumentada. A frutose-1,6-bifosfato é convertida a duas moléculas de trioses fosfato e, nas etapas seguintes, duas moléculas de piruvato e quatro de ATP são formadas, independentemente da presença de oxigênio. No balanço geral, uma molécula de glicose gera duas de ATP, duas de piruvato, duas de H2O e dois (NADH + H). Existe um controle intracelular coordenado da glicólise, de modo que a absorção e fosforilação da glicose, a atividade da PFK e da piruvato desidrogenase podem aumentar ou diminuir simultaneamente em resposta a um trabalho aumentado do coração, assim como a outros estímulos. Portanto, esses são pontos-chave no controle da glicólise. Em uma situação pós-prandial, sob estímulo da insulina, há translocação de transportadores de glicose (GLUT 4) nos tecidos responsivos a esse hormônio, como o músculo cardíaco. Nessas situações, existe um claro aumento na captação de glicose pelas células do miocárdio. A glicose captada é utilizada em menor escala para fazer glicogênio. A partir do momento que o músculo cardíaco capta glicose e esse tecido não a utiliza prioritariamente para a síntese do glicogênio, essa substância terá função energética imediata. A quebra da glicose se inicia na via glicolítica, gerando acetil-coA, que participa do Ciclo de Krebs, gerando transportadores (NADH e FADH2), que participam da Fosforilação Oxidativa. …. Sistema Cardiovascular …. 4.1.1.4.Metabolism� Aeróbic� d� Ácid� Gr�� Os ácidos graxos são mobilizados em situação inversa à da glicose. Em situações de jejum, existe o predomínio da ação do glucagon em oposição à insulina. Quanto maior os níveis circulantes de ácidos graxos no sangue, maior será a captação pelo miocárdio. O primeiro passo desta via é a ativação dos AGs intracelulares pela coA para formar derivados de acil-coA. A membrana mitocondrial não é permeável a essas moléculas, que necessitam de serem transformadas e transportadas para o interior da mitocôndria. Inicialmente, as moléculas de acil-coA combinam-se com a carnitina e formam a acil-carnitina, transportada pelo sistema carreador de carnitina para o espaço mitocondrial interno. Depois disso, as longas cadeias de acil-coA, já livres de carnitina, sofrem β-oxidação e, progressivamente, são formadas moléculas de acetil-coA, que são oxigenadas no Ciclo de Krebs, levando à geração de ATP. Os triacilgliceróis teciduais podem ser fontes de ácidos graxos quando os níveis destes estão baixos na circulação. Quando os níveis de captação deAGs estão bem elevados, ocorre mais formação de acetil-coA do que o Ciclo do Ácido Cítrico é capaz de consumir. Nestes casos, o excesso de acetil-coA pode, também, reagir com carnitina intramitocondrial, formando acetil-carnitina, que é transportada ao espaço extramitocondrial pela enzima carnitina-acetil translocase , onde ocorre a formação de acetil-coA citoplasmático. Este pode sofrer transformação a malonil-coA, que provê um feedback inibitório. O malonil-coA é produzido sempre que elevados níveis de acetil-coA citosólico estão presentes, devido ao alto metabolismo de AGs ou às altas taxas de oxidação da glicose. Vale ressaltar que o coração utiliza AGs na maioria das situações metabólicas, sobretudo porque eles estão disponíveis na circulação sanguínea o dia inteiro. O principal AG que ingressa no cardiomiócito é o palmitato, capaz de produzir 108 moléculas de ATP através do processo de β-oxidação. 4.1.1.5.β-�idaçã� Esse processo converte a longa cadeia de acil-coA em fragmentos de dois carbonos de acetil-coA. A oxidação do AG continuamente remove uma molécula de acetil-coA da terminação carboxi da cadeia. Durante o esforço cardíaco aumentado, a mitocôndria torna-se mais oxidada. Os níveis intramitocondriais de NADH2 e FADH2 diminuem, e ocorre um aumento na taxa de oxidação dos ácidos graxos. Por outro lado, na anaerobiose, os níveis de NADH2 e FADH2 aumentam, como resultado de uma redução da taxa de β-oxidação devido ao diminuído transporte de elétrons. 4.1.1.6.Pir�at� � Lactat� A produção de lactato se dá, sobretudo, pelo tecido muscular estriado esquelético em situações de exercício. A maior velocidade de obtenção de energia pela via glicolítica prioriza a síntese de ATP a partir da fermentação lática e desloca a via metabólica em situações que necessitam de grande quantidade de energia em um espaço muito curto de tempo. O tecido opta por produzir ATP de forma mais rápida, mesmo que não seja a mais rentável. O lactato é um subproduto da fermentação lática e é transferido à corrente sanguínea em situações de alta produção muscular. A maior parte do lactato gerado no esforço físico é reconvertido em glicose no fígado, através do Ciclo de Cori. no entanto, o tecido muscular cardíaco também pode captar o lactato e, através da ação da lactato desidrogenase (LDH), o transformar em piruvato. O piruvato é formado a partir do lactato absorvido pelo coração e pela degradação da glicose, quando a concentração de lactato sanguíneo está alta (exercício físico, por exemplo). No coração anaeróbico, o piruvato forma o lactato, enquanto no aeróbico sofre descarboxilação oxidativa e entra no Ciclo do Ácido …. Sistema Cardiovascular …. Cítrico. Essa reação ocorre pela atividade do complexo enzimático do piruvato desidrogenase (PDH), encontrado na membrana interna da mitocôndria. Os produtos dessa reação de múltiplas etapas incluem a acetil-coA e NADH2. A primeira entra diretamente no Ciclo de Krebs e é totalmente oxidada a CO2 e H2O, ao passo que a segunda forma ATP por fosforilação oxidativa. A PDH é, normalmente, encontrada na forma inativa, porém pode ser ativada pelo aumento do esforço cardíaco, pelas catecolaminas ou pelas altas taxas de glicólise do estado pós-prandial. Em contrapartida, a enzima é inibida pela formação de NADH2 na isquemia ou na hipóxia, ou pela oxidação dos ácidos graxos. A inibição dessa enzima é o evento-chave na inibição da glicólise durante a oxidação dos ácidos graxos. O lactato é absorvido pelo coração aeróbico e produzido durante a anaerobiose. Assim, a sua liberação no seio coronário pode ser usada como um sinal de isquemia do miocárdio. A contribuição do lactato para as necessidades de energia de um miocárdio bem oxigenado pode aumentar a até 60% quando o seu nível em circulação encontra-se elevado, como durante e logo após o exercício físico. A absorção do lactato pelo coração depende de um sistema de transporte específico, pois o sarcolema não é livremente permeável ao substrato. Uma vez absorvido, o lactato é convertido à piruvato pela lactato desidrogenase. A isoforma cardíaca é conhecida como LDH-1. Pode-se estimar o tamanho de um infarto do miocárdio dosando-se a taxa de aparecimento e desaparecimento de LDH-1 no sangue periférico, com picos entre 35 a 43 horas após o aparecimento dos sintomas. 4.1.1.7.Corp� Cetônic� Os corpos cetônicos são formados no fígado em decorrência do metabolismo excessivo de AGs através da β-oxidação. Durante um jejum prolongado, quando a glicemia encontra-se muito baixa, os níveis de AGs elevados, os níveis de insulina baixos e os de glucagon altos, há estímulo para a gliconeogênese. O aumento desse processo é necessário porque alguns órgão, como o cérebro, utilizam quase que exclusivamente a glicose como fonte energética. Assim, ocorre o acúmulo de acetil-coA pelo metabolismo excessivo de ácidos graxos, e diminuição da via do ácido cítrico devido ao desvio do oxaloacetato para a gliconeogênese. Esse acúmulo faz com que ocorra aumento na produção de corpos cetônicos pelo fígado, que se formam pela união de duas moléculas de acetil-coA. Inicialmente, forma-se acetoacetato, que é convertido a β-hidroxibutirato ou acetona. Esses três compostos são denominados corpos cetônicos. Quando grande parte da energia do organismo provém do metabolismo das gorduras, como na inanição, nas dietas ricas em gorduras e no diabetes não tratado, aumenta a produção de corpos cetônicos. Autilização desses compostos pelas células cardíacas é mediada pela enzima tiolase, que converte os corpos cetônicos em duas moléculas de acetil-coA, que segue a via do ciclo do ácido cítrico e gera energia para o coração. 4.1.2.Principai� Reserva� d� Energi� O coração possui reservas de energia, poupadas para momentos de carência energética, como a isquemia, situação na qual o coração fica privado dos substratos energéticos e dos hormônios. Para continuar funcionando, os miócitos utilizam suas principais reservas energéticas: creatina-fosfato e glicogênio. …. Sistema Cardiovascular …. 4.1.2.1.Creatin�-F�fat� Essas reservas são utilizadas, principalmente, para a manutenção da integridade da membrana plasmática (mantém os canais dependentes de ATP). A creatina-fosfato transfere fosfato ao ADP, formando creatina e restaurando os níveis de ATP. Essa reação é catalisada pela enzima creatina-fosfoquinase-cardíaca (CPK-MB). Essa enzima também se localiza próximo à membrana mitocondrial e, nessa região, quando as ofertas de oxigênio e ATP são normalizadas, a CPK-MB restaura os níveis de creatina-fosfato através da reação inversa. Dessa forma, a creatina-fosfato é uma fonte energética de curtíssima duração. 4.1.2.2.Glicogêni� As vias de síntese e degradação do glicogênio são realizadas por dois sistemas de enzimas diferentes. A síntese ocorre em altas taxas nos períodos pós-prandiais sob influência da insulina, que aumenta a absorção de glicose e estimula a atividade da enzima glicogênio sintase. A síntese parece também acontecer após intenso esforço cardíaco ou após isquemia, sugerindo que a própria diminuição dos níveis de glicogênio é capaz de estimular sua produção. No estado de jejum, embora haja falta de insulina, a síntese do glicogênio pode ocorrer, em menor taxa, porque a glicogênio sintase é estimulada por altos níveis miocárdicos de glicose-6-fosfato, que resultam do bloqueio da via glicolítica. Os dois principais mecanismos que levam à glicogenólise são a ativação da glicogênio fosforilase pela cAMP ou por uma diminuição nos níveis de fosfato de alta energia, na isquemia. Um aumento na cAMP promove uma cascata de eventos que, no final, converte a enzima fosforilase b inativa à fosforilase a altamente ativa, enzima que controla a degradação durante a glicogenólise. O glicogênio cardíaco é uma fonte potencial de energia miocárdica, produzindo três moléculas de ATP durante a glicólise. 4.1.3.Reper�sã� Se as artérias coronarianas não se adaptarem ao aumento da demanda energética, pode ocorrer hipóxia por redução do fluxo sanguíneo no coração, causando lesões reversíveis ou irreversíveis, a depender do tempo de hipóxia. Para lesões irreversíveis, mesmo após a reperfusão não há restauração das estruturas celulares, gerando …. Sistema Cardiovascular …. áreas de necrose. Já para lesões reversíveis, a velocidade de reperfusão deve ser definida pelo tempo de hipóxia sofrido. Quanto maior o tempo de hipóxia, menor deve ser a velocidade de reperfusão, pois a rápida restauração do fluxo sanguíneo após um longo período de hipóxia gera aumento paradoxal da lesão. Em situações fisiológicas, o metabolismo das bases nitrogenadas leva à formação de pequena quantidade de hipoxantina, que, através da enzima xantina oxidase, na presença de O2, leva à formação de xantina e peróxido de hidrogênio, que são rapidamente degradados. A isquemia, ao longo do tempo, leva ao esgotamento de fontes energéticas e ao acúmulo de metabólitos do ATP, como ADP, AMP, adenosina e inosina. Como o ATP nessas situações não pode ser regenerado, as ligações fosfato de menor energia (ADP e AMP) tendem a ser utilizadas como fonte energética para a tentativa de manutenção da maquinaria celular, gerando o acúmulo dessas substâncias. O aumento da concentração desses metabólitos estimula a formação de hipoxantina a partir de adenosina e inosina, através de reações catalisadas por enzimas presentes no citoplasma das células cardíacas. Quando o fluxo sanguíneo é restabelecido (através do uso de trombolíticos, por exemplo), o oxigênio que chega ao miocárdio ativa a enzima xantina oxidase, a qual utiliza a hipoxantina como substrato para gerar xantina e H2O2, que se acumula. Essa mesma enzima pode utilizar a xantina como substrato para gerar ácido úrico. Já o peróxido de hidrogênio formado pode dissociar-se em dois radicais livres de hidroxila. Essas espécies reativas peroxidam lipídeos (que se tornam instáveis e reativos, iniciando uma reação autocatalítica em cadeia), reagem com proteínas da membrana celular (aumentam sua degradação) e provocam danos ao DNA (ruptura dos seus filamentos), agravando as alterações em áreas com lesões ainda reversíveis. O miocárdio possui mecanismos protetores antioxidativos contra esses radicais livres, mas como os radicais são formados em alta velocidade, há discrepância entre a síntese dos mecanismos protetores e dos radicais livres. Quando a reperfusão ocorre gradualmente, apesar de haver muito substrato (hipoxantina) para a enzima xantina oxidase, o estímulo lento do oxigênio permite que haja sincronia entre a produção de radicais livres e mecanismos antioxidantes de defesa celular. Durante a perfusão normal do miocárdio, com aporte de oxigênio e nutrientes, a enzima xantina oxidase também está ativa. No entanto, nessas ocasiões, os níveis de metabólitos de ATP não estão elevados, poiso ATP está sendo sempre renovado. Portanto, não há formação em excesso de hipoxantina, o substrato da xantina oxidase. Assim, a formação de radicais livres não é significante, pois os mecanismos celulares de proteção a esses radicais conseguem dar conta da pequena quantidade produzida. 4.2.Sistem� Hem�tátic� A hemostasia é o processo fisiológico responsável pela manutenção da fluidez do sangue e pela contenção da perda de sangue após algum dano vascular, evitando perturbações no fluxo sanguíneo. O sistema hemostático contribui, ainda, para o sistema de defesa, prevenindo ataques de microorganismos por formar uma rede de plaquetas e fibrina, que é dissolvida com o restabelecimento do fluxo sanguíneo normal. Simultaneamente à hemostase, inicia-se um processo um pouco mais lento de formação de um novo tecido e revascularização. De maneira geral, os agentes participantes do processo de hemostasia são as plaquetas, a parede vascular, fatores de coagulação e seus inibidores, proteínas plasmáticas, íons cálcio, substâncias orgânicas de baixo peso molecular, citocinas e hormônios. As interações desses agentes podem ser estimuladas principalmente após uma lesão vascular, mas também em …. Sistema Cardiovascular …. condições patológicas, como doenças auto-imunes, aterosclerose ou câncer. Embora grande parte dos fatores envolvidos encontre-se circulante ou presente nos vasos sanguíneos, as interações não ocorrem o tempo todo porque os fatores de coagulação, consistindo em proteínas plasmáticas, circulam na forma de zimogênios (pré-enzimas que requerem processamento por proteólise para que se tornem ativas). Ademais, a camada interna dos vasos possui um papel anti-hemostático. As células endoteliais são capazes de sintetizar e liberar prostaglandina do tipo PGI2 (prostaciclina) e óxido nítrico, substâncias que reduzem a resposta plaquetária a estímulos ativadores da hemostasia primária. Além disso, possuem em sua membrana externa, em contato com o sangue, duas substâncias anti-hemostáticas, que são a proteína trombomodulina e o glicosaminoglicano heparan sulfato. O processo hemostático é dividido em fases: hemostasia primária (formação do tampão ou agregado plaquetário) e hemostasia secundária/coagulação (formação do coágulo). Após a hemostasia secundária, ocorre a dissolução do coágulo de fibrina, processo chamado de fibrinólise. 4.2.1.Hem�tasi� Primári� Consiste em uma série de eventos que incluem vasoconstrição e adesão, ativação e agregação plaquetárias. Está relacionada a uma estabilização inicial, de maneira a impedir o extravasamento excessivo do sangue. A vasoconstrição é uma eficiente forma de prevenir perdas sanguíneas, em especial na microcirculação. É um processo mediado por uma interação do sistema nervoso autônomo, células musculares e diversos …. Sistema Cardiovascular …. mediadores, como a serotonina, adrenalina e noradrenalina. A prostaciclina I2 e a liberação de óxido nítrico pelo endotélio possuem ação vasodilatadora, impedindo que a vasoconstrição seja extrema, causando isquemia. A vasoconstrição é extremamente rápida e eficiente para conter pequenos sangramentos. Para sangramentos maiores, são recrutadas as plaquetas. As plaquetas constituem o grupo celular mais importante da hemostasia. Em geral, as plaquetas tornam-se ativadas e pró-hemostáticas ao serem estimuladas por diferentes fatores. Por sua vez, as plaquetas ativadas secretam diversas citocinas, fatores de crescimento e outras proteínas por meio de grânulos. A plaqueta contém dois sistemas internos de membrana: sistema canalicular aberto (formado por múltiplas invaginações, visualizadas na superfície, por onde a plaqueta secreta seus grânulos, durante a ativação plaquetária) e o sistema tubular denso (constituído por restos de retículo endoplasmático. Não se comunica com o exterior e serve como um local de depósito de cálcio intracelular). As plaquetas atuam em três principais etapas: adesão, ativação (secreção de grânulos) e agregação. A adesão plaquetária se inicia quando a plaqueta entra em contato com uma superfície não fisiológica, gerada por uma lesão do endotélio, que faz com que o colágeno subendotelial seja exposto às plaquetas circulantes. A adesão inicia-se com a interação entre o colágeno e as plaquetas, que ocorre pela ligação direta do receptor plaquetário Glicoproteína Ia/IIa às fibrilas de colágeno. Um outro receptor presente na superfície das plaquetas (Glicoproteína Ib) participa de maneira indireta da interação plaqueta-colágeno, se ligando a uma proteína plasmática denominada fator de von Willebrand (FvW) , que se liga ao colágeno. O FvW age produzindo uma espécie de “gancho” entre a plaqueta e o colágeno subendotelial, de forma a estabilizar a adesão plaquetária ao espaço subendotelial, principalmente em condições de alta força de fluxo da corrente sanguínea. Deficiências genéticas de FvW ou de seu receptor resultam em adesão plaquetária defeituosa e distúrbios hemorrágicos. Uma vez aderida, através da interação plaqueta-subendotélio eficientemente estabilizada pelo FvW, a plaqueta sofre um estímulo de ativação pela própria ligação ao colágeno, além da ação de outras substâncias ativadoras (os agonistas plaquetários). O colágeno, a trombina, o ADP e a adrenalina, entre outros, são exemplos de agentes responsáveis pelo processo de ativação plaquetária. A ativação plaquetária induz vários eventos, como a secreção dos grânulos α e grânulos densos, mudança de forma da célula,aumento nos níveis intracelulares de cálcio e alteração da composição lipídica da membrana externa. Esses eventos são desencadeados por vias de sinalização relacionadas à fosforilação de proteínas intracelulares específicas. A agregação plaquetária é estritamente dependente da ativação plaquetária. Esse fenômeno de agregação consiste em uma interação física entre as plaquetas, mediada pela proteína plasmática fibrinogênio. Somente uma camada de plaquetas não é suficiente para o estancamento da perda sanguínea. Por isso elas recrutam outras plaquetas da corrente sanguínea a se aderirem umas às outras, …. Sistema Cardiovascular …. se acumulando e criando um grande agregado plaquetário, resultado final desta fase, capaz de impedir o sangramento até que a hemostase secundária esteja concluída. 4.2.1.Hem�tasi� Secundári� A coagulação sanguínea constitui a segunda etapa do processo hemostático. A hemostasia secundária é a mais severa e eficiente no que tange o estancamento sanguíneo. Sem ela, quando ocorre uma lesão vascular, haverá hemorragia. Contudo, o excesso da hemostasia secundária pode formar trombos, obstruindo vasos ou atingir a vascularização de órgãos. A formação do plug plaquetário depende bastante da exposição de colágeno. A formação da rede de fibrina também depende da exposição de outra proteína subendotelial: o Fator Tecidual (TF). A exposição do subendotélio, então, mesmo que com proteínas diferentes, deflagra tanto a hemostasia primária quanto a hemostasia secundária. Do fator tecidual até a fibrina existem várias etapas, que, em conjunto, são conhecidas por elaborar a cascata de coagulação. Os fatores de coagulação estão envolvidos em uma sequência rigorosamente controlada de reações de ativação que resultam, em última instância, na formação de trombina e fibrina. Esta série de eventos leva à ativação parcial dos fatores de coagulação, que circulam em um estado precursor inativo, chamado de zimogênio. O processo de ativação é, primariamente, uma sequência de clivagens proteolíticas em locais específicos (proteólise limitada). A enzima é um fator de coagulação ativado e o substrato, um zimogênio de um fator de coagulação diferente que se torna ativado depois de uma parte da molécula ter sido clivada (peptídeo de ativação). Em suma, os fatores de coagulação são proteínas circulantes que não têm atividade enzimática, mas podem ter caso sejam processados. Esse processamento caracteriza, essencialmente, a cascata de coagulação sanguínea. O único componente da cascata que não está solúvel no plasma é o fator tecidual, que é uma proteína de membrana das células do subendotélio, circulando no sangue apenas em condições patológicas. Os fatores se combinam para formar três estruturas principais: o complexo tenase extrínseco, o complexo tenase intrínseco e o complexo protrombinase. A cascata de coagulação se inicia com a lesão vascular. A exposição do TF deflagra a cascata de coagulação com o recrutamento e a ligação do fator VII a ele. Quando esse zimogênio se liga ao TF, a consequência direta é a sua ativação e sua conversão em fator VIIa. O complexo fator tecidual-fator VIIa passa a ter função catalítica sobre os dois substratos do plasma: o fator X e o fator IX, que também são zimogênios. Eles são clivados pelo complexo tenase extrínseco a fatores Xa e IXa. O fator IXa se liga à membrana de uma plaqueta, formando o complexo tenase intrínseco, que irá clivar mais fator X a fator Xa. O fator X produzido entra na constituição do complexo protrombinase, também na membrana de plaquetas. Esse complexo é capaz de clivar a protrombina (fator II) em trombina (fator IIa). Postula-se que a membrana celular seja fundamental para a integração física entre os fatores de coagulação. …. Sistema Cardiovascular …. Cada um desses complexos tem uma enzima, um cofator proteico e um substrato. Eles se formam sob uma superfície celular (sob a membrana de uma célula), voltado ao meio extracelular. A tenase extrínseca se forma nas células subendoteliais, enquanto a tenase intrínseca e a protrombinase se formam na membrana das plaquetas ativadas. Essas plaquetas ativadas se dispõem somente na área da lesão vascular, o que é um grande fator responsável pela restrição da área da coagulação sanguínea. Esses complexos correspondem às chamadas vias de coagulação. A via extrínseca corresponde ao complexo tenase extrínseco e a via intrínseca corresponde ao complexo tenase intrínseco. Ambas as vias ativarão fatores X que irão compor o complexo protrombinase, o qual produz a trombina necessária para a conclusão da coagulação sanguínea. Se a coagulação em quantidades maiores for induzida, há formação sistêmica de trombos, que começam a se depositar em vasos importantes de pequeno calibre, podendo levar ao óbito. Os fatores apresentam uma área dentro de sua estrutura polipeptídica que se liga à membrana celular. Essa área tem uma forte importância na formação dos complexos já mencionados, e tem uma estrutura bem similar. Nessa área existe uma sequência encadeada de aminoácidos do tipo ácido glutâmico. Para que os fatores possam se fixar na membrana, esses aminoácidos sofrem uma mudança estrutural e se tornam um novo aminoácido, o ácido γ-carboxiglutâmico. Fala-se, então, que o domínio passou de GLU (de "ácido glutâmico") para GLA ("ácido γ-carboxiglutâmico”).Essa mudança na sequência polipeptídica (de GLU para GLA) acontece ainda no ambiente do fígado, antes de serem liberados na circulação sanguínea. O fígado, então, participa ativamente da γ-carboxilação desses fatores antes de liberá-los no sangue. O domínio GLA formado é fundamental porque ele é responsável por estabelecer uma interação com íons cálcio circulantes, que interagem com a fosfatidilserina exposta na membrana de plaquetas ativadas. É dessa maneira, intermediado por íons cálcio, que os fatores se ligam às membranas das plaquetas ativadas, que, eventualmente, estão formando o plugue plaquetário em uma região de lesão cardiovascular. O processo de γ-carboxilação é realizado por uma proteína que depende de um cofator que sofrerá oxirredução, a vitamina K. Essa reação química é capaz de alterar o domínio dos fatores II, VII, IX e X. Vale ressaltar que o fígado é responsável pela produção de todos os fatores da cascata de coagulação. E, como, esses fatores têm meia-vida da ordem de horas ou de dias, o trabalho do fígado precisa ser constante. Se o fígado para de funcionar (por motivos diversos, como cirrose ou tumores), a coagulação está totalmente comprometida. Além dos já citados, o complexo tenase intrínseco e o complexo protrombinase têm associados a eles os fatores VIIIa e Va. Percebe-se que o fator Va é uma proteína gerada a partir do fator V, que também é sintetizado no fígado e está circulante no plasma, não sendo uma pró-enzima como os demais fatores de coagulação. Mesmo que não apresente atividade enzimática, a presença dele aumenta a eficiência do complexo protrombinase, cujo substrato é a protrombina e o produto, a trombina. O fator Xa não é uma enzima eficaz “sozinho”, necessitando estar ligado à membrana e ao cofator proteico Va para que se torne minimamente mais eficiente. O fator V é muito semelhante ao fator VIII. Ambos são fatores plasmáticos de alto peso molecular que circulam em uma forma não funcional (não são enzimas). São proteínas que, ao sofrer proteólise (clivagem), atuam como cofatores em complexos enzimáticos. A própria trombina realiza a clivagem e, portanto, a ativação dessas estruturas. A necessidade de recrutamento dos cofatores VIII e V para que as enzimas Xa e IXa tornem-se eficazes é um dos motivos pelos quais se explica o porquê da hemostasia secundária ser um processo mais lento em relação à hemostasia primária. Isso porque a produção inicial de trombina (feita exclusivamente pelo …. Sistema Cardiovascular …. fator Xa) é bastante lenta, fazendo com que a reação somente chegue à concentração necessária de trombina para ativação dos complexos em questão de minutos. A trombina produzida após todo esse processo será capaz de converter a proteína plasmática fibrinogênio em fibrina, formando um agregado tão denso que o fluxo sanguíneo não é capaz de desfazê-lo. O fibrinogênio que será convertido em fibrina é o que ainda se encontra disponível no plasma, não o responsável pela agregação plaquetária. O fibrinogênio é uma proteína muito grande, que detém vários sítios de clivagem. A trombina produzida realizará essas clivagens, convertendo essa proteína em fibrina. Várias fibrinas são capazes de ligar-se entre si e formar um polímero de caráter insolúvel. A ligação entre várias dessas proteínas forma um rede de fibrina que se deposita por sobre o plug plaquetário. 4.3.Regulaçã� d� Process� Hem�tátic� A regulação é necessária para afinar o excedente da resposta hemostática e não gerar tromboses que se dissipam pela corrente sanguínea. Dois fenômenos básicos controlam a hemostasia, sendo eles a redução na velocidade ou quantidade de reações químicas que levam à formação de fibrina e a própria degradação da fibrina que está sendo produzida no local de lesão. Quanto ao primeiro fenômeno, têm-se três pontos principais de regulação hemostásica: o TFPI (inibidor fisiológico do complexo tenase extrínseco), a antitrombina (inibidor do fator Xa, e do fator IXa) e a via da proteína C ativada (inibe os dois cofatores de coagulação sanguínea, o FV e o FVIII). Já o segundo fenômeno recebe o nome de fibrinólise . 4.3.1.TFPI O TFPI é uma proteína cuja estrutura é bastante complexa, sendo constituída por três alças, que formam três domínios do tipo “Kunitz”. Esses domínios apresentam grande função na inibição de proteases principalmente do complexo tenase extrínseco. De maneira geral, o TFPI é um inibidor da via do Fator Tecidual e do Fator VIIa. O TFPI necessita de estar conjugado ao fator Xa para que ele consiga exercer sua função inibitória. Ou seja, o TFPI somente será eficiente se ele estiver previamente ligado ao fator Xa. Conclui-se que a ação do TFPI somente se dá após o início do processo coagulatório. Somente após a conjugação do complexo tenase extrínseco e do estabelecimento de reações favoráveis à produção de trombina, o TFPI se liga ao complexo e inicia a inibição, no sentido de controlar a coagulação. O complexo tenase extrínseco dura somente alguns minutos, porque o TFPI inibe suas reações catalíticas. 4.3.2.Antitrombin� Além da trombina, detém também outros alvos, como o fator Xa e o IXa. A antitrombina é um inibidor enzimático que necessita de estar associada a um cofator (fisiológico ou farmacológico), genericamente chamados de glicosaminoglicanos, para que ela possa identificar seus alvos. O principal GAG fisiológico utilizado pela antitrombina é o heparan-sulfato, encontrado,principalmente, revestindo a parede interna dos vasos sanguíneos. O endotélio é encoberto internamente por uma camada bem espessa de açúcares desse tipo. Como a antitrombina precisa se ligar nessa cadeia polissacarídica para inibir as enzimas da coagulação, ela se fixa a essa camada próxima ao endotélio …. Sistema Cardiovascular …. estabelecendo interações com as moléculas de heparan-sulfato. O resultado final dessa ligação é o estabelecimento de interações tão estáveis com a trombina, o fator IXa ou Xa, ao ponto de bloquearem sua atividade de forma irreversível. Como a lesão não deixa o endotélio íntegro, a camada de GAGs existente na parede interna do vaso sanguíneo é prejudicada. Assim, a inibição das enzimas ocorre a uma distância relativa da lesão e não na exata área dela. Isso ocorre no sentido de inibir alguma eventual trombina que se escapou da área de lesão e caiu na circulação sanguínea. Como a trombina está em concentração muito menor que a antitrombina, a trombina só consegue agir na área de lesão quando o endotélio não está íntegro e a camada de heparan-sulfato-antitrombina não se faz presente de forma eficiente. 4.3.3.Vi� d� Proteín� C Ativad� A proteína C, circulante no plasma em sua forma não funcional, apresenta domínio GLA. Tipicamente, esse domínio irá interagir com íons cálcio, que se ligarão à alguma membrana que expõe fosfatidilserina. Normalmente, a proteína C se liga, também, à membrana de plaquetas. Seu cofator, a proteína S, também apresenta domínio GLA e interage com a membrana de plaquetas. Para se tornar ativada, a proteína C se liga a uma proteína presente no endotélio, denominada Receptor Endotelial da Proteína C (EPCR). Esse receptor está adjacente a outra proteína endotelial denominada trombomodulina. A ligação da trombina à trombomodulina permite uma interação dessa enzima com a proteína C. Essa interação é marcada por uma clivagem responsável por sua ativação. Como esse evento precisa da presença de trombina e de plaquetas, ele ocorre preferencialmente próximo à área de lesão. Nesse local, a proteína C ativada migra para a membrana de plaquetas, e através de seu domínio GLA interage com seus fosfolipídios. Juntamente com seu cofator, a proteína S, a proteína C ativada realiza três clivagens nos cofatores VIII e V, componentes dos complexos tenases de plaquetas. O resultado dessas clivagens é a inativação dos cofatores e a lentificação da ação dos complexos pró-hemostáticos. 4.3.4.�brinólis� Para manter o fluxo sanguíneo de maneira normal ao mesmo tempo em que se cria uma rede proteica capaz de estancar o vazamento sanguíneo, é necessário que, concomitantemente à geração de fibrina, se inicie um processo de dissolução dessa própria rede de fibrina construída. Assim, previne-se a formação excessiva de fibrina que possa ocasionar tromboses. Esse processo, que não age prevenindo a formação de fibrina, mas sim destruindo o que já está formado, também é conhecido como Hemostasia Terciária e precisa ser finamente regulado para evitar excessos (hemorragias) ou deficiências (trombos). A fibrinólise envolve muito menos fenômenos que a cascata de coagulação propriamente dita. A enzima principal que é o centro do evento da fibrinólise é chamada de plasmina e é gerada a partir da ativação de um zimogênio plasmático, o plasminogênio. O principal agente de ativação do plasminogênio é o t-PA (Ativador de Plasminogênio Tecidual), responsável pela conversão do zimogênio em enzima ativa e produzido, principalmente, pelas células endoteliais. …. Sistema Cardiovascular …. A plasmina é responsável pela proteólise da rede de fibrina, o que gera produtos de degradação proteicos. Além da fibrina polimerizada, a enzima também reconhece para degradação o fibrinogênio eventualmente carreado na corrente sanguínea. Dessa maneira, a atividade da plasmina deve ser controlada para que ela não degrade grande quantidade de fibrinogênio plasmático, o que levaria a um fenótipo hemorrágico.