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ADÃO E EVA - a história não contada (Carlos Leite da Silva)

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1 
 
 
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Adão e Eva 
 
A história não contada 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha Técnica 
 
 
Autor: © Carlos Manuel Miranda Leite da Silva 
 
Revisão: Carlos Manuel Miranda Leite da Silva 
 
Ilustração da capa: Gary Tonge 
 
1ª Edição 
ISBN: 978-85-923595-0-8 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
Adão e Eva 
 
A história não contada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Edição 
 
 
 
 
 
Brasília 
 
Carlos Leite da Silva 
 
2019 
 
 
6 
 
 
 
7 
 
 
 
Sumário 
Introdução ................................................................................................................. 10 
Capítulo 1 ................................................................................................................... 13 
Capítulo 2 ................................................................................................................... 25 
Capítulo 3 ................................................................................................................... 32 
Capítulo 4 ................................................................................................................... 43 
Capítulo 5 ................................................................................................................... 49 
Capítulo 6 ................................................................................................................... 57 
Capítulo 7 ................................................................................................................... 71 
Capítulo 8 ................................................................................................................... 80 
Capítulo 9 ................................................................................................................... 92 
Capítulo 10 .............................................................................................................. 102 
Capítulo 11 .............................................................................................................. 109 
Capítulo 12 .............................................................................................................. 118 
Capítulo 13 .............................................................................................................. 129 
Capítulo 14 .............................................................................................................. 141 
Capítulo 15 .............................................................................................................. 152 
Capítulo 16 .............................................................................................................. 168 
Capítulo 17 .............................................................................................................. 181 
Capítulo 18 .............................................................................................................. 188 
 
 
 
 
 
8 
 
Desde a época da graduação [ressurreição], nos mundos das mansões 
[onde ressuscitamos], até alcançarem o status espiritual na 
carreira do superuniverso, os mortais ascendentes são denominados 
progressores moronciais. A vossa passagem por essa 
maravilhosa vida fronteiriça será uma experiência inesquecível, de 
memória encantadora. É o portal evolucionário para a vida do 
espírito, e é o atingir final da perfeição da criatura, por meio do qual 
os seres ascendentes realizam a meta do tempo — encontrar Deus no 
Paraíso. 
 
Um propósito divino e definido existe em todo esse esquema 
moroncial, e posteriormente espiritual, de progressão mortal, nessa 
escola universal de minuciosa educação para as criaturas ascendentes. 
É desígnio dos Criadores proporcionar às criaturas do tempo uma 
oportunidade gradual de aprendizado, para que adquiram a mestria 
sobre os detalhes da operação e da administração do grande universo; 
e esse curso longo de aperfeiçoamento será mais bem aproveitado se os 
mortais sobreviventes efetuarem a escalada gradativamente, e por meio 
de uma participação efetiva em cada passo da ascensão. 
 
O plano de sobrevivência para os mortais tem um objetivo prático e 
útil; vós não sois os receptáculos de todo esse trabalho divino e desse 
aperfeiçoamento cuidadoso apenas para poderdes sobreviver e gozar de 
uma bênção infindável e uma tranquilidade eterna. Há uma meta de 
serviço transcendente, oculta além do horizonte da presente idade do 
universo. Se os Deuses tivessem como desígnio meramente levar-vos em 
uma longa e eterna excursão de júbilo, por certo eles não haveriam 
transformado tão amplamente todo o universo em uma vasta e 
intrincada escola prática de aperfeiçoamento, a qual requer uma parte 
substancial da criação celeste como professores e instrutores, para, 
então, despender idades e mais idades pilotando-vos, um por um, por 
meio dessa gigantesca escola do universo para a educação experiencial. 
A implementação do esquema de progressão mortal parece ser um dos 
principais serviços do universo presentemente organizado; e a maioria 
das inumeráveis ordens de inteligências criadas está, direta ou 
indiretamente, engajada em fazer, em alguma fase, com que esse 
plano progressivo de perfeccionamento progrida. 
 
Percorrendo a escala ascendente da existência viva, do homem mortal 
ao abraço da Deidade, de fato vós viveis a vida mesma de todas as 
fases e estágios possíveis da existência da criatura perfeccionada, 
9 
 
dentro dos limites da idade presente do universo. Na trajetória de 
homem mortal a Finalitor do Paraíso, fica abrangido tudo o que 
agora pode ser — engloba tudo o que atualmente se faz possível às 
ordens viventes de seres-criaturas finitos, inteligentes e perfeccionados. 
Se o futuro destino dos Finalitores do Paraíso for o de servir, nos 
novos universos, ora em formação, fica assegurado que nessa nova e 
futura criação não haverá ordens criadas, de seres experienciais, cujas 
vidas possam vir a ser inteiramente diferentes das que os Finalitores 
mortais viveram, em algum mundo, como parte do seu 
aperfeiçoamento ascendente, como um dos estágios do seu progresso de 
idade em idade, do animal ao anjo, do anjo ao espírito e do espírito a 
Deus. 
 
In: O Livro de Urântia 
10 
 
 
Introdução 
A verdade 
 
ocê irá ler este livro, muito provavelmente (e compreensivelmente), 
com a sensação de que está fazendo uma viagem pelo reino da fantasia. 
Porém, tenho uma novidade para você. O que está aqui relatado trata-
se de nada mais que a verdade. Embora os diálogos e detalhes sejam 
romanceados e fruto da imaginação, os grandes eventos marcantes 
descritos neste livro são a verdade histórica. Assim como são reais as personagens 
principais deste relato. 
Você irá questionar, muito razoavelmente: como é possível fazer 
narrativa de fatos que supostamente aconteceram há quase 40 mil anos, 
200 mil anos e até mesmo 500 mil anos se os registros escritos mais 
antigos descobertos até agora são da civilização suméria e foram 
gravados há cerca de 5.500 anos? 
A essa inquirição eu respondo que aconteceu uma revelação no 
início do século 20 (desde 1911 até 1935) que nos trouxe informações 
sobre os fatos mais relevantes da história perdida da humanidade. 
Você, porém, poderá argumentar que, no mínimo, é ingenuidade 
tentar comprovar fatos históricos a partir de supostas revelações. Você 
poderá defender que uma revelação não pode comprovar-se a si mesma, 
não pode servir como prova factual de coisa nenhuma. E eu lhe direi 
que, embora a lógica que você usou seja irrepreensível, este caso 
específico é notável e excepcional porque esta revelação contém mais do 
que o suficiente para se comprovar como verdadeira diante dos fatos. 
Explico: 
Essa revelação ficou terminada em 1935. Este ano (2019) ela 
completará oitenta e quatro anos de existência. Várias coisas que ela 
revelou no início do século 20 estão sendo comprovadas somente agora, 
no começodo século 21. Com ousadia, essa revelação afirma 
categoricamente que tudo o que está relatado em suas páginas como 
sendo a nossa história esquecida será comprovado arqueologicamente 
ao longo do futuro. Ela mesma, a revelação, se submete a escrutínio 
V 
11 
 
rigoroso ao fazer tão arrojada declaração. Até agora, ela tem vencido. 
Entre os milhares de fatos desconhecidos descritos nas suas 2.097 
páginas, diversos vêm sendo confirmados, jamais algum foi 
inequivocamente refutado. E entre as comprovações que vêm 
ocorrendo, quase todas essas revelações estavam na contracorrente das 
teorias convencionais à época do seu surgimento. 
Vou entregar agora ao leitor apenas uma dessas muitas 
revelações. Só para “abrir o seu apetite”. Com este exemplo 
desconcertante, quero alertar o leitor de que não é por acaso que jamais 
algum detrator desta revelação conseguiu vencer sequer uma batalha 
para derrubá-la. 
Em uma dessas 2.097 páginas, surge a descrição de como era 
uma região que os reveladores disseram estar agora a cerca de 1.500 
metros de profundidade no extremo leste do mar Mediterrâneo. Essa 
região, segundo os reveladores, até há 34 mil anos, estava à superfície e 
compunha um corredor de terra que ligava a ilha de Chipre à atual região 
da Síria. Constituía uma grande e alongada península que se ligava ao 
continente por um istmo com 43 quilômetros de largura. Os reveladores 
fazem uma descrição da morfologia desse território agora afundado, 
descrevem como essa península possuía um litoral ao sul que era uma 
cadeia montanhosa, bem como outros detalhes. 
Ora, essa descrição, como mencionei, está num texto registrado 
em 1935. No entanto, apenas na década de 1960 foi inventado o sonar 
que permitiu fosse feito o primeiro mapeamento dessa região submarina. 
Inicialmente, porém, essa tecnologia nem tinha alcance suficiente para 
providenciar rastreios nítidos do leito marinho, por causa da grande 
profundidade daquele local. Apenas na década de 1980, finalmente, os 
soviéticos desenvolveram a tecnologia do sonar ao ponto de discernir 
detalhes para tão grande profundidade. O que a tecnologia de sonar 
aperfeiçoada revelou? Exatamente o que está descrito na tal revelação 
escrita até 1935. Mesmo quando se olha para toda a metade oriental do 
mar Mediterrâneo, em nenhum lugar se encontra a geografia descrita 
senão exatamente onde os reveladores disseram que essa península 
existiu. Como foi possível descrever essas formações geológicas com 
praticamente cinquenta anos de antecedência? Apenas de uma maneira: 
foi porque os reveladores conhecem a verdade e a história daquela região 
que se afundou no Mediterrâneo há cerca de 34 mil anos. 
Eu poderia fazer uma lista extensa com diversas outras 
comprovações de que essa revelação narra a verdade dos fatos. Este, 
porém, não é o momento nem o lugar. Que esse breve exemplo acima 
sirva para sugerir que o leitor não descarte de ânimo leve a veracidade 
12 
 
dos eventos principais relatados nesta obra, e que tenha em mente, 
também, que seus personagens principais são personalidades reais das 
épocas do longínquo passado mencionadas. Na verdade, algumas dessas 
pessoas deixaram um rasto até nós da sua existência remota porque 
fazem agora parte do panteão da mitologia ancestral. 
Não há fumo sem fogo... 
Quanto às façanhas, características e capacidades desses seres 
humanos, anjos e todo tipo de criaturas que farão parte deste relato, 
saiba que elas são verdadeiras. É clichê, mas tão apropriado, dizer que a 
realidade excede toda fantasia. A tal ponto assim é que não posso deixar 
de fora também o supremo clichê da incontornável verdade do velho 
Shakespeare: “Há mais coisas no céu e na terra do que sonha a tua 
filosofia”. 
Humildade, humildade, tão essencial para acolhermos as 
revelações celestiais! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Capítulo 1 
Revelação (2019 d.C.) 
 
cordou diretamente do sonho, dividido entre a frustração de não ter 
continuado a sonhar e a doçura da lembrança intacta daqueles olhos e 
sorriso. Quem seria aquela mulher? Nenhuma recordação da sua figura, 
exceto o sorriso, os olhos e, principalmente, o conforto que perdurava 
no seu coração enquanto ele se levantava da cama. A sensação de 
familiaridade era tão forte! Será alguém que faz parte das minhas relações no outro lado da 
vida? Ele acreditava que havia um plano de vida concreta e real para onde vamos 
quando dormimos, acima da faixa onírica que reflete as deambulações do 
subconsciente. Estava convencido que às vezes, embora raramente, memórias 
desse real supraconsciente conseguiam cruzar a barreira da dimensão onírica e 
alcançar o mundo da mente consciente. E quando isso acontecia, assim ele 
acreditava, eram recados do divino que se imprimiam à mente carnal. E, assim, 
dessas ocorrências raras ele tentava perceber a maior relevância para a sua vida. 
Foi arrancado das divagações pelo aviso sonoro do 
intercomunicador. Enquanto se dirigia para a cozinha viu que já eram 11 
horas da manhã. Que estranho, pensou, como é que dormi tanto? Perdi mesmo a 
noção esta noite! O seu sono era quase como um relógio, sempre o levando 
a não acordar depois das 7 horas, mesmo que adormecesse muito tarde. 
Atendeu o intercomunicador. Era da portaria do prédio. Havia 
um aviso de correio urgente para ser assinado. Em quinze minutos, 
tratou de se pôr minimamente apresentável e desceu à portaria. A 
funcionária entregou-lhe o aviso e, enquanto assinava, percebeu que não 
havia remetente. Voltou a subir e rapidamente tomou um banho. Queria 
ir já em seguida aos correios, que eram bem perto dali. A falta de 
remetente aguçara ainda mais a sua curiosidade. 
Depressa chegou aos correios. Assim que foi atendido no balcão, 
a atendente, ao olhar para o número da encomenda, falou com expressão 
brincalhona: 
– Ah é você?! 
– Como assim, sou eu? 
– É que esta encomenda foi entregue aqui mesmo ainda hoje, e 
a pessoa que a entregou pediu para lhe dar um recado também. Até 
A 
14 
 
escrevi num papel para não me enganar. Mas o recado é tão fora do 
comum que eu dificilmente esqueceria – ela falou rindo. 
– Ah sim? E então, como foi? 
– É melhor você mesmo ler. Não quero transmitir isto com a 
minha voz – a atendente riu ainda mais enquanto lhe passava o papel 
dobrado e um embrulho com as dimensões de um livro grande. 
Ele abriu o papel e leu: 
“O sonho que você teve é real. E a pessoa do sonho pediu para lhe ser dado 
o recado de que ela sempre estará com você.” 
– Admiradora secreta? Parabéns! – disse a atendente simpática. 
– Como era a pessoa que entregou a encomenda? 
– Foi um rapaz muito agradável. Não tinha nada que se 
destacasse especialmente, a não ser pelo sorriso e o olhar. 
– Também a mulher do sonho – ele deixou escapar. 
Ela olhou-o intrigada, mas já só conseguiu vê-lo de costas 
enquanto lançava um “obrigado!” no ar e saía rapidamente da loja. 
Chegou apressado em casa e logo se sentou diante do embrulho 
enigmático, com uma tesoura na mão. Cortou o selo do pacote, enfiou 
nele a mão e despejou o conteúdo sobre a mesa. Era uma grossa resma 
de folhas A4, com um envelope por cima delas. A primeira página estava 
em branco. A segunda página, escrita à mão em letras maiúsculas, dizia: 
“ADÃO E EVA – A HISTÓRIA NÃO CONTADA”. 
Que coisa é esta? 
Pousou a mão sobre o volume e, com o polegar, fez correr as 
folhas como se fossem um baralho de cartas. Pareciam estar todas 
escritas à mão. Virou a folha do título e olhou a terceira página. 
Mas... como assim? 
A caligrafia era espantosamente parecida com a sua. Foi virando 
página após página e, chocado, constatou que aquela só poderia ser a 
caligrafia dele mesmo. 
Caramba! O que tem aqui? Será que alguém quer me incriminar com 
alguma coisa e falsificou a minha letra? 
Quantas folhas estariam ali? Mais de duzentas, talvez? 
Voltou a atenção para o envelope. Talvez ali estivesse a 
explicação imediata para aquela maluquice. 
Rasgou o envelope, apressado. 
Contou quatro folhas,escritas na frente e verso e, de novo, com 
a sua própria caligrafia. Ficou estupefacto, literalmente de boca aberta. 
Ah não! Não me vai dizer que viajei no tempo e agora trouxe um recado do 
futuro para mim mesmo! Logo eu, que nem acredito em viagens no tempo. 
Começou a ler: 
15 
 
 
Querido irmão, 
Não, você não viajou no tempo nem escreveu um recado para você 
mesmo. E não, você não está louco. 
 
Ainda bem que li essa segunda frase. Só faltava esta carta também começar 
a reagir aos meus pensamentos, pensou ele, tentando brincar com a situação, 
mas, compreensivelmente, mais do que intrigado, para não dizer em 
choque. O coração já estava disparado. Como ficar calmo e distanciado 
de algo tão estranho? Prosseguiu a leitura: 
 
Calma, vai ficar tudo esclarecido nesta carta. Mas antes de você 
continuar a ler, vá olhar a resma de papel A4 no seu armário. 
 
Aiai, nem me diga, está de brincadeira comigo. Levantou-se de sopetão 
e foi ao quarto que usava como escritório. Avançou cuidadosamente, 
olhando bem antes de entrar com o corpo inteiro, incomodado por estar 
sentindo que a paranoia estava escalando com a situação. 
Abriu o armário e logo avistou a resma A4 com não mais de uma 
vintena de folhas. Ele tinha a nítida consciência de que deveria ter mais 
de metade da resma, pelo menos umas duzentas folhas ou mais. Ainda 
no dia anterior tinha feito algumas poucas impressões para um trabalho. 
Lembrava-se bem. 
A paranoia bateu mais forte. Olhou em todas as direções. 
Percorreu a casa inteira, vagarosamente. Depois ocorreu-lhe que desde 
que usara algumas das folhas da resma, no dia anterior, jamais havia saído 
de casa até que teve que descer à portaria hoje. Ninguém poderia ter 
tirado as folhas sem ele ter percebido. Não recebera nenhuma visita. 
Mesmo assim, não deixou de espreitar debaixo das camas, dentro dos 
armários e mesmo da despensa. Até abriu o raio do armário das panelas. 
Será que alguém tinha invadido a casa durante a noite? 
Calma, calma, está tudo certo, vamos voltar à carta. Lá deve estar tudo 
explicadinho. E ainda essa coisa do recado no balcão dos correios, com o cara 
mencionando o meu sonho de hoje... ah não... assim é demais! Vamos lá, vamos lá. 
Ainda pensou, meio irritado e assustado: Será que esta porra é uma 
pegadinha de amigos ou até para algum canal de televisão? Que nada, não pode. Só 
se tivessem contratado um hipnotizador para me levar a crer que tive aquele sonho. 
Voltou a sentar-se e a pegar na carta como se esta tivesse antrax 
ou fosse uma granada prestes a explodir. 
 
16 
 
Agora que você verificou a quantidade de papel, e considerando que a 
caligrafia neste manuscrito é sua, pode ser informado que embora tenha 
sido pela sua mão que foram escritas estas folhas todas, na verdade, 
não foi você quem de fato as escreveu. Ou melhor, todo este conteúdo 
não passou pela sua mente, mas passou, sim, pela sua mão. Não, não 
é o que as pessoas convencionaram chamar de “canalização”. Nas 
supostas “canalizações” é a mente da pessoa que está atuando. Neste 
caso, sua mente e sua alma foram gentilmente afastadas do seu corpo 
– com a sua devida autorização e também com a obrigatória supervisão 
do seu próprio espírito, porque a sua vontade e o seu livre arbítrio são 
sagrados e invioláveis para a ordem divina – e foi então que seus 
automatismos corporais foram instrumentalizados por nós para a 
escrita destas folhas. Saiba que essas centenas de páginas foram escritas 
em pouco mais de duas horas durante a noite. E não foram escritas de 
modo ainda mais rápido apenas para não comprometer o seu 
organismo. Você nota que acordou normal, sem cansaço. Apenas 
acordou um pouco mais tarde, pouco mais do que a diferença de tempo 
em que o seu corpo ficou ocupado durante a noite. 
Não adiantaria eu tentar lhe explicar como ocorreu de fato este 
processo, a sua mente humana não está apetrechada para entender o 
que para você seria apenas um paradoxo sem nexo. Qualquer dia, 
quem sabe, você tenha ampliado tanto suas capacidades mentais e 
espirituais que possa, então, ser introduzido a uma explicação 
aproximada. 
Então, para eu não parecer rude nem ficar tripudiando com suas 
naturais apreensões e incompreensões desta hora, vou começar por me 
apresentar. 
 
Não sou um ser humano. Sou o que você poderá chamar de 
Medianeiro. Quando você ler o manuscrito principal, conseguirá ter um 
melhor entendimento do que é um Medianeiro. Mas, por agora, é 
importante que você se tranquilize e saiba que eu estou a serviço de 
Jesus neste contato que estamos estabelecendo. 
Não sou um anjo, mas anjos estão aqui comigo, fazendo parte de toda 
esta coordenação. 
Aproveito para lhe revelar o que tenho a certeza lhe trará um grande 
consolo emocional: a “mulher” que você viu no seu sonho de hoje – e 
que pediu para lhe entregarmos o recado de que ela sempre estará com 
você – é um anjo. Ela é uma das duas personalidades celestiais que 
estão incumbidas de constantemente acompanhá-lo, protegê-lo e às vezes 
17 
 
até inspirá-lo. Ela é um ser que designamos como Guardiã Seráfica, 
que vocês humanos tradicionalmente chamam de Anjo da Guarda. 
Sim, diferente do que muitos de vocês imaginam, os Anjos da Guarda 
são seres de natureza feminina. O par das suas Guardiãs Seráficas 
são uma personalidade ativa e outra passiva, mas ambas são de 
natureza feminina, como filhas e criação direta do Espírito Infinito. Já 
fica a informação para o seu aprendizado, mesmo que incompleta e 
confusa por agora. As peças do quebra-cabeça são tantas que serão 
necessários anos para lhe entregar os parâmetros básicos do 
conhecimento que se faz necessário para o seu aprendizado e futuro 
serviço. 
Como eu estava explicando, não sou um anjo, mas sim um ser da 
Ordem dos Medianeiros. A nossa ordem de seres está a meio caminho 
dimensional entre os anjos e os seres humanos. Para nós é muito mais 
fácil entrar em contato com as coisas da matéria do que para os anjos. 
Normalmente, os anjos pedem que sejamos nós, Medianeiros, a intervir 
quando se faz necessário um contato com humanos, com animais ou 
com as coisas materiais. Os anjos conseguem fazer esse contato, mas de 
modo muito limitado e, quando necessário e somente em situações 
emergenciais, isso as obriga a um grande esforço energético. Para essas 
situações, elas contam conosco habitualmente e também com outro tipo 
de anjos especializadas, as quais chamamos de Anjos Controladoras 
Físicas. 
Por exemplo, são essas Controladoras Físicas que intervêm, atuando 
diretamente sobre os vossos centros nervosos, quando é necessário que 
um ser humano veja uma Guardiã Seráfica. Claro que essas situações 
são raríssimas, só se fazem necessárias em ocasiões excepcionais. Já 
alguns de nós, os Medianeiros, temos a capacidade de nos fazermos 
visíveis quando queremos. Sim, fui eu quem entregou a encomenda e 
falou com a moça do balcão dos correios. Você deve estar se perguntando 
por que não deixei a carta e a resma escrita logo aqui, diretamente em 
sua casa. É que consideramos mais favorável haver uma testemunha 
externa, inconsciente e isenta no meio desta situação para poupar tempo 
e esforço em convencê-lo de que isto é real e não alucinação da sua mente. 
Está se perguntando onde arranjei o dinheiro para a encomenda? 
Garanto que não roubei ninguém. Bastou pegar do chão uma nota que 
alguém perdeu irremediavelmente. 
Pode ficar tranquilo, não vou me materializar diante dos seus olhos, 
pelo menos enquanto você não quiser ou não estiver preparado. Não 
queremos que você morra de susto, queremos que tenha uma vida longa. 
E, no que depender de nós, vai ter uma vida longa sim. A sua genética 
18 
 
é boa, o seu corpo tem potencial de longevidade. E nós também 
ajudaremos naquilo que formos autorizados para a preservação da sua 
integridade física. 
Nós, Medianeiros, temos maior proximidade com a matéria do que os 
anjos porque descendemos diretamente de duas raças materiais. No 
entanto, essas duas raças materiais não são originárias desteplaneta. 
Uma delas é a raça que nós chamamos de Noditas, a qual a vossa 
tradição refere como Nefilins (na Bíblia) ou Anunnakis (nos registros 
dos Sumérios). A outra é a raça adâmica, os descendentes diretos de 
Adão e Eva. 
Serão dados maiores detalhes sobre essas duas raças e nossa origem no 
volume principal destes textos. 
Por enquanto, digamos que nós, Medianeiros, somos primos da 
humanidade, realmente somos vossos familiares pela origem, no entanto 
de uma ordem de criaturas totalmente diferente. Estamos capacitados, 
por esta proximidade de origem, a entender integralmente a vossa gama 
de emoções, sentimentos e culturas. Porém, a nossa função no cosmos é 
assinalavelmente diversa da vossa. 
Começa que há uma enorme diferença entre nós e os seres humanos: é 
que nós somos imortais. 
Vocês nascem, crescem, morrem, e posteriormente são levados para fora 
do planeta, para serem ressuscitados como almas em mundos 
arquitetônicos – que vocês tradicionalmente chamam de céus – 
construídos como moradas que compõem como que uma escadaria para 
a vossa longuíssima ascensão ao Paraíso, no centro dos universos. 
Nós, porém, somos imortais, permanecemos eternamente com o nosso 
corpo energético desde que nascemos – um corpo que nos permite nos 
deslocarmos ao dobro da velocidade da luz – e estamos destinados a 
ficar neste planeta até que a humanidade alcance a supremacia 
espiritual e civilizacional, uma época futura designada como a Era de 
Luz e Vida. 
Nós somos, de fato e para todos os efeitos, os guardiões deste planeta, 
os seus habitantes permanentes. 
Estamos divididos em duas grandes ordens: Os Medianeiros 
Primários, os quais surgiram há cerca de meio milhão de anos; e os 
Medianeiros Secundários – dos quais eu sou um – que surgimos há 
cerca de 38 mil anos. 
As vossas gerações humanas facilmente podem esquecer os elos da 
experiência passada com a eventual perda dos registros históricos. 
Vocês sempre correm o risco de verem a sua civilização ruir por conta 
de uma educação inadequada das próximas gerações. 
19 
 
Nós, porque graças à nossa imortalidade jamais nos esquecemos do que 
aprendemos, somos o garante da continuidade civilizacional. A nossa 
civilização (não material, mas terrena, invisível aos vossos olhos físicos) 
sempre perdura. Nós não corremos o risco dessas perdas da memória 
histórica. Nós mesmos, como imortais, somos os registros vivos da nossa 
história. Por isso a nossa é uma supercivilização, usufruindo de 
altíssima tecnologia, num grau incompreensível para vocês e numa 
dimensão logo acima do espectro da luz visível aos vossos olhos. Por 
isso a nossa civilização está sempre em ascensão, enquanto que os vossos 
ciclos civilizacionais diversas vezes têm caído no pó do esquecimento, 
tantas vezes obrigando a esforços emergenciais de reerguimento das 
cinzas da memória. 
É triste porque as coisas não tinham que ser desta maneira para vocês. 
Esses ciclos de ascensão e queda das civilizações humanas são 
consequência de grandiosos e dramáticos acontecimentos históricos em 
que alguns dos seres que tinham a responsabilidade de conduzir a vossa 
humanidade primitiva até as glórias da futura Era de Luz e Vida, 
desastrosamente, falharam com as suas responsabilidades e se 
desviaram do plano divino arquitetado para este planeta. 
Esses seres são genericamente chamados de Filhos de Deus. São de 
ordens várias e com funções e alcance diverso. Mas todos eles têm em 
comum que, no momento histórico de sua vinda ao planeta, sempre 
foram os soberanos máximos da humanidade. O primeiro de todos foi 
o chamado Príncipe Planetário, o qual veio a aderir à desastrosa 
Rebelião de Lúcifer há 200 mil anos, tornando-se assim um pária 
espiritual, traidor dos planos divinos na condução da humanidade. Os 
segundos foram Adão e Eva, há 38 mil anos, que também falharam 
ingloriamente em sua missão. O terceiro foi Melquisedeque, nos tempos 
de Abraão, que veio apenas de modo emergencial há 4 mil anos, para 
preparar o planeta para o advento posterior do nosso supremo soberano 
do Universo Local, a quem vocês conhecem como Jesus. E foi este Jesus 
o quarto (e maior) Filho de Deus a habitar entre vocês, embora a 
função dele entre vocês fosse totalmente distinta das três prévias. A 
Jesus não cabia ficar definitivamente entre vocês, ele tem um universo 
inteiro para governar, embora, como ele mesmo prometeu, algum dia 
voltará aqui. Contudo, a sua estadia aqui serviu para ele deixar 
conosco a sua presença divina atuando como um circuito espiritual 
absonito – termo que significa a ponte entre o finito e o absoluto – para 
a sustentação das nossas mentes e almas, uma presença que nós 
chamamos de Espírito da Verdade. Melquisedeque, como referi, 
também foi um Filho de Deus que teve que vir apenas provisoriamente, 
20 
 
durante noventa e quatro anos. Mas os outros Filhos de Deus – o 
Príncipe Planetário e Adão e Eva – para esses estava planejado que 
ainda estivessem agora mesmo a serviço da humanidade aqui. 
Desgraçadamente, os três falharam em suas missões. O Príncipe 
Planetário, como ser espiritual, sempre foi invisível para a humanidade. 
Todavia, Adão e Eva eram Filhos Materiais visíveis aos seres 
humanos. Como imortais que eram, estavam destinados a 
permanecerem ainda conosco como soberanos materiais e visíveis da 
humanidade. O plano era que as gerações de seres humanos, nascendo 
e morrendo, sempre veriam os seus soberanos planetários como imortais, 
servindo a todas as gerações de mortais ao longo de toda a história deste 
planeta enquanto fosse habitado. Mas, com a sua desobediência aos 
planos divinos, Adão e Eva tornaram-se mortais como os seres 
humanos comuns. 
Este escrito é uma modesta tentativa de contribuir de algum modo para 
o resgate da memória desses eventos e, acima de tudo, para apresentar 
a quem o ler a informação de qual é o caminho a ser trilhado para a 
retomada consciente desses planos divinos extraviados em larga medida. 
A humanidade, por intermédio de cada vez maior número dos seus 
indivíduos, começa a ficar capacitada para entender esses eventos 
perdidos na poeira do passado e também para responsavelmente ajudar 
a erguer uma nova civilização em verdade, luz e vida. 
O nosso maior soberano, Jesus, nos conduzirá agora de modo mais 
claro e, em larga medida, desimpedido dos véus de muitas superstições 
da antiguidade que vêm sendo derrubadas. Mas muitas dessas 
superstições e conceitos errôneos ainda atrasam a humanidade, 
funcionando como um lastro que a impede de acessar mais livre e 
conscientemente a sua integração ao grande cosmos criado pelo Pai 
divino. 
A pretensão deste trabalho é ajudar a derrubar mais alguns desses véus 
que contaminaram os mitos da antiguidade e os escritos ditos sagrados. 
 
Após feita esta apresentação de quem eu sou, chegou o momento de lhe 
fazer a você mesmo a apresentação de quem você é. 
Você é um desses indivíduos que estão sendo chamados agora a um 
serviço mais consciente em prol da humanidade. 
Por tanto tempo e com tanta entrega você vem ansiando para que o Pai 
divino lhe dê a fé de Jesus junto com a sabedoria que lhe permita, na 
medida do possível, entender os desígnios divinos, que aqui estou eu e 
outros, a serviço desse mesmo nosso Pai Eterno, lhe entregando uma 
21 
 
parcela do conhecimento das causas, não apenas das supremas causas 
existenciais, mas também das causas por que o mundo está como está. 
Deve estar se perguntando por que algo tão inusitado e como nunca 
você ouviu falar pode estar ocorrendo com você. Em suma, você se 
pergunta por que está sendo escolhido como peça-chave neste fenômeno. 
Há diversas razões para isso. Vamos por partes. 
Nós bem sabemos da angústia que às vezes o toma quando você se vê 
diante de tanto crime, injustiça e dor, pessoal e global, e fica implorando 
para que o Pai venha e resolva o que parece estar totalmente além das 
capacidades humanas. Então, aqui estamos para supri-lo nesses 
profundos e louváveis anseios. 
O Pai divino construiu a realidade de talmodo que são as suas 
criaturas – todos nós – quem são convidadas a agir para materializar 
o plano divino sobre este planeta. O Pai se alegra na participação livre 
e voluntariosa de todos os filhos. Ele não fará as coisas sozinho, porque 
Ele decidiu que não as faria sozinho. Ele estabelece aliança sagrada 
com todo filho que anseie se aliar a Ele. O mundo perfeito do longínquo 
futuro inevitavelmente – mais tarde ou mais cedo – será construído 
neste planeta, mas quanto a quem fará parte dessa construção, só cada 
criatura poderá decidir e escolher participar ela mesma desse plano 
divino ou rejeitá-lo. Todos sem excepção são providos da consciência 
suficiente para fazerem essa escolha. Esse é o sublime e sagrado cenário 
do nosso livre arbítrio. 
Internamente, a sua postura de ansiar pelo Pai universal em sua vida 
e a decisão de obedecer e aceitar os mandatos e providência divinos – a 
vontade do Pai – foram levados a tal grau que finalmente você alcançou 
o que nós chamamos de terceiro círculo psíquico. 
Todos os seres humanos entram num processo de ascensão (e às vezes 
descensão) espiritual que resulta num potencial crescimento psíquico 
estratificado em sete níveis, desde o sétimo ao primeiro. Aquele ser 
humano que alcance o primeiro e máximo nível, finalmente atinge o 
patamar prévio à glória de ser fusionado com o espírito que o Pai divino 
enviou desde o Paraíso para se unir eternamente à alma desse ser 
humano, caso essa criatura evolucionária assim escolha. É esse mesmo 
espírito paradisíaco presente na mente de cada um de vocês quem fica 
tecendo a vossa alma. Ele faz isso, em vocês, a cada decisão moral e 
espiritual que vocês tomam. Nesses momentos auspiciosos, o espírito 
paradisíaco em vocês consegue tecer mais um pouco a vossa alma, a 
qual é uma nova criatura cósmica. Os mundos evolucionários do tempo 
e do espaço são berços de almas. Quando finalmente uma alma alcança 
o crescimento espiritual e maturidade consciencial máxima possível 
22 
 
nesta fase inicial da sua caminhada cósmica, ocorre a alquimia 
suprema e incompreensível de o fragmento divino, o espírito, que veio 
desde o centro dos centros do universo – a Ilha do Paraíso – se fusionar 
eternamente a essa alma, dando assim origem a uma nova criatura 
cósmica. Quando essa nova criatura cósmica nasce, então pode dizer-se 
que ela se tornou espírito eterno, assim como se pode dizer que aquele 
espírito paradisíaco finalmente obteve o dom da personalidade que veio 
buscar na criatura evolucionária do tempo e do espaço. E assim se une 
a personalidade com a identidade. Assim uma criatura animal se 
torna, finalmente, real no cosmos. Antes desse acontecimento dessa 
fusão, a criatura animal era apenas um potencial, sem garantia 
absoluta de entrar na vida eterna. 
Mas tudo isto é muito confuso para alguém que esteja acessando esta 
informação pela primeira vez. Se você não conseguir entender agora, 
não se preocupe. Passo a passo, tudo irá se clarificando. É virtualmente 
impossível entregar toda a informação aqui e agora. E mesmo que fosse 
possível, seria inviável você absorver tudo de modo pleno e satisfatório 
sem a maturação do tempo. 
O que interessa focar agora é que sua alma se disponibilizou – mesmo 
que a sua mente consciente não soubesse disso – a ser um instrumento 
nesta tarefa de materializar este escrito. 
E aí está ele, em suas mãos. 
 
Decidi entregar esta história com uma roupagem romanceada para ser 
mais palatável para a mente humana. 
Para os momentos históricos em que eu ainda não existia – como falei, 
eu só nasci há cerca de 38 mil anos – e também para os cenários que 
nunca presenciei – como, por exemplo, o planeta-capital do nosso 
sistema de mil mundos habitados, ou os seus satélites onde as almas 
dos seres humanos são inicialmente ressuscitadas – recorri às 
personalidades celestiais que foram testemunhas diretas ou que tiveram 
acesso fidedigno aos registros dessas ocorrências. Três das principais 
fontes foram meu bisavô e bisavó – Adão e Eva – e meu avô, o 
primogênito deles. 
Gostaria também de deixar o seguinte recado para todo leitor destas 
informações: elas não estão chegando por acaso às suas mãos. Não as 
leia de ânimo leve. Não as desvalorize pela sua aparente simplicidade. 
Nestas páginas revela-se a origem primeira e destino último do seu ser, 
assim como as razões por que o mundo está num estado tão caótico e 
afundado em sofrimento. 
23 
 
Ninguém tem como fugir dessa batalha. Todos estão, de fato, já 
participando dela, queiram ou não. 
Como vocês estão num mundo caído, veem-se caminhando no fio da 
navalha, muitas vezes ludibriados pelo mal por causa da inversão de 
valores que impera aqui. Por isso, muitas vezes não podem ser 
responsabilizados pelos seus erros de modo absoluto, porque facilmente 
as lentes com que vocês olham a Realidade ficam fora de foco e deixam 
sua visão obnubilada e distorcida. 
Portanto, com Sua onisciência e de modo perfeito, Deus os julga 
segundo suas motivações, não pelas ações. 
Então, as pessoas, todas elas, estão dentro de um campo de batalha 
inescapável, no qual não há como evitar tomar decisões e fazer opções. 
A cada impasse, diante de cada conflito, como cada um decide agir? 
Você tem três opções: a) não enfrenta, querendo se refugiar num lugar 
seguro, onde se resguarda de todo conflito; b) opta pelo caos e inversão 
de valores, ou seja, escolhe o pecado; ou c) escolhe a vontade de Deus, 
mesmo que isso envolva riscos para você. 
E qual é a vontade de Deus? Ela é conhecida passo a passo, por meio 
das revelações, tanto as internas quanto as externas. Por isso, como 
muitas vezes essa vontade divina não é clara para a criatura, a essência 
da progressão dela está em suas motivações, não em suas ações. 
Só não há como evitar decidir. Não há como fugir da batalha. Quem 
opta por fugir, já está decidindo e escolhendo algo que lhe é prejudicial 
à alma: a evasão. Portanto, escolha sempre com a melhor das 
motivações. 
Saiba, contudo, que o Bem vencerá. E você, cada indivíduo que está 
acessando estas informações, também está sendo chamado a participar 
dessa vitória, porque este escrito também é um convite a você para 
decidir trabalhar com o Pai divino e seus agentes cósmicos na causa 
sublime da libertação e ascensão deste mundo. 
Para participar da vitória, porém, tem que enfrentar a batalha. E para 
estar do lado certo da batalha, tem que se abrir às revelações divinas, 
tem que avaliá-las sem se deixar vencer pelos preconceitos. As revelações 
divinas são o roteiro certo para a ascensão. A restrita mente humana 
não tem iluminação suficiente, em si mesma, para acessar a Mente 
Infinita de Deus. Tem que ser Deus a descer quase o caminho inteiro 
até o nível humano. Ele faz isso enviando as revelações de Si mesmo e 
enviando um Fragmento divino Dele mesmo que se posiciona na 
supramente de cada ser humano. Sem essa presença divina na mente 
humana, a criatura jamais conseguiria estabelecer uma ponte com a 
Verdade, a qual é o próprio Deus, a Realidade Absoluta. 
24 
 
Deus atravessa esse caminho quase todo até à mente humana, só 
deixando uma pequena distância para ser transposta e percorrida pela 
intenção do ser humano. O ser humano tem que ansiar fazer a vontade 
de Deus e se unir a Ele. Esse anseio é o elo que finaliza a ponte do 
humano para o divino. Veja como Deus é toda a Realidade. Se não 
fosse a presença Dele em nós, jamais seríamos agitados pelo anseio de 
caminhar para Ele. Deus de fato é tudo o que é real em nós e fora de 
nós. 
 
Agradeço aos supervisores planetários e celestiais que autorizaram esta 
publicação e agradeço também de todo o coração a você, leal 
companheiro mortal, por se ter prestado a este serviço e por se aliar à 
causa do reerguimento dos planos divinos para o nosso planeta. 
 
Com um abraço amigo me despeço, mas deixando a garantia de que 
sempre estarei acessível, bem como os seres celestiais que estão ligados a 
você por um vínculo de serviço divino. 
Que o Pai eterno, Jesuse seus agentes a serviço do Bem Maior sempre 
o abençoem e inspirem. Que com sua vida sempre produza os frutos do 
espírito. Que a Paz de Jesus, o Espírito da Verdade, seja com você. 
 
Deixo só mais uma promessa com piscada de olho. Você sempre quis 
saber como se explicava o registro bíblico do casamento de Caim com 
uma mulher da terra de Nod depois que ele assassinou o irmão Abel, 
certo? Ou seja, como é que existiria uma mulher em outra região se, 
supostamente, Caim e Abel eram os únicos filhos de Adão e Eva? 
Como diz a Bíblia, em Gênesis 4:16-17: 
 
Retirou-se Caim da presença do SENHOR e habitou 
na terra de Nod, ao oriente do Éden. 
E coabitou Caim com sua mulher 
 
Quando ler esta história, você vai finalmente conhecer a verdade por 
trás desse registro bíblico, sem mais nenhum daqueles subterfúgios e 
tentativas de acomodar as escrituras às crenças preconceituosas dos 
homens. 
 
Abraço do seu eterno amigo [...]! 
25 
 
Capítulo 2 
Os Medianeiros (35.517 a.C.) 
 
dama-an estava plenamente sabedor de que a civilização florescente que 
havia conhecido iria sofrer séria regressão. Essa derrocada já tinha 
começado. Mas ele não podia se deixar abater. Os planos para aquele 
planeta e aquela humanidade tinham que ser cimentados a todo o custo, 
sobrepujando todas as adversidades. O bem haveria de ser vencedor. 
Tentou abstrair-se de toda a dor que ele sabia seria vivida enquanto o mal corresse 
solto. Seriam séculos ou milênios ainda pela frente até tudo voltar ao rumo tão 
sabiamente planejado? Não havia ninguém, então, para lhe dizer que o desvio ao 
plano divino ainda duraria dezenas de milhares de anos. 
Uma vida inteira de mãos dadas com a dor, pensou Adama-an. 
Praticamente quatro séculos de vida numa procissão de sofrimentos sem 
fim à vista. Mas não era tudo pesar, graças a Deus. Um homem elevado, 
à semelhança do Pai do Paraíso, encontra satisfação e alegria na simples 
contemplação dos filhos que gerou. E era isso que mais renovava as 
esperanças de Adama-an, era olhar para os filhos que ele tivera com 
Hatta, netos e bisnetos e trinetos, a longa descendência que se 
avolumava a cada ano, como estrelas do céu refletidas na Terra. 
No entanto, quase caprichosamente, era também a lembrança de 
outros filhos, a descendência da primeira esposa, os quais haviam sido 
levados do planeta há quase três séculos, que contribuía para deixá-lo 
com o coração amargurado. Por vezes, quando se lembrava dos 
acontecimentos desse longínquo passado, deixava-se tomar pela 
depressão. E essa depressão o abatia ainda mais ao contemplar o 
primitivismo caótico em que aquele mundo se afundava, como resultado 
da rebelião do seu Príncipe Planetário. 
Seu sangue, porém, não fora destinado à derrota da desistência. 
Era bem um filho dos mais nobres progenitores. O primogênito mesmo. 
O caráter de Adama-an tinha sido forjado na adversidade de nascer e 
viver num dos trinta e sete planetas que haviam caído pela adesão dos 
seus respectivos Príncipes Planetários aos princípios libertários da 
Rebelião de Lúcifer. Ele poderia ter partido para fora deste planeta junto 
com seus filhos e sua primeira esposa, naquele dia fatídico e remoto de 
A 
26 
 
280 anos atrás. Mas como abandonar seus próprios pais na ocasião, 
como deixá-los enfrentando tão dilacerante drama sem o apoio dele? 
Quando tudo aconteceu, Adama-an já tinha nascido havia 115 
anos. Oriundo de uma raça cósmica vocacionada para a glória do 
erguimento de civilizações planetárias, aos 115 anos era uma criatura no 
seu maior vigor, mas também já na posse experiencial de uma 
maturidade sábia. Por essa altura, já era pai de dezenas de filhos. Estava 
planejado que os seus descendentes e os descendentes dos seus irmãos, 
após algumas gerações, quando atingissem a massa crítica de meio 
milhão de indivíduos, se deveriam então unir em casamento às diversas 
raças originárias daquele planeta, ao qual seus pais tinham vindo com a 
missão de erguer uma civilização em cumprimento ao plano divino. Mas 
tudo desmoronou antes que o plano se consumasse. 
Enquanto Adama-an estava absorto nos pensamentos, sentiu 
duas mãos pousarem em seus ombros. Ergueu os olhos para o espelho 
na parede. Não viu ninguém além da sua própria imagem, um velho de 
quase quatro séculos afundado em cobertores invernais pedindo contas 
à vida. Sorriu. 
– Qual de vocês é? 
– Não reconhece pelo toque das mãos, meu pai? 
– Ah, agora a voz denunciou. Mirna-en, filha querida, o que você 
quer de mim? 
– Não estou sozinha, pai. 
Várias vozes se fizeram ouvir, diversas mãos afagaram os 
ombros, cabelo, rosto, peito e braços do velho. 
– Meus filhos, minha alegria. Que bom que vieram. 
As figuras de oito homens e oito mulheres se fizeram 
gradualmente visíveis aos olhos do ancião. 
– Que surpresa, meus queridos filhos. E os meus netos, estão 
aqui com vocês? 
– Não, pai – Sario-an se adiantou a todos os outros ajoelhando 
aos pés do pai. 
Sario-an era o quarto filho do velho Adama-an. Os três primeiros 
filhos tinham sido homens e mulheres materiais normais, o quarto 
assustou os progenitores quando, chegado à puberdade, passou a exibir 
uma característica jamais testemunhada: às vezes tornava-se invisível aos 
olhos mortais. Seu corpo, segundo sua vontade, podia entrar numa 
vibração atômica logo acima dos raios ultravioleta, deixando de ser visto 
por qualquer ser humano comum. Em algumas fases dessa invisibilidade, 
porém, seu pai ainda conseguia avistá-lo, mesmo quando seres humanos 
comuns já não o percebiam. 
27 
 
Adama-an e Hatta tiveram sessenta e sete filhos no total. A cada 
quatro filhos, um nasceu com essa capacidade assombrosa de ficar 
invisível quando quisesse. O quarto fora menino; o oitavo, menina; o 
décimo segundo, menino; o décimo sexto, menina, e por aí adiante. 
Como a cada quatro partos as crianças haviam nascido sempre com sexo 
alternado, homem e mulher, Adama-an decidiu que cada par sequencial 
deveria se unir em matrimônio. E o mais espantoso foi quando esses 
filhos e filhas especiais se uniram sexualmente, porque deram origem a 
descendentes totalmente invisíveis para as raças físicas do planeta. Essas 
criaturas surpreendentes e maravilhosas, netos de Adama-an e Hatta, 
vieram a existir permanentemente logo acima do espectro da luz visível 
aos olhos mortais. 
Adama-an chamou Medianeiros a esses netos e netas invisíveis por 
uma forte razão: eram criaturas que viviam num plano intermediário 
entre seres humanos e anjos. Conquanto seus pais e mães, tal como os 
outros filhos normais de Adama-an e Hatta, viessem a morrer 
fisicamente ao fim de alguns séculos, estes netos e netas, porém, são 
imortais. Até agora, passados mais de 37 mil anos desde o seu 
surgimento, eles ainda habitam o planeta Terra, invisíveis aos seres 
humanos comuns. Vivendo num plano intermediário entre o nível 
espiritual e o nível físico da Terra, esses Medianeiros passaram a 
constituir um corpo de guardiões planetários que, entre outras funções 
vitais, supervisionam todos os visitantes celestiais que diariamente 
chegam ao nosso planeta. 
Essas criaturas Medianeiras não se alimentavam como as pessoas 
materiais. Os seus pais, embora com a capacidade de se tornarem 
invisíveis quando quisessem, não possuíam outras diferenças assinaláveis 
em relação aos seus irmãos normais. Como os outros, nutriam-se de 
nozes, legumes, frutas, vegetais. No entanto, esses netos de Adama-an e 
Hatta que surgiram da linhagem desses dezesseis filhos e filhas especiais 
têm corpos energéticos que se sustentam apenas com energias da Terra, 
do Sol e de radiações do espaço cósmico, por absorção direta, não 
possuindo sistema digestivo nem excretor como nós os concebemos. 
Quando viu isso pela primeira vez, Hatta ficou aterrorizada, 
pensando que era uma aberração da natureza o que estava acontecendo 
com eles, ou mesmo, supersticiosamente, uma maldição dos deuses. Mas 
Adama-an percebeu que, na verdade, o que estava surgindo era uma 
bênção enorme dos planos divinos.Entendeu que estavam diante de um 
fenômeno parecido a algo que tinha ocorrido mais de 450 mil anos antes, 
quando tinham surgido seres com características parecidas às dos seus 
netos. Nessa época recuada, essas criaturas novas e invisíveis aos olhos 
28 
 
materiais também tinham sido chamadas de Medianeiros. Mas, agora que 
surgiam estes netos invisíveis de Adama-an, ficou convencionado que os 
mais antigos seriam apelidados de Medianeiros Primários, enquanto que os 
netos de Adama-an passariam a ser chamados de Medianeiros Secundários. 
Este narrador, contudo, não quer se precipitar e abordar antes 
do tempo assuntos que seriam demasiado incompreensíveis por agora. 
Deixemos para mais tarde determinadas revelações e vamos ver a razão 
por que os dezesseis filhos peculiares de Adama-an e Hatta vieram 
prestar esta visita ao seu velho pai. 
Todos ficaram silenciosos, enquanto Sario-an tomou as mãos do 
velho Adama-an, as beijou e olhou intensamente o pai nos olhos. 
– Que se passa, meu filho? – Ergueu o olhar para todos os 
outros, quietos e graves, e inquiriu – Qual a razão de tanta solenidade? 
Apenas Sario-an falou: 
– Pai amado, recebemos a notícia de que em breve, talvez dentro 
de um ano, será a hora de você abandonar esse corpo e partir deste 
planeta pelos caminhos ascendentes da vida imortal. 
Adama-an ficou com o olhar parado no ar, tentando absorver 
todo o significado daquelas palavras. Lentamente estendeu os braços aos 
filhos pedindo com um gesto que se aproximassem todos dele para um 
abraço. 
Ficaram um tempo unidos, num silêncio às vezes quebrado por 
alguns soluços contidos. 
Mirna-en falou: 
– Os administradores Melquisedeques nos ordenaram que lhe 
transmitíssemos esta informação. 
– Explicaram a razão para eu ser informado? – perguntou 
Adama-an. 
– Sim – Mirna-en respondeu. – Disseram que foi decidido lhe 
revelar antecipadamente a sua partida da carne por ser absolutamente 
essencial, no tempo que aqui lhe resta, que você se concentre em 
repassar aos seus descendentes físicos, nossos irmãos, sobrinhos e 
sobrinhos-netos, toda a história da raça deles desde a gênese há quase 
400 anos, bem como o essencial da história das raças humanas desde sua 
origem há quase um milhão de anos. 
Sario-an complementou: 
– E, ainda mais importante, os Melquisedeques especificaram 
que, neste período restante, você deverá deixar bem claro para os seus 
descendentes materiais qual é o plano divino para esta humanidade, de 
maneira que eles, se possível, não se deixem manipular pelos propósitos 
perniciosos da agenda libertária do Príncipe Planetário na sua aliança a 
29 
 
Lúcifer. Como você sabe muito melhor do que nós, pai, os desvios ao 
plano divino já foram catastróficos neste planeta. Mas os 
Melquisedeques nos deram a entender que, por enquanto, são 
desastrosos num grau verdadeiramente inimaginável para nós. 
Outro dos filhos, Masa-an, se fez ouvir: 
– A sensação com que ficamos das afirmações dos 
Melquisedeques é que só num futuro muito distante a humanidade terá 
a real noção de como o erro e a queda resultante desse desvio foram 
graves. Nós, aqui e agora, jamais teremos condição de conjeturar o 
alcance de tudo isso. 
Mirna-en voltou a falar: 
– Pai, os Melquisedeques foram bem claros ao nos dizerem que 
a imortalidade dos nossos filhos, assim como a imortalidade dos 
Medianeiros Primários, é uma enorme bênção divina, e que essa será a 
forma de garantir que a história da humanidade neste planeta será 
preservada. Disseram que sem os Medianeiros seria praticamente 
impossível aos homens ainda tão primitivos preservarem a história da 
humanidade e o farol da meta das eras vindouras. Avisaram-nos que a 
humanidade entrará em breve numa nova era em que poderá deixar de 
ter soberanos físicos imortais como referencial. Então a grande 
esperança de preservar a memória e o fio condutor de todas as eras 
dependerá em larga medida dos nossos filhos Medianeiros Secundários 
assim como dos Medianeiros Primários e do fato de ambas essas ordens 
serem compostas de criaturas imortais. Por isso os Melquisedeques lhes 
atribuíram a responsabilidade de serem os guardiões planetários. Quem 
melhor do que eles para informar os anjos que chegam ao planeta sobre 
esta humanidade? Quem melhor do que eles para estabelecerem contato 
com seres humanos especiais, profetas, santos e heróis que nascerão, 
quando isso se fizer necessário para o bem maior da humanidade e para 
o cumprimento dos desígnios divinos? 
Masa-an prosseguiu: 
– Os Melquisedeques nos dizem que os nossos filhos não serão 
eximidos das escolhas que lhes competem. Eles foram bem claros ao 
nos dizerem que é essencial para o amadurecimento dos nossos filhos 
Medianeiros que lhes seja dada uma larga margem para tomarem as suas 
próprias decisões na construção dos futuros destinos deste planeta e 
desta humanidade. 
– Eles não foram mais explícitos sobre isso – atalhou Sario-an – 
mas nos declararam que só em situações muito excepcionais tratariam 
de romper o seu silêncio para aconselharem os nossos filhos. Disseram-
nos que agora, pai, como você irá partir em breve, a supervisão da 
30 
 
civilização planetária passará a ser colocada nas mãos dos Medianeiros 
Primários, e aconselham aos nossos filhos Medianeiros Secundários se 
submeterem ao comando dos Primários. 
Masa-an acrescentou: 
– Os Melquisedeques aconselham nossos filhos invisíveis a 
escolherem ser subservientes aos Medianeiros Primários porque estes 
surgiram há mais de 450 mil anos, enquanto que os nossos filhos só 
nasceram ao longo destes três séculos recentes. Fomos relembrados de 
que a experiência e sabedoria dos nossos filhos ainda é incipiente 
comparada à dos Medianeiros Primários. 
Uma voz feminina, algo irritada, se fez ouvir: 
– Tanta experiência e suposta sabedoria parece que não chega 
quando vemos determinadas atitudes cretinas de alguns dos Medianeiros 
Primários. 
– Minha filha – interrompeu-a Adama-an suavemente – os 
Medianeiros Primários têm as suas próprias cargas com que lidar. O 
percurso deles também não tem sido nada fácil. Há mais de 150 mil anos 
que eles vivem as dificuldades da quarentena cósmica a que este planeta 
se vê constrangido por causa da decisão do nosso Príncipe Planetário 
em se ter aliado à Rebelião de Lúcifer. 
– Sei disso, meu pai, mas me irrita a altivez de alguns deles 
quando lidam conosco e com os nossos filhos invisíveis. Os Medianeiros 
Primários não são perfeitos, e deveriam demonstrar humildade por isso. 
– Filha, claro que eles não são perfeitos, mas não há como negar 
a sua longuíssima experiência. Alguns deles já estão dando o devido valor 
aos meus netos invisíveis, porque os meus netos têm uma capacidade 
inerente de manipular a matéria e de fazer contato com os seres 
humanos, com os animais e com as coisas físicas que os Medianeiros 
Primários não têm naturalmente. Cada uma das duas classes tem que 
ficar grata ao Pai divino pelas características únicas da outra: não 
esqueçamos que os Medianeiros Primários estão em contato mais direto 
com as ordens angélicas estacionadas na Terra, enquanto que os 
Medianeiros Secundários, os meus netos e vossos filhos, têm atributos 
que lhes permitem a função de trabalhar mais diretamente com a 
humanidade material. Ambas as classes são imprescindíveis, e não há 
como negar que há uma superioridade de sabedoria experiencial do 
corpo Primário de Medianeiros. 
– Está certo, pai – falou o ponderado Sario-an. – No entanto, os 
Melquisedeques apenas aconselharam. Não deram determinações 
férreas. Não atribuíram por si mesmos as funções e cargos que deveriam 
caber a cada ordem de seres. 
31 
 
Adama-an expressou pausadamente a meditação grave que lhe 
ocorria naquele momento: 
– Acredito, meus filhos, que essas indefinições são parte inerente 
ao caos ainda maior que se estabeleceu há quase três séculos. O Pai 
divino quer que tenhamos margem pessoal para decidir? Então que o 
Pai divino nos abençoe com o Seu discernimento para quecada um tome 
as melhores decisões. 
 
 
 
 
32 
 
Capítulo 3 
Adama-an e Hatta (35.789 a.C.) 
 
evávamos os cavalos pelas rédeas. A floresta era densa naquele 
ponto. Avançávamos com dificuldade entre árvores e arbustos. 
Tinha chovido copiosamente durante dias e, apesar do sol daquela 
manhã, o chão debaixo dos cascos e pés nem sempre era firme e 
continuava lamacento. A razão para não termos parado há dias e 
buscado um abrigo é que por várias vezes tínhamos avistado fumaças de fogueiras 
e escutado as vozes de caçadores coletores. Na lama íamos percebendo os rastos 
de circulação de pessoas e animais.” 
Adama-an já estava há cerca de uma hora falando para o grupo 
de jovens atentos. Ele já lhes tinha explicado as razões da sua exposição, 
e que aqueles encontros para transmissão de conhecimento da vida 
cósmica e também da história das raças – as da Terra e as do espaço 
sideral – prosseguiriam nos períodos da manhã, em dias alternados. No 
entanto, não comunicou a ninguém que faltavam poucos meses para a 
sua morte. Apenas os seus dezesseis filhos especiais, os pais dos 
Medianeiros Secundários, sabiam. Todos aqueles jovens, netos, bisnetos, 
trinetos, se agregando em seu redor, tinham um apreço enorme e um 
carinho indizível por ele, mais do que reverência, verdadeira paixão, na 
verdade. Ele era o patriarca da família. Se soubessem que ele estava na 
contagem decrescente para a sua partida da vida física, algumas 
emocionalidades poderiam ficar descontroladas e a depressão 
atrapalharia o prazer e positividade daqueles encontros, até mesmo a 
absorção dos ensinamentos poderia ficar prejudicada. O velho Adama-
an remexeu as brasas da fogueira reconfortante, repuxou melhor o 
cobertor sobre os joelhos para abafar o inverno, e prosseguiu a narrativa. 
Estava descrevendo uma cena que acontecera 272 anos antes, no ano 
35.789 a.C. 
 
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Vinte e nove guerreiros eram uma força armada considerável, no 
entanto eles não queriam se envolver em escaramuças sem propósito. 
“L 
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Evitavam ao máximo entrar em contato com qualquer povoação antes 
de conhecerem a natureza dos aldeões. Quando encontravam uma 
aldeia, primeiro tratavam de acampar num lugar seguro não muito 
distante para ocultamente irem vigiando a rotina dos seus habitantes, 
percebendo assim se seriam belicosos ou pacíficos. 
Por que tantos cuidados? E qual o principal interesse que os 
movia? Na verdade, não tinham como fugir desses encontros, porque a 
razão principal da viagem era alcançar um encontro intensamente 
desejado. Então ficavam divididos entre os perigos dos encontros 
conflituosos – tantos que já haviam acontecido – e a inevitabilidade de 
perguntar em cada povoação se aqueles aldeões eram quem eles 
procuravam desde há três anos de aventuras memoráveis. Ou então, 
caso não fossem, se poderiam todavia lhes fornecer informações 
determinantes sobre o rumo a tomar. 
No começo da viagem, Adama-an e seus companheiros só 
sabiam que deveriam avançar para noroeste. O venerável Van já não 
estava entre eles, já tinha saído do planeta há cento e dezesseis anos, 
sendo substituído na sua missão heroica pelos próprios pais de Adama-
an. Mas Van não foi embora do planeta quando os pais de Adama-an 
chegaram. Van ainda permaneceu alguns anos com eles, introduzindo-
os aos assuntos planetários, e durante esse período viu nascer Adama-
an, o primogênito, e crescer quase até à puberdade. Adama-an jamais 
esqueceu as histórias que Van lhe contava sobre o seu povo e o centro 
de civilização que ele tinha fundado nas regiões a noroeste. A grande 
referência geográfica que permanecia na memória de Adama-an desde a 
mais tenra infância era o lago Van. Mesmo hoje, tantos milhares de anos 
depois, o lago ainda carrega o nome desse herói cuja memória se havia 
já perdido na névoa antes ainda dos mitos muitíssimo posteriores do 
Povo Sumério, cujos registros históricos só aconteceram cerca de trinta 
mil anos depois que Van partiu do planeta. 
Por isso, a primeira meta dos vinte e nove viajantes foi alcançar 
o lago Van. A partir daí veriam aonde as pistas os conduziriam para 
chegarem ao contato com esse antigo povo de tantas narrativas e lendas 
fascinantes. 
Tinham partido da sua terra ao sul, resguardada entre os grandes 
rios Eufrates e Tigre, avançando para noroeste, onde finalmente, após 
seis meses, alcançaram o lago Van. Aí, de fato, encontraram o povo que 
ainda venerava o incomparável Van e que tinha por isso apelidado o lago 
em sua memória. No entanto, esse povo os informou que há muitos 
anos que já não tinham entre eles as linhagens nobres das raças dos 
soberanos e heróis da antiguidade, embora se esforçassem por preservar 
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o seu legado cultural. Eles se designavam como Noditas por causa desse 
legado cultural e porque, em algumas linhagens familiares, em suas veias 
ainda corria uma parcela dessa mistura. Mas o sangue puro das realezas 
antigas já se havia diluído entre eles. Só restavam narrativas e lendas de 
que a grande maioria dos semideuses do passado longínquo havia 
partido para explorar os extremos da Terra. 
Diante disso, depois de permanecerem com eles uns seis meses, 
os viajantes decidiram voltar a meter pé ao caminho em busca dos rastos 
dessas linhagens descendentes dos semideuses do passado. E, enquanto 
não os achassem, aproveitariam para levar o mais longe possível a 
mensagem transmitida das estrelas, originalmente trazida por Van há 
mais de 450 mil anos e recentemente reintroduzida, reformulada e 
ampliada pelos próprios pais de Adama-an. A disseminação dessa 
mensagem estelar era parte substancial da razão mesma da vinda dos 
pais de Adama-an a este planeta ainda tão primitivo. Era seu propósito 
que todas as tribos da Terra soubessem das boas novas universais. Para 
facilitar a comunicação com essas tribos, foi-lhes concedido levarem 
com eles um guia e tradutor, Tanatiareh. 
As circunstâncias e as informações vagas os foram empurrando 
para oriente, tendo passado a sul do impressionante maciço montanhoso 
Ararate, com suas neves eternas se elevando a mais de cinco mil metros. 
Os muitos encontros e aventuras os fizeram perambular durante cerca 
de dois anos, tempo em que predominantemente percorreram os 
territórios em redor do mar Cáspio. Ao depararem com os climas mais 
extremos do norte, optaram por seguir para as regiões sulinas 
circundando esse enorme mar interior. 
E agora, ali estavam, nas florestas próximas às encostas 
retorcidas do maciço montanhoso de Kopet Dag, cheios de cuidados 
para evitarem os perigos tão constantes a que já se tinham habituado. 
Durante esses anos de viagem tinham se deparado com tribos, quase 
todas agressivas, que possuíam alguns traços da raça que eles 
procuravam, a raça que havia sido escolhida há mais de 450 mil anos 
para, a partir dela, se construírem corpos materiais para Van e seus 
noventa e nove viajantes siderais poderem habitar a Terra. Estes 
viajantes siderais tinham vindo ao planeta para plantar os rudimentos da 
civilização em dádiva aos homens primitivos e, até mesmo, para em 
algum momento se miscigenarem racialmente com esses humanos 
terrestres. Tudo parte do grande plano divino para este planeta. 
Infelizmente, os desvios ao plano foram extremos, e isso com certeza 
não foi por culpa de Van. Bem pelo contrário. 
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A razão da agressividade da maioria dessas tribos em muitos 
desses encontros, porém, radicava num conflito recente, que 
desgraçadamente havia ocorrido cerca de dez anos antes. Havia uma 
sede de vingança que recaía precisamente sobre a raça dos vinte e nove 
viajantes. A desconfiança estava sedimentada firmemente contra a raça 
de Adama-an. Para agravar os riscos, não havia como esconder ou 
atenuar as características físicas tão marcantes que os denunciavam onde 
quer que aparecessem. Todos tinham olhos azuis. Como ocultar isso 
num planeta em que a humanidade inteira tinha olhos castanhos? Suas 
peles eram de um tom rosáceo muito claro. Por isso os chamavam dePovo Violeta. As peles mais claras que aquele mundo havia conhecido 
antes do surgimento do Povo Violeta haviam sido as da raça amarela, a 
qual se havia disseminado pelo longínquo oriente, e da raça azul, que se 
tinha estabelecido principalmente em direção ao extremo ocidental da 
maior massa de terra do nosso planeta, o continente euroasiático. Os 
cabelos do Povo Violeta eram ruivos, loiros e castanhos claros. Como 
não chamar a atenção num planeta em que todas as raças da humanidade 
original tinham os cabelos negros? Não havia como dissimular a sua 
origem. 
Infelizmente, a busca deles implicava explorar as regiões 
principalmente ocupadas pelas raças que mais se haviam ressentido com 
eles naquele tremendo conflito ocorrido há cerca de dez anos. Tudo 
estava ainda muito fresco nas memórias, e as consequências tão graves 
desse antagonismo faziam suspeitar que essas lembranças negativas não 
se apagariam tão cedo. Conseguiriam Adama-an e seus companheiros 
pôr um fim nessa rejeição de que eram alvo, ou pelo menos atenuá-la? 
Num mundo tão primitivo e selvagem, já era naturalmente 
perigoso avançar por qualquer região desconhecida. Mas com 
características raciais tão diferenciadas, e sendo eles alvo de tanto ódio, 
não havia como descurar cautelas adicionais. No começo da viagem, 
para os seus traços raciais não ficarem tão óbvios, até tinham chegado 
ao cúmulo de rasparem completamente não só as barbas, mas também 
os cabelos ruivos e claros, incluindo as sobrancelhas, o que lhes dava um 
aspecto fantasmagórico. Também tentaram disfarçar as peles claras 
aplicando algum pó de carvão ou lama no rosto, ombros, braços e 
pernas, o que se tornava um incômodo para eles. Todavia, como 
disfarçar seus olhos azuis únicos? Para isso, sempre que possível, usavam 
capuzes que lhes deixavam os olhos na sombra. Mas cedo chegaram à 
conclusão que no final todos esses esforços de camuflagem de nada 
adiantavam. Desistiram dessas medidas. Como nenhuma tribo os 
sobrepujava, nem em força física, nem em conhecimento de técnicas de 
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luta e estratégia militar, e jamais em inteligência, decidiram se apresentar 
tal como eram. Rapidamente verificaram que em muitas situações essa 
apresentação ostensiva de quem eram até resolveu confrontos 
antecipadamente, porque a algumas tribos já haviam chegado narrativas 
sobre eles serem adversários temíveis, e até mesmo, para algumas, 
imbatíveis. 
Por essas razões, naquele momento se esgueiravam lentamente 
entre as árvores e mato denso, de modo que o som dos cascos dos 
cavalos não os impedisse de escutar alguma presença humana nas 
redondezas nem denunciasse a presença deles. Foi assim que passaram 
a ouvir um ruído, primeiro abafado, mas que, à medida que avançavam, 
se foi tornando um ribombar cada vez mais forte. Uma queda de água. 
Os cavalos antes já haviam dado sinal de água próxima, resfolegando e 
sacudindo as cabeças. Os vinte e nove mais um se animaram, mas, se tal 
fosse possível, pareceu que ficaram mais vigilantes ainda. Onde corria 
água, maiores as probabilidades de encontrarem pessoas ou haver 
alguma povoação próxima. 
Adama-an sinalizou aos companheiros que permanecessem ali e 
aguardassem, enquanto ele, Comar-an e o tradutor Tanatiareh iam 
verificar o terreno. Deixaram seus cavalos com o grupo e desapareceram 
rapidamente, se esgueirando entre arbustos e árvores. Quando saíram da 
orla cerrada da floresta e subiram umas rochas nuas, viram finalmente 
um rio baixo correndo entre muitas pedras parcialmente submersas. Do 
seu lado direito, uns cem metros a montante, caía água de um 
despenhadeiro alto. O ruído forte não era apenas por causa da 
quantidade de água, mas também pela queda elevada e paredes rochosas 
em redor que ampliavam o som como duas mãos em concha que se 
projetassem de uma boca. A água caía numa piscina funda de cor verde 
azulada, mas logo em seguida o rio se tornava bastante superficial e 
espalhado, ziguezagueando prateado entre granitos úmidos brilhando ao 
sol da manhã. 
Quando os exploradores foram acompanhando o curso da água 
com o olhar, a jusante, avistaram presenças que os levaram a se agachar 
mais no miradouro rochoso. Naquela direção, o rio ia caprichosamente 
formando diversas piscinas naturais de água represada. Numa dessas 
piscinas, a cerca de cento e cinquenta metros dos observadores, seis 
mulheres jovens se banhavam. 
Adama-an sinalizou para voltarem à linha de árvores. Foram 
acompanhando a margem, ocultos pelo matagal, até finalmente se 
alinharem com a piscina das mulheres. Furtivamente, mantiveram-se 
ocultos por rochas. Em uma clareira da margem oposta estavam seis 
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homens. Pela atitude deles se percebia que não estavam ali para socializar 
com as mulheres nem se divertir com as quedas de água. Nitidamente, 
estavam protegendo as moças. Enquanto elas se lavavam e brincavam 
na água, os guerreiros iam olhando em todas as direções, vigilantes. 
Três das jovens se perseguiam, rindo e lançando jatos de água 
umas sobre as outras, enquanto duas se ocupavam a lavar os longos 
cabelos de uma que permanecia imóvel. Deve ser alguém nobre, pensou 
Adama-an ao vê-la sendo servida. Sua atenção demorou-se nela, 
tentando à distância perceber o rosto da jovem. Ela caminhou para um 
baixio onde se ajoelhou, repousando os braços sobre as pernas, e 
permitiu que as duas moças começassem a penteá-la e fazerem suas 
tranças. A serenidade que emanava dela capturou Adama-an e o distraiu 
até que foi despertado com Comar-an segurando seu braço. 
– Algo se mexeu naquela rocha. 
Adama-an seguiu o dedo esticado do companheiro. Inicialmente, 
nada detectaram. Mas logo houve um movimento acima de uma rocha 
altaneira. Uma cabeça, duas. Um torso e um arco se erguendo, logo 
outro o imitando. As duas setas partiram ao mesmo tempo. Ouviram-se 
gritos. Do séquito armado junto das jovens, um guerreiro caiu inerte sem 
mais reação. Outro ficou agarrado a uma perna berrando de dor e dando 
o alarme geral. 
Dois ergueram os escudos e correram em direção às moças, que 
inicialmente ficaram paralisadas pelo susto. Mas logo reagiram e se 
precipitaram para os homens, os quais se concentraram em rodear a 
jovem que prendera a atenção de Adama-an. Os dois guerreiros restantes 
ficaram em posição de batalha, tentando antecipar de onde viria o ataque 
seguinte. Assim que as mulheres se aninharam atrás de um maciço 
rochoso, os dois guardas avançaram cautelosamente para se juntarem 
aos companheiros. Mais setas caíram sobre eles, se cravando nos 
escudos erguidos. Um dos guardas sacou de um chifre que trazia ao peito 
e começou a soprar nele com vigor, tentando projetar o alarme sonoro 
o mais longe possível. Mas uma flechada logo atravessou seu pescoço, 
interrompendo abruptamente o som que mal começara. 
Assim que isso aconteceu, dez guerreiros saíram da orla da 
floresta, lentamente, espalhados entre as árvores. 
Os guardas criaram uma linha defensiva entre os invasores e as 
mulheres. O chefe dos salteadores sacudiu a lança em direção ao grupo 
encurralado e falou algo. 
Adama-an interrogou Tanatiareh: 
– O que ele falou? 
– Disse que as mulheres são deles. 
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Isso fez com que Adama-an ainda se questionasse se os atacantes 
seriam os companheiros legítimos daquelas mulheres resgatando-as ou 
se as queriam sequestrar. Mas a atitude delas era clara. Estavam 
aterrorizadas com o ataque e dependentes dos seus quatro guardas 
restantes, com um deles ainda se debatendo na agonia de ter uma perna 
trespassada por uma flecha. 
Diante disso, Adama-an não dilatou mais a espera. Puxou uma 
flecha do seu alforje, no que foi seguido pelos dois companheiros. Os 
três definiram seus alvos, retesaram os arcos e, seguindo o comando de 
voz de Adama-an, dispararam os dardos mortais que cruzaram o rio e 
abateram três dos assaltantes num único movimento. 
Tanto os atacantes quanto os defensores foram tomados de 
surpresa, olharam para a outra margem e viram três estranhos saltando 
ágeis sobre as rochas ribeirinhas,dois deles com uma compleição física 
portentosa, muito altos, transportando estranhas e longas lâminas que 
desferiam reflexos ao sol. 
Aproveitando a confusão e o estupor dos assaltantes, os guardas 
avançaram em linha contra eles, deixando apenas o companheiro ferido 
como último recurso defensor das mulheres. Ficou claro para todos que 
o trio estranho estava interferindo a favor das vítimas. Com os reforços 
e a confusão que se instalou, era o momento de passarem ao ataque. 
Em poucos segundos, já o trio chegava à margem e se juntava às 
vítimas do ataque traiçoeiro. 
A proximidade dos dois grupos de combatentes já não permitia 
que, tanto atacantes quanto defensores, arremessassem suas lanças de 
ponta de sílex à distância. Se seguissem essa estratégia poderiam correr 
o risco de ficar sem lanças e apenas terem seus escudos e facas de pedra 
cortante para a luta corpo a corpo. Mas não era o caso daquele inédito 
trio. As estranhas armas deles eram algo jamais visto ali. Eram espadas 
de um metal brilhante. Algo assim tão longo de metal seria resistente ao 
ponto de ser usado para atacá-los? A resposta veio rápida assim que as 
três espadas se abateram sobre os escudos e cortaram as lanças ao meio. 
Com agilidade, aqueles três homens, que não tinham os 
movimentos atrapalhados por uma lança, desferiram golpes certeiros e 
inesperados. Logo no primeiro embate, mais três assaltantes foram 
grotescamente perfurados e retalhados pelas lâminas. O efeito daquelas 
armas e a ligeireza de movimentos dos três estranhos foram 
aterrorizantes para os sequestradores de mulheres. O choque e a 
surpresa foram tais que mal conseguiram se opor à investida dos guardas, 
e assim mais três assaltantes foram trespassados pelo sílex das lanças. 
Apenas restava um, precisamente o chefe dos bandidos. Com duas 
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espadas junto ao pescoço e três lanças apontando para a barriga, o 
facínora, com o olhar faiscando de despeito e raiva, jogou lança, escudo 
e faca de sílex no chão. 
A jovem saiu detrás das rochas e foi seguida pelas mulheres. 
Ainda traziam a respiração ofegante e os olhos arregalados pela 
adrenalina. 
– Nobres guerreiros, não temos como lhes agradecer o 
suficiente. Vocês salvaram nossas vidas – a jovem inclinou a cabeça 
numa vênia, se apresentando. – Meu nome é Hatta. 
Pelo silêncio que todos guardaram enquanto a jovem falou se 
confirmava a sua autoridade sobre eles. 
Adama-an entendeu o idioma da jovem. As lições constantes de 
Tanatiareh vinham dando frutos. 
– Senhora, não poderíamos ficar omissos diante deste ataque vil. 
Agradecemos a Deus termos sido instrumentos Dele para sua proteção 
e dos seus. 
Adama-an notou que ela exibiu uma expressão intrigada. Teria 
ele se expressado incorretamente? Mas prosseguiu se apresentando e aos 
dois companheiros. Hatta também apresentou as damas e seus guardas. 
– Senhor, faço questão de que nos acompanhem à nossa 
povoação. O mínimo que posso fazer é convidá-los para celebrarmos a 
vida que nos foi devolvida. Quero que nossas famílias e nosso povo os 
honrem e os convido a permanecerem conosco enquanto desejarem. 
– Aceitaríamos o convite com gratidão. No entanto, devo lhe 
dizer que somos trinta homens no total. Não queremos ser um peso para 
os nossos anfitriões. Os meus homens não estão longe, a uns trezentos 
metros. 
– Homens honrados são sempre bem-vindos. Não posso aceitar 
uma recusa. Por gentileza, chamem seus companheiros. 
Adama-an pediu a Comar-an que fosse chamar os cavaleiros. 
Enquanto isso, uma das mulheres, abraçada a um dos guardas mortos, 
chorava convulsivamente, com as amigas tentando consolá-la. Outras 
duas cuidavam do guerreiro ferido. Os guardas, depois de prenderem 
fortemente com cordas o prisioneiro, despojavam os cadáveres de armas 
e roupas. Todo espólio era bem-vindo. Tanatiareh ajudou-os. A sua 
própria tribo também seguia esses procedimentos após qualquer luta que 
resultasse em mortos. 
Hatta, com os olhos úmidos, falou a Adama-an, apontando com 
o olhar para a moça inconsolável: 
– Estavam de casamento marcado para daqui a duas luas. 
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– Lamento, senhora – disse Adama-an compadecido. – Deus é 
o nosso reconforto. 
– É a segunda vez que você fala do seu Deus sem mencionar o 
Nome Dele. Quem é o seu Deus? 
– O meu Deus é o Deus único. O Nome Dele é indizível. 
– Deus único? Só existe um Deus para vocês? 
– Depois lhe explicarei com tempo, porque não é algo simples. 
– Adama-an, me perdoe a curiosidade. Seu cabelo é vermelho. O 
cabelo do seu companheiro Comar-an é amarelo. Suas peles são tão 
claras e rosadas. Jamais vi algo assim, mas tenho notícia das lendas. 
Vocês pertencem ao Povo Violeta? 
– Assim é, senhora. 
– Pelos deuses, – exclamou Hatta – este será um dia que sempre 
lembrarei, e não apenas porque fomos arrancados das garras de uma 
morte quase certa. Mas também porque estou testemunhando com os 
meus olhos que havia um fundamento para as histórias que se contam 
aqui e ali, nas tendas de muitas tribos e em redor das fogueiras à noite. 
Adama-an assentiu com a cabeça. Ela prosseguiu: 
– Tudo o que as lendas falam do seu Povo Violeta é verdadeiro? 
– Não sei se conheço todas as lendas que você escutou, mas será 
um prazer conversar e corrigir quaisquer imprecisões ou boatos. Peço 
ao Pai invisível que nos conceda a oportunidade de transmitir toda a 
verdade. 
– Pai invisível? – ela fez uma expressão intrigada. 
– Sim, o Deus único – falou ele olhando-a fundo nos olhos. 
– Vamos ter que conversar muito, realmente – ela rematou ainda 
com expressão perplexa. 
Olharam todos para a margem oposta. O grupo de cavaleiros 
saía da floresta e atravessava o rio baixo. As mulheres e os guardas 
ficaram boquiabertos. Jamais haviam visto seres humanos cavalgando. 
Sabiam de regiões por onde perambulavam manadas de cavalos, mas 
nunca pensaram que animais destes pudessem ser domados. 
Assim que o grupo montado alcançou a margem, guardas e 
mulheres recuaram com receio dos cavalos. Como é possível isso, pensaram. 
Pela experiência deles, cavalos eram herbívoros, não agressivos, mas se 
alguém se aproximasse para agarrar um cavalo iria se confrontar com um 
animal perigoso que revidaria quando ameaçado. E isso era assustador, 
porque era um animal de força e peso consideráveis que podia matar um 
ser humano com um único golpe. Um homem que desafiasse um cavalo 
para medir forças e dominá-lo seria varrido quase como uma folha ao 
vento. Na mente deles, só havia um confronto possível com cavalos, que 
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era os homens estarem armados com arcos, flechas e lanças e matarem 
o animal para comê-lo. Com certeza não eram como as tranquilas e 
pachorrentas ovelhas, vacas, porcos, galinhas e outros animais que 
algumas tribos mantinham domesticados em suas aldeias. 
Hatta, supersticiosamente, pensou se seria o tal Deus de Adama-
an que dera poder àqueles homens para domarem e montarem cavalos, 
e se também fora esse mesmo Deus sem nome que dera àqueles homens 
estranhos de cabelos e pele claros aquelas lâminas tão destruidoras. E os 
olhos deles? Isso era o mais raro de tudo, olhos de tonalidades próximas 
ao céu, aos rios e ao mar Cáspio, o qual ela já tivera a oportunidade de 
ver umas poucas vezes. Talvez seja mesmo um deus do céu ou um deus do mar 
que os colocou na Terra, pensou Hatta. 
Os guerreiros do Povo Violeta já estavam habituados às reações 
supersticiosas das tribos em relação aos cavalos que montavam. Em 
todos os aspectos e sempre que possível, usavam isso em seu favor, para 
sua própria proteção. 
Adama-an montou seu cavalo. Estendeu a mão para Hatta. 
– Senhora... 
Hatta percebeu a intenção de Adama-an em içá-la. Foi apanhada 
de surpresa. Hesitou, quase recuou. Mas, em uma fração de segundo, 
processou mentalmente que todos aqueles homens estavam 
tranquilamente montados nos animais, inclusive até mesmo Tanatiareh, 
que era da mesma mistura de raças que a sua tribo. E ela era a autoridade 
no seu grupo. Não ia dar parte de fraca. Agarrou com determinação a

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