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Macapá, v. , n. 2, p. 2019 47-50, 9 Disponível em http://periodicos.unifap.br/index.php/biota Submetido em 25 de Janeiro de 2018 / Aceito em 30 de Junho de 2019 ARTIGO Biota Amazônia ISSN 2179-5746 O pescado precisa de cuidados apropriados desde a sua captura até a chegada ao consumidor pelo fato de ser um alimento com facilidade de deterioração. A maneira como esse pescado é manuseado durante o processo indica a proporção com que se apresentam as modificações enzimáticas, oxidativas e/ou bacterianas. Este trabalho objetivou avaliar a qualidade microbiológica de Apaiari (Astronotus ocellatus) comercializados na feira do Pescado, Macapá Amapá. As amostras foram coletadas durante o período de janeiro a setembro de 2017, foram obtidas 20 amostras de Apairi (A. ocellatus) comercializados in natura e sem refrigeração, onde foram acondicionadas em sacos plásticos esterilizados, identificadas e transportadas em caixas isotérmicas para o Núcleo de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá. Para coliformes foi utilizada a ISO 7251, para análise presença/ausência de Salmonella a ISO 6579 e para S. aureus a metodologia padrão do Laboratório de Microbiologia/IEPA. Para coliformes termotolerantes 100% das amostras foram positivas, onde foi possível constatar média de 1x10³ NMP/g, com amplitude variando entre 2,9x10² e 1,1x10³ NMP/g. O Staphylococcus coagulase positiva estava presente em 100% das amostras e todas estavam fora 4 5 do padrão para consumo de acordo com a RDC Nº 12/2001, com variação da amplitude entre 3,3x10 a 1,3x10 UFC/g e 4 média de 6x10 UFC/g. E das 20 amostras estudadas foi detectada a ausência total de Salmonella sp. estando dentro do que rege a legislação. É importante destacar que o consumo de pescados contaminados é um importante veiculador de infecções alimentares, sendo recomendado que as autoridades criem normas específicas para estes produtos, que aliado à fiscalização podem mitigar os riscos sanitários. Palavras-chave: Consumidor, feira-livre, pescado. Fish need appropriate care from capture to consumer arrival because it is a food that is easily spoiled. The way this fish is handled during the process indicates the extent to which enzymatic, oxidative and / or bacterial modifications are present. This work aimed to evaluate the microbiological quality of Apaiari (Astronotus ocellatus) marketed at the Fish Market, Macapá Amapá. The samples were collected during the period from January to September of 2017, 20 samples of Apairi (A. ocellatus) were obtained commercially in natura and without refrigeration, where they were conditioned in sterilized plastic bags, identified and transported in isothermal boxes to the Nucleus of Science and Technology of Food of the Institute of Scientific and Technological Researches of the State of Amapá. For coliforms, ISO 7251 was used for presence / absence analysis of Salmonella to ISO 6579 and for S. aureus the standard methodology of the Laboratory of Microbiology / IEPA. For thermotolerant coliforms, 100% of the samples were positive, where it was possible to observe a mean of 1x10³ NMP/g, with amplitude varying between 2,9x10² and 1,1x10³ NMP/g. Staphylococcus coagulase positive was present in 100% of the 4 5samples and all were non-standard for consumption according to RDC Nº 12/2001, ranging from 3,3x10 to 1,3x10 CFU/g 4and a mean of 6x10 CFU/g. Of the 20 samples studied, the total absence of Salmonella sp. being within the one that governs the legislation. It is important to emphasize that the consumption of contaminated fish is an important supplier of food infections, and it is recommended that the authorities create specific standards for these products, which together with the surveillance can mitigate the health risks Keywords: Consumer; Fair-free; Fish. Microbiological evaluation of Apaiari, Astronotus ocellatus (Agassiz, 1729) (Pisces, Cichlidae) marketed in the Fish Fair, Macapá-Amapá Avaliação microbiológica do Apaiari, Astronotus ocellatus (Agassiz, 1729) (Pisces, Cichlidae) comercializados na Feira do Pescado, Macapá-Amapá Jaqueline Freitas do Nascimento , Bruno dos Santos Barroso , , Antonio Carlos 1 1 2 Anderson Luiz Pena da Costa 3 Souza da Silva Júnior 1. Instituto Macapaense do Melhor Ensino Superior, Brasil. jackllinefn@hotmail.com http://lattes.cnpq.br/1339507958412948 sbruno2016@outlook.com http://lattes.cnpq.br/7352467181217198 2. Biólogo e Mestrando em Ciências Farmacêuticas (Universidade Federal do Amapá, Brasil). pena.biologo@gmail.com http://lattes.cnpq.br/9183562529038322 3. Biólogo e Mestre em Ciências da Saúde (Universidade Federal do Amapá, Brasil). Pesquisador do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá, Brasil. jr_bio2005@yahoo.com.br http://lattes.cnpq.br/5887340264035452 http://orcid.org/0000-0002-6921-9030 Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution 4.0 Internacional DOI: http://dx.doi.org/10.18561/2179-5746/biotaamazonia.v9n2p47-50 R E SU M O A B ST R A C T Introdução O consumo de peixe pela população brasileira, por se tratar de um costume alimentar em aumento (TAYEL, 2016), vem se tornando uma gradativa preocupação sanitária, principalmen- te do produto em si que pode sofrer contaminação, principal- mente proveniente das más condições microbiológicas da água e dos seus manipuladores (LOBO,2009). Atualmente existe um número grande de leis que demandam a qualidade dos alimen- tos nas variadas etapas da cadeia produtiva, por conta disso a segurança e qualidade dos alimentos se tornou um assunto de grande relevância (SOARES, 2012). No Brasil, a modalidade de feira livre ocorre desde o perıó- do colonial, tradicionalmente introduzida pelos portugueses, atuando como mercado periódico mais antigo e tradicional do paıś, exercendo fundamental importância no desenvolvimento social, cultural e econômico (ANDRADE, 2015). Por outro lado, é perceptıv́el que apresentam sérios problemas principalmen- te no quesito armazenamento e conservação dos produtos como demostrado por Silva-Júnior, Ferreira e Frazão (2017), vindo a refletir diretamente na saúde do consumidor, diminu- indo a procura pelo produto, além de possıv́el poluição ambi- ental (SILVA-JUNIOR; BARBOSA; MONTEIRO, 2016). O pescado precisa de cuidados apropriados desde a sua captura até a chegada ao consumidor pelo fato de ser um ali- mento com facilidade de deterioração. A maneira como este pescado é manuseado durante o processo indica a proporção com que se apresentam as modificações enzimáticas, oxidati- vas e/ou bacterianas; E a velocidade com que essas modifica- ções se expandem depende da espécie do peixe, de como foi executado o processo de conservação dos alimentos e dos pro- Crossref Similarity Check Powered by iThenticate mailto:marcela.videira@ueap.edu.br cessos de pesca (ARGENTA, 2012). Desta forma, para assegurar a qualidade e segurança do pescado comercializado para o consumo humano, existem alguns programas que são essenciais para a eliminação de patógenos. Silva-Júnior et al. (2017), diz que a relação tempo- temperatura contribui de forma direta para a proliferação microbiana, impactando na qualidade do alimento caso seja mantida de maneira inadequada. Aliado a isso, a ausência de gelo e refrigeração, associado aos picos de temperatura alcan- çados nos horários de maior incidência solar na cidade de Macapá, e a elevada perecibilidade destes produtos, pode estar levando a comercialização de alimentosinapropriados ao consumo humano. Fato este que já foi alvo de estudos em outras espécies também comercializadas em feiras públicas da cidade de Maca- pá (SILVA-JU�NIOR et al., 2015a; SILVA-JU�NIOR et al., 2015b; SILVA-JU� NIOR et al., 2017; COSTA; NASCIMENTO; SILVA- JU�NIOR, 2018). Diante do explanado, este trabalho objetivou avaliar a qualidade microbiológica do Apaiari (Astronotus ocellatus) comercializados na feira do pescado, Macapá-Amapá. Material e Métodos Foram obtidas 20 amostras de Apaiari (A. ocellatus) comer- cializados in natura e sem refrigeração na Feira do Pescado no Igarapé das Mulheres. As amostras foram coletadas durante o perıódo de janeiro a setembro de 2017. Após as coletas, as amostras foram acondicionadas em sacos plásticos estereliza- dos, identificadas e transportadas em caixas isotérmicas para o Núcleo de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto de Pesquisas Cientıf́icas e Tecnológicas do Estado do Amapá. Análises microbiológicas Foram utilizados 20g para as análises microbiológicas, onde estas foram homogeneizadas em 180mL de água pepto- nada 0,1% esterilizada. Após a diluição inicial, realizou-se uma diluição seriada, transferindo 1mL da diluição anterior para -19mL de água peptonada 0,1% (10 ) e assim sucessivamente -até alcançar a diluição 10³ de acordo com Brasil (2003). A análise presuntiva de coliformes, foi realizada segundo a ISO 7251:2005 (2005), selecionando as três diluições da amos- tra, e inoculadas 1mL em uma série de 3 tubos contendo 10 mL de Caldo Lauril Sulfato Triptose - LST (ACUMEDIA 7142) por diluição, e foram incubadas a 37 ± 1ºC/48±2h, após este perıó- do, foi observado se houve crescimento com produção de gás. Para Coliformes Termotolerantes, foram transferidos 1mL de cada tubo positivo de LST para tubos contendo 10 mL de Caldo Escherichia coli – EC (ACUMEDIA 7206) e incubados a 45 ± 1ºC/24 ± 2h em banho-maria. O número de tubos positivos de caldo EC (turvação e produção de gás) foi comparado com tabela de Número Mais Provável (NMP para diluições decima- is/g) segundo Blodgett (2006). Para Staphylococcus coagulase positiva seguiu-se a metodo- logia proposta por Bennett e Lancette (2001), onde foi utiliza- -3da apenas a diluição (10 ) e com auxıĺio de swab foi realizada uma dispersão em superfıćie em placa contendo A� gar Baird- Parker – BP (ACUMEDIA 7112), após a secagem, estas foram incubadas investidas a 35-37ºC/45-48h. Após a cultura, foram contadas as colônias tıṕicas de Staphylococcus, que foram sub- metidas aos testes de coloração de Gram, catalase e coagulase para confirmação. O UFC/g foi calculado em função do número de colônias tıṕicas contadas, diluição utilizada e percentagem de colônias confirmadas. Para detectar presença/ausência de Salmonella sp. foi utilizada a ISO 6579:2007 (2007), para o pré-enriquecimento foi pesado 20g da amostra e diluıd́o em 280 mL de Caldo Lacto- sado (ACUMEDIA 7141A), sendo posteriormente incubado a 37±1ºC/24±2h. Após incubação, foi transferido 1 mL da cultu- ra inicial para o Caldo Rappaport Vassilidis Soja - RVS (MERCK MILLIPORE 107700) e incubado a 41 ± 1ºC/24 ± 2h. O isola- mento seletivo foi realizado utilizando os meios A� gar Salmonel- la-Shigella – SS (MERCK MILLIPORE 107667) e A� gar Xilose Lisina Desoxicolato - XLD (BIOSYSTEMS 42618), ambos incu- bados em 37 ± 1ºC/24 ± 2h. Foram selecionadas as colônias tıṕicas de Salmonella em ambos os meios que foram repicadas em A� gar Inclinado Trıṕlice Açúcar e Ferro– TSI (NEOGEN 7162) e A� gar Lisina Ferro – LIA (HIMEDIA M377), incubados a 37 ± 1ºC/24 ± 2h. Das colônias com reações tıṕicas na bioquı-́ mica preliminar (ágar TSI e LIA) realizou-se a sorologia com o soro somático polivalente O segundo Brasil (2003). Resultados e Discussão A incubação em caldo EC foi 100% positiva em todas as 3amostras, onde foi possıv́el constatar média de 1x10 NMP/g (Tabela 1). Biota Amazônia ISSN 2179-5746 48 A va lia çã o m icro b io ló g ica d o A p a ia ri, A stro n o tu s o cella tu s (A g a ssiz, 1 7 2 9 ) (P isces, C ich lid a e) co m ercia liza d o s n a Feira d o P esca d o , M a ca p á -A m a p á N A SC IM E N T O , J. F. et al. Tabela 1. Resultados das análises microbiológicas de Apaiari fresco comercializado na feira do pescado de Macapá-Amapá. / Table 1. Results of the microbiological analyzes of fresh Apaiari marketed at the Macapá-Amapá �ish fair. Microrganismo Média Amplitude Legislação Coliformes a 45ºC (NMP/g) 1x10³ 2,9x10² - 1,1x10³ - Staphylococcus coagulase positiva (UFC/g) 6x104 3,3x104 - 1,3x105 =1x10³ Salmonella sp. Ausência - Ausência A Escherichia coli é uma bactéria em forma de bacilos, Gram negativos pertencentes à famı́lia Enterobacteriaceae, (EDWARDS; EWING, 1972; BETTELHEIM, 1994), anaeróbia facultativa que se desenvolve no trato intestinal de adultos, crianças e animais (SANTIAGO et al., 2013). De acordo com Tôrres (2004), ela é a principal bactéria do grupo dos colifor- mes termotolerantes, sua presença indica contaminação fecal e é a maior causadora de diarreia por alimentos contaminados e ingestão de água não tratada. Mesmo que a legislação brasileira (BRASIL, 2001) não possua um padrão especıf́ico na contagem dos coliformes termotolerantes em peixes innatura, estes microrganismos podem estar associados às bactérias patogênicas, que, por este motivo representam um parâmetro de qualidade (RAAL; CARDOSO; XAVIER, 2008). Diante do exposto, os coliformes termotolerantes são vistos como um risco à saúde do consumi- dor (SILVA-JU�NIOR et al, 2015a). Tal importância é reconhecida pela International Commission on Microbiological Specificati- ons for Foods – ICMSF (1986), que prevê em pescados in natu- ra o limite de 10³ NMP/g. Vários autores citam a presença de coliformes termotole- rantes provenientes de pescado fresco, Silva-Júnior et al. (2015a) avaliando a pescada branca comercializada na feira do pescado em Macapá-AP, encontraram 100% das amostras contaminadas por estes microrganismos. Silva-Júnior et al. (2015b) analisando a presença de coliformes na mesma área de estudo em jaraqui apresentou o mesmo resultado. Esses achados podem indicar falhas desde a coleta do pescado até a chegada ao consumidor, por não apresentar o manuseio corre- to do peixe e higiene adequada, além de armazenamento incor- reto e a exposição do produto sem as condições adequadas de conservação, ocasionando a contaminação do alimento (SILVA- JU�NIOR; BARBOSA; MONTEIRO, 2016). Segundo Santos et al. (2019), tanto a combinação por coli- formes termotolerantes, quanto por E. coli em peixes comercia- lizados em feiras públicas na cidade de São Luiz-MA, foi superi- or ao encontrado em supermercados, sendo que elevadas contagens para estes grupos normalmente estão associadas às condições precárias de higiene desse alimento no seu local de comercialização. Elevadas contagens de coliformes é um indicativo da qualidade higiênico-sanitária, além de fornecer informações sobre o grau de contaminação ao qual está sendo exposto esse alimento. Lorezon et al. (2010) também encontraram coliformes totais e coliformes termotolerantes em peixes de cultivo prove- nientes da região nordeste do Estado de São Paulo, com valores 4 3máximos de 10 NMP/g de e 10 NMP/g respectivamente. Conforme a Tabela 1, o Staphylococcus coagulase estava presente em 100% das amostras e todas estavam fora do padrão para consumo de acordo com a RDC Nº 12/2001 4(BRASIL, 2001), com variação da amplitude entre 3,3x10 a 5 4 1,3x10 UFC/g e média de 6x10 UFC/g. Este gênero pertence à famıĺia Micrococcaceae, são Gram- positivas, possuem células esféricas (0,5– 1,5μm), que podem ser encontradas aos pares, em grupos irregulares e isoladas (SANTIAGO et al., 2013). O S. aureus é o principal representante e pode ser encontrado no meio ambiente como no ar, em esgo- tos, alimentos, fezes e principalmente na mucosa nasal de animais e do homem, sendo responsável por 45% de casos de intoxicação no mundo (CUNHA-NETO; SILVA; STAMFORD, 2002). No trabalho realizado por Rocha et al. (2013) no mercado modelo Nerival Araújo, Currais Novos/RN, foi detectado em filés de tilápia (Oreochromis niloticus) que 100% delas estavam contaminadas por S. aureus, enquanto que 73,3% não atendem ao padrão para consumo proposto pela RDC Nº 12/2001 (BRASIL, 2001), que teve o resultado inferior ao percentual de 100% encontrado neste trabalho. Em uma pesquisa feita em 60 amostras de peixes proveni- entes de feiras-livres na cidade de Cuiabá, para verificar a pre- sença de Staphylococcus coagulase positiva teve resultado insatisfatório em 61,67% das amostras colhidas em tempera- tura ambiente, das quais 55% apresentaram valores superio- res ao recomendado pela legislação brasileira (FILHO et al., 2003). Boari et al. (2008) analisando a cadeia produtiva de filés de Tilápia na cidade de Lavras/MG, detectaram a presença de S. aureus em 30% das amostras avaliadas. Soares et al. (2012), destacaram a ausência de S. aureus em filés de tilápia conserva- dos em gelo, provenientes do municıṕio de Apodi (RN). Silva- Júnior et al. (2017) apresentaram em seu estudo contaminação em 100% das amostras de piracuı ́comercializados em feiras livres da cidade de Macapá-AP. Costa, Nascimento e Silva-Júnior (2018), constataram em 75% dos exemplares de pescada amarela (Cynoscion acoupa) comercializada feira do produtor rural na cidade de Macapá- 4AP, a presença de S. aureus com contagem média de 4x10 5UFC's (± 1x10 ). Foi constatado ainda que 37,5% das amostras analisadas de peixe comercializado na feira municipal de Ari- quemes, estado de Rondônia, estavam fora do preconizado pela legislação vigente, pois os resultados apresentados nas contagens de S. aureus foi superior a 10³ unidades formadoras de colônias por grama (VIANA et al, 2016). Vale ressaltar que altas contagens de Staphylococcus podem constituir um risco à saúde do consumidor. O potencial toxigênico dessa bactéria aumenta em contagens maiores, e esta toxina caracteriza-se por ser higroscópica, ou seja, facil- mente solubilizada em água e soluções salinas, além de termo e quimioresistentes, não sofrendo alteração pelo cozimento do alimento (FRANCO; LANDGRAF, 2004). Das 20 amostras estudadas ainda foi detectada a ausência total de Salmonella sp. estando dentro do que rege a legislação (BRASIL, 2001), que recomenda em 25 g de amostra a ausência do microrganismo. Estas bactérias são Gram-negativas perten- centes à famıĺia Enterobacteriaceae, anaeróbios facultativos, não formadores de esporos e são móveis (NORHANA et al., 2010). A literatura internacional registra comumente baixos ıńdi- ces de contaminação de pescado por este microrganismo, como o que é relatado por Heinitz et al. (2000), nas amostras de peixes, crustáceos e animais aquáticos importados ou pro- duzidos nos Estados Unidos foi de 6,9%, enquanto que nas amostras de camarão, peixes e mariscos coletados na Mangalo- re, In� dia por Kumar et al. (2003) foram encontrados 13,6%. Já no Brasil, o relatos são bem variáveis, como das 20 amos- tras de pacu (Piaractus mesopotamicus) provenientes de Cuia- bá-MT, foi registrado 37% dos peixes analisados a presença de Salmonella spp. (LIMA; REIS, 2002) e o achado de Silva-Júnior et al. (2015a) que em 50% da pescada branca analisada esta- vam contaminadas por este microrganismo. Em tambaqui (Colossoma macropomum) comercializado no entreposto do municıṕio de Teresina-PI (SOARES et al., 2016) e em peixe serra (Scomberomerus brasiliensis) no municıṕio de Raposa, Maranhão (FERREIRA et al., 2014) foi detectada ausência total das amostras avaliadas, assim como o presente estudo. E� importante ressaltar que pescados e seus derivados necessitam de cuidados especiais durante o seu processamen- to, armazenamento e comercialização, tendo em vista que são produtos extremamente perecıv́eis e com caracterıśticas ideais para a proliferação microbiana (BARRETO et al. 2012). Nesse aspecto, Silva-Júnior, Ferreira e Frazão (2017), ao descreverem as condições higiênico-sanitárias da feira em estudo, destaca- ram erros graves na manipulação, o que pode estar levando a contaminação dos peixes comercializados, apesar de citar condições estruturais aceitáveis para a comercialização de alimentos, o que torna ainda mais evidente a necessidade de intervenção para correção de tais parâmetros, com intensa fiscalização para combater hábitos inaceitáveis quando se manuseia alimentos in natura. Conclusão Os resultados demonstram que as amostras apresentaram qualidade microbiológica insatisfatória, pois demostraram contagens de S. aureus superiores ao recomendado pela legis- lação brasileira. Coliformes termotolerantes, mesmo não tendo um padrão especifico na legislação vigente, é considerado um risco para os consumidores pois estão associados à bactérias patogênicas, enquanto que Salmonella spp estava dentro dos padrões, não sendo identificada em nenhuma das amostras. E� importante destacar que o consumo de pescados contamina- dos é um importante veiculador de infecções alimentares, sendo recomendado que as autoridades criem normas especıf́icas para estes produtos, que aliado à fiscalização podem mitigar os riscos sanitários. Referências Biliográficas ANDRADE, A. A. A feira livre de Caicó/RN: um cenário de tradição e resistência às novas estruturas comerciais modernas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN, Caicó, 2015. 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