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Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 1 INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA O hemograma é o exame mais solicitado na prática médica, sendo ele um conjunto de testes para análise das células hematopoéticas (eritrócitos, leucócitos e plaquetas). Sua análise deve ser realizada de forma individual. De forma natural, as mulheres podem apresentar um hemograma alterado. O eritrograma é parte do exame que analisa os eritrócitos. Os glóbulos vermelhos são sintetizados na medula óssea, cujo precursor mais imaturo é o pró-eritroblásto, seguindo até as hemácias. Antes das hemácias podemos encontrar os reticulócitos na corrente sanguínea, sendo uma célula sem núcleo semelhante as hemácias (precursores das hemácias). No eritrograma observamos também a contagem de eritrócitos por mm³. Vale lembrar que há uma diferença quando comparamos ambos os sexos quanto ao valor de referência. Na anemia esse índice não é o melhor para avaliar a tal patologia. Normalmente, pacientes anêmicos apresentam a contagem de eritrócitos abaixo do valor de referência, mas isso não é regra, sobretudo em pacientes com talassemia que apresentam contagem normal. Tanto o reticulócito, quanto a hemoglobina são células anucleadas que contém em seu interior uma molécula de hemoglobina, a qual é fundamental para o transporte de oxigênio para os tecidos. Sua contagem é fundamento, haja vista que é um índice bastante importante para determinar se um paciente apresenta ou não anemia. Valores de hemoglobina abaixo desse valor de referência caracteriza-se a anemia, enquanto valores acimas caracteriza-se poliglobulia. O hematócrito é uma razão entre o volume ocupado pelos eritrócitos e o volume ocupado pelo sangue capilar. Ht: Eritrócitos x VCM/10. Valores abaixo do valor de referência pode traduzir uma anemia ou uma hemodiluição, enquanto valores acima traduz uma policitemia ou desidratação. O VCM é o volume corpuscular médio – medida do volume de eritrócitos (macrocítico ou microcítico) – variando de 80 a 96fl. Valores maiores que essa referência corresponde a presença de hemácias macrocíticas (aglutinação de hemácias – aumento de proteínas no ERITROGRAMA Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 2 sangue, ou na reticulocitose). Enquanto o valor está abaixo da referência temos hemácias microcíticas (alteração na síntese de hemoglobina). A hemoglobina corpuscular média (HCM) traduz a média da quantidade de hemoglobina – 27 a 31 pg. HCM: Hb X 10/eritrócitos. A concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) hemoglobina por volume globular (hipercrômica ou hipocrômica – a cor da hemácia) – 32 a 36 g/dl. CHCM: Hb X 100/Ht. Ela traduz a cor do eritrócito, por causa da molécula de ferro. Quando há uma redução do conteúdo do eritrócito podemos dizer que estamos diante de hemácias hipocrômicas, enquanto as hemácias hipercrômicas há uma redução de seu volume. As principais causas de alterações nesse índice são o esferocitoma (perda de espaço ou matriz celular pela hemácia, concentrando Hb em um menor espaço, sem haver aumento da síntese) e na anemia falciforme (desconfiguração do citoesqueleto). O índice de anisiocitose (RDW) que varia de 11 a 14,5%. Ele serve para traduzir a variação de tamanho dos eritrócitos. A elevação do RDW se dá quando há defeitos na maturação dos eritrócitos ou na fragmentação eritrocitária (anemias carenciais). As principais causas que altera esse parâmetro são: anemia ferropriva (aumento do grau de anisiocitose – grau alto de variação ou RDW), igualmente em anemia falciforme. Por outro lado, no traço talssêmico (deficiência na produção da cadeia beta da hemoglobulina). Desse modo, um paciente com uma anemia hipocrômica de RDW não é anemia ferropriva. LEMBRAR QUE NO HEMOGRAMA COMUM O CHCM NÃO VEM CALCULADO! Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 3 ANEMIAS – CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA A classificação morfológica da anemia (valor de hemoglobina abaixo do normal) é dada através da análise dos índices: VCM (micro ou macrocíticas), CHCM (hipo ou hipercrômicas) e RDW. A molécula de hemoglobina é formada por 4 cadeias de globina (2 cadeias alfa e 2 não alfa), para cada cadeia de globina possui um grupo heme que é formado por uma molécula de ferro + um anel pirrólico. ANEMIA MICROCÍTICA/HIPOCRÔMICA As anemias microcíticas e hipocrômicas (valores baixos tanto de VCM e CHCM), ocorrem quando há disfunção na síntese da molécula de hemoglobina. (1) Quando não há uma boa disponibilidade de ferro (não forma o grupo heme). (Anemias ferroprivas, anemias de doenças crônicas – dificuldade de utilizar o ferro circulante ou absorver o ferro no intestino; e na deficiência de cobre – redução da disponibilidade de ferro). (2) alteração na síntese do grupamento heme (intoxicação por chumbo ou anemia sideroblástica – congênita ou adquirida). (3) diminuição das cadeias de globina (talassemias). Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 4 ANEMIA NORMOCÍTICA/NORMOCRÔMICA Caracteriza-se quando apresenta cor normal e tamanho normal. A primeira causa ocorre quando estamos diante da fase inicial da anemia carencial (deficiência de ferro, B12 ou folato) sem que haja a alteração da síntese de hemoglobina morfológica. A segunda causa ocorre quando estamos diante de uma anemia carencial mista (deficiência de ferro –microcitose - e B12 ou ácido fólico - macrocitose). Quando se estabelece a média através do VCM temos uma anemia normo/normo. A terceira causa desse tipo de anemia é a presença de anemia de doença crônica (insuficiência renal – redução de EPO) e anemia por infiltração medular. ANEMIA MACROCÍTICA/NORMOCRÔMICAS Anemias com cor normal e tamanho aumentado. Na presença de reticulocitose temos esse tipo de anemia (anemia hemolítica ou hemorragias). Também no metabolismo anormal dos ácidos nucleicos (anemia megaloblástica – redução de B12 ou ácido fólico). E, por firm, quando há alteração do processo de maturação (mielodisplasia). PASSO A PASSOA DA INTERPRETAÇÃO DO ERITROGRAMA (ANEMIAS): 1. ANALISAR A QUANTIDADE DE HEMOGLOBINA (ANEMIA OU POLICITEMIA) 2. ANALISAR O VCM (MICRO OU MACROCÍTICA) 3. ANALISAR O CHCM (HIPO OU HIPERCRÔMICA) Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 5 CONTAGEM DE RETICULÓCITOS Quando estamos diante de um caso de anemia devemos solicitar a quantidade de reticulócitos (lembrar que a solicitação deve ser a parte). Esse exame serve para complementar o hemograma. Os reticulócitos são hemácias jovens sendo os primeiros a não possuírem núcleo em seu interior. Além disso, ele é composto por RNA basofílico que pode identificado através do esfregaço de sangue periférico. O reticulócito presente em valores aumentados durante uma anemia traduz que a medula desse indivíduo está normal ou funciona adequadamente. Isso porque o organismo desse indivíduo entende que há uma baixa concentração de eritrócitos e envia estímulos a fim de aumentar essa concentração (resposta esperada - reticulocitose). Esta resposta normal do número de reticulócitos aparece apenas em dois tipos de anemias: (1) anemias hemolíticas e (2) anemia por hemorragia aguda, pois são entidades que não apresentam mecanismos diretos sobre a medula óssea. Por outro lado, quando a contagem de reticulócitos está abaixo do esperado nos diz que a medula desse indivíduo não está respondendo bem (falta de substrato, falta de estímulo ou por infiltração medular). O valor de referência em porcentagem é de 0,5-2%, sendo que seu valor absoluto pode variar entre 40.000-100.000. Através da contagem de reticulócitos obtemos dois tipos de anemias: (1) hipoproliferativas – carenciais e distúrbios medulares; (2) hiperproliferativas – hemolítica ou sangramentos. Parapodermos classificar devemos corrigir o valor de reticulócitos presente no exame. A primeira correção é denominada de: Índice de Reticulócitos Corrigido (IRC) = Ht/(mulher 40, homem 45) x %retic ou Hb/15 x %retic. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 6 Em situações em que estamos diante de uma anemia hemolítica moderada a grave os níveis de EPO estão elevados, induzindo um aumento significativo do número de reticulócitos. Essas células caem na corrente sanguínea e apresenta um tempo de meia-vida de 2 dias. A segunda correção, denominada de índice reiculocitário, nada mais é do que o cálculo que permite a avaliação diária da produção de reticulócitos. O Índice reticulocitário refere ao valor do IRC/fator de correção (a cada 10% abaixo do valor de referência de Ht aumentamos 0,5. Sendo assim, homem com Ht de 45% dividimos por 1, Ht 35-45% = 1,5, e assim por diante). ESFREGAÇO DE SANGUE PERIFÉRICO O esfregaço de sangue periférico é um complemento do hemograma que permite ao examinador avaliar vários componentes tanto da série vermelha do sangue, quanto a série branca. Essa análise consiste de forma manual através da observação diretamente através de um microscópio, permitindo analisar os parâmetros: (1) tamanho dos eritrócitos; (2) a cromia dos eritrócitos – quantidade de pigmentação; (3) o grau de anisiocitose – grau de variação do tamanho das células; (4) poiquilocitose – formato variado e bizarro das hemácias que é bastante sugestivo em algumas doenças; (5) presença de inclusões citoplasmáticas; (6) alterações nas plaquetas e leucócitos. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 7 •Classificação morfológica: VCM, CHCM e RDW. •Classificação fisiológica: reticulócitos •Esfregaço de sangue periférico •Contagem de leucócitos e plaquetas. ANEMIA •Contagem de leucócitos e plaquetas.POLICITEMIA RESUMO DO ERITROGRAMA Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 8 O leucograma é parte do hemograma voltada para análise da série branca do sangue, a qual contém os glóbulos brancos. Esses glóbulos são fundamentais para que o organismo tenha um sistema imunológico eficiente, sendo que eles podem agir diretamente contra algum patógeno (neutrófilos, linfócito T citotóxico e células NK), ou de forma indireta na produção de anticorpos (linfócitos B). Para fins práticos os leucócitos são classificados como: polimorfonucleares (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e mononucleares (monócitos e linfócitos). Quando estamos diante de alterações na sua quantidade devemos compreender o que está acontecendo para que o organismo responda de tal maneira. Sendo assim, vamos analisar: Capacidade de produção de leucócitos pela medula óssea; Se há causa evidente para tal alteração (neoplasia, trauma, patógeno ou processo inflamatório crônico). LEUCOGRAMA Os valores relativos de leucócitos nunca devem ser observados sozinhos; é preciso analisar, também, os absolutos, pois valores relativos podem levar a erros de interpretação. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 9 LEUCOCITOSE Consiste no aumento da contagem de leucócitos às custas de uma única linhagem, totalizando um valor acima de 11.000 mm³. A leucocitose é esperada quando o paciente foi submetido a uma esplenectomia, estresse emocional, anemias hemolíticas (falciforme ou auto- imune), e nas leucemias agudas e crônicas. Desse modo, temos alguns conceitos importantes: como neutrofilia e desvio à esquerda. A neutrofilia (soma dos segmentados com os bastonetes) nada mais é do que o aumento de neutrófilos detectados pelo simples hemograma o qual reflete apenas a quantidade ou pool circulante no sangue. Ela surge quanto a quantidade de neutrófilos ultrapassa 7.000/mm³, podendo apresentar causas primárias ou secundárias (reacional). As causas primárias são as doenças mieloproliferativas crônicas, enquanto as secundárias são o tabagismo, processo infeccioso crônico, liberação de citocinas, estresse (físico ou metabólico) e por uso de medicamentos. Quanto ao desvio à esquerda consiste em um conceito que traduz uma reação hiperproliferativa que está ocorrendo no organismo, normalmente é uma resposta esperada para que o sistema imune contenha o patógeno, sobretudo quando este são bactérias. Desse modo, haverá uma quantidade significativa de formas jovens de leucócitos na corrente sanguínea, principalmente o aumento significativo do número de bastonetes (maior que 700/mm³). Não há o “hiato leucêmico”: presença de aumento de células leucêmicas (blastos) sem outras células imaturas intermediárias (mielócitos, metamielócitos). Além disso, outros conceitos são importantes na interpretação do leucograma, tais como: (1) reação leucemoide que consiste no aumento acentuada de neutrófilos, acima de 50.000/mm³, sendo um processo benigno; (2) desvio à direita que é um aumento de segmentação dos leucócitos, presente na anemia megaloblástica; (3) reação leucoeritroblástica que consiste na presença de leucócitos imaturos e eritrócitos imaturos presentes na corrente sanguínea, presente na presença de hemorragias, hemólise intensa e na infiltração medular; (4) granulações tóxicas consiste na presença de granulações grosseiras presentes em processos infecciosos bacterianos e processos inflamatórios agudos. LINFOCITOSE Consiste no aumento da contagem de linfócitos acima de 4.000/mm³ para indivíduos acima dos 12 anos. Quando estamos diante de um caso de aumento de linfócitos o primeiro raciocínio deve ser investigado infecções virais. Um organismo diante de um processo Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 10 infeccioso viral pode apresentar uma contagem de linfócitos acima de 100.000, principalmente crianças. Por outro lado, algumas infecções bacterianas podem mimetizar esse aumento de linfócitos (pertusis, sífilis e tuberculose). Quando for persistente, mais que 3 semanas, devemos pensar em doenças linfoproliferativas crônicas. A linfocitose também pode ser causada por reação a medicamentos (hipersensibilidade), situações de estresse, tabagismo e pós-esplenectomia. PLASMOCITOSE Quando estamos diante da presença de plasmócitos no sangue periférico sempre devemos considerar algo patológico. Além disso, pode ser reacional a uma infecção aguda intensa, medicamentos, imunização, doenças imunes ou neoplasias. MONOCITOSE Consiste no aumento do número de monócitos os quais são células fagocíticas eficientes no combate a fungos, vírus e parasitas. A monicitose é definida quando temos uma contagem acima de 800/mm³. A monocitose pode ser reacional (gestação, recém-nascido, asplenia, doenças granulomatosas, doenças infecciosas e doenças inflamatórias crônicas), ou pode ser clonal (mieloproliferação crônica e na leucemia mieloide aguda). EOSINOFILIA Consiste no aumento da contagem de eosinófilos, acima de 500/mm³. Suas causas podem ser primárias (doenças hematológicas hiperproliferativas) ou secundária, mais comum, presença de quadros alérgicos, reação às drogas, infecção parasitária, doenças cutâneas, infecção fúngicas, deficiência de corticoide e associação com linfomas. BASOFILIA Aumento na contagem de basófilos, acima de 200/mm³, causada por doenças mieloproliferativas, processos inflamatórios ou alérgico e endocrinopatias. LEUCOPENIA Consiste na baixa quantidade de leucócitos levando em consideração a idade e raça do indivíduo. Cabe destacar que os indivíduos da raça negra apresentam um número mais baixo de leucócitos circulantes. MNEMÔNICO DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE EOSINOFILIA CHINA: C – Colagenoses; H – Helmintos; I – Idiopática (formas primárias); N – Neoplasias; A – Alergias/Adrenal (insuficiência). Matheus dos Santos CorreiaUniFG – Medicina (Interpretação do Hemograma) 11 As principais causas que envolvem a leucopenia são: (1) baixa produção na medula óssea; (2) elevada utilização de leucócitos; (3) marginalização do pool circulante (normalmente ocorre quando as células leucocitárias são mais pesadas. Para realizarmos o diagnóstico diferencial de um indivíduo com essa suspeita, devemos solicitar que antes do exame o paciente faça uma caminhada, pois essa diminui o pool marginal); (4) sequestro esplênico. NEUTROPENIA A neutropenia é uma condição na qual temos um valor abaixo de 1.500/mm³, podendo ser estratificada em leve (1000-1500), moderada (500-1000) e grave (<500). A diminuição da síntese de leucócitos pode levar a uma neutropenia, sendo ela causada por doenças medulares (aplasia, leucemia, infiltração por linfoma ou neoplasias), pela supressão das células percussoras de granulócitos (quimioterápicos, dipirona, clorafenicol, sulfas, clorpromazina e agrotóxicos) e deficiências de cobre, B12 e folato. O consumo e destruição dos leucócitos pode induzir uma neutropenia. Essa está relacionada com quadros infecciosos por certos agentes bacterianos (febre tifoide, tuberculose, alguns vírus e fungos), doenças imunes e sequestro esplênico. Existem vários achados na neutropenia, para tanto o raciocínio clínico deve se basear na história clínica, no exame físico e outros achados no hemograma. Na suspeita de doença medular, deve-se analisar o mielograma e a biópsia da medula óssea. LINFOPENIA A linfopenia ocorre quando temos baixa na quantidade de linfócitos, contagem abaixo de 1000/mm³ que varia de acordo com sexo, idade e raça. As principais causas são: (1) baixa na produção linfocitária (destruição energético-proteica, mais comum, imunodeficiência e deficiência de zinco. (2) aumento na destruição linfocitária (quimioterapia, radioterapia, quadro inflamatório crônico, infecções virais e algumas síndromes); (3) redistribuição linfocitária (na presença de eventos estressantes – infecções, grande queimado, trauma, resposta aos corticoides); (4) mecanismo incerto (doença Hodgkin, insuficiência renal e câncer).
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