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CONTABILIDADE DE CUSTOS ALCIDES BRUGNERA CHARLINE BARBOSA PIRES EDITORA UNISINOS 2011 APRESENTAÇÃO Este livro é o ponto de partida para o estudo da Contabilidade de Custos. Desta forma, esta obra, que foi elaborada buscando um equilíbrio entre a teoria e a prática, tem como objetivo contribuir para a compreensão dos conceitos introdutórios relacionados à apuração, análise, controle e gerenciamento dos custos de produção dos bens e serviços. Com este propósito, este livro está estruturado de forma que, ao concluir seus estudos, os seguintes conhecimentos tenham sido desenvolvidos: (a) conceitos e finalidades da Contabilidade de Custos; (b) terminologias e classificação de custos; (c) determinação dos custos com materiais diretos e mão de obra; (d) filosofias de custeio; (e) departamentalização/setorização dos custos; (f) formação dos preços de vendas; e (g) análise da relação custo-volume-lucro (CVL): ponto de equilíbrio, margem de segurança operacional e alavancagem operacional. Cabe destacar que a compreensão dos temas listados não é importante apenas para os profissionais da área contábil, mas também para aqueles que atuam em outras áreas organizacionais e que podem fazer uso das informações de custos para tomarem decisões, planejando e controlando as atividades realizadas pelas entidades. Sendo assim, esta obra é indicada para os alunos do curso de Ciências Contábeis e dos cursos de Administração, Gestão Financeira, Gestão de Recursos Humanos e Logística, entre outros. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Sistema de informação contábil. Figura 2 – Custos de produção (Indústria). Figura 3 – Classificação dos custos. Figura 4 – Classificação das despesas. Figura 5 – Custeio por absorção total ou integral – Fluxo dos custos e despesas. Figura 6 – Custeio por absorção ideal ou parcial – Fluxo dos custos e despesas. Figura 7 – Custeio variável – Fluxo dos custos e despesas. Figura 8 – ABC – Fluxo dos custos e despesas. Figura 9 – Esquema geral do custeio pela departamentalização. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Comportamento do custo variável unitário. Gráfico 2 – Comportamento do custo variável total. Gráfico 3 – Comportamento do custo fixo total. Gráfico 4 – Comportamento do custo fixo unitário. Gráfico 5 – Ponto de equilíbrio contábil. Gráfico 6 – Ponto de equilíbrio econômico. LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Usuários das demonstrações contábeis Quadro 2 – Características básicas da contabilidade geral ou financeira e gerencial Quadro 3 – Método FIFO ou PEPS Quadro 4 – Método LIFO ou UEPS Quadro 5 – Método do custo médio ponderado variável Quadro 6 – Impostos compensáveis na compra de materiais diretos (Empresas optantes pelo simples nacional) Quadro 7 – Custo de aquisição dos materiais diretos no mercado interno (Empresas optantes pelo simples nacional) Quadro 8 – Impostos compensáveis na compra de materiais diretos (Empresas optantes pelo lucro presumido) Quadro 9 – Custo de aquisição dos materiais diretos no mercado interno (Empresas optantes pelo lucro presumido) Quadro 10 – Impostos compensáveis na compra de materiais diretos (Empresas tributadas pelo lucro real) Quadro 11 – Custo de aquisição dos materiais diretos no mercado interno (Empresas tributadas pelo lucro real) Quadro 12 – Demonstrativo dos custos com encargos sociais e provisões Quadro 13 – Cálculo do resultado operacional (Custeio por absorção total ou integral) Quadro 14 – Cálculo do resultado operacional (Custeio por absorção ideal ou parcial) Quadro 15 – Cálculo do resultado operacional (Custeio variável) Quadro 16 – Margem de contribuição unitária Quadro 17 – Margem de contribuição total Quadro 18 – Margem de contribuição percentual Quadro 19 – Cálculo do mark-up LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Exemplo de cálculo do custo de aquisição da matéria-prima adquirida Tabela 2 – Movimentação de matéria-prima Tabela 3 – Ficha de controle de estoques (Método FIFO ou PEPS) Tabela 4 – Ficha de controle de estoques (Método LIFO ou UEPS) Tabela 5 – Ficha de controle de estoques (Custo médio ponderado variável) Tabela 6 – Aquisição de matéria-prima e embalagem da Indústria Gama Ltda. Tabela 7 – Custo de aquisição dos materiais diretos (Simples nacional) Tabela 8 – Custo de aquisição dos materiais diretos (Lucro presumido) Tabela 9 – Custo de aquisição dos materiais diretos (Lucro real) Tabela 10 – Exemplo de cálculo dos custos com encargos sociais e provisões Tabela 11 – Exemplo de cálculo do custo anual da mão de obra Tabela 12 – Exemplo de cálculo do número máximo de horas trabalhadas por ano Tabela 13 – Custo total da empresa no período (Custeio por absorção total ou integral) Tabela 14 – Custo por unidade produzida (Custeio por absorção total ou integral) Tabela 15 – Custo do produto vendido (Custeio por absorção total ou integral) Tabela 16 – Valor do estoque final (Custeio por absorção total ou integral) Tabela 17 – Resultado operacional (Custeio por absorção total ou integral) Tabela 18 – Custo total da empresa no período (Custeio por absorção ideal ou parcial) Tabela 19 – Custo por unidade produzida (Custeio por absorção ideal ou parcial) Tabela 20 – Custo do produto vendido (custeio por absorção ideal ou parcial) Tabela 21 – Valor do estoque final (Custeio por absorção ideal ou parcial) Tabela 22 – Ociosidade (Custeio por absorção ideal ou parcial) Tabela 23 – Resultado operacional (Custeio por absorção ideal ou parcial) Tabela 24 – Custo total da empresa no período (Custeio variável) Tabela 25 – Custo por unidade produzida (Custeio variável) Tabela 26 – Custo do produto vendido (Custeio variável) Tabela 27 – Valor do estoque final (Custeio variável) Tabela 28 – Resultado operacional (Custeio variável) Tabela 29 – Indústria Lambda Ltda. Tabela 30 – Margem de contribuição unitária da Indústria Lambda Ltda. Tabela 31 – Margem de contribuição total e resultado operacional da Indústria Lambda Ltda. Tabela 32 – Custo total da empresa no período (ABC) Tabela 33 – Custo por unidade produzida (ABC) Tabela 34 – Custo do produto vendido (ABC) Tabela 35 – Valor do estoque final (ABC) Tabela 36 – Resultado operacional (ABC) Tabela 37 – Gastos indiretos do período – Indústria BRP S.A. Tabela 38 – Bases de rateio dos gastos indiretos do período – Indústria BRP S.A. Tabela 39 – Rateio depreciação das máquinas – Indústria BRP S.A. Tabela 40 – Rateio energia elétrica – Indústria BRP S.A. Tabela 41 – Rateio aluguel do prédio – Indústria BRP S.A. Tabela 42 – Mapa de localização de custos (MLC) – Indústria BRP S.A. Tabela 43 – Rateio gasto com almoxarifado – Indústria BRP S.A. Tabela 44 – MLC após rateio dos gastos do almoxarifado – Indústria BRP S.A. Tabela 45 – Rateio gasto com manutenção – Indústria BRP S.A. Tabela 46 – MLC após rateio dos gastos do almoxarifado – Indústria BRP S.A. Tabela 47 – MLC – Indústria BRP S.A. Tabela 48 – Tempos operacionais por centro de custos – Indústria BRP S.A. Tabela 49 – Custo indireto por hora trabalhada – Indústria BRP S.A. Tabela 50 – Rateio do custo indireto para a Camisa Polo – Indústria BRP S.A. Tabela 51 – Rateio do custo indireto para a camisa esporte – Indústria BRP S.A. Tabela 52 – Consumo de materiais diretos – Indústria BRP S.A. Tabela 53 – Custo dos materiais diretos camisa polo – Indústria BRP S.A. Tabela 54 – Custo dos materiais diretos camisa esporte – Indústria BRP S.A. Tabela 55 – Custo total de produção e custo por unidade – Indústria BRP S.A. Tabela 56 – Cálculo da despesa fixa por unidade – Camisa Polo – Indústria BRP S.A. Tabela 57 – Gastos totais da camisa polo – Indústria BRP S.A. Tabela 58 – Preço final da camisa polo – Indústria BRP S.A. Tabela 59 – Lucro por unidade da camisa polo – Indústria BRP S.A. Tabela 60 – Lucro por unidade da Camisa Polo após IR e CS Indústria BRP S.A. Tabela 61 – Resultado – Preço de venda com base no custo variável Tabela 62 – Retorno por unidade vendida Tabela 63 – PECq – Resultado do período Tabela 64 – PEEq – Resultado do período Tabela 65 – PEFq – Saldo de caixa Tabela 66 – Dados da empresa Delta Ltda Tabela 67 – Margem de contribuição ponderadada empresa Delta Ltda. Tabela 68 – Ponto de equilíbrio da empresa Delta Ltda. Tabela 69 – Resultado operacional da empresa Gama Ltda. Tabela 70 – Resultado operacional da empresa Gama Ltda. – 5% aumento vendas SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – CONTABILIDADE FINANCEIRA, CONTABILIDADE GERENCIAL E CONTABILIDADE DE CUSTOS 1.1 Contabilidade: conceito, objetivos e usuários 1.1.1 Contabilidade geral ou financeira versus contabilidade gerencial 1.1.2 Contabilidade de custos CAPÍTULO 2 – TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÃO DE CUSTOS 2.1 Terminologias de custos 2.2 Classificação dos custos e das despesas 2.2.1 Classificação dos custos e despesas em diretos ou indiretos 2.2.2 Classificação dos custos e despesas em variáveis ou fixos CAPÍTULO 3 – DETERMINAÇÃO DOS CUSTOS: CUSTO DO MATERIAL DIRETO E CUSTO DA MÃO DE OBRA 3.1 Materiais diretos 3.1.1 Custo dos materiais diretos 3.1.2 Métodos para valorização de material em estoque 3.1.3 Tributos na aquisição dos materiais diretos no mercado interno 3.2 Mão de obra CAPÍTULO 4 – FILOSOFIAS DE CUSTEIO 4.1 Filosofias de custeio 4.1.1 Custeio por absorção total ou integral 4.1.2 Custeio por absorção ideal ou parcial 4.1.3 Custeio variável 4.1.4 Filosofia de custeio baseado em atividades – ABC CAPÍTULO 5 – APROPRIAÇÃO DOS CUSTOS INDIRETOS – DEPARTAMENTALIZAÇÃO E MAPA DE LOCALIZAÇÃO DE CUSTOS (MLC) 5.1 Apropriação dos custos indiretos 5.2 Apropriação dos custos diretos CAPÍTULO 6 – FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA 6.1 Formação do preço de venda 6.1.1 Método com base nos custos totais ou plenos 6.1.2 Método com base nos custos variáveis 6.1.3 Método com base no retorno do capital investido CAPÍTULO 7 – RELAÇÃO CUSTO-VOLUME-LUCRO (CVL) 7.1 Relação custo-volume-lucro (CVL) 7.1.1 Ponto de equilíbrio (PE) 7.1.2 Margem de segurança operacional (MSO) 7.1.3 Alavancagem operacional (AO) SOBRE OS AUTORES CAPÍTULO 1 CONTABILIDADE FINANOEIRA, CONTABILIDADE GERENOIAL E CONTABILIDADE DE CUSTOS Neste capítulo aborda-se, incialmente, o conceito, objetivos e usuários da contabilidade. Apresentam-se, na sequência, as principais características da contabilidade geral ou financeira e da contabilidade gerencial, descrevendo-se as diferenças entre estes dois subsistemas contábeis. Por fim, discutem-se as características da contabilidade de custos, bem como as suas finalidades contábeis e gerenciais. 1.1 Contabilidade: conceito, objetivos e usuários A contabilidade, segundo Iudícibus et al. (2010), é uma ciência social aplicada, dotada de metodologia específica para captar, registrar, acumular, resumir e interpretar os fatos que afetam a situação patrimonial, econômica e financeira de qualquer entidade, seja pessoa física ou jurídica, pública ou privada, com ou sem fins lucrativos. Os autores afirmam que o objetivo da Contabilidade é prover os seus usuários com o máximo possível de informações sobre o patrimônio desta entidade e suas mutações. Para Iudícibus e Marion (2008, p. 1), a contabilidade pode ser entendida como o instrumento que subsidia o processo decisório dos gestores. “Na verdade, ela coleta todos os dados econômicos, mensurando-os monetariamente, registrando-os e sumariando-os em forma de relatórios ou de comunicados, que contribuem sobremaneira para a tomada de decisões”. “ Evidentemente, o processo decisório decorrente das informações apuradas pela contabilidade não se restringe apenas aos limites da empresa, aos administradores e gerentes […]”, uma vez que outros segmentos, externos à entidade, podem estar interessados na sua situação (IUDÍCIBUS, MARION, 2008, p. 1). Os usuários das informações geradas pela contabilidade, então, podem ser todos aqueles, internos ou externos a ela, que têm algum interesse no seu desempenho econômico e na sua saúde financeira. Desta forma, além dos administradores e gestores, são exemplos de usuários da informação contábil os proprietários, fornecedores, clientes e funcionários (REEVE et al., 2009). Neste contexto, o Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e aprovado pela Resolução CFC n°. 1.212/08, identifica os usuários das demonstrações contábeis, classificando-os conforme descrito no Quadro 1. Quadro 1 – Usuários das demonstrações contábeis Usuário Característica/Foco de interesse Investidores Estão interessados em informações que os auxiliem a decidir se devem comprar, vender ou manter seus investimentos, bem como na capacidade da companhia em pagar dividendos. Empregados e seus representantes Requerem informações sobre estabilidade e lucratividade de seus empregadores, com a finalidade de avaliar se estes têm condições de prover sua remuneração, seus benefícios de aposentadoria e suas oportunidades de emprego. Credores por empréstimos Buscam informações que os permitam avaliar se a entidade terá capacidade de pagar seus empréstimos e juros relacionados nos prazos acordados. Fornecedores e outros credores comerciais Assim como os credores por empréstimos, os fornecedores e outros credores comerciais têm interesse em avaliar a capacidade de pagamento da entidade, normalmente no curto prazo. Clientes Têm interesse em informações relacionadas à continuidade operacional da entidade, principalmente quando têm uma relação de longo prazo com a entidade e/ou quando ela é um fornecedor importante. Governo e suas agências Estão interessados na destinação de recursos e necessitam de informações que permitam regulamentar as atividades das entidades e estabelecer políticas fiscais e que sirvam de base para determinar a renda nacional e estatísticas semelhantes. Público em geral Na medida em que as atividades de uma entidade afetam a sociedade de diversas maneiras (p. ex.: geração de empregos e utilização de recursos locais), o público em geral pode ter interesse em informações relacionadas ao seu desenvolvimento. Fonte: elaborado pelos autores com base no Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis. O Pronunciamento Conceitual Básico também menciona que os gestores de uma entidade têm interesse nas informações contidas nas demonstrações contábeis, mas destaca que eles podem ter acesso a outros tipos de informações, de caráter interno, que os auxiliem no planejamento, tomada de decisões e controle das atividades. Tais informações, segundo o Pronunciamento, podem ter a forma e conteúdo estabelecidos pelos gestores, de acordo com as suas necessidades. Dados os diversos tipos de usuários e suas peculiaridades, cabe destacar que a contabilidade atinge seus objetivos quando os relatórios produzidos proporcionam informações úteis que podem ser utilizadas no processo decisório, tanto por usuários internos como externos às entidades. Neste sentido, Iudícibus et al. (2010) observam que a contabilidade deve ser capaz de fornecer informações que atendam às necessidades de cada um destes usuários, levando em consideração seus interesses nem sempre coincidentes. A contabilidade pode atender as necessidades informacionais de seus usuários por meio de relatórios gerados pela contabilidade geral ou financeira e pela contabilidade Gerencial, cujas características são apresentadas a seguir. 1.1.1 Contabilidade geral ou financeira versus contabilidade gerencial Para Ribeiro (2009, p. 12), a contabilidade geral ou financeira pode ser entendida como a Contabilidade em seu sentido mais amplo, “considerada como a ciência social que tem por objeto o patrimônio de todas as entidades, sejam elas públicas ou particulares, tenham ou não finalidade econômica”. A contabilidade financeira, segundo Atkinson et al. (2000), elabora e comunica as informações econômicas de uma empresa, dirigidas a uma clientela externa (acionistas, credores, governo etc.), observando as normas e legislação vigente. As informações geradas pela contabilidade geral ou financeira são relatadas em demonstrações contábeisque são úteis aos usuários externos à empresa, tais como acionistas, credores, instituições governamentais e sociedade em geral. A contabilidade financeira relata os resultados das operações de uma entidade e a sua situação atual de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade (WARREN; REEVE; FESS, 2003). De acordo com Reeve et al. (2009, p. 12), “a contabilidade financeira ocupa-se basicamente do registro e elaboração de relatórios sobre os dados econômicos e as atividades de uma empresa”. Os autores explicam que estes relatórios são úteis para os administradores e constituem a principal fonte de informações dos usuários externos. A contabilidade financeira, então, preocupa-se em preparar as demonstrações contábeis obrigatórias, tais como o balanço patrimonial, a demonstração do resultado do exercício, a demonstração das mutações do patrimônio líquido, a demonstração dos fluxos de caixa, entre outras. Para Horngren, Foster e Datar (2000), a contabilidade gerencial mensura e relata as informações financeiras, bem como outros tipos de informações que auxiliam os gerentes a atingir as metas da organização. De acordo com os autores, os administradores usam essas informações para escolher, comunicar e programar a estratégia da organização. Para Ribeiro (2009), a contabilidade gerencial tem como objetivo principal auxiliar os gestores no planejamento e controle das atividades de uma determinada entidade, ou seja, no processo decisório. “ A contabilidade gerencial […] tem como objetivo principal auxiliar os administradores em suas tomadas de decisões visando alcançar maior produtividade com a otimização dos recursos disponíveis, reduzindo custos e aperfeiçoando a qualidade dos produtos fabricados para melhorar a competitividade da empresa e, consequentemente, alcançar resultados mais satisfatórios no desenvolvimento de suas atividades operacionais” (RIBEIRO, 2009, p. 14). A contabilidade gerencial, de acordo com Reeve et al. (2009, p. 12). “usa simultaneamente a contabilidade financeira e dados estimativos para auxiliar a administração a controlar as atividades cotidianas da empresa e planejar as operações futuras”. Os autores explicam que os contadores coletam as informações que são consideradas relevantes e as organizam conforme as necessidades decisórias da administração, o que significa que os relatórios produzidos podem diferir tanto na forma quanto no conteúdo, sem observar, necessariamente, o que é estabelecido pelas normas e legislação vigentes. As informações geradas pela contabilidade gerencial, segundo Warren, Reeve e Fess (2003, p. 3), “incluem dados históricos e estimados usados pela administração na condução de operações diárias, no planejamento de operações futuras e no desenvolvimento de estratégias de negócios integradas”. Os autores explicam que, diferentemente da contabilidade geral ou financeira, que deve considerar os princípios contábeis, as características dos relatórios gerados pela contabilidade gerencial são influenciadas pelas necessidades dos gestores. A seguir, no Quadro 2, são apresentadas as principais características da contabilidade geral ou financeira e da contabilidade gerencial. Quadro 2 – Características básicas da contabilidade geral ou financeira e gerencial Itens Contabilidade geral ou financeira Contabilidade gerencial Clientela Externa: acionistas, credores, autoridades tributárias etc. Interna: funcionários, administradores, executivos etc. Propósito Reportar o desempenho passado às partes externas: contratos com proprietários e credores. Informar decisões internas tomadas pelos funcionários e gerentes; feedback e controle sobre o desempenho. Data Histórica, passada. Atual, orientada para o futuro. Restrições Regulamentada: dirigida por regras e princípios fundamentais da contabilidade e por autoridades governamentais. Desregulamentada: sistemas e informações determinadas pela administração para satisfazer necessidades estratégicas e operacionais. Tipo de informação Somente para mensuração financeira. Mensuração física e operacional dosprocessos, tecnologia, fornecedores etc. Natureza da informação Objetiva, auditável, confiável, consistente, precisa. Mais subjetiva e sujeita a juízo de valor, válida, relevante e acurada. Escopo Muito agregada; reporta toda a empresa. Desagregada; informa as decisões eações locais. Fonte: adaptado de Atkinson et al. (2000, p. 38). Frezatti et al. (2009) também apesentam as diferenças entre a contabilidade geral ou financeira e a contabilidade gerencial. Os autores descrevem os aspectos a serem considerados da seguinte forma: usuários primários da informação: no caso da contabilidade geral ou financeira os usuários são os credores, investidores atuais ou potenciais, o governo e a própria sociedade, ou seja, são os usuários externos à entidade. Na contabilidade gerencial, por sua vez, os usuários são internos, ou seja, principalmente, os gestores da entidade; tipos de sistemas contábeis: a contabilidade geral ou financeira adota o método das partidas dobradas, necessariamente, enquanto a contabilidade gerencial pode elaborar relatórios com ajustes, bem como utilizar sistemas de informações e informações não monetárias diferentes das utilizadas pela contabilidade geral ou financeira; liberdade de escolha: a contabilidade geral ou financeira deve, obrigatoriamente, obedecer o estabelecido nas normas contábeis vigentes. A contabilidade gerencial, por outro lado, pode definir critérios diferentes, de acordo com as suas necessidades; unidades de mensuração: a moeda utilizada pela contabilidade geral ou financeira é a moeda do país em que as informações estão sendo divulgadas, mas, gerencialmente, nas empresas globalizadas a moeda da matriz pode ser utilizada na avaliação de desempenho; foco de análise: a contabilidade gerencial pode disponibilizar informações por unidades de negócio, centros de custos, projetos, clientes, entre outros, enquanto a contabilidade geral ou financeira não torna estes dados públicos, divulgando apenas informações por segmento de negócios, em observância às normas contábeis; horizonte temporal e frequência da emissão dos demonstrativos para os usuários: a contabilidade gerencial emite relatórios com maior frequência, mais detalhados e customizados, ou seja, elaborados conforme as diferentes necessidades de seus gestores; grau de confiabilidade da informação gerada: as informações geradas pela contabilidade gerencial, em função dos critérios subjetivos envolvidos e do acesso que os gestores têm, diminuem a necessidade de auditoria ou demandam uma auditoria diferente daquela realizada nos relatórios elaborados pela contabilidade geral ou financeira; existência de órgãos reguladores ou definidores de regras: diferentemente da contabilidade gerencial, a contabilidade geral ou financeira é normatizada por órgãos que definem ou recomendam as regras e princípios que devem ser obedecidos; e exigência legal de profissional especializado: apenas as demonstrações oriundas da contabilidade geral ou financeira devem ser elaboradas, obrigatoriamente, por profissionais contábeis devidamente registrados pelos órgãos fiscalizados da profissão. Discutidas as diferenças entre a contabilidade geral ou financeira e a contabilidade gerencial, na sequência apresenta-se a contabilidade de custos, que está relacionada com ambas. 1.1.2 Contabilidade de custos Contabilidade de custos, para Leone (2009, p. 5-6), “é o ramo da contabilidade que se destina a produzir informações para os diversos níveis gerenciais de uma entidade, como auxílio às funções de determinação de desempenho, de planejamento e controle das operações e de tomada de decisões”. O autor explica que a contabilidade de custos coleta, classifica e registra dados operacionais, monetários ou físicos (horas trabalhadas, quantidades de requisições, ordens de produção etc.), internos ou externos, históricos ou estimados, padronizados ou produzidos, relacionados às atividades da entidade. Tais dados são acumulados, organizados,analisados e interpretados com a finalidade de produzir relatórios com as informações de custos para os diversos níveis de administração e de operação. Além de fornecer relatórios que se destinam ao atendimento das necessidades informacionais dos usuários internos à entidade, ou seja, informações para a contabilidade gerencial, a contabilidade de custos também atende à contabilidade geral ou financeira. Dessa forma, as informações geradas pela área de custos podem ser utilizadas nas diversas atividades econômicas, atendendo tanto as finalidades da contabilidade geral ou financeira quanto da contabilidade gerencial. Neste sentido, a contabilidade de custos pode ser entendida como um subsistema da contabilidade geral ou financeira e, também, um subsistema da Contabilidade Gerencial, conforme exposto na Figura 1. Figura 1 – Sistema de informação contábil. Fonte: elaborada por Ott e P ires (2010) com base em Iglesias Sánchez (1995). No que diz respeito às finalidades contábeis da contabilidade de custos, relacionadas à contabilidade geral ou financeira, Beulke e Bertó (2005) afirmam que as principais informações de custos utilizadas pela contabilidade da empresa são: cálculo do custo para avaliação dos estoques de produto pronto e produto em elaboração; cálculo do custo dos produtos vendidos (CPV); avaliação das imobilizações próprias; avaliação de bens de fabricação própria para uso futuro na empresa. Cabe lembrar que o cálculo do custo com a finalidade contábil deverá seguir as normas técnicas de contabilidade e a legislação em vigor. Logo, no cálculo dos custos para avaliar os estoques e apurar o custo dos produtos vendidos (CPV), as empresas industriais devem observar a legislação vigente, quanto à filosofia de custeio a ser adotado (absorção integral), e o método de avaliação dos estoques (valor médio; primeiro a entrar, o primeiro a sair (PEPS) ou preço específico). As finalidades gerenciais de custos, por sua vez, são amplas e fundamentais no ambiente empresarial. Segundo Bornia (2002), um sistema de custos gerenciais deve permitir mensurar o custo dos produtos e serviços e, principalmente, permitir avaliar o desempenho de uma empresa, fornecendo informações para a área de produção, financeira, vendas e planejamento, tais como: informações para elaboração do orçamento da empresa; projeção de vendas e de produção; formação do preço de venda dos produtos e serviços avaliação do desempenho dos produtos; controle de consumo de materiais e custo dos processos produtivos; etc. Verifica-se, portanto, que as informações de custos têm finalidades contábeis, ou seja, observando as normas contábeis e a legislação vigente, são utilizadas na avaliação dos estoques e, por consequência, na definição do custo dos produtos vendidos (CPV), bem como finalidades gerenciais, na medida em que subsidiam o processo decisório de gestores de várias áreas da empresa (produção, financeira, vendas, planejamento, logística etc.). TERMOS-CHAVE Contabilidade de custos – subsistema da contabilidade que acumula, organiza e interpreta os dados relacionados às atividades da empresa, produzindo informações de custos com finalidade contábil (contabilidade geral ou financeira) e gerencial. Contabilidade geral ou financeira – deve observar, necessariamente, as normas contábeis e a legislação vigente. Elabora as demonstrações contábeis voltadas, principalmente, para os usuários externos. Contabilidade gerencial – não regulada. Fornece relatórios voltados às necessidades dos gestores/administradores da organização. Objetivo da contabilidade – gerar informações sobre o patrimônio de uma entidade e suas mutações, subsidiando o processo decisório de seus usuários, sejam eles internos e externos à empresa. Usuários externos na informação contábil – são aqueles que não participam da gestão da empresa, mas que têm interesse na sua situação econômica e financeira. Por exemplo, investidores, clientes, fornecedores, credores, entre outros. Usuários internos da informação contábil – são, basicamente, os gestores/administradores da organização. REFERÊNCIAS ATKINSON, Anthony A. et al. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 2000. BEULKE, Rolando: BERTÓ, Dálvio J. Gestão de custos. São Paulo: Saraiva, 2005. BORNIA, Antônio Cezar. Análise gerencial de custos. São Paulo: Atlas, 2002. CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Conceitual Básico. Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis. Pronunciamento aprovado em 11/01/2008. Disponível em: <www.cpc.org.br>. Acesso em: 05 mar. 2011. FREZATTI, Fábio. Controle gerencial: uma abordagem da contabilidade gerencial no contexto econômico, comportamental e sociológico. São Paulo: Atlas, 2009. HORNGREN, Charles T.; FOSTER, George; DATAR, Srikant M. Contabilidade de custos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. IUDÍCIBUS, Sérgio de; et al. Contabilidade introdutória. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010. IUDÍCIBUS, Sério de; MARION, José C. Curso de contabilidade para não contadores: para as áreas de administração, direito e engenharia. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. LEONE George S. G. Curso de contabilidade de custos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. OTT, Ernani; PIRES, Charline B. Conceito e Objetivos da Contabilidade. In: José Francisco Ribeiro Filho; Jorge Lopes; Marcleide Pederneiras (Org.). Estudando Teoria da Contabilidade. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 57-74. REEVE, James M. et al. Fundamentos de contabilidade: princípios. São Paulo: Cengage Learning, 2009. RIBEIRO, Osni M. Contabilidade de custos. São Paulo: Saraiva, 2009. WARREN, Carl S.; REEVE, James M.; FESS, Philip E. Contabilidade gerencial. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. http://www.cpc.org.br CAPÍTULO 2 TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÃO DE CUSTOS Para um bom entendimento dos temas discutidos nos próximos capítulos, é importante conhecer o significado dos termos específicos utilizados pela contabilidade de custos, bem como as classificações de custos. Por esta razão, neste capítulo, apresentam-se as principais terminologias de custos e as classificações de custos e despesas quanto à forma de alocação ou identificação com o produto/serviço ou receita e com relação às variações do volume de produção ou vendas. 2.1 Terminologias de custos A Contabilidade de Custos possui terminologias próprias e seu entendimento é importante para a compreensão dos temas abordados na sequência. A seguir são apresentadas as definições básicas utilizadas no estudo dos próximos temas, sendo que que alguns conceitos serão discutidos de forma mais detalhada em outros capítulos. Desembolso Martins (2003, p. 25) explica que um desembolso pode ser entendido como o “pagamento resultante da aquisição do bem ou serviço”, podendo acontecer durante (à vista) ou após (no caso de compras a prazo) a entrada da utilidade comprada. Para Perez Jr., Oliveira e Costa (2003, p. 16), desembolso refere-se a “saída de dinheiro do caixa ou do banco”. Os desembolsos ocorrem devido ao pagamento de uma compra efetuada à vista ou de uma obrigação assumida anteriormente. São exemplos de desembolsos: a compra de matéria-prima à vista, o pagamento de salário aos funcionários, o pagamento de fornecedores referente a compras efetuadas a prazo, o pagamento de um empréstimo obtido, entre outros. Investimento Martins (2003, p. 25) define investimento como “gasto ativado em função de sua vida útil ou de benefícios atribuíveis a futuro(s) período(s)”. O autor explica que todos os sacrifícios ocorridos em função da aquisição de bens ou serviços que são “estocados” no Ativo da empresa e que serão baixados no momento da sua venda, consumo, desaparecimento ou desvalorização são chamados de investimentos. São exemplos de investimentos a aquisição de máquinas e equipamentos para uso, a aquisição de matérias-primas e a aquisição de prédio para uso próprio. A matéria-prima, enquanto estiver no estoque da empresa, é considerada um investimento, sendo que passará a representar um gasto no momento em que for consumida, ouseja, utilizada na fabricação dos produtos que serão vendidos. As máquinas e o prédio, por sua vez, são considerados investimentos e são “consumidos” na medida em que são depreciados, ou seja, na medida em que a empresa reconhece que eles estão perdendo valor em função do uso, do passar do tempo, da ação da natureza ou da obsolescência. Gasto Perez Jr., Oliveira e Costa (2003, p. 16) definem o gasto como o “consumo genérico de bens e serviços” que ocorrem a todo momento em uma empresa. Os autores chamam atenção para o fato de que o gasto não deve ser confundido com desembolso e afirmam que “Frequentemente, ouvimos as pessoas dizerem ‘Gastei muito dinheiro’. Na realidade, o dinheiro não é gasto, ele é desembolsado. O que é gasto, ou seja, consumido, são os bens e serviços obtidos por meio do desembolso imediato ou futuro”. Considerando os conceitos apresentados, os seguintes itens podem ser classificados como gastos: consumo de matéria-prima no processo produtivo (adquirida à vista ou a prazo); contratação e utilização de serviços de vigilância; consumo de energia elétrica; contabilização da folha de pagamento referente à mão de obra utilizada no período. Cabe destacar que, dependendo da aplicação do bem ou serviço consumido, um gasto poderá ser classificado em custos, despesas, perdas ou desperdícios. Custo Na definição de Perez Jr., Oliveira e Costa (2003, p. 16), custos são “gastos relativos aos bens ou serviços (recursos) consumidos na produção de outros bens ou serviços”. Martins (2003) explica que um custo também é um gasto reconhecido como custo no momento em que o bem ou serviço é utilizado como fator de produção, aplicado na fabricação de um produto ou na prestação de um serviço. São exemplos de custos, nas empresas industriais: consumo de matérias-primas; consumo de embalagens; mão de obra com encargos e provisões, referentes ao pessoal que trabalha na fábrica (produção); energia elétrica consumida pela fábrica; depreciação (desgaste) de equipamentos utilizados pela fábrica. Assim, pode-se afirmar que, numa empresa industrial, custos são todos os recursos consumidos na fabricação dos produtos. Os custos são contabilizados nas contas de estoques (de produto em elaboração e de produto pronto) e são reconhecidos na conta de resultado como custo do produto vendido (CPV) quando ocorre a venda. Despesa: Dutra (2009) explica que a despesa é a parcela do gasto que não tem relação com a atividade de elaboração de bens e serviços. As despesas são os “gastos relativos aos bens ou serviços consumidos no processo de geração de receitas e manutenção dos negócios da empresa. […] A empresa tem despesas para gerar receitas e não para produzir seus bens e serviços” (PEREZ JR.; OLIVEIRA; COSTA, 2003, p. 16). As despesas podem ser: Administrativas: são as despesas relacionadas à administração do negócio. Por exemplo, aluguel, ordenados dos funcionários da administração, depreciação de móveis e utensílios utilizados no escritório, energia elétrica, água e telefone utilizados no departamento administrativo, material de escritório consumido etc. Comerciais ou com Vendas: são as despesas ligadas à atividade de venda dos produtos ou serviços. Por exemplo, gastos com promoção, colocação e distribuição de mercadorias, propaganda e marketing, ordenados dos vendedores, perdas com títulos incobráveis, brindes, etc. Financeiras: juros pagos em função de empréstimos para capital de giro ou investimentos, despesas bancárias, descontos financeiros concedidos aos clientes etc. Perdas Souza e Diehl (2009, p. 11) definem perdas “como o consumo de recursos acima do que é necessário para a efetivação do produto”, podendo ocorrer de forma normal ou anormal. A s perdas normais estão relacionadas ao consumo de recursos inerentes ao processo de fabricação, são previsíveis e ocorrem em processos como corte, tratamento térmico, evaporação, reações químicas etc. (SOUZA; DIEHL, 2009). Cabe destacar que, no caso de perdas normais, o custo do material perdido faz parte do custo do produto elaborado. Perdas normais x Perdas anormais As perdas normais compõem o custo do período, enquanto as perdas anormais são consideradas despesas, sendo lançadas diretamente no resultado do período. Segundo Bornia (2002), as perdas anormais referem-se ao consumo de recursos de forma não previsível, decorrente de fatores externos fortuitos (acidentes, vazamentos etc.). Da mesma forma, Perez Jr., Oliveira e Costa (2003, p. 17) explicam que perdas são “gastos anormais ou involuntários que não geram um novo bem ou serviço e tampouco receitas e são apropriados diretamente no resultado do período em que ocorrem”. Diferentemente das perdas normais, as perdas anormais são lançadas diretamente contra o resultado do período. Por exemplo, o roubo de uma máquina não segurada se caracteriza numa perda anormal e o valor contábil da mesma deve ser lançado como despesa diretamente no resultado do mês em que o bem foi roubado e, consequentemente, o bem deve ser baixado do patrimônio da empresa. Desperdício Perez Jr., Oliveira e Costa (2003, p. 17), definem desperdícios como os “gastos incorridos no processo produtivo ou de geração de receitas que possam ser eliminados sem prejuízo da qualidade ou quantidade dos bens, serviços ou receitas geradas”. São exemplos de desperdício o retrabalho para correção de defeitos, estocagem e movimentações desnecessárias e relatórios financeiros, administrativos e contábeis desnecessários (PEREZ JR.; OLIVEIRA; COSTA, 2003). Bornia (2002, p. 41) explica que se pode considerar um desperdício o esforço econômico que não é capaz de agregar valor aos produtos ou que não está relacionado às atividades da empresa. Para o autor, o conceito de “desperdício” é mais amplo do que o de “perdas”, pois engloba as perdas normais do processo produtivo. “Se, por exemplo, um processo trabalha comumente com um índice de 1% de peças defeituosas e, em um dado período, 5% dos itens produzidos forem defeituosos, a perda normal equivale a 4%, enquanto os desperdícios totalizam 5%. Receita bruta de vendas A Receita bruta de vendas refere-se à entrada de elementos para o ativo, na forma de dinheiro ou direitos a receber, proveniente da atividade “fim” da empresa (CRC-SP, 1992). Ativo: conjunto de bens e direitos que forma o patrimônio de uma entidade. Nas empresas comerciais e industriais, a receita bruta de vendas é formada pelas receitas oriundas da comercialização dos produtos, enquanto nas empresas prestadoras de serviços, a Receita Bruta decorre dos serviços prestados à vista ou prazo. Desta forma, a receita bruta de vendas é formada pelas vendas de mercadorias, produtos ou serviços: à vista, que ocasionam uma entrada de dinheiro ($) no caixa da empresa; a prazo, que resultam em um aumento do ativo (clientes a receber/duplicatas a receber) e conferem à empresa o direito de cobrar, na data combinada, o valor devido pelos clientes. Ganhos Um ganho, segundo o CRC-SP (1992, p. 31), é o “resultado líquido favorável resultante de transações ou eventos não relacionados às atividades normais da entidade”. Assim, pode-se entender que os ganhos estão relacionados às transações que geram resultado positivo, mas que não decorrem da atividade fim da empresa. São classificados como ganhos, por exemplo, as receitas com juros e descontos recebidos, as variações monetárias positivas, as receitas como comissões e a venda de um ativo imobilizado (bem de uso próprio) por um valor superior ao valor contábil. Custo de aquisição de materiais O custo de aquisição dos materiais “inclui o valor pago ao fornecedor, subtraído dos impostos recuperáveis e acrescido dos valores em que a empresa incorrer para colocar esses materiais em condições de uso tais como frete, seguro, armazenagem, etc.” (PEREZ JR.; OLIVEIRA; COSTA, 2003, p. 18). Por exemplo, no mês de janeiro. x1 a empresa Gama Indústria Ltda. adquiriu 1.000 unidades da matéria-prima “y”. Os valores envolvidos nesta transação foram os seguintes: Quando existem impostos recuperáveisa empresa pode se creditar (recuperar) dos tributos que incidiram sobre as compras realizadas. Isso significa que, no momento do pagamento dos impostos incidentes sobre suas vendas, a empresa pode abater os impostos a recuperar do valor devido. Por esta razão, os impostos são considerados um ativo para a empresa e não um custo (perda). valor pago ao fornecedor (nota fiscal): R$ 20.000 impostos recuperáveis: ICMS – 17% IPI – 10% valor do frete (pago pela empresa): R$ 1.000 Considerando-se o exemplo apresentado, o custo de aquisição da matéria-prima adquirida pode ser calculado da seguinte maneira: Tabela 1 – Exemplo de cálculo do custo de aquisição da matéria-prima adquirida Valor pago ao fornecedor 20.000,00 (–) Impostos recuperáveis ICMS (17%) – 3.400,00 IPI (10%) – 2.000,00 (+) Gastos da empresa com frete, seguro, armazenagem 1.000,00 (=) Custo de aquisição da matéria-prima adquirida 15.600,00 Fonte: elaborada pelos autores. Custo de produção Para Perez Jr., Oliveira e Costa (2003), o custo de produção, em uma empresa industrial, inclui o custo dos materiais consumidos, acrescido dos demais gastos incorridos na produção, tais como: custo dos materiais diretos e indiretos; mão de obra direta; mão de obra indireta; energia elétrica; manutenção; depreciação; entre outros. Verificam-se, na Figura 2, os principais elementos que formam o Custo de Produção em uma empresa industrial. Figura 2 – Custos de produção (Indústria). Fonte: elaborada pelos autores. Assim, o custo de produção é formado pelos seguintes itens: materiais diretos ou insumos (MD), mão de obra direta (MOD) e outros custos, também denominados custos indiretos de fabricação (CIF). Materiais diretos ou insumos: matérias-primas, materiais de embalagem, componentes e outros materiais aplicados na produção. Portanto, são os materiais diretamente aplicados para a obtenção de novo produto. Como exemplo, numa indústria gráfica pode ser considerado o papel e as tintas na produção de livros, e numa indústria de móveis a madeira, chapas de compensados, fórmica etc. Mão de obra direta: refere-se ao trabalho aplicado diretamente na elaboração do produto. Logo, representa as verbas salariais pagas aos empregados mais os respectivos encargos sociais e provisões (contribuição ao INSS e terceiros, FGTS, provisão de férias, décimo terceiro etc.). Custos indiretos de fabricação (CIF): são todos os custos que para serem apropriados aos produtos necessitam da utilização de algum critério de rateio, uma vez que não se tem a condição de mensurar exatamente quanto cada produto consome deste item de custo. Como exemplo, pode ser citada a energia elétrica consumida na fábrica, água consumida na fábrica, depreciação dos bens utilizados na fábrica, aluguel do prédio da fábrica etc. Nas empresas prestadoras de serviços, a forma de cálculo dos custos se assemelha ao das empresas industriais, no que tange o aspecto técnico de apuração. Estas empresas também possuem custos diretos e indiretos, porém, o que as diferencia de uma indústria é o fato de que os serviços não são tangíveis e, portanto, não podem ser estocados. Nas empresas comerciais, por sua vez, não existe o processo produtivo, uma vez que elas compram mercadorias para revender. Assim, não existe custo de produção, mas sim custo da mercadoria vendida (CMV), calculado a partir dos gastos da empresa com aquisição dos estoques que serão revendidos a terceiros, sendo que os gastos da empresa para manter a estrutura comercial e administrativa são denominados despesas. Custeio Para o CRC-SP (2000), custeio é o processo pelo qual se efetua a apropriação dos custos aos produtos. A filosofia de custeio utilizada pela empresa define os critérios pelos quais os custos serão atribuídos aos produtos (objetos de custos). De acordo com os critérios adotados, determinados custos farão ou não parte do custo de produção. Em função disto, o sistema de custeio afeta basicamente: Nos próximos capítulos estudaremos, de forma detalhada, cada um dos métodos de custeio. o custo dos produtos fabricados e que ainda não foram vendidos pela empresa, ou seja, que estão em estoque; o custo dos produtos que foram vendidos (CPV) e que, portanto, contribuirão para formar o resultado (lucro/prejuízo) apresentado pela empresa em um determinado momento. Existem diversas filosofias de custeio, entre as quais se destacam: (a) absorção integral ou total; (b) absorção ideal ou parcial; (c) variável ou direto; (d) por atividades. No que diz respeito às diferentes filosofias de custeio, é importante mencionar que a empresa pode optar por aquela que atenda as suas necessidades, sem desconsiderar, contudo, o que prevê a legislação aplicável. 2.2 Classificação dos custos e das despesas Os conceitos relacionados à classificação dos custos e despesas devem ser usados nos estudos da área de custos, podendo ser empregados nas empresas industriais, comerciais e de serviços. Objetivando facilitar o entendimento dos custos e das despesas, bem como seu reflexo no resultado da empresa, as principais classificações devem levar em conta a forma de alocação aos produtos e o comportamento em relação aos volumes produzidos, no caso dos custos, e vendidos, no caso das despesas. Desta forma, para a adequada alocação e utilização das informações de custos e despesas é necessário classificá-los em diretos e indiretos e fixos e variáveis. É importante salientar a importância de se conhecer a diferença entre custos (gastos da fábrica) e despesas (gastos com a estrutura administrativa, financeira e de vendas), pois isto auxiliará na compreensão deste conteúdo. No que diz respeito à forma de alocação ou identificação dos custos aos produtos e serviços, estes podem ser classificados como diretos ou indiretos. Já com relação ao volume de produção, os custos podem ser fixos ou variáveis (Figura 3). Figura 3 – Classificação dos custos. Fonte: elaborada pelos autores. A despesa, por sua vez, pode ser classificada quanto à sua relação com as receitas da empresa como direta ou indireta. Além disso, pode ser classificada quanto ao seu comportamento em relação ao volume de vendas como fixa ou variável (Figura 4). Figura 4 – Classificação das despesas. Fonte: elaborada pelos autores. Na sequência, discutem-se os aspectos envolvidos na classificação dos custos e despesas em diretos ou indiretos e fixos ou variáveis. 2.2.1 Classificação dos custos e despesas em diretos ou indiretos Esta análise leva em consideração a forma de apropriação dos custos aos produtos ou a relação das despesas com a receita de vendas da empresa. No que diz respeito à classificação dos custos, segundo Martins (2003), em relação à identificação com o produto ou serviço os custos podem ser definidos como diretos ou indiretos. Custos diretos Os custos são classificados como diretos quando podem ser diretamente identificados e apropriados aos produtos ou serviços utilizando-se de uma unidade de medida (litros, quilogramas, metro, horas etc.). Assim, todos os itens de custos cujo consumo é medido em cada produto são apropriados de forma direta, ou seja, tem-se a quantidade consumida multiplicada pelo custo unitário daquele item. Como exemplos podem ser citados o custo com matéria-prima, mão de obra direta, embalagens, entre outros, pois nestes casos é possível identificar, de forma direta, quanto foi gasto/consumido na produção de cada unidade. Critério de rateio “ são os critérios utilizados para distribuição dos gastos indiretos aos produtos, centros de custos, centros de receitas ou receitas geradas” (PEREZ JR.; OLIVEIRA, COSTA, 2003). Custos indiretos São classificados como custos indiretos os itens de custos cujo consumo para cada unidade produzida não pode ser identificado de forma objetiva, sendo que a alocação (distribuição) aos produtos terá que ser feita de forma estimada, ou seja, por meio de rateios. Para distribuirmos (alocarmos) o custo indireto ao produto, precisamos utilizar algum critério, chamado “critério de rateio”. Porexemplo, se a empresa paga R$ 1.000 de salário para o supervisor de produção e produz 1.000 unidades, pode definir que o custo com salário será distribuído em função das unidades produzidas, rateando R$ 1,00 de custo com mão de obra do supervisor por unidade produzida. Como exemplo de custos indiretos pode-se citar o aluguel do prédio da fábrica, a depreciação dos equipamentos, o seguro do prédio da fábrica, entre outros, pois nestes casos não há como identificar, objetivamente, qual é a parcela do custo que deve ser atribuída a cada unidade produzida. Para Perez Jr., Oliveira e Costa (2003), as despesas também podem ser classificadas em diretas e indiretas, porém a análise passa a ser efetuada em relação às receitas da empresa. Despesas diretas As despesas diretas são aquelas que podem ser quantificadas e apropriadas em relação às receitas de vendas e prestação de serviços. Como exemplo de despesa direta tem-se: Impostos sobre as vendas (IPI, ICMS, PIS, COFINS, ISS); Comissão sobre as vendas. Despesas indiretas As despesas indiretas são aquelas não identificáveis de forma direta com as receitas geradas. São exemplos de despesas indiretas o salário dos vendedores, as despesas com o setor de contabilidade, o aluguel do prédio utilizado pela área de vendas, entre outras, uma vez que o valor gasto só pode ser distribuído para cada unidade vendida se a empresa definir um critério para alocação desta despesa. 2.2.2 Classificação dos custos e despesas em variáveis ou fixos Nesta análise devem ser consideradas as oscilações dos custos em função dos volumes produzidos ou as oscilações das despesas em função da receita de vendas dos produtos ou serviços. Custos variáveis ou fixos Segundo Martins (2003), quanto ao comportamento em relação às variações de volume de produção, os custos podem ser classificados como variáveis ou fixos. Custos variáveis Os custos variáveis são aqueles que mantêm uma relação direta com os volumes produzidos, ou seja, aumentam ou diminuem na proporção da oscilação da produção. São exemplos de custos variáveis: matéria-prima e embalagens. As principais características dos custos variáveis, segundo Perez Jr., Oliveira e Costa (2003), são: seu valor total varia na proporção direta do volume de produção; o valor é constante por unidade, independentemente da quantidade produzida. Sendo assim, pode-se afirmar que o custo variável tem o seguinte comportamento: O custo variável unitário é estável por unidade produzida. Por exemplo, a empresa gasta R$ 10,00 de matéria-prima para produzir 1 unidade do produto “x” e este valor é constante por unidade (Gráfico 1). Gráfico 1 – Comportamento do custo variável unitário. Fonte: elaborado pelos autores. O custo variável total aumenta na medida em que aumenta a quantidade produzida. Se para cada unidade do produto “x” a empresa gasta R$ 10,00 com matéria-prima, se ela produzir 3 unidades gastará R$ 30,00 e assim sucessivamente, conforme ilustra o Gráfico 2. Gráfico 2 – Comportamento do custo variável total. Fonte: elaborado pelos autores. Desta forma, observa-se que o custo variável é aquele que varia em função do volume de produção da empresa, ou seja, quanto mais unidades forem produzidas, maior será o custo variável do período. Atenção: o custo variável só existirá quando houver produção no período! Custos fixos (ou custos estruturais) Para Perez Jr., Oliveira e Costa (2003), custos fixos são os que permanecem constantes em relação à quantidade produzida, dentro do limite da capacidade instalada. São exemplos de custos fixos o aluguel do prédio da fábrica, a depreciação das máquinas e equipamentos, o seguro dos equipamentos utilizados na produção, etc. O autor explica que as principais características dos custos fixos são as seguintes: o custo total permanece constante dentro de certas faixas de produção; o custo por unidade produzida varia na medida em que ocorre variação no volume de produção; sua alocação aos centros de custos é feita, na maioria de vezes, por rateios. Desta forma, os custos fixos têm o seguinte comportamento: O custo fixo total do mês tende a permanecer estável, considerando-se determinada capacidade de produção instalada. Por exemplo, a empresa paga $ 3.000,00/mês de salário para o encarregado de produção. Se no mês de março.x1 a empresa produzir 1.000 unidades, o valor pago ao encarregado será de R$ 3.000,00. Da mesma forma, se ela produzir 3.000 unidades, o valor pago não sofrerá alterações. O Gráfico 3 ilustra o comportamento dos custos fixos totais em um determinado período. Gráfico 3 – Comportamento do custo fixo total. Fonte: elaborado pelos autores. O custo fixo unitário (valor de custo fixo de cada unidade produzida) se altera em função do volume de produção. Isso ocorre porque o valor do custo fixo é distribuído entre as unidades produzidas. Considerando o mesmo exemplo, se a empresa produzir 1.000 unidades terá um custo fixo de R$ 3,00 por unidade produzida (R$ 3.000,00/1.000 unidades). Por outro lado, se a empresa produzir 3.000 unidades, ela terá um custo fixo de R$ 1,00 por unidade produzida (R$ 3.000,00/3.000 unidades), desde que a capacidade instalada suporte este nível de produção. Gráfico 4 – Comportamento do custo fixo unitário. Fonte: elaborado pelos autores. Observa-se que o custo fixo total não varia em função do volume de produção, ou seja, permanece fixo no período, independentemente do número de unidades que a empresa conseguiu produzir. O custo fixo unitário, por outro lado, diminui na medida em que a produção aumenta. Em função disto, o ideal é que a empresa consiga produzir o máximo de unidades possíveis utilizando a mesma estrutura de custos fixos, pois assim ela poderá distribuir os custos fixos em uma maior quantidade de unidades produzidas, o que reduz seu custo por unidade, conforme ilustra o Gráfico 4. Despesas variáveis ou fixas Da mesma forma que os custos, as despesas também são classificadas em fixas e variáveis, porém a análise deve ser efetuada em relação à quantidade vendida. Despesas variáveis Despesas variáveis são aquelas que oscilam de forma diretamente proporcional ao volume de vendas, ou seja, quanto maior o volume de vendas maiores serão as despesas variáveis. As comissões sobre as vendas são um exemplo de despesa variável, uma vez que se a empresa vender uma unidade pagará R$ 1,00 de comissão, se vender duas pagará R$ 2,00. Por outro lado, se não forem realizadas vendas no período, a despesa não ocorre. Despesas fixas (ou despesas estruturais) As despesas fixas são aquelas que permanecem constantes em relação ao volume de vendas, ou seja, ainda que as vendas aumentem ou diminuam este tipo de despesa não se altera. Como exemplos podem ser citados o honorário do contador, os salários e encargos do pessoal do administrativo e do setor de vendas, despesa com telefone, entre outras, pois o valor gasto será o mesmo caso a venda seja de R$ 1.000.000,00/mês ou R$ 1.200.000,00/mês. TERMOS-CHAVE Critérios de rateio – são os critérios utilizados para a distribuição dos gastos indiretos aos produtos/serviços (custos indiretos) e às receitas geradas (despesas indiretas). Custo – consumo de bens ou serviços para a produção de outros bens/serviços. Custo direto – são os custos diretamente identificados com os produtos/serviços, tais como matéria- prima, material de embalagem e mão de obra direta. Custo fixo – não varia em função do volume de produção. Os custos fixos totais são constantes em relação à quantidade produzida, dentro do limite de capacidade instalada. Por exemplo, aluguel do prédio da fábrica, depreciação das máquinas e equipamentos, salário (e encargos) do supervisor de produção. Custo indireto – custo que não pode ser identificado de forma direta e objetiva com o produto/serviço, tais como aluguel do prédio da fábrica e salário (e encargos) do supervisor de produção. Custo variável – tem relação direta com o volume produzido. O custo variável total aumenta ou diminui na proporção em que a produção aumenta ou diminui.Por exemplo, matéria-prima e embalagem. Despesa – consumo de bens ou serviços em atividades não relacionadas à produção, mas sim ligadas à geração de receitas e à manutenção/administração do negócio. As despesas classificam-se, basicamente, em administrativas, com vendas e financeiras. Despesa direta – são aquelas que estão diretamente relacionadas com a receita de vendas. Por exemplo, comissão e impostos incidentes sobre vendas. Despesa fixa – são aquelas que permanecem constantes em relação ao volume de vendas como salário dos funcionários da contabilidade, despesa com água, luz, telefone. Despesa indireta – são as despesas que não podem ser identificadas de forma direta com a receita gerada. Por exemplo, honorários pagos ao contador, aluguel do prédio administrativo, despesa com água, luz, telefone. Despesa variável – as despesas variáveis são aquelas que oscilam de forma diretamente proporcional ao volume de vendas, como, por exemplo, comissão dos vendedores. Gasto – consumo de um bem ou serviço obtido por meio de desembolso imediato (compra à vista) ou futuro (compra a prazo). REFERÊNCIAS BORNIA, Antônio Cezar. Análise gerencial de custos. São Paulo: Atlas, 2002. CRC-SP. Curso sobre contabilidade de custos. São Paulo: Atlas, 1992. CRC–SP. Custos: ferramenta de gestão. São Paulo: Atlas, 2000. DUTRA, René G. Custos: uma abordagem prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo, Atlas, 2003. PEREZ JR., José Hernandez, OLIVEIRA, Luiz Martins de; COSTA, Rogério Guedes. Gestão estratégica de custos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. SOUZA, Marcos Antônio; DIEHL, Carlos Alberto. Gestão de custos. São Paulo: Atlas, 2009. CAPÍTULO 3 DETERMINAÇÃO DOS CUSTOS: CUSTO DO MATERIAL DIRETO E CUSTO DA MÃO DE OBRA Neste capítulo são estudados, especificamente, os aspectos relacionados à determinação do custo do material direto (MD) e da mão de obra. Primeiramente, trata-se da definição dos custos com MD, discutindo-se o impacto da tributação e dos métodos de controle (avaliação) dos estoques no valor do MD. Na sequência, apresenta-se a determinação do custo com mão de obra e encargos que, assim como os MD, são um item importante na formação dos custos/serviços e, por esta razão, merecem uma atenção especial. 3.1 Materiais diretos 3.1.1 Custo dos materiais diretos Antes da discussão relacionada ao custo dos materiais diretos, é importante compreender a diferença entre mercadoria e produto, a qual está relacionada com o ramo de atividade da entidade. Mercadoria pode ser entendida como o bem móvel adquirido pela entidade, que tem como finalidade revendê-lo ou alugá-lo, no mesmo estado em que foi adquirido, visando obter lucro. O comércio opera com mercadorias. A indústria, por sua vez, compra insumos, aos quais agrega mão de obra e outros gastos de fabricação, gerando o que se denomina produto. O comércio opera com mercadorias e a indústria com produtos. Por exemplo, o sapato é um produto da fábrica de calçados e é uma mercadoria da loja do shopping que o comercializa. Neste contexto, as empresas comerciais realizam a compra de mercadorias, que serão repassadas para os clientes, enquanto as industriais adquirem materiais diretos (matérias-primas, componentes adquiridos prontos, embalagens, entre outros) que serão industrializados, ou seja, transformados em produtos para posterior comercialização. Conforme Martins (2003), para empresas industriais, devem ser considerados como custo de aquisição todos os gastos incorridos para a colocação da matéria-prima em condições de uso, ou seja, fazem parte do custo de aquisição da matéria-prima: o valor de aquisição, que consta na nota fiscal, mais gastos adicionais sobre a compra, tais como fretes, seguros e despesa com armazenamento, menos os impostos compensáveis. No caso de empresas comerciais, são contabilizados o valor de aquisição e todos os gastos para colocação da mercadoria em condições de venda (como frete sobre compras, por exemplo), deduzindo-se também os impostos compensáveis. Assim pode-se estabelecer a seguinte equação para cálculo do custo de aquisição: Custo de aquisição (matéria-prima) ou valor para estoque (mercadorias) = Valor de compra + Gastos para disponibilizar o bem – Créditos tributários Em alguns casos, os impostos podem gerar créditos tributários, ou seja, a empresa pode compensar o valor destes impostos pagos na entrada de mercadorias para revenda, ou para industrialização, com aqueles que ela vai apurar na saída de mercadorias ou produtos de seu estabelecimento. Os gastos adicionais para disponibilizar o bem, seja ele uma mercadoria ou matéria-prima, como já mencionado, se referem a frete, seguros, taxas, etc., e os créditos tributários são os tributos não cumulativos compensáveis com os débitos gerados pela empresa. Tais tributos, por serem recuperáveis, não podem ser considerados como custos e devem ser deduzidos do valor pago pelas mercadorias/matéria-prima. Neste ponto, cabe destacar que os tributos recuperáveis dependem da atividade realizada (indústria, comércio, serviços), do enquadramento tributário da empresa (lucro real, lucro presumido e simples nacional) e se esta realiza operações no mercado interno ou externo. Na sequência, são discutidos dois aspectos relevantes que impactam na definição dos custos com MD em empresas industriais: critérios de avaliação dos materiais (métodos para valorização do material em estoque) e tratamento dos tributos incidentes na aquisição dos materiais. 3.1.2 Métodos para valorização de material em estoque Considerando-se que o estoque da empresa pode ser composto por um mesmo material que pode ter custos de aquisição diferentes, é importante definir qual o método de avaliação a ser adotado para baixa dos materiais que serão utilizados na fabricação e formarão o custo de produção dos produtos. Por exemplo: a empresa pode ter adquirido a matéria--prima “ A” no dia 01 jan. por R$ 30,00 e no dia 15 jan. por R$ 32,00. Dessa forma, na sequência são apresentadas as principais modalidades de controle de estoques. 3.1.2.1 Método FIFO ou PEPS (Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair) Este método é conhecido como FIFO, que é a abreviatura de First In, First Out ou, em português, como PEPS (Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair). Por este método as baixas são valorizadas pelas primeiras entradas remanescentes, o que significa que se utilizam sempre as mercadorias/matérias-primas mais velhas e, consequentemente, as unidades existentes em estoque correspondem àquelas adquiridas mais recentemente. A seguir, no Quadro 3, são apresentadas as principais características desse método de controle de estoques. Quadro 3 – Método FIFO ou PEPS Características Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair Baixa do estoque Valorizado pelo custo das primeiras entradas remanescentes Imposto de renda Aceita Lucro Normalmente, apresenta um resultado maior do que quando se utilizaos outros métodos (Médio Ponderado e UEPS) Estoque final Valorizado pelo custo das últimas entradas remanescentes Fonte: elaborado pelos autores. Para melhor compreensão do método FIFO ou PEPS, o exemplo a seguir, mostra a movimentação de matéria-prima de uma empresa em um período de quatro dias: Se as primeiras mercadorias adquiridas são as primeiras a serem vendidas, o estoque é formado pelas últimas mercadorias adquiridas. Tabela 2 – Movimentação de matéria-prima Fonte: elaborada pelos autores. Utilizando-se o método de controle de estoques PEPS, o custo da matéria-prima utilizada na fabricação do produto “x” é calculado conforme apresentado na Tabela 3. Tabela 3 – Ficha de controle de estoques (Método FIFO ou PEPS) Fonte: elaborada pelos autores. Como já mencionado, pelo método FIFO ou PEPS as baixas do estoque (saídas) são valorizadas pelo custo das primeiras unidades adquiridas e que ainda fazem parte do estoque. Desta forma, neste exemplo, o custo da matéria-prima utilizada no período foi de R$ 2.700,00, composto por: (1º) 100 unidades, que já existiam no estoqueinicial, a um custo de R$ 10,00 por unidade; (2º) 100 unidades adquiridas em 02/01 a um custo de R$ 11,00 por unidade; (3º) 50 unidades a adquiridas em 03/01 a R$ 12,00 por unidade. Verifica-se, também, que o estoque final é composto pelas mercadorias adquiridas por último (50 unidades compradas em 03/01 a R$ 12,00 por unidade). 3.1.2.2 Método LIFO ou UEPS (Último a Entrar, Primeiro a Sair) O Método UEPS (Último a Entrar, Primeiro a Sair) é também conhecido como LIFO, que é a abreviatura de Last in, First out. Pelo UEPS, as baixas serão valorizadas pelas últimas entradas remanescentes, ou seja, consideram-se, primeiramente, as mercadorias ou matérias-primas adquiridas por última, assim, permanecem em estoque sempre as mercadorias adquiridas há mais tempo. As principais características deste método estão descritas no Quadro 4 a seguir. Quadro 4 – Método LIFO ou UEPS Características Último a Entrar, Primeiro a Sair Baixa do estoque Valorizado pelo custo das últimas entradas remanescentes Imposto de renda Não aceita Lucro Normalmente, o lucro apresentado é menor que o apurado quando seutiliza o PEPS e o médio ponderado Estoque final Valorizado pelo custo das primeiras entradas remanescentes Fonte: elaborado pelos autores. Considerando-se as informações apresentadas na Tabela 2, o custo da matéria- prima utilizada, adotando-se o método de controle de estoques UEPS, é apresentado na Tabela 4. Se as últimas mercadorias adquiridas são as primeiras a serem vendidas, o estoque é formado pelas mercadorias mais antigas. Tabela 4 – Ficha de controle de estoques (Método LIFO ou UEPS) Fonte: elaborada pelos autores. O custo da matéria-prima utilizada, apurado mediante a utilização do método LIFO ou UEPS, é de R$ 2.800,00, formado por: (1º) 100 unidades adquiridas em 03/01 a R$ 12,00 por unidade; (2º) 100 unidades adquiridas em 02/01 a um custo de R$ 11,00 por unidade; (3º) 50 unidades, do estoque inicial, que haviam sido adquiridas a R$ 10,00 por unidade. O estoque final, por sua vez, é composto pelas mercadorias mais antigas, ou seja, pelas 50 unidades que já faziam parte do estoque no início do período. 3.1.2.3 Método do custo médio ponderado variável Como o próprio nome indica, pelo método do custo médio ponderado variável, as baixas do estoque são feitas sempre pelo valor médio das mercadorias/matérias- primas estocadas. As principais características deste método são apresentadas no Quadro 5. Quadro 5 – Método do custo médio ponderado variável Características Média ponderada de diversas compras Baixa do estoque Valorizado pelo custo médio das compras Imposto de renda Aceita Lucro Normalmente, o lucro fica entre o lucro apurado quando se utiliza oUEPS e o PEPS Estoque final Valorizado pelo custo médio das unidades em estoque Fonte: elaborado pelos autores. Ainda com base nos dados apresentados na Tabela 2, apresenta-se, na Tabela 5, o cálculo do custo da matéria-prima utilizada na fabricação do produto “x” a partir da aplicação do método do custo médio ponderado variável. Tabela 5 – Ficha de controle de estoques (Custo médio ponderado variável) * O custo médio é obtido a partir da divisão do valor total de matéria-prima pela quantidade. ** As matérias-primas que saem do estoque (são consumidas) são avaliadas pelo seu custo médio. Fonte: elaborada pelos autores. Verifica-se que o custo da matéria-prima consumida corresponde ao custo médio dos materiais em estoque no momento da baixa (R$ 3.300,00/300 unidades) e que o estoque final também é avaliado por este custo médio de R$ 11,00. A partir dos exemplos apresentados, é possível observar que o custo das matérias-primas consumidas se altera conforme o método de valorização adotado. Cabe destacar que, gerencialmente, a empresa pode utilizar o método que melhor atenda as suas necessidades, mas que, contabilmente, deve observar os métodos que são aceitos pela legislação fiscal: FIFO ou PEPS ou médio ponderado variável. 3.1.3 Tributos na aquisição dos materiais diretos no mercado interno A compreensão dos aspectos tributários relacionados à aquisição de materiais diretos é importante na medida em que, como já mencionado, o custo de aquisição dos materiais inclui o valor pago ao fornecedor subtraído dos impostos recuperáveis. Por esta razão, neste tópico são discutidas as regras gerais relacionadas aos tributos incidentes na aquisição de materiais, levando-se em consideração a opção tributária das empresas. Para tanto, a seguir, apresenta-se o tratamento empregado nas empresas optantes pelo simples nacional, pelo lucro presumido e pelo lucro real, uma vez que, via de regra, os impostos recuperáveis que devem ser subtraídos do valor pago ao fornecedor são influenciados pelo enquadramento tributário da empresa. Cabe destacar que é abordado, exclusivamente, o impacto da tributação na definição do custo dos materiais diretos adquiridos no mercado interno pelas empresas industriais, o que significa que não se tem o objetivo de discutir de forma aprofundada cada uma das sistemáticas de tributação mencionadas. 3.1.3.1 Simples nacional O Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – Simples Nacional foi instituído pela Lei Complementar nº. 123, de 14 de dezembro de 2006, e consiste, segundo Oliveira (2008), no recolhimento mensal, mediante um único documento de arrecadação, dos seguintes impostos e contribuições: a. Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ); b. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); c. Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); d. Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep); e. Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI); f. As contribuições para a Seguridade Social, a cargo da pessoa jurídica; g. Impostos sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal (ICMS); h. Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Com relação aos impostos recuperáveis e que podem ser abatidos do valor pago aos fornecedores para definição do custo dos materiais diretos adquiridos, tem-se a situação apresentada no Quadro 6. Quadro 6 – Impostos compensáveis na compra de materiais diretos (Empresas optantes pelo simples nacional) Espécie de tributo Gera crédito tributário? PIS NÃO COFINS NÃO IPI NÃO ICMS NÃO Fonte: elaborado pelos autores. Desta forma, o custo de aquisição dos MD, no mercado interno, é definido conforme apresentado no Quadro 7. Quadro 7 – Custo de aquisição dos materiais diretos no mercado interno (Empresas optantes pelo simples nacional) Valor total da nota fiscal (+) Valor do frete sobre compras (+) Seguro (+) Outros gastos relacionados com compras (=) Custo de aquisição dos materiais diretos Fonte: elaborado pelos autores. Verifica-se, portanto, que as compras efetuadas pelas empresas optantes pelo simples nacional não geram direito a créditos tributários, logo, não existem impostos compensáveis a serem deduzidos do valor pago pelos materiais diretos aos fornecedores. Para melhor compreensão dos conceitos discutidos, considera-se o seguinte exemplo: Em janeiro.x1 a Indústria Gama Ltda. adquiriu diversas matérias-primas e materiais de embalagem, conforme segue: Tabela 6 – Aquisição de matéria-prima e embalagem da Indústria Gama Ltda. Matéria-prima Valor R$ Alíquota % Valor total pago ao fornecedor 1.188.000,00 Valor do IPI – destacado na NF 108.000,00 10% Valor do ICMS – destacado na NF 183.600,00 17% Material de embalagem Valor R$ Alíquota % Valor total pago ao fornecedor 207.000,00 Valor do IPI – destacado na NF 27.000,00 15% Valor do ICMS – destacado na NF 30.600,00 17% Fonte: elaborada pelos autores. Com base nas informações apresentadas na Tabela 6, o valor dos materiais diretos adquiridos e que serão contabilizados no estoque da Indústria Gama Ltda., considerando-se que ela é optante do simples nacional, é apresentado na Tabela 7. Tabela 7 – Custo deaquisição dos materiais diretos (Simples nacional) Especificações Matérias-primas Embalagens Valor pago ao fornecedor 1.188.000,00 207.000,00 (–) IPI – – (–) ICMS – – (–) PIS – – (–) COFINS – – (=) Valor para estoque 1.188.000,00 207.000,00 Fonte: elaborada pelos autores. A partir do exemplo apresentado, verifica-se que para as empresas tributadas pelo simples nacional o custo dos materiais diretos que, primeiramente, compõem o estoque e que, em seguida, são utilizados na elaboração dos produtos, é o valor pago aos fornecedores, tendo em vista que não existem impostos a recuperar. 3.1.3.2 Lucro presumido O lucro presumido, ou estimado, é uma alternativa às empresas não obrigadas à apuração do IRPJ e CSLL baseada no lucro real. Pela sistemática do lucro presumido, o cálculo dos tributos devidos (IRPJ e CSLL) é simplificado e consiste na aplicação de coeficientes legalmente definidos sobre a receita bruta e seus acréscimos, conforme a natureza da atividade realizada pela empresa, observando-se o exposto no Decreto nº. 3.000 de 29 de março de 1999 (RIR/99). A regra geral relacionada aos impostos recuperáveis pelas empresas industriais tributadas pelo lucro presumido é apresentada no Quadro 8. Quadro 8 – Impostos compensáveis na compra de materiais diretos (Empresas optantes pelo lucro presumido) Espécie de tributos Gera crédito tributário? PIS NÃO COFINS NÃO IPI SIMAlíquota do produto (destacado na NF) ICMS SIMAlíquota do produto (destacado na NF) Fonte: elaborado pelos autores. Considerando-se os impostos compensáveis, o custo de aquisição dos materiais diretos adquiridos pelas empresas optantes pelo lucro presumido é apurado conforme mostra o Quadro 9. Quadro 9 – Custo de aquisição dos materiais diretos no mercado interno (Empresas optantes pelo lucro presumido) Valor total da nota fiscal (–) IPI a ser recuperado – destacado na NF (–) ICMS a ser recuperado, incluso no preço e destacado na NF (+) Valor do frete sobre compras (+) Seguro (+) Outros gastos relacionados com compras (=) Custo de aquisição dos materiais diretos Fonte: elaborado pelos autores. Observa-se, então, que as compras efetuadas pelas empresas enquadradas no lucro presumido geram direito a créditos de IPI e ICMS, que devem ser deduzidos do valor pago aos fornecedores pelos materiais diretos para cálculo do custo de aquisição dos mesmos. Tomando-se como base o exemplo apresentado no tópico anterior e as informações que constam na Tabela 6, apresenta-se, na Tabela 8, o custo dos materiais diretos considerando-se que a Indústria Gama Ltda. é tributada com base no lucro presumido. Tabela 8 – Custo de aquisição dos materiais diretos (Lucro presumido) Especificações Matérias-primas Embalagens Valor pago ao fornecedor 1.188.000,00 207.000,00 (–) IPI1 108.000,00 27.000,00 (–) ICMS 183.600,00 30.600,00 (–) PIS – – (–) COFINS – – (=) Valor para estoque 896.400,00 149.400,00 Fonte: elaborada pelos autores. A partir dos dados da Tabela 8, constata-se que, diferentemente do simples nacional, no lucro presumido, a empresa pode recuperar o IPI e o ICMS incidentes sobre a compra, logo, o valor destes tributos não faz parte do custo de aquisição dos materiais diretos adquiridos e deve, portanto, ser deduzido do valor pago ao fornecedor para determinação do valor para estoque. 3.1.3.3 Lucro real A apuração dos tributos devidos (IRPJ e CSLL) com base no Lucro Real é mais complexa, comparativamente ao simples nacional e ao lucro presumido, pois, nesta sistemática, o Lucro Real (base de cálculo dos impostos) “é apurado a partir do resultado contábil do período-base, que pode ser positivo (lucro) ou negativo (prejuízo)”, o que “pressupõe escrituração contábil regular e mensal” (FABRETTI, 2009, p. 213). Oliveira (2008) explica que o Lucro Real é o resultado contábil líquido, antes da dedução do IRPJ e CSLL, ajustado pelas adições, exclusões e compensações prescritas ou autorizadas pela legislação do imposto de renda. Via de regra, os impostos recuperáveis nas empresas tributadas pelo Lucro Real são: IPI, ICMS, PIS e Cofins (Quadro 10). Quadro 10 – Impostos compensáveis na compra de materiais diretos (Empresas tributadas pelo lucro real) Espécie de tributos Gera crédito tributário? PIS SIMAlíquota de 1,65% COFINS SIMAlíquota de 7,60% IPI SIMAlíquota do produto (destacado na NF) ICMS SIMAlíquota do produto (destacado na NF) Fonte: elaborado pelos autores. Considerando-se as informações apresentadas no Quadro 10, o custo de aquisição dos materiais diretos nas empresas tributadas pelo lucro real é apurado conforme apresentado no Quadro 11. Quadro 11 – Custo de aquisição dos materiais diretos no mercado interno (Empresas tributadas pelo lucro real) Valor total da nota fiscal (–) IPI a ser recuperado – destacado na NF (–) ICMS a ser recuperado – incluso no preço e destacado na NF (–) PIS – 1,65% (–) Cofins – 7,60% (+) Valor do frete sobre compras (+) Seguro (+) Outros gastos relacionados com compras (=) Custo de aquisição dos materiais diretos Fonte: elaborado pelos autores. Ainda com base no exemplo exposto na Tabela 6, o custo de aquisição dos materiais diretos, considerando-se que a Indústria Gama Ltda. é tributada pelo lucro real, é apresentado na Tabela 9. Tabela 9 – Custo de aquisição dos materiais diretos (Lucro real) Especificações Matérias-primas Embalagens Valor pago ao fornecedor 1.188.000,00 207.000,00 (–) IPI 108.000,00 27.000,00 (–) ICMS 183.600,00 30.600,00 (–) PIS 17.820,00 2.970,00 (–) COFINS 82.080,00 13.680,00* (=) Valor para estoque 796.500,00 132.750,00 * ATENÇÃO: observe que no cálculo do PIS e da COFINS a recuperar, a base de cálculo é o valor pago aos fornecedores (–) IPI. Fonte: elaborada pelos autores. Verifica-se, com base nas informações apresentadas na Tabela 9, que no caso das empresas tributadas pelo lucro real o IPI, o ICMS, o PIS e a Cofins devem ser subtraídos do valor total da nota fiscal, uma vez que geram créditos tributários para a empresa compradora (Indústria Gama Ltda.), que poderá abater o valor destes impostos a recuperar no valor dos impostos devidos em função das vendas realizadas no período. 3.2 Mão de obra Os custos com mão de obra abrangem todos os gastos despendidos com o pessoal (salários, encargos sociais e provisões), que podem ser atribuídos aos produtos de forma direta ou indireta. Estes custos dividem-se em dois grandes grupos: Custo com mão de obra direta: refere-se apenas ao pessoal que trabalha diretamente sobre o produto em elaboração, “desde que seja possível a mensuração do tempo despendido e a identificação de quem executou o trabalho, sem necessidade de qualquer apropriação indireta ou rateio” (MARTINS, 2003, p. 133). Custo com mão de obra indireta: a mão de obra indireta é aquela relativa ao pessoal que não trabalha diretamente sobre o produto, mas que está envolvido na produção (supervisores da produção de diversos produtos, operadores de máquinas que fabricam diversos produtos ao mesmo tempo sem a possibilidade de se verificar quanto cada produto consome do seu tempo total). Por ser um gasto indireto, o custo com este tipo de mão de obra é distribuído aos produtos utilizando-se algum critério de rateio. Martins (2003) menciona que ainda que seja possível medir a mão de obra direta, mas a empresa opte por não fazê-lo, por razões econômicas ou pela complexidade do processo, esta deve ser tratada como indireta, uma vez que precisará ser distribuída aos produtos com base em critérios estimados. Além dos valores incorridos pela empresa com as verbas salariais, devem ser considerados na equação de custos com mão de obra, direta ou indireta, os seguintes itens: encargos sociais de conta da empresa, tais como a contribuição ao INSS, contribuição a terceiros e FGTS provisão mensal das férias, décimo terceiro salário e adicional férias vale refeição, vale transportes etc. Os principais encargos sociais e provisões incidentes sobre a folha de pagamento são apresentados no Quadro 12. Quadro 12 – Demonstrativo dos custos com encargos sociais
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