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A h is tó ria d a ci vi liz aç ão o ci de nt al e m tr ês te m po s Sociedade e Cotemporaneidade 60 www.ulbra.br/ead Pensarmos a sociedade em suas três fases, é pensar- mos no passado enquato força para uma perspectiva da realidade presente. A maior parte do mundo apresenta esta família contemporâ- nea, já que a maior parte das pessoas do mundo não possui condições materiais de existência dignas. Pensem a respeito. E, para compreender- mos a realidade pre- sente temos que nos reportar à realidade do passado. A HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL EM TRÊS TEMPOS Nesta parte de nossos estudos, vamos trabalhar com uma breve abordagem dos elementos que constituem a socie- dade antiga, a sociedade moderna e a sociedade contemporânea. É impor- tante compreendermos como ocorreu o processo de formação e evolução da nossa sociedade por- que as bases da sociedade Por Prof.(a) Maria Clara Ramos Nery do presente foram plantadas no passado. A ex- periência e a história ensinam que somos resul- tado das influências pre- gressas, e, assim como trouxemos para os dias de hoje, carregaremos para o futuro as marcas do passado e do presen- te. Para projetarmos o futuro, portanto, faz-se necessário entender o passado e o presente. Sociedade Antiga A sociedade antiga é, em todas as suas for-mas, pré-capitalista, Isto é, o modo de produção vigente assumiu formas an- teriores ao capitalismo, que nasce com as revo- luções Comercial e Industrial. Sociedades com essas características sobreviveram por séculos, assentadas sob império da tradição, da família, da propriedade, da religião e da produção extra- tivista da natureza, num primeiro momento, e depois da agricultura, da pecuária e do trabalho artesanal. Se observarmos as diferentes que existiram no passado com essas características, nos veri- ficaremos que os vínculos sociais se davam por semelhança. Os indivíduos e grupos viviam em comunidade e isto significa dizer que a persona- lidade individual era fundamentalmente influen- ciada por interesses da vida prática e da vida so- cial nos círculos de relacionamento familiar e da aldeia. A base dessas sociedades era a comunida- de, que se estruturavam em torno de famílias e aldeias. Por isso, a visão de homem e de mun- do por parte dos indivíduos não estava baseada numa concepção individualista, mas sim numa visão que podemos denominar de comunitária, pois é o vínculo com a comunidade que possui valor preponderante. Fo nt e 1 : W iki pe di a 60 A h is tó ria d a ci vi liz aç ão o ci de nt al e m tr ês te m po s Sociedade e Contemporaneidade 61 www.ulbra.br/ead Neste contexto, a vontade individual cede lugar à vontade do coletivo, devido aos vínculos de dependência dos indivíduos em relação aos círculos comunitários, pois a liberdade pesso- al encontra-se constrangida pelo imperativo da defesa e da sobrevivência, mais fácil no seio do grupo. Na sociedade antiga o misticismo religioso se sobrepõe à racionalidade, pois a relação com os deuses exerce papel de elemento coesionador das condutas moral e, ao mesmo tempo, de fator justificador da ordem social, e, como conseqü- ência, sustentáculo do poder. Tratam-se, portan- to, de sociedades teocêntricas, isto é, nas quais a religião apresenta-se como única fonte justi- ficadora para a existência individual e coletiva. É no contexto desta sociedade que, no período da chamada Idade Média, que vai da decadência do Império Romano até à formação do Estado Absolutista, que a Igreja Católica detém o poder cultural e formula as justificativas ideológicas para a ordem social dessa época. É a Igreja quem prescreve todo o arcabouço de valores morais e éticos aceitos socialmente. Essa era, também, uma sociedade na qual havia baixa estratificação social do trabalho, ou seja, um baixo índice de especialização, assim como das hierarquias so- ciais e de poder. Se observarmos as regras jurídicas vigentes na sociedade antiga, constataremos a predomi- nância do direito penal, de caráter repressivo e restitutivo, através do qual o indivíduo castigado por determinação jurídica, é penalizado com a obrigação de restituir à sociedade os danos que a ela causou. Durkheim1 classificaria a sociedade anti- ga como uma sociedade que se caracteriza pela solidariedade mecânica, ou seja, os vínculos so- ciais se faziam como uma engrenagem, na medi- A aldeia A base da sociedade, no contexto das sociedades regidas pela solidariedade mecânica era justamente a comunidade, a aldeia. a vida do homem no mundo sobre ela girava. Fo nt e 5 : A rq ui vo U lb ra Ea d O muro das lamentações para aplacar as principais e fundamentais angústias humanas, deno- tando o próprio misticismo presente nas sociedades antigas e contemporâneas. Fo nt e 3 : W iki pe di a Na sociedade antiga a vida do homem seguia um curso previsível, era uma sociedade simples onde tudo parecia estar em seu lugar, enfim a vida do ho- mem era uma vida simples dentro das previsibilida- des da realidade concreta, do mundo real. Fo nt e 2 : S to ck .X ch ng ® Nas sociedades an- tigas a estátua da justi- ça não se encontrava tão curvada assim. No contexto das sociedades con- temporâneas a jus- tiça se curva diante da injus- tiça da realidade material e concreta dos homens, deixando cair a sua espada. Fonte 4: Arquivo Ulbra Ead A h is tó ria d a ci vi liz aç ão o ci de nt al e m tr ês te m po s Sociedade e Cotemporaneidade 62 www.ulbra.br/ead formações. A base do sistema de produção era a agricul- tura, a percepção da passagem do tempo estava associada aos ciclos da natureza, e, como conse- qüência, os ciclos de mudança também não era abruptos. Na sociedade antiga a vida do homem seguia um curso previsível, era uma sociedade simples onde tudo parecia estar em seu lugar, enfim a vida do homem era uma vida simples dentro das previ- sibilidades da realidade concreta, do mundo real. A vida dependente da agricultura pressupõe a fixação dos indivíduos e das comunidades na base territorial como condição para a sobrevi- vência, e ao mesmo tempo, os sólidos vínculos familiares multigeracionais como condição para a produtividade do trabalho nas unidades de produção rural ou artesanal. A estabilidade por longos períodos era garantida pelo papel que a tradição exercia como fator coesionador do sis- tema social. Fo nt e 6 : S to ck .X gn h® A agricultura A agricultura era a força motriz das relações de produ- ção, era fundamentalmente uma sociedade simples e suas relações sociais também podem ser consideradas simples, na medida em que a complexidade das relações econômicas não estava presente. da em que as instituições sociais se relacionavam de forma interdependente, de maneira que uma engrenagem levava ao funcionamento de outra. A sociedade antiga, então, era uma sociedade sim- ples, na qual não havia grandes e rápidas trans- Sociedade moderna A sociedade moderna tem início com a re-volução Comercial e o ressurgimento do fenômeno urbano, que havia sido extinto no período medieval, que ocupou cerca de mil anos da história da humanidade. A partir desse momento, e, especialmente a partir da revolução Industrial, constata-se caracteriza uma crescente complexidade nas relações sociais que vão sur- gindo como conseqüência do desenvolvimento e consolidação do capitalismo. Nas sociedades capitalistas os vínculos so- No contexto das sociedades modernas a vida humana, a vida do homem no mundo se complexifica Fo nt e 7 : A rq ui vo U lb ra Ea d ciais se estabelecem pela diferença; a tradição, os usos e os costumes cedem lugar a uma concepção individualista de homem e de mundo e no qual a Igreja não mais detém o controle do conheci- 62 A h is tó ria d a ci vi liz aç ão o ci de nt al e m tr ês te m po s Sociedade e Contemporaneidade 63 www.ulbra.br/ead mento e da cultura, e, muito menos, da produçãoideológica. Trata-se de uma sociedade na qual há uma sofisticada estratificação social e das hierarquias de poder, uma elevada divisão so- cial do trabalho e de especialização. Por esta razão, a base dos vínculos sociais tem origem na diferença e na semelhança como ocorria nas socie- dades antigas. O direito, no contexto desta sociedade, evolui de um sistema repressivo e restituti- vo, para um sistema contratualista e resti- tutivo, no qual os indivíduos restituem a outros indivíduos os danos even- tualmente causados, pois a função do direito restitutivo é de não es- tabelecer a punição das condutas que se desviam do determinado socialmente, e sim, é reparató- ria. Ou seja, busca-se impor a reparação dos prejuízos que são causados pelo próprio des- cumprimento das obrigações de caráter profissional ou de caráter social.2 Este aspecto é importante, na me- dida em que a sociedade se caracteriza por uma concepção individualista de homem e de mundo. Nesta sociedade não restituímos mais à mesma socie- dade, e sim ao outro, os danos cau- sados. Por essa razão, predominam o direito civil e do direito comercial sobre a regulação dos conflitos, se pensamos bem a presença da pes- soa física e da pessoa jurí- dica. Na sociedade moderna surge o processo de secula- rização. Portanto, a racio- nalidade que o acompanha não elimina a religião como estrutura de explicação e justificativa para a ordem social, mas remete-a para a esfera privada que envolve os valores individuais. A adesão a esse sistema de crenças e valores morais de natureza re- ligiosa, então, é agora pertinente aos indivíduos, à família e às relações sociais dos círculos próximos, portanto. No contexto das sociedades com- plexas o direito assume novas for- mas. diante de uma sociedade mar- cada pelo in- dividualismo podemos dizer que também o direito se indivi- dualiza. F on te 8 : W iki pe di a A h is tó ria d a ci vi liz aç ão o ci de nt al e m tr ês te m po s Sociedade e Cotemporaneidade 64 www.ulbra.br/ead Falar em modernidade e nos fatores determi- nantes da constituição da sociedade moderna, é falar, em essência, no predomínio da razão sobre as crenças e sobre a tradição. É circunscrever-se às determinações da razão, da previsibilidade da ciência e do progresso em combate às tradições, ao misticismo e à irracionalidade. A sociedade moderna é o próprio rompi- mento com a tradição, isto é, com uma visão sacra do homem e do mundo, visto tratar-se de uma sociedade que assume a afirmação de valo- res considerados profanos, tais como a ambição, o lucro, o dinheiro e a riqueza. É, também, uma sociedade antropocêntrica, que se confronta com as tradições religiosas elaborando novos signifi- cados, novas narrativas, novos efeitos de sentido, novos discursos, novas representações. Instaura-se na era moderna, uma visão po- sitiva da ciência. A fé leiga na universalidade da razão humana e o otimismo no progresso, que se constitui numa nova estrutura de explica- ção e justificativa para a ordem so- cial. Surge, com a proeminência da razão, na sociedade moderna, uma diferenciação do saber especializado em relação ao saber do senso co- mum; do saber científico e da racionalidade das lógicas cau- sais; enfim, emergem a razão e o saber cientifico, alicerçados na ideologia do progresso, como molas propulsoras do desenvolvimento social. O progresso, dessa for- ma, constitui-se como um valor em si mesmo, e como um moto contínuo no qual o progresso gera sempre a cada vez mais, progresso. A racionalidade e a conseqüente fé no pro- gresso, elaborados no contexto das sociedades modernas, produzem um acentuado crescimento econômico, e, da mesma forma, um acentuado subdesenvolvimento social, como nos diria We- ber3. As sociedades capitalistas industriais mo- dernas encontram-se orientadas para o consumo de massa. Segundo Gadea4, trabalhar com as formas como as pessoas pensam e definem suas respec- tivas situações vitais e conseqüentes concepções da ordem social, é fundamental para a organiza- ção do raciocínio analítico e científico sobre o social. No contexto das sociedades modernas, portanto a forma de como se percebe a passagem do tempo parte da sensação de linearidade, ou seja, como se a humanidade vivesse uma marcha inexorável do passado em direção a um futuro melhor e mais desenvolvido, como se houvesse um destino pré-estabelecido dirigir a vida da so- ciedade humana. A orientação temporal das condutas indivi- duais e sociais na relação com a idéia de futuro melhor, liga-se à idéia de progresso como um elemento fundamental da equação capitalista e, ao mesmo tempo, assenta-se sobre as raízes profundas do imaginário cristão que, define, na relação dos indivíduos com o transcendente e com o divino, a idéia de um paraíso como desti- no futuro e ideal, ao que estamos predestinados por desígnio de Deus. O predomínio da razão que se manifesta como conseqüência da dinâ- mica histórica e social, encontra um caminho de Na sociedade moderna o individualismo encontra- se presente, sendo força motriz de uma nova concepção de homem e de mundo. A crença no progresso da ciência, tornou-se na modernidade a fonte explica- tiva de nosso estar no mundo. a ciência estabelecia uma nova estrutura de plau- sibilidade do mundo, de uma visão teocentrica(deus como fonte explicativa), pas- samos no contexto das sociedades moderna para uma visão antropocêntrica(o homem como fonte explicativa) do homem e do mundo. Fo nt e 1 0: S to ck .X ch ng ® Fo nt e 9 : A rq ui vo U lb ra Ea d 64 A h is tó ria d a ci vi liz aç ão o ci de nt al e m tr ês te m po s Sociedade e Contemporaneidade 65 www.ulbra.br/ead coerência subliminar entre religião e razão, e na relação com o caminho para a felicidade. Há, nesse sentido, na modernidade, uma con- cepção ascética, de caráter disciplinador das condutas humanas morais e em relação ao tra- balho. No que tange à organização social, surge uma nova relação entre o indivíduo e a socieda- de, que se manifesta na forma como indivíduos e grupos representam sua realidade vivenciada no âmbito imaginário. Segundo Gadea5, a ordem social prioriza a igualdade, homogeneização e massifica as con- dutas, o minimiza ou desconhece às diferenças. Os chamados vínculos coesionadores do sub- sistema social, impera a funcionalidade, isto é, o papel de cada uma nas organizações e hierar- quias às quais o indivíduo se liga. No que diz respeito aos princípios de legitimação da realidade, encontramos os de- nominados meta-relatos ex- plicativos da realidade; e, na relação mundo-pessoa temos a priorização do sujeito univer- sal e da universalidade que se coaduna com o processo de ho- mogeneização e padronização, típicos do sistema de produção de massas das mercadorias in- dustriais. Sob a ótica de Durkheim6, a sociedade mo- derna é uma sociedade que se rege, então, pela solidariedade orgânica. Ou seja, é um sistema no qual cada as partes são autônomas em suas funções como engrenagens do todo, mas, devi- do à alta especialização das funções na divisão do trabalho, cada parte dependente de outra parte como condição de sobrevivência e acesso aos bens e serviços sofisticados e somente aces- síveis no mercado. Como sistema social, trata-se de uma so- ciedade complexa, complexidade esta que foi desencadeada pelo modo capitalista de produ- ção, ao mesmo tempo em que, com este modo de produção agudizaram-se as contradições econômicas, refletidas nos contextos, social, político e cultural. A Sociedade contemporânea A sociedade contemporânea apresenta características próprias. Podemos di-zer que nela encontram-se envolvidas características típicas da sociedade antiga e da sociedade moderna, simultâneas às característi- cas próprias da sociedade contemporânea. Nesse sentido ela é, ao mesmo tempo “extensão” e rup- tura em relação à sociedade moderna. O sistema econômicovigente segue sendo o capitalismo, mas, trata-se der um capitalismo de novo tipo. Encontramos, na sociedade contemporânea, alguns traços das sociedades antiga e moderna, mas com acréscimos ou, até mesmo, com “inver- sões”. Trata-se de uma sociedade plural, comple- xa, globalizada e excludente. Na sociedade contemporânea não encontra- mos o papel da razão humana sofre um desloca- No contexto da sociedade conteporânea, da sociedade da in- formação e diretriz fundamental se pauta pelo consumo de massa. Fo nt e 1 1: S to ck .X ch ng ® A h is tó ria d a ci vi liz aç ão o ci de nt al e m tr ês te m po s Sociedade e Cotemporaneidade 66 www.ulbra.br/ead mento, pois, em muitos casos, as ações humanas orientam-se pela “desrazão”. O 11 de setembro, nesse sentido demarca esse traço de “irracional” e, ao mesmo tempo, é um exemplo evidente da convivência contraditória de três tempos histó- ricos. A estética e retórica dos guerreiros medievais da Al Qaeda, atiram-se sobre o vácuo de poder deixado pelo fim da URSS e seu contra- ponto, hoje inexistente, com poder conquistado pelos EUA após a Segun- da Guerra Mundial, recorrendo às tecnologias e estratégias tecnológicas da sociedade pós-in- dustrial como armas da guerra terrorista contra o “grande satã” norte-americano e seu poderio hegemônico sobre a nova arena global. Esses são traços característicos de uma sociedade de des- continuidades, incertezas e conflitos. Segundo Martelli, “O pós-moderno, a nos- so ver, é exatamente isto: a re-interpretação de significados e símbolos presentes tanto na tra- dição como na modernidade e até no arcaico, mas de maneira seletiva e mediata, sem ilusões sobre a existência de atalhos míticos em direção ao ‘paraíso perdido’ e guiada pela inten- ção de formar a vida cotidiana mais dotada de sentido.”7 O que podemos depreender desta afirmação de Martelli? Que a sociedade contemporânea, em seu “jeito de ser”, envolve elementos do passado, reinterpreta o presente e não considera o futuro, pois o homem contemporâneo encontra-se no universo do aqui e do agora, sendo imediatista em suas ações, imediatismo este que encontra- mos presente no campo social, político, econô- mico e cultural. As relações sociais se tornaram mais com- plexas no contexto da contemporaneidade, na medida em que também se complexificaram as representações sociais, que envolvem complexas misturas de elementos do passado, provenientes da sociedade antiga e da sociedade moderna, to- das reinscritas e reconfiguradas sob as múltiplas molduras da contemporaneidade. Vivemos na sociedade dos símbolos. Expe- rienciamos, como indivíduos contemporâneos, a implosão dos sentidos e o surgimento de novas representações que são marcadas pela ambiva- lência. Segundo Bauman8, isso significa que a linguagem não traduz mais, adequadamente, a No contexto da contemporaneidade estamos vivencian- do a era da informação, onde o mundo humano rege-se pelas determinações de uma sociedade informatizada, globalizada e marcadamente excludente. A complexidade do mundo humano é uma constante. Fo nt e 1 4: W iki pe di a No contexto da sociedade contempo- rânea, da sociedade da informação tudo encontra-se no espaço do transitório, gerando dificuldades do homem contemporâneo esta- belecer vínculos consis- tentes com o outro, com a natureza e até mesmo com a sua realidade. Fo nt e 1 3: A rq ui vo U lb ra Ea d Fo nt e 1 2: S to ck .X ch ng ® 66 A h is tó ria d a ci vi liz aç ão o ci de nt al e m tr ês te m po s Sociedade e Contemporaneidade 67 www.ulbra.br/ead Fo nt e 1 5: A rq ui vo U lb ra Ea d instaura na sociedade moderna, e se converte em hiper-especialização, com o grau mais sofistica- do das novas formas da divisão social do traba- lho. As formas pelas quais o sistema de repre- sentação política respondia aos anseios da socie- dade estão desacreditadas e incapazes de exercer a função de canal de realização dos anseios da sociedade. A sociedade cobra modificações radi- cais no sistema de representatividade, no sentido de que ele venha a cumprir o seu papel. As tecnologias da informação e da comu- nicação eletrônica permitem a compressão, ou supressão, da relação tempo/espaço, e a ruptura com concepção moderna de relação linear com o tempo. Em termos da informação, estamos experimentando profundas alterações em vários aspectos de nossas vidas. Giddens afirma que: muitos aspectos de nosso cotidiano, por exemplo, agora envolvem interações com sistemas automatizados e computadores, em vez de seres humanos. As mensagens eletrônicas escritas e sonoras estão subs- tituindo as cartas e os telefonemas, o co- mércio eletrônico ameaça ultrapassar a freqüência às lojas, o número de caixas bancários eletrônicos está excedendo o de pessoas que trabalham como caixas em bancos e as refeições pré-embaladas oferecem uma opção mais rápida do que cozinhar.11 O autor fala ainda de elementos de nossa vida contemporânea e do quanto as relações que estabelecemos em formato de redes interferem na nossa vida cotidiana, mudando nos percep- ção do mundo nas esferas micro e macro social. Vivemos na so- ciedade dos símbolos, onde encontramo-nos diante de uma realidade multifacetada, que em muitos momentos con- tribui para nossa perda de identidade enquanto atores sociais. realidade. Estamos na era do transitório. Perdemos os vínculos sociais consistentes do passado. Vive- mos num espaço e num tempo nos quais, cada vez mais, “tudo o que é sólido se desmancha no ar”9, como dizia Marx, ou, conforme Bauman: “As pontes coletivamente erigidas entre a tran- sitoriedade e a eternidade se degradaram e o indivíduo foi deixado cara a cara com a própria insegurança existencial, pura e intacta. Agora espera-se que ele ou ela enfrente sozinho(a) as conseqüências”10. Agora, e sob essas circunstâncias, ficou a cargo do indivíduo a regência de sua realidade, inclusive sua realidade social, como se fosse possível separar-se a realidade social da realida- de individual. E, tudo o que é sólido se desmancha no ar, inclusive o homem. Fo nt e 1 6: A rq ui vo U lb ra Ea d E no campo político, das relações de poder o que vemos? Cada vez mais experimentamos a quebra de determinadas “tradições políticas”. Hoje a esfera política encontra-se à mercê das determinações dos técnicos, dos especialis- tas, como conseqüência da especialização que se Fonte 17: Arquivo Ulbra Ead E , todas as relações sociais, no contexto da contempora- neidade, as relações en- t r e os indivíduo, as relações de poder, as relações econômicas, encontram-se em plena interrogação, como se estivéssemos na corda bamba. A h is tó ria d a ci vi liz aç ão o ci de nt al e m tr ês te m po s Sociedade e Cotemporaneidade 68 www.ulbra.br/ead A dificuldade que temos de perceber “o outro” que, no contexto atual, não tem identidade fixa, exige uma complexa compreensão do momento e do convívio social com as diferenças. Ao mes- mo tempo, na dimensão cultural, percebemos relações cruzadas entre massificação e fragmen- tação, tendências opostas e simultâneas que tor- nam difícil uma equação democrática do respeito à diferença. O contexto dos paradoxos parece ser uma tradução sempre presente na realidade so- cial contemporânea. A globalização é um processo no qual as influências internacionais afetam cada vez mais a vida social; cultural, econômica e política das sociedades locais. A dimensão econômica desse processo parece exercer funções centrais a im- pulsionar as tendências de mudança. Segundo Johnson12, na medida em que a economia complexifica as relações econômicas, expressa um processo de concentração do poder econômico, e, da mesma forma, interfere no mundo do trabalho, alterando as relações sociais que estão sobre a égide do capitalismo industrial. A globalização, principal- mente na sua dimensãoeconômi- ca, trás conseqüências humanas marcadamente fortes na medida em que tem gerado, dentre suas conseqüências sociais, o próprio aumento dos indicadores de po- breza e distância entre ricos e po- bres. Compreender o que se passa com a socieda- 1 DURKHEIM, 1984. 2 PLÜMER, 2005. 3 WEBER, 1982 4 GADEA, 2007. 5 Id. 6 DURKHEIM, 1993. 7 MARTELLI, 1995, p. 419-420. 8 BAUMAN, 1999 9 MARX, 1982. 10 BAUMAN, 2000, p. 46. 11 GIDDENS, 2005, p. 301. 12 JOHNSON, 1997. 13 PESSOA, 1931. de contemporânea requer a reflexão complexa e integrada do sobre seus aspectos sociais, políti- cos, econômicos e culturais. O enfoque aqui apresentado orientou-se pela preocupação com a abordagem de aspectos im- portantes, mas não únicos e nem carregados do pressuposto do monopólio da “verdade”. O mundo contemporâneo é marcado pela incerteza, pela complexidade e pela dificuldade de agregação social, na medida em que constru- ímos uma sociedade assentada sobre uma matriz organizacional baseada em redes informacionais que, de certa forma, transformam profundamente as relações sociais tal com existiam até poucas décadas atrás. Os vínculos sociais são mediados, nesse contexto, também, e talvez de forma pre- ponderante em certos círculos sociais, pelos sis- temas tecnológicos de comunicação/relação. Por esta razão, estamos vivendo num con- texto no qual temos dificuldade de estabelecer vínculos sociais de pertencimento a grupos de convi- vência que, no passado, constituí- am-se em fatores de estabilização psíquica e psicossocial, e de coe- são social. Na sociedade-rede, tudo é transitório, por vezes, vazio, in- certo, paradoxal; contraditório. O poeta Fernando Pessoa, talvez premonitório, pode ter de- finido o sujeito contemporâneo ao escrever: “Eu vejo-me e estou sem mim, conheço-me e não sou eu.”13 E que a solidão não seja nosso destino! Fo nt e 1 8: A rq ui vo U lb ra Ea d
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