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Montes Claros/MG - Abril/2015 Gentil Martins Júnior Fundamentos e Metodologia de Ciências REIMPRESSÃO 2015 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Antônio Alvimar Souza DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Jânio Marques Dias EDITORA UNIMONTES Conselho Consultivo Adelica Aparecida Xavier Alfredo Maurício Batista de Paula Antônio Dimas Cardoso Carlos Renato Theóphilo, Casimiro Marques Balsa Elton Dias Xavier José Geraldo de Freitas Drumond Laurindo Mékie Pereira Otávio Soares Dulci Marcos Esdras Leite Marcos Flávio Silveira Vasconcelos Dângelo Regina de Cássia Ferreira Ribeiro CONSELHO EDITORIAL Ângela Cristina Borges Arlete Ribeiro Nepomuceno Betânia Maria Araújo Passos Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo César Henrique de Queiroz Porto Cláudia Regina Santos de Almeida Fernando Guilherme Veloso Queiroz Luciana Mendes Oliveira Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Maria Aparecida Pereira Queiroz Maria Nadurce da Silva Mariléia de Souza Priscila Caires Santana Afonso Zilmar Santos Cardoso REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Athayde Moraes Waneuza Soares Eulálio REVISÃO TÉCNICA Gisléia de Cássia Oliveira Káthia Silva Gomes Viviane Margareth Chaves Pereira Reis DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Sanzio Mendonça Henriques Wendell Brito Mineiro CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Camila Pereira Guimarães Joeli Teixeira Antunes Magda Lima de Oliveira Zilmar Santos Cardoso Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/ Unimontes Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretora do Centro de Ciências humanas - CCh/Unimontes Mariléia de Souza Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes Maria Generosa Ferreira Souto Chefe do Departamento de Educação/Unimontes Maria Cristina Freire Barbosa Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes Rogério Othon Teixeira Alves Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes Alex Fabiano Correia Jardim Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes Anete Marília Pereira Chefe do Departamento de história/Unimontes Claudia de Jesus Maia Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares Cléa Márcia Pereira Câmara Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais Káthia Silva Gomes Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes Carlos Caixeta de Queiroz Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro Presidente Geral da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES Jean Marc Georges Mutzig Governador do Estado de Minas Gerais Fernando Damata Pimentel Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Vicente Gamarano Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Antônio Alvimar Souza Pró-Reitor de Ensino/Unimontes João Felício Rodrigues Neto Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes Fernando Guilherme Veloso Queiroz Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Autor Gentil Martins Júnior Licenciado em Ciências Biológicas e História. Bacharel e licenciado em Ciências Sociais. Especialista em Metodologia de Ensino Superior, Didática e Supervisão Escolar. Mestre em Educação: Políticas Públicas e Formação de Professores pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente, é professor da Secretaria de Estado da Educação, atua como professor conteudista e professor formador em Cursos de graduação da UAB/Unimontes. Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 Os Objetivos do Ensino de Ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 1.2 Objetivos do Ensino de Ciências nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. . . . . . . .13 1.3 Diferentes Enfoques do Ensino de Ciências, Diferentes Concepções Sobre Desenvolvimento do Conhecimento Científico e a Relação Homem/Natureza. .18 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25 Aspectos Metodológicos do Conteúdo e do Ensino de Ciências no Ensino Fundamental: O Profissional do Ensino de Ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.1 Aspectos Metodológicos do Conteúdo e do Ensino de Ciências nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2 O Profissional do Ensino de Ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 2.3 Perfil Desejado para o Professor de Ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 2.4 Competência Técnica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 2.5 Habilidades do Professor de Ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.6 Reflexões Sobre a Educação do Conhecimento Científico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 2.7 O Papel Social do Professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39 O Espaço Escolar e a Construção de Experiências Científicas a Partir da Realidade. Atividades Complementares e Produção de Material Didático Voltado para o Ensino de Biologia, Física e Química. Métodos e Técnicas, Execução e Avaliação de Atividades Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39 3.1 O Espaço Escolar e a Construção de Experiências Científicas a Partir da Realidade .39 3.2 Saber Fazer e Compreender – Etapas da Ação do Aluno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.3 A Autonomia do Aluno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 3.4 A Cooperação entre os Alunos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 3.5 O Papel do Erro na Construção do Conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . .43 3.6 A Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.7 Atividades Complementares e Produção de Material Didático Voltado para o Ensino de Biologia, Física e Química nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Métodos e Técnicas, Execução e Avaliação de Atividades Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 3.8 Métodos, Técnicas e Práticas de Ensino das Ciências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55 Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65 Referências Básicas, Complementares e Suplementares. . . . .67 Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69 9 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências Apresentação Prezado (a) acadêmico (a): Estamos iniciando o 5º módulo do curso de Pedagogia. Agora, com Fundamentos e Meto- dologia das Ciências, o nosso foco será prioritariamente as séries iniciais do Ensino Fundamental. Ao Pedagogo se faz importante e necessário compreender o desenvolvimento do conheci- mento científico e as concepções didáticas e sociopolíticas que permitem o estabelecimento da relação mais harmônica entre homem e natureza. Nesse contexto, a linha que nos orientou na construção deste Caderno identifica problemas no ensino de Ciências e, a partir de fatos emer- gentes, propomos temáticas capazes de dinamizar o ensino/aprendizagem através de estraté- gias metodológicas válidas. Pensamos que uma das formas para atingir a dinamização da Ciência, emprestando-lhe uma diferente concepção em termos de sua natureza, características, objetividade e método, é a de formar professores adequadamente instrumentalizados, por meio de uma metodologia capaz de sinalizar uma conveniente orientação didática e direcionamento científico a ser dado aos traba- lhos a serem realizados, proporcionando a indispensável compreensão da Ciência que deve sur- gir das tarefas de classe. Basicamente, pretendemos proporcionar um estudo crítico de alguns tópicos julgados ne- cessários na formação do pedagogo, no sentido de ser ele capaz de promover uma adequada ini- ciação científica e, sobretudo, oferecer às crianças um ensino significativo e de qualidade. Desse modo, nossa disciplina se baseia no conhecimento dos conceitos fundamentais da evolução do ensino de Ciências e de como permitimos que as crianças façam uso, ou não, desse ensino em seu cotidiano. Durante nossas reflexões, buscamos fazer indagações acerca dos aspectos pedagógicos e metodológicos do ensino de Ciências e suas relações com o espaço geo-social onde se localiza a escola e sua comunidade escolar. Essas reflexões são necessárias para vocês, acadêmicos (as), porque resgatam suas vivências práticas e teóricas e, em constante diálogo com suas aprendiza- gens, favorecem a melhoria da qualidade de ensino ofertada. Assim é que este Caderno incentiva e solicita do educador das Ciências um espírito crítico comprometido com uma melhoria da vida dos povos no planeta. Cada vez mais a sociedade tem cobrado da escola a competência para formar as crianças na cidadania coletiva e colocá-las a ser- viço do bem quando adulto. Nesse cenário, Ciência é arte, criatividade, desvendamento, reflexão e exige consciência crítica para compreendê-la. Num primeiro momento, o nosso objetivo geral pauta-se nas análises das concepções acer- ca do ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental numa perspectiva problemati- zadora e construtivista. Num segundo momento, especificamente, pretendemos orientar quanto ao enfoque dado às Ciências na contemporaneidade, favorecer o desenvolvimento das habilidades e atitudes dos educadores das Ciências, bem como oferecer oportunidades de mudanças nas práticas pedagó- gicas do pedagogo das séries iniciais do Ensino Fundamental. Assim sendo, este Caderno está dividido em três unidades: Unidade I - Os objetivos do ensino de Ciências. Análise dos diferentes enfoques do ensino de ciências, das diferentes concepções sobre desenvolvimento do conhecimento científico, da relação homem/natureza. Unidade II - Aspectos metodológicos do conteúdo e do ensino de ciências no Ensino Funda- mental. O profissional do ensino de Ciências. Unidade III - O espaço escolar e a construção de experiências científicas a partir da realidade. Atividades complementares e produção de material didático voltado para o ensino de Biologia, Física e Química. Métodos e técnicas, execução e avaliação de atividades experimentais. O conteúdo elencado dará suporte a todas as discussões e atividades do curso de Funda- mentos e Metodologia do Ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental do curso de Pedagogia da Universidade Aberta do Brasil da Universidade Estadual de Montes Claros – Uni- montes. Bons estudos! O autor 11 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências Apresentação Apresentação da disciplina Fundamentos e Metodologia das Ciências dos Anos Iniciais Ensino Fundamental Prezados(as) acadêmicos(as) do Curso de Pedagogia: O caderno didático intitulado Fundamentos e Metodologia de Ciências destina-se ao es- tudo da disciplina Fundamentos e Metodologia das Ciências dos Anos Iniciais Ensino Funda- mental cuja ementa prevê o estudo das seguintes temáticas: os objetivos do ensino de Ciências nas séries iniciais do ensino fundamental. Análise dos diferentes enfoques do ensino de ciências no ensino fundamental; Análise das diferentes concepções sobre desenvolvimento do conheci- mento científico; Análise da relação homem/natureza. Estudo dos aspectos metodológicos do conteúdo e do ensino de ciências no ensino fundamental. O espaço escolar e a construção de experiências científicas a partir da realidade. Atividades complementares e produção de material didático voltado para o ensino de Ciências nas séries iniciais do ensino fundamental. Métodos e técnicas, execução e avaliação de atividades experimentais em ciências no ensino fundamental. A unidade I abordará sobre: Objetivos do ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental e sobre os Diferentes enfoques do ensino de Ciências, diferentes concepções sobre desenvolvimento do conhecimento científico e a relação homem/natureza. A unidade II discutirá sobre: os aspectos metodológicos do conteúdo e do ensino de Ciên- cias no Ensino Fundamental. O profissional do ensino de Ciências. Aspectos Metodológicos do conteúdo e do ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O profissional do ensino de Ciências. Perfil desejado para o professor de Ciências. Competência técnica e Habilida- des do professor de Ciências. Reflexões sobre a educação do conhecimento científico e o papel social do professor no ensino de Ciências nas séries iniciais do ensino fundamental. Na unidade III será abordado sobre: o espaço escolar e a construção de experiências científi- cas a partir da realidade vivenciada pelos alunos das séries iniciais do ensino fundamental. O sa- ber fazer e compreender as etapas da ação do aluno na aprendizagem de Ciências. O desenvolvi- mento da autonomia do aluno das séries iniciais do ensino fundamental. A cooperação entre os alunos no desenvolvimento das atividades propostas. O papel do erro na construção do conhe- cimento. A avaliação no ensino de Ciências. Atividades complementares e produção de material didático voltado para o ensino Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental e ainda sobre os métodos, técnicas e práticasde ensino das ciências nas séries iniciais do ensino fundamental. Bons estudos! Maria Nadurce da Silva Coordenadora do Curso de Pedagogia 13 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências UNIDADE 1 Os Objetivos do Ensino de Ciências 1.1 Introdução Vamos aqui discutir sobre os objetivos do ensino de Ciências, procurando fazer uma análise dos diferentes enfoques do ensino de ciências, refletir sobre as diferentes concepções sobre de- senvolvimento do conhecimento científico, com destaque para a relação homem/natureza. Para iniciar essas discussões, propomos o seguinte questionamento: em que o desenvolvimento da Ciência Moderna tem contribuído para amenizar o sofrimento de homens e mulheres num mun- do configurado por desigualdades sociais, preconceitos, dores e flagelos naturais que assolam o nosso planeta? 1.2 Objetivos do Ensino de Ciências nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Um resgate bibliográfico dos trabalhos desenvolvidos não só no Brasil, nas duas últimas décadas, sobre o ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental, como também daqueles produzidos em vários países, girando em torno do tema ‘alfabetização científica’, propi- ciaram o estabelecimento de uma compreensão para o processo de alfabetização científica a ser trabalhado nas séries iniciais. Nessa medida, destacamos que a alfabetização científica é uma atividade inerente ao de- senvolvimento da criança, sendo sistematizada no espaço escolar, mas que transcende suas dimensões para diversos espaços educativos não formais, mediados por diferentes recursos tecnológicos e linguagens impregnadas em iniciativas didático-metodológicas que, aliadas à apropriação do código escrito pelas crianças, podem contribuir no processo de alfabetização científica que precisa ser desenvolvida no âmbito do Ensino Fundamental. O tema ensino de Ciências nas séries iniciais da Educação Fundamental, ainda que relativa- mente pouco explorado, está presente em trabalhos desenvolvidos no Brasil na área de ensino e pesquisa em ensino de Ciências. Um levantamento preliminar evidenciou uma produção acumu- lada desde o início da década de 1980. Esse levantamento é representativo dos principais aspec- tos e questões investigadas aos quais os pesquisadores e grupos de ensino vêm se dedicando. Destacam-se trabalhos que podem ser classificados em dois grandes eixos, segundo os aspectos que privilegiam no seu enfoque do tema. Nesse contexto, vejamos: Um eixo cujo objeto é a “formação de professores” - inicial e continuada - tem uma trajetória percorrida ao longo das duas últimas décadas, tanto no que se refere à pesquisa como através de propostas de intervenção. Tais iniciativas são decorrentes do enfrentamento de problemas relati- vos às especificidades do ensino de Ciências nas séries Inicias por professores cujo perfil de for- mação e atuação é bem caracterizado e conhecido. Sem pretender esgotar as iniciativas localiza- das neste eixo, constituem-se como referências: Projeto Ensino de Ciências a partir de Problemas da Comunidade (CAPES/UFRN, 1984; Pernambuco et al., 1988), Projeto Física para a Escola Nor- 14 UAB/Unimontes - 5º Período mal (CAPES/UFRJ, 1986), Angotti e Delizoicov (1990); Delizoicov (1993), Valle e Miranda (1993), Monteiro (1993), Mendes Sobrinho (1998) e Ramos et al. (2000). O outro eixo tem como objeto o que poderíamos denominar de ‘materiais e métodos de ensino de Ciências’, destinados às séries iniciais. Em muitos casos, os trabalhos localizados nesse eixo se articulam com aqueles do eixo de formação de professores através de distintos níveis de aproximação. Com a perspectiva de incrementar as discussões e ações no âmbito do ensino de Ciências nas séries iniciais, neste Caderno, prezado(a) acadêmico(a), é apresentado um resgate do deba- te contemporâneo a respeito do papel da “alfabetização científica na constituição da cidadania”, com a finalidade de obter parâmetros de referência que possam balizar as considerações sobre especificidades da alfabetização científica no início do Ensino Fundamental. Destacamos que a li- teratura relativa ao assunto “alfabetização científica” tem preocupações mais abrangentes do que a educação científica nas séries iniciais e, nesse sentido, sendo praticamente ausentes referências explícitas que têm como foco o ensino nessa fase da formação dos alunos. A alfabetização científica, segundo Shen (1975, p. 265), “pode abranger muitas coisas, desde saber como preparar uma refeição nutritiva, até saber apreciar as leis da física”. São necessários especialistas para popularizar e desmitificar o conhecimento científico para que o leigo possa utilizá-lo na sua vida cotidiana. Os meios de comunicação e, principalmente, as escolas podem contribuir consubstancialmente para que a população tenha um melhor entendimento público da Ciência. Shen (1975) distingue três noções de alfabetização científica. As diferenças entre elas refe- rem-se não só aos seus objetivos, mas frequentemente ao público considerado, ao seu formato e aos seus meios de disseminação. Essas três formas foram nomeadas de alfabetização científica: “prática”, “cívica” e “cultural”. Partindo do pressuposto de que grande parte da população vive em profunda pobreza, es- pecificamente com pouco entendimento de Ciência, a “alfabetização científica prática” é aquela que, contribuindo para a superação dessa situação, tornaria o indivíduo apto a resolver, de forma imediata, problemas básicos que afetam a sua vida. Essa alfabetização deve proporcionar “um tipo de conhecimento científico e técnico que pode ser posto em uso imediatamente, para aju- dar a melhorar os padrões de vida” (SHEN, 1975, p. 265). Assim, a “alfabetização científica prática” está relacionada com as necessidades humanas mais básicas como alimentação, saúde e habitação. Uma pessoa com conhecimentos mínimos sobre esses assuntos pode tomar suas decisões de forma consciente, mudando seus hábitos, pre- servando a sua saúde e exigindo condições dignas para a sua vida e a dos demais seres huma- nos. A alfabetização científica prática deveria estar disponível para todos os cidadãos, necessitan- do de um esforço conjunto da sociedade para desenvolvê-la. Nesse sentido, o ensino de Ciências poderia ter seu papel que, inicialmente, independeria de a criança saber ler e escrever. A alfabetização científica poderia apresentar um espectro muito amplo, incluindo abordagem de temas, tais como agricultura, indústria, alimentação e, principal- DICA Na dinâmica atual da sociedade contem- porânea, envolvida com os processos de globalização econômica e políticas neoliberais de educação, pesquise sobre que perfil de cidadão, de sociedade e de escola norteia as estratégias metodo- lógicas do professor de ciências. Faça o seu comentário e poste no fórum. Figura 1: Ciência Moderna Fonte: Disponível em <http://eslfb1c2.blogspot. com/2010/05/stc-activida- de-de-criacao-de-logoti- po_05.html>. Acesso em 13 set. 2010. ► 15 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências mente, sobre a melhoria das condições de vida do ser humano, ao mesmo tempo em que auxilia- ria na apropriação do código escrito. A “alfabetização científica cívica” seria a que torna o cidadão mais atento para a Ciência e seus problemas, de modo que ele e seus representantes possam tomar decisões mais bem informadas. Assim, o cidadão é capacitado a tornar-se mais informado sobre a ciência e as questões relacionadas a ela, tanto que ele e seus representantes possam trazer seu senso comum para apreciá-lo e, desta forma, participar mais intensamente no processo democrático de uma sociedade crescentemente tecnológica (SHEN, 1975, p. 266). É importante destacar que a aquisição de um nível funcional de alfabetização científica cívi- ca será um esforço mais demoradodo que a alfabetização científica prática. Num outro nível de elaboração cognitiva e intelectual, estaria a “alfabetização científica cul- tural” procurada pela pequena fração da população que deseja saber sobre Ciência, como uma façanha da humanidade e de forma mais aprofundada. É o caso de profissionais não pertencen- tes à área científica que passam a interessar-se por um dado assunto (engenharia genética, por exemplo) e, então, começam a ler, pensar e assinar revistas específicas para aprimorar seu conhe- cimento. Então, a alfabetização científica cultural é motivada por um desejo de saber algo sobre ciência, como uma realização humana fundamental; ela é para a ciência o que a apreciação da música é para o músico. Ela não resolve nenhum problema prático diretamente, mas ajuda abrir caminhos para a ampliação entre as culturas cientí- ficas e humanísticas (SHEN, 1975, p. 267). Um dos problemas da alfabetização científica cultural é que ela está disponível apenas para um número comparativamente pequeno de pessoas. Deveria haver um esforço muito grande para aumentar o acesso a esse tipo de informação para que a população possa desfrutar da Ciên- cia em qualquer momento de sua vida. Existem hoje várias revistas que procuram divulgar a Ciência, propiciando maior veiculação do conhecimento científico. Os jornais e revistas também informam constantemente a evolução da Ciência. Torna-se necessário, porém, que esses meios de comunicação possam circular livre- mente pelas escolas, colocando os alunos em contato com essas informações e, principalmente, utilizando-os como material pedagógico, constituindo-se, também, num desafio aos professores que precisam usá-los adequada e criticamente. Então, ao pensarmos um tipo de ensino de Ciências ideal para os nossos alunos do século XXI, temos de primeiro pensar em duas questões basilares do processo de ensino: por que ensi- nar? Como ensinar? Não pretendemos esgotar essa discussão, mas tentaremos discutir ao longo deste trabalho. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino e os objetivos do ensino de Ciências no Ensino Fundamental são concebidos para que o aluno desenvolva competências que lhe permitam compreender o mundo e atuar como indivíduo e como cidadão, utilizando conhe- ◄ Figura 2: Esfera em fibras de polímero de água viva Fonte: Disponível em <http://www.cienciah- oje.pt/index.php?oi- d=39998&op=all>. Acesso em 12 set. 2010. 16 UAB/Unimontes - 5º Período cimentos de natureza científica e tecnológica. Esses objetivos podem ser organizados de forma que os alunos tenham as seguintes capacidades: 1. Compreender a natureza como um todo dinâmico, sendo o ser humano parte integrante e agente de transformações do mundo em que vive; 2. Identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de vida, no mundo de hoje e em sua evolução histórica; 3. Formular questões, diagnosticar e propor soluções para problemas reais a partir de elemen- tos das ciências naturais, colocando em prática conceitos, procedimentos e atitudes desen- volvidos no aprendizado escolar; 4. Saber utilizar conceitos científicos básicos, associados à energia, à matéria, à transformação, ao espaço, ao tempo, ao sistema, ao equilíbrio e à vida; 5. Saber combinar leituras, observações, experimentações, registros, etc., para coleta, organi- zação, comunicação e discussão de fatos e informações; 6. Valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para construção coletiva do conhecimento; 7. Compreender a saúde como bem individual e comum que deve ser promovido pela ação coletiva; 8. Compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades humanas, distinguindo usos corretos e necessários daqueles prejudiciais ao equilíbrio da natureza e ao homem. Nesse contexto, esses objetivos solicitam do professor de ciências, nas séries iniciais do En- sino Fundamental, saber fazer boas escolhas dos conteúdos a serem ensinados. Nessa escolha estão em jogo algumas considerações ligadas ao perfil do professor de Ciências e, sobretudo, às concepções de sociedade, de homem e de educação que povoam a subjetividade presente na vida do professor: sua formação política, cultural e social. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, faz-se necessário, portanto, o estabeleci- mento de critérios para a seleção dos conteúdos de ensino de Ciências. São eles: • Os conteúdos devem se constituir em fatos, conceitos, procedimentos, atitudes e valores compatíveis com o nível de desenvolvimento intelectual do aluno, de maneira que ele possa operar com tais conteúdos e avançar efetivamente nos seus conhecimentos; • Os conteúdos devem favorecer a construção de uma visão de mundo que se apresenta como um todo formado por elementos inter-relacionados, entre os quais destacamos o homem, agente de transformação. O ensino de Ciências deve relacionar fenômenos natu- rais e objetos da tecnologia, possibilitando a percepção de um mundo permanentemente reelaborado, estabelecendo-se relações entre o conhecido e o desconhecido e entre as partes e o todo; • Os conteúdos mediados pela tecnologia, superam interpretações ingênuas sobre a reali- dade. Os temas transversais apontam conteúdos particularmente apropriados para essa superação. Conforme os estudos de Bizzo (2007), quanto à adequação dos conteúdos de Ciências, os conteúdos têm sido tratados de maneira literal pela escola elementar, pois os conteúdos são apresentados apenas como um ornamento curricular, alertando que é preciso evitar lista de no- mes a serem memorizados. Professores e alunos devem encontrar conteúdos que permitam uma exploração inteligente da ciência e dos fenômenos estudados, e a criança deve ser vista como aprendiz inteligente, capaz de entender e criticar o conhecimento científico dentro das caracte- rísticas próprias da idade. Ainda procurando justificar o ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental, recorremos a estudos teóricos realizados pela Pedagogia, estabelecendo um diálogo mais pró- ximo da prática docente e ratificando o pensamento de Bizzo quando afirma que “proporcionar aos professores elementos teóricos sobre a prática é um verdadeiro exercício dialógico e, conse- quentemente, de cidadania” (BIZZO, 2007, p. 9). Segundo Bizzo (2007, p.11), “o ponto principal é reconhecer a real possibilidade de enten- der o conhecimento científico e a sua importância na formação dos nossos alunos”. Assim sendo, ensinar Ciências no mundo contemporâneo deve ser uma das prioridades de todas as escolas, principalmente as públicas, pois o ensino de Ciências não serve apenas para que a população tenha acesso a conhecimentos científicos e tecnológicos, mas também para despertar vocações, dar plena realização ao ser humano e para sua integração social. Conforme documento da UNESCO (2005), intitulado “O Ensino de Ciências: o futuro em risco”, o ensino de Ciências deve investir para construir uma população cientificamente preparada para receber de volta a cidadania e produtividade, que melhoram as condições de vida de todo o povo. DICA O professor de Ciências deve ter acesso aos Parâmetros Curriculares Nacionais - que foram distribuídos para todos professores das escolas públicas do Brasil -, com o objetivo de servir de apoio metodológico e direcionador das práti- cas pedagógicas em sala de aula. DICA Forme um grupo, dis- cuta as questões abaixo e poste no fórum as conclusões. Até que ponto, nós, pro- fessores das Ciências, estamos instigando as nossas crianças para a curiosidade e dando a elas a oportunidade de espaço e tempo para experimentações e construções coleti- vas do conhecimento científico? 17 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências Assim, o professor, antes de escolher umlivro didático para a sua disciplina, deve analisá-lo minuciosamente para perceber quais são os critérios relevantes para o ensino de Ciências, o que falta ou não e o que mais condiz com a realidade de seus alunos. Tendo em vista, também, a va- lorização dos conhecimentos prévios dos alunos, as experiências vividas por eles ao longo de sua vida, os ensinamentos passados pelos avós, os quais, consequentemente, acabam reproduzindo nas aulas. Tais conhecimentos populares, com o conhecimento científico, tornam a aula e a disci- plina mais prazerosas e significantes para os alunos, que se sentirão como contribuidores para o andamento e o ensino das aulas ministradas pelo professor. Nos cuidados da escolha do livro e dos conteúdos, Delizoicov e Angotti (1992) ponderam quanto aos livros textos e manuais instrucionais utilizados pelos professores, pois conseguem re- produzir de forma bastante fiel o que ocorre com a veiculação do conhecimento científico exi- toso, sempre em favor da ciência clássica, contribuindo para sua imperativa divulgação, repro- dução e/ou transposição. Porém, continuam a reforçar uma imagem distorcida do que hoje se reconhece como “fazer ciência”, mesmo que consideremos o relativismo e as diferenças de posi- ção entre historiadores e epistemólogos. Recentemente, passamos a conviver com as novas possibilidades fornecidas pelas mídias eletrônicas, o processamento de imagens e o tratamento mais aberto e menos sisudo do conhe- cimento científico. Contudo, a oportunidade oferecida poderá ser apenas mais um veículo po- deroso de reforço às velhas concepções que desejamos superar. Cabe utilizar as mídias para as mudanças de rumo tanto dos conteúdos de e/ou sobre ciências: clássicos, modernos e contem- porâneos, como de metodologias plurais, tradicionais ou novas, com atividades presenciais e a distância. ◄ Figura 4: Trabalho coletivo na escola Fonte: Disponível em <http://www.unifesp.br/ homebaixada/images/ extensao/saude1.jpg>. Acesso em 13. set. 2010. ◄ Figura 3: Pequenos cientistas Fonte: Disponível em <http://cientecno. com/site/wp-content/ uploads/2010/03/mun- dosemengenheiros.jpg>. Acesso em 13 set. 2010. 18 UAB/Unimontes - 5º Período 1.3 Diferentes Enfoques do Ensino de Ciências, Diferentes Concepções Sobre Desenvolvimento do Conhecimento Científico e a Relação Homem/Natureza A importância do ensino de Ciências Naturais em todos os níveis de escolaridade tem sido objeto de discussão em diversos trabalhos desenvolvidos no contexto brasileiro. Desse universo, fazem parte trabalhos que tratam do ensino de Ciências nas séries iniciais; muitos deles, inclusi- ve, defendidos em programas de pós-graduação, corroborando a relevância que esse tema vem assumindo na pesquisa educacional desenvolvida nos últimos anos no Brasil. Embora haja convergência de opiniões quanto à necessidade do ensino de Ciências, o qual já é presente nos currículos e planejamentos escolares, ainda hoje a formação científica oferecida nas primeiras séries não é suficiente, se considerarmos como um de seus principais objetivos a compreensão da criança no mundo que a cerca Lorenzetti (2005). Nesse sentido, o ensino de Ciências se coloca como uma possibilidade de promover a alfa- betização científica já nas séries iniciais, de modo que o educando possa refletir sobre o conhe- cimento científico para realizar leituras de seu entorno social, no qual esse conhecimento se faz cada vez mais necessário, sobretudo, [...] para que um país esteja em condições de atender às necessidades funda- mentais de sua população, o ensino de ciências e tecnologia é um imperativo estratégico [...] Hoje, mais do que nunca, é necessário fomentar e difundir a alfa- betização científica em todas as culturas e em todos os setores da sociedade [...] (DECLARAÇÃO DE BUDAPESTE, 1999). Assim, o ensino de Ciências deve proporcionar a todos os cidadãos conhecimentos e opor- tunidades de desenvolvimento de capacidades necessárias para se orientarem em uma socieda- de complexa, compreendendo o que se passa à sua volta (CHASSOT, 1994). Trata-se de um movi- mento que deve ter início logo nas primeiras séries do Ensino Fundamental. DICA Reflita sobre a afirma- ção abaixo e poste no fórum suas conside- rações. O professor inovador é a pessoa sui-generis, capaz de ver, ao seu redor, um mundo coerente, que poder ser moldado e cujas reações podem ser previstas, o inovador crê no conhecimento científico. Com seu ele- vado senso de compe- tência, procura alcançar seus objetivos e sente necessidade de ordem e êxito. Figura 5: Tecnologia e Ciência Fonte: Disponível em <http://www.iapar.br/ar- quivos/Image/ciencia_e_ tecnlogia.jpg>. Acesso em 15 set. 2010. ► 19 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências Assim, o ensino de Ciências na atualidade deve se contrapor ao ensino baseado apenas no livro didático de forma memorística, acrítica e a-histórica, praticado na maioria das escolas. Vi- sando à mudança dessa realidade, torna-se necessário desenvolver um ensino de Ciências que tenha como foco, logo nas séries iniciais do processo de escolarização, “a ação da criança, a sua participação ativa durante o processo de aquisição do conhecimento, a partir de desafiadoras atividades de aprendizagens” (FRIZZO e MARIN, 1989, p. 14). Dessa maneira, poderemos possibilitar condições para que o sujeito da aprendizagem exer- ça sua cidadania. Assim: Para o exercício pleno da cidadania, um mínimo de formação básica em ciências deve ser desenvolvido, de modo a fornecer instrumentos que possibilitem uma melhor compreensão da sociedade em que vivemos (DELIZOICOV; ANGOTTI, 1990, p. 56). Nessa perspectiva, todos os indivíduos devem receber uma formação mínima em Ciências Naturais, para a sua formação cultural, uma vez que o conhecimento científico é parte constituin- te da cultura construída pela humanidade. Nesse processo, a formação do professor configura-se como elemento de fundamental im- portância, considerando que suas concepções sobre Educação e sobre Ciência se traduzem em suas aulas e, dessa forma, a compreensão da dinâmica que se estabelece na formação docente, em especial para as séries iniciais, é de grande relevância se desejamos entender melhor alguns problemas encontrados hoje no ensino de Ciências praticado nesse nível de ensino. ◄ Figura 7: Formação de Professores Fonte Disponível em <http://arielvillanova. blogspot.com/2008/10/ resumo-da-semana- de-12102008-19102008. html>. Acesso em 15 set. 2010. ◄ Figura 6: Confronto religião e ciências Fonte: Disponível em <http://www.fc.up.pt/ DocsOnLine/news/ img/20081125151147_ CIENCIARELIGIAO.jpg>. Acesso em 16 set. 2010. 20 UAB/Unimontes - 5º Período As observações do céu por potentes telescópios, realizadas pelos astrônomos M. Slipher e Edwin P. Hubble, mostram que as galáxias estão se afastando uma das outras, reforçando a ideia de que o universo se encontra em expansão. A lógica leva a concluir que, no passado, as galáxias deviam estar mais próximas que hoje. Levando essa ideia ao extremo, cientistas dizem que teria havido um mo- mento em que todos os componentes do universo estariam aglomerados em um único ponto. Teoria do Big Bang O que é? Georges Lemaître e George Gamow imaginaram que o universo começou com um grão pri- mordial extremamente denso, que, por razões desconhecidas, teria se expandido, originando o espaço, o tempo e toda a matéria e energia existentes no universo. Esse evento ficou conhecido como Big Bang, que ocorreu cerca de 13 bilhões de anos atrás. Os cientistas calculam que, logo após a explosão, a temperatura no universo era muito alta e impossibilitava a existência dos elementos químicos. Apenas após centenas de milhares de anos, a temperatura diminuiu o suficiente para o surgimento de átomosde hidrogênio. Após centenas de milhões de anos é que começaram a surgir as primeiras estrelas, formadas basicamente por aglomerados de átomos de hidrogênio. A energia emitida pelas estrelas provém de reações de fusão entre os átomos que as com- põem. Novas fusões ocorridas nas muitas gerações de estrelas teriam originado os diversos tipos de elementos químicos existentes no universo. Assim, os diversos tipos de átomos do universo foram produzidos no interior das estrelas. Dependendo de sua massa, a estrela explode, lançan- do seus átomos no espaço. Estes passam a fazer parte da matéria cósmica que se agregará em uma grande nebulosa, a qual pode originar novas estrelas, planetas e outros corpos celestes. Devido ao triunfo das ciências exatas na modernidade, é inevitável aceitar, do ponto de vista de um indivíduo religioso, que a doutrina bíblica de criação seja “apenas” uma imaginação sim- bólica de “verdadeiros” eventos cósmicos. Nesse sentido, podem coexistir na consciência moder- na os dois referenciais, ou seja, os relevantes textos bíblicos e as teorias astrofísicas atuais. Figura 09: A explosão da nebulosa Fonte: Disponível em <http://www.brasilescola. com/geografia/big-bang. htm>. Acesso em 17 set. 2010. ► Figura 8: Big Bang Fonte Disponível em <http://andradellbio. blogspot.com/2010/04/ teoria-do-big-bang.html>. Acesso em 16 set. 2010. ► 21 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências A história prova que a religião pode ter esse efeito. Isso é bem ilustrado pelo famoso caso de Galileu Galilei. Todavia, nesse contexto, acho muito interessante a hipótese de Max Weber, que diz que as ciências modernas têm suas raízes na tradição judaico-cristã e, por isso, elas se desen- volveram especificamente na Europa, onde as duas religiões haviam deixado suas marcas. Max Weber apontou para a cosmovisão dualista, para a ideia de um Deus transcendental, totalmente diferente do mundo, que, uma vez criado, segue os seus mecanismos invariáveis. Segundo We- ber, esse conceito provocou certa divisão na área intelectual. Por um lado, acentuou-se a teologia ocupada do lado divino do “ser”. Por outro lado, as ciên- cias exatas se articularam, propondo uma integridade, uma autonomia do mundo distante de Deus, exposto a uma investigação própria. Nesse sentido, podemos dizer que a religião, em vez de inibir um desenvolvimento da ciência, estimulou-o. Mais especificamente, devemos pensar, por exemplo, em vários grandes físicos que eram homens religiosos, cuja religiosidade não inibia que chegassem a resultados, levando-os a novos paradigmas em suas áreas. Devemos, também, lembrar-se do caso da Igreja Cristã dos Santos dos Últimos Dias, ou seja, dos chamados Mórmons. Motivados pela doutrina de que membros da Igreja podem contribuir para a salvação de seus parentes já falecidos, ou seja, como consequência da prática do batismo de antepassados, há grandes especialistas em pesquisa na área de genealogia nessa Igreja. Esse exemplo também indica que religião não deve ser reduzida ao seu papel inibidor a respeito do progresso científico. O foco do ensino de Ciências está na perspectiva metodológica com temáticas mais volta- das às novas metodologias centradas no construtivismo, na direção que aponta Duit (1987), Pos- ner et al. (1982). Mas há diversas alternativas metodológicas que visam a relacionar os conteúdos ensinados com o cotidiano, analisar modelos e analogias, investigar concepções epistemológicas de professores, desenvolver propostas para a formação docente mais adequada, valorizar a expe- rimentação, produzir materiais didáticos alternativos à esfera comercial, defender o ensino com base na história da ciência, analisar as questões de linguagem no ensino de Ciências e questionar perspectivas epistemológicas empírico-positivistas. Os estudos em currículos de ciências, não apenas no Brasil como também na li- teratura internacional, ainda têm-se voltado preferencialmente para proposições curriculares que privilegiam novas abordagens metodológicas (LOPES e MACE- DO, 2004, p. 9). Nesse contexto, tal fato pode desconsiderar a educação como campo de produção científi- ca, social e cultural. O desafio é entender que a mediação pedagógica do conhecimento implica considerar que as finalidades sociais da escolarização não são determinadas pela lógica do co- nhecimento científico de referência e promover no espaço escolar estudo que siga uma aborda- gem mais sociológica do currículo de ciências, sobretudo, oferecer às nossas crianças uma apren- dizagem significativa. DICA Leia sobre aprendiza- gem significativa de Davis Ausubel. A aprendizagem significativa de David Ausubel (1970) vem romper com o estigma de que o aluno é uma máquina pronta para receber informações de seu professor. Ela vem veicular a necessidade do apoderamento por parte dos educadores de ferramentas que acelerem o processo criativo, de forma a des- mistificar a educação e diversificar a aprendi- zagem. ◄ Figura 10: Planetário Fonte: Disponível em <http://umavisaoterra. pbworks.com/f/novo_sis- tema_solar.jpg>. Acesso em 17 jun. 2010. 22 UAB/Unimontes - 5º Período BOX 1 Resilência Resiliência é um conceito da Física, utilizado primeiramente pela engenharia, que se refere à capacidade de um material sofrer tensão e recuperar seu estado normal, quando suspenso o “estado de risco”. No campo das relações humanas, é compreendido como um processo que ex- cede a simples superação de experiências, já que permite ao indivíduo sair fortalecido por elas, superar, o que necessariamente promoveria a saúde mental. O termo resiliência, apesar de guar- dar uma discussão a respeito de sua definição, vem sendo consensualmente utilizado como a capacidade humana para enfrentar, vencer, ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade. Tem sido utilizado em psicologia como a capacidade humana de enfrentar adversi- dades sucessivas ou acumuladas, com o mínimo de disfuncionalidade para o desenvolvimento, agindo com equilíbrio no pensar e no agir. A resiliência pode ser pensada como capacidade de adaptação ou faculdade de recuperação. Uma atitude resiliente significa ter uma conduta posi- tiva, apesar das adversidades, ou seja, soma-se à resiliência a capacidade de construção positiva, superação, ressignificação dos problemas e flexibilidade cognitiva. Esse constructo, apesar de atual, nas ciências humanas não é apenas um fenômeno individual, pode ser grupal, institucio- nal, comunitária e por que não empresarial e mercadológica. Fonte: TAVARES, 2000, p.77. Apesar de os meios de comunicação estarem disseminando os pontos preocupantes do de- senvolvimento científico-tecnológico – como a produção de alimentos transgênicos, as possibi- lidades de problemas na construção de usinas nucleares, o tratamento ainda precário do lixo e outros –, muitos cidadãos ainda têm dificuldades de perceber porque se está comentando tais assuntos e em que eles poderiam causar problemas a curto ou longo prazo. Mal sabem as pes- soas que, atrás de grandes promessas de avanços tecnológicos, escondem-se lucros e interesses das classes dominantes, que, muitas vezes, persuadindo as classes menos favorecidas, impõem seus interesses, fazendo com que as necessidades da maioria, carente de benefícios, não sejam amplamente satisfeitas. Assim, o ensino que se pretende é aquele que propicie condições para o desenvolvimento de habilidades, o que não se dá simplesmente por meio do conhecimento, mas de estratégias de ensino muito bem estruturadas e organizadas. As propostas para o ensino do cidadão precisam levar em conta os conhecimentos prévios dos alunos, o que pode ser feito mediante a contextua- lização dos temas sociais, na qual se solicita a opinião dos alunos a respeito do problema que o tema apresenta, mesmo antes de ser discutidodo ponto de vista do conhecimento (Matemática, Física, Química, Biologia, etc.). Trabalhar com os alunos nesse sentido não se restringe a uma simples adequação de fatos descontextualizados da realidade, mas implica a redefinição de temas sociais próprios ao contex- to nacional e local, a problematização da situação social, política e econômica do local. A história do lugar, seus recursos, suas fontes constituem dispositivos de mediação pedagógica, por exce- lência, para auxiliar o professor de Ciências na contextualização dos conteúdos de ensino. DICA Faça uma discussão com os colegas sobre a história abaixo e responda a questão proposta. A Cigarra e a Formiga Tendo a cigarra cantado durante o verão, apa- vorou-se com o frio da próxima estação. Sem mosca ou verme para se alimentar, com fome, foi ver a formiga, sua vizi- nha, pedindo-lhe alguns grãos para aguentar até vir uma época mais quentinha! • Eu lhe pagarei”, disse ela. • Antes do verão, palavra de animal, os juros e também o capital. • A formiga não gosta de emprestar. É esse um de seus defeitos. • O que você fazia no calor de outrora? • Perguntou-lhe ela com certa esperteza. • Noite e dia, eu can- tava no meu posto, sem querer dar-lhe desgosto. • Você cantava? Que beleza! Pois, então, dance agora! QUE LIÇÃO A HISTÓRIA NOS QUER REVELAR? Figura 11: Iniciação científica Fonte: Disponível em <http://www.institu- toarcor.org.br/images/ minha_escola_cresce/La- boratorioDeCiencia_0137. JPG>. Acesso em 16 set. 2010. . ► 23 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências Quais os compromissos que a Ciência tem assumido com o nosso planeta na melhoria da qualidade de vida de homens e mulheres? Referências BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensi- no de Ciências - PCN/ MEC. 3. ed. Brasília: 2001. BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Ática, 2007. CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994. Declaração de Budapeste. (1999). Marco geral de ação. Disponível em <http://www.mail-archi- ve.com/direitos-humanos@grupos.com.br/msg00060.html>. Acesso em 15 ago. 2010. Década da Educação das Nações Unidas para um Desenvolvimento Sustentável, 2005- 2014: documento final do esquema internacional de implementação. Brasília: UNESCO, 2005. DELIZOICOV, Demétrio et al. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. DELIZOICOV, D; ANGOTTI, J. A. Metodologia do Ensino de Ciências. São Paulo: Cortez, 1992. Delizoicov, D.; Angotti, A. (1990). Metodologia do Ensino de Ciências. São Paulo: Cortez. DUIT, R. The constructivist view: a fashionable and fruitful paradigm for science education re- search and practice. In L. P. Steffe & J. Gale (Eds.), Constructivism in Education. LEA, Lawrence Erl- baum Associates, Publishers. 1987. FRIZZO, M. N.; MARIN, E. B. O ensino de ciências nas séries iniciais. 3. ed. Rio Grande do Sul - Ijuí: UNIJUÍ, 1989. HENNIG, J. G. Metodologia do ensino de ciências. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994. LOPES, Alice Casimiro, MACEDO, Elizabeth (orgs.). Currículo de ciências em debate. Campinas: Papirus, 2004. ◄ Figura 12: O mundo Fonte: Disponível em <http://2.bp.blogspot. com/_RB2snxnR2S0/S0i- j7Cu_xhI/AAAAAAAAABs/ DH2nZwmCSoM/s400/ mundo+na+m%C3%A0o. jpg>. Acesso em 18 set. 2010. 24 UAB/Unimontes - 5º Período LORENZETTI, L.. O ensino de ciências naturais nas séries iniciais, 2005. Disponível em <www. faculdadefortium.com.br/ana_karina/material/O%20Ensino%20De%20Ciencias%20Naturais%20 Nas%20Series%20Iniciais.doc>. Acesso em 16 nov. 2010. MENDES SOBRINHO, J. A. C. Ensino de Ciências e Formação de Professores: Na escola Normal e no Curso de Magistério. Florianópolis: CED/UFSC. Tese de Doutorado.1998. POSNER, G.J., STRIKE, K.A., HEWSON, P.W. & GERTZOG, W.A. Accommodation of a scientific con- ception: Toward a theory of conceptual change. Science Education, 66(2): 211-227, 1982. SHEN, B. S. P. Science Literacy In: American Scientist, v. 63, p. 265-268, may. jun. (1975). SILVA, A. F. A. Ensino e aprendizagem de Ciências nas séries iniciais: concepções de um gru- po de professoras em formação. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação Interuni- dades em Ensino de Ciências, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006. TAVARES, J. (Org.) Resiliência e educação. São Paulo: Cortez Editora, 2000. 25 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências UNIDADE 2 Aspectos Metodológicos do Conteúdo e do Ensino de Ciências no Ensino Fundamental: O Profissional do Ensino de Ciências 2.1 Aspectos Metodológicos do Conteúdo e do Ensino de Ciências nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Segundo Hennig (1994), são objetivos da Pedagogia para o ensino de Ciências no Ensino Fundamental: • Conhecer os problemas existentes no processo de ensino/aprendizagem; • Pensar, pesquisar e sugerir soluções mais adequadas aos problemas educacionais, assumin- do a educação com espírito criativo e valorativo; • Organizar o ensino de acordo com as circunstâncias, compreendendo os problemas socio -psico-econômico-políticos da região. A compreensão dos processos de construção dos conceitos científicos teve como principais referenciais teóricos e epistemológicos os trabalhos de Jean Piaget e a teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel (1970). Segundo essas teorias, o processo de construção de conceitos em sala de aula é resultado da interação do sujeito com o objeto de estudo. Um novo conceito seria ancorado a esquemas conceituais já existentes na estrutura cognitiva do sujeito, de modo a transformar o conhecimen- to ou esquemas já existentes em um conhecimento PERTINENTE OU SIGNIFICATIVO. Segundo estudo realizado por Silva (2009): As concepções denominadas ‘prévias’, ‘alternativas’ ou ‘espontâneas’ são seme- lhantes para pessoas de diferentes faixas etária, ambientes culturais e estão orga- nizadas com grau suficiente de coerência interna, o que as torna muito resistente às mudanças (SILVA, 2009, p. 67). Entende-se que essa resistência pode levar o aluno a rejeitar as concepções cientificas ou sentir excluído do processo educacional, projetando a Ciência como algo distante e desvincula- do da sua vivência. Foi somente na década de 1980 que o ensino de Ciências Naturais passou a dar ênfase na construção do conhecimento pelo aluno, o que significa mudanças no processo ensino/apren- dizagem, passando a questionar as metodologias de ensino que preconizavam apenas a memo- rização de fatos. Essa tendência pedagógica foi caracterizada como construtivista, porque pau- ta-se na interação “professor, estudante e conhecimento”, resultando em novas aprendizagens docentes e discentes. Conforme Silva (2009): 26 UAB/Unimontes - 5º Período As discussões pedagógicas derivadas dessa corrente epistemológica fizeram uso de conhecimentos relativos à psicologia para realçar a existência de conceitos espontâneos ou pré-concepções. No campo da educação em Ciências Naturais apontou-se a importância de fundamentar o ensino a partir das concepções e conceitos dos alunos acerca dos fenômenos naturais (SILVA, 2009, p. 76). Aponta-se, então, a necessidade da prática educativa a partir das ideias prévias dos estu- dantes para se chegar à visão científica atual. O professor deveria atuar, então, como mediador da aprendizagem, promovendo conflitos cognitivos que fomentariam a revisão das concepções e práticas. Assim, permitiria que os estudantes questionassem a coerência de suas percepções diante do fenômeno analisado. Os pressupostos básicos da aprendizagem por mudanças conceituais são: a aprendizagem ocorre a partir do envolvimento do aluno com a construção do conhecimento, em que as ideias iniciais dos alunos exercem funçãoimportante no processo, que toma como ponto de partida o conhecimento que o aluno possui. Considera-se que as concepções do mundo que a criança tem são fundamentais na explicação do modelo que está sendo criado ou experimentado. Portanto, o conhecimento prévio que a criança traz consigo é muito importante, pois ela precisa comparar o modelo ao mundo real para se certificar de que suas concepções espontâneas a respeito do assunto que está sendo modelado têm fundamento ou não. Outro pressuposto dessa teoria é que, ao longo de sua história, os seres humanos têm construí- do modelos da realidade como maneira de possibilitar a sua interação com essa realidade. A ciência é resultado da adoção de um modelo de explicação da realidade. Como a ciência integra diversos campos do conhecimento, foram criadas diversas ciências (humanas, sociais, naturais, exatas, etc.), cada uma com referenciais metodológicos específicos. Desse modo, a humanidade vem construindo um cabedal de conhecimentos científicos que tem sido transmitido através dos tempos. Figura 14: Fenômeno natural Fonte: Disponível em < http://www.ceticis- moaberto.com/wp-con- tent/uploads/2008/02/ microexplosao01ea.jpg>. Acesso em 18 set. 2010. ► Figura 13: Ciência e vida Fonte: Disponível em <http://2.bp.blogspot. com/_0cZ5oHYSV- sE/S9m2sD2ysfI/ AAAAAAAAAK8/2ZrzzC- qEkBA/s1600/wallpaper+- final+G3+8%C2%BAD. jpg>. Acesso em 18 set. 2010. ► 27 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências Concebem-se ‘modelos’ como representações de nosso pensamento a respeito de um mun- do real ou imaginário. Servem tanto para expressar o que pensamos a respeito de algum fenô- meno como para modificar o que pensamos sobre ele. Para explicitar um modelo mental, ou seja, explicar experiências e conhecimento sobre determinado domínio, pode-se usar diferentes maneiras de expressar as ideias, dependendo do ponto de vista de quem vai expô-las. As explicações que os alunos dão às coisas da natureza devem ser analisadas não tanto no sentido de que elas são semelhantes ou diferentes das explicações científicas para a natureza, mas à luz do pensamento desses alunos. Outro ponto falho é o de que a mudança conceitual não estimula os alunos a investigar o fato. Com a constatação de que não bastava apenas a mudança conceitual, mas levar em consideração que os conceitos que os alunos possuem estão associa- dos à forma própria de lidar com os fenômenos naturais, passou a ganhar destaque a concepção construtivista do ensino. A superação da metodologia da superficialidade requer a mudança metodológica e atitu- dinal dos alunos. O grande desafio é proporcionar aos alunos atividades que os aproximem do fazer ciências, enfrentando problemas reais e procurando soluções, partindo de seus conheci- mentos prévios. No decorrer, irão surgir ideias novas que certamente aparecerão à medida que caminham num ciclo investigativo. Em suma, entendemos que o ensino de Ciências Naturais não objetiva transformar crianças em futuros cientistas, mas sim formar pessoas que sejam capazes de utilizar conhecimentos cien- tíficos para explicar, com consciência, fatos que acontecem no seu cotidiano, incluindo a dinâ- mica do seu corpo. Por essa razão, as aulas de Ciências Naturais não podem apenas se resumir a conteúdos dados sem que os alunos saibam sua função e aplicabilidade. Assim, as aulas são um espaço privilegiado para que os estudantes e professores possam desenvolver as noções e ideias que têm do mundo a seu redor e de si próprios. 2.2 O Profissional do Ensino de Ciências Prezado(a) acadêmico(a), é bastante difícil estabelecer um perfil para o professor de Ciên- cias. Envolve, igualmente, uma grande responsabilidade e são poucas as pessoas que querem as- sumi-la. Por essa razão, perfis convincentes são raros. Para tentar a caracterização equilibrada do professor de Ciências, relacionando sua forma- ção acadêmica com seu desempenho profissional, fazem-se necessárias algumas considerações preliminares que possam orientar os direcionamentos básicos para um perfil ajustado e impedir que, ao final, projete-se um professor de Ciências utópico. Já que o homem é a sua circunstância, não se pode esquecer de que o professor de Ciências é produto de sua genética, da sua formação acadêmica, do estágio de desenvolvimento de sua personalidade, das condições ambientes, das injunções econômicas e sociopolíticas e da dispo- ◄ Figura 15: Atividade lúdico-pedagógica nas aulas de Ciências Fonte: Disponível em <http://www.rac.com. br/multimidia/ima- gens/2011/04/08/crianca -escola-ciencia-renovatus- colegioG.jpg>. Acesso em 19 set. 2010. 28 UAB/Unimontes - 5º Período nibilidade dos alunos. Sobretudo, podemos inferir que o profissional de Ciências deve possuir consciência crítico-política apurada para realizar uma leitura real da realidade social e fazer com que os conteúdos de Ciências estejam a serviço da comunidade escolar. Conforme Bandeira et al. (2008), apesar das técnicas, dos métodos, das filosofias, dos re- cursos audiovisuais e dos professores bem intencionados, o ensino de Ciências continua a não atender aos objetivos para os quais ele é proposto. Nessa direção, a ênfase é dada ao aspecto informativo. A aula expositiva, com pequenas variações, é, ainda, a forma mais utilizada pelo pro- fessor para ministrar suas aulas. Basicamente, o ensino de Ciências está fazendo com que o aluno adquira conhecimento através da transmissão verbal ou escrita. Forma-se, assim, um verdadeiro ciclo. O princípio bási- co dos métodos ativos terá de obter sua inspiração da história das ciências e pode ser expresso como: compreender é descobrir ou reconstruir através da redescoberta, e é preciso atender a es- sas condições, se quisermos formar indivíduos que, no futuro, sejam capazes de produção e de criatividade, e não simplesmente repetição. Vejamos algumas premissas para caracterizar o sujeito professor como pesquisador, segun- do Hennig (1994): • “Partamos do homem como ser capaz de sentir, pensar e agir”. - É uma concepção bem atua- lizada de pessoa, gente. Pode e deve ser transferida ao aluno - o indivíduo que nos é confia- do “como um organismo em desenvolvimento, com suas resoluções próprias, cujo conheci- mento, habilidades e traços do caráter se desenvolvem auxiliados pela experiência com seu ambiente”; • “Este ser é diariamente bombardeado por uma gama de estímulos que o afetam das mais diversas maneiras”; • “Aluno repetitivo e o aluno criativo”. - Despertar os primeiros e ajudar no desenvolvimento dos segundos; DICA VOCÊ SABIA QUE... Conforme Perrenoud (1999), competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recur- sos cognitivos (saberes, capacidades, informa- ções, etc.) para solucio- nar com pertinência e eficácia uma série de situações: • Saber orientar-se em uma cidade desco- nhecida mobiliza as capacidades de ler um mapa, localizar- se, pedir informações ou conselhos e os seguintes saberes: ter noção de escala, elementos da topo- grafia ou referências geográficas. • Saber curar uma criança doente mobiliza as capaci- dades de observar sinais fisiológicos, medir a temperatu- ra, administrar um medicamento e os seguintes saberes: identificar patologias e sintomas, primeiros socorros, terapias, os riscos, os remédios, os serviços médicos e farmacêuticos. • Saber votar de acordo com seus interesses mobiliza as capacidades de saber se informar, preencher a cédula e os seguintes saberes: instituições políticas, processo de eleição, candidatos, partidos, programas políticos, políticas democráti- cas, etc. Figura 17: Sistematizando a pesquisa Fonte: Disponível em <http://www.eb23-elisioa- raujo.edu.pt/>. Acesso em 20 set. 2010. ► Figura16: Fazendo ciências com criança das séries iniciais do Ensino Fundamental Fonte: Disponível em <http://www.escolafa- zarte.com.br/imagens/ 2009-estacao-ciencias. jpg>. Acesso em 19 set. 2010. ► 29 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências • “[...] o homem sente-se intrigado com o que observa e começa a imaginar o que o levou a fi- car intrigado... o homem principia a questionar-se mais e mais [...]” - identifica-se a presença da observação como desencadeante de um processo reflexivo que, envolvendo a curiosida- de, promove o questionamento, o perguntar-se sobre as coisas, descobre o problema a ser resolvido; • A reflexão, a tentativa de explicar fenômenos, as explicações prováveis: momento funda- mental da criatividade. A criatividade, em Ciências, somente é atingida quando uma ou mais explicações forem formuladas para explicar determinado fato ou fenômeno; • Cria, então, um sistema de dados que o orientarão na investigação, organiza o material co- lhido e registrado. - É a experimentação caracterizada pela concepção de uma estratégia para investigar o problema, confirmar ou rejeitar, empiricamente a(s) hipóteses(s); • “A capacidade de criar e exteriorizar-se depende da estimulação”. - Em uma só frase, dois as- pectos essenciais do processo ensino/ aprendizagem: o criar/exteriorizar-se signi- fica um processo interno (motivação), ca- paz de aflorar em determinadas situações, o que significa incentivos capazes de pro- vocar a exteriorização da motivação; • “Pergunto então: por que o homem, com todo conhecimento que tem, ainda as- sim não é capaz de criar?” - Essa é a ques- tão básica para a qual podemos analisar partindo do pressuposto de que o erro primordial é a maneira como estes co- nhecimentos são ministrados. É algo pa- dronizado, mas na hora da aplicação do conhecimento sentimo-nos barrados, im- potentes. O mais importante foi deixado para trás: a aplicação da teoria. 2.3 Perfil Desejado para o Professor de Ciências Embora esta não seja a única competência que se espera do professor de Ciências do Ensino Fundamental, é essencial que esse profissional revele não só o domínio de conhecimentos espe- cíficos de Ciências Naturais - seus fenômenos, princípios, leis, modelos, suas linguagens, seus mé- todos de experimentação e investigação, sua contextualização histórica e social, suas tecnologias e relações com outras áreas do conhecimento -, como também os fundamentos que estruturam o trabalho curricular na disciplina e que dizem respeito à aplicação didática e metodológica des- ses conhecimentos na prática de sala de aula. 2.4 Competência Técnica Conforme Hennig (1994), espera-se do professor de Ciências as seguintes competências desejáveis: 1. Reconhecer a presença das ciências na cultura e na vida em sociedade, na investigação de materiais e substâncias, da vida, da Terra e do cosmo e, em associação com as tecnologias, na produção de conhecimentos, nas manifestações artísticas, nos bens e serviços, assim como enfatizar esta presença para aproximar o conhecimento científico do interesse de jo- vens e crianças; 2. Identificar as ciências como dimensão da cultura humana, de caráter histórico, portanto, como produção de conhecimento dinamicamente relacionada a tecnologias e a outros âm- ◄ Figura 18: Visão interdisciplinar do ensino de Ciências Fonte: Disponível em < http://quiprona.files. wordpress.com/2010/12/ ciencia.jpg>. Acesso em 20 set. 2010. 30 UAB/Unimontes - 5º Período bitos da cultura humana das quais também depende e com critérios de verificação funda- dos em permanente exercício da dúvida; 3. Promover e valorizar a alfabetização científico-tecnológica, ou seja, a capacidade de se ex- pressar e se comunicar com as linguagens da ciência, bem como de expressar o saber cien- tífico em diferentes linguagens; 4. Ser capaz de construir relações significativas entre os diferentes campos de conhecimento das ciências naturais (Física, Química e Biologia) em múltiplos contextos, incluindo-se também te- mas de outras áreas, favorecendo, assim, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade; 5. Compreender que o ensino de Ciências deve compor o desenvolvimento da cultura científi- ca, com a promoção de competências, habilidades e valores humanos; 6. Conduzir a aprendizagem de forma a promover a emancipação e a capacidade de traba- lho coletivo dos alunos, planejando e realizando atividades com sua participação ativa e, também, demandando consulta e cooperação entre eles, em questões de caráter prático, crítico, político e social; 7. Tratar temáticas que dialoguem com o contexto da escola e com a realidade dos alunos, antecedendo aquelas que transcendem seu espaço vivencial, respeitando as culturas regio- nais, mas orientando a construção conceitual com vistas a uma cultura científica de sentido universal; 8. Respeitar as etapas de desenvolvimento cognitivo dos alunos, utilizando linguagens e ní- veis de complexidade dos conteúdos disciplinares de forma compatível com a maturidade esperada da faixa etária típica de cada série; 9. Realizar e sugerir observações e medidas práticas que não se limitem a experiências de- monstrativas ou laboratoriais, mas que também envolvam percepções e verificações do mundo real, em que sejam relevantes a participação e o registro feitos pelos alunos; 10. Ser capaz de motivar e fomentar os interesses dos alunos, estimulando a investigação e a capacidade de pesquisar e de fazer perguntas, assumindo, com tolerância e respeito, a res- ponsabilidade inerente à função que exerce, o que também requer o cuidado com a sua formação contínua ao longo da vida. 2.5 Habilidades do Professor de Ciências Hennig (1994) destaca algumas habilidades necessárias ao professor de Ciências do Ensino Fundamental: 1. Reconhecer argumentos favoráveis e desfavoráveis à adoção de diferentes estratégias de ensino de Ciências, a partir da descrição de situações de ensino e de aprendizagem; 2. Estabelecer relações efetivas entre ambiente natural e ambiente construído pela interven- ção humana, caracterizando o primeiro pela relação de seres entre si e com os componen- tes inanimados do seu meio e compreendendo o que deveria ser um uso sustentável dos recursos naturais, revelando necessidades e buscando discutir limites para a ação humana sobre o meio; 3. Compreender a participação do ar, da água, do solo e do fluxo de energia nos ecossistemas, com a função essencial da energia luminosa do Sol na produção primária de alimentos, as- sim como as relações alimentares entre produtores, consumidores e decompositores; 4. Caracterizar a dependência entre os sistemas vivos e as características ambientais geográfi- cas de cada região, situando a diversidade de ecossistemas nas várias regiões brasileiras e a importância de sua preservação; 5. Identificar as características básicas dos seres vivos, como organização celular, obtenção de matéria e de energia e transferência de energia entre seres vivos; 6. Comparar diferentes grupos de plantas sob diferentes aspectos e, em particular, a reprodu- ção de plantas com e sem flores; 7. Classificar e agrupar para compreender a variedade de espécies, apontando os reinos na classificação dos seres vivos e destacando semelhanças e diferenças entre eles; 8. Identificar características de grupos de vertebrados e invertebrados, identificando seme- lhanças e diferenças entre eles; 31 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências 9. Identificar hipóteses e teorias sobre a origem e a evolução dos seres vivos, que revelam como fósseis e outros registros do passado mostram como se operaram transformações dos seres vivos ao longo do tempo, reconhecendo igualmente as causas e as consequên- cias da extinção de espécies; 10. Demonstrar compreensão das estratégias e processos de ocupaçãodos espaços pelos se- res humanos e das consequências da produção de alimentos, da obtenção de materiais do solo, do subsolo e da atmosfera e, ainda, da domesticação de vegetais e animais; 11. Demonstrar compreensão de como os ciclos naturais do ar e da água e a biomassa viva ou fóssil são aproveitados e processados para uso energético; 12. Identificar, em representações variadas, fontes e transformações de energia que ocorrem em processos naturais e tecnológicos, bem como selecionar, entre as diferentes formas de se obter um mesmo recurso material ou energético, as mais adequadas ou viáveis para su- prir as necessidades de determinada região; 13. Reconhecer transformações químicas do cotidiano e do sistema produtivo através da dife- rença de propriedades dos materiais e do envolvimento de energia nessas transformações e apontar necessidades e benefícios, assim como riscos e prejuízos ambientais relacionados a alterações de processos naturais e à contaminação por resíduos; 14. Compreender a constituição dos materiais, diferenciando conceitos de elementos, subs- tâncias químicas, misturas, com suas propriedades físicas, revelando também uma visão microscópica que responda por suas propriedades, assim como ter uma compreensão das muitas radiações e de seu espectro, em correlação com as suas diversas aplicações; 15. Caracterizar a saúde como bem-estar físico, mental e social, identificando seus condicio- nantes (alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, renda, trabalho, educação, transporte e lazer) e recorrendo a indicadores de saúde, sociais e econômicos, para diag- nosticar a situação de estados ou regiões brasileiras; 16. Reconhecer os agravos mais frequentes à saúde, suas causas, prevenção, tratamento e dis- tribuição, bem como as funções dos diferentes nutrientes na manutenção da saúde; 17. Compreender o caráter sistêmico do corpo humano, descrevendo relações entre os sistemas, ósseo-muscular, endócrino, nervoso e os órgãos dos sentidos, mostrando também como se relacionam sexualidade e saúde reprodutiva e como as drogas interferem no organismo; 18. Construir uma representação da Terra, com suas dimensões, estrutura interna e modelos de placas tectônicas, associando essa compreensão com fenômenos naturais como vulcões, terremotos ou tsunamis; 19. Situar a Terra no universo, associando os movimentos da Terra aos aparentes da Lua, do Sol e das estrelas, às medidas de tempo diário, às estações do ano e aos eclipses, assim como ter uma compreensão do Sistema Solar, com as dimensões, distâncias e características dos planetas; 20. Reconhecer o aspecto cultural relacionado às constelações, bem como o movimento das es- trelas no céu e sua relação com movimentos da Terra. Identificar o Sol como uma estrela e estabelecer o conceito de galáxia, compreendendo o movimento do Sol na Via Láctea. Vive-se um momento de profundas transformações. Não se sabe ao certo para onde se ca- minha nem qual o caminho a trilhar. A sociedade atual encontra-se em profunda crise, na qual somos remetidos a repensar nossos valores e atitudes. Como nos aponta Gramsci, citado por Ga- dotti (1998, p. 86), “vivemos um momento histórico no qual o bloco hegemônico dominante en- tra em crise, frente à ameaça de um novo bloco histórico”. DICA As condições ou reflexões até agora feitas vêm sendo desdobramento de um primeiro saber inicial- mente apontado como necessário à formação docente, numa perspec- tiva progressista. Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua cons- trução. (FREIRE, 1996, p. 47). ◄ Figura 19: Construindo competências Fonte: Disponível em <http://blogdo- friburgo.wordpress. com/2009/07/21/a-im- portancia-da-agua/ima- gem1/>. Acesso em 21 set. 2010. 32 UAB/Unimontes - 5º Período Nesse contexto incerto, o papel do profissional da educação precisa ser repensado. Segun- do Gadotti (1998), faz-se mister que o professor se assuma como um profissional do humano, so- cial e político, tomando partido e não sendo omisso. Nessa perspectiva, entende-se que o povo, de posse desse saber mais elaborado, poderá vir a ter condições de se proteger contra a explora- ção das classes dominantes, organizando-se para a construção de uma sociedade melhor, menos excludente e, realmente, democrática. Não se pode esperar que tal organização brote esponta- neamente, mas sim por meio da educação, que pode caminhar lado a lado com a prática política do povo. Sendo assim, o profissional da educação assume aqui um papel, sobretudo, político. Educadores e educadoras precisam engajar-se social e politicamente, percebendo as possi- bilidades da ação social e cultural na luta pela transformação das estruturas opressivas da socie- dade classista. Para isso, antes de tudo, necessitam conhecer a sociedade em que atuam e o nível social, econômico e cultural de seus alunos e alunas. Precisam entender também que, analisando dialeticamente, não há conhecimento absolu- to, pois tudo está em constante transformação. Usando os dizeres de Gadotti (1998), todo saber traz consigo sua própria superação. Portanto, não há saber nem ignorância absoluta: há apenas uma relativização do saber ou da ignorância. Por isso, educadores e educadoras não podem se colocar na posição de serem superiores, que ensinam um grupo de ignorantes, mas sim na po- sição humilde daqueles que comunicam um saber relativo a outros que possuem outro saber relativo. Como educadores engajados em um processo de transformação social, é preciso que esses profissionais acreditem na educação e, mesmo não tendo uma visão ingênua, acreditando que ela sozinha possa transformar a sociedade em que está inserida, acreditem, também, que, sem ela, nenhuma transformação profunda se realizará. É preciso confiar nessas mudanças e esperar o inesperado, pois como nos diz Morin (2001): Na história, temos visto com freqüência, infelizmente, que o possível se torna impossível e podemos pressentir que as mais ricas possibilidades humanas per- manecem ainda impossíveis de se realizar. Mas vimos também que o inesperado torna-se possível e se realiza; vimos com freqüência que o improvável se realiza mais do que o provável; saibamos, então, esperar o inesperado e trabalhar pelo improvável (MORIN, 2001, p. 92). No entanto, como professores e professoras se vêem frente a essas questões? Que espaço reservam para discutir as suas funções sociais? Será que no seu dia a dia, entre uma escola e ou- tra, fazem tal reflexão ou acabam sucumbindo ao sistema, mergulhando num fazer sem fim? A sociedade e a escola têm valorizado os profissionais da educação, ou, como nos aponta Arroyo (2002), veem estes como “um apêndice, um recurso preparado, ou despreparado?”. Figura 20: Na sala de aula Fonte: Disponível em <http://www.redetvlocal. com.br>. Acesso em 22 set. 2010. ► 33 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências 2.6 Reflexões Sobre a Educação do Conhecimento Científico As teorias pedagógicas têm seus fundamentos baseados em um sistema filosófico. É na filo- sofia que expressamos nossa concepção de ser humano e do mundo que nos cerca e isso dá sen- tido ao ensino que ministramos, definindo nossos objetivos e determinando os métodos da nossa ação educativa. Nesse sentido, não existe educação neutra. Ao trabalhar na área de educação, é sempre necessário tomar partido, assumir posições. E toda escolha de uma concepção de educa- ção é, fundamentalmente, o reflexo da escolha de uma filosofia de vida (HAYDT, 1997, p. 23). Nesse contexto, inicia-se uma discussão sobre a filosofia da educação, buscando referencial que clarifique sua função na área educacional. A filosofia pode contribuir para que a educação seja pensada, analisada e refletida, saindo, assim, do ativismo, ou seja, do fazer pelo fazer, sem
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