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Cultura indígena e afro-brasileira

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Aluizio Ferreira Elias
Ana Cristina Borges
Cultura indígena e afro-brasileira
Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube
 Elias, Aluízio Ferreira.
E42c Cultura indígena e afro-brasileira / Aluízio Ferreira Elias, Ana 
 Cristina Borges. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2019.
 216 p. : il. 
 Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. 
	 							Inclui	bibliografia.																			
 ISBN 
 
 1. Cultura indígena – Brasil. 2. Cultura afro-brasileira. 3. 
 Cultura afro-brasileira – História. 4. Populações indígenas. 5. 
 Nativos. I. Borges, Ana Cristina. II. Universidade de Uberaba. 
 Programa de Educação a Distância. III. Título. 
 CDD 981.00498 
© 2019 by Universidade de Uberaba
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico 
ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de 
armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, 
da Universidade de Uberaba.
Universidade de Uberaba
Reitor
Marcelo Palmério
Pró-Reitor de Educação a Distância
Fernando César Marra e Silva
Coordenação de Graduação a Distância
Sílvia Denise dos Santos Bisinotto
Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube
Editoração
Stela Maria Queiroz Dias
Revisão textual
Érika Fabiana Mendes Salvador
Diagramação
Douglas Silva Ribeiro
Ilustrações
Rodrigo de Melo Rodovalho
Acervo EAD - Uniube
Acervo Getty Images
Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio
Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário
Aluizio Ferreira Elias
Mestre em História da Educação pela Universidade Federal de Uberlândia 
(UFU). Graduado em História pela Universidade de Uberaba (Uniube). É 
professor desta universidade, atuando, principalmente, nas disciplinas de 
História Antiga e Medieval, História Moderna e Contemporânea, História 
do Brasil, História da África, História da Educação e Cidadania. Tem 
experiência nas áreas de História e Educação.
Ana Cristina Borges
Mestre em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia 
(UFU). Especialista em História Contemporânea e graduada em História 
pela Universidade de Uberaba (Uniube). É professora desta universidade, 
atuando, principalmente, nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em 
História, Bacharelado em Ciência Política e nos cursos presenciais, 
na disciplina institucional de Cidadania. Tem experiência nas áreas 
de	História	da	América,	Culturas	Ameríndias,	Historiografia,	Ensino	de	
História, História da Educação e Cidadania.
Sobre os autores
Sumário
Apresentação ............................................................................................................. VII
Capítulo 1	Brasil	Indígena:	o	desafio	da	diversidade ............................ 1
1.1 Povos indígenas no Brasil de hoje ...........................................................................3
1.2 A política indigenista e a luta por direitos ...............................................................11
1.2.1 O SPI - Serviço de Proteção ao Índio (1918) ..............................................12
1.2.2 A Funai e o Estatuto do Índio (1973).............................................................17
1.2.3 A Constituição Federal de 1988 ....................................................................22
1.3 O direito à diferença e o (não) reconhecimento pelo outro ....................................28
1.4 Conclusão ...............................................................................................................32
Capítulo 2 Culturas indígenas: artes, religião e literatura ................... 37
2.1 As manifestações culturais indígenas ....................................................................39
2.2 Artes indígenas: patrimônio material e imaterial ....................................................42
2.3 Cosmologia e religiosidade indígena ......................................................................51
2.4 Línguas e Literatura: da oralidade à escrita ...........................................................61
2.5 Conclusão ...............................................................................................................70
Capítulo 3	Brasil	Africano	e	o	desafio	da	igualdade ............................ 75
3.1 A categorização étnico-racial no Brasil ...................................................................78
3.1.1 O debate acadêmico (Sociologia e Antropologia) ........................................79
3.1.2 A controvérsia suscitada pela Genética .......................................................83
3.2 O panorama atual da desigualdade .......................................................................84
3.2.1 O negro e o mercado de trabalho .................................................................85
3.2.2 Criminalidade e crime racial ..........................................................................87
3.3 O legado do período escravagista ..........................................................................90
3.3.1 O regime republicano e a afrodescendência. ...............................................91
3.3.2 Alguns sinais de mudança ............................................................................93
3.4 O mito da democracia racial brasileira ...................................................................95
3.4.1 O afrodescendente e a autopercepção ........................................................96
3.5 Consciência negra e a cidadania plena .................................................................97
3.5.1 O drama étnico-racial em outros países .......................................................98
3.5.2 A educação e os processos de exclusão ......................................................99
3.6 Conclusão .............................................................................................................101
Capítulo 4 Cultura afro-brasileira: arte, religião e literatura ............... 109
4.1 O legado da ancestralidade africana ....................................................................112
4.1.1 Tradições quilombolas: costumes, crenças e valores. ...............................115
4.2 Expressões artísticas da cultura afro-brasileira ...................................................119
4.2.1 O Tambor de Crioula e a identidade nacional.............................................119
4.2.2 A relevância comunitária do Jongo .............................................................122
4.2.3 A Capoeira como símbolo de resistência....................................................125
4.3 Expressões da religiosidade .................................................................................128
4.3.1 A força cultural do Candomblé ....................................................................130
4.4 Literatura afro-brasileira ........................................................................................133
4.5 Conclusão .............................................................................................................135
Capítulo 5 Políticas públicas para as relações étnico-raciais ........... 143
5.1 Uma legislação antirracista ...................................................................................145
5.1.1 As desigualdades sociais e étnico-raciais ..................................................147
5.1.2 Os números da desigualdade .....................................................................148
5.1.3 O Brasil miscigenado ..................................................................................151
5.2 A polêmica sobre “raças” ......................................................................................153
5.2.1 O debate acadêmicosobre cotas raciais....................................................155
5.2.2 As ciências sociais e as políticas públicas ..................................................157
5.3	Como	se	define	uma	comunidade	negra	no	Brasil? ............................................159
5.3.1 A legitimidade das políticas de discriminação positiva ...............................160
5.4 Os direitos dos povos indígenas ..........................................................................161
5.4.1 A Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas ................................162
5.4.2 O relatório das Nações Unidas (2016) .......................................................165
5.5 Conclusão .............................................................................................................168
Capítulo 6 Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena .. 175
6.1 Contextualizando as Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 ........................................177
6.2 Educação para as relações étnico-raciais, diversidade e inclusão ......................184
6.3 Práticas de Ensino: subsídios para se trabalhar em sala de aula .......................189
6.3.1 Metodologias de investigação e o uso de diferentes fontes .......................190
6.3.2 Cinema, televisão e literatura......................................................................192
6.4 Conclusão .............................................................................................................201
Prezado(a) aluno(a), é um prazer tê-lo(a) conosco!
A proposta deste livro foi pensada como um aporte ao ensino de história 
africana e indígena, com ênfase no reconhecimento e na valorização 
das culturas desses povos, matrizes formadoras da nossa sociedade. 
Enquanto instrumento pedagógico, esperamos que ele possa auxiliar 
na formação inicial de professores abertos ao debate das relações 
étnico-raciais. Com uma linguagem didática, procuramos apresentar e 
problematizar diferentes conceitos que envolvem os direitos humanos 
e de cidadania das populações negra e indígena em nosso país, bem 
como	levar	à	reflexão	de	temáticas	sobre	diversidade,	patrimônio	cultural,	
desigualdade social, etnocentrismo, entre outros.
Os capítulos abordam questões que resultaram de uma longa luta 
dos movimentos sociais, cujas reivindicações por uma educação mais 
inclusiva foram atendidas pelas Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008, que 
estabeleceram a obrigatoriedade do ensino da história e das culturas 
dos povos africanos, afro-brasileiros e indígenas. A partir das respectivas 
leis, as diretrizes curriculares nacionais estabeleceram parâmetros para 
a inserção desses conteúdos nos currículos da Educação Básica, além 
de impulsionar a formação continuada de professores para atender a tal 
demanda.
Nesse sentido, os capítulos foram organizados para que você possa 
ampliar seus conhecimentos a respeito do protagonismo de índios e 
negros	na	formação	da	sociedade	brasileira,	bem	como	refletir	sobre	
Apresentação
VIII UNIUBE
questões contemporâneas decorrentes do “silêncio” atribuído a esses 
grupos ao longo da nossa história. Os capítulos foram divididos a partir 
de temáticas comuns e estão organizados da forma como segue.
Os dois primeiros capítulos abordam o indígena brasileiro: o capítulo 
1 traz um panorama dos povos indígenas na atualidade e trata dos 
direitos desses povos e da luta pelo reconhecimento da sua diversidade; 
no capítulo 2, analisaremos os aspectos culturais que caracterizam a 
experiência social indígena no Brasil a partir das artes, da religião e da 
literatura.
Seguindo a mesma linha, o terceiro e o quarto capítulos tratam da cultura 
afro-brasileira: o capítulo 3 propõe um estudo do Brasil africano, avaliando 
o	nível	de	complexidade	das	relações	étnico-raciais	cotidianas	e	refletindo	
sobre as estruturas históricas que fundamentam as desigualdades e 
práticas contemporâneas de intolerância étnico-racial contra os negros; 
já o capítulo 4 destaca as principais expressões das artes, da religião 
e	da	literatura,	identificando	as	permanências	e	mudanças	relativas	às	
manifestações culturais afro-brasileiras de hoje e suas raízes históricas 
mais profundas.
Os capítulos 5 e 6 são trabalhados de forma independente, abordando 
cada	 um	 deles	 um	 problema	 específico,	 embora	 voltados	 para	 a	
temática do índio e do negro no Brasil: no capítulo 5, propomos uma 
problematização das políticas públicas voltadas às questões étnico-
raciais,	destacando	o	papel	das	ações	afirmativas	no	processo	de	
inclusão e de ampliação dos direitos de cidadania, de negros e indígenas 
no	Brasil;	por	fim,	o	capítulo	6	trata,	de	forma	específica,	do	ensino	de	
história	e	cultura	afro-brasileira	e	indígena	a	partir	dos	desafios	colocados	
pela legislação educacional. O capítulo também inclui indicações de 
leituras e subsídios didático-pedagógicos para atuação em sala de aula.
 UNIUBE IX
A	educação	brasileira	passa	por	um	momento	definidor	de	seus	projetos	
político-pedagógicos, no sentido de abrir o debate diante de questões que 
envolvem a complexidade das relações humanas, no que se refere aos 
conflitos	étnicos,	à	xenofobia,	ao	respeito	à	diversidade	e	às	diferenças,	
à	reafirmação	dos	princípios	históricos	dos	direitos	humanos,	entre	tantas	
outras temáticas que nos colocam diante das realidades do cotidiano 
escolar. Por isso é tão importante compreender a relevância de uma 
educação para as relações étnico-raciais, que combata preconceitos 
e	 estereótipos	 	 que	 	 dificultam	 a	 construção	 de	 uma	 sociedade	
democraticamente justa.
Compreender a multiculturalidade da nossa formação social pressupõe 
um processo de revisão das práticas educativas, na formação docente 
e na relação com os discentes, com o objetivo de formar cidadãos mais 
críticos	de	sua	realidade.	As	reflexões	que	propomos	ao	longo	dos	
estudos da disciplina visam preencher uma lacuna ainda existente na 
formação de professores, mesmo decorridos tantos anos de aprovação 
das legislações referidas. Precisamos ampliar nosso olhar para a questão 
indígena e para a questão afro-brasileira, problematizar concepções 
arcaicas, desconstruir visões discriminatórias e práticas excludentes. 
Esperamos, assim, seguir trilhando nosso compromisso com um 
Ensino Superior de qualidade, que atenda às diretrizes curriculares e, 
principalmente, que estimule em você, futuro professor-historiador, uma 
nova maneira de ver e de pensar as questões étnico-raciais, que leve a 
uma	transformação	significativa	na	sua	profissão	de	educador!
Boa leitura!
Ana Cristina Borges
Introdução
Brasil Indígena: o 
desafi o da diversidadeCapítulo1
Em nossos estudos sobre a questão indígena nas Américas, já 
abordamos o equívoco do termo “índio”, empregado pelo genovês 
Cristóvão Colombo para se referir aos povos que encontrou no 
território	americano.	A	partir	de	uma	revisão	da	historiografi	a,	
sabemos	que	tal	denominação	é	insufi	ciente	para	determinar	
a diversidade e a coletividade desses povos. Por outro lado, 
considerando que o termo se perpetuou ao longo do tempo, 
não há como desconsiderá-lo para impor novas denominações, 
que também podem recair em equívocos, ao nos referirmos às 
sociedades indígenas. 
Em algumas abordagens, expressões como “indígena”, “nativo”, 
“autóctone”, assim como “aborígene”, remetem à ideia de povos 
originários de determinado país ou região. Portanto, é com esse 
signifi	cado	que	devemos	nos	referir	a	esses	grupos,	e	não	como	
inferiores ou exóticos. Por esta razão, o estudo da temática 
indígena deve compreender diferentes perspectivas teóricas a 
partir da Antropologia, da Arqueologia, da História, da Etnologia, 
da Linguística, entre outras áreas.
Assim como outros grupos humanos, culturalmente, “ser indígena” 
resulta de uma história de relações com o meio em que se vive, 
2 UNIUBE
A partir do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:
• Identificar	as raízes de nosso pluralismo étnico em sua 
expressãoindígena.
• Conhecer quem são, quantos são e onde vivem os atuais 
povos indígenas no Brasil.
Objetivos
que determina seu modo de vida e de ver o mundo. De acordo 
com	Luciano	(2006,	p.	27),	os	povos	indígenas	se	autodefinem	
a partir de alguns critérios que, embora não sejam únicos e nem 
excludentes, são mais aceitos entre a maioria dos povos:
• continuidade histórica com sociedades pré-coloniais;
• estreita vinculação com o território;
• sistemas	sociais,	econômicos	e	políticos	bem	definidos;
• língua,	cultura	e	crenças	definidas;
• identificação	como	diferente	da	sociedade	nacional;
• vinculação ou articulação com a rede global dos povos 
indígenas.
Como você irá perceber, o estudo dos povos indígenas requer 
diferentes interpretações e análises, ampliação do olhar para 
entender as diferentes formas de relações sociais, políticas e 
econômicas desses povos. Não pretendemos aqui esgotar o tema 
ou apresentar uma visão única sobre tal história. Ao contrário, 
nosso intuito é fazer pensar sobre os indígenas e sua contribuição 
para a história brasileira, suscitar o debate, estimular pesquisas 
e a busca de novos conhecimentos para uma revisão de visões 
preconceituosas que concorrem com o exercício ativo e crítico da 
análise	historiográfica.
 UNIUBE 3
1.1 Povos indígenas no Brasil de hoje
1.2 A política indigenista e a luta por direitos
1.2.1 O SPI - Serviço de Proteção ao Índio (1918)
1.2.2 A Funai e o Estatuto do Índio (1973)
1.2.3 A Constituição Federal de 1988
1.3 O direito à diferença e o (não) reconhecimento pelo outro
1.4 Conclusão
Esquema
• Compreender a atuação das políticas indigenistas no sentido 
de promover uma integração do indígena à sociedade 
brasileira no período republicano.
• Reconhecer a importância da Constituição de 1988 na 
promoção e ampliação dos direitos e autonomia indígenas, 
na manutenção de suas culturas e posse dos territórios que 
ocupam.
• Refletir	sobre	as	estruturas	históricas	que	fundamentam	as	
práticas contemporâneas de intolerância étnico-racial com 
os povos indígenas.
Surgimos	 da	 confluência,	 do	 entrechoque	 e	 do	
caldeamento do invasor português com índios silvícolas 
e campineiros e com negros africanos. [...] Nessa 
confluência,	matrizes	raciais	díspares,	tradições	culturais	
distintas, se fundem para dar lugar a um povo novo.
Darcy Ribeiro
Povos indígenas no Brasil de hoje1.1
Há uma grande diferença cultural e de visão de mundo entre os milhares 
de povos nativos que habitavam o território antes da chegada dos 
portugueses e as poucas centenas de povos indígenas que compõem a 
4 UNIUBE
população brasileira hoje. Dos mais de mil povos 
existentes, somando entre 2 e 4 milhões de 
pessoas, restaram cerca de 255 povos, falantes 
de mais de 180 línguas diferentes, que, segundo 
dados do Censo IBGE 2010, compreendiam 
896.917 pessoas, das quais 517 383 habitam 
terras indígenas e 379.534 vivem em outros 
territórios. Dados mais atualizados da FUNAI 
(Fundação do Índio) apontam que as etnias já 
chegam a 305 povos, com registro de 274 línguas, 
dos quais cerca de 17,5% não falam a língua 
portuguesa.
Ao longo da história nacional, vários episódios 
provocaram essa drástica redução dos povos 
indígenas, como escravidão, guerras, doenças, 
massacres, etnocídios, entre outras práticas de 
dominação cultural e disputas territoriais. Apesar 
deste cenário, a grande maioria dos brasileiros 
desconhece a rica diversidade dos povos 
indígenas que vivem em nosso País. Para muitos, 
a denominação “indígena” tem um sentido 
pejorativo em virtude do longo processo histórico 
de discriminação contra os povos nativos, que 
reforçou a ideia de que representariam povos 
sem civilização, selvagens, sem cultura, indolentes, preguiçosos, 
incapazes ou, o que é ainda mais preconceituoso, que seriam povos 
românticos,	puros,	ingênuos,	protetores	da	floresta,	seres	lendários.	
Como dissemos na Introdução, a denominação indígena, apesar de 
genérica e equivocada, é importante para estabelecer uma compreensão 
da existência de povos originários e demarcar uma fronteira étnica entre 
Povo
Em geral, é 
definido,	primeiro,	
como um conjunto 
de pessoas que 
vive em sociedade; 
segundo, como 
um conjunto de 
indivíduos que 
integram uma nação 
específica	ou	têm	
uma origem étnica 
comum. 
Etnia
O termo surgiu no 
início do século 
XIX para designar 
as características 
culturais próprias 
de um grupo, 
como a língua e 
os costumes, de 
modo a diferenciar 
esse conceito do 
de raça. A etnia é 
objeto de estudo da 
Antropologia e se 
caracterizou como 
tema principal da 
Etnologia, ciência 
que se propõe a 
estudar diferentes 
grupos étnicos, 
constituindo-se em 
torno da própria 
noção de etnia.
 UNIUBE 5
esses povos e os não indígenas. Porém, é importante compreender que, 
para além do termo, a denominação indígena traz implícita uma gama 
de povos e diversidades culturais, que possuem uma autodenominação.
Deste modo, não existe nenhum povo, tribo ou clã 
com a denominação de índio. Na verdade, cada “índio” 
pertence	a	um	povo,	a	uma	etnia	identificada	por	uma	
denominação própria, ou seja, a autodenominação, 
como o Guarani, o Yanomami etc. Mas também 
muitos povos recebem nomes vindos de outros povos, 
como se fosse um apelido, geralmente expressando 
a característica principal daquele povo do ponto de 
vista do outro. Ex.: Kulina ou Madjá. Os Kanamari se 
autodenominam Madjá, mas os outros povos da região 
do Alto Juruá os chamam de Kanamari. (LUCIANO, 
2006, p. 30)
Nesse sentido, cada povo constitui-se como uma sociedade própria, 
marcada por sua organização a partir de uma cosmologia particular, 
que fundamenta sua vida social, seus costumes, as práticas religiosas e 
econômicas,	o	que	define,	num	contexto	mais	amplo,	a	diversidade	do	
mundo indígena e a multiplicidade de suas formas, existência coletiva 
e individual. Da mesma maneira, o termo “tribo” deve ser utilizado com 
cautela, uma vez que também implica uma generalização quanto ao 
modo de organização dessas sociedades.
Em termos de população, os povos indígenas se dividem entre grupos 
muito reduzidos e outros mais populosos. Cerca de metade desses 
grupos possuem menos de 100 pessoas, a exemplo dos Jiahui 
(Amazonas, 97 pessoas), Xetá (Paraná, 86 pessoas) e Bará (Amazonas, 
22 pessoas), que, devido ao baixo número de indivíduos, sempre se 
veem ameaçadas de extinção. A Tabela 1 a seguir indica as 15 etnias 
com maior população, conforme dados do Censo IBGE (2010):
6 UNIUBE
Tabela 1: Relação das 15 etnias com maior número de indígenas no Brasil.
Etnia População
Tikúna 46.045
Guarani Kaiowá 43.401
Kaingang 37.470
Makuxí 28.912
Terena 28.845
Tenetehara 24.428
Yanomámi 21.982
Potiguara 20.554
Xavante 19.259
Pataxó 13.588
Sateré-Mawé 13.310
Mundurukú 13.103
Múra 12.479
Xucuru 12.471
Baré 11.990
Fonte: IBGE (2010).
Desde	1991	o	Censo	Demográfico	do	IBGE	coleta	dados	sobre	a	população	
indígena brasileira, com base na categoria indígena do quesito cor ou raça. 
No	Censo	Demográfico	2010,	foi	introduzido	um	conjunto	de	perguntas	
específicas	para	as	pessoas	que	se	declararam	indígenas,	como	o	povo	
ou etnia a que pertenciam, as línguas indígenas faladas, entre outras 
características	sociodemográficas.	Em	virtude	disso,	os	resultados	do	Censo	
2010 permitem um delineamento bastante detalhado acerca das pessoas 
que se declararam indígenas no Brasil, revelando, assim, um país com uma 
expressiva diversidade. 
Para saber mais sobre os dados do Brasil indígena, acesse o link a seguir, 
que	traz	um	resumo	do	Censo	Demográfico	a	partir	de	gráficos	e	tabelas:
https://indigenas.ibge.gov.br/images/pdf/indigenas/folder_indigenas_web.pdf
SAIBA MAIS
 UNIUBE 7
Territorialmente, os povos indígenas se distribuem ao longo de todo o 
território	brasileiro,	como	podemos	identificar	no	mapa,	Figura	1	a	seguir:
Figura 1: Mapa da população indígena no Brasil. 
Fonte: Projeto Jimboê (2010). Adaptação. 
Com este cenário prévio, a primeira questão a se constatar éque a 
diversidade sociocultural dos indígenas no Brasil é imensa, com 
tradições e costumes variados, fora o enorme patrimônio ambiental e 
cultural	abrigado	em	suas	terras,	que	oferecem	significativos	ganhos	na	
preservação e manutenção do nosso desenvolvimento sustentável.
8 UNIUBE
As terras indígenas ocupam atualmente cerca 
de 13% do território nacional. De acordo com 
dados do Instituto Socioambiental (ISA), são 
720 em diferentes estágios demarcatórios: 74 
já declaradas pelo Ministério da Justiça; 486 
homologadas e reservadas pela Presidência 
da República, cujas terras foram adquiridas 
pela	União	ou	por	 terceiros;	 42	 identificadas,	
com relatório de estudo aprovado pela Funai, 
e	118	em	identificação,	cujo	estudo	está	sendo	
realizado pela Funai. Vale ressaltar que a maior 
parte dessas terras está localizada na chamada 
Amazônia Legal (424 terras), onde vivem 
aproximadamente 60% da população indígena do 
País. Os outros 40% vivem espalhados ao longo 
das regiões Nordeste, Sudeste, Sul e do estado do 
Mato Grosso do Sul. As terras indígenas nessas 
regiões possuem áreas territoriais diminutas e 
maciçamente povoadas, o que gera constantes 
conflitos	entre	índios	e	não	índios,	resultantes	de	
um inchamento populacional (Figura 2), a seguir.
Amazônia Legal
É uma área que 
corresponde a 
61% do território 
brasileiro e engloba 
a totalidade de 
nove estados: Acre, 
Amapá, Amazonas, 
Pará, Rondônia, 
Roraima, Mato 
Grosso, Tocantins 
e parte do estado 
do Maranhão, 
perfazendo pouco 
mais de 5 milhões 
de km². Nela 
residem 56% 
da população 
indígena brasileira. 
O conceito de 
Amazônia Legal 
foi instituído em 
1953, pela Lei n° 
1806, e seus limites 
territoriais decorrem 
da necessidade 
de planejar o 
desenvolvimento 
econômico da 
região, em virtude 
de problemas 
sociais comuns. 
 UNIUBE 9
Figura 2: Mapa das terras indígenas no Brasil. 
Fonte: Projeto Jimboê (2010). Adaptado.
Para informações mais detalhadas a respeito das terras indígenas no Brasil, 
acesse o site:
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/brasil#pesquisa, 
que	traz	um	painel	com	vários	dados	por	meios	de	mapas,	gráficos	e	
estatísticas sobre territórios, população, desmatamento e mineração.
PESQUISANDO NA WEB
10 UNIUBE
Entre os povos indígenas existe outra denominação, utilizada como forma 
de tratamento, que é o termo “parente”. Mas, ao contrário do que nós 
entendemos,	isso	não	significa	que	todos	os	índios	pertençam	a	um	
mesmo	núcleo	familiar.	Trata-se	de	uma	maneira	de	identificar	aqueles	
que compartilham interesses comuns, como os direitos coletivos, por 
exemplo, a autonomia sociocultural, a história de luta e resistência, as 
estratégias de sobrevivência, etc. Assim, existe uma aliança política e 
identitária entre os chamados parentes.
Desde a década de 1980, com a expansão dos movimentos sociais 
indígenas,	houve	uma	preocupação	com	a	reafirmação	de	identidades.	
Muitos povos negavam a denominação “índio” ou mesmo negavam suas 
identidades étnicas e suas origens. A aceitação da denominação indígena 
foi	o	primeiro	passo	para	esse	processo	de	reafirmação,	que	cada	vez	
mais vem reforçando a valorização sociocultural que cada povo deve 
praticar para recriar suas tradições, como símbolo de recuperação de 
sua autoestima.
O índio de hoje é um índio que se orgulha de ser nativo, 
de ser originário, de ser portador de civilização própria 
e de pertencer a uma ancestralidade particular. Este 
sentimento e esta atitude positiva estão provocando 
o chamado fenômeno da etnogênese, principalmente 
no Nordeste. Os povos indígenas, que por força de 
séculos de repressão colonial escondiam e negavam 
suas identidades étnicas, agora reivindicam o 
reconhecimento de suas etnicidades e de suas 
territorialidades nos marcos do Estado brasileiro. 
(LUCIANO, 2006, p. 33)
Nesse	sentido,	os	termos	“indígena”	ou	“índio”	devem	significar	uma	
identidade multiétnica, capaz de unir diferentes povos historicamente 
distintos na luta por direitos comuns, que lhes garantam um espaço 
de reconhecimento e visibilidade dentro da sociedade brasileira. Ainda 
que as distintas formas de aculturação e miscigenação provocaram 
modificações	 socioculturais	 profundas	 entre	 os	 povos	 indígenas,	
 UNIUBE 11
a crescente revalorização de sua cultura, aliada ao movimento por 
ampliação	de	políticas	públicas	específicas,	contribuiu	de	forma	ativa	
para	essa	recuperação	de	um	“orgulho	de	ser	indígena”	e	da	reafirmação	
da identidade étnica.
Porém, esse não foi um processo fácil. Como já foi abordado em estudos 
anteriores sobre a colonização no Brasil, os índios foram os primeiros 
povos escravizados, sendo denominados “gentios da terra” ou “negros 
da terra”. Essa foi a alternativa encontrada pelos portugueses para 
exploração	do	trabalho	que	beneficiaria	as	primeiras	exportações	de	
produtos nos territórios dominados no litoral. Somente no século XVIII, 
um alvará de 08 de maio de 1758 aboliu a escravidão imposta aos índios. 
No século XIX, já no contexto do Império, o lugar do índio na sociedade 
foi redimensionado, atribuindo-lhe um papel romanceado, como símbolo 
da nova nação, enquanto seus direitos básicos eram negados. É a partir 
da proclamação da República que se começa a tratar de uma política 
indigenista no âmbito das leis.
A política indigenista e a luta por direitos1.2
Segundo o Instituto Socioambiental, a expressão “política indigenista” 
diz respeito a toda e qualquer ação política governamental que tenha as 
populações	indígenas	como	objeto.	(ISA,	2018).	Instituídas	oficialmente	
desde a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), as políticas 
formuladas e executadas pelo Estado brasileiro estão atualmente sob 
responsabilidade da Fundação Nacional do Índio (Funai), em parceria 
com outros setores governamentais e não governamentais (ONGs), 
organizações indígenas e missões religiosas. 
No entanto, a longa trajetória de luta pelo reconhecimento dos 
direitos indígenas trouxe um amadurecimento desses povos e seus 
representantes, que hoje se estruturam, a partir dos movimentos 
12 UNIUBE
indígenas, para criar organizações dirigidas pelos próprios índios. O 
intuito é ampliar sua participação nas questões de cidadania a partir das 
chamadas	“políticas	indígenas”,	que	se	distinguem	das	políticas	oficiais	
justamente por serem elaboradas pela iniciativa indígena, principalmente 
em prol dos direitos de participação política, de saúde e de educação.
“Quando falamos em movimentos indígenas, estamos nos referindo 
àqueles cujos protagonistas são os próprios índios, seja por meio de 
associações, representações políticas ou ainda a realização de assembleias 
e a elaboração de documentos que partem de uma vontade expressa 
diretamente pelas coletividades indígenas. Já os movimentos ou políticas 
indigenistas são aqueles elaborados pelo poder público, incentivados 
pelos apoiadores dos índios, que podem ser antropólogos, historiadores e 
outros cientistas sociais, além de ativistas. Uma política indigenista, ou seja, 
uma política voltada para as populações indígenas, deve ser entendida, 
nesse contexto, como um conjunto de ideias, práticas, programas e projetos 
políticos dirigidos aos indígenas”. (SILVA; COSTA, 2018, p. 70).
EXPLICANDO MELHOR
Para compreender a implementação das políticas indigenistas no 
País, bem como as mudanças empreendidas pelos movimentos 
indígenas para a conquista e o reconhecimento de seus direitos, é 
importante conhecermos os diferentes agentes desse processo, que se 
inter-relacionam com os povos indígenas presentes em todo território 
nacional.
1.2.1 O SPI - Serviço de Proteção ao Índio (1918) 
As	primeiras	legislações	republicanas	a	estabelecerem	definições	do	
que era “ser índio” no Brasil foram o Código Civil de 1916 e o Decreto 
 UNIUBE 13
nº 5.484 de 1928. Posteriormente, a Constituição de 1934, promulgada 
durante o governo de Getúlio Vargas, é o documento nacional mais antigo 
a tratar sobre políticas indigenistas e a designar à União aproteção dos 
direitos das populações indígenas e a competência de legislar sobre tais 
questões. 
O Código Civil e a tutela dos índios
Em	1916,	criou-se	um	Código	Civil	(Lei	3.071/16)	afirmando	que	“todo	
homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil”. No entanto, esta lei 
considerava que algumas pessoas não têm a mesma capacidade de exercer 
seus	direitos.	O	art.	5º	desta	lei	afirmava	que	os	silvícolas	(índios),	entre	
outros grupos, eram relativamente incapazes para certos atos e, em função 
disso, seriam “tutelados” até que estejam integrados à “civilização do país”. 
Ao considerar os índios como incapazes a lei não reconhecia que os índios 
são, na verdade, diferentes culturalmente. Ou seja, os índios são plenamente 
responsáveis de acordo com os seus próprios padrões. Mas na época em que 
se escreveu o Código Civil, acreditava-se também que os índios seriam extintos 
e, portanto, não precisariam de ter seus direitos assegurados. Na verdade, 
imaginava-se que os índios eram seres primitivos 
que iriam se educar, adquirir a cultura dos brancos 
até integrarem-se totalmente à sociedade brasileira, 
deixando, portanto, de serem índios. Esse princípio 
da incapacidade e da necessidade de tutela permeou 
todas as legislações promulgadas posteriormente 
direcionadas aos índios e reforçou as tentativas 
do Estado em incorporar os índios à “civilização” 
sob uma perspectiva assimilacionista, que 
entendia os índios como categoria social transitória, 
fadada ao desaparecimento. (ISA, 2000, s/p.)
PARADA PARA REFLEXÃO
Assimilacionismo
Corrente que 
preconiza a 
assimilação de 
culturas periféricas 
pelas culturas 
dominantes. Na 
Sociologia: teoria 
que defende a 
integração dos 
diferentes grupos 
étnicos e culturais 
a uma sociedade, 
a	fim	de	evitar	
situações de 
conflito.
14 UNIUBE
Anteriormente e nesse contexto, foi criado, em 1910, o Serviço de 
Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPILTN) 
- a partir de 1918 tornou-se apenas Serviço de Proteção aos Índios 
(SPI) - que tinha por objetivo prestar assistência aos índios em âmbito 
nacional. A criação do SPI foi produto de um pensamento integrador que 
via o indígena como “incapaz”, possuidor de uma mentalidade “ingênua”, 
necessitando, assim, da tutela do Estado, que lhe daria condições de 
evoluir socialmente para um estágio cultural e econômico superior, sendo 
incorporado, assim, à nação. Portanto, cabia ao SPI defendê-lo, demarcar 
suas terras, proteger de invasores e ampará-lo em suas doenças (que, 
em geral, eram transmitidas pelos próprios agentes). 
Vale lembrar que um dos principais diretores da agência foi o Marechal 
Cândido Mariano da Silva Rondon, cuja atuação obteve reconhecimento 
nacional	como	“pacificador	de	índios”,	o	que	lhe	atribuiu	um	caráter	de	
heroísmo nas missões realizadas em diferentes estados brasileiros. A 
política administrativa da agência não utilizava critérios que incluíssem a 
diversidade	dos	povos	indígenas,	atribuindo-lhe	um	perfil	genérico	que,	
de um lado, visava à sua proteção e, de outro, atendia aos interesses 
territorialistas da política nacional. 
É possível dizer que o SPI foi formado em continuidade 
com premissas coloniais. Seu modo de atuação, formado 
a partir de doutrinas positivistas, incorporou técnicas 
missionárias, tais como: distribuir presentes, vestir os 
índios e ensinar-lhes a tocar instrumentos musicais 
ocidentais. Os valores de bravura, coragem, calma e 
disciplina militar nas expedições pelos sertões ressoam 
as clássicas imagens do explorador e do bandeirante. 
O “governo dos índios”, conforme expressão da 
época,	exigiria	também	uma	boa	formação	científica	e	
“espírito de dedicação à causa pública”. A produção de 
informações	cartográficas	e	ambientais	era	fundamental	
para subsidiar as atividades de conquista e exploração 
comercial do interior. Além disso, a proposta de registrar 
minuciosamente as expedições acabou por contribuir 
com a formação da antropologia no Brasil e das coleções 
de cultura material indígena dos museus brasileiros e 
estrangeiros. (ISA, 2018, s/p.)
 UNIUBE 15
Na década de 50, a atuação do SPI teve como auge a criação do Museu 
do Índio no Rio de Janeiro e do Parque Indígena do Xingu (PIX), ambos 
com atuação do antropólogo Darcy Ribeiro e do Marechal Rondon. 
A proposta do museu era preservar um acervo artístico e cultural 
indígena, além de um centro de documentação histórica, etnológica e 
fotográfica,	que	serviu	de	referência	para	estudos	antropológicos.	Já	o	
PIX foi concebido como um território único ocupado por diversos povos 
- incluindo terras dos Xavante, Bakairi, Xinguanos, Kayabi, Munduruku, 
entre outros grupos autônomos - cuja proposta se diferenciava da política 
de demarcação de terras que vinha sendo empreendida até então.
“A criação do Parque Nacional do Xingu em 1961, no governo do Presidente 
Jânio Quadros, veio quebrar o modelo até então vigente de demarcação 
das terras indígenas. Fruto de uma luta iniciada ainda nos anos 50 e da 
qual participaram diversas personalidades, como Darcy Ribeiro e os irmãos 
Villas-Boas, o Parque tinha como fundamento de sua criação a necessidade 
de se preservarem as condições em que viviam diversos povos indígenas da 
região	do	Xingu,	incluindo	o	seu	meio	ambiente.	Criava-se	assim	uma	figura	
que iria inspirar um novo paradigma nos anos 80, quando o conceito de 
terra indígena passaria a incorporar outros elementos visando à reprodução 
sociocultural dos povos indígenas. Naquele momento, tratava-se, como 
diziam os próprios defensores da criação do Parque, de preservar um 
pedaço do ‘Brasil prístino’, onde os índios ainda mantinham as suas culturas 
de	forma	harmoniosa	com	a	natureza	e	longe	da	influência	do	chamado	
mundo civilizado. [...]
Além disso, o Parque do Xingu rompia com a visão predominante desde o 
final	do	século	XIX:	a	de	que	os	índios	eram	seres	fadados	à	extinção,	na	
medida em que deveriam evoluir e perder a sua condição de índios, sendo 
SAIBA MAIS
16 UNIUBE
definitivamente	assimilados	pela	sociedade	envolvente.	Embora	a	legislação	
nesse momento ainda servisse de base para a assim chamada política 
assimilacionista, o Parque do Xingu foi pensado para ser uma exceção a 
esta política e ao próprio modelo de integração dos índios. Os índios do 
Xingu deveriam viver no Parque sob um forte aparato estatal de proteção, o 
que lhes garantiria, pelo menos em tese, a manutenção de suas formas de 
vida intactas. [...] Anos depois da sua criação, o Parque Nacional do Xingu 
foi renomeado Parque Indígena do Xingu”. (ARAÚJO, 2006, p. 28-29).
Apesar das políticas implementadas e de avanços na prática indigenista, 
o SPI não conseguiu impedir a invasão das terras, evitar ataques armados 
e a drástica redução da população indígena, que na década de 50 eram 
pouco mais de 100 mil, voltando a crescer lentamente somente a partir 
da	década	de	1970.	Por	outro	lado,	como	afirma	Gomes	(2012,	p.	100),
A principal contribuição do SPI ao indigenismo nacional 
está na efetivação de uma política de respeito à pessoa 
do índio, de responsabilidade histórica por parte da 
nação brasileira, pelos destinos dos povos indígenas 
que habitam o território nacional e no modo dedicado e 
altruísta pelos quais seus agentes foram treinados para 
respeitar a autonomia inerente dos índios e a atender as 
suas necessidades básicas. Que os resultados tenham 
ficado	muito	aquém	do	esperado	constitui	um	óbice	
não somente de uma política que sempre foi pouco 
valorizada pelo poder (e também por seus desvios 
pessoais), mas também se deve à falta de força política 
entre os aliados históricos dos índios diante das forças 
anti-indígenas predominantes.
Devido	à	má	gestão,	falta	de	recursos	e	corrupção	funcional,	no	final	da	
década de 60, o SPI sofreu uma série de denúncias sobre irregularidades 
administrativas e fraudes, em especial em relação às terras indígenas 
e aos recursos naturais. Em meio às investigações, o governo federal 
acabou	por	extinguir	oficialmentea	agência	em	1967,	criando	um	novo	
 UNIUBE 17
órgão para centralizar a prestação de serviços aos povos indígenas: a 
Fundação Nacional do Índio (Funai), com competência para exercer 
o papel de tutor dos índios e, entre outras funções, “garantir a posse 
permanente” das terras habitadas pelos índios e o usufruto exclusivo dos 
recursos naturais nelas existentes. (ARAÚJO, 2006, p. 31).
1.2.2 A Funai e o Estatuto do Índio (1973)
A	Funai	é	o	órgão	indigenista	oficial	responsável	pela	proteção	dos	índios	
e promoção dos seus direitos em âmbito nacional. Entretanto, sua criação 
no contexto da Ditadura Militar condicionou os interesses do órgão aos 
planos de defesa nacional e à expansão político-econômica para o interior 
do	País,	o	que	gerou	inúmeros	conflitos.	A	própria	atuação	da	Funai	até	o	
ano de 1985 esteve vinculada a aparelhos responsáveis por implementar 
políticas que visavam à construção de estradas e hidrelétricas, expansão 
de fazendas e extração de minérios, principalmente na região amazônica, 
a exemplo do Conselho de Segurança Nacional (CSN), Plano de 
Integração Nacional (PIN), Instituto Nacional de Colonização e Reforma 
Agrária (INCRA) e Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). 
Vale destacar ainda que os presidentes nomeados entre as décadas 
de 1970 e 1980, em grande maioria, foram militares ou políticos de 
carreira que pouco se comprometiam com a questão indígena, sendo, 
por vezes, contrários ao reconhecimento de seus direitos. Em termos 
administrativos, a Funai se estruturou em bases semelhantes ao SPI, 
embora com uma gestão mais rígida e burocrática, com atuação em nível 
nacional, regional e local. 
Com a aprovação do Estatuto do Índio em 1973 (Lei nº 6.001), que 
dispõe sobre as relações do Estado e da sociedade brasileira com os 
índios,	as	premissas	de	integração	dos	indígenas	foram	reafirmadas,	
mas com o intuito de isolá-los e afastá-los de áreas consideradas 
de interesse estratégico para o governo. Para tanto, seguiu-se o 
18 UNIUBE
princípio do Código Civil de 1916 de que os índios eram “relativamente 
incapazes” e deveriam ser mantidos em regime tutelar pelo Estado 
até que estivessem “integrados à comunhão nacional”. Dentro dessa 
perspectiva assimilacionista, competia à Funai centralizar os projetos de 
assistência, saúde, educação, habitação, etc., além de limitar o acesso 
de pesquisadores, órgãos vinculados à Igreja, entre outros apoiadores, 
às terras indígenas. Na prática, a Funai defendia mais os interesses do 
governo que dos índios, que não tinham autonomia para buscar seus 
próprios direitos. Conforme análise do Instituto Socioambiental, 
O órgão [Funai] foi permeado, em todos os níveis, por 
redes de relações pessoais, clientelistas e corporativas, 
que remetem ao paternalismo e ao voluntarismo 
que dominaram o velho SPI. A criação da Funai foi 
marcada	pela	ineficiência,	desinteresse	e	dificuldade	de	
operação, o que levou o órgão a limitar sua intervenção 
a favor dos índios a situações altamente críticas, 
conflituosas	e	emergenciais,	consequentes	dos	planos	
de colonização e exploração econômica que chegavam 
aos extremos do país. (ISA, 2018 s/p.)
Apesar desse cenário político desfavorável, foi nesse contexto da 
década de 1970 que surgiu a maior parte das organizações de apoio 
aos povos indígenas, entre as quais se destacam as Comissões 
Pró-Índio (CPIs), as Associações Nacionais de Apoio ao Índio (ANAIs), o 
Conselho Indigenista Missionário (CIMI), o Centro de Trabalho Indigenista 
(CTI), a Operação Amazônia Nativa (OPAN), o Centro Ecumênico de 
Documentação e Informação (CEDI) e o Núcleo de Direitos Indígenas 
(NDI), sendo que estas duas últimas se juntaram para fundar o 
atual Instituto Socioambiental (ISA). Os objetivos dessas organizações 
eram	de	conferir	apoio	à	questão	indígena,	questionar	as	políticas	oficiais,	
formular alternativas para a causa indigenista e manter a interlocução 
entre os índios e a Funai. Com o apoio dessas entidades, diversas 
manifestações indígenas passaram a ter visibilidade a partir da década 
de 1980, que culminaram no marco jurídico da Constituição de 1988 - da 
qual trataremos mais adiante.
 UNIUBE 19
Ainda sobre o Estatuto do Índio, um dos principais pontos do documento 
é a questão das terras. O Art. 19 determina que as terras indígenas serão 
administrativamente demarcadas por iniciativa e sob orientação da Funai 
e homologação do Poder Executivo. O artigo, assim como o Estatuto, 
vigente até hoje se constitui em base jurídica para outros decretos que 
surgiram posteriormente para tratar dos procedimentos de demarcação. 
A questão da terra
“Boa parte do Estatuto é dedicada ao tema das terras indígenas, as 
quais se subdividem, nesta lei, em três categorias: Terras Ocupadas 
Tradicionalmente, Terras Reservadas e Terras de Domínio dos Índios. 
O conceito de Terras Ocupadas Tradicionalmente pelos índios advinha 
dos termos das Constituições de 1967 e 1969. Já as Terras Reservadas 
seriam aquelas destinadas para os índios pela União em qualquer parte do 
território	nacional,	com	o	fim	de	permitir	a	sua	posse	e	ocupação,	ficando	
expressamente	consignado	na	lei	que	estas	não	se	confundiam	com	a	figura	
jurídica das terras tradicionais. Isso pressupunha, por exemplo, dependendo 
do caso, a necessidade de serem indenizados os donos dos eventuais títulos 
incidentes sobre uma terra que viesse a ser reservada para os índios.
Por	fim,	as	Terras	de	Domínio	dos	Índios	seriam	aquelas	obtidas	pelos	
meios normais de aquisição, como a compra e a venda, por exemplo. Mas 
o Estatuto previa que os índios poderiam também adquirir terras por meio 
do instituto da usucapião que, neste caso, poderia ocorrer quando os índios 
ocupassem como sendo seu, por dez anos consecutivos, trecho de terra 
inferior a 50 hectares, excluída logicamente, uma vez mais, a ocupação 
sobre terras tradicionais.
No que se refere às Reservas Indígenas, o Estatuto prevê que poderiam 
se organizar sob diferentes modalidades, entre as quais a Reserva 
propriamente dita, nos moldes acima explicitados, o Parque Indígena, a 
PONTO-CHAVE
20 UNIUBE
Colônia Agrícola Indígena e o Território Federal Indígena. O Território seria 
uma unidade administrativa subordinada à União, instituída em região na 
qual pelo menos um terço da população fosse formado por índios. Embora 
a sua aplicação seja possível em algumas regiões do estado do Amazonas, 
inclusive nos dias de hoje, e no próprio estado de Roraima ao tempo em 
que ainda não havia adquirido este status político, nenhum Território Federal 
Indígena foi jamais criado”. (ARAÚJO, 2006, p. 32-33).
Por outro lado, o Estatuto determina, em seu Art. 25, que o 
reconhecimento do direito dos índios à posse das terras não depende de 
sua demarcação, colocando-o como preexistente. Por esse entendimento, 
a demarcação das terras é um ato de reconhecimento de uma situação 
já	existente.	Contudo,	não	define	claramente	que	as	terras	pertençam	
aos	indígenas	independentemente	de	qualquer	reconhecimento	oficial.	
Essa interpretação gerou algumas das problemáticas que permeiam as 
reivindicações dos movimentos indígenas que dizem respeito ao não 
reconhecimento do seu direito à terra, bem como das invasões e do 
garimpo em seus territórios.
Apesar dos dispositivos legais, na prática o que ocorreu foi um processo 
de negação dos direitos territoriais indígenas, cuja herança histórica 
remonta aos tempos coloniais. A demarcação das terras reservada aos 
índios por vezes eram terras diminutas, sem produtividade, permitindo 
que grandes áreas e as riquezas ali existentes fossem exploradas por 
empresas	com	grande	poder	econômico.	Os	inúmeros	conflitos	e	debates	
políticos	que	surgiram	a	partir	dessa	questão	ainda	são	refletidos	nos	dias	
de hoje, sendo a principal pauta de luta pelos direitos indígenas. Somado 
aos	massacres	e	à	desagregação	desses	povos,	definitivamente,	o	saldo	
do período militar não foi positivo para os índios.
 UNIUBE 21
Relatório Figueiredo
Depois de45 anos desaparecido, o Relatório Figueiredo, que apurou 
matanças de comunidades inteiras, torturas e toda sorte de crueldades 
praticadas contra indígenas em todo o País – principalmente por latifundiários 
e funcionários do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI) –, ressurgiu 
quase intacto em abril de 2013. Supostamente eliminado em um incêndio 
no Ministério da Agricultura, ele foi encontrado no Museu do Índio, no Rio 
de Janeiro, com mais de 7 mil páginas preservadas e contendo 29 dos 30 
tomos originais. 
Entre denúncias de caçadas humanas promovidas com metralhadoras 
e dinamites atiradas de aviões, inoculações propositais de varíola em 
povoados isolados e doações de açúcar misturado a estricnina – um veneno 
–, o texto, redigido pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia, deve 
ser analisado agora pela Comissão da Verdade, que apura violações de 
direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988.
A investigação, feita em plena ditadura, a pedido do então ministro do 
Interior, Albuquerque Lima, em 1967, foi o resultado de uma expedição que 
percorreu mais de 16 mil quilômetros, entrevistou dezenas de agentes do 
SPI e visitou mais de 130 postos indígenas. Órgão criado em 1910, quando 
várias frentes de expansão avançavam para o interior do país, o SPI era 
ligado ao Ministério do Interior e funcionou até 1967, quando foi substituído 
pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
Os únicos registros do relatório disponíveis até então eram os presentes 
em reportagens publicadas na época de sua conclusão, quando houve 
uma entrevista coletiva no Ministério do Interior, em março de 1968, para 
detalhar o que fora constatado por Jader e sua equipe. (MINISTÉRIO Público 
Federal. )
AMPLIANDO O CONHECIMENTO
22 UNIUBE
O	Ministério	Público	Federal,	a	fim	de	possibilitar	que	a	população	brasileira	
tenha acesso a tais informações, disponibiliza em sua página a íntegra 
do relatório.
Acesse: http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr6/dados-da-atuacao/
grupos-de-trabalho/ violacao-dos-direitos-dos-povos-indigenas-e-registro-
militar/docs-1/relatorio-figueiredo/relatorio-figueiredo.pdf
Obs.: o link para acesso também será disponibilizado na semana de estudos 
do capítulo.
PESQUISANDO NA WEB
1.2.3 A Constituição Federal de 1988
Como vimos até aqui, os direitos dos povos indígenas foram sendo 
conquistados e amadurecidos ao longo da formação da nação brasileira, 
com avanços e retrocessos. Mas a principal conquista se efetivou 
com	a	promulgação	da	Constituição	Federal	de	1988,	após	o	fim	do	
governo militar, no contexto de criação da nova república. A partir das 
mobilizações dos movimentos indigenistas e das organizações de apoio, 
a Constituição rompeu com a tradição assimilacionista legitimada pelas 
legislações anteriores e reconheceu, pela primeira vez, os direitos à 
autodeterminação, à diferença, à posse originária sobre as terras que 
tradicionalmente	ocupam,	com	usufruto	exclusivo,	definidos	a	partir	de	
seus usos, costumes e tradições. 
Com	isso,	os	índios	deixaram,	definitivamente,	de	ser	tratados	como	
“relativamente incapazes” e, por conseguinte, o “poder de tutela” do 
Estado perdeu sua validade. Apesar disso, o Estatuto do Índio ainda 
 UNIUBE 23
vigente mantém o princípio da tutela. Daí a necessidade urgente de 
promover mudanças na lei ou de se criar um estatuto novo, que esteja 
em consonância com o ordenamento jurídico atual.
A existência da tutela atrapalha a livre expressão 
política dos índios, a administração direta dos seus 
territórios, o seu acesso aos serviços públicos, ao 
mercado	de	trabalho,	às	linhas	oficiais	de	crédito	etc.	
Além de reduzir a capacidade civil dos índios, a tutela é 
um obstáculo à autogestão das terras e dos projetos de 
futuro dos povos indígenas. (ISA, 2000, s/p.)
Vale	ressaltar	que,	para	além	dos	direitos	específicos,	a	Constituição	de	
1988 também inclui os indígenas entre os sujeitos de direitos comuns a 
todo cidadão brasileiro, sendo mencionados em diferentes dispositivos 
ao longo do texto, a saber:
• assegura os direitos fundamentais, entre eles, o direito à vida, à 
igualdade, à liberdade, à segurança e à propriedade (Art. 5);
• a responsabilidade de defender judicialmente os direitos indígenas 
inclui-se dentre as atribuições do Ministério Público Federal (Art. 
129, V);
• legislar sobre populações indígenas é assunto de competência 
exclusiva da União (Art. 22. XIV);
• processar e julgar a disputa sobre direitos indígenas é competência 
dos juízes federais (Art. 109. XI);
• o Estado deve proteger as manifestações das culturas populares, 
inclusive indígenas (Art. 215, § 1);
• respeito à utilização de suas línguas maternas e processos próprios 
de aprendizagem (Art. 210, § 2).
Os	direitos	específicos	reservados	aos	índios	são	tratados	no	Capítulo	
VIII “Dos Índios” (Título VIII Da Ordem Social). Um dos principais pontos 
diz respeito ao direito originário à posse e ao usufruto da terra. O texto 
24 UNIUBE
constitucional traz no caput e nos primeiros parágrafos do Artigo 231 a 
seguinte	afirmação:
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização 
social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os 
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente 
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e 
fazer respeitar todos os seus bens.
 § 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos 
índios as por eles habitadas em caráter permanente, 
as utilizadas para suas atividades produtivas, as 
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais 
necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua 
reprodução física e cultural, segundo seus usos, 
costumes e tradições.
 § 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios 
destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o 
usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos 
lagos nelas existentes.
Portanto, o direito à posse da terra existe e se legitima independente 
de	qualquer	dispositivo	legal,	o	que	significa	dizer	que	“a	demarcação	
de uma terra indígena, fruto do reconhecimento feito pelo Estado, é 
ato meramente declaratório, cujo objetivo é simplesmente precisar a 
real	extensão	da	posse	para	assegurar	a	plena	eficácia	do	dispositivo	
constitucional.” (ISA, 2018 s/p.)
No que se refere às Terras Indígenas, a Constituição de 88 ainda 
estabelece que:
• incluem-se dentre os bens da União (art. 20, XI);
• são destinadas à posse permanente por parte dos índios (art. 231, § 2);
• são nulos e extintos todos os atos jurídicos que afetem essa posse, 
salvo relevante interesse público da União (art. 231, § 6);
• apenas os índios podem usufruir das riquezas do solo, dos rios e 
dos lagos nelas existentes (art. 231, § 2);
 UNIUBE 25
• o aproveitamento dos seus recursos hídricos, aí incluídos os 
potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais, 
só pode ser efetivado com a autorização do Congresso Nacional, 
ouvidas	as	 comunidades	afetadas,	 ficando-lhes	assegurada	a	
participação nos resultados da lavra (Art. 231, § 3, Art. 49, XVI);
• é	necessária	lei	ordinária	que	fixe	as	condições	específicas	para	
exploração mineral e de recursos hídricos nas terras indígenas (Art. 
176, § 1);
• as terras indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e o direito sobre 
elas é imprescritível (Art. 231, § 4);
• é vedado remover os índios de suas terras, salvo casos excepcionais 
e temporários (art. 231, § 5).
As constituições brasileiras, referentes ao período republicano, 
reconheceram aos índios alguns direitos sobre os territórios por eles 
habitados. Somente a Constituição de 1891 não tratou dos interesses 
relativos aos direitos indígenas. A única referência consta do Art. 64, que 
transferiu para os Estados o domínio das terras devolutas, entre as quais 
incluíam-se também as terras indígenas. Vejamos o que determinava as 
constituições anteriores:
Constituição de 1934 
“Art. 129 – Será respeitada a posse de terras de silvícolas que nelas se 
achem permanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado 
aliená-las.”Constituição de 1937 
“Art. 154 – Será respeitada aos silvícolas a posse das terras em que se 
achem localizados em caráter permanente, sendo-lhes, no entanto, vedado 
aliená-las”.
RELEMBRANDO
26 UNIUBE
Constituição de 1946 
“Art. 216 – Será respeitada aos silvícolas a posse das terras onde se achem 
permanentemente localizados, com a condição de não a transferirem.”
Constituição de 1967 
“Art. 186 – É assegurada aos silvícolas a posse permanente das terras 
que habitam e reconhecido o seu direito ao usufruto exclusivo dos recursos 
naturais e de todas as utilidades nelas existentes”.
Emenda Constitucional número 1/ 1969 
“Art. 198 – As terras habitadas pelos silvícolas são inalienáveis nos termos 
em que a lei federal determinar, a eles cabendo a sua posse permanente e 
ficando	reconhecido	o	seu	direito	ao	usufruto	exclusivo	das	riquezas	e	de	
todas as utilidades nelas existentes”.
(Fonte: ISA, 2018)
Apesar	dos	dispositivos	bastante	claros	e	definidos	a	respeito	dos	
direitos territoriais indígenas, as demarcações ainda hoje são um 
assunto pendente e polêmico. Embora o texto constitucional, em suas 
disposições	transitórias,	tenha	fixado	um	prazo	de	5	anos	para	que	todas	
as terras indígenas estivessem demarcadas, o não reconhecimento 
desses territórios passa, por vezes, pelo não cumprimento da legislação 
e pelos mais diversos interesses econômicos que simplesmente ignoram 
a existência desses povos. O próprio Estatuto do Índio já foi alterado 
diversas vezes a respeito dessa questão. Uma das últimas propostas 
pretende transferir a responsabilidade sobre a demarcação das terras 
do Poder Executivo para o Legislativo. Além disso, são recorrentes as 
tentativas de aprovar medidas que facilitem a exploração de recursos em 
terras indígenas e a retirada do direito de consulta aos povos originários, 
 UNIUBE 27
que são contrárias à Constituição e à própria Convenção 169, da 
Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Nesse sentido, é importante reconhecer que a nova Constituição 
estabeleceu novos marcos legais para a manutenção das relações 
entre os povos indígenas, a sociedade não indígena e o Estado. Mas 
assegurar na prática o que está posto na Carta Magna ainda é um 
desafio,	pois	trata-se	de	um	processo	lento	e	gradual	que	passa	pela	
conscientização não somente dos órgãos estatais como da própria 
sociedade brasileira. Nos últimos anos, os indígenas têm se organizado 
a partir dos movimentos sociais para ampliar a base legal no que se 
refere aos seus direitos e à sua participação política representativa como 
cidadão brasileiro. 
Ao aprovar um capítulo para os índios, a Constituição 
de 1988 estabeleceu que a política de transformar os 
índios em brancos não poderia continuar, pois os índios 
deveriam existir para sempre, vivendo segundo seus 
usos, costumes, tradições, suas formas de vida e de 
organização. Esta mudança trazida pela Constituição 
fez com que o Estatuto do Índio virasse uma lei velha, 
obrigando o governo a mudar sua política para índios. 
Por isso, hoje os povos indígenas precisam de uma 
nova lei, de um novo Estatuto, que exija do governo 
a proteção e o apoio de que os índios precisam, para 
que possam tomar suas próprias decisões sem ter que 
pedir autorização para a FUNAI. Este novo Estatuto 
deve garantir aos povos indígenas sua sobrevivência 
como sociedades diferenciadas, incumbindo o governo 
de prestar serviços básicos de educação e saúde e a 
apoiar os projetos culturais, econômicos e ambientais 
dos índios. (ISA, 2000, s/p.)
A criação de um novo Estatuto do Índio passa pela necessidade de que 
sejam incluídas questões já consolidadas por debates jurídicos nacionais 
e internacionais sobre os direitos indígenas. Em 1994, foi aprovada, por 
uma comissão especial da Câmara dos Deputados, uma proposta para 
criação do “Estatuto das Sociedades Indígenas” (PL nº 2057/91), mas sua 
28 UNIUBE
tramitação está paralisada. Em 2009, por iniciativa 
da Comissão Nacional de Políticas Indígenas – 
que a partir de 2016 se instituiu como Conselho 
Nacional de Política Indigenista (CNPI) –, foi 
elaborado um projeto substitutivo para criação 
do “Estatuto dos Povos Indígenas” , que também 
permanece parado na Câmara dos Deputados. 
Recentemente, uma nova proposta apresentou 
uma revisão deste último estatuto por meio de um 
projeto de Lei (PLS nº 169/2016) que tramita no 
Senado.	O	documento,	com	175	artigos,	define	
o indígena e trata dos princípios básicos que 
devem ser garantidos aos povos indígenas quanto 
à igualdade jurídica, à proteção social, cultural e 
territorial.
CNPI
O Conselho 
Nacional de Política 
Indigenista, criado 
pelo Decreto n.º 
8.593, de 17/12/15, 
instalado no dia 
27 de abril de 
2016, é um órgão 
colegiado de 
caráter consultivo, 
responsável 
pela elaboração, 
acompanhamento e 
implementação de 
políticas públicas 
voltadas aos povos 
indígenas. O CNPI é 
uma conquista dos 
povos indígenas na 
busca por ampliar 
sua participação 
na elaboração 
e execução da 
política indigenista 
brasileira.
O direito à diferença e o (não) reconhecimento pelo outro1.3
Diminuir,	mistificar	e	desmerecer	o	comportamento	e	o	pensamento	
indígena foi, ao longo da história do Brasil, quase uma necessidade, uma 
justificativa	para	o	processo	civilizador.	E,	ainda	hoje,	esses	estereótipos	
nos perseguem. Na maioria das vezes pelo quase desconhecimento que 
temos sobre os povos indígenas e suas práticas sociais e culturais. Por 
vezes sequer sabemos como nos referir a eles sem colocá-los numa 
posição distinta, sem considerá-los como brasileiros, como pertencentes 
à nossa sociedade.
É fato que esses povos, por sua característica étnica marcante, possuem 
um modo de vida particular. Mesmo com o processo de miscigenação 
e as inúmeras tentativas de aculturação, os povos indígenas buscaram 
se	integrar	à	nação	brasileira	por	sua	sobrevivência.	Isso	refletiu	no	seu	
 UNIUBE 29
modo de vida, nas suas crenças, no seu comportamento social, que levou 
muitos indígenas a abandonar suas comunidades e viver nas cidades. 
Os que permaneceram em seu habitat buscam, constantemente, manter 
seus costumes como forma de preservação de uma cultura milenar. 
Isso não faz deles seres inferiores ou exóticos. Não os torna cidadãos 
brasileiros menores, de segunda ou terceira classe. Embora seja esse o 
pensamento que predomina no senso comum.
Ao longo da nossa formação, os índios foram interpretados de diferentes 
maneiras para atender aos interesses de dominação e submissão desses 
povos. Essas visões foram elaboradas por um pensamento ideológico 
predominante desde o período colonial, que ainda hoje permeia o 
imaginário coletivo, seja por meio da literatura, do cinema ou mesmo da 
limitada abordagem dos livros didáticos, que, infelizmente, é a principal 
fonte de informação da maioria dos brasileiros sobre a história dos povos 
indígenas. É urgente avançarmos no debate dessa questão.
Antes	de	se	tornarem	os	“bons	selvagens”	pelo	olhar	dos	filósofos	
iluministas, os índios permaneceram por um longo período entre a 
barbárie e a humanidade, entre a inocência e a selvageria, entre a 
indolência e a domesticação, entre o pecado e a salvação. As missões 
jesuíticas foram o primeiro empreendimento na tentativa de integrar e 
assimilar o índio à sociedade brasileira. O resultado da catequese foi 
o produto do sincretismo religioso que hoje está presente em nosso 
cotidiano.
Após a independência, quando se buscou um projeto de identidade 
nacional, buscou-se a partir de um pensamento liberal integrar o índio 
à nova nação por meio de um movimento literário indigenista. Os 
poemas e romances de Gonçalves Dias, José de Alencar, entre outros, 
contribuíram para compor uma visão romântica sobre os índios, na qual 
eram representados de forma idealizada, como seres puros, altivos e 
30 UNIUBE
honrados que estariam na base da formação da nação brasileira. Por 
esta razão, prevalecia a ideia de um evolucionismo, no qual o indígena 
seria o mito da criaçãodo Brasil.
Posteriormente, em meados do império, as rebeliões e a nova Lei de 
Terras de 1860 aumentaram o processo de perseguição e extermínio 
de inúmeras comunidades indígenas. A visão romântica novamente 
cedeu lugar ao espectro da barbárie e à crença de que a civilização não 
deveria ser imposta ao índio, pois este não era digno de humanidade. 
Embora integrado à nação, seu status jurídico passa a ser de “órfão 
de nacionalidade”, colocado como dependente, relativamente incapaz, 
considerado como indivíduo irresponsável ou que não teria condições 
de assumir integralmente suas responsabilidades. Para o positivismo 
republicano,	o	índio	é	uma	“criança	rebelde”,	que	precisa	ser	pacificada.	
Em razão disso, deveriam ser “protegidos” pelo Estado paternalista, 
até que estivessem aptos a conviver em sociedade. O resultado desse 
processo foi a implementação das políticas indigenistas que tratamos 
nos itens anteriores.
Embora o assimilacionismo, o poder tutelar e o assistencialismo ainda 
estejam presentes nas relações entre índios e não índios, após cinco 
séculos de lutas e reivindicações, os povos indígenas conquistaram 
legalmente os direitos de respeito à sua organização social, aos 
costumes, ao reconhecimento de suas línguas, às crenças e tradições. 
Ou seja, reconhece-se aos índios no Brasil o direito a serem diferentes 
culturalmente, de existirem e se manifestarem como índios, seja dentro 
de seus territórios ou não, sem sofrer qualquer tipo de discriminação. 
Em 1969 foi realizada uma Convenção da ONU para a Eliminação de 
Todas as Formas de Discriminação Racial (CERD), da qual o Brasil é 
signatário e reconhece sua competência no combate à discriminação 
 UNIUBE 31
indígena. Sob este aspecto, o Comitê CERD (ISA, 2018) orienta os 
Estados para que reconheçam e assegurem em suas legislações:
• o respeito às culturas, às histórias, às línguas e aos modos de 
vida indígenas como forma de enriquecer a identidade cultural dos 
Estados e promover sua preservação;
• que os membros dos povos indígenas sejam livres e iguais em 
dignidade e direitos e estejam livres de qualquer discriminação, em 
especial da discriminação fundada na sua origem ou identidade 
indígena;
• a garantia aos povos indígenas das condições que permitam o 
desenvolvimento econômico e social sustentável e compatível com 
suas características culturais;
• que os membros dos povos indígenas tenham direitos iguais no 
tocante à efetiva participação na vida pública e que nenhuma 
decisão relacionada a seus direitos e interesses seja tomada sem o 
seu consentimento informado;
• que as comunidades indígenas exercitem seu direito de praticar e 
revitalizar suas tradições culturais e costumes e que preservem e 
usem suas línguas.
Ao contrário do que se pensava, os indígenas não desapareceram nem 
foram totalmente assimilados pela cultura ocidental que herdamos. Nos 
últimos anos, muitas etnias vêm recuperando suas origens e costumes. 
Muitos indígenas mudaram seu comportamento perante a sociedade 
brasileira e buscam conviver em meio aos demais. O índio não se parece 
mais com o “bom selvagem”, como nós o romanceamos. Isso causa um 
certo “estranhamento” e não se sabe mais como interpretá-lo. 
Nos últimos 30 anos, a vida dos povos indígenas 
mudou. As relações das comunidades indígenas e 
de suas lideranças com o mundo dos brancos se 
tornou muito mais frequente. Os índios passaram a 
compreender muito melhor como vivem os brancos 
e quais são suas leis. Os índios também criaram 
organizações e passaram a estar presentes em 
reuniões e eventos nacionais e internacionais para 
32 UNIUBE
defender seus direitos. Hoje, muitas comunidades 
indígenas veem televisão, ouvem rádio e acompanham 
o mundo que gira fora de suas aldeias. Muitos índios 
ocupam cargos importantes como funcionários da 
FUNAI.	Talvez	possamos	afirmar	que	as	mudanças	nas	
relações entre índios e brancos nestes últimos 30 anos 
foram mais profundas que as dos 470 anos anteriores. 
(ISA, 2000, s/p)
Este	talvez	seja	o	grande	desafio	da	historiografia	atual:	reinterpretar	
o indígena, desvencilhando sua imagem dos estereótipos e 
preconceitos construídos socialmente. Não podemos considerar os 
povos indígenas como sociedades do passado, estáticas. Ao contrário, 
devemos reconhecer e valorizar sua identidade étnica, compreender a 
especificidade	de	suas	culturas,	as	formas	tradicionais	de	organização	e	
uso das terras e recursos e, acima de tudo, respeitar os direitos coletivos 
e individuais como forma de se promover um intercâmbio cultural. Seus 
conhecimentos, territórios e valores ajudaram a construir o Brasil, 
portanto os povos indígenas fazem parte da nossa sociedade, cujos 
direitos e modos de vida devem ser assegurados, assim como os de 
qualquer cidadão brasileiro.
Conclusão1.4
Compreender o indígena com elemento fundador da sociedade brasileira 
não tem sido tarefa fácil. A História aliada a outras ciências, como a 
Antropologia e a Sociologia, tem se esforçado em promover uma visão 
da	historiografia	nacional	que	não	seja	excludente	ou	ufanista.	Daí	a	
importância de se abordar a temática indígena (e também a africana) 
sob um viés sociocultural, que aprofunde o debate sobre o respeito e a 
convivência mais tolerante com as diversidades. 
Nesse processo, os movimentos indígenas têm papel fundamental em 
buscar o reconhecimento de seus atores políticos e exigir mudanças 
significativas	nas	políticas	públicas,	principalmente	educacionais,	no	
 UNIUBE 33
sentido de garantir sua cidadania étnica, ou seja, a inclusão do indígena 
nas instituições políticas e sociais existentes. Esta talvez seja a pauta 
mais recente no processo de conquista de direitos que tratamos aqui. 
O conceito de cidadania étnica inclui não só a participação política, mas 
defende condições materiais de existência e sobrevivência dos povos 
nativos, a defesa contra a violência e a preservação de sua identidade 
e tradições culturais. Este é um movimento que já existe em diferentes 
países da América Latina em que comunidades indígenas reivindicam 
direitos de autodeterminação e lutam por seu reconhecimento junto 
ao Estado. A garantia de direitos de cidadania a segmentos sociais 
marginalizados ganhou maior expressividade a partir da Declaração 
Universal do Direitos Humanos (1948) e, mais recentemente, pela 
aprovação, em 2007, da Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas 
(DDPI), cujo documento reconhece o direito de autonomia e autogoverno 
dos povos indígenas como nações preexistentes aos Estados nacionais. 
Mas	o	que	isso	quer	dizer?	Significa	que	a	temática	indígena	deixou	de	
ser uma questão étnica, antropológica e social para se tornar também 
política. Para além de seus direitos referentes às constituições de 
cada país, os povos indígenas possuem direitos universais orientados 
por uma política internacional. Particularmente, no caso da América 
Latina, que abriga cerca de 10% da população indígena mundial, a 
fundamentação desses direitos afeta um alto índice de pessoas que ainda 
vive sob o signo da exclusão social. Cabe a nós, enquanto sociedade, 
a corresponsabilidade de que as políticas públicas e de cidadania 
referentes	aos	indígenas	sejam	efetivadas	na	prática,	reafirmando	nosso	
compromisso de construir uma sociedade democraticamente justa.
34 UNIUBE
Resumo
Neste capítulo, dedicamo-nos a apresentar os dados da população 
indígena	no	Brasil:	quem	são?	Quantos	são?	Onde	estão?,	entre	outras	
informações relevantes com base nos dados organizados pelo Censo 
do IBGE, pela Funai e outros órgãos governamentais, a exemplo do 
Instituto Socioambiental. Conhecemos também a trajetória histórica 
das principais políticas indigenistas e de que maneira elas atuaram no 
sentido de promover uma integração do índio à sociedade brasileira. A 
ampliação dos direitos indígenas a partir da Constituição de 1988 é o 
ápice das conquistas empenhadas pelos movimentos indígenas e que 
hoje	passa	por	um	momento	de	reafirmação.	Por	fim,	propomos	uma	
reflexãoa	partir	da	“visão	do	outro”,	no	sentido	de	anular	estereótipos	
socialmente construídos, reconhecer sua cidadania e promover uma 
conscientização sobre o respeito à diversidade étnica indígena como 
matriz cultural fundadora da nossa sociedade e identidade nacional.
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na Educação Básica. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
Ana Cristina Borges
Introdução
Culturas indígenas: artes, 
religião e literaturaCapítulo2
As culturas indígenas expressam importantes valores morais, 
religiosos e sociais, seja nas festas, nos ritos sagrados, na pintura 
corporal, nos objetos em cerâmica, na tradição oral, lendas e 
mitos, entre outras manifestações, que representam seu modo de 
vida e seus conhecimentos transmitidos por gerações. Soma-se a 
isso, a questão da territorialidade e seu vínculo com a natureza e o 
meio em que vivem, base e referência de sua identidade enquanto 
seres históricos e sociais. 
Assim, é importante considerar que um povo indígena se difere de 
outros principalmente no que diz respeito à diversidade de visões 
de mundo. Apesar de possuir alguns elementos em comum, as 
identidades indígenas se constituíram historicamente dentro de 
cada etnia, adquirindo traços particulares que as diferenciam 
entre si. Mediante tal diversidade, não pretendemos aqui abarcar 
todas elas. Vamos priorizar algumas manifestações que já são 
de conhecimento geral dos brasileiros, por estarem também 
inseridas	em	nossa	cultura	popular,	e	outras	mais	específi	cas,	
presentes nas diferentes etnias, no intuito de nos aproximarmos 
das culturas indígenas, conhecê-las mais de perto e reduzir visões 
estereotipadas e preconceituosas.
38 UNIUBE
Objetivos
A partir do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:
• Analisar as principais tradições, costumes, crenças e valores 
culturais que caracterizam a experiência social indígena no 
Brasil.
• Conhecer as formas de expressão cultural indígena mais 
significativas,	no	que	tange	às	artes,	à	religiosidade	e	à	
literatura.
• Reconhecer as manifestações culturais indígenas como 
patrimônio material e imaterial.
• Compreender a diversidade dos saberes indígenas e valorizá-
los como parte integrante da nossa formação sociocultural.
• Adquirir subsídios sobre o conhecimento da cultura indígena 
que possibilitem ampliar a abordagem sobre essa temática 
em sala de aula.
Esquema
2.1 As manifestações culturais indígenas
2.2 Artes indígenas: patrimônio material e imaterial
2.3 Cosmologia e religiosidade indígena
2.4 Línguas e Literatura: da oralidade à escrita
2.5 Conclusão
Os Povos Indígenas têm direito a que a dignidade e 
diversidade de suas culturas, tradições, histórias 
e	aspirações,	sejam	adequadamente	refletidas	na	
educação pública e nos meios públicos de informação.
Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas 
[Art.15]
 UNIUBE 39
As manifestações culturais indígenas2.1
O reconhecimento pela Constituição de 1988 de que os povos indígenas 
possuem	especificidades	culturais	e	que	têm	o	direito	de	viver	conforme	
suas visões de mundo, de ter autonomia sobre sua organização social, 
costumes, línguas, crenças e tradições (Art. 231) trouxe consequências 
diretas às políticas educacionais no sentido de promover novos saberes 
sobre esses povos e permitir o desenvolvimento de uma educação 
escolar indígena. 
Ainda hoje é bastante comum que as pessoas vejam os índios atuais 
com as ideias que lhes foram passadas na escola básica, de que são 
povos que pertencem ao passado, com culturas atrasadas e primitivas, 
não	produtores	de	saber	científico.	O	“índio	autêntico”	é	aquele	descrito	
na Carta de Pero Vaz de Caminha, nu ou de tanga, que vive no meio da 
floresta,	de	arco	e	flecha.	Não	o	índio	que	convive	conosco,	até	porque	
“brasileiro não é índio”, já que predomina entre nós a cultura ocidental. 
Aos	índios	não	foi	dado	o	direito	de	se	modificar,	de	se	transformar	
culturalmente, como qualquer povo. A principal consequência desse 
pensamento foi o isolamento histórico, que não nos

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