Prévia do material em texto
D O C U M E N T O C U R R IC U L A R D A R E D E M U N IC IP A L D E E N S IN O D E S O B R A L E D U C A Ç Ã O I N F A N T IL DOCUMENTO CURRICULAR DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SOBRAL EDUCAÇÃO INFANTIL Capas.indd 1Capas.indd 1 10/01/2020 19:1010/01/2020 19:10 Capa ilustrada com recursos do Freepik.com Capas.indd 2Capas.indd 2 10/01/2020 19:1010/01/2020 19:10 Sobral_Miolo - Revisado.indd 1Sobral_Miolo - Revisado.indd 1 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 3 DOCUMENTO CURRICULAR DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SOBRAL EDUCAÇÃO INFANTIL Sobral_Miolo - Revisado.indd 2-3Sobral_Miolo - Revisado.indd 2-3 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 54 PREFEITURA MUNICIPAL DE SOBRAL Ivo Ferreira Gomes Prefeito SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - SME Francisco Herbert Lima Vasconcelos Secretário Municipal da Educação COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO INFANTIL – CEI Kathleen Maria Arcanjo Mont’Alverne Coordenadora COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO Gabriele de Oliveira Souza ILUSTRAÇÃO Juliardy Rodrigues de Sousa Coordenadora Daniele Pontes Linhares Gerente de Célula de Formação e Acompanhamento Maria Sérgia da Cunha Rocha Olímpio Gerente de Célula de Apoio a Gestão EQUIPE TÉCNICA José Leonardo Florêncio Viana Nycholas Araújo Carneiro CONCEPÇÃO E ELABORAÇÃO DE TEXTOS – MEMBROS DO GT Adriana Bôto de Souza Ana Carla Siebra Farias Ana Cláudia Santos Cordeiro Almeida Ana Isa Morais Melo Ana Rosa de Andrade Parente Andréia Dorlange Ferreira Carneiro Célia Maria Rodrigues Aguiar Daniele Pontes Linhares Francisca Joelma Xavier de Oliveira Ídina Maria Pereira Alves Lopes Kathleen Maria Arcanjo Mont’Alverne Marisa Vasconcelos Ferreira Maria Iêda de Farias Maria Lucilene de Lima Teresa Mara Vasconcelos Pinto Ticiane Maria de Sousa Silva Valéria Rufino Cunha Wellidiana Rodrigues Mouta Viana ASSESSORIA PEDAGÓGICA GERAL Marisa Vasconcelos Ferreira LEITORES CRÍTICOS Beatriz de Oliveira Abuchaim Fundação Maria Cecília Souto Vidigal Karina Fasson Fundação Maria Cecília Souto Vidigal Andréa Luize Instituto Vera Cruz ESPAÇO DE REFERÊNCIA DO BRINCAR – BRINQUEDOTECA DO DIDI Valdiana Pimentel Ponte Marques Maria Rozilene Linhares Araújo Valéria Furtado Pedro Elias de Souza Neto Yure Kauê Araújo Sampaio Antônio Reinaldo Araújo PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Daniel Pastori FOTOGRAFIAS Arquivos da Secretaria da Educação Arquivo das Escolas e Centros de Educação Infantil Luiz Queiroz Francisco Tenysson REVISÃO DE TEXTO Cristina Camargo Arnaldo Vicente Ferreira Sá EQUIPE DE COORDENAÇÃO E ELABORAÇÃO DO DOCUMENTO CURRICULAR COORDENAÇÃO GERAL Kathleen Maria Arcanjo Mont’Alverne Daniele Pontes Linhares COLABORADORES Antônia Araújo de Sousa Auricelia Cavalcante Albuquerque Aucidia Arruda Lopes Oquendo Christopher Montezuma Cidmary Ximenes de Melo Daniela Miranda da Costa Macambira Dedita Rodrigues de Sousa Denize Bernardo Edna Lúcia de Carvalho Lima Gilvanira Maria Xavier de Freitas Heldeana Romão Carvalho Jacyra Pimentel Gomes Sampaio Sales José Leonardo Florêncio Viana Maria Penha Cardoso Maria de Lourdes Prado de Vasconcelos Maria Francilúcia Anselmo Maria Lucielle Holanda de Sousa Maria Marcélia Moreira Araújo Maria Sérgia da Cunha Rocha Olímpio Maria Valderez Serafim Delmiro Maria Vilani Ponte Arcanjo Marilene Neri Lima Onária Socorro Barros Leitão Paulo Roberto Mendes Cunha Tunica Aírles Martins de Mesquita Valdecira Frota Araújo Sobral_Miolo - Revisado.indd 4-5 10/01/2020 19:11 76 Agradecimento A BAILARINA Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Não conhece nem dó nem ré mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem mi nem fá mas inclina o corpo para cá e para lá. Não conhece nem lá nem si, mas fecha os olhos e sorri. Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar e não fica tonta nem sai do lugar. Põe no cabelo uma estrela e um véu e diz que caiu do céu. Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Mas depois esquece todas as danças, e também quer dormir como as outras crianças. Cecília Meireles (1964) Às crianças que com suas peripécias e grandezas foram desde o princípio nossa inspiração e propósito. Aos membros e colaboradores do grupo de trabalho da educação infantil, com quem ao longo de dois anos foi plantado, arado e colhido um desejo imensurável de ver nascer esse documento curricular. Aos educadores, que deram sua voz na consulta pública e seu apoio em todos os encontros que eram oportunos. Aos parceiros, que acreditaram e investiram tempo, trabalho e recursos, nossos agradecimentos. Kathleen Maria Arcanjo Mont’Alverne Coordenadora da Educação Infantil Sobral_Miolo - Revisado.indd 6-7Sobral_Miolo - Revisado.indd 6-7 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 98 É com imensa satisfação que entregamos à Rede Pública de Ensino de Sobral o Do- cumento Curricular da Educação Infantil. O objetivo deste documento é fortalecer as condições para que as crianças aprendam, assumindo um papel ativo, por meio de in- terações e brincadeiras, em ambientes segu- ros e desafiadores, onde possam viver os di- reitos de se expressar, participar, explorar, brincar, conviver e conhecer a si mesmos. Acreditamos que investir na primeira infân- cia fará toda a diferença no desenvolvimento integral das crianças. Nos últimos anos, a gestão municipal tem garantido um olhar atento aos bebês e crian- ças de Sobral com a criação de uma coorde- nadoria para a educação infantil, formação específica para coordenadores dessa moda- lidade, concurso público para professores, construção de um currículo para creche e pré-escola, criação do Seminário da Criança de Sobral, estudo e pesquisa sobre avaliações em parceira com consultorias, como também a ampliação na matricula através da constru- ção de novos centros de Educação Infantil. Este documento curricular representa um grande avanço para a nossa rede, pois nele encontraremos concepções e alinharemos ainda mais as práticas pedagógicas ao longo da caminhada. Trata-se de um documento elaborado a muitas mãos pelos profissionais e parceiros da nossa rede, escrito de forma democrática e com as sugestões incorpora- das após consulta pública. Aqui encontra- remos um resgate da história da Educação Infantil em nosso município, as vozes das crianças, das famílias e da comunidade es- colar, além da materialização dos critérios orientadores que a rede definiu, visando o fortalecimento da política de equidade e da educação inclusiva. Portanto, desejamos que as orientações aqui postas ganhem forma, deixando as pá- ginas e ganhando vida em cada prática pe- dagógica. Francisco Herbert Lima Vasconcelos Secretário de Educação de Sobral Aos Educadores da Rede Municipal de Sobral Sobral_Miolo - Revisado.indd 8-9Sobral_Miolo - Revisado.indd 8-9 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 1110 12 PARTE I - PARA COMEÇO DE HISTÓRIA... 13 Quem somos, onde estamos e o que queremos? 18 Era uma vez... A Educação Infantil no cenário nacional e municipal 20 “Sobralizar” a educação: Avanços, conquistas e desafios 25 Colcha de retalhos: muitas mãos, muitos trabalhos 28 PARTE II – HÁ UMA CRIANÇA EM CADA UM DE NÓS: princípios estruturantes do currículo 29 1. A criança, sujeito histórico e de direitos, aprende e se desenvolve a partir das interações e brincadeiras que vive com outras crianças e com os adultos 33 2. A integralidade do desenvolvimento demanda ações necessárias de cuidado e educação das crianças 36 3. A escola de Educação Infantil como espaço de vida democrática, de inclusão e respeito às diferenças 67 Escuta, fala, pensamento e imaginação 70 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações 72 A estrutura curricular da educação infantil de Sobral 73 As aprendizagens em cada etapa: Bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas 74 Os bebês (zero a 1 ano e 6 meses) 77 Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) 80Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) 86 Planejando os ambientes de aprendizagens 86 Componentes dos ambientes de aprendizagens 100 O que não pode faltar na jornada da criança 100 1) Acolhida e despedida 101 2) Rodas de conversa 102 3) Rituais para o cuidado de si 38 4. O currículo se define como espaço de articulação das experiências das crianças, ampliação do repertório cultural e das práticas de letramento 42 5. A intencionalidade educativa e o papel do professor estão conectados ao seu protagonismo na garantia dos direitos de aprendizagens e desenvolvimento das crianças 44 6. Educar crianças supõe parceria das escolas com as famílias e comunidades na construção de um projeto pedagógico coletivo 48 PARTE III – SOBRE APRENDER A VOAR, PLAINAR E POUSAR 49 Os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento e a qualidade da Educação Infantil 52 As crianças, o repertório da cultura e as múltiplas linguagens 61 Campos de Experiências como arranjo curricular 63 O eu, o outro e o nós 64 Corpo, gestos e movimentos 66 Traços, sons, cores e formas 106 4) Momentos de brincadeira livre 109 5) Hora da história 115 6) Atividades de ação e representação 116 7) Cantinhos de vivência 120 PARTE IV – INÍCIO, MEIO E (RE)FIM 121 Avaliação e registro na educação infantil 124 A adaptação e transição ao primeiro ano do ensino fundamental 126 PARTE V – SABERES, FACETAS E PRINCÍPIOS QUE NÃO PODEM FALTAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 127 Papéis e responsabilidades de cada um e de todos nós 132 PARTE VI – FORMAR, (RE)FORMAR E (TRANS)FORMAR 133 Formação em serviço para qualificar a práxis 136 REFERÊNCIAS Sumário Sobral_Miolo - Revisado.indd 10-11Sobral_Miolo - Revisado.indd 10-11 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 1312 Quem somos, onde estamos e o que queremos? Situada na região noroeste do Ceará, a cerca de 235 quilômetros de Fortaleza, com 2.129 km2, localizada a 70m do nível do mar, a cidade de Sobral se apresenta como o mais significativo referencial de crescimento e desenvolvimento econômico do interior do Estado. A população calculada pelo Censo IBGE/2010 é de 188.271 habitantes, com uma população urbana de 166.333 pessoas. O clima é quente e seco, com uma temperatura média de 30 graus centígrados. Nascida em 1841, Sobral teve grande importância nos cursos fluviais pelo Rio Acaraú durante o pro- cesso de colonização do Estado do Ceará, a partir da instalação da Fazenda Caiçara, por Antônio Ro- drigues Magalhães, em torno de 1728. A cidade já foi denominada de Caiçara, Vila Distinta e Real de Sobral e Fidelíssima Cidade Januária de Acaraú. O nome atual tem origem latina e significa abundância de sobreiros – uma espécie de árvore de cujo tronco se extrai a cortiça. Ao longo dos anos, Sobral foi ganhando notorie- dade estadual e nacional com sua “sobralidade”, predicado associado à bravura e à defesa incon- dicional da terra natal. Também ganha, cada vez mais, reconhecimento pela bem-sucedida política educacional, que mostra a melhoria dos indicado- res educacionais decorrentes de ações articuladas da gestão, do ensino, da avaliação e da formação profissional. Sobre a política educacional de Sobral, no ano de 2015, com o objetivo de colher informações para a construção do currículo de língua portuguesa e ma- temática do ensino fundamental, foram realizadas entrevistas com lideranças políticas, sociedade ci- vil, professores e gestores escolares com o objetivo de entender o que “a cidade” queria para o futuro dela própria. Após as entrevistas foram levantadas e identificadas as palavras que mais se repetiam e os maiores anseios dos participantes. Esse estudo resultou na formulação dos quatro critérios orienta- dores que foram priorizados na rede de Sobral. Os critérios orientadores que a rede de ensino de Sobral priorizou são os seguintes: 1. Alcançar excelência acadêmica; 2. Garantir a equidade; 3. Promover o pleno desenvolvimento da pessoa; 4. Formar cidadãos críticos, éticos e bem-sucedi- dos profissionalmente. Vista panorâmica da cidade de Sobral PARTE I PARA COMEÇO DE HISTÓRIA... Sobral_Miolo - Revisado.indd 12-13Sobral_Miolo - Revisado.indd 12-13 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 1514 No caso da Educação Infantil, esses critérios ga- nham uma leitura que garante a especificidade da aprendizagem e do desenvolvimento na primeira infância. Alcançar a excelência acadêmica significa ampliar qualitativamente as possibilidades de ex- periências dos bebês, das crianças bem pequenas e das crianças pequenas, promovendo condições para a plena garantia de seus Direitos de Aprendi- zagem e Desenvolvimento, tal como a Base Nacional Comum Curricular preconiza. Se de um lado não se deve pensar em uma perspectiva do “acadêmico”, já que a própria faixa etária das crianças da Educação Infantil não permite, de outro lado, pensar em uma Educação Infantil que promova para as crianças nos anos iniciais da vida a riqueza de possibilida- des em aprendizagens e desenvolvimento é o que se coloca na rede municipal. Este currículo trabalha nessa direção ao sustentar a multiplicidade de lin- guagens na abrangência dos Campos de Experiên- cias como base para o trabalho pedagógico. Garantir a equidade é o princípio que reforça a responsabilidade social do município com o direito à educação e a oferta de condições contextualizadas às necessidades dos estudantes, a partir de suas con- dições de vida, visando processos de aprendizagem efetivamente significativos para a participação nos diversos contextos e demandas da vida em socieda- de. Tal como o currículo do Ensino Fundamental de Sobral já preconizava: “Não existe excelência sem equidade. Não é possível aceitar que alguns tenham seu direito à educação de qualidade atendido e ou- do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais (artigo 6°). No início de 2001, a Secretaria Municipal de Edu- cação implementou um diagnóstico de leitura de todos os alunos da 1ª (atualmente 2º ano) a 4ª série (atualmente 5º ano), cerca de 12.000 alunos, para ter um conhecimento mais preciso da condição desses alunos com relação ao domínio de leitura. O diagnós- tico mostrou como era crítica a realidade da aprendi- zagem das crianças nas séries iniciais. Os resultados analisados apontaram que 60% dos alunos que esta- vam iniciando a 2ª série, 40% dos da 3ª série e 20% tros, não. A excelência escolar só é alcançada se for acompanhada da equidade” (SOBRAL, 2016, p. 07). Promover o pleno desenvolvimento da pessoa diz respeito à superação de práticas fragmentadoras das aprendizagens, que muitas vezes dicotomizam dimensões da vida humana que são indissociáveis. No caso da Educação Infantil, dicotomias tais como afeto x cognição; aprender x brincar; corpo x mente; educar x cuidar apenas dificultam a organização do trabalho, muitas vezes desvalorizando experiências que, nos anos iniciais da vida, constituem a própria identidade da criança. Formar cidadãos críticos, éticos e bem-su- cedidos profissionalmente é assumido como um princípio da rede que, no caso das crianças da Educação Infantil, pode ser relido, reconhecendo também a especificidade dos anos iniciais da vida. Certamente é desejado que, na vida adulta, as crian- ças possam vivenciar sucessos profissionais, já que tiveram acesso a uma escola básica de excelência. Mas a Educação Infantil assume o presente das crianças, norteada por princípios da cidadania e da ética. Coerente com as atuais Diretrizes Curricula- res Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009), vale reafirmar aqui o compromisso da rede com os seguintes princípios: Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentesculturas, identidades e singularidades. Políticos: dos direitos de cidadania, dos da 4ª série não dominavam os conhecimentos da alfabetização inicial, nem mesmo as habilidades de decodificação, a etapa mais básica do processo. Par- tindo desse diagnóstico, a Secretaria Municipal de Educação definiu como meta prioritária (Meta I) alfa- betizar 100% das crianças de 6 e 7 anos matriculadas na 1ª série básica e 1ª série regular, respectivamente, e como segunda meta (Meta II) a alfabetização de 100% das crianças de 8 anos e mais, que haviam sido pro- movidas para série subsequentes sem que já soubes- sem ler ou recebidas de outras redes. Assim, a alfabetização das crianças como priorida- de exigiu a criação e implementação de um conjunto de ações que impactassem as condições de atuação do professor em sala de aula: a universalização do atendimento de crianças de 6 anos no ensino funda- mental a partir de 2001; uma proposta metodológica de alfabetização e formação continuada em serviço; Sobral_Miolo - Revisado.indd 14-15Sobral_Miolo - Revisado.indd 14-15 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 1716 a garantia de um material didático especifico; a im- plementação de incentivos profissionais; a sistema- tização da avaliação externa e o fortalecimento da gestão. As ações interviram de forma sistêmica na garantia da alfabetização das crianças na idade cer- ta. A partir dessa tomada de decisões, acontecerem profundas transformações na cultura educacional da rede municipal de Sobral que se estenderam aos de- mais níveis e etapas de ensino, colocando Sobral com o melhor desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB. Diante desse cenário, a Educação Infantil foi se constituindo e ganhando cada vez mais força no município, inicialmente priorizando o processo de ampliação do atendimento às crianças de 0 a 5 anos de idade, com a construção de centros de educação Assim, o presente Documento Curricular da Rede Municipal de Ensino de Sobral, dedicado à Educação Infantil, fortalece a atuação das po- líticas educacionais dedicadas à primeira infância, concretizadas nas instituições de Educação Infantil. Para tanto, articula aspectos dos currículos que já caracterizam a Educação Infantil no município de Sobral, ao mesmo tempo em que aponta para de- safios que se colocam para as práticas pedagógi- cas, diante dos desejos de uma educação dos bebês, das crianças bem pequenas e crianças pequenas no mundo contemporâneo. Em virtude das transformações ocorridas ao lon- go dos anos, de caráter social, cultural e econômico e que impactaram diretamente o campo educacio- nal, em especial a homologação de uma Base Na- cional Comum Curricular (BNCC), reconheceu-se a necessidade de construção do Documento Cur- ricular da Rede Municipal de Ensino de So- bral - Educação Infantil, com a intencionalidade de atender, de modo integral, as necessidades de desenvolvimento da criança, contribuindo para a construção da aprendizagem, com eficiência e res- peitando as infâncias, suas múltiplas linguagens, bem como as diferenças. infantil. Essa política também foi fortalecida atra- vés da realização de concurso público para os pro- fissionais dessa área, com o processo de formação continuada de professores, aquisição de material di- dático e a criação de uma coordenadoria de Educa- ção Infantil para qualificar ainda mais o olhar para essa etapa de ensino1. No escopo dessa política educacional, importan- tes documentos foram aprovados na rede, nortean- do as ações e debates relativos à educação das crian- ças. São eles: Plano Municipal para Primeira Infância (PMPI)2; Plano Municipal de Educação – PME3; Documento Curricular da Rede Municipal de En- sino de Sobral - Língua Portuguesa4 e Matemática5. Com a construção deste currículo espera-se for- talecer na Educação Infantil as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais assu- mam um papel ativo, em ambientes seguros e de- safiadores e por meio de interações e brincadeiras, e tendo garantidos seus Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, conforme definidos na BNCC (Brasil, 2017), a saber: expressar, participar, explo- rar, brincar, conviver e conhecer-se. Criança brincando em momento livre 1. http://portal.inep.gov.br/documents/186968/488938/Vencendo+o+desafio+da+aprendizagem+nas+s%C3%A9ries+iniciais+a+experi%C3%AAncia+de+Sobral-CE/a7de6174-3f52-49fe- b81c-9f40372761a3?version=1.0 2. Disponível em https://www.camarasobral.ce.gov.br/painel/files/docs/norma_lei/LEIN1499DE01DESETEMBRODE2015pdf09092015105517.pdf 3. Disponível em http://www.sobral.ce.gov.br/diario/public/iom/IOM660.pdf 4. Disponível em http://educacao.sobral.ce.gov.br/downloads/curriculo-de-lingua-portuguesa-2 5. Disponível em http://educacao.sobral.ce.gov.br/downloads/documento-curricular-da-rede-municipal-de-ensino-de-sobral-matematica-2 Momento coletivo de expressão artística Sobral_Miolo - Revisado.indd 16-17Sobral_Miolo - Revisado.indd 16-17 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 1918 Diante de transformações, estudos, pesquisas, no- vas orientações de como se deve estruturar essa pri- meira etapa da Educação Básica, é imprescindível a elaboração de um documento curricular que esteja fundamentado e traga em seu corpo os documentos legais e normativos que regem a Educação Infantil e que possa de fato possibilitar uma Educação Infantil de qualidade, que promova o desenvolvimento inte- gral dos bebês e das crianças. Era uma vez... A educação infantil no cenário nacional e municipal A Educação Infantil no Brasil, com a Constituição de 1988, foi reconhecida como direito da criança e dever do Estado, devendo ser ofertada pelos siste- mas de ensino de forma gratuita e para todos, sendo obrigatória a partir dos quatro anos de idade. “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (...) IV – Atendimento em creche e pré-escola às crian- ças de zero a seis anos de idade (...)” (Constituição Federal, art. 208, 1988) A primeira etapa da Educação Básica vai definin- do e fortalecendo a sua identidade buscando superar projetos pedagógicos restritos a algumas dimensões do desenvolvimento da criança, que ora colocam a Educação Infantil como preparação para o Ensino Fundamental ora restringem o seu papel a guardar e cuidar da criança enquanto os pais trabalham. Em 1990, foi aprovado o Estatuto da Criança e do nº 20/2009, de 11 de novembro de 2009, dando ori- gem à Resolução nº 5/2009, que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, em 17 de dezembro de 2009. Nas DCNEIs estão as orien- tações para organização da Proposta Curricular e ou- tras providências sobre o atendimento da Educação Infantil. Em seu Art. 5º, as DCNEIs dispõem: A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em creches e pré- escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. No Art. 3º, apresenta a definição de currículo da Educação Infantil que deve ser concebido como um conjunto de práticas que buscam articular as expe- riências e os saberes das crianças com os conheci- mentos que fazem parte do patrimônio cultural, ar- tístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. É importante ressaltar que essa compreensão do currículo na Educação Infan- til permanece no documento Base Nacional Comum Curricular, em sua seção dedicada à Educação In- fantil, recentemente aprovado pelo Conselho Nacio- nal de Educação (Brasil, 2017). Adolescente através da Lei nº 8.069, reafirmando as lutas dos movimentos sociais pelo cumprimento do direito por creches, ratificando que é “deverdo Esta- do assegurar (...) atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade (ECA, artigo 54, inciso IV). A Lei 13.306, de 4 de julho de 2016, altera o referido Estatuto, impactando o tempo de permanência da criança na Educação Infantil, que passa a ser para as crianças de zero a cinco anos de idade. Essa alteração decorreu de mudanças já esta- belecidas na Constituição Federal e na própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, vem confirmar em seu artigo 4º, inciso IV, o atendimento gratuito em cre- che e pré-escola também como dever do Estado. De- fine também que esse atendimento nessa faixa etá- ria está sob a incumbência dos municípios (artigo 11, inciso V), determinando ainda que todas as institui- ções de Educação Infantil, públicas e particulares, estejam inseridas no sistema de ensino. A Lei 12.796, de 4 de abril de 2013, altera a LDB nº 9394/96 e afirma que as crianças de 4 e 5 anos de ida- de devem ser matriculadas na pré-escola, com isso esse segmento da Educação Infantil passa a compor parte obrigatória da Educação Básica, ficando o seg- mento de 0 a 3 anos como opção da família. Em fun- ção dessas alterações, a Educação Infantil teve que adequar a sua forma de organização. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- cação Infantil (DCNEI) passaram por revisão pelo Conselho Nacional de Educação, através do Parecer Essa compreensão do currículo da Educação In- fantil, nas DCNEI e na BNCC, assume a criança como centro do planejamento curricular, como um sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas vivenciadas, constrói sua identi- dade pessoal e coletiva. Assim, em seu Art. 8º, as Diretrizes determi- nam que a proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança o acesso a processos de apropriação, reno- vação e articulação de conhecimentos e aprendiza- gens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao res- peito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças. A aprovação da Base Nacional Comum Curricu- lar, datada de dezembro de 2017, além de reforçar o que dizem a Constituição, as Diretrizes e o ECA so- bre os direitos das crianças de 0 a 5 anos, ressaltou Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, ob- jetivos de aprendizagem e desenvolvimento, Cam- pos de Experiências e eixos com os quais deverão dialogar os documentos curriculares das redes de ensino e os projetos pedagógicos das instituições, bem como os planejamentos dos professores de Educação Infantil. Esse cenário nacional é pano de fundo para a his- tória da Educação Infantil em Sobral. A questão da ampliação do acesso é um ponto inicial a destacar, mas que vem sendo acrescida pelas preocupações com a formação profissional e a concretização de um currículo que amplifica e diversifica as experiências Sobral_Miolo - Revisado.indd 18-19Sobral_Miolo - Revisado.indd 18-19 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 2120 de aprendizagens das crianças em uma perspectiva de desenvolvimento integral. “Sobralizar” a educação: Avanços, conquistas e desafios É preciso voltar um pouco na história da Educação Infantil para entender como foi se configurando o atendimento à criança no município de Sobral. De um modo geral, a oferta de Educação Infantil na esfera pública, embora prevista nas LDB’s de 1961 (Lei 4024/61) e de 1971 (Lei 5692), não era suficiente para garantir atendimento para uma parcela mínima da po- pulação. As instituições sociais não governamentais, Em relação às políticas públicas para a primeira infância em Sobral, o ano de 1997 é um importante marco. A Prefeitura de Sobral, junto com organiza- ções governamentais e não governamentais, elabo- rou um conjunto de políticas públicas que visavam acompanhar a criança desde a gestação até a maturi- dade, buscando o seu pleno desenvolvimento. Esse conjunto de políticas foi chamado de Progra- ma Sobral Criança, tendo como estratégia de ope- ração a criação de três comitês: Nascer em Sobral Criança, Crescer e Desenvolver em Sobral Criança e Sobral Criança Cidadã. Naquele mesmo ano, Sobral contava com 50 creches, sendo 18 municipais e 32 co- munitárias, conveniadas com o Estado. Entre as es- colas municipais, 80 atendiam crianças de 4 a 6 anos. Com a municipalização da Política de Assistência Social em 1998, começou também o processo de muni- cipalização da Educação Infantil com a criação do Pro- grama de Centro Comunitário de Educação Infantil – CCEI, sendo que em 2000 a Secretaria Municipal de Educação iniciou o processo de integração da Educa- ção Infantil ao sistema municipal de ensino, conforme posto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- nal (LDBEN 9394/1996), priorizando o atendimento das crianças de 4 a 6 anos, modalidade pré-escola. Em 2001, as principais ações foram: o redimen- sionamento das matrículas, a nucleação das cre- ches/escolas, a elaboração da proposta pedagógi- ca para a Educação Infantil, a implementação da agenda 0-5 anos, a formação continuada de 135 professores da Educação Infantil – Programa Na- cional Parâmetros em Ação e o Acompanhamento e o Projeto Bem Querer, que visavam uma aproxima- ção entre escola e família. Entre os anos de 2002 e 2006, houve um significa- tivo avanço com a melhoria salarial para professores e gestores, a ampliação da equipe de coordenadores pe- dagógicos nos centros de Educação Infantil e escolas, a formação de uma equipe de formadores de professores exclusiva para a Educação Infantil, o programa de va- lorização do magistério, a elaboração de instrumentos avaliativos do desenvolvimento processual da criança, a seleção de professores oriundos da rede estadual que migraram para a rede municipal, a informatização da matrícula pelo PAC – Criança Feliz – Programa Sae- mec e a construção da primeira proposta pedagógica para a Educação Infantil de Sobral. Nos anos de 2005 e 2006, as áreas de conhecimen- to eram desenvolvidas e distribuídas para o planeja- mento e trabalho dos professores através de capaci- tações. Logo em seguida foi inaugurada a Escola de Formação Permanente do Magistério (ESFAPEM), em 2006, que posteriormente passaria a se chamar Escola de Formação Permanente do Magistério e Gestão Educacional (ESFAPEGE). Ainda em 2007 as creches eram acompanhadas pela Fundação de Ação Social, vinculada à Secretaria de Saúde e Ação Social, e mantidas pelo Governo do Estado no programa Criança Feliz, pois a Secretaria da Educação não recebia recursos para manutenção das mesmas. No ano de 2008 a Secretaria da Educação assumiu de fato a educação das crianças de faixa etária de 0 a 5 anos de idade. sobretudo as associações comunitárias, acabaram as- sumindo a responsabilidade pela Educação Infantil e passaram a oferecer serviços de atendimento a crian- ças pequenas enquanto seus pais trabalhavam fora. Entre as décadas de 1970 e 1990, a Educação Infan- til do município ficava concentrada no acompanha- mento na Secretaria de Saúde e Assistência Social, com o apoio da Secretaria da Educação. Posterior- mente, a Secretaria da Educação foi assumindo a Educação Infantil e iniciou, ainda que timidamente, um processo de organização dos espaços, capacita- ções dos professores pelo pró-rural e elaboração de material didático mimeografado, feito pela própria secretaria, apesar dos baixos recursos direcionados à Educação Infantil no período. Arquivo SME Sobral_Miolo - Revisado.indd 20-21Sobral_Miolo - Revisado.indd 20-21 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 2322 Entre 2010 e 2016 foram inaugurados dez centros de Educação Infantil com parceria do governo fede- ral (Proinfância) e governo estadual (Proares), além dos centros construídos com recursos próprios. A Educação Infantil nas últimas décadas vem rece- bendo uma atenção especial do poder público,aten- ção essa materializada através de projetos, parcerias e convênios. Em Sobral, são exemplos disso o PROA- RES e o PROINF NCIA. O PROARES é o Programa de Apoio às Reformas Sociais do Ceará, financiado pelo Banco Intera- mericano de Desenvolvimento – BID, que objetiva expandir e fortalecer a rede de serviços sociais em educação infantil, assistência social, esporte, cultu- ra e capacitação profissional voltada para crianças, buscando melhorar as condições de vida e a inser- ção social das que estão em situação de risco social, bem como de seus familiares, além de fortalecer a capacidade de gestão estadual e municipal, princi- palmente na área social. O PROINFÂNCIA é o Programa Nacional de Rees- truturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância), instituído pela Resolução nº 6, de 24 de abril de 2007, compondo uma das ações do Plano de Desenvolvi- mento da Educação (PDE) do Ministério da Educa- ção, visando garantir o acesso de crianças a creches e pré-escolas, bem como a melhoria da infraestrutura física da rede de Educação Infantil. Em uma ação conjunta com outras secretarias, o atendimento às crianças passa por melhorias sig- nificativas. O cuidado anteriormente realizado pela Fundação de Ação Social foi incorporado pela Se- cretaria da Educação ainda nos primeiros anos do século XXI, por acreditar que ao cuidado poderia ser acrescido o ensino, além de oferecer estruturas físicas adaptadas e adequadas a esse atendimento. Pensando na qualidade, nos últimos anos foram construídos quinze novos prédios para o funcio- namento dos Centros de Educação Infantil. Essas construções foram possíveis através das parcerias citadas anteriormente, assim como a utilização de recursos próprios. O resultado dessas ações se reflete na universali- zação do atendimento de crianças com 4 e 5 anos, a partir do ano de 2011, e com um percentual de 48,58% do atendimento em creches, superando a média do Brasil que é de 32,7%. As crianças de 1 a 5 anos e 11 meses permanecem nos CEIs/Escolas durante quatro horas diárias, fazendo no mínimo duas refeições. Para todas as idades são ofertados materiais didáticos, insumos para a higiene e fardamento completo. O acesso à Educação Infantil possibilita a vivência pelos bebês e crianças de um projeto de educação e cuidado que visa ao pleno desenvolvimento na primeira infância. Todos os professores possuem formação que os habilitam a lecionar e são lotados a partir de con- cursos públicos ou seleção em ampla concorrência. E durante os seus exercícios profissionais, eles par- ticipam de ações de formação em serviço desenvol- vidas por uma organização especializada, onde são trabalhadas orientações didáticas, desenvolvimento de práticas, estudos sobre documentos e normativas e a realização de oficinas temáticas. Ao término do ano letivo, recebem um certificado, referente à par- ticipação nas formações. Para garantir a presença do professor nessa for- mação, a Secretaria da Educação contrata profes- sores substitutos, como também estagiários para assumirem e apoiarem a sala de aula nas ausências dos titulares, não havendo assim prejuízo para as crianças, já que a formação é realizada dentro da carga horária de trabalho. Outro diferencial é o encontro mensal específi- co para coordenadores pedagógicos, que acompa- nham a Educação Infantil de Sobral. São momentos para as trocas e fortalecimento do acompanhamen- to pedagógico. CEI Miguel Jocélio Alves da Silva CEI Arry Rocha Oliveira CEI Tereza Rodrigues dos Santos Saberes - Formação de professores Sobral_Miolo - Revisado.indd 22-23Sobral_Miolo - Revisado.indd 22-23 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 2524 Merece destaque a Semana do Bebê, realizada desde 2011, que a cada ano traz grandes conquistas para a Educação Infantil, como a licença materni- dade de oito meses para as mães que fazem parte da rede municipal, por exemplo. No ano de 2013, o Conselho da Criança e do Ado- lescente, em parceria com a Prefeitura de Sobral, construiu de forma participativa e democrática o Plano Municipal pela Primeira Infância, com vigên- cia de 2015 a 2024. O documento foi aprovado pelo Diante da construção dos currículos do Ensino Fun- damental e incentivados pela homologação da BNCC, foi percebida a necessidade de construir o documento curricular para a Educação Infantil, com o objetivo de deixar claros os objetivos de aprendizagens, bem como orientações teórico-metodológicas que apontam para onde a rede deve caminhar. No ano de 2017, uma das primeiras ações da ges- tão Ivo Ferreira Gomes foi criar uma coordenação específica para a Educação Infantil, com o objetivo de ter um olhar mais aprofundado para as crianças da rede municipal. Passados 45 anos do início des- sa história aqui resgatada, Sobral passou por uma reestruturação no seu sistema educacional, prin- cipalmente na ampliação e qualificação da rede de atendimento da Educação Infantil, chegando aos dias de hoje com o seguinte cenário: Poder Legislativo e reconhece valores e princípios. O Plano Municipal de Educação também sofreu alterações e estabeleceu normas para o credencia- mento e autorização da Educação Infantil no muni- cípio de Sobral através da resolução nº 06/2015. Hoje, a educação do município vem priorizando cada vez mais a primeira infância, com a constru- ção de novos centros de Educação Infantil, com a universalização do atendimento de crianças de 4 a 5 anos e com a ampliação da oferta para crianças de 0 a 3 anos, o que evidencia e destaca Sobral nacio- nal e internacionalmente como exemplo em muitos aspectos relacionados ao desenvolvimento integral das crianças. A Secretaria da Educação tem se empenhado em desenvolver parcerias com universidades, acolhen- do muitos estagiários de diversos cursos, sobretu- do pedagogia, para estagiar na Educação Infantil, como requisito obrigatório do curso, contribuindo desta forma com o desenvolvimento de futuros pro- fissionais que irão atuar nessa importante etapa. No ano de 2015 começou a escrita de um docu- mento que teve como ponto de partida um diagnós- tico das práticas curriculares de Sobral, bem como as expectativas sobre o futuro da educação escolar. Esse documento, chamado Diagnóstico da Situação Curricular do Município de Sobral e Mapeamento de Expectativas Locais, serviu de base para a cons- trução dos critérios orientadores que representam um conjunto de princípios que embasam a produ- ção de um documento curricular pensado para o Ensino Fundamental. A atual gestão da Educação de Sobral vê a vivên- cia escolar como parte essencial do processo de de- senvolvimento da criança e compreende que inves- tir na ampliação e qualificação do atendimento fará toda a diferença no desenvolvimento dos cidadãos sobralenses. Colcha de retalhos: muitas mãos, muitos trabalhos A Coordenadoria da Educação Infantil realizou uma reunião com os diretores dos Centros de Edu- cação Infantil, representações de coordenadores, da ESFAPEGE e do Conselho Municipal de Educação para discutir e pensar a construção do novo docu- mento curricular. Posteriormente, foi formado um grupo de traba- lho (GT) composto por representantes da SEDUC, ESFAPEGE, pesquisadores, Conselho Municipal da Educação, diretores e coordenadores pedagógi- cos, professores e, posteriormente, representantes da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Antes da realização do primeiro encontro do GT, a Coordenadoria da Educação Infantil definiu, junta- mente com alguns representantes do Grupo, concei- tos e questões que norteariam a produção do currícu- lo. A noção de criança e as interações e a brincadeiras que norteiam o trabalho pedagógico, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- ção Infantil, o processo de ensino-aprendizagem em uma perspectiva sócio-histórico-cultural, a formação Escolas com Educação Infantil Centros de Educação Infantil Total 27 15 42 Unidades Escolares3.825 6.145 9.970 Matrícula 473 531 1.004 Profissionais (magistério e administrativos) Formação de Professores Sobral_Miolo - Revisado.indd 24-25Sobral_Miolo - Revisado.indd 24-25 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 2726 integral do ser e a intencionalidade pedagógica foram temas definidos como eixos fundamentais do traba- lho do GT. Nos primeiros encontros do GT foi discutida a te- mática “A criança que tínhamos, que temos e a que queremos ter”, com a intenção de definir o conceito da infância desejada. As atividades que estão pre- sentes na rotina diária atual da Educação Infantil das escolas e Centros de Educação Infantil de So- bral também foram pautas de estudo. Outra temá- tica abordada foi o resgate da história da Educação Infantil do município de Sobral. Essas temáticas, abordadas até novembro de 2017, tiveram o objetivo de reconhecer avanços dessa modalidade em So- bral, como também centrar os estudos para atender ass necessidades dos professores, como dos demais profissionais, que utilizem esse documento como ponto de partida para suas práticas. No ano de 2018 foram definidos os tempos que irão compor a macrorrotina das instituições de Educação Infantil do município e as definições de dimensões do currículo que trazem a identidade de Sobral. Para tanto, foram realizadas pesqui- sas de campo em escolas da sede e distrito, com gestores escolares, professores, familiares e com crianças do 1° ano do ensino fundamental. As vi- sitas também ocorreram nos Centros de Educação Infantil, com observação de sala de aula, diálogo com as crianças do infantil V e familiares de todos os segmentos. O grupo realizou uma atividade externa, em que participou do Fórum de Educação Infantil do Cea- rá. Na ocasião, assistiu a palestra “Reflexões sobre a BNCC”, ministrada pela professora Zilma de Oli- veira, na qual foi abordada a especificidade da Edu- cação Infantil, a concepção de criança e o trabalho a ser realizado nas instituições educacionais. No ano de 2019 uma importante parceria foi fir- mada entre a Prefeitura de Sobral e a Fundação Ma- ria Cecília Souto Vidigal com o objetivo de dar cele- ridade e orientação técnica e teórica na construção do currículo para a Educação Infantil. Parceria que proporcionou estudos e pesquisas na avaliação de insumos, de processos pedagógicos e dos resultados relativos às aprendizagens das crianças matricula- das na pré-escola. O trabalho empreendido no GT (Grupo de Tra- balho) foi uma tentativa de equacionar o que já é realizado nas unidades de Educação Infantil e que configuram práticas que devem ser ampliadas, com- partilhadas e aprofundadas, portanto, ganhos que a rede já conquistou e também aquilo que é desafio e se quer fazer avançar. Além disso, esse movimento buscou a articulação com a BNCC e a ampliação do diálogo para garantir as múltiplas vozes e experiên- cias que compõem a rede. Momento de Estudo GT Parceria entre Prefeitura de Sobral e Fundação Maria Cecília Souto Vidigal Passeata de abertura da Semana do Bebê Momento de Estudo GT Sobral_Miolo - Revisado.indd 26-27Sobral_Miolo - Revisado.indd 26-27 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 2928 O Currículo da Educação Infantil de Sobral se estrutura a partir de princípios e concepções que orientam as propostas pedagógicas, com vistas ao desenvolvimento pleno das crianças. Esses prin- cípios estão expressos em seis afirmativas que res- saltam concepções de criança, desenvolvimento integral, inclusão e respeito à diversidade humana, currículo, professor, família e integração curricular. A criança, sujeito histórico e de direitos, aprende e se desenvolve a partir das interações e brincadeiras que vive com outras crianças e com os adultos; A integralidade do desenvolvimento demanda ações necessárias de cuidado e educação das crianças; A escola de Educação Infantil como espaço de vida democrática, de inclusão e respeito às diferenças; O currículo se define como espaço de articulação das experiências das crianças, ampliação do repertório cultural e das práticas de letramento; A intencionalidade educativa e o papel do professor estão conectados ao seu protagonismo na garantia dos direitos de aprendizagens e desenvolvimento das crianças; Educar crianças supõe parceria das escolas com as famílias e comunidades na construção de um projeto pedagógico coletivo. 1. A criança, sujeito histórico e de direitos, aprende e se desenvolve a partir das interações e brincadeiras que vive com outras crianças e com os adultos A partir do século XIV e início do século XV, com a chegada da Idade Moderna, começam muitas mu- danças em relação aos modos como as pessoas irão perceber, tratar e se relacionar com as crianças. Co- meçam a perceber a criança como um ser diferente do adulto. Surge um novo sentimento, o de “papari- cação”, e outro que o contrapõe, o de “imperfeito e incompleto”. Com o advento do Iluminismo, da Revolução In- dustrial, com a nova classe burguesa e a preocupa- ção em formar um “novo homem”, acontecem ruptu- ras e transformações de mentalidades das pessoas, bem como a constituição e solidificação da família burguesa e novas formas de relacionamentos, sen- do a valorização dos laços familiares uma caracte- rística. Com isso, as crianças começam a ocupar um espaço de preocupações na vida dos adultos (como e o que vestir, como brincar, entre outros). Assim, as crianças começam a ser o centro das atenções e passam a ser temas de estudos e observações. Se antes a função de educar era da comunidade, pro- gressivamente esse papel vai se ampliando para a escola, instituição que começa a se consolidar como central na sociedade moderna. Assim, percebe-se que o conceito de infância e o modo de ver a criança mudam de acordo com a sociedade. PARTE II HÁ UMA CRIANÇA EM CADA UM DE NÓS: Princípios estruturantes do currículo Sobral_Miolo - Revisado.indd 28-29Sobral_Miolo - Revisado.indd 28-29 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 3130 Essa retomada na história serve para refletir so- bre a forma como se entende e como se relacionar com as infâncias e as crianças. Assim, é necessário repensar e abrir espaço para discussão a respeito da construção do conceito de infância, qual tem- po da infância e quem é a criança de quem tanto se fala. Além disso, os estudos sociais contempo- râneos sobre a infância nos levam a reconhecer a diversidade nos modos de viver a infância e se rela- cionar com as crianças. Nas atuais DCNEI (2009), essa noção de crian- ça como sujeito histórico e de direitos impacta di- retamente as propostas pedagógicas na Educação Infantil quando, ao colocá-la como centro do pla- nejamento curricular, assume-se que nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questio- na e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009). É nessa atividade cotidiana, junto com parceiros da mesma idade, de outras idades ou adultos, que as crianças se apropriam do repertório da cultura, constroem conhecimento e se desenvolvem. Desde que nascem, os bebês aprendem os signi- ficados que organizam o seu meio e vão continua- mente dando sentido a si e ao mundo, no contex- to das interações sociais. É bonito perceber como muito precocemente um bebê mostra estados emo- cionais (satisfação, prazer, dor, irritação...) por meio do riso, do choro, dos movimentos do corpo, e que vão sendo “lidos” por aqueles que se relacio- nam e cuidam desse bebê. A expressão e a inter- pretação do mundo vão ganhando novos contornos e novas possibilidades, assim como novos parcei- ros de interações, dentro ou fora da escola (adultos e outras crianças). No passado as interações das crianças com os adultos eram as mais valorizadas, especialmente porque se considerava que a maior experiência do adulto era o que ensinava. Atualmente,é ressalta- da a importância das interações que se configuram entre as crianças, inclusive, as interações dos bebês. Quando um bebê observa o outro e traz para si seus gestos, por meio da imitação, ele aprende. Aprende acima de tudo o que sente naquela si- tuação, como mobiliza seu corpo para participar daquela brincadeira, aprende novos gestos, novas formas de agir e interagir. É importante salientar que as crianças aprendem de formas e ritmos distintos. Cada uma vivenciará, a partir de sua singularidade, os diversos aconte- cimentos, conforme experimenta novas sensações, emoções, observações etc. Nessa direção, a brincadeira ganha relevância quando entendida como atividade principal na apren- dizagem e no desenvolvimento das crianças, já que nesses momentos a criança coloca em jogo o que já conhece, mas também agrega novos elementos à inte- ração, criando cenários, personagens, formas de ação. A materialidade da brincadeira abre caminhos que deságuam substancialmente no imaginar. A imaginação possui a potencialidade na infância de criar vínculo entre a criança e suas experiências, Atividade de interação entre bebês e professoras Brincadeira autônoma entre bebês Sobral_Miolo - Revisado.indd 30-31Sobral_Miolo - Revisado.indd 30-31 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 3332 tornando seus sentidos regenerados e transforma- dos. No pensamento de Vygotsky, as brincadeiras simbólicas são ótimas oportunidades de perceber, compreender e ampliar as experiências de apren- dizagens das crianças. Nesse ensejo é preciso compreender que a criança vive sua relação com o outro e com o mundo através da criatividade e a descoberta é o espaço entre o real e a reinvenção da realidade, que auxilia a criança a refletir através da procura de soluções e alternativas para o mundo que as rodeia. O olhar da criança é a va- lorização daquilo que os adultos consideram sem im- portância. Os adultos buscam finalidades, a criança imaginação, permite conhecer a concretude e uni- dade da existência, em um movimento investigati- vo e habitado pelo devaneio secreto. O brincar cria possibilidades. A materialidade do brincar ocupa o lugar de significância na alma da criança, faz aguçar os sentidos e repercute em uma originalidade e uma vida autêntica. A criança usa sua experiência como uma artesã, nutre-se dos elos que faz no trajeto do brincar; sua especialidade não está na técnica, mas no caminho, na apreciação, no refinamento, no de- sejo, na vitalização, no tempo e ritmo do percurso. Decorrendo dessa compreensão, as DCNEI, em seu artigo 9º, definem como eixos condutores das encantamento. Para a criança, um grampeador pode ser um avião e o que ela imaginar. A criança olha o mundo a partir de suas experiências e sua linguagem é a ampliação do mundo vivido e imaginado. Por isso, a importância de conhecer o lugar da criança e da in- fância. As crianças jamais podem ser dissociadas dos contextos social e histórico de onde procedem. A infância é o lugar do encontro com a integrida- de, é a aquisição livre do olhar e por meio da criação transmuta o mundo vivido. É a livre experiência das coisinhas do chão, como dizia Manoel de Barros, repleta de contornos e texturas. A criança, ao con- templar a profundidade das experiências através da práticas pedagógicas as interações e brincadeiras, favorecendo experiências por meio das quais as crianças podem construir e se apropriar de conhe- cimentos na interação com seus pares e adultos, possibilitando aprendizagem, desenvolvimento e socialização. Reafirmando esses eixos, a Base Nacional Comum Curricular compreende a criança e sua atividade atravessadas pelas construções sociais, por meio da qual desempenham papel ativo em ambientes que as convidam a vivenciar desafios e a se sentirem pro- vocadas a resolvê-los, para que possam construir significados sobre si mesmas, os outros e o mundo social e natural. Desta forma, é imprescindível que, nas práticas pedagógicas, cada vez mais as crianças assumam o espaço de protagonistas, em que o professor assu- me o papel de mediador, para que no cotidiano haja espaços de escuta, estímulo, discussões, enfim, de múltiplas interações. 2. A integralidade do desenvolvimento demanda ações necessárias de cuidado e educação das crianças De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), a finalidade da Educação Infantil é a promoção do desenvolvimen- to integral da criança de 0 a 5 anos de idade em seus aspectos físico, psicológico, social e intelectual. Bebês e crianças interagindo por meio de brinquedos e brincadeiras Brincadeira de crianças Sobral_Miolo - Revisado.indd 32-33Sobral_Miolo - Revisado.indd 32-33 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 3534 Por esse motivo, a criança deve ser entendida como um ser integral, pois desde o seu nascimento vivencia experiências significativas no contato com pessoas e objetos, ampliando sua curiosidade e in- quietações mediadas pelos parceiros mais próximos como pais, irmãos, avós, tios e professores. A crian- ça, compreendida em sua integralidade, possibili- ta a concretização do cuidar e do educar de forma presente e articulada em cada momento da prática pedagógica. Um exemplo é o momento da troca de fraldas, que é essencial para a higiene e saúde, mas também para a construção de um vínculo afetivo e de grande importância, sobretudo quando se trata de Educação Infantil. A esse respeito, Brasil afirma que: Educar de modo indissociado do cuidar é dar condições para as crianças explorarem o ambiente de diferentes maneiras (manipulando materiais da natureza ou objetos, observando, nomeando objetos, pessoas ou situações, fazendo perguntas etc.) e construírem sentidos pessoais e significados coletivos, à medida que vão se constituindo como sujeitos e se apropriando de um modo singular das para o desenvolvimento corporal do bebê. Contudo, temos que refletir sobre algumas práticas que estão voltadas para o professor como figura cen- tral no processo de ensino e aprendizagem. Por isso devemos possibilitar momentos de reflexão para que o profissional possa compreender as crianças do seu modo particular de ser e não o modo de ser do adulto. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- ção Infantil (2010) definem os espaços de atendimento à Educação Infantil como locais que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade. Cuidar e educar devem ser, pois, ações indissociáveis, sendo ambas formas culturais de agir, sentir e pensar. Isso requer que o professor tenha sensibilidade e delicadeza no trato de cada criança, e assegure atenção especial conforme as necessidades que identifica nas crianças. (Brasil, 2009. p. 10). Cuidar e educar envolve conhecer as crianças em sua singularidade: seus gostos, desejos, limitações, necessidades (inclusive as posturais, as relaciona- das à saúde). Perceber se a criança se alimentou bem, se está conseguindo estabelecer boas intera- ções, como se comporta em diferentes espaços da Alimentação Saudável - Projeto Mini Chefe Roda de conversa entre crianças e professores Sobral_Miolo - Revisado.indd 34-35Sobral_Miolo - Revisado.indd 34-35 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 3736 instituição, se sente sono, calor, se é tímida. Conhe- cer a criança, sua história de vida. Valorizar suas descobertas, demonstrar afeto, gerar situações de confiança e autonomia, incentivando-a para que confie em si mesma, aprenda e se desenvolva. Preo- cupar-se com o ambiente, perceber se a criança veio com comportamento diferente, se precisa de cuida- dos específicos, se tem seus direitos garantidos. Para Barbosa (2009), “..., cuidar e educar significa afirmar na educação infantil a dimensão de defesa dos direitos das crianças, não somente aqueles vinculados à proteção da vida, à participação social, cultural e política, mas também aos direitos universais de aprender a sonhar, a duvidar, a pensar, a fingir, a nãosaber, a silenciar, a rir e a movimentar-se (p.69). Nosso papel, enquanto professores, é de entender e atender as crianças, como afirma Lück (2005), e é somente através do olhar que seremos sensíveis e solícitos, garantindo que de fato haja uma educa- ção que cuide e eduque de forma integral. No en- tanto, é importante que se reflita se essas ações de educar e cuidar são devidamente valorizadas pe- los professores, pois quanto maior a percepção da importância do cuidar tanto quanto o educar, mais oportunidades as crianças terão quanto a apren- dizagem e desenvolvimento. Para Didonet (2003), não há conteúdo educativo separado dos gestos de cuidar. Para Horn (2003), durante a vida diária a O reconhecimento, a valorização, o respeito e a in- teração das crianças com as histórias e as culturas africanas, afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à discriminação; E, por fim, A acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinquedos e instruções para as crianças com defi- ciência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Na escola, essa diversidade comparece nas sin- gularidades que as crianças trazem para esse cená- identidade da criança está sendo formada, exigin- do do professor grande responsabilidade na hora de planejar. 3. A escola de Educação Infantil como espaço de vida democrática, de inclusão e respeito às diferenças Falar em inclusão na educação significa pensar que todos, independentemente de sua origem, sexo, clas- se social, etnia e singularidades de aprendizagens, têm Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento. A Educação Infantil em Sobral se compromete com essa diversidade social e envida esforços para ensinar. É característica da história do Brasil a presença de diversas matrizes identitárias que configuram aqui- lo que se chama identidade brasileira. Ao mesmo tempo em que conformam essa identidade, essas es- pecificidades não podem ser apagadas, pois trazem características para esse grande país de dimensões continentais e com variações nas formas de viver, sentir e pensar esse ser brasileiro. É nesse sentido que a Educação Infantil em suas Diretrizes Curri- culares Nacionais ressalta a necessidade de garantir nas creches e pré-escolas: A apropriação pelas crianças das contribuições histórico-culturais dos povos indígenas, afrodes- cendentes, asiáticos, europeus e de outros países da América; rio. São crianças que trazem nas histórias de suas famílias seus enraizamentos à cidade de Sobral, mas, ao mesmo tempo, experiências de migração vividas por elas mesmas ou pelos parentes. Trazem também a diversidade linguística, étnico-racial e religiosa. Tudo isso é fator de contribuição para perceber a beleza da diversidade e não a opressão da exclusão. Junto com a discussão da inclusão, emerge tam- bém a preocupação com as crianças que têm algu- ma deficiência, altas habilidades e transtornos ge- rais do desenvolvimento. Uma escola democrática garante que as práticas pedagógicas são pensadas de forma a possibilitar caminhos diversos para as Caminhada no bairro – Projeto contra o bullying Sobral_Miolo - Revisado.indd 36-37Sobral_Miolo - Revisado.indd 36-37 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 3938 aprendizagens, buscando superar resquícios de uma escola que se pautava pela padronização, pela com- paração nas formas e possibilidades de aprender e, desse jeito, mais segregava e excluía do que ensinava. A busca pela inclusão vem sendo um grande de- safio para as escolas, algumas vezes é preciso bus- car mais conhecimentos (“Como aquela criança aprende? O que favorece a sua participação?), o que demanda abertura e leveza para perceber as singu- laridades. Só assim tem-se um terreno fértil para o diálogo e a quebra de paradigmas, com o objetivo de tomar as melhores decisões no projeto pedagógico da educação para a primeira infância. O presente princípio estruturante deste documen- to curricular da rede municipal de ensino de Sobral - Educação Infantil reforça e alinha-se profundamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, propostos pela ONU, especialmente o Objetivo 4, que visa Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos. 4. O currículo se define como espaço de articulação das experiências das crianças, ampliação do repertório cultural e das práticas de letramento A compreensão de um currículo que abrange aprendizagens diversas das crianças é um reco- nhecimento historicamente constituído e que busca superar perspectivas restritas de uma Educação In- Para tanto, busca na criança seus interesses e as experiências que traz para a escola e entrelaça-os aos saberes que constituem o repertório científico, artís- tico, linguístico e tecnológico produzido na cultura. Uma escola de Educação Infantil tem compro- misso com crianças e suas famílias ao partilhar um projeto educativo que garanta às crianças experiên- cias variadas com as diversas linguagens, reconhecen- do que o mundo no qual estão inseridas, por força da própria cultura, é amplamente marcado por imagens, sons, falas e escritas. Nesse processo, é preciso valo- rizar o lúdico, as brincadeiras e as culturas infantis (BRASIL, 2009b). fantil que se contentava em guardar/tutelar e cui- dar das crianças enquan- to seus pais trabalhavam ou, de outra perspectiva, se restringia ou sobrevalorizava práticas prepara- tórias para o Ensino Fundamental. Contemporaneamente, a primeira etapa da Edu- cação Básica tem como objetivo ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendi- zagens, atuando de maneira complementar à educação familiar (...) (BRASIL, 2017, p. 36). No município de Sobral, pela sua própria histó- ria, o reconhecimento da importância das apren- dizagens relativas à leitura e à escrita na Educação Básica leva a destacar a Educação Infantil como um espaço fundamental de ampliação e apropriação das práticas de letramento. Entendendo que essas práti- cas se referem a algo mais geral do que a competência para a escrita: ser letrado é ser competente para partici- par de uma determinada forma de discurso, sabendo-se ou não ler e escrever (GOULART, 2006, p. 03). Assim, este currículo defende a importância de um trabalho intencional e atento às especificidades da infância, que assume o direito da criança a uma Projeto de leitura no Centro de Educação Infantil Brincadeira de formação de palavrasMomento cultural – Festas Juninas A Agenda 2030 proposta no âmbito das Nações Unidas define um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade. Para tanto, estabelece dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, que podem ser conhecidos em https:// nacoesunidas.org/pos2015/ Sobral_Miolo - Revisado.indd 38-39Sobral_Miolo - Revisado.indd 38-39 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 4140 Exemplo disso são as hipóteses que as crianças le- vantam a respeito das relações entre as letras de seus nomes, os rótulos de produtos que utilizam cotidianamente e as histórias que escutam ou leem (mesmo sem saber ainda ler). A Educação Infantil, assim como os demais seg- mentos da Educação Básica, tem um compromisso alfabetizador com as crianças que deve significar a formação de leitores e escritores competentes (Luize, 2016). Competentes para quê? É a pergunta crucial. Se estamos falando de uma educação que favoreça à ampla e complexa possibilidade de participar das diversas situações sociais de forma crítica, solidária, democrática e conectada com a melhoria do próprio modo de viver humano, então a competência deve ser a de poder participar de forma mais crítica, am- pla e complexa das práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. A especificidade da criança pequena e, portan- to, da Educação Infantil, deve levar emconta que “Quando se fala da importância da participação co- tidiana em atos de leitura e de escrita na Educação Infantil, quando se fala desse ‘compromisso alfabe- tizador’, não se tem em mente antecipar conteúdos escolares do Ensino Fundamental, tampouco re- duzir o tempo de experiências cruciais na infância, como o brincar” (LUIZE, 2016, p.23). Espera-se que a Educação Infantil seja oportuni- dade de construir com as crianças uma posição ativa como leitoras e produtoras de texto. Assim, quando as crianças participam de eventos de letramento tais como a leitura de uma história, a escrita coletiva de educação infantil que promova experiências com a linguagem verbal (em suas modalidades oral e es- crita) enquanto objeto criado pela humanidade e de impacto fundamental no nosso modo de viver, pen- sar, sentir e se comunicar e que: exerce forte influência sobre a cultura infantil e é, ao mesmo tempo, e em certa medida, por ela influenciado. Desde que nascem, as crianças estão imersas em uma cultura específica e, ao longo do seu processo de desenvolvimento, vão criando estratégias para descrever o mundo, compreendê-lo e com ele interagir. A linguagem escrita, que nas sociedades contemporâneas influencia e, muitas vezes, determina as estruturas urbanas, as formas de interlocução, de expressão da cultura, é um dos elementos com os quais as crianças interagem e buscam dele se apropriar para melhor compreender o mundo e com ele se relacionar (BAPTISTA, 2010, p.03). Essa compreensão tem relação com o processo de alfabetização das crianças, que é um aspecto da aprendizagem da língua escrita. Em sua dimensão propriamente linguística, conforme Soares (2018)6, e se que refere à apropriação do sistema alfabético- -ortográfico e das convenções da escrita, é possível perceber que ao imergir de forma complexa nas prá- ticas de letramento, em ambientes que possibilitem diversificados eventos de letramento, a criança tam- bém participa de situações que a colocam a pensar sobre aspectos que dizem respeito à alfabetização. Momento livre de interação entre crianças e a literatura infantil Protagonismo infantil – Projeto Maleta da Leitura 6. Soares, Magda. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2018. Sobral_Miolo - Revisado.indd 40-41Sobral_Miolo - Revisado.indd 40-41 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 4342 um convite, a produção de um álbum sobre animais, um passeio da turma ou a leitura de um álbum no- ticioso, podem construir conhecimento sobre dife- rentes gêneros que mediam as práticas de lingua- gem e desenvolver habilidades diversas relativas às atividades de ler e escrever. Nesse currículo, o trabalho com a linguagem escrita não foca a sistematização da alfabetização, mas en- riquece esse processo, pois, no contexto das práticas sociais que envolvem a linguagem verbal (oral e escri- ta), coloca as práticas de leitura e escrita, portanto, os letramentos, como situações sociais em que: A escrita é uma linguagem, não se escreve para comprovar uma hipótese ou mostrar habilidades, escreve-se quando se tem o que dizer para si mesmo ou para o outro, quando se quer registrar para não esquecer. Portanto, para se apropriarem da linguagem escrita, as crianças precisam viver situações reais e significativas em que a escrita seja relevante e necessária. Cabe à professora mediar esse objeto cultural com todas as suas possibilidades e diversidade e instigá-las a pensar sobre ele (MARCUSCHI, 2001 apud Brasília, 2006).7 Aqui a literatura infantil ganha lugar de excelên- cia, pois cria para as crianças e os adultos possibili- atuação do professor como um profissional que tem a tarefa primordial de “garantir direitos”. Nessa direção, o referido documento curricular, ao mesmo tempo em que assume o protagonismo da criança na sua atividade de construção de conheci- mento e de participação no cotidiano da vida, assu- me e ressalta o protagonismo docente e a intencio- nalidade educativa: na organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas dades de interações mediadas pelas linguagens ver- bal, gestual e aquelas que se manifestam nas artes. Um bom livro de literatura infantil é constituído de uma multimodalidade que demanda a apropriação de múltiplos letramentos pelas crianças. Assim, as experiências de aprendizagens das crianças na Educação Infantil se ampliam com a presença das múltiplas linguagens, especialmente nas manifestações das linguagens artísticas (o dese- nho, a pintura, a música, a dança, o teatro etc.) e do repertório científico e tecnológico da cultura, sem que uma ou outra seja priorizada ou minimizada. É nessa riqueza que se reconhece que, ao se apropriar mais e melhor das práticas sociais que envolvem es- sas linguagens, as possibilidades de aprender das crianças se ampliam e assim se favorece o seu de- senvolvimento integral e as possibilidades de par- ticipação social em um mundo letrado que, a cada dia, cria novos e múltiplos letramentos e exige de nós uma formação como leitores e produtores de co- nhecimentos, ativos e criativos. 5. A intencionalidade educativa e o papel do professor estão conectados ao seu protagonismo na garantia dos direitos de aprendizagens e desenvolvimento das crianças Ao dizer do compromisso da Educação Infantil com Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento das Crianças, a BNCC (2017) nos inspira a pensar a práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas (BRASIL, 2017, p. 39). Assim, parceiro fundamental das crianças na Edu- cação Infantil, o professor é aquele que enriquece os ambientes de aprendizagens, promove novas e boas interações e prospecta em seu planejamento novas possibilidades de aprendizagens. Para tanto, tem na especificidade de sua profissão as atividades de re- fletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monito- rar o conjunto das práticas e interações, garantindo a 7. Crianças como leitoras e autoras / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica- 1.ed.- Brasília: MEC /SEB, 2016. 128 p.: il.;. 20,5 x 27,5 cm.-(Coleção Leitura e escrita na educação infantil; v.6). Construção do mapa feito pelas crianças - Projeto Conhecendo minha Escola Sobral_Miolo - Revisado.indd 42-43Sobral_Miolo - Revisado.indd 42-43 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 4544 pluralidade de situações que promovam o desenvolvi- mento pleno das crianças (BNCC, 2017, p. 39). 6. Educar crianças supõe parceria das escolas com as famílias e comunidades na construção de um projeto pedagógico coletivo A Educação Infantil se faz na realização de sua função sociopolítica e pedagógica que inclui, en- tre outros aspectos, assumir a responsabilidade de compartilhar e complementar a educação e o cuidado boas experiências de aprendizagens nos anos iniciais da vida. Os princípios que revertem ensinamentos aos parceiros-cuidadores das crianças são: Amplifique as demonstrações de amor e mini- mize as situações estressantes para as crianças; Fale, cante e aponte para ampliar as situa- ções de uso da linguagem pelos bebês; Conte, agrupe e compare para propiciar boas situações de pensar pelas crianças; das crianças com as famílias. Ao contrário de discursos que supõem uma rela- ção de substituição, na verdade o que se deseja é a construção de uma parceria, reconhecendo como a filosofia africana que “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Os princípios fundamentais do programa Boston Basics sintetizam ações concretas para os respon- sáveis pelas crianças em seus anos iniciais da vida. Princípios esses que devem ser compartilhados com as famílias no cotidiano das relações com a escola.Es- ses fundamentos se baseiam em estudos sobre o de- senvolvimento infantil e ressaltam a importância das Explore objetos e espaços pelo mo- vimento e brinque com os bebês; Leia histórias e as comen- te, junto com as crianças. Esses princípios estão subjacentes às orienta- ções metodológicas que alimentam esse documento curricular da rede municipal de ensino de Sobral - Educação Infantil e, ao mesmo tempo, enfatizam a importância de cada vez mais dis- seminar os princípios do Programa do Boston Basics com as famílias. Passeio ciclístico nos arredores da escola – Semana das Crianças Ação pedagógica entre crianças e professora Sobre o Boston Basics: https://boston. thebasics.org/ Sobral_Miolo - Revisado.indd 44-45Sobral_Miolo - Revisado.indd 44-45 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 4746 UMA EXPERIÊNCIA COM AS FAMÍLIAS – RELATO DO CEI DOMINGOS OLÍMPIO No CEI Domingos Olímpio, a parceria com as fa- mílias é o foco principal da gestão escolar, com vis- tas a garantir os direitos das crianças e fortalecer as práticas para o desenvolvimento integral de to- das as crianças de zero a cinco anos. São realizados escolar ocorridas no 2º bimestre. Os pais foram aco- lhidos com um vídeo: Vida Maria. A partir disso, propusemos uma reflexão sobre a importância da escola na vida das crianças e da comunidade em ge- ral, isso porque analisamos os índices de faltas du- rante o primeiro semestre nas turmas da pré-escola. Em seguida, alguns pais comentaram o que consi- deraram importante no vídeo. Propusemos uma re- flexão a partir de algumas perguntas: 1. O que vocês sonham para o futuro de seus filhos? 2. Qual a contribuição da escola para a construção dos seus sonhos? 3. Como as famílias podem contribuir? 4. Como avalia as ações realizadas no 2º Bimestre? Sugestões de melhorias. A discussão foi bastante produtiva e importante, já que as famílias estão participando do planeja- mento das ações junto com a gestão escolar e refle- tindo sobre a função social da escola na vida de cada criança e das famílias. As famílias relatam momentos importantes de sua vida que emocionam e fortalecem os vínculos com a escola. importantíssimos esses momentos, pois os familiares se sentem acolhidos e parte do processo escolar de seu filho! encontros mensais com os pais e responsáveis das crianças na pré-escola e bimestrais com as da cre- che, a fim de qualificar os vínculos nessa parceria e favorecer o acompanhamento das atividades esco- lares de seus filhos. Outro aspecto que é reforçado nos encontros é o compromisso com a frequência escolar diária das crianças no CEI. Em Agosto/2019, realizamos um encontro com as famílias para avaliar as ações da escola e da gestão Familiares em atividades de grupo Sobral_Miolo - Revisado.indd 46-47Sobral_Miolo - Revisado.indd 46-47 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 48 Os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento e a qualidade da Educação Infantil O compromisso da Educação Infantil com as crianças se concretiza nas aprendizagens que são garantidas na medida em que acessam e participam do cotidiano das instituições. A BNCC (Brasil, 2017) define um conjunto de seis Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, que configuram condições para a organização do trabalho pedagógico. Tornam-se, assim, indicado- res de uma Educação Infantil significativa para as crianças, se nos perguntarmos como estão sendo promovidos e como podemos garanti-los de forma mais ampla. O quadro a seguir propõe esse movimento de avaliação do trabalho desenvolvido na instituição, a partir de perguntas-indicadores, de como estão sendo concretizados os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, considerando as condições defi- nidas pela BNCC. PARTE III SOBRE APRENDER A VOAR, PLAINAR E POUSAR Passeata Semana do bebê com participação de crianças bem pequenas e familiares 49 Sobral_Miolo - Revisado.indd 48-49Sobral_Miolo - Revisado.indd 48-49 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 5150 Ativamente; Com adultos e outras crianças; Tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador como da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes; Desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. Com outras crianças e adultos; Em pequenos e grandes grupos; Utilizando diferentes linguagens; Ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. Movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza; Na escola e fora dela; Ampliando seus saberes sobre a cultura; Em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Cotidianamente; De diversas formas, em diferentes espaços e tempos; Com diferentes parceiros (crianças e adultos); Ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. Como sujeito dialógico, criativo e sensível; Suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos; Por meio de diferentes linguagens. Construir sua identidade pessoal, social e cultural; Constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento; Nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens, vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. Como são garantidas possibilidades de participação para as crianças com deficiências? As crianças são convidadas, mobilizadas e apoiadas a participar da organização da rotina, conforme as necessidades da turma? As crianças têm liberdade de escolher as brincadeiras ou atividades em algum momento do dia? As crianças têm autonomia na escolha dos materiais para o desenvolvimento das atividades? Há momentos do dia nos quais as crianças são convidadas a escolher que atividades vão desenvolver? Têm autonomia na escolha de seus parceiros de brincadeira? São convidadas a ampliar essas relações? São convidadas a expressar afetos, ideias e interesses, e também a ouvir e compreender sentimentos e ideias dos colegas? Diferentes formas de organizar o grupo (turma toda, duplas, trios, momentos de trabalho individual) são presentes na rotina? As crianças têm oportunidades de frequentar, de forma regular (várias vezes na semana), os diferentes espaços da escola? São suficientes os momentos na rotina em que as práticas são “desemparedadas” para que as crianças tenham experiências nos espaços externos? Em que medida as crianças têm acesso a diferentes obras de arte, elementos da natureza e objetos e materiais diversificados para suas explorações, manipulações e investigações? O tempo destinado à brincadeira está garantido na rotina, não se restringindo apenas aos minutos destinados ao momento de ida ao parque? Há momentos de brincadeira que garantem encontros das crianças com parceiros de diferentes idades (inclusive outras turmas)? O repertório de brincadeiras é continuamente ampliado (faz-de-conta, brincadeiras tradicionais, jogos de regras, de exploração sensório- motora, jogos cooperativos, de construção, de tabuleiro etc.), garantindo a diversidade no brincar das crianças? Gestos, sorrisos, choros, balbucios, expressões faciais, movimentos corporais são compreendidos e considerados como linguagem expressiva dos bebês? As crianças são convidadas a tomar iniciativas para comunicar suas ações, necessidades e desejos e fazer escolhas? Como promovemos na rotina a liberdade de expressão, por meio de diferentes linguagens?Há momentos na rotina que favorecem a criança reconhecer- se e valorizar sua identidade? Os profissionais da escola ajudam as crianças a considerar outras formas (não agressivas) de lidar com suas emoções? São disponibilizadas nos diferentes ambientes educativos modelos de beleza e referências de imagens que representem a diversidade étnico-racial brasileira (livros de literatura, imagens, artefatos da cultura etc.)? Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento Indicadores de avaliação da promoção dos Direitos CONVIVER... EXPLORAR...BRINCAR... EXPRESSAR..PARTICIPAR... CONHECER-SE... Sobral_Miolo - Revisado.indd 50-51Sobral_Miolo - Revisado.indd 50-51 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 53 Esses indicadores não se esgotam e, continua- mente, devem ser complementados pelas equipes escolares, na medida em que se vai avançando no trabalho com as crianças, configurando um proces- so contínuo de avaliação institucional. A avaliação institucional possibilita compreender melhor que qualidade é ofertada na Educação In- fantil, a partir de uma compreensão mais aprofun- dada de como estão se desenvolvendo os processos educativos, não se restringindo, mas sim comple- mentando as informações que advém dos processos de avaliação das aprendizagens das crianças. O olhar atento para os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento pode enriquecer os processos ava- liativos que já vêm sendo realizados em unidades de Educação Infantil, no município, a partir do documen- to Indicadores de Qualidade na Educação Infantil. co e social da humanidade e constituindo experiên- cias de aprendizagens significativas, que afetam as crianças em seus conhecimentos e subjetividades. Assim é que a BNCC (BRASIL, 2017, p. 36) destaca que creches e pré-escolas têm a tarefa de ampliar o uni- verso de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendiza- gens, atuando de maneira complementar à família (...). Esse processo de apropriação das formas de pen- sar, sentir e agir humanos se dá desde o nascimento. Para o bebê, é por meio das expressões faciais, dos movimentos do corpo e dos sentidos que eles podem interagir com os parceiros, percebendo e reconhe- As crianças, o repertório da cultura e as múltiplas linguagens As crianças aprendem e se desenvolvem a partir da imersão no mundo em que vivem, vivências essas que promovem experiências de aprendizagens com as múltiplas linguagens e saberes que compõem o repertório científico, tecnológico, linguístico, cultu- ral e artístico. Ao participar cotidianamente da rotina da esco- la, a criança vivencia experiências pessoais e co- letivas que constituem a si mesma e a sua relação com o outro. Constroem juntos, adultos e crianças, ambientes que favorecem interações éticas que vão além das necessidades individuais, construindo uma perspectiva de sujeitos ético-coletivo contem- porâneo, para o respeito e a relação de vida com a alteridade. A experiência da criança está atravessada por múltiplos conhecimentos e linguagens, que con- figuram a própria produção humana, selecionados pelos adultos para promover a imersão das crianças de forma mais abrangente na cultura. A linguagem é uma construção humana. Pode- -se dizer que a capacidade criadora do ser humano constituiu e constitui diversas formas de dizer, de significar, de criar novas realidades. O ser humano constitui e é constituído por linguagens. Dessa for- ma, o papel da Educação Infantil é organizar os am- bientes para que as múltiplas linguagens apareçam em sua diversidade, refletindo o amplo repertório artístico-cultural, científico, tecnológico, linguísti- cendo sensações, expressando estados afetivos e corporais, enfim, construindo suas primeiras im- pressões e conhecimento sobre si mesmo e o outro. Mesmo já tendo possibilidade de falar, essa lin- guagem corporal ainda é recurso de grande im- portância para as crianças pequenas. É por meio da imitação e da criação e expressão de novos gestos que se sustenta a brincadeira simbólica, reconheci- da por Vygotsky (2008) como aquela que empurra a criança à frente do seu desenvolvimento, que a colo- ca para agir em uma situação imaginária, portanto, criando voluntariamente uma intenção, realizando algo que provém de seus interesses, curiosidade e A experiência de avaliação empreendida no Centro de Educação Infantil Dolores Lustosa, a partir do documento Indicadores de qualidade na Educação Infantil, levou à elaboração de um Plano de Ação, a partir de necessidades emergentes da comunidade. Ações essas que previam a: • Criação de um quadro expositor da proposta pedagógica; • Organização de um seminário interno sobre inclusão; • Ampliação da quantidade de tempo de atividades realizadas ao ar livre; e • Qualificação do planejamento do professor visando ampliar a autonomia das crianças em suas escolhas. Essa experiência está publicada em https:// gestaoescolar.org.br/conteudo/2267/como-avaliar-a- qualidade-da-educacao-infantil-na-sua-escola 52 Cantinho do brinquedo – Interação entre crianças Sobral_Miolo - Revisado.indd 52-53Sobral_Miolo - Revisado.indd 52-53 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 5554 atenção sobre o mundo social. Para tanto, o gesto, junto com outras linguagens, apoia essa criação. Basta olhar toda a expressividade gestual empreen- dida pela criança para assumir o papel de enfermei- ro, de chefe, de cuidador, de heroína, de animal, en- tre muitos outros, nas brincadeiras simbólicas. A criança também projeta em gestos o seu pen- samento que, por sua vez, é influenciado pelo seu gesto. Quem nunca viu uma criança abrir os braços, ficar na ponta dos pés e esticar todo o corpo para contar ao seu interlocutor o quanto “era muito gran- de aquela coisa!”. É interessante observar essa mistura de pensa- a atividade é preciso estar imóvel, preferencialmen- te sentado. Há pesquisas que mostram que, ao con- trário disso, o movimento e a variação postural das crianças pode favorecer a atenção e a aprendizagem, questionando essa concepção de aprendizagem que reconhece apenas na imobilidade a possibilidade de estar atento (Galvão, 2004)8. Para confirmar essas ideias de que o movimento pode favorecer o pensamento e a criança, basta olhar a movimentação dos artis- tas quando produzem suas obras ou mesmo relem- brar na história da Filoso- fia as aulas peripatéticas de Aristóteles. Assim, mais do que ape- nas “permitir” a expressão dessa linguagem corporal, as instituições de Educa- ção Infantil são espaços de ampliação, criação e construção coletiva dessa rique- za gestual, que se articula às outras linguagens. Nesse conjunto de linguagens estão as duas mo- dalidades da linguagem verbal, a oral e a escri- ta, que se mostram com especificidades, mas, que, ao mesmo tempo, se interpenetram e influenciam mutuamente. É interessante compreender brevemente algumas ideias que historicamente se constituíram sobre o mento, gesto e expressão da criança também nas oportunidades que tem ao desenhar. Algumas crianças se posicionam sentadas e se inclinam sobre a mesa para fazer a sua produção gráfica. Outras, porém, sentem necessidade de levantar, por vezes, giram em torno de seus desenhos e pinturas, em um exercício de experimentação e observação do que está em processo. Muitas vezes, esse “levantar” é lido como indis- ciplina ou incontinência motora das crianças, com reações dos adultos que colocam a criança para sen- tar ou “ficar quieta”. Parece emergir daí uma com- preensão de que para estar atento ou envolvido com desenvolvimento da linguagem verbal. Rojo (2010)9 refere que se tinha inicialmente uma compreensão linear, cumulativa e segmentada acerca do desen- volvimento da linguagem. Uma forma de entender o desenvolvimento da linguagem que acreditava que a criança aprendia a falar (modalidade oral da linguagem) e, só depois, a escrever, como se a aqui- sição das linguagens oral e escrita seguisseuma ordem estanque e uma segmentação. É certo que as crianças começam a falar antes de começar a escre- ver, mas isso não significa que o seu contato com a escrita e, nesse sentido, os significados que vão se constituindo a partir desse contato, não se dê antes de qualquer movimento da criança para escrever e, ainda mais, que a escrita não altere a fala. Talvez a permanência dessa concepção linear e segmentado- ra nos coloque diante de posições que consideram “natural” aprender a falar e “artificial” o aprender a escrever, levando a práticas pedagógicas que ora afastam a escrita das crianças pequenas, ora colo- cam a escrita em um lugar de artificialidade, como se tivesse que ser aprendida por exercícios que não necessariamente têm relação com a vida. Se compreendemos o desenvolvimento da crian- ça a partir de uma perspectiva cultural, portanto do sujeito em interação social, devemos ressaltar que, por meio desse outro, parceiro de interação, a crian- ça é inserida no mundo da linguagem com todas as suas modalidades. Crianças brincam no cantinho da beleza “Peripatético” é a palavra grega para ‘ambulante’ ou ‘itinerante’. Peripatéticos (ou ‘os que passeiam’) eram discípulos de Aristóteles, em razão do hábito do filósofo de ensinar ao ar livre, caminhando enquanto lia e dava preleções, por sob os portais cobertos do Liceu, conhecidos como perípatos, ou sob as árvores que o cercavam. Retirado de https:// pt.wikipedia.org/wiki/Escola_ peripat%C3%A9tica 8. Galvão, Izabel. Cenas do cotidiano escolar: conflito sim, violência não. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. 9. ROJO, Roxane Helena Rodrigues. Falando ao pé da letra: a constituição da narrativa e do letramento. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. Sobral_Miolo - Revisado.indd 54-55Sobral_Miolo - Revisado.indd 54-55 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 56 57 A criança começa a falar e, na medida em que vai tendo contato com os diversos portadores e práticas sociais que envolvem a linguagem escrita, em suas situações de uso cotidiano, vai transformando for- mas de dizer em outro tipo de fala que incorpora elementos da própria escrita, fazendo emergir na interação o que alguns autores chamam de fala le- trada, assim como vai se configurando o processo de letramento (ROJO, 2010). Ressalta-se, então, a relação de interdependência existente entre oralidade e escrita no processo de le- tramento e que vai se amplificando na medida em que a criança participa das práticas sociais que en- volvem a linguagem verbal. Por exemplo, na situação de leitura em voz alta de histórias, a leitura vai, de certa forma, oralizando o texto escrito e possibilita à criança ir entrando em contato com as formas do texto escrito, o que além de possibilitar a construção de conhecimentos sobre os gêneros textuais e o desenvolvimento de habili- dades de leitura e escrita possibilita novas formas de falar. Ao assumir o lugar de quem conta a his- tória para os colegas, para a professora ou muitas vezes em casa, em projetos de leitura literária pro- movidos pela escola, a criança se apropria dessas práticas de letramento, já que elaborar suas narrati- vas inclui recursos da linguagem escrita usados em situações anteriores. Na medida em que a criança se apropria dos re- cursos narrativos que constituem situações orais – ressalte-se: porque alguém usou essa linguagem antes com ela! –, pode-se afirmar que parte da sua fala se transforma, paulatinamente, em uma fala le- trada, posto que passa a empregar, em suas constru- ções linguísticas, vocábulos e conectivos mais com- plexos, tornando sua fala mais conexa e completa, se pensamos no processo comunicativo. Sobretudo podem viver práticas culturais diversas que envol- vem as narrativas. Por isso a importância de garantir na Educação In- fantil o contato com diversos gêneros textuais (literá- rios, divulgação científica, informativos etc.), e de boa qualidade. Compor cantos de leitura e bibliotecas na escola com essa diversidade possibilita a promoção de ambientes de Educação Infantil com amplo grau e complexidade dos múltiplos letramentos. Outro aspecto importante no desenvolvimento da linguagem diz respeito à brincadeira. Ao apontá-la como linha principal no desenvolvimento da crian- ça, Vygotsky nos possibilitou olhar para a aprendi- zagem da língua por meio dessa atividade. A criança também se apropria do funcionamento da lingua- gem por meio dos jogos e brincadeiras que vão sen- do atravessados pela palavra. Desde os jogos de no- meação e de escondeu-achou, que fazemos com os bebês, até as brincadeiras com a língua, as crianças constroem conhecimentos a esse respeito. (...) uma criança ao ser perguntada sobre que suco gostaria de tomar na hora do lanche, se de laranja ou de uva, responde que os dois, e cria uma nova palavra para responder ao seu desejo: “laruva” (exemplo retirado de uma situação doméstica). Sem precisar fazer sistematizações sobre regras sintáticas ou fonológicas, a criança joga com a linguagem, e nessa exploração conhece suas regras, que são as regras de uso (PANCOTTO E FERREIRA, 2017, p. 241). Essa elaboração não “brota” naturalmente no pensamento da criança. É preciso que, antes disso, muitos eventos de conversas com adultos e crianças, narrativas (ouvir e narrar para o outro) e brincadei- ras com as palavras tenham se colocado para que ela jogue ativamente com a linguagem. Essa reflexão também possibilita olhar para as prá- ticas de leitura e escrita contemporâneas e pensar no letramento digital que a escola, desde a Educação Atividade artísticas – crianças pintando o muro do centro de educação infantil Protagonismo infantil de crianças bem pequenas através do teatro de fantoches Sobral_Miolo - Revisado.indd 56-57Sobral_Miolo - Revisado.indd 56-57 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 5958 Infantil, tem como compromisso com as crianças. A cultura contemporânea e digital tem impacta- do de forma bastante intensa e modificado formas de pensar, sentir e agir na vida humana. Por exem- plo, hoje causa estranhamento alguém que não use, de diferentes maneiras, o recurso de fotografia que vem nos smartphones. Diferentemente de algumas décadas atrás, fotografa-se tudo e muitas situações da vida. Há que se pensar na nossa relação com as tecnologias e seus impactos nas formas de comuni- cação e produção do conhecimento. Saindo muitas vezes do automatismo do cotidiano, a escola deve propiciar situações de investigação da criança sobre As crianças estão curiosas em relação a essas práti- cas sociais. Assim como outros artefatos da cultura, elas querem ver, saber como funcionam e como po- dem operá-los. As tecnologias digitais fazem emergir novas mídias, além da possibilidade de inter-relacio- nar diferentes mídias, linguagens e práticas, muitas vezes constituídas pela convergência e modificação de sistemas de linguagem nesses novos contextos. Exemplo disso é a ampliação expressiva da circula- ção de textos multimodais caracterizados pela com- posição da linguagem escrita, oral e imagens, como os vídeos tão assistidos pelas crianças nas platafor- mas de compartilhamento. Não se trata somente de um processo de digitalização em que textos e práti- cas são simplesmente transferidos para ambientes digitais, mas também da apropriação de novas prá- ticas, de uma nova mentalidade e de um novo ethos (Lankshear e Knobel, apud Rojo, 2013). As mídias convencionais tinham um fluxo de comunicação de um para muitos e eram de relativo controle de quem detinha os meios de comunicação. As mídias digi- tais subvertem essa relação, configurando um fluxo comunicacional de muitos para muitos. Assim, além da produção do conteúdo e das formas de realizar essa comunicação, esse cenário também impõe na educação das crianças, desde a Educação Infantil, a importância de aprender a discriminar conteúdos, interesses e fontes confiáveis (curadoria inicialmen- te feita pelos adultos, mas da qual as crianças podem participarem pesquisas iniciais), a colaborar, cuidar de alguém que não conhece, mas que não pode ser alvo de agressões ou mentiras etc. o tirar foto – como enquadrar todos, aproximar ou distanciar etc. – bem como significar o ato de foto- grafar como registro significativo de experiências, apreciações, seleções etc. E as crianças? Também vivenciam essas mudan- ças. Bebês e crianças são incessantemente fotogra- fados e têm suas imagens circulando nas redes so- ciais, sem que necessariamente se pergunte sobre estarem ou não à vontade com isso. A questão é que essas práticas que envolvem e são constituídas na cultura digital contemporânea nos colocam a tare- fa de refletir sobre como as atuais tecnologias têm estado presentes no cotidiano da Educação Infantil. Nessa multiplicidade de linguagens, a cultura hu- mana produz as diversas manifestações artísticas. São outras formas de dizer, sentir, pensar e agir que se concretizam em diferentes linguagens e que abrem tantas possibilidades de trabalho com as crianças. As experiências das crianças com as linguagens visual, musical, cênica e da dança passam pela ne- cessária construção de significados que emergem a partir daquilo que vemos. Os desenhos, as pinturas, as fotografias, os grafites, as dramatizações, as dan- ças são formas de representação e de criação que importam pela possibilidade de reconstruir aquilo que vivem e percebem no dia-a-dia, bem como ex- plorarem suas possibilidades criativas. A criança inicia esse exercício criativo com o pró- prio corpo, seja na exploração de seus movimentos, ao seguir o balanço de uma música, ou tentar imitar um personagem que assiste em um espetáculo tea- tral, e se desenvolve na medida em que se envolve cada vez mais nas brincadeiras simbólicas. Seus gestos e pensamentos também se projetam nas experiências que faz nas produções gráfica e plástica. Para a criança, o desenho inicia-se pelo simples prazer do gesto. A criança exercitará seu ato motor de rabiscar até que perceba que o seu movimento produziu uma marca. Então tornará a explorar esses movimentos, munida de materiais para produzir intencionalmente o mesmo efeito. A repetição dessa experiência é fundamental para o avanço das possibilidades de desenho da criança (OLIVEIRA, 2019, p. 115). Utilização da mesa digital entre crianças Sobral_Miolo - Revisado.indd 58-59Sobral_Miolo - Revisado.indd 58-59 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 6160 Contudo, o desenvolvimento dessas linguagens não acontece naturalmente, espontaneamente. É fato que nos movimentos ritmados grafamos nossos rabiscos, imitamos e dramatizamos, sem que pre- cisemos fazer “aulas de” dança, desenho ou teatro. Porém, há que se ressaltar dois aspectos. O primei- ro é a imersão na cultura humana, que nos forne- ce esse repertório de manifestações artísticas como formas de linguagem. O segundo é que, quanto mais temos contato com distintas formas de apresentação dessas linguagens, mais temos possibilidades de nos apropriarmos de suas ferramentas simbólicas e, assim, ampliar as nossas possibilidades de sentir, pensar e operar com elas. É por isso que a BNCC (BRASIL, 2017) ressalta que: Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos (p. 41). po vão se construindo na medida em que a criança vivencia as diversas atividades que compõem a sua rotina, a passagem dos dias e noites, inclusive os ci- clos de sua fome e satisfação. Nessa direção, as experiências de observação, in- vestigação e cuidado com o ambiente coletivo vão possibilitando à criança novas ferramentas de pen- sar, expressar e compreender a si mesma e a sua re- lação com o mundo físico e social. É diante dessa possibilidade tão alargada de apren- dizagens que se concretiza o compromisso da Edu- cação infantil no município de Sobral. Em síntese, as experiências nas instituições da rede promovem, no contexto de experiências pessoais e coletivas, dos bebês e das crianças, aprendizagens amplas e integradas com múltiplas linguagens e conhecimen- tos que compõem o patrimônio cultural. Campos de Experiências como arranjo curricular Para dar conta de um currículo que promova Di- reitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, tendo como eixos estruturantes do trabalho pedagógico as interações e a brincadeira, a BNCC assumiu os Campos de Experiências enquanto um arranjo cur- ricular que acolhe as situações e as experiências con- cretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural (Brasil, 2017). Os Campos de Experiências se configuram a par- A essa amplitude de linguagens agregam-se co- nhecimentos relativos ao mundo físico e social. Ex- plorar o mundo, a partir de sua própria perspecti- va, é uma atividade bastante intensa a que bebês e crianças se dedicam. A exploração sensório-motora que mobiliza a ati- vidade dos bebês possibilita a construção de seus conhecimentos iniciais sobre as características dos materiais, assim como os efeitos que suas ações cau- sam nos objetos. Também as noções de espaço e tem- tir do reconhecimento de repertório significativo da cultura que deve alimentar as aprendizagens das crianças, considerando as especificidades de seu momento de vida. O trabalho pedagógico com os Campos de Expe- riências supõe contextualização, flexibilidade e in- tegração. Contextualização, pois demanda que cotidiana- mente criem-se novos contextos de trabalho que articulam os interesses e as ideias que as crianças trazem com os conhecimentos que constituem o repertório científico, tecnológico e artístico, organi- zando práticas abertas às iniciativas, desejos e formas próprias de agir da criança que, mediadas pelo pro- fessor, constituem um contexto rico de aprendizagens significativas (p. 10). Flexibilidade, pois, os contextos planejados vão se enriquecendo na medida em que crianças e adultos interagem nos ambientes e trazem novas ideias para aquela situação. Integração, pois os campos não têm limites estan- ques nem devem ser compreendidos como discipli- nas a serem realizadas em aulas, em modelos tradi- cionais. Ressalta-se que: Os Campos de Experiências podem subsidiar as práticas das crianças isoladamente ou reunindo os objetivos de um ou mais campos e envolvem todos os momentos da jornada (diária e semanal) das crianças na Educação Infantil, incluindo o acolhimento inicial, o momento das refeições, a participação no Experiência com instrumentos musicais – Projeto Música na Creche Sobral_Miolo - Revisado.indd 60-61Sobral_Miolo - Revisado.indd 60-61 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 6362 planejamento das atividades, as festividades e os encontros com as famílias, as atividades de expressão, investigação e brincadeiras. Assim, os campos não são trabalhados apenas em um dia definido da semana, nem há expectativa de haver uma aula de 45 minutos para o trabalho com um campo em cada dia ou para que determinado bimestre do ano letivo seja dedicado apenas a um campo. De um lado os Campos de Experiências direcionam o nosso olhar para as experiências das crianças e sua participação no cotidiano da Educação infantil e de outro é possível perceber a importância de um plane- jamento pedagógico por parte do professor, susten- tado na intencionalidade e na reflexão permanenteacerca do currículo que se quer construir na Educa- ção Infantil e das práticas que o concretizarão. Assim, é fundamental conhecer as especificidades dos Campos de Experiências, suas possibilidades de articulação entre os campos e os objetivos de apren- dizagens (que, conforme a BNCC, ganham sentido no contexto dos campos). Na BNCC, foram definidos cinco Campos de Ex- periências: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. O eu, o outro e o nós A construção da identidade talvez seja uma das mais importantes conquistas da criança nos pri- meiros anos de sua vida. Inicialmente na família e depois adentrando o meio escolar, as crianças vão vivendo suas experiências iniciais de inserção na cultura e se apropriando dos modos de viver das pessoas. Essa participação nas relações sociais vai possibilitando a constituição do seu modo próprio de ser, de sentir e de agir nas diversas situações da vida. Isso é construção do EU, que se dá necessa- riamente na relação com o outro, em uma coletivi- dade (o nós). As instituições de Educação Infantil têm papel fundamental nesse processo que envolve muitas aprendizagens, aprendizagens essas que são dife- rentes das que acontecem no âmbito da família. Por isso, é importante cuidar para que não se recaia na ideia de que família ou escola se substituem. Ambos os contextos de vivência das crianças são parceiros e participam de modos distintos desse processo de construção de identidade e alteridade da criança. Nessa direção, a BNCC destaca a necessidade de criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas (BRASIL, 2017, p. 40), já que será, na me- dida em que se relaciona com o outro, que a criança poderá elaborar modos de agir, sentir e pensar que respeitam e participam da diversidade da cultura. DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NO CAMPO DE EXPERIÊNCIAS O EU, O OUTRO E O NÓS10 CONVIVER com crianças e adultos em pequenos grupos, reconhecendo e respeitando as diferentes identidades e pertencimento étnico-racial, de gênero e de religião. BRINCAR com diferentes parceiros, desenvolvendo sua imaginação e solidariedade. EXPLORAR diferentes formas de interação com pessoas e grupos sociais diversos, ampliando sua noção de mundo e sensibilidade em relação aos outros. PARTICIPAR ativamente das situações do cotidiano, tanto aquelas ligadas ao cuidado de si e do ambiente como as relativas às atividades propostas pelo professor e às decisões da escola. EXPRESSAR às outras crianças e/ou adultos suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões e oposições. CONHECER-SE e construir uma identidade pessoal e cultural, valorizando as próprias características e as de outras crianças e adultos, não compartilhando visões, atitudes preconceituosas ou discriminatórias. Piquenique - Projeto Alimentação Saudável: Comer é viver. Vamos viver bem?! 10. Campos de Experiências: efetivando direitos e aprendizagens na educação infantil / [Ministério da Educação; texto final Zilma de Moraes Ramos de Oliveira]. – São Paulo: Fundação Santillana, 2018. Disponível em https://www. fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/direitos-aprendizagens-educacao-infantil/ Sobral_Miolo - Revisado.indd 62-63Sobral_Miolo - Revisado.indd 62-63 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 65 DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NO CAMPO DE EXPERIÊNCIAS DO CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS11 CONVIVER com crianças e adultos, experimentando marcas da cultura corporal nos cuidados pessoais, na dança, na música, no teatro, nas artes circenses, na escuta de histórias e nas brincadeiras. BRINCAR utilizando criativamente o repertório da cultura corporal e do movimento. EXPLORAR amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas, descobrindo modos de ocupação e de uso do espaço com o corpo. PARTICIPAR de atividades que envolvam práticas corporais, desenvolvendo autonomia para cuidar de si. EXPRESSAR corporalmente emoções e representações tanto nas relações cotidianas como nas brincadeiras, dramatizações, danças, músicas e contação de histórias. CONHECER-SE nas diversas oportunidades de interações e explorações com seu corpo. Corpo, gestos e movimentos A espécie humana faz de seu corpo um instru- mento de expressão e significação de aspectos de identidade e da coletividade. Basta parar para pen- sar em gestos simples que nos dizem muito, como o sacudir as mãos e dar tchau, como em produções artístico-culturais que usam o corpo, os gestos e os movimentos para expressar e elaborar novos signi- ficados sobre a vida humana. Dessa criação, surgem as múltiplas linguagens que fazem tanto sentido no currículo da Educação Infantil, considerando que por meio da música, dança, teatro, fotografia, escul- tura e outras manifestações da arte as crianças se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. Cabe às instituições de Educação Infantil: (...) promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.) (BNCC, 2017, p. 41). Encontro de bois na cidade 64 11. Campos de Experiências: efetivando direitos e aprendizagens na educação infantil / [Ministério da Educação; texto final Zilma de Moraes Ramos de Oliveira]. – São Paulo: Fundação Santillana, 2018. Disponível em https://www. fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/direitos-aprendizagens-educacao-infantil/ Crianças brincam na parede sonora Sobral_Miolo - Revisado.indd 64-65Sobral_Miolo - Revisado.indd 64-65 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 6766 Traços, sons, cores e formas A observação do mundo nos remete a traços, sons, cores e formas. Também esses elementos com- põem as distintas formas de representar o nosso olhar para as coisas do mundo. Fotografias, pintu- ras, esculturas, modelagens e maquetes são algu- mas das muitas produções humanas que decorrem desse olhar. A música, os ruídos, o silêncio, os efei- tos acústicos nos despertam sensações, afetando o nosso estar no mundo. Os sons da natureza também nos possibilitam sensações e vivências diversas. Essa intrínseca relação com as sensações e os afetos é característica primordial desse campo de experiências. No caso das crianças, sua curiosidade em relação a essa materialidade do mundo aliada ao papel da Educação Infantil de enriquecer o repertório cultural, artístico, científico e tecnológico em suas experiências de apren- dizagem nos convoca a promover experiências que possam contribuir, desde os bebês às crianças maiores, com o desenvolvimento da sensibilidade, da expressão das emoções e do pensamento por meio das diferentes linguagens, da participação e da atitude de fruição em relação à diversidade artístico-cultural, incluindo-se aqui às manifestações locais de arte e cultura. Escuta, fala, pensamento e imaginação Desde o nascimento é por meio da interação com o outro que vamos aprendendo e desenvolvendo nossa singularidade, nosso jeito de ser e estar no mundo. Na verdade, desde antes de nascer os bebês vão sendo “falados” pela sua comunidade. Quando nascem, portanto, já há todo um cenário de expec- tativas, ideias, intervenções no tempo, espaço e na própria dinâmica familiar para recebê-lo. Essa in- teração acontece tendo a linguagem como meiopri- mordial de inserção desse bebê na cultura. Esse bebê, ao contrário do que se pensava há não muito tempo, é um parceiro ativo nessa interação. Essa atividade se faz por meio dos seus movimentos e gestos que, pouco a pouco, vão sendo interpreta- dos pelos adultos e significados por essa criança. É um diálogo em que o bebê participa com seu corpo e seus parceiros com a linguagem, em toda a sua com- plexidade, gesto e verbo. É nessa complexidade que esse campo se configu- ra. Escutar, falar, pensar e imaginar são atividades humanas que estão atravessadas pela linguagem (gestual, verbal, incluindo aqui a oral e a escrita, e as manifestações artístico-culturais que configuram outras linguagens). As brincadeiras de “Cadê? Achou!!” e os jogos de nomear objetos, pessoas, partes do corpo, tão co- muns nas nossas interações com os bebês e com as crianças já falantes, as conversas sobre o cotidiano da vida, os pedidos para narrar ou opinar sobre algo, os planos que fazemos com elas são situações DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NO CAMPO DE EXPERIÊNCIAS TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS12 CONVIVER e fruir as manifestações artísticas e culturais de sua comunidade e de outras culturas — artes plásticas, música, dança, teatro, cinema, folguedos e festas populares. BRINCAR com diferentes sons, ritmos, formas, cores, texturas, objetos, materiais, construindo cenários e indumentárias para brincadeiras de faz de conta, encenações ou festas tradicionais. EXPLORAR variadas possibilidades de usos e combinações de materiais, substâncias, objetos e recursos tecnológicos para criar e recriar danças, artes visuais, encenações teatrais e musicais. PARTICIPAR de decisões e ações relativas à organização do ambiente (tanto o cotidiano como o preparado para determinados eventos), à definição de temas e à escolha de materiais a serem usados em atividades lúdicas e artísticas. EXPRESSAR emoções, sentimentos, necessidades e ideias, brincando, cantando, dançando, esculpindo, desenhando e encenando. CONHECER-SE no contato criativo com manifestações artísticas e culturais locais e de outras comunidades. que colocam em jogo a complexidade da interação e da linguagem humana. Essas e muitas outras prá- ticas de linguagem são promotoras de desenvolvi- mento, pois configuram a imersão contextualizada na vida cultural. É nessa direção, das práticas sociais, que a lingua- gem enriquece a Educação Infantil. Na BNCC, nesse campo, são destacadas as práticas com a linguagem oral, com a escrita e a literatura, não esquecendo que estas vêm, muitas vezes, articuladas a outras linguagens. A literatura infantil, por exemplo, traz sempre na composição do livro as imagens, por ve- zes pinturas, desenhos, fotografias ou mesmo escul- turas de papel. Nas práticas que priorizam a linguagem oral estão aquelas que têm significado na vida. Conversar, con- tar uma história ou um acontecimento, fazer uma combinação com os colegas sobre o que vão fazer no parque, enfim, contextos reais de uso da oralidade. A linguagem escrita também pode ser compreen- dida nessa mesma perspectiva. É na aproximação e participação da criança nas práticas de letramentos que constituem o nosso modo de viver que vamos encontrar sentido para mobilizar a curiosidade das crianças. É importante salientar: as crianças têm curiosi- dade sobre a língua escrita. Contudo, às vezes, esta chega de modo tão descontextualizado nas mãos da criança (em exercícios repetitivos, mecânicos e es- tritamente motores) que acaba gerando pouco en- volvimento nessas aprendizagens. A escrita aparece em bilhetes reais que enviamos 12. Campos de Experiências: efetivando direitos e aprendizagens na educação infantil / [Ministério da Educação; texto final Zilma de Moraes Ramos de Oliveira]. – São Paulo: Fundação Santillana, 2018. Disponível em https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/ direitos-aprendizagens-educacao-infantil/ Sobral_Miolo - Revisado.indd 66-67Sobral_Miolo - Revisado.indd 66-67 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 6968 DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NO CAMPO DE EXPERIÊNCIAS ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO14 CONVIVER com crianças e adultos, compartilhando sua língua materna em situações comunicativas cotidianas, constituindo modos de pensar, imaginar, sentir, narrar, dialogar e conhecer. BRINCAR com parlendas, trava-línguas, adivinhas, memória, rodas, brincadeiras cantadas, jogos e textos de imagens, escritos e outros, ampliando o repertório das manifestações culturais da tradição local e de outras culturas, enriquecendo sua linguagem oral, corporal, musical, dramática, escrita, entre outras. EXPLORAR gestos, expressões, sons da língua, rimas, imagens, textos escritos, além dos sentidos das palavras, nas poesias, parlendas, canções e enredos de histórias, apropriando-se desses elementos para criar novas falas, enredos, histórias e escritas convencionais ou não. PARTICIPAR de rodas de conversa, de relatos de experiências, da contação e leitura de histórias e poesias, da construção de narrativas, da elaboração, descrição e representação de papéis no faz de conta, da exploração de materiais impressos e de variedades linguísticas, construindo diversas formas de organizar o pensamento. às famílias e que lemos junto com as crianças, em listas de coisas que precisamos levar para o parque e que fazemos com as crianças, em legendas do álbum de fotos do passeio da turma ou mesmo da pesquisa sobre os animais da floresta Amazônica que coleta- mos com as crianças para um cartaz. É importante enfatizar os textos reais, aqueles que efetivamente apresentam para as crianças o significado da escrita em seu uso social. Por fim, a literatura infantil, como manifestação de diferentes linguagens (verbal e visual), propor- ciona uma experiência estética que afeta as crianças (e os adultos também) ao colocá-las em contato com diferentes culturas, épocas, assim como sentimen- tos, ideias e circunstâncias de vida. Além disso, a literatura, especialmente nos contos clássicos, propicia uma aproximação com a estru- tura narrativa, com a forma como se conta a outros uma história, ampliando, gradativamente, as possi- bilidades de as crianças organizarem suas próprias narrativas, seja em relatos orais, seja por meio da linguagem escrita (Luize, 2016, p. 25)13. É preciso ressaltar, contudo, a especificidade des- se campo. O que se está tratando aqui é da possibi- lidade de aprender a escutar, falar, pensar e ima- ginar, de forma mais ampla e complexa. Isso quer dizer que as aprendizagens em torno da linguagem verbal ganham sentido se favorecem a possibilidade da criança de participar cada vez mais das diversas práticas sociais que estão intrinsecamente consti- tuídas pela linguagem, e esse uso social elas fazem intensamente em suas interações e brincadeiras. EXPRESSAR sentimentos, ideias, percepções, desejos, necessidades, pontos de vista, informações, dúvidas e descobertas, utilizando múltiplas linguagens, entendendo e considerando o que é comunicado por outras crianças e adultos. CONHECER-SE e reconhecer suas preferências por pessoas, brincadeiras, lugares, histórias, autores, gêneros linguísticos e seu interesse em produzir com a linguagem verbal. Criança folheia livro na geladoteca 13. Luize, Andrea. A linguagem escrita na Educação Infantil: uma análise sobre as práticas de leitura. Revista Veras, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 21-32, janeiro/ junho, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.14212/ veras.vol6.n1.ano2016.art254 Disponível em http://site.veracruz.edu.br/instituto/revistaveras/ index.php/revistaveras/article/view/254 14. Campos de Experiências: efetivando direitos e aprendizagens na educação infantil / [Ministério da Educação; texto final Zilma de Moraes Ramos de Oliveira]. – São Paulo: Fundação Santillana, 2018. Disponível em https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/ biblioteca/direitos-aprendizagens-educacao-infantil/Sobral_Miolo - Revisado.indd 68-69Sobral_Miolo - Revisado.indd 68-69 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 7170 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Esse campo mobiliza nas crianças aprendizagens que se iniciam desde muito cedo e dizem respeito a sua própria relação com o mundo. Se perceber e compreender os contextos em que vive em suas di- mensões espaço-temporais, bem como as formas de funcionar e os fenômenos da natureza, são aspectos dessas aprendizagens que estão intrinsecamente re- lacionadas a esse “estar no mundo” da criança. Os bebês exercem suas explorações no espaço por meio do olhar, da possibilidade de atrair o outro para si e, quando começam a se deslocar (engati- nhando e depois andando), ampliam essas possibili- dades, ganham novas e diferentes perspectivas nes- se processo de conhecer. As crianças maiores, com a aquisição da linguagem simbólica, conquistam a possibilidade de representação desse espaço-tempo por meio de diferentes linguagens (desenhos, foto- grafias, escritas, vídeo etc.). Esse mundo apresenta às crianças seus artefatos, construídos pelo ser humano, e que se caracterizam por suas tecnologias diversas e suas funções sociais. Nesse sentido, esses objetos, suas características, relações e formas de organização no mundo (quan- tidade, categorias, séries etc.) compõem outros co- nhecimentos que mobilizam muitas explorações e investigações infantis. DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NO CAMPO DE EXPERIÊNCIAS ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES15 CONVIVER com crianças e adultos e com eles investigar o mundo natural e social. BRINCAR com materiais, objetos e elementos da natureza e de diferentes culturas e perceber a diversidade de formas, texturas, cheiros, cores, tamanhos, pesos e densidades que apresentam. EXPLORAR características do mundo natural e social, nomeando-as, agrupando-as e ordenando- as segundo critérios relativos às noções de espaço, tempo, quantidade, relações e transformações. PARTICIPAR de atividades de investigação de características de elementos naturais, objetos, situações e espaços, utilizando ferramentas de exploração — bússola, lanterna e lupa — e instrumentos de registro e comunicação — máquina fotográfica, filmadora, gravador, projetor e computador. EXPRESSAR observações, hipóteses e explicações sobre objetos, organismos vivos, fenômenos da natureza e características do ambiente. CONHECER-SE e construir sua identidade pessoal e cultural, reconhecendo seus interesses na relação com o mundo físico e social. Além desses, os fenômenos da natureza que cau- sam nas crianças admiração e curiosidade para co- nhecer os porquês e como acontecem configuram nesse campo a amplitude de saberes que alimentam as propostas pedagógicas na Educação Infantil. (...) a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano (BRASIL, 2017, p.43). Experiências diversas entre bebês 15. Campos de Experiências: efetivando direitos e aprendizagens na educação infantil / [Ministério da Educação ; texto final Zilma de Moraes Ramos de Oliveira]. – São Paulo : Fundação Santillana, 2018. Disponível em https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/ biblioteca/direitos-aprendizagens-educacao-infantil/ Sobral_Miolo - Revisado.indd 70-71Sobral_Miolo - Revisado.indd 70-71 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 7372 A estrutura curricular da educação infantil de Sobral Um desafio que se coloca no diálogo com a BNCC é a integração dos diversos elementos que compõem o currículo, de forma a superar possíveis fragmenta- ções no trabalho com a primeira infância. O movimento de integração do currículo da Edu- cação Infantil do município de Sobral pode ser vi- sualizado assim: um lado há sim especificidades no que se refere aos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, é importante ressaltar que, de outro, esses campos se transversalizam, mostrando a cada situação pe- dagógica que para aprender é preciso buscar esta- belecer relações em diferentes direções e com dife- rentes saberes. Articulando-se a essa dinâmica curricular dese- nhada na BNCC (Brasil, 2017), a rede municipal de Educação Infantil de Sobral ressalta e busca pro- Convergindo o compromisso da Educação Infantil com as aprendizagens na primeira infância estão os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, que atravessam os Campos de Experiências que, por sua vez, nos dão a saber da amplitude do repertório do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico e da necessária articulação com as ex- periências e saberes das crianças. É importante salientar que os limites entre os Campos de Experiências são muito tênues. Se de mover experiências pessoais e coletivas, por meio de múltiplas linguagens e amplo repertório de conhecimentos, por meio das interações e brinca- deiras, eixos do trabalho pedagógico na Educação Infantil. É como se no seu exercício de planejamento peda- gógico os professores fossem, junto com as crianças, fazendo pequenos “bordados”, escolhendo os pon- tos que mais favorecem àquelas criações das crian- ças, colocando em relação falas, gestos, ideias e in- teresses infantis com conhecimentos do repertório científico, linguístico, artístico e tecnológico. Enfim, juntos, desenhando diferentes percursos de apren- dizagens e fazendo do espaço da Educação Infantil um lugar de investigações e criações. Esse movimento coloca professores e gestores no lugar de exímios observadores, planejadores, mediadores, parceiros das crianças no processo de apropriação e construção de conhecimentos. As aprendizagens em cada etapa: bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas Definir aprendizagens fundamentais para a pri- meira infância é um desafio, considerando a profun- didade e abrangência dos processos que se desen- volvem nesses anos iniciais de vida. A BNCC apresenta um conjunto de aprendizagens que configuram um panorama do compromisso que as redes e unidades de Educação Infantil têm com as MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO DO CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Processo de construção de conhecimento Sobral_Miolo - Revisado.indd 72-73Sobral_Miolo - Revisado.indd 72-73 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 7574 crianças brasileiras. Esses objetivos de aprendiza- gem e desenvolvimento compreendem tanto compor- tamentos, habilidades e conhecimentos quanto vivên- cias que promovem aprendizagem e desenvolvimento nos diversos Campos de Experiências, sempre tomando as interações e a brincadeira como eixos estruturantes (Brasil, 2017, p. 44). A gramática aqui é: “As crianças podem aprender e se desenvolver, caso ações de natureza pedagógi- ca forem realizadas”. Isto é, de uma forma geral, as aprendizagens para acontecerem contam com cer- tas condições para a sua realização. Por isso, aos quadros com as aprendizagens seguem algumas ações que supõem o protagonismo do professor na garantia dessas condições que convergem na diver- sidade dos ambientes de aprendizagem. Os Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Uma verdadeira revolução se processou nas últi- mas décadas com os novos estudos sobre os bebês. O avanço do conhecimento científico nos possibilita hoje compreender de forma muito mais sensível as possibilidades interacionais, de aprendizagem e de- senvolvimento dos dois primeiros anos de vida. Enquanto se pensava no bebê como alguém que ainda viria-a-ser (quem nunca ouviu a frase “Bebês só choram, comem e dormem” ou mesmo “Agora ele está virando gente!”), a educação e os cuidados dedicados a ele se restringiam a deixar confortável, alimentado e limpinho.um conjunto de ações que visam o acolhimento, a relação de afeto, a autonomia e a construção de um senso de pertencimento e cuidado de si pelo bebê. Bebês exploram por meio de suas possibilidades sensórias e motoras tudo o que faz parte de seu meio (outros bebês, o seu próprio corpo, objetos etc.). É nessa intensa exploração que desenvolve cotidiana- mente novas formas de explorar. Também explora as suas possibilidades motoras, por meio do engatinhar, arrastar-se, caminhar, correr, subir descer, esconder e achar, pular, agachar etc., conquistando e conhecendo os diversos espaços da escola de Educação infantil. Bebês também se envolvem muito intensamente em atividades com água, tintas comestíveis, panos, caixas em forma de túneis e cantinhos (para entrar e sair), pois estão construindo a consciência de seu corpo e isso reverte muito prazer. Porém, hoje, as pesquisas (ROSSETTI-FERREIRA et al., 2009) mostram um bebê ativo, capaz de intera- ção, exploração e construção de conhecimentos sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca. Mesmo sem ainda falar, o bebê expressa-se de formas diversas por meio de sua gestualidade, risos, choros, manhas etc. A entrada na instituição de Educação Infantil am- plia o seu rol de relações, possibilitando também, a depender de como os ambientes para os bebês estão organizados, uma ampliação do seu repertório de gestos, imitações, explorações, observações, por meio de seus novos parceiros (adultos e outros bebês). Outra modificação no olhar para os bebês é a pos- sibilidade para interagir com outros bebês. Há al- gumas décadas essa era uma hipótese pouco aceita, mas hoje é foco de várias pesquisas que mostram, de forma bastante evidente, a atividade interacional dos pares16. Esse reconhecimento inspira mudanças na forma de organizar a Educação Infantil, que passa a ser lugar de encontro e brincadeiras dos bebês, das primeiras parcerias, possibilitando a observação do outro, a imitação e a criação de novos gestos. Na interação com os adultos, esse bebê ativamen- te mobiliza no outro suas necessidades e interesses. Os cuidados realizados pelo professor configuram CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “O EU, O OUTRO E O NÓS” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento17 Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Perceber que suas ações têm efeitos nas outras crianças e nos adultos. Perceber as possibilidades e os limites de seu corpo nas brincadeiras e interações das quais participa. Interagir com crianças da mesma faixa etária e adultos ao explorar espaços, materiais, objetos, brinquedos. Comunicar necessidades, desejos e emoções, utilizando gestos, balbucios, palavras. 16. ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; AMORIM, Katia de Souza; OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Olhando a criança e seus outros: uma trajetória de pesquisa em educação infantil. Psicol. USP, São Paulo, v. 20, n. 3, p. 437-464, set. 2009. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1678-51772009000300008&lng=pt&nrm=iso>. 17. Os Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento abrangem os apresentados na BNCC, seguindo sua organização por Campos de Experiências, e incluem novos objetivos que atendem mais especificamente à rede municipal de Sobral. Interação entre professora e bebês Sobral_Miolo - Revisado.indd 74-75Sobral_Miolo - Revisado.indd 74-75 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 7776 Reconhecer seu corpo e expressar suas sensações em momentos de alimentação, higiene, brincadeira e descanso. Interagir com outras crianças da mesma faixa etária e adultos, adaptando-se ao convívio social. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Movimentar as partes do corpo para exprimir corporalmente emoções, necessidades e desejos. Experimentar as possibilidades corporais nas brincadeiras e interações em ambientes acolhedores e desafiantes. Imitar gestos e movimentos de outras crianças, adultos e animais. Participar do cuidado do seu corpo e da promoção do seu bem-estar. Utilizar os movimentos de preensão, encaixe e lançamento, ampliando suas possibilidades de manuseio de diferentes materiais e objetos. Reconhecer elementos das ilustrações de histórias, apontando-os, a pedido do adulto-leitor. Imitar as variações de entonação e gestos realizados pelos adultos, ao ler histórias e ao cantar. Comunicar-se com outras pessoas usando movimentos, gestos, balbucios, fala e outras formas de expressão. Conhecer e manipular materiais impressos e audiovisuais em diferentes portadores (livro, revista, gibi, jornal, cartaz, CD, tablet etc.). Participar de situações de escuta de textos em diferentes gêneros textuais (poemas, fábulas, contos, receitas, quadrinhos, anúncios etc.). Conhecer e manipular diferentes instrumentos e suportes de escrita. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Explorar e descobrir as propriedades de objetos e materiais (odor, cor, sabor, temperatura). CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Explorar sons produzidos com o próprio corpo e com objetos do ambiente. Traçar marcas gráficas, em diferentes suportes, usando instrumentos riscantes e tintas. Explorar diferentes fontes sonoras e materiais para acompanhar brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Reconhecer quando é chamado por seu nome e reconhecer os nomes de pessoas com quem convive. Demonstrar interesse ao ouvir a leitura de poemas e a apresentação de músicas. Demonstrar interesse ao ouvir histórias lidas ou contadas, observando ilustrações e os movimentos de leitura do adulto-leitor (modo de segurar o portador e de virar as páginas). Explorar relações de causa e efeito (transbordar, tingir, misturar, mover e remover etc.) na interação com o mundo físico. Explorar o ambiente pela ação e observação, manipulando, experimentando e fazendo descobertas. Manipular, experimentar, arrumar e explorar o espaço por meio de experiências de deslocamentos de si e dos objetos. Manipular materiais diversos e variados para comparar as diferenças e semelhanças entre eles. Vivenciar diferentes ritmos, velocidades e fluxos nas interações e brincadeiras (em danças, balanços, escorregadores etc.). Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Como afirmado por Jean Piaget, o período que recobre os dois primeiros anos de vida marca um extraordinário desenvolvimento mental. É na movi- mentação, exploração e iniciativas de interação e co- municação com os outros que se observam os avan- ços nessa faixa etária. Ao conquistar a marcha, a criança se locomove com mais autonomia e explora mais e mais os ambientes em que vive. A aquisição da linguagem transforma os gestos, que inicialmente Sobral_Miolo - Revisado.indd 76-77Sobral_Miolo - Revisado.indd 76-77 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 7978 estão muito conectados com o aqui e agora, mas agora são capazes de representar objetos ausentes, como nos jogos simbólicos que começam a emergir intensamente nas brincadeiras infantis. A lingua- gem também amplia as relações interpessoais e aqui é possível observar o início das amizades preferidas e dos rituais de brincadeiras. A curiosidade em conhecer o mundo leva a crian- ça a explorar espaços, objetos, fenômenos da natu- reza e ferramentas que podem ser ofertadas (desde os materiais para desenhar, pintar, construir etc.). Diferente dos bebês, essas construções começam a ganhar significados simbólicos que se concretizam pelas múltiplas linguagens. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “OEU, O OUTRO E O NÓS” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Demonstrar atitudes de cuidado e solidariedade na interação com crianças e adultos. Demonstrar imagem positiva de si e confiança em sua capacidade para enfrentar dificuldades e desafios. Compartilhar os objetos e os espaços com crianças da mesma faixa etária e adultos. Demonstrar progressiva independência no cuidado do seu corpo. Desenvolver progressivamente as habilidades manuais, adquirindo controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear, entre outros. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Criar sons com materiais, objetos e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música. Utilizar materiais variados com possibilidades de manipulação (argila, massa de modelar), explorando cores, texturas, superfícies, planos, formas e volumes ao criar objetos tridimensionais. Utilizar diferentes fontes sonoras disponíveis no ambiente em brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias. Conhecer mapas, placas de localização e sinais de direção. Comunicar-se com os colegas e os adultos, buscando compreendê- los e fazendo-se compreender. Perceber que as pessoas têm características físicas diferentes, respeitando essas diferenças. Respeitar regras básicas de convívio social nas interações e brincadeiras. Resolver conflitos nas interações e brincadeiras, com a orientação de um adulto. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura no cuidado de si e nos jogos e brincadeiras. Deslocar seu corpo no espaço, orientando-se por noções como em frente, atrás, no alto, embaixo, dentro, fora etc., ao se envolver em brincadeiras e atividades de diferentes naturezas. Explorar formas de deslocamento no espaço (pular, saltar, dançar), combinando movimentos e seguindo orientações. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Dialogar com crianças e adultos, expressando seus desejos, necessidades, sentimentos e opiniões. Identificar e criar diferentes sons e reconhecer rimas e aliterações em cantigas de roda e textos poéticos. Demonstrar interesse e atenção ao ouvir a leitura de histórias e outros textos, diferenciando escrita de ilustrações, e acompanhando, com orientação do adulto-leitor, a direção da leitura (de cima para baixo, da esquerda para a direita). Formular e responder perguntas sobre fatos da história narrada, identificando cenários, personagens e principais acontecimentos. Relatar experiências e fatos acontecidos, histórias ouvidas, filmes ou peças teatrais assistidos etc. Criar e contar histórias oralmente, com base em imagens, sequencias de imagens ou temas sugeridos. Manusear diferentes portadores textuais, demonstrando reconhecer seus usos sociais. Sobral_Miolo - Revisado.indd 78-79Sobral_Miolo - Revisado.indd 78-79 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 8180 Manipular textos e participar de situações de escuta para ampliar seu contato com diferentes gêneros textuais - orais, escritos, visuais e multimodais (parlendas, histórias de aventura, tirinhas, cartazes de sala, cardápios, notícias, livros de imagem, histórias em quadrinho etc.). Manusear diferentes instrumentos e suportes de escrita para desenhar, traçar letras e outros sinais gráficos. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Explorar e descrever semelhanças e diferenças entre as características e propriedades dos objetos (textura, massa, tamanho). Observar, relatar e descrever incidentes do cotidiano e fenômenos naturais (luz solar, vento, chuva etc.). Compartilhar, com outras crianças, situações de cuidado de plantas e animais nos espaços da instituição e fora dela. Identificar relações espaciais (dentro e fora, em cima, embaixo, acima, abaixo, entre e do lado) e temporais (antes, durante e depois). maior controle da movimentação corporal, aliado às aprendizagens mais ampliadas de pensar, falar, escu- tar e imaginar, favorece a participação cada vez maior da criança diante da possibilidade de opinar e tomar decisões no cotidiano de sua jornada na Educação In- fantil. As hipóteses das crianças, que já eram muito interessantes na faixa etária anterior, podem ser for- talecidas e ampliadas por meio das oportunidades de investigar, observar e construir conhecimentos acerca dos fenômenos da natureza e da sociedade. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “O EU, O OUTRO E O NÓS” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e maneiras de pensar e agir. Agir de maneira independente, com confiança em suas capacidades, reconhecendo suas conquistas e limitações. Ampliar as relações interpessoais, desenvolvendo atitudes de participação e cooperação. Comunicar suas ideias e sentimentos a pessoas e grupos diversos. Demonstrar valorização das características de seu corpo e respeitar as características dos outros (crianças e adultos) com os quais convive. Classificar objetos, considerando determinado atributo (tamanho, peso, cor, forma, textura etc.). Utilizar, em eventos do cotidiano, palavras que remetam à noção de tempo (agora, antes, durante, depois, ontem, hoje, amanhã, lento, rápido, depressa, devagar). Contar oralmente objetos, pessoas etc., em contextos diversos. Registrar com números a quantidade de crianças (meninas e meninos, presentes e ausentes) e a quantidade de objetos da mesma natureza (bonecas, bolas, livros etc.). Conhecer números que fazem parte do cotidiano da criança (data de nascimento, número do telefone e da residência, idade, calendário etc.). Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Com a linguagem bem desenvolvida, as crianças nessa faixa etária podem ampliar suas brincadeiras em grupo, desenvolver projetos em parcerias e de- monstrar maior capacidade de negociação dos con- flitos. Isso tudo se os ambientes favorecerem as inte- rações com os parceiros sem que os adultos fiquem predominantemente tomando as decisões por elas. O Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e modos de vida. Usar estratégias pautadas no respeito mútuo para lidar com conflitos nas interações com crianças e adultos. Respeitar as regras de cortesia, combinadas pelo grupo, nas diversas situações de interação: ouvindo com atenção e interesse; adequando a sua linguagem corporal; pedindo a palavra para expor suas ideias; modelando o tom de voz nas interações comunicativas; utilizando as formas de tratamento adequadas; colaborando com a elaboração do conjunto dos valores e das regras de convivência da turma e da comunidade escolar; evitando o uso de palavras com potencial ofensivo. Sobral_Miolo - Revisado.indd 80-81Sobral_Miolo - Revisado.indd 80-81 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 8382 CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música. Demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades artísticas,entre outras possibilidades. Criar movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras, jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música. Adotar hábitos de autocuidado relacionados a higiene, alimentação, conforto e aparência. Coordenar suas habilidades manuais no atendimento adequado a seus interesses e necessidades em situações diversas. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas. Fazendo uso da persuasão, sem coação, quando conveniente; Mantendo-se no tema abordado. Inventar brincadeiras cantadas, poemas e canções, criando rimas, aliterações e ritmos. Escolher e folhear livros, procurando orientar-se por temas e ilustrações e tentando identificar palavras conhecidas. Reconhecer globalmente palavras familiares. Recontar histórias ouvidas e planejar coletivamente roteiros de vídeos e de encenações, definindo os contextos, os personagens, a estrutura da história. Recontar histórias ouvidas para produção de reconto escrito, tendo o professor como escriba. Produzir suas próprias histórias orais, escritas (escrita espontânea) e multimodais, em situações com função social significativa. Levantar hipóteses e conversar sobre gêneros textuais veiculados em portadores conhecidos, recorrendo a estratégias de observação gráfica e/ou de leitura. Selecionar livros e textos de gêneros conhecidos para a leitura de um adulto e/ou para Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura, colagem, dobradura e escultura, criando produções bidimensionais e tridimensionais. Reconhecer as qualidades do som (intensidade, duração, altura e timbre), utilizando-as em suas produções sonoras e ao ouvir músicas e sons. Explorar textos multimodais (em suportes impressos e digitais) Produzir mapas, placas de localização ou instruções para outras crianças e adultos seguirem. CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras formas de expressão. Expressar, por meio da fala, de forma articulada e com clareza perguntas, queixas, opiniões ou manifestações gerais: Utilizando vocabulário familiar de forma correta; sua própria leitura (partindo de seu repertório sobre esses textos, como a recuperação pela memória, pela leitura das ilustrações etc.). Levantar hipóteses em relação à linguagem escrita, realizando registros de palavras e textos, por meio de escrita espontânea. Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras formas de expressão. Inventar brincadeiras cantadas, poemas e canções, criando rimas, aliterações e ritmos. Escolher e folhear livros, procurando orientar-se por temas e ilustrações e tentando identificar palavras conhecidas. Recontar histórias ouvidas e planejar coletivamente roteiros de vídeos e de encenações, definindo os contextos, os personagens, a estrutura da história. Recontar histórias ouvidas para produção de reconto escrito, tendo o professor como escriba. Conhecer e apropriar-se do próprio nome completo, em diferentes contextos de uso. Sobral_Miolo - Revisado.indd 82-83Sobral_Miolo - Revisado.indd 82-83 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 8584 Transcrever orientações simples curtas, usando uma escrita espontânea ou a professora como escriba. Participar do planejamento da escrita coletiva de acordo com a situação de comunicação, identificando o contexto de produção e selecionando o tema. Elaborar um texto narrativo, a partir da combinação de desenhos, ilustrações e escrita coletiva ou própria espontânea, apresentando: Situação inicial, desenvolvimento e encerramento; Um ou mais eventos em sequência cronológica; Cenários e personagem(ns) com características físicas gerais. Elaborar texto instrucional, a partir da combinação de desenhos, ilustrações e escrita coletiva ou espontânea, instruindo o leitor acerca de um procedimento, descrevendo ações e utilizando linguagem adequada ao objetivo do texto. Relatar fatos importantes sobre seu nascimento e desenvolvimento, a história dos seus familiares e da sua comunidade. Relacionar números às suas respectivas quantidades e identificar o antes, o depois e o entre em uma sequência. Expressar medidas (peso, altura etc.), construindo gráficos básicos. Registrar informações coletadas a partir de uma fonte de pesquisa, combinando desenhos, ilustrações e escrita (coletiva ou espontânea). Produzir pesquisa referente a um assunto de seu cotidiano, transcrevendo perguntas e hipóteses formuladas a partir de uma discussão, em sala, sobre o tópico a ser pesquisado. Realizar contagem oral decrescente em situações de jogo e brincadeira. Identificar quantidades através de diferentes formas de representação: desenhos e símbolos. Perceber a lógica de uma sequência numérica. Comparar números relacionando-os ao seu valor (maior que/menor que). CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES” Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Estabelecer relações de comparação entre objetos, observando suas propriedades. Observar e descrever mudanças em diferentes materiais, resultantes de ações sobre eles, em experimentos envolvendo fenômenos naturais e artificiais. Identificar e selecionar fontes de informações, para responder a questões sobre a natureza, seus fenômenos, sua conservação. Registrar observações, manipulações e medidas, usando múltiplas linguagens (desenho, registro por números ou escrita espontânea), em diferentes suportes. Classificar objetos e figuras de acordo com suas semelhanças e diferenças. Explicitar os critérios de classificação utilizados num agrupamento. Seriar objetos mediante um atributo comum. Formar conjuntos iguais e equivalentes. Orientar-se por mapa da escola, do entorno ou espaço ou percurso familiar. Utilizar noções simples de cálculo mental como estratégia para resolver problemas: Reunindo dois grupos de objetos, passando a constituir um grupo maior; Acrescentando um ou mais objetos a um grupo, tendo como resultado um grupo maior; Comparando dois grupos de objetos para descobrir a diferença numérica entre eles, utilizando estimativas (mais/menos); Indicando quantos objetos faltam a um grupo para este tenha determinada quantidade; Utilizando os conceitos de composição e decomposição de quantidades, através de materiais concretos e desenhos, em situação de jogos. Identificar metade ou meio através de objetos e situações concretos. Reconhecer cédulas e moedas do sistema monetário brasileiro. Sobral_Miolo - Revisado.indd 84-85Sobral_Miolo - Revisado.indd 84-85 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 8786 Planejando os ambientes de aprendizagens Quando entramos em uma instituição de Educação Infantil e percorremos seus diferentes espaços, po- demos ter algumas ideias sobre o projeto pedagógico que norteia aquela comunidade escolar, considerando impressões que vamos construindo nos diferentes am- bientes de aprendizagens. Um ambiente de aprendizagem se configura a partir de diferentes elementos que vão sendo organizados pe- las pessoas que compõem aquela instituição e também pela forma como todos participam desses cenários. São espaços, materiais, tempos e possibilidades de interações das crianças com seus pares ecom os adul- tos que vão nos dando pistas sobre: “O que se espera que as crianças aprendam aqui? E como essas aprendi- zagens podem acontecer?”. Por isso, o planejamento dos ambientes de aprendizagem é tão fundamental para a concreti- zação do projeto pedagógico da unidade. Componentes dos ambientes de aprendizagens Planejar ambientes de aprendizagem que am- pliam as experiências favorecendo as brincadeiras e as interações das crianças demanda que se conside- re as dimensões: Das interações; Dos espaços e materiais e Dos tempos. DIMENSÃO INTERACIONAL DOS AMBIENTES DE APRENDIZAGEM A resposta à pergunta: “Como promovemos as in- terações das crianças com seus pares e com os adul- tos, nas diferentes idades que compõem a Educação Infantil?” é a chave para compreendermos como estamos pensando a dimensão interacional dos am- bientes de aprendizagens. As interações, junto com a brincadeira, compõem os eixos do trabalho pedagógico na Educação In- fantil. Inspirada no Artigo 9° das DCNEI, a BNCC (BRASIL, 2017) destaca: (...) os eixos estruturantes das práticas pedagógicas dessa etapa da Educação Básica são as interações e a brincadeira, experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização. A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções. autonomia de pensamento e de expressão de suas ideias e interesses) como cria, muitas vezes, condi- ções para um clima escolar entediante e de irritação, o que acaba favorecendo a emergência de conflitos. Certamente, no planejamento do professor há mo- mentos em que as atividades propostas podem envol- ver o grupo como um todo, por exemplo, no convite a uma roda de conversa. Mas outras formas de organi- zação do grupo ganham espaço, se pensarmos que as crianças podem ir, desde bem pequenas, construindo rituais de escolha de atividades, diante das opções que são ofertadas no ambiente planejado pela professora. Assim, organizar momentos em que pequenos grupos de crianças se dividem em cantos de ativi- dades pode ser uma boa opção para favorecer inte- rações mais próximas entre as crianças, momentos que elas encontram para elaborar suas produções com mais vigor e também com criatividade. Por exemplo, nos cantos de construção (com blocos lógicos ou materiais de largo alcance) é bem possível observar grandes e criativas construções das crianças. Assim como nas estações de desenho e pintura peque- nos grupos de crianças ou as crianças individualmente se dedicam a produzir suas marcas gráficas, mobili- zando pensamento, linguagem e imaginação. Outro aspecto a considerar é o encontro entre as crianças de diferentes idades. Favorecer e estimular esses momentos em que os mais velhos e os mais no- vos brincam, conversam, produzem registros ou se envolvem em diferentes atividades possibilita novida- des nas criações, além de mobilizar novos interesses e ideias nas crianças. Isso se coloca também para os Espaços de aprendizagem desafiadores Interações e brincadeiras devem ser pensadas no momento do planejamento, a fim de potencializar esses encontros de crianças e seus professores. Tradicionalmente, no Brasil, tem-se priorizado as organizações de ambientes em que “todos fazem, ao mesmo tempo, a mesma atividade, conforme a pro- fessora indica”. Essa máxima não apenas minimiza (ou impede) a possibilidade de a criança fazer es- colhas (o que também dificulta a construção de sua Sobral_Miolo - Revisado.indd 86-87Sobral_Miolo - Revisado.indd 86-87 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 8988 bebês: quem nunca viu todo o cuidado que as crianças mais velhas têm quando encontram com os bem novi- nhos? Estes, por sua vez, ficam super interessados em tocar, brincar, rir com aqueles companheiros tão mais próximos de sua idade que um adulto! Por fim, mas não menos importante: um ambiente de boa qualidade na Educação Infantil inspira liber- dade de expressão, exploração e criação, relações cuidadosas e afetuosas, interesse e cuidado consi- go mesmo e com o outro, oportunidade de conviver com a diversidade étnico-cultural que compõe a identidade brasileira, enfim, é um ambiente que cria oportunidades para a concretização dos seis Direi- tos de Aprendizagem e Desenvolvimento, tal como a BNCC descreve. O QUE CONSIDERAR NA DIMENSÃO INTERACIONAL: Diferentes formas de organização do grupo: grande grupo; pequenos grupos; duplas de trabalho e individual; Encontro de diferentes crianças de diferentes idades; Possibilidades dos bebês, crianças e adultos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se, em clima de cuidado, afeto e ricas oportunidades de aprendizagem. EXPERIÊNCIA DA ESCOLA ELPÍDIO RIBEIRO DA SILVA Após participar da leitura da fábula “Assembleia dos ratos”, as crianças foram convidadas a desenhar livremente suas ideias e impressões sobre a história. A liberdade de criação, sem desenhos pré-forma- tados, possibilitou a diversidade de produções e a riqueza expressiva das crianças. RECOMENDAÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DE AMBIENTES FAVORÁVEIS AOS DESENHOS DAS CRIANÇAS: Crie oportunidades contínuas e frequentes para diferentes possibilidades de produção criativa pelas crianças. Essas oportunidades podem estar nos mo- mentos de Atividades de Produção e Registro como podem estar disponíveis nos momentos de livre es- colha pelas crianças (nos Cantinhos de Vivências, por exemplo). Organize a turma em grupos pequenos: mesmo que algumas crianças optem por não conversar en- quanto desenham, outras observam os desenhos dos colegas, conversam sobre suas produções ou mesmo sobre outros assuntos, enfim, cada crian- ça é singular em suas formas de produzir. O fato é que um ambiente coletivo, que não obriga todos a fazerem da mesma maneira, cria oportunidades de interação que enriquecem as produções infantis. Enquanto isso, o professor observa, conversa, am- plia o olhar das crianças para novos elementos da produção, fazendo perguntas que vão além de saber o que está sendo produzido, mas investigam efeitos das escolhas das crianças, impressões sobre e nar- rativas que se produzem antes, durante ou depois da atividade etc. Garanta tempo para a produção das crianças. A produção gráfica demanda observação, exploração dos materiais, elaboração das próprias ideias e a Desenho de Mardony Silva Mesquita Desenho de Yalle Bruna Matias Desenho de Thanny Lima Fernandes Sobral_Miolo - Revisado.indd 88-89Sobral_Miolo - Revisado.indd 88-89 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 9190 concretização da produção. Ao desenhar, a criança coloca em jogo pensamento e linguagem, portanto há muita elaboração no processo (é um processo bastante lúdico e está longe de ser um “mero” pas- satempo). Para os bebês, suas produções gráficas dizem respeito as suas possibilidades de movimen- to e exploração de uma linguagem que é corporal. Caso algumas crianças demorem mais que o possí- vel para aquele dia, combine retomar sua produção em outro momento. Disponibilize materiais diversificados, de boa qualidade e em quantidade suficiente. Nada pior que começar um desenho com um lápis de cor que quebra a ponta várias vezes durante o processo! Ou ter que ficar disputando com mais 20 crianças dois lápis da cor laranja! Cada material tem suas caracte- rísticas (alguns demandam mais força para marcar o papel, outros mais controle motor, outros permi- tem maiores explorações, inclusive, facilitam se os desenhos são feitos em suportes diversos do papel).Enfim, possibilite e converse com as crianças sobre essas especificidades do material. Aos poucos, elas mesmas vão ganhando autonomia para escolher aquilo que mais favorece o seu planejamento da produção. Para os bebês, explorar tintas naturais, massas e misturas que podem melecar o seu próprio corpo são momentos que revertem muito prazer e exploração. Atenção: alguns bebês podem demons- trar certa “desconforto” em relação a esse contato das tintas com o corpo, não force. Possibilite outras possibilidades de contorno do corpo para o bebê. O QUE CONSIDERAR NA DIMENSÃO ESPAÇO E MATERIAIS: Exposição das produções das crianças, na altura de seus olhos (o que possibilita a apreciação de suas criações e dos colegas). Amplitude dos espaços. Áreas de atividades diversificadas, bem DIMENSÃO ESPAÇOS E MATERIAIS NOS AMBIENTES DE APRENDIZAGENS Espaços e materiais devem favorecer as intera- ções e brincadeiras das crianças. Essa dimensão configura um dos aspectos-chave de uma Educa- ção Infantil de qualidade (Zabalza, 1998), atenden- do a características bastante próprias do trabalho com a primeira infância. Quando entramos em uma instituição de Edu- cação Infantil, os espaços e os materiais se apre- sentam como o primeiro indicador da qualidade do projeto pedagógico que se concretiza naquela unidade. É possível perceber o quão à vontade crianças e adultos estão naqueles espaços quando se deslo- cam com liberdade, quando se demonstra acolhi- mento, quando as brincadeiras das crianças apa- recem, se são favoráveis aos deslocamentos dos bebês e das pessoas com alguma deficiência física, enfim, muitos sinais nos levam a conhecer um pou- quinho as concepções de educação que organizam e intervêm no espaço. Os espaços na Educação Infantil devem ser aco- lhedores, ricos em referências artístico-culturais, apresentar as produções das crianças (inclusi- ve para as crianças, ficando estas à altura de seus olhos), favorecer o desenvolvimento da autonomia das crianças, suas interações e brincadeiras. Esse espaço ainda deve possibilitar à equipe equacionar a atenção individualizada às crianças, o trabalho co- letivo e o protagonismo das crianças. diferenciadas e identificáveis e de fácil acesso pelas crianças (cantos de leitura, de fantasia, de jogo simbólico, de artes, de blocos de construção etc.) e estantes, prateleiras ou escaninhos na altura das crianças. Espaços para atividades coletivas (grandes e pequenos grupos) e individuais. Materiais diversificados e polivalentes. Contação de história na rodinha Sobral_Miolo - Revisado.indd 90-91Sobral_Miolo - Revisado.indd 90-91 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 9392 INTERVENÇÃO NO ESPAÇO EXTERNO - RELATO DE EXPERIÊNCIA CEI MARIA MENEZES A ideia dos cantinhos no pátio surgiu em um mo- mento de planejamento com todos os professores. Quando falávamos sobre a proposta dos cantinhos em sala de aula, a equipe indagou porque o pátio não poderia também ser mais atrativo para as crianças. Então, enquanto núcleo gestor nos comprometemos a dar mais vitalidade ao nosso pátio. Começamos nos planejando para, dentro de um O cantinho do desenho com materiais que a escola não estava utilizando; O cantinho da pescaria; O cantinho dos brinquedos, das bolinhas, o cantinho sonoro, entre outros. Também aproveitamos alguns pneus para fazer trenzinhos e trilhas para que eles pudessem desfru- tar. As caixas de papelões que vinham da merenda escolar também começaram a ser resignificadas pe- las crianças, conforme a suas vontades e interesses. eixo do projeto que estávamos desenvolvendo dos 3 Rs, pedir que os pais dos alunos pudessem contribuir com a ideia, trazendo para a escola materiais, brin- quedos, livros e acessórios que não estivessem mais utilizando em suas casas e estivessem em condições de uso, para podermos incrementar os cantinhos no pátio. Também fizemos a mesma solicitação para os funcionários e professores como um todo. Posterior a essa ação, foram surgindo várias ideias, entre elas: A geladoteca (geladeira com livros para que as crianças tivessem acesso livremente) doada pelos pais e/ou funcionários; Nós começamos a ver os vários recursos e mate- riais que a escola tinha com olhos diferentes, dando às crianças a possibilidade de explorarem e trans- formarem aqueles materiais, conforme a imagina- ção e criatividade delas. Todas essas ações trouxe- ram um ânimo novo a escola, nas reuniões gerais esse tema foi abordado para todos os integrantes da escola, desde vigias, serviços gerais, merendeiras e professores, de forma mais intensa, e todos come- çaram a dar sugestões e respeitar aquele espaço que era de grande relevância para as nossas crianças. Alguns desafios começaram a surgir, entre eles o de manter os espaços organizados para que Sobral_Miolo - Revisado.indd 92-93Sobral_Miolo - Revisado.indd 92-93 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 9594 todas as turmas pudessem utilizar satisfatoria- mente. E, então, foi conversado com as crianças, que após utilizarem e desfrutarem do espaço, conforme desejassem, pudessem ajudar a organi- zá-lo para que os seus colegas pudessem utilizar. Estamos em processo nessa construção, mas os professores estão apoiando a ideia e estamos feli- zes com o nosso progresso. Após se consolidar melhor a ideia, elaboramos um projeto de “rodas de conversas” com as famí- lias (momento que acontece bimestralmente, onde as famílias se reúnem separadamente com os pro- RECOMENDAÇÕES PARA A INTERVENÇÃO NOS ESPAÇOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: A experiência do CEI Maria Menezes nos possibili- ta destacar alguns aspectos que favoreceram o suces- so da intervenção no espaço pela equipe. Estes são: O papel mobilizador da gestão, compreendida como o núcleo gestor da unidade; O envolvimento da equipe, incluindo aqui desde as professoras/es até os funcionários da escola; fessores de seus filhos) para compartilhar o que significavam aqueles cantinhos e quais seriam os benefícios para as crianças. Na ocasião foram mostradas fotos, registros e alguns relatos de ex- periência, para informar os pais sobre o signifi- cativo espaço oferecido aos seus filhos. Os pais se tornaram bem mais solícitos às nossas petições, após esse momento. Essa ação também fortaleceu os cantinhos nas salas, para que além do pátio as crianças tam- bém pudessem desfrutar destes momentos nas suas salas. A articulação da proposta de intervenção com os projetos da escola: O que já temos e podemos reorganizar? O que podemos conseguir? O envolvimento das crianças; O investimento da equipe na participação da comunidade; A reflexão coletiva sobre as possibilidades ofertadas às crianças: Que cantos de brincadeira podem favorecer a exploração, o interesse, Sobral_Miolo - Revisado.indd 94-95Sobral_Miolo - Revisado.indd 94-95 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 9796 a curiosidade e novas aprendizagens das crianças? Que linguagens (desenho, sons, escrita, gestos e movimentos...) podem compor os cantos de forma a ampliar as experiências de aprendizagens das crianças? A continuidade do projeto e sua crescente apropriação pela comunidade escolar. DIMENSÃO TEMPO NOS AMBIENTES DE APRENDIZAGENS (...) a experiência é cada vez mais rara, por falta de tempo. Tudo o que se passa demasiadamente depressa, cada vez mais depressa. (...) A velocidade com que nos são dados os acontecimentos e a obsessão pela novidade, pelo novo, que caracteriza o mundo moderno, impedem a conexão significativa entre acontecimentos. Impedem também a memória, já que cada acontecimento é imediatamente substituído por outro que igualmente nos excita por um momento, mas sem deixar qualquer vestígio (Jorge Larossa Bondia).18 Com essa provocação, Larossa-Bondía nos convo- ca a pensar: se com os adultos a modernidade tem tirado a possibilidade de viver efetivamente as expe- riências, o que dirá quando imprimimos na rotina das criançaspoucas oportunidades para se dedi- carem a experiências a que efetivamente podem se dedicar com envolvimento, interesse e curiosidade? Essa é a pergunta que devemos responder: O que estamos ofertando às crianças no tempo que pas- sam na escola de Educação Infantil? Que memória fica da escola, para as crianças, quando retomam as experiências que as marcaram? Pensar os tempos nos leva a considerar a duração dos momentos que compõem a jornada da criança: é preciso tempo para se dedicar e se envolver em uma atividade. Para tanto, a proposta precisa ser mobi- lizadora da curiosidade, do interesse e dos saberes que a criança coloca em jogo naquele momento. De novo, as atividades prioritariamente coletivas aca- bam fazendo com que os tempos individuais não se- jam considerados, pois, assim como os adultos, há crianças que demoram mais, outras que demoram menos para realizar suas produções. Há também que se repensar os “tempos de espe- ra”, que muitas vezes podem configurar mais da metade do tempo que as crianças passam na unida- de 19. Equacionar atividades em pequenos grupos (quartetos, trios ou duplas), com opções de livre es- colha pelas crianças, pode ajudar a diminuir os tem- pos de espera, já que podem se encaminhar, autono- mamente, para outras atividades, na medida em que vão acabando as propostas feitas para os grupos. Mais do que o tempo cronológico, a dimensão temporal nos convoca a pensar o que estamos pro- pondo para as crianças no tempo em que elas estão na Educação Infantil. É o que acontece nesses pe- ríodos, o que mais importa, ou seja, a que servem as propostas planejadas pelos adultos no que se refere às vivências das crianças. Nesse sentido, é importante equacionar perma- nências e transições, rotinas e novidades. Para as crianças, ter segurança sobre o planejamento do dia, a reiteração de atividades lúdicas e familiares, os reencontros com os parceiros de brincadeira e invenções, possibilita tranquilidade para viver os primeiros anos de vida, que são tão cheios de no- vas aprendizagens. Ao mesmo tempo, dentro desse espaço seguro, se animam com as novidades, com as surpresas, com os novos conhecimentos que vão sendo apresentados, de forma lúdica e significativa. Uma forma interessante de organizar os tempos e as propostas didáticas é pensar o que é proposto como atividades (permanentes e eventuais), sequên- cias de atividades e projetos de trabalho. Atividades permanentes: têm regularidade na vida das crianças (diária ou semanal) e envolvem aquelas propostas que dizem respeito às práticas sociais (rodas de conversa, rituais de cuidado de si, sono e descanso, cuidado com a horta e hora do pátio etc.), além das que garantem a brincadeira livre, a presença constante das diferentes lingua- gens (desenho, pintura, dança, leitura, produção escrita etc.). Para os bem pequenos, os momentos Olhar das crianças para uma borboleta no braço da professora 18. Notas sobre a experiência e o saber de experiência, Jorge Larossa Bondia, p. 23. 19. Oliveira, Z. de M. R. de e outras autoras. O trabalho do professor na Educação Infantil. São Paulo: Editora Biruta, 2019. Sobral_Miolo - Revisado.indd 96-97Sobral_Miolo - Revisado.indd 96-97 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 9998 fundamentais de exploração dos objetos também devem ser garantidos regularmente. Além disso, o uso do material didático deve ser considerado aqui, garantindo que tenha articulação com os demais momentos da rotina da criança; Atividades eventuais: configuram aquelas ativida- des que acontecem pontualmente, como os passeios, as exposições culturais na escola, as festas etc. In- cluem oportunidades de aprendizagem que não ne- cessariamente têm forte integração com os projetos e sequências de atividades em curso, mas que ofer- tam novas experiências para a turma; Sequências de atividades: percursos de trabalho com as crianças que articulam atividades entre si, com cres- cente grau de dificuldade, e que demandam retoma- das, ampliação de conhecimentos, e constância dentro de um determinado período. Por exemplo, sequências de atividades que exploram diferentes livros de um mesmo autor; ou diferentes obras de um mesmo gê- nero (sequência de trabalho com contos de fada, com narrativas de aventura etc.); ou sequências que explo- ram modelagens/esculturas/produções plásticas com diferentes materiais. Enfim, o importante é garantir a articulação das atividades, sempre contextualizando, registrando com as crianças as percepções, os conheci- mentos construídos, as perguntas que a turma se faz e que move aquele processo. Projetos de trabalho: há várias formas de com- preender um projeto. Mas é importante manter em secretaria, sala dos professores, da diretora, coorde- nação, cozinha. Durante o percurso, foram estimu- ladas a anotarem a quantidade de salas de aula, de banheiros masculinos e femininos etc., realizando um verdadeiro trabalho em equipe, tendo o auxílio das professoras. Ao retornarem para a sala, conver- saram sobre o mapa: o que era, para que servia, e como poderia ser feito. Após a conversa, as crian- ças foram convidadas a representarem o CEI Dolo- res Lustosa através de um mapa, para que servisse de identificação para quem chegasse. Cada criança contribuiu, desenhando e escrevendo os nomes dos espaços, numerando as salas, discutindo estraté- gias. O mapa foi fixado em local visível para a comu- nidade escolar. foco uma pergunta ou problema que move a ativida- de das crianças. Para tanto, é preciso planejar com as crianças os passos que serão empreendidos para alcançar as possíveis respostas para o que move o projeto. O grupo tem um objetivo comum, por isso, os projetos precisam ser gestados no contexto daquela turma, de seus interesses, necessidades de aprendiza- gem. O professor tem papel fundamental de ressaltar essas curiosidades, propor caminhos de trabalho que favorecem esse percurso de investigação. O QUE CONSIDERAR NA DIMENSÃO TEMPORAL: Os diferentes ritmos de produção das crianças; Duração dos diferentes momentos da rotina e o que está proposto em cada um; O que está sendo proposto às crianças; Organização e articulação do planejamento (ativi- dades, sequencias e projetos de trabalho). PROJETO IDENTIDADE - RELATO DE EXPERIÊNCIA CEI DOLORES LUSTOSA A partir da percepção de que as crianças, ao ini- ciarem o ano, precisavam conhecer todos os espaços da instituição, as professoras do Infantil V levaram- -nas a uma visita pelos diferentes espaços do CEI: RECOMENDAÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DOS PROJETOS DE TRABALHO COM AS CRIANÇAS: A partir do projeto Identidade, relatado pelo CEI Dolores Lustosa, é possível encaminhar algumas recomendações na organização dos projetos: Um projeto precisa de um problema/questão/as- sunto que mobiliza crianças e adultos em busca de uma resposta, de uma resolução. Nesse caso, a ne- cessidade das crianças se apropriarem dos espaços da instituição; O desenvolvimento de um projeto é composto de diferentes etapas que devem envolver: conhecer o Sobral_Miolo - Revisado.indd 98-99Sobral_Miolo - Revisado.indd 98-99 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 101100 assunto, coletar informações, efetuar registros, en- fim, diferentes ações das crianças e adultos com vis- tas à consecução de seus objetivos de trabalho; Um bom projeto articula diferentes linguagens, pois demanda da turma a elaboração de registros que documentam significativamente o percurso de investigação e os conhecimentos sistematizados; No caso do CEI Dolores Lustosa, as crianças explora- ram os espaços e, a partir daí, leram e estudaram mapas (para conhecer essa forma de representação visual dos espaços), desenharam e legendaram os seus próprios mapas da escola; Pode-se dizer que um conjunto amplo de aprendi- zagens foi mobilizado, já que, de uma forma geral, um projeto como o “Identidade” pode articular diferentes Campos de Experiências e Objetivos de Aprendizagem; Compartilharessas documentações com a comu- nidade escolar possibilita que o currículo em ação da escola seja cada vez mais conhecido e apropriado por todos. O que não pode faltar na jornada da criança O planejamento pedagógico precisa garantir mo- mentos imprescindíveis para a promoção dos Direi- tos e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento das crianças. A delicadeza que este instrumento de e afetuosa a criança e sua família facilita esses mo- mentos. Além disso, preparar o ambiente com ativi- dades interessantes, cantos diversificados demonstra o quanto as experiências de aprendizagens das crian- ças na Educação Infantil acontecem desde o momento que chegam ao momento de ir embora. 2. RODAS DE CONVERSA Antes de mais nada é preciso dizer que conversar é fundamental na Educação Infantil! Conversando é que se entende! Conversando entendo o outro! trabalho do professor demanda é a possibilidade de construí-lo de forma articulada e significativa em boas oportunidades para a construção do conhecimento. Alguns momentos não podem faltar nesse plane- jamento pedagógico. São atividades permanentes, mas que podem muito bem compor sequências de atividades e projetos de trabalho: Acolhida e despedida Rodas de conversa Rituais para o cuidado de si Momentos de brincadeira livre Hora da história Atividades de produção e registro Cantinhos de vivência 1. ACOLHIDA E DESPEDIDA Chegadas e saídas das crianças nos diferentes contextos de sua convivência representam sempre importantes momentos de seu dia, pois são eles que marcam o cotidiano da passagem da família para a escola e seu retorno. É fundamental que a preparação desses momen- tos cuide de acolher bebês e crianças em ambientes aconchegantes, instigantes e familiares, portanto, há que se garantir sempre a presença das figuras de referências da turma. Acolhem-se os diversos sentimentos que emergem nesses momentos. Em alguns dias, as crianças che- gam tranquilas, alegres, mas em outros, podem estar mais irritadiças ou chorosas. Acolher de forma atenta Conversando eu me entendo! Então, por esses motivos que dizem respeito diretamente à constru- ção da identidade e da alteridade é que “conversar” é prática social inerente a um currículo para a pri- meira infância. Conversa entre crianças bem pequenas no mo- mento da rodinha Além disso, aprende-se muita coisa quando en- volvemos as crianças em boas conversas. Desde os bebês, que estão aprendendo a falar e “conversam” com os adultos e com outros bebês por meio de seus gestos, risos, choros, brincadeiras, imitações etc., até as crianças maiores, que já falam, mas estão a Conversa entre crianças bem pequenas no momento da rodinha Sobral_Miolo - Revisado.indd 100-101Sobral_Miolo - Revisado.indd 100-101 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 103102 Crianças vestidas de médica e enfermeiro no desfile das profissões cada dia se apropriando mais e melhor da lingua- gem. Ao conversar, narramos, descrevemos, expli- camos, perguntamos, respondemos, solicitamos esclarecimentos e explicações, surpreendemos o outro e nos surpreendemos, nos emocionamos, en- fim, partilhamos os diferentes momentos da vida por meio das conversas. É essa “conversa” que deve nortear as rodas de conversa na Educação Infantil. Podemos até apro- veitar que sentamos em roda e podemos mais facil- mente interagir com a turma para resolver algumas questões de ordem prática (relembrar combinados, fazer chamada, preencher calendário), questões es- sas que são importantes para o planejamento diário, mas que não excluem as boas conversas que faze- mos nas rodas. Nas rodas de conversa, vale: Levar uma notícia do jornal local para comentar com as crianças; Levar um objeto interessante, que dispare investi- gações, pesquisas etc.; Contar aos colegas algo que as crianças acharam interessante ou mesmo algo que está mobilizando suas investigações ou sentimentos no momento; Planejar com as crianças o dia de trabalho; Combinar encaminhamentos sobre projetos ou atividades que serão desenvolvidas, não pautando a ção às necessidades individuais e do grupo, enfim, cuidar é estar atento ao que precisamos para sentir bem-estar e acolhimento em seu meio. Nesse cenário abrangente, contudo, é possível destacar práticas que se relacionam diretamente aos rituais, aos hábitos cotidianos e que são aprendiza- gens fundamentais nos anos iniciais da vida. São atividades que dizem respeito ao autocuidado como o escovar os dentes, lavar as mãos, usar o banheiro, a descansar e dormir. Desde os bebês, que participam desses cuidados, mas precisam de forma mais intensiva de outros que tomem iniciativas nessa direção, às crianças conversa apenas em dar comandos para as crianças, mas trocando com o grupo ideias e esclarecimentos sobre o que será realizado; Tematizar situações alegres, mas também alguma situação difícil vivida por alguma criança e que está mobilizando o grupo; Comentar algum evento cultural que esteja acon- tecendo na cidade, apropriado às crianças. Enfim, assunto com criança é o que não falta. Por fim, mas não menos importante, as crianças conversam em diferentes momentos e situações no tempo em que passam na escola. E isso é bom. Agrega novas aprendizagens a essa prática de ora- lidade. Nesses outros momentos, vale desde par- ticipar dessas conversas ou se colocar no lugar de bons observadores para saber os assuntos que estão mobilizando o interesse das crianças e, quem sabe, eles podem virar temas mobilizadores nas rodas de conversa mediadas pelos adultos. 3. RITUAIS PARA O CUIDADO DE SI O cuidado de si constitui na Educação Infantil um eixo do trabalho pedagógico. Certamente, as aprendi- zagens que se relacionam ao cuidar de si, do outro e do meio ambiente se concretizam em diferentes mo- mentos do dia da criança e nas diversas circunstân- cias nesse cotidiano. Um ambiente pode favorecer o estabelecimento de relações mais dialogadas, de aten- maiores que vão paulatinamente desenvolvendo mais autonomia e se apropriando das práticas cul- turais que orientam as formas de realizar esses cui- dados, faz-se necessário pensá-las e planejá-las de forma adequada aos ambientes coletivos. Muitas vezes levamos para as creches e pré-es- colas formas de realizar esses cuidados aprendidos nos espaços privados de nossas famílias. Contudo, muitas dessas “formas de fazer” sustentam-se mais em crenças e ideias do senso comum do que em orientações que se pautam em informações e conhe- cimentos sustentados cientificamente. É como Maranhão (2010) ressalta: Sobral_Miolo - Revisado.indd 102-103Sobral_Miolo - Revisado.indd 102-103 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 105104 (...) é impossível cuidar e educar crianças sem influenciarmos as práticas sociais relativas à manutenção e recuperação da saúde e do bem-estar dos envolvidos no processo, ou sem sermos influenciados por elas. Mas, para que essa influência seja promotora do crescimento e desenvolvimento saudáveis em cada contexto sociocultural, é preciso que os professores e gestores da Educação Infantil reflitam criticamente sobre as informações relativas ao processo saúde doença das crianças brasileiras, das diversas e, às vezes, controversas mensagens indiretas e diretas que recebem via revistas, jornais e outros meios de informação. Na atualidade, onde as mensagens circulam inces- santemente pelas redes sociais, é fundamental que a instituição de Educação Infantil seja um espaço de estudo e reflexão sobre as informações e práticas de saúde e cuidado que circulam na comunidade escolar. Para contribuir com a reflexão sobre como as prá- ticas de cuidado e saúde estão concretizadas na ins- tituição de Educação Infantil, vale a pena discutir, envolvendo toda a equipe escolar, algumas Dire- trizes para um professor de Educação Infantil promotor da saúde20: 6. Acolha as mães dos lactentes e ofereça condições para que elas conciliem aleitamento e trabalho esi- gam regras de higiene para ambientes coletivos; 7. Organize as refeições em ambiente higiênico, seguro, confortável, belo e que possibilite autono- mia, socialização e boa nutrição a todos os grupos etários; 8. Ajude as crianças que recusam alimentos ou que apresentem dificuldades para se alimentar sozinhas; 9. Disponibilize água potável e utensílios limpos in- dividualizados para que as crianças possam beber água quando desejarem e incentive-as a fazê-lo du- rante todo o dia; 10. Organize a rotina contemplando o banho de sol até as 10 horas e após as 15 horas (a considerar o cli- ma de cada região), sobretudo dos bebês que depen- dem dos adultos para transportá-los para o solário, estando atento ao acesso das crianças e à oferta de água para hidratação e à proteção contra a exposi- ção solar excessiva; 11. Esteja atento ao conforto da criança, ensinando- -a a adequar o vestuário e os calçados às brincadei- ras, atividades e clima; 12. Mantenha as salas ventiladas e alterne ativida- des em espaços internos e externos, evitando con- finamento; 1. Compartilhe os cuidados com as famílias, ouça suas demandas, registre as recomendações relati- vas à saúde da criança que requeiram observação ou cuidados especiais durante o período em que está sob seus cuidados; 2. Interaja com as crianças, atento às suas expressões corporais no processo de cuidado, identifique-as e atenda às necessidades delas de conforto, bem-estar e proteção, de acordo com as potencialidades do de- senvolvimento infantil e o contexto de cada grupo, sem tolher a participação das crianças nas brincadei- ras e em outras situações de aprendizagem; 3. Auxilie e ensine as crianças a cuidarem de si e or- ganize ambientes adequados ao processo de desenvol- vimento das crianças, de forma que a autonomia seja construída sem risco à integridade física e psíquica; 4. Acompanhe e registre o processo de desenvolvi- mento infantil e reflita, com a coordenadora e com os profissionais de saúde do serviço local, sobre as crianças que apresentem alguma dificuldade de aprendizagem ou de interação com os demais adul- tos, procurando meios de ajudá-las em suas neces- sidades específicas; 5. Alimente os bebês, atendendo às suas necessi- dades nutricionais, afetivas e de aprendizagens de novos paladares e consistências, com base nas reco- mendações para o processo de desmame e nas nor- mas de higiene para ambientes coletivos; 13. Esteja atento às recomendações sanitárias e le- gais relativas ao espaço versus número de criança; 14. Troque as fraldas dos bebês e ensine as crian- ças a usarem o vaso sanitário e a fazerem a higiene pessoal, com atitudes acolhedoras, com respeito às peculiaridades do processo de aprendizagem e de- senvolvimento de cada criança, empregando pre- cauções padronizadas para evitar transmissão de doenças e acidentes; 15. Registre e ofereça a medicação oral e tópica pres- crita pelo médico ou os cuidados especiais orienta- dos por profissionais de saúde e que não podem ser interrompidos durante o período em que a criança permanece na instituição educativa; 16. Observe, identifique, informe e procure aju- da nas situações em que reconheça que a criança apresenta alteração no comportamento ou no esta- do de saúde (febre, traumas, dor, diarreia, cansaço ao respirar, manchas na pele, mal-estar, altera- ções no crescimento e desenvolvimento ou suspei- tas de maus-tratos), de acordo com as diretrizes da instituição; 17. Informe ao gestor para que ele notifique à Unida- de Básica de Saúde, de acordo com a legislação es- pecífica, a suspeita de crianças ou profissionais da unidade educacional com doenças transmissíveis, o aumento do número de crianças com problemas de saúde ou suspeitas de maus-tratos; 20. Diretrizes retiradas de MARANHÃO, Damaris Gomes. Saúde e bem-estar das crianças: uma meta para educadores infantis em parceria com familiares e profissionais de saúde. Anais do I seminário nacional: currículo em movimento – Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, novembro de 2010. Disponível em https://bit.ly/342LSvi Sobral_Miolo - Revisado.indd 104-105Sobral_Miolo - Revisado.indd 104-105 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 107106 18. Certifique-se da segurança e higiene de brin- quedos, esteiras, almofadas, lençóis, trocadores, banheiras, objetos e materiais de uso pessoal e cole- tivo, segundo as normas sanitárias específicas para creches e pré-escolas; 19. Assegure que as áreas interna e externa estejam organizadas e seguras para as crianças de todos os grupos, de modo a evitar acidentes e disseminação de doenças, e ensine o cuidado com o ambiente. 4. MOMENTOS DE BRINCADEIRA LIVRE Está mais que comprovado por pesquisas e pela observação direta que a brincadeira é atividade que mobiliza processos abrangentes de desenvolvimen- to que envolvem pensamento, fala, gestualidade, ex- pressividade, conhecimento de si e do outro, lógica, atenção, criatividade, entre outros. Quanto mais a criança brinca, mais aprende a brincar, o que amplia suas possibilidades de participação e envolvimento nas mais diversas brincadeiras. Porém, reconhecer o impacto da brincadeira nas aprendizagens das crianças não quer dizer que de- vamos condicionar as possibilidades de brincar àquilo que os adultos definem como sendo o objeti- vo final a ser alcançado. Daí, aquilo que poderia ser uma circunstância favorável ao brincar se trans- forma, na verdade, em uma atividade disfarçada de brincadeira. A brincadeira supõe liberdade de escolha e cria- ção pela criança. Por isso, momentos de brincadeira Promover a fruição pelas crianças das diversas manifestações artístico-culturais: ler e ouvir boa li- teratura, ver belas fotografias, assistir bons filmes e peças de teatro, ouvir e dançar boa música, enfim, participar das mais diversificadas formas de mani- festação artística aguça o pensamento e a criativida- de e alimenta o brincar; Favorecer o encontro das crianças para o brincar: observar a movimentação das crianças nas brinca- deiras, registrar os enredos dos jogos de faz-de-con- ta e as brincadeiras que predominam, reconhecer as parcerias criadas e refletir sobre as possíveis in- livre, muitas vezes, são denominados momentos de “livre escolha”. Assim, a criança escolhe com quem, de quê e como brincar. É essa liberdade que favorece a criação e, nesse contexto, a construção de novos conhecimentos. Daí surge uma pergunta que cria algumas ansie- dades nos professores: qual é então o meu papel nessa “brincadeira”? Como parceiro mais experien- te e formado para essa tarefa, cabe ao professor: Garantir tempo e espaço para a brincadeira: é preciso ter tempo para brincar. Às vezes, o úni- co momento de brincar livre que as crianças têm são 15-20 minutos no pátio. Um intervalo de tem- po desse não possibilita a invenção e o desenrolar das brincadeiras. É preciso garantir esse tempo e frequência. Todo dia é dia de brincar. E não vamos esquecer, a brincadeira é um dos eixos do trabalho pedagógico na Educação infantil; Preparar e enriquecer os espaços externos e in- ternos para a diversidade do brincar: organizar em áreas, diversificar as brincadeiras (com cantos simbólicos, jogos, objetos de construção, mate- riais de artes, brincadei- ras tradicionais etc.). A diversificação do ambiente enriquece as brincadeiras, seus enredos e suas produções; tervenções nas diferentes dimensões dos ambientes de aprendizagens cria boas condições para as inte- rações das crianças no contexto das brincadeiras. Além disso, é papel do professor fazer perguntas que incrementem a brincadeira e levem às crianças a testar hipóteses e ampliar o repertório, o professor é um mediador desses momentos, que pode, inclusi- ve, entrar na brincadeira. A proposta do “brincar livre” da rotina é vivencia- da pelas crianças, muitas vezes, no pátio da escola com liberdade de utilização dos materiais expostos, brinquedos etc. Em algumas situações, a estrutura Brincadeira livre na areiaPlanejar um ambiente favorável á brincadeira deve levar em conta também a idade das crianças. Na publicação “Brinquedos e brincadeiras de creche”, é possível ampliar o repertório ofertado nas instituições, atendendo a especificidade dos bebês e das crianças pequenas. http://portal.mec.gov.br/ dmdocuments/publicacao_ brinquedo_e_brincadeiras_ completa.pdf Sobral_Miolo - Revisado.indd 106-107Sobral_Miolo - Revisado.indd 106-107 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 109108 física da escola não apresenta segurança para a brin- cadeira livre acontecer com essa liberdade. Esse é um desafio que pode ser superado com a construção de espaços adequados preparados para tal fim. Para tan- to, faz-se necessário levar essa discussão para as re- uniões de formação da escola e também com as famí- lias, para escutar os receios, mas também construir soluções conjuntas. É preciso ressaltar que receios podem ser minimizados em um ambiente seguro que favorece as brincadeiras e a importante contribuição dessa atividade para bebês e crianças. no Estatuto da Criança e do Adolescente) e cultura (valorização da cultura local). Deste modo, as ações propiciam vivências literárias e culturais pelas crian- ças e adultos, metodologicamente pensadas a partir de uma sequência lúdico-didática que se utiliza de linguagens artísticas como: dança, música, teatro, ar- tes manuais e visuais, objetivando assim momentos de diálogos, reflexões, pesquisas e estudos, no intuito de valorizar as atividades mediante os eixos estrutu- rais (interações e brincadeiras). Assim, asseguramos às crianças o direito de aprendizagem e desenvolvi- A Brinquedoteca Municipal do DIDI, inaugu- rada em 13/10/2013, consiste em um espaço lúdi- co cultural pedagógico ligado à Coordenadoria da Educação Infantil de Sobral. O equipamento, que ao longo desses anos vem contribuindo para os devidos fins educativos sociais e culturais, proporciona às crianças de Sobral o direito de aprender através de uma linguagem literária e lúdica. O espaço tem uma perspectiva de embasamento criativo que se apresen- ta em três pilares: literatura (políticas de incentivo à leitura), brincar (garante o direito de brincar definido mento do Brincar, em uma metodologia integrada dos diferentes Campos de Experiências, conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 5. HORA DA HISTÓRIA Ler, ouvir e contar histórias faz parte da história da humanidade. Aliás, é uma prática bastante conheci- da no território cearense, povo conhecido por gos- tar de contar histórias. Terra de grandes escritores (como José de Alencar, Rachel de Queiroz, Patativa Brincadeira entre crianças Hora da história realizada entre crianças Sobral_Miolo - Revisado.indd 108-109Sobral_Miolo - Revisado.indd 108-109 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 111110 do Assaré e muitos outros) e da literatura de cordel, gênero literário originalmente oral, mas que ganhou seu formato impresso. É a ligação com essa prática milenar e que nos aproxima de nossas raízes ancestrais e também de nossos contemporâneos que a Hora da História deve trazer aos espaços da Educação Infantil. No caso da Hora da História na Educação Infantil, é fundamental diversificar esse momento, que deve acontecer quase que diariamente na vida das crian- ças, desde os bebês. Por exemplo, podemos pensar no que diferencia o “contar histórias” do “ler uma história” para as crianças. Diferentemente da prática de contar histórias em que a comunicação é feita face a face, no ato de leitura em voz alta de um livro o professor olha para um objeto repleto de marcas antes de proferir as palavras do texto. É este ato que intriga as crianças: o que são essas marcas que fazem nascer palavras apenas ao olhá-las? Essa é uma primeira descoberta das crianças com relação à escrita, sua separação do universo gráfico, em geral. A escrita seria para a criança, nesse primeiro momento, tudo o que não é desenho. (OLIVEIRA et al, 2019, p. 123). Para que o momento da Hora da História aconteça de forma adequada é preciso planejá-lo, considerar as dimensões que compõem os ambientes de apren- dizagens. Leitura em voz alta de textos curtos (como poe- mas, parlendas, trava-línguas) duas ou três vezes por dia; Narração ou leitura de contos uma ou mais vezes por semana com possibilidade de material de apoio (marionetes, fantoches etc.) e com a possibilidade de atividades anteriores ou posteriores de extensão para todo o grupo; Leitura coletiva de contos em formato grande (co- piados ou projetados) com atenção para aspectos da aprendizagem da leitura e interpretação da obra; Leitura de um capítulo semanal de uma narração longa (como As Aventuras de Pinóquio, Alice no País das Maravilhas, etc.); Organização de momentos destinados à explora- ção dos livros, leitura individual e/ou em pares; Um tempo reservado para compartilhar livros no qual as crianças que desejem participar possam apresentar, argumentar ou ler fragmentos dos livros favoritos; Empréstimo semanal de livros com participação das famílias nas leituras em casa; Visitas constantes à biblioteca da escola para am- pliar as possibilidades de escolha e a familiarização das crianças com as formas padronizadas de orga- nização desse espaço; O tempo - quando, com que periodicidade, que du- ração terá a atividade, se a atividade compõe uma sequência ou projeto de trabalho, ou é uma leitura que faz parte das atividades permanentes; O espaço e os materiais - como o espaço acolhe as crianças para esse momento, ficarão confortáveis, po- dem se recostar para ouvir melhor a história, todas as crianças conseguem escutar e se envolver na história (ou o espaço está pequeno e algumas crianças ficam fora da roda - se sim, precisa manejar essa organização), as crianças conseguem enxergar as imagens do livro; As interações - como favorecer os comentários e ex- pressão de gestualidades das crianças, sem perder de vista a leitura ou contação da história? Que perguntas podem ser feitas antes da leitura (sobre o livro, as hi- póteses de leitura, os autores, os recursos gráficos da capa), durante (o que será que vai acontecer? O que fa- voreceu aqueles eventos acontecerem?) e depois (que impressões, quais comentários sobre os eventos da história, como cada personagem agiu?). A riqueza dos momentos de leitura de histórias pode ser visualizada na sugestão a seguir, que com- põe o material do Projeto Leitura e Escrita na Edu- cação Infantil21. Edição de contos e/ou poemas escritos, ditados ou desenhados que sejam incorporados à biblioteca da sala de aula, carregados no site da escola, enviados às famílias etc; Organização de atividades que estimulem o senso crítico literário: classificar e organizar os livros, de tempos em tempos, nas estantes de diferentes for- mas: por temas, gêneros, autores, etc.; discutir com as crianças critérios para avaliação dos livros lidos; criar listas que ajudem as crianças a avaliarem os tí- tulos (ampliando a ideia do simples gostou ou não gostou); construir um mural de leitura com cartazes recomendando os livros favoritos etc. PROJETO CIRANDA LITERÁRIA – SACOLA VIAJANTE Relato do Centro de Educação Infantil Professora Tere- zinha de Jesus Ponte Aragão A atividade proporcionou entre as crianças gran- de empolgação, visto que todas queriam levar a sa- cola viajante para casa. Ansiosos para saber se era o seu dia, perceberam assim que havia uma ordem es- tabelecida pelo nome da frequência, passaram então a acompanhar de quem era a vez do dia. As famílias demonstraram alegria com a atividade, contagian- do-se pela animação das crianças, realizaram a lei- tura e o acompanhamento em casa, relatando que o momento se tornou muito prazeroso, pois estrei- tou os vínculos entre família e criança. Alguns pais 21. Muitas outras sugestões ao trabalho com a leitura e a escrita podem ser encontradas nesse material, disponível em AS CRIANÇAS E AS PRÁTICAS DE LEITURAE DE ESCRITA. Angélica Sepúlveda e Ana Teberosky (volume 5 Projeto Leitura e escrita) http://www. projetoleituraescrita.com.br/wp-content/uploads/2017/08/Caderno_5.pdf Sobral_Miolo - Revisado.indd 110-111Sobral_Miolo - Revisado.indd 110-111 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 113112 surpreenderam-se com os avanços dos filhos, visto que perceberam o quanto haviam evoluído, rela- tando com grande satisfação a atividade vivenciada em casa para a professora. Percebeu-se também o quanto as crianças desenvolveram a sua autonomia e senso de responsabilidade, pois tinham que cui- dar da sua sacola, levando para casa e trazendo no outro dia. Quanto à oralidade, as crianças amplia- ram o seu vocabulário e imaginação, percebendo também que a história possui uma sequência lógica de fatos que deve ser observada e recontada para a compreensão dos colegas, enfatizando também as características físicas dos personagens e o espaço físico que a história acontece. Com o desenvolvi- mento desta atividade, notou-se uma ampliação nas o professor Edgar Linhares (em memória) e na sua fala ele ressaltava sempre a importância da leitura na vida das crianças, desde cedo; que poderíamos colocar livros em baixo de mangueiras e outras ár- vores, na praça ou em qualquer lugar de livre acesso para as crianças nem que fosse apenas para elas fo- lhearem, mas era importante este contato. Sabendo de tamanha importância e com o desejo de criar um projeto de leitura, após essa palestra e com aquelas palavras em mente surgiu a ideia de criar um projeto de leitura que abrangesse toda a escola, desde as crianças até todos que estivessem dentro dela naquele momento. Assim, a escola se tornaria uma grande praça por alguns minutos, com caixas de livros, jornais, imagens diversas es- aprendizagens das crianças relativas à autonomia, à socialização, às práticas de oralidade e de leitura, revertendo ainda avaliação positivas no que se re- fere ao quesito contação de história, já que todas as crianças da turma contaram a história com empol- gação e desenvoltura. OUTRA EXPERIÊNCIA DE LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL É APRESENTADA PELO CEI PROFESSORA MARIA LUCIANA LOPES LIMA - “PROJETO PRACINHA DA LEITURA” As formações de professores em Sobral é um dos pontos fortes do sistema. Em uma destas formações tivemos a oportunidade de ouvir uma palestra com palhados por todos os espaços e cada professor es- colheria o espaço desejado e lá sentado com suas crianças folhearem observando gravuras, palavras cores e outros que a imaginação puder alcançar. Montamos o projeto Pracinha da Leitura. Pen- samos como deveria acontecer, onde, em que dia, como seria a seleção dos livros e a escolha dos conta- dores e chegamos à conclusão que ele aconteceria de forma organizada, com um cronograma mensal dos responsáveis pelo projeto em cada semana. Os par- ticipantes teriam a liberdade de fazer suas escolhas. Iniciamos chamando uma contadora de história que veio abrir o projeto com a história “Menina bo- nita do laço de fita” e foi um encanto para as crian- ças. Daí para frente não paramos mais. O projeto é Sobral_Miolo - Revisado.indd 112-113Sobral_Miolo - Revisado.indd 112-113 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 115114 permanente e acontece durante todo o ano letivo, uma vez por semana (nas quintas-feiras), a partir de um cronograma mensal que informa o professor con- tador ou organizador do projeto naquela semana. Os livros que usamos no projeto são todos os in- fantis existentes no CEI, damos prioridades aos com gravuras maiores e com letras de forma por ser a que usamos na escola, mas todos os livros são expostos. No dia do projeto, o responsável junto ao núcleo gestor faz a distribuição dos livros nos espa- ços do CEI, dentro de caixas, baús e cestos pequenos e organiza o som. O professor escolhe o lugar que vai ficar junto com a sua turma, todos sentam em forma de círculo e ali são distribuídos os livros, cada ressante e todos adoram participar. Todas as turmas participam desde o berçário até o infantil V. Como extensão deste projeto surgiu o projeto da maleta viajante onde as crianças levam livros de his- tórias para ler junto a sua família nas suas casas. 6. ATIVIDADES DE AÇÃO E REPRESENTAÇÃO Há alguns momentos da jornada da criança na escola que configuram atividades com objetivos ou propostas mais direcionadas. Incluem-se aqui os ateliês e oficinas com as múltiplas linguagens e tam- bém os momentos dedicados ao desenvolvimento das propostas trazidas no material didático. criança escolhe o que quer, podendo trocar durante o período de 20 min. Depois deste tempo são recolhidos os livros nas caixas e eles se reúnem todos no mesmo local para ouvir a história da vez, que é escolhida pelo profes- sor responsável da semana. A história poderá ser contada com livro, dramatizada, com fantoche ou dedoche, o contador pode ser professor ou as pró- prias crianças. É de livre escolha dos responsáveis. O início da história e o final muitas vezes é acompa- nhado de música com acompanhamento do violão ou somente com palmas, depende do contador. O projeto é um momento esperado pelas crianças, pois faz parte da rotina da escola, é bastante inte- Chamam-se Atividades de ação, representação e registro, pois supõe essas ações da criança ou do adulto com a criança, por exemplo, no caso das bem pequenas, que possibilitem a realização de uma de- terminada proposta e registro em que represente essa produção. Nas oficinas com as linguagens artístico-cultu- rais, as crianças são sempre convidadas a explorar, investigar, criar a partir de determinados materiais, agem buscando construir alguma forma de repre- sentação de suas ideias, sentimentos, pensamentos. Com os bebês, que ainda não desenvolveram essa capacidade de representação, os adultos têm o pa- pel fundamental de construir essa documentação, Atividade de escovação dos dentes entre bebês Sobral_Miolo - Revisado.indd 114-115Sobral_Miolo - Revisado.indd 114-115 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 117116 por meio de diferentes formas de fazer esse regis- tro (fotos, narrativas escritas, vídeos etc.). O impor- tante é, no trabalho com essas linguagens, cuidar da liberdade de ação e criação das crianças, sem se preocupar em findar com resultados padronizados e uniformes que nada dão a saber sobre a diversidade das criações infantis. Nos momentos dedicados ao material didático há que se equacionar a sistematicidade que é trazida nessas atividades com a articulação com os projetos de trabalho com a turma e a liberdade de constru- ção das representações infantis. Essas atividades ganham se são pensadas de forma relacionada aos projetos e sequencias de atividade que devem com- por o tempo da Educação Infantil. Por exemplo, conhecer o material e verificar o que ele sugere de investigações sobre o trabalho de algum pintor pode ser um pontapé inicial para a ampliação dessa pesquisa, olhando mais de forma aprofundada aquele artista, suas produções que se alimentaram de sua arte. Boas pesquisas da turma em sites de museus na internet podem abrir os olhos das crianças para novas referências que alimenta- rão seus desenhos e pinturas. O importante é não encerrar o material didático em si mesmo. Uma criança leitora, produtora de texto, pesquisadora, observadora e produtora de novos conhecimentos precisará interagir com múl- tiplos parceiros (adultos e outras crianças), muitos livros (literários e informativos), objetos e brin- cadeiras diversificados, sendo o material didático apenas um deles. de cantos diversificados de atividades possibilita um espaço que favorece o desenvolvimento da auto- nomia da criança, principalmente pelas possibilida- des de livre escolha e de criação. Esse protagonismo da criança é ampliado em aprendizagens se os can- tos são pensados pelos professores, de forma a favo- recer novos elementos às construções das crianças, nos diferentes Campos de Experiências.Por exemplo, cantos de construção podem ir sen- do incrementados com materiais diversificados que vão possibilitando às crianças pensarem sobre as 7. CANTINHOS DE VIVÊNCIA Falar em cantinhos na Educação Infantil nos re- mete a um assunto que tem uma multiplicidade de entendimentos e formas de organização. Há escolas que disponibilizam cantinhos nos es- paços externos para que as crianças tenham a liber- dade de explorarem, algumas optam por cantinhos fixos diários nas salas de aulas, incrementados pe- riodicamente, outras escolhem um dia da semana para que esses cantinhos de fato aconteçam, com o olhar do professor voltado para isso. Enfim, a depender de muitos fatores (espaço dis- ponível, concepções da equipe e, inclusive, clareza quanto à importância dessas áreas), os cantos ad- quirem diferentes caras e objetivos pedagógicos. Assim, um dos desafios está na compreensão da proposta dos cantinhos por parte dos professores, pois estes não se sentem seguros, de que a organiza- ção dos ambientes em cantos possibilitará aprendi- zagens necessárias ao desenvolvimento das habili- dades. Ainda outro desafio na gestão desses espaços se concentra no incremento contínuo desses canti- nhos, de forma que fiquem interessantes e atrativos para os bebês e as crianças. Mas, por que os cantos? Pesquisas na área da Educação Infantil já mostraram que as crianças, mesmo as bem pequenas, gostam dessas áreas que são circunscritas, pois isso lhe oferece proteção e in- timidade, favorece a sua atenção àquela atividade e aos colegas com quem estão interagindo, enfim, am- plia a possibilidade de brincarem mais tempo juntos (CARVALHO, 1998). Além disso, a disponibilidade suas características e possibilidades de uso nessas produções. Os cantos de jogo simbólico favorecem as interações das crianças e suas brincadeiras e ampliam a construção de suas narrativas, suas con- versas e negociações, a reprodução e criação que a brincadeira simbólica possibilita, enfim, desenvol- vem pensamento e linguagem no contexto mais mo- bilizador de desenvolvimento da criança. O canto da leitura favorece a formação do leitor, uma das aprendizagens importantes para a esco- la, e deve ser um espaço permanente nas salas de Criança cuidado da horta do centro de educação infantil plantada por elas Sobral_Miolo - Revisado.indd 116-117Sobral_Miolo - Revisado.indd 116-117 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 119118 referência das crianças na Educação Infantil, o que demanda que seja pensado continuamente tanto na curadoria de livros e revistas que o compõem quan- to na renovação regular de seu acervo. Também é importante que o canto de leitura seja um espaço aconchegante, com algum grau de intimidade (para que as crianças possam parar ali, pensar sobre o que querem ler e, se for o caso, se acomodar para fazer a leitura), que favoreça às crianças o seu acesso, con- forto e funcionalidade na escolha. Para o acervo dos cantos de leitura é importante garantir a diversida- de de gêneros (literários e informativos) e a qualida- de das obras. O Projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil21 nos indica a amplitude dos livros para crianças, que incluem os informativos e os literários. LIVROS INFORMATIVOS: Os livros informa- tivos têm por objetivo principal de veicular con- ceitos, transmitir conteúdo. Os livros informativos vão desde os livros de conceitos iniciais feitos para bebês, com o vocabulário básico do seu cotidiano, como os livros sobre formas, tamanhos, contrários, cores e texturas, até dicionários, enciclopédias, al- -se os mitos, que são narrativas ligadas à cosmogo- nia, e as lendas, que contêm elementos fantásticos para explicar situações cotidianas, origens de tradi- ções, entre outros fatos. Também existem os contos tradicionais, que podem ser fantásticos, como os contos de fadas, ou realistas, como as histórias de astúcia e esperteza, de pícaros e charlatões. (...) Entre as narrativas autorais, estão as crônicas, os contos e as novelas, que também podem estar mais ligadas à realidade, como as aventuras históricas que demandam do autor pesquisa de fatos e perso- nagens reais; e também histórias de detetive, poli- ciais e romances críticos que tematizam questões sociais como o racismo e a segregação. As narrativas autorais também podem ter um ca- ráter mais fantástico, como os contos de fadas con- temporâneos, a ficção científica e relatos de terror baseados em forças sobrenaturais, inquietantes e agressivas. A luta contra o mal é outro filão de nar- rativas heroicas e épicas, desde a Idade Média até os dias atuais. Relatos de universos paralelos, como sonhos ou mundos fantásticos, também recheiam as narrativas infanto juvenis, assim como as aventuras “pós-fim do mundo” e de sobrevivência a possíveis formas de apocalipse. A história em quadrinhos de certa forma pode ser encaixada nessa categoria, ainda que conte com re- cursos próprios, como as convenções gráficas dos balões, das onomatopeias, diferentes tipos de letra, entre outros. É uma arte sequencial que justapõe imagens pictóricas e outros elementos visuais para formar uma narrativa. manaques e outras propostas já tradicionais, como livros didáticos e revistas de divulgação científicas feitas para crianças e jovens e que merecem ser re- lacionadas numa biblioteca bem organizada. A as- sociação Banco del Libro considera, além dos livros de conceito, os abecedários, os livros de contar e as biografias como livros informativos. Os bons livros informativos destinados a crianças possuem grande qualidade artística e empregam recursos poéticos e visuais que acrescentam valor literário à proposta preponderante de informar. Além desses, existe o livro instrucional – um exem- plo bem conhecido são os livros de receita culinária. Os livros que ensinam técnicas e formas de fazer se incluem nessa categoria. LIVROS DE LITERATURA: Os livros de litera- tura, por sua vez, podem ser divididos em três gran- des gêneros: narrativa, poesia e teatro. Essas três grandes divisões no campo da literatura estão pos- tas desde Aristóteles e valem também para os livros das crianças. Acrescentam-se a essa divisão clássica os livros de imagem. Narrativas: Considerando a literatura infantil, as narrativas podem ser subdivididas entre narrativas fantásticas (que trazem acontecimentos sobrenatu- rais) e narrativas realistas (com acontecimentos que respondem à lógica racional) (...). A origem das narrativas também revela aspectos da cultura e da história da sociedade onde surgem. Entre as narrativas de tradição popular encontram- Poesia: A poesia infantil tem subdivisões. Podem ser igualmente autorais e populares. Entre as popu- lares, podem-se acrescentar o cordel e as poesias da primeira infância. No Brasil, destaca-se o estudo de Maria da Glória Bordini (1986) sobre as poesias de tradição popular, em que a autora apresenta a se- guinte classificação: • Acalantos; • Brincos; • Trava- -língua; • Cantigas de roda; • Adivinhas; • Quadras e • Parlendas. Teatro: O texto teatral é aquele que não tem nar- rador. A história é contada por meio das falas dos personagens em discurso direto, com algumas mar- cações para dirigir a cena, que deve ser feita com atores ou bonecos. Existem os textos trágicos e os cômicos, também podendo ser subdivididos entre popular e autoral. Livro de imagem: No caso dos livros para crianças, uma classificação importante diz respeito à função da ilustração. Os livros podem trazer um texto ver- bal independente da ilustração: diferentes edições de um mesmo livro podem ser ilustradas por artis- tas diferentes sem prejuízo para a compreensão do texto verbal. Nesse caso, valem as classificações dos livros quanto ao texto verbal, como visto anterior- mente. Mais recentemente, vem crescendo consi- deravelmente a produção de livros exclusivamente de imagens, nos quais a narrativa se desenvolve por meio das ilustrações, bem como de livros que com- binam texto verbal e visualde tal forma que um de- pende do outro para existir (p. 84-90). 22. Livros infantis: acervos, espaços e mediações / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. - 1.ed. - Brasília: MEC /SEB, 2016. 152 p.: il.; 20,5 x 27,5 cm. - (Coleção Leitura e escrita na educação infantil; v. 8). Sobral_Miolo - Revisado.indd 118-119Sobral_Miolo - Revisado.indd 118-119 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 121120 Avaliação e registro na educação infantil Uma das características da rede de ensino do município de Sobral é compreender e valorizar os processos avaliativos como estratégia de acompa- nhamento e de tomada de decisões a respeito da qualidade dos processos educacionais. Não é para menos que um amplo sistema de avaliações, que articulam dados externos e internos, tem se conso- lidado e aprofundado a experiência da rede nesse âmbito das políticas de Educação Básica. Desde o ano de 2005 a Rede Municipal de Ensino de Sobral realiza avaliação externa às Escolas/CEIs. Essa é uma avaliação de caráter cognitivo, onde participam todos os alunos matriculados na última etapa da pré-escola (infantil V). A mesma acontece ao final de cada na letivo e gera um movimento im- portante de intervenções e tomadas de decisões da secretaria frente as escolas e CEIs, possibilitando assim o enfrentamento das dificuldades e qualifica- ção do processo de ensino e aprendizagem. Por hora, na Educação Infantil é feito um movi- mento importante de: Aprimorar os processos internos e externos de avaliação das aprendizagens das crianças; Implementar um sistema de monitoramento que gere e organize informações acerca das condições de trabalho concretas das instituições. Neste momento, vamos focar o aspecto que se re- fere diretamente à avaliação das aprendizagens das crianças, considerando que este diz respeito direta- mente ao trabalho pedagógico desenvolvido nas ins- tituições de Educação Infantil. Ressaltando que, mesmo sendo notadamente uma responsabilidade do professor, conforme a BNCC, a tarefa de refletir, selecionar, organizar, plane- jar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crian- ças (BNCC, 2017, grifos nossos), este trabalho não se faz individualmente, pois tanto demanda discussão com a equipe escolar como articulação com os da- dos das avaliações de sistema, a fim de constituir um mapa da realidade do atendimento educacional dos bebês e crianças na rede. Para orientar a perspectiva de avaliação na Edu- cação Infantil, as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução n° 5, CNE/CEB, 2009) colocam em seu artigo 10°: As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantindo: I - A observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; II - Utilização de múltiplos registros realizados por adultos e PARTE IV INÍCIO, MEIO E (RE)FIM Sobral_Miolo - Revisado.indd 120-121Sobral_Miolo - Revisado.indd 120-121 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 123122 crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); III - A continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental); IV - Documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil; V - A não retenção das crianças na Educação Infantil. Se refletirmos um pouco sobre cada um dos incisos definidos nas DCNEI, teremos um desenho esclarece- dor dos processos de avaliação e registro que devem caracterizar a primeira etapa da Educação Básica. Fazer a observação crítica e criativa das ati- vidades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano demanda dos professores se descolar de indicadores restritos a definição do tipo “alcançou” ou “não alcançou” ou mesmo “Está em processo”, pois esses não dizem muita coisa a res- peito de como cada criança foi participando das pro- postas pedagógicas e se apropriando dos diferentes conhecimentos. As perguntas que podem nos mobi- lizar aqui são: documentação, por exemplo, a seleção das produ- ções que vão compor o seu portfólio ou pasta de ati- vidades. Mas, como deve ser o fluxo dessa documentação? Com que periodicidade deve ser compartilhada com as famílias, por exemplo? Essas são questões que devem equacionar as orientações dadas pela Secre- taria da Educação, responsável por orientar a docu- mentação escolar das crianças que estão matricula- das, com as definições que a gestão da escola define, junto com sua equipe. Nessa definição, não se pode perder de vista dois dos objetivos desses registros. O primeiro objetivo que é permitir às famílias co- nhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da crian- ça na Educação Infantil. Nesse sentido, a entrega do relatório descritivo de aprendizagens e desen- volvimento da criança é importante, mas não sufi- ciente. É preciso que outros registros como murais que apresentam os projetos e atividades (que estão sendo realizados ou foram concluídos), portfólios das crianças (com uma organização reflexiva das produções das crianças), diários da turma (com o registro contínuo do que está sendo vivido coletiva- mente e que pode circular com alguma regularidade pelas famílias para ampliar essa possibilidade de conhecer), além dos blogs das escolas e outros re- cursos virtuais (que podem ser de acesso fechado das famílias, de forma que as imagens das crianças e dos profissionais da escola não circulem livremen- te pela internet) que vão registrando esse trabalho. Ampliar esse conhecimento acerca do que acontece O que foi proposto no período observado para fa- vorecer determinados objetivos de aprendizagens e desenvolvimento das crianças? Como cada uma das crianças foi participando e aprendendo no contexto dessas propostas? Para tanto, é importante que o professor não deixe para realizar os registros desse acompanhamento apenas na época de redigir os relatórios descriti- vos das aprendizagens das crianças. É fundamental ter um caderno organizador dessas observações no qual possa ir documentando continuamente aspec- tos desses processos. A fim de favorecer esse processo de documentação, coloca-se ainda a necessidade de utilizar múltiplos re- gistros realizados por adultos e crianças (relatórios, foto- grafias, desenhos, álbuns etc.), que nos ajudam a cons- truir, usando múltiplas linguagens, essa memória do percurso da criança na Educação Infantil. Relatórios que convergem imagens das crianças, na interação com sua turma de amigos e adultos que a acompanham nessa jornada, com reflexões escritas pelos professores registrando e comentan- do suas conquistas e especificidades de suas apren- dizagens enriquecem os registros e também ficam mais interessantes. As crianças também podem participar da cons- trução desses documentos. Seja lendo e comparti- lhando com as crianças bem pequenas uma retoma- da do que viveram naquele período do registro seja elaborando junto com os maiores uma parte dessa na escola possibilita ampliar a participação das fa- mílias na construção do projeto pedagógico. Não menos importante é o objetivo de documentar a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no in- terior da instituição, transição creche/pré-escolae tran- sição pré-escola/Ensino Fundamental). Além da importância dos interlocutores já men- cionados, a família e a própria criança, há que se pensar na importância de uma boa documenta- ção que segue para os professores que recebem as crianças nas turmas seguintes da Educação Infantil e também no Ensino Fundamental. Uma boa docu- mentação, inclusive, fortalece e esclarece o trabalho que é desenvolvido na Educação Infantil, pois ajuda a dar visibilidade à amplitude de aprendizagens que acontecem nessa etapa da educação, ajudando a su- perar de uma vez por todas ideias restritas de um currículo dedicado aos anos iniciais da vida. Por fim, e não menos importante, a avaliação não permite, em hipótese alguma, a retenção das crianças na Educação Infantil. Tal como define a BNCC: Por meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação Sobral_Miolo - Revisado.indd 122-123Sobral_Miolo - Revisado.indd 122-123 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 125124 de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir elementos para reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os Direitos de Aprendizagem de todas as crianças (BNCC, 2017). A definição desse currículo de Sobral, em diálogo com a BNCC, nos inspira a avançar na avaliação e registros buscando aprimorar o acompanhamento das práticas pedagógicas e as aprendizagens. Para tanto, há que se garantir nos registros informações sobre: As atividades propostas e as condições (orientações e apoios dados); A forma como o professor respondeu às manifestações e às interações das crianças; Os agrupamentos que as crianças formaram na execução de uma atividade; Como as crianças participaram (individual e coletivamente), sua auto-organização, envolvimento na atividade, interação social, dentre outros; O material oferecido e o espaço e o tempo garantidos para a realização das atividades; As múltiplas linguagens e conhecimentos mobilizados; direitos fundamentais das crianças - o que não pode acontecer, pois estamos ainda tratando de crianças, que continuam a aprender no brincar -, ou, de outra parte, pensar que as aprendizagens constituídas na Educação Infantil são menos importantes ou tem apenas a incumbência de preparar para o Ensino Fundamental, acaba reverberando um olhar redu- cionista para o currículo das diferentes, mas com- plementares, etapas da Educação Básica. Para que as crianças vivam os momentos de tran- sição de forma mais tranquila, muitas unidades de Educação Infantil organizam visitas às escolas de Ensino Fundamental para que conheçam os espa- ços, as crianças e os adultos, podendo tornar um pouco mais familiar os espaços que futuramente irão conviver. A mobilização dos direitos e objetivos de aprendizagens, contextualizados aos Campos de Experiências. Documentar a riqueza desses processos em re- gistros coletivos e individuais e que vão ampliando a participação das crianças na construção dessas documentações enriquece e dá legitimidade a essa memória escolar que tem como interlocutores os profissionais da escola, os familiares e as crianças. A adaptação e transição ao primeiro ano do ensino fundamental Planejar a passagem para a segunda etapa da Educação Básica, o Ensino Fundamental, garante um percurso tranquilo e instigante para as crianças que, quando vivem essas transições de forma cuida- dosa e atenta, demonstram muita empolgação com os seus progressos. Faz-se necessário que ambas as etapas se preparem para essa transição, garantindo integração e continui- dade dos processos de aprendizagens das crianças, respei- tando suas singularidades e as diferentes relações que elas estabelecem com os conhecimentos, assim como a natureza das mediações de cada etapa (BNCC, 2017, p. 53). De uma vez por todas, é preciso superar precon- ceitos de parte a parte que só prejudicam a criança. Achar que no Ensino Fundamental a criança não terá mais direito à brincadeira é olhar para esse ní- vel do ensino de forma redutora e pouco atenta aos Na gestão da Educação Infantil é sempre impor- tante manter um bom canal de comunicação com a gestão do Ensino Fundamental. Planejar con- juntamente essas idas favorece essa aproximação e a passagem das crianças para o nível seguinte. Além disso, preparar boas documentações, que in- formam sobre os processos de aprendizagens das crianças e as suas vivências na Educação Infantil, contribui com o trabalho de professores e profes- soras ao receber as crianças no primeiro ano. Nes- se sentido, também é importante para os professo- res da Educação Infantil conhecer os objetivos de aprendizagem e as práticas de trabalho do Ensino Fundamental, de forma que possam conversar com as crianças sem criar receios quanto ao que viven- ciaram em sua vida escolar. Criança vendo o irmão no cartaz da escola Sobral_Miolo - Revisado.indd 124-125Sobral_Miolo - Revisado.indd 124-125 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 127126 Papéis e responsabilidades de cada um e de todos nós Uma Educação Infantil de boa qualidade é feita a partir da constituição de uma rede de (co)labora- ção, que se dedica ao alcance de objetivos comuns, por meio da organização e concretização de pro- cessos e resultados. Da parte de cada um há que se esperar protago- nismo e compromisso com a atuação dedicada a seus papéis. Nesse sentido, o envolvimento com os objetivos da rede, a gerência de ações e de interações dos participantes, assim como a tomada de decisões pautada na democracia e na partilha de responsa- bilidades fortalece a luta pela escola que atende de forma cada vez mais efetiva a primeira infância. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO Tem em sua natureza institucional múltiplos papéis e responsabilidades, entre os quais: A provisão dos insumos necessários à realização dos processos educativos no âmbito das unidades escolares e demais equipamentos; A orientação, a articulação e o incentivo de processos, estruturando o crescimento e desenvolvimento da rede e dando subsídios para a construção de novas descobertas; O reconhecimento, a valorização, a dinamização e a expansão das boas práticas bem como dos bons resultados alcançados; Os acompanhamentos administrativos e pedagógicos; A garantia do trabalho em rede, respeitando as peculiaridades de cada instituição, dando conta do básico com qualidade, equidade e inclusão; A oportunidade e promoção de formações aos profissionais que compõem toda a rede municipal de educação; Os processos de seleção de profissionais; A aquisição de materiais estruturais e pedagógico, além da expansão do atendimento com a construção de unidades escolares; O apoio técnico e humano; O monitoramento das autonomias administrativa, financeira e pedagógica das escolas; A avaliação dos processos e encerramentos de ciclos dos resultados acadêmicos de todos da rede. PARTE V SABERES E PRINCÍPIOS QUE NÃO PODEM FALTAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Sobral_Miolo - Revisado.indd 126-127Sobral_Miolo - Revisado.indd 126-127 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 129128 GESTÃO ESCOLAR A gestão escolar tem como objetivos em sua atuação: Garantir a formação de seus professores e demais membros da escola; Realizar tomadas de decisão assertiva em prol do bom andamento da unidade escolar, garantir espaços de reflexão e diálogo entre professores; Aproximar e incluir a comunidade nas ações da escola; Unir pensamentos para o objetivo das aprendizagens das crianças; Orquestrar e mediar todos os processos administrativos e pedagógicos, bem como ser o elo entre escola e Secretaria da Educação; Ter um olhar amplo, criativo nas ações motivadoras e na resolução de problemas; Buscarparcerias externas para o crescimento da instituição de forma global; Acompanhar e monitorar ações pedagógicas e de cunho administrativo; Articular as linhas traçadas no currículo e projeto político pedagógico com as Envolver-se com e ter clareza de seu papel enquanto agentes potencializadores e transformadores de mundo e de sujeitos; Ser liderança na gestão pedagógica das turmas, utilizando de estratégias que atendam de forma equitativa todas as crianças para também atingir os melhores resultados na construção das aprendizagens em cada ano. AUXILIARES E ESTAGIÁRIOS Têm papel fundamental na realização de diversas atividades no âmbito da instituição. Nesse sentido, é fundamental assumir uma atitude de: Relacionar teoria e prática em sala de aula, estando disponível para dar suporte ao professor titular quando necessário; Estar atento às necessidades individuais de cada criança; Planejar com o professor ações em prol da aprendizagem e do desenvolvimento das crianças; Contribuir nos processos educativos, por meio da interação com as crianças (cuidando das orientações e do próprio exemplo); Sugerir, participar, propor ações criativas em benefício das aprendizagens das crianças; concepções apresentadas pelo sistema, respeitando as diretrizes normativas da rede; Avaliar medidas e estratégias, sobretudo no que diz respeito a aprendizagem das crianças, acompanhar os resultados de aprendizagens e avaliar suas evoluções; Manter-se em constante estudo formativo. PROFESSORAS E PROFESSORES A profissão docente demanda estarmos em constante construção e reconstrução individual e coletiva, con- siderando a necessária formação continuada para a melhoria das práticas pedagógicas com as crianças. No âmbito da escola, aos professores cabe: Internalizar a missão de sempre aprender e ensinar; Planejar, acompanhar, monitorar, avaliar, dialogar, a partir de uma aproximação afetiva com as crianças, bem como de seus familiares; Concretizar boas condições para a promoção dos processos cognitivos, afetivos, sociais, emocionais das crianças; Idealizar e materializar projetos e ações pedagógicos, considerando a sua participação no desenvolvimento do currículo; Construir sua identidade profissional; Manter-se em constate estudo em prol da melhoria de sua função. EDUCADORES ADMINISTRATIVOS Todos os funcionários que atuam em uma escola têm participação na educação das crianças, já que estas es- tão aprendendo em todos os momentos e espaços que frequentam. Assim, é preciso que se tenha a preocupa- ção com ações e falas que repercutem para as crianças, o que coloca aos funcionários da escola o papel de: Contribuir com a educação das crianças da escola através do cumprimento efetivo de suas funções demonstrando interesse e empatia; Realizar suas atividades com vista ao processo de crescimento e desenvolvimento dos pequenos, assumindo uma visão participativa e de responsabilidade; Contribuir com a organização de boas condições de aprendizagens para as crianças e assim para que seus resultados sejam satisfatórios; Estabelecer relações de cuidado e atenção com as crianças e seus familiares; Dar suporte quando necessário à gestão escolar na participação em eventos ou projetos; Sobral_Miolo - Revisado.indd 128-129Sobral_Miolo - Revisado.indd 128-129 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 131130 Manter-se em constante aperfeiçoamento e participar de capacitações em prol da melhoria nos serviços prestados; Incluir-se e participar das ações da escola. FAMILIARES Como já mencionado neste currículo como um dos princípios que o sustentam, as famílias têm papel fundamental na parceria com a escola de Educação Infantil, cabe, então, aos familiares: Manter diálogo permanente com a escola com foco nas aprendizagens e no desenvolvimento da criança; Fazer-se parte importante dos processos vivenciados no contexto escolar; Buscar compreender a dinâmica e rotina escolar de seu filho; Garantir a frequência e permanência da criança na escola; Acompanhar as aprendizagens da criança, bem como garantir um espaço ou horário para que ela possa realizar as atividades escolares em casa; COMUNIDADE A escola é uma comunidade dentro de uma comu- nidade maior, com a qual mantém relações intrín- secas que a enraízam e constituem um território de vida para todos. Para tanto, é de fundamental importância a parceria, a troca de experiências e o companheirismo entre as escolas, os equipamentos sociais comunitários e a população. O papel dessa comunidade local é: Ser corresponsável pela educação social das crianças, bem como de todos do bairro; Replicar e inovar na cultura local; Contribuir com a frequência da criança na escola, bem como ofertar serviços que ajudem na ampliação das aprendizagens; Realizar projetos que envolvam a comunidade escolar; Buscar a integração com todos os segmentos: educação, saúde, cultura, esporte, lazer, assistência social para potencializar a comunidade local. Participar de reuniões individuais, coletivas, eventos e projetos escolares, valorizando essas atividades e prestigiando esse contexto importante de vida da criança; Assumir a escola como parceira na educação de seu filho e buscar compreender os processos; Participar de eventos formativos e informativos. Projeto AABB Comunidade no contraturno das crianças com a participação de familiares Sobral_Miolo - Revisado.indd 130-131Sobral_Miolo - Revisado.indd 130-131 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 132 133 Formação em serviço para qualificar a práxis Pensando na importância da formação de profes- sores e nos processos de aperfeiçoamento dos seus saberes, considera-se importante e fundamental o processo permanente de aperfeiçoamento necessá- rios à atividade docente no exercício de assegurar ações e práticas reflexivas que promovam apren- dizagens significativas para a criança e para o tra- balho dos professores. Assim, a formação pensa em três fatores relevantes no processo de formação continuada: o cotidiano da escola, as experiências dos professores e o seu saber, para interpretar de maneira eficaz teoria e prática, um processo valio- síssimo quando professor consegue perceber o seu fazer de maneira refletida. Todos os professores titulares da rede que estão à frente dessa modalidade de ensino (Infantil Bebê ao V) participam de forma presencial da formação PARTE VI FORMAR, (RE)FORMAR E (TRANS)FORMAR Formação de professores Sobral_Miolo - Revisado.indd 132-133Sobral_Miolo - Revisado.indd 132-133 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 135134 em serviço que acontece mensalmente. Na ocasião, os professores refletem a sua prática, estudam sobre às novidades e teorias do desenvolvimento infantil, além de receber sugestões de orientações didáticas e oficinas a fim de qualificar ainda mais a prática pedagógica. A partir de um olhar atento para as diretrizes e orientações nacionais e sentindo sob os pés a identi- dade de Sobral, dá-se início à construção de um cur- rículo próprio para a rede municipal de Educação Para apoiar esse processo, em 2020, em parce- ria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e a Escola de Formação Permanente do Magistério e Gestão Educacional – ESFAPEGE, a Secretaria da Educação pretende realizar oficinas para gestores escolares, professores e comunidade em geral para apresentação, divulgação e entendimento das eta- pas de construção do currículo bem como sua fun- cionalidade e finalidade. Além disso, essa mobilização deve integrar a formação mensal continuada dos professores da creche e pré-escola, como também de coordena- dores pedagógicos da mesma modalidade, a fim de fomentar diálogos e exploração do currículo da Educação Infantil de Sobral para orientação da implementação do mesmo em sala de aula e em projetos escolares. Salvo necessário, a construção de material pedagógico de apoio ao professor para que ele possa utilizar comoum recurso em seu pla- nejamento e possa identificar de forma objetiva o que deseja atingir em sua aula. Antes disso, porém, a secretaria realizará ampla consulta pública, possibilitando momentos de es- cuta acerca de uma versão provisória do currículo, documentado no âmbito do Grupo de Trabalho, for- mado por profissionais das escolas de Educação in- fantil da rede municipal. Essa consulta pública ser- virá de parâmetro para a redação da versão final do Documento Curricular de Educação Infantil, bem como de outras ações importantes para a rede como: avaliação, material didático e formações. Infantil. Diante disso, surge a necessidade de docu- mentação de um currículo que reconhece avanços e aponta expectativas de avanço na Educação Infantil no município e de um processo de implementação e validação do mesmo pela comunidade. Esse pro- cesso deve percorrer mais de doze meses, a fim de que as escolas, Secretaria da Educação e comunida- de escolar se apropriem e interpretem concepções e diretrizes trazidas no documento, à luz de seus pro- jetos políticos e pedagógicos. Com apoio da professora, crianças em momento de leitura de livros infantis Sobral_Miolo - Revisado.indd 134-135Sobral_Miolo - Revisado.indd 134-135 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 137136 AUGUSTO, Silvana de O. Ver depois de olhar - a formação do olhar dos professores para os desenhos de crianças. São Paulo: Cortez Editora, 2014. ARIÉS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Tradução de Dora Flaksman, 2 ed. TC Editora: 1981. BAPTISTA, Mônica Correia. A linguagem escrita e o direito à educação na primeira infância. Disponível em http://portal. mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=6673-lingua gemescritaeodireitoaeducacao&Itemid=30192 BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Práticas Cotidianas na Educação Infantil - Bases Para A Reflexão Sobre As Orientações Curriculares. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria da Educação Básica. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Brasília, 2009. Disponível em http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ relat_seb_praticas_cotidianas.pdf. BARROS, Manuel. Memórias Inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003. DANTAS, Heloysa. Entender e atender: o educador poliglota [Palestra proferida no auditório da Faculdade 7 de Setembro, em Fortaleza, em 06 de maio de 2005]. DIDONET, Vital. Não há educação sem cuidado. In.: Pátio Educação Infantil, São Paulo, p.6-9, ano I, abr/jul, 2003. GOULART, Cecilia. Práticas de letramento na educação infantil: o trabalho pedagógico no contexto da cultura letrada. In: TEIAS: Rio de Janeiro, ano 7, nº 13-14, jan/dez 2006 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/ revistateias/article/download/24613/17592. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. ed. São Paulo: Cortez: Brasília, DF: UNESCO, 2000. OLIVEIRA, Zilma R. de; MARANHÃO, Damaris; ABBUD, Ieda; ZURAWSKI, Ma. Paula; FERREIRA, Marisa V. e AUGUSTO, Silvana. O trabalho do professor na Educação Infantil. São Paulo: Editora Biruta, 2019. ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; AMORIM, Katia de Souza; OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Olhando a criança e seus outros: uma trajetória de pesquisa em educação BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, abr. 2002. Disponível em <http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 24782002000100003&lng=pt&nrm=iso>. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394. de 26/12/1996. BRASIL. Ministério da Educação Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 5, de 17 de Dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: CNE, 2009. CARVALHO, Mara Campos. Por que as crianças gostam de áreas fechadas? In: Rossetti-Ferreira, M. C. et al. Os fazeres na Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 1988. CENSO DEMOGRÁFICO 2010. Características da população e dos domicílios. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. Disponível em: <https://biblioteca. ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/93/ cd_2010_caracteristicas_populacao_ domicilios.pdf>. Acesso em: 21 Dez. 2017. infantil. Psicol. USP, São Paulo, v. 20, n. 3, p. 437-464, set. 2009. Disponível em http://pepsic. bvsalud.org/pdf/psicousp/v20n3/v20n3a08.pdf PREFEITURA MUNICIPAL DE SOBRAL. História. Disponível em <http://www.sobral. ce.gov.br/site_novo/index.php/a-cidade/ historia>. Acesso em: 21 Dez. 2017. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Comissão Municipal de Elaboração e Acompanhamento do Plano Municipal pela Primeira Infância – PMPI. Plano Municipal pela Primeira Infância. SOBRAL. Lei nº 1477, de 24 de junho de 2015. Aprova o Plano Municipal de Educação – PME do Município de Sobral e dá outras providências. Câmara Municipal de Sobral, Sobral, 2015. TEIXEIRA, André. Sobral sediou experiência que prova teoria da relatividade, que faz 100 anos. 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/ ceara/noticia/2015/11/sobral-sediou-experiencia- que-prova-teoria-da-relatividade-que-faz- 100-anos.html. Acesso em: 01 Jun. 2018. ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998. Referências Sobral_Miolo - Revisado.indd 136-137Sobral_Miolo - Revisado.indd 136-137 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 Sobral_Miolo - Revisado.indd 138-139Sobral_Miolo - Revisado.indd 138-139 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 APOIO NA IMPRESSÃO: Sobral_Miolo - Revisado.indd 140Sobral_Miolo - Revisado.indd 140 10/01/2020 19:1110/01/2020 19:11 5a257b3d17b7181cd8bb8460e4a9e1764b49c343493802aa1239e060952921df.pdf 5a257b3d17b7181cd8bb8460e4a9e1764b49c343493802aa1239e060952921df.pdf 5a257b3d17b7181cd8bb8460e4a9e1764b49c343493802aa1239e060952921df.pdf 5a257b3d17b7181cd8bb8460e4a9e1764b49c343493802aa1239e060952921df.pdf