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Capítulo 2 Capítulo 2 Os Danos Causados ao Meio Ambiente 53 Com o advento da Constituição Federal de 1988, a responsabilidade pelos danos causados ao meio ambiente passou a ser disciplinada da seguinte forma: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre- sentes e futuras gerações. (...) § 3.º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obriga- ção de reparar os danos causados. Nos termos do texto constitucional restou estabelecido que o dever de proteger e preservar o meio ambiente é do Poder Público e da coleti- vidade, e que as pessoas, físicas ou jurídicas, são responsáveis civil, administrativa e penalmente pe- las condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. 54 Conforme a natureza dos ilícitos praticados e do objeto jurídico tutelado, a responsabilidade pelos danos causados ao meio ambiente sujeita seus infratores às sanções de natureza civil, ad- ministrativa e penal. Segundo aponta Celso Antônio Pacheco Fiorillo a Constituição Federal de 1988 “consagrou a regra da cumulatividade das sanções”, pois as sanções civis, administrativas e penais, “além de protegerem objetos distintos, estão sujeitas a regimes jurídicos diversos22”. Na medida em que tutelam objetos dis- tintos e sujeitam-se a regimes jurídicos diversos, podem ser cumuladas sem violar o princípio do “non bis in idem”, isto é, de que ninguém deve ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Uma determinada pessoa que causa dano ao meio ambiente pode ser responsabilizada, si- multaneamente, nas esferas civil, administrativa e penal pela conduta ou atividade lesiva praticada. Em caso análogo, no julgamento do Recuso Especial nº 677.585/RS, a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, ressaltou o seguinte: 22 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 50. 55 RECURSO ESPECIAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA ANTECIPADA. TRANSPORTADORAS DE VEÍCULOS. “CEGONHEIROS”. INDÍCIOS DE ABUSO DE PODER ECONÔMICO E FORMAÇÃO DE CARTÉIS. Em recente decisão do Superior Tribunal de Justiça, proferida nos autos do REsp 1.132.682 (acórdão ainda não publicado), prolatada pelo Ministro Herman Benjamin — jurista e doutrina- dor da área ambiental — decidiu que a Petrobras terá de pagar uma multa ao município de Angra dos Reis (RJ), em razão do derramamento de óleo na Baía de Ilha Grande, em que pese a existência de multa prévia aplicada pela União, ratificando assim a possibilidade do “bis in idem” também e especificamente na esfera ambiental. Da análise da doutrina e da jurisprudência, verifica-se, pois, que o artigo 225, §3.º, consagrou em nível constitucional o princípio da autonomia e independência entre os três sistemas de respon- sabilidade civil, administrativa e penal. Em atenção ao texto constitucional, a Lei nº 9.638 de 1981, que dispõe sobre a Política 56 Nacional do Meio Ambiente, seus fins e meca- nismos de formulação e aplicação, e dá outras providências, disciplina a responsabilidade por danos causados ao meio ambiente. Diante da cumulatividade de sanções cada uma das responsabilidades será analisada indivi- dualmente. Porém, antes de tecer considerações sobre a responsabilidade civil, administrativa e penal, cumpre trazer à baila alguns conceitos sobre o dano ambiental. 2.1. O Dano Ambiental O dano, ou seja, as lesões que resultam das atividades degradantes ou que causam im- pacto ao meio ambiente em todas as suas for- mas de acepção (natural, artificial ou cultural, e também do trabalho), e que dá ensejo à respon- sabilização civil, administrativa e penal, quanto ao objeto jurídico tutelado, pode ser material ou patrimonial e imaterial ou extrapatrimonial, e, quanto à titularidade do bem lesado, pode ser individual ou coletivo. 57 O artigo 1.º, “caput” da Lei nº 7.347 de 1985, que disciplina a ação civil pública por danos causados ao meio ambiente, entre ou- tros, dispõe que: Art. 1.º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de res- ponsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: l - ao meio-ambiente; Nos termos do artigo 81, incisos I e II, da Lei nº 8.078 de 1990, o dano ambiental coletivo afeta (i) interesses ou direitos difusos, assim enten- didos, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; e (ii) interesses ou direitos coletivos propriamente ditos, tais como os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base. De acordo com Édis Milaré, o dano am- biental individual afeta, de forma reflexa, a esfera 58 de interesses patrimoniais ou extrapatrimoniais de determinada pessoa23. Aponta, ainda, referido autor que, em certos casos, o dano ambiental pode “refletir-se, material ou moralmente, sobre o patrimônio, os interesses ou a saúde de uma determinada pes- soa ou de um grupo de pessoas determinadas ou determináveis”: o dano ambiental, embora sempre recaia di- retamente sobre o ambiente e os recursos e elementos que o compõem, em prejuízo da coletividade, pode, em certos casos, refletir-se, material ou moralmente, sobre o patrimônio, os interesses ou a saúde de uma determinada pessoa ou de um grupo de pessoas determinadas ou determináveis. (...) A doutrina leciona que os danos ambientais coletivos ‘dizem respeito aos sinistros causados ao meio ambiente lato sensu, repercutindo em 23 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p. 869. 59 interesses difusos, pois lesam diretamente uma coletividade indeterminada ou indeterminá- vel de titulares. Os direitos decorrentes dessas agressões caracterizam-se pela inexistência de uma relação jurídica base, no aspecto subjetivo, e pela indivisibilidade (ao contrário dos danos ambientais pessoais) do bem jurídico, diante do aspecto objetivo’. (...) Quando, ao lado da coletividade, é possível iden- tificar um ou alguns lesados em seu patrimônio particular, tem-se o dano ambiental individual, também chamado dano ricochete ou reflexo (...). A vítima do dano ambiental reflexo pode buscar a reparação do dano sofrido, no âmbito de uma ação indenizatória de cunho individual, fundada nas regras gerais que regem o direito de vizinhan- ça. (Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª Edição. Editora Revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p. 868/869) 60 Helita Barreira Custódio ensina que o dano ambiental decorre da poluição do ar, da água, do solo, dos alimentos, e das bebidas em geral, da de- gradação da flora, da fauna, dos recursos hídricos e da destruição progressiva dos recursos naturais e culturais, caracterizada pelo uso nocivo e irracio- nal da propriedade imobiliária e demais condutas lesivas ao meio ambiente, que colocam em perigo a própria sobrevivência humana, bem como de atos contrários à moral e aos bons costumes24. 2.2. O Dano Moral Diz-se que o dano ambiental pode ser material ou patrimonial e, imaterial ou extrapa- trimonial, e ainda, individual ou coletivo. O dano material, conforme visto, ocorre quando um bem ambiental, isto é, os recursos naturais, artificiais e culturais são degradados, ou, quando é colocada em risco a saúde das presentes e 24 CUSTÓDIO, Helita Barreira. Uma Introdução à Responsabilidade Civil por Dano Ambiental. Disponível em: <http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/ceama/material/doutrinas/esgota-mento/uma_introducao_a_r esponsabilidade_civil_por_dano_ambien- tal.pdf> Acesso em: 12/12/2011. http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/ceama/material/doutrinas/esgotamento/uma_introducao_a_r http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/ceama/material/doutrinas/esgotamento/uma_introducao_a_r http://esponsabilidade_civil_por_dano_ambiental.pdf http://esponsabilidade_civil_por_dano_ambiental.pdf 61 futuras gerações, e o moral, quando lesado direitos inerentes à personalidade da pessoa humana. Por sua vez, o dano ambiental material é coletivo quando afeta diretamente uma coletivida- de indeterminada ou indeterminável de titulares, mas também pode ser individual, quando recai reflexamente sobre o patrimônio, os interesses ou a saúde de uma determinada pessoa25 Diante do caráter transindividual e indivi- sível dos direitos difusos e coletivos, há discussão acerca da existência de um dano moral coletivo. Para a doutrina o dano moral pode ser individual e ainda coletivo. Na jurisprudência há divergência. É pacífico hoje tanto na primeira quanto na segunda turma do STJ, que compõem a Primeira Seção (Direito Público e Previdenciário), que é passível de condenação em dano moral coletivo na seara ambiental, destacando-se neste sentido trecho da ementa do AgInt no REsp 1.532.643/ SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, 23.10.2017): “ConsoanteentendimentodoSTJ, “a restauração in natura nem sempreésuficienteparareverterou re- compor integralmente, no terreno da responsabili- dade civil, o dano ambiental causado, daí não exau- 25 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p. 868/869. 62 rir ouniverso dos deveresassociadosaosprincípios do poluidor-pagadoreda reparação in integrum. A reparação ambiental deve ser feita da formamais completapossível, de modo que a condenação a recuperaraárea lesionada nãoexclui o dever de indenizar, sobretudo pelo dano que permanece entre a sua ocorrência e o pleno restabelecimen- to do meio ambiente afetado (= dano interino ouintermediário),bemcomopelo dano moral cole- tivo e pelo dano residual (= degradação ambiental que subsiste, não obstante todos os esforçosderest auração)”(STJ,REsp 1.180.078/MG, Rel. Ministro HERMANBENJAMIN,SEGUNDATURMA,D Jede28/02/2012).Emigual sentido:STJ,AgIntno REsp 1.196.027/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA,PRIMEIRATURMA,DJe de 27/03/2017; REsp 1.255.127/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 12/09/2016. Ao discordar do entendimento firmado pela Primeira Turma, transcreve as duas ementas exaradas nos recursos especiais nº 598.281/MG e n.º 821.891/RS, e destaca o voto proferido pelo Ministro Luiz Fux, cujo texto ora se copia: 63 Sobre a indenizabilidade do dano moral coletivo destaque-se, pela juridicidade de suas razões, os fundamentos desenvolvidos pelo Ministro Teori Zavascki, no voto-vencedor do RESP 598.281/ MG, perfeitamente aplicáveis à hipótese in foco: ‘2. O dano ambiental ou ecológico pode, em tese, acarretar também dano moral — como, por exemplo, na hipótese de destruição de ár- vore plantada por antepassado de determinado indivíduo, para quem a planta teria, por essa razão, grande valor afetivo. Todavia, a vítima do dano moral é, necessaria- mente, uma pessoa. Não parece ser compatível com o dano moral a idéia da “transindividua- lidade” (= da indeterminabilidade do sujeito passivo e da indivisibilidade da ofensa e da re- paração) da lesão. É que o dano moral envolve, necessariamente, dor, sentimento, lesão psíqui- ca, afetando “a parte sensitiva do ser humano, como a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas” (Clayton Reis, Os Novos Rumos da Indenização do Dano Moral, Rio de Janeiro: Forense, 64 2002, p. 236), “tudo aquilo que molesta grave- mente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua perso- nalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado” (Yussef Said Cahali, Dano Moral, 2ª ed., São Paulo: RT, 1998, p. 20, apud Clayton Reis, op. cit., p. 237). Nesse sentido é a lição de Rui Stoco, em seu Tratado de Responsabilidade Civil, 6ª ed., São Paulo: RT, que refuta a assertiva segundo a qual ‘sempre que houver um prejuízo ambiental ob- jeto de comoção popular, com ofensa ao sen- timento coletivo, estará presente o dano moral ambiental’ (José Rubens Morato Leite, Dano Ambiental: do individual ao extrapatrimonial, 1ª ed., São Paulo: RT, 2000, p. 300, apud Rui Stoco, op. cit., p. 854): ‘No que pertine ao tema central do estudo, o primeiro reparo que se impõe é no sentido de que não existe ‘dano moral ao meio ambiente’. Muito menos ofensa moral aos mares, rios, à Mata Atlântica ou mesmo agressão moral a 65 uma coletividade ou a um grupo de pessoas não identificadas. A ofensa moral sempre se dirige à pessoa en- quanto portadora de individualidade própria; de um vultus singular e único. Os danos morais são ofensas aos direitos da personalidade, assim como o direito à imagem constitui um direito de personalidade, ou seja, àqueles direitos da pessoa sobre ela mesma. (...) A Constituição Federal, ao consagrar o direito de reparação por dano moral, não deixou margem à dúvida, mostrando-se escorreita sob o aspecto técnico-jurídico, ao deixar evidente que esse dever de reparar surge quando descumprido o preceito que assegura o direito de resposta nos casos de calúnia, injúria ou difamação ou quando o sujeito viola a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5.º, incisos V e X), todos estes atributos da personalidade. 66 Ressuma claro que o dano moral é personalís- simo e somente visualiza a pessoa, enquanto detentora de características e atributos próprios e invioláveis. Os danos morais dizem respeito ao foro íntimo do lesado, pois os bens morais são inerentes à pessoa, incapazes, por isso, de subsistir sozinhos. Seu patrimônio ideal é marcadamente individual, e seu campo de incidência, o mundo interior de cada um de nós, de modo que desaparece com o próprio indivíduo. (...) Dúvida, portanto, não pode ressumir de que a natureza e o meio ambiente podem ser degra- dados e danificados. Esse dano é único e não se confunde com seus efeitos, (...). Do que se conclui mostrar-se impróprio, tanto no plano fático como sob o aspecto lógico- -jurídico, falar em dano moral ao ambiente, sendo insustentável a tese de que a degradação do meio ambiente por ação do homem conduza, através da mesma ação judicial, à obrigação de 67 reconstituí-lo, e, ainda, de recompor o dano mo- ral hipoteticamente suportado por um número indeterminado de pessoas. Se para a Primeira Turma, “o dano moral deve ser vinculado à noção de dor, de sofrimento psíquico, de caráter individual”, e portanto, “é incompatível com a noção de transindividualidade (indeterminabilidade do sujeito passivo e indivisibilidade da ofensa e da reparação)”, para a Ministra Eliana Calmon, não é “essencial à caracterização do dano moral coletivo prova de que houve dor, sentimento, lesão psíquica, afetando ‘a parte sensitiva do ser humano, como a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas’”. Sustenta a tese de que o dano moral deve ser averiguado de acordo com as caracterís- ticas próprias aos interesses difusos e coletivos, distanciando-se quanto aos caracteres próprios das pessoas físicas que compõe determinada co- letividade ou grupo determinado ou indetermi- nado de pessoas, sem olvidar que é a confluência dos valores individuais que dão singularidade ao valor coletivo. As relações jurídicas caminham para uma massificação e a lesão aos interesses de massa não podem ficar sem reparação. 68 Para refutar a tese de que não há dano moral coletivo, a Ministra também colaciona far- ta doutrina acerca do tema, cujo texto para fins didáticos se aproveita e se transcreve: Nadoutrina, já há vários pronunciamentos pela pertinência e necessidade de reparação do dano moral coletivo. José Antônio Remédio, José Fernando Seifarth e José Júlio Lozano Júnior informam a evolução doutrinária: Diversos são os doutrinadores que sufragam a essência da existência e reparabilidade do dano moral coletivo: Limongi França sustenta que é possível afirmar a existência de dano moral ‘à coletividade, como sucederia na hipótese de se destruir algum ele- mento do seu patrimônio histórico ou cultural, sem que se deva excluir, de outra parte, o refe- rente ao seu patrimônio ecológico’. Carlos Augusto de Assis também corrobora a posição de que é possível a existência de dano moral em relação à tutela de interesses difusos, indicando hipótese em que se poderia cogitar de 69 pessoa jurídica pleiteando indenização por dano moral, como no caso de ser atingida toda uma categoria profissional, coletivamente falando, sem que fosse possível individualizar os lesados, caso em que se ria conferida legitimidade ativa para a entidade representativa de classe pleitear indenização por dano moral. A sustentar e esclarecer seu posicionamento, aponta Carlos Augusto de Assis, a título de exemplo: ‘Imagine-se o caso de a classe dos advogados sofrer vigorosa campanha difama- tória. Independente dos danos patrimoniais que podem se verificar (e que também seriam de difícil individualização) é quase certo que os advogados, de uma maneira geral, experimen- tariam penosa sensação de desgosto, por ver a profissão a que se dedicam desprestigiada. Seria de admitir que a entidade de classe (no caso, a Ordem dos Advogados do Brasil) pedisse indeni- zação pelo dano moral sofrido pelos advogados considerados como um todo, a fim de evitar que este fique sem qualquer reparação em face da indeterminação das pessoas lesadas. 70 Carlos Alterto Bittar Filho leciona: ‘quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade (maior ou menor), idealmente considerado, foi agredido de ma- neira absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico’. Assim, tanto o dano moral coletivo indivisível (gerado por ofensa aos interesses difusos e co- letivos de uma comunidade) como o divisível (gerado por ofensa aos interesses individuais homogêneos) ensejam reparação. Doutrinariamente, citam-se como exemplos de dano moral coletivo aqueles lesivos a inte- resses difusos ou coletivos: “dano ambiental (que consiste na lesão ao equilíbrio ecológico, à qualidade de vida e à saúde da coletividade), a violação da honra de determinada comunidade (a negra, a judaica etc.) através de publicidade abusiva e o desrespeito à bandeira do País (o qual corporifica a bandeira nacional). (in Dano moral. Doutrina, jurisprudência e legislação. São Paulo: Saraiva, 2000, pp. 34-5). 71 Pela doutrina e pela tese defendida pela Ministra Eliana Calmon, parece que o dano mo- ral deve ser reparado quando em razão de um dano ambiental houver ofensa aos interesses de uma coletividade. 2.3. A Responsabilidade Civil No ordenamento jurídico pátrio há três princípios que orientam a responsabilização civil por danos ambientais. Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro (ECO 92), restou estabele- cido o seguinte: Os Estados devem desenvolver legislação nacio- nal relativa à responsabilidade e indenização das vítimas de poluição e outros danos ambientais. (Princípio da responsabilidade ambiental – prin- cípio nº 13) Tendo em vista que o poluidor deve, em princí- pio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais, devem procurar pro- 72 mover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais. (Princípio do poluidor pagador – princípio nº 16) De modo a proteger o meio ambiente, o prin- cípio da precaução deve ser amplamente obser- vado pelos Estados, de acordo com suas capaci- dades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não dever ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental (Princípio da Precaução – princípio nº 15) A responsabilidade civil tem como pressu- postos os princípios da precaução ou prevenção, do poluidor-pagador, e da responsabilidade integral pelos danos causados ao meio ambiente. Como um dos objetivos fundamentais do Direito Ambiental é prevenir a atividade da- nosa aos bens jurídicos tutelados, o princípio da prevenção ou precaução objetiva coibir práticas potencialmente lesivas ao meio ambiente, para 73 que os riscos inerentes às determinadas atividades sejam mitigados26. Por sua vez, o princípio do poluidor-pa- gador objetiva assegurar que o beneficiário da ati- vidade responda pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes, para evitar que o dano ambiental fique sem reparação27. Por força do §3.º, do artigo 225, da Constituição Federal, e do §1.º, do artigo 14, da Lei nº 6.938 de 1981, a lesão causada ao meio ambiente deve ser reparada na sua integralidade. Ainda que não seja possível a reparação do dano, será sempre devida a indenização pecuniária cor- relata ao evento danoso28. São dois os tipos de reparação do dano ambiental. A reparação específica ou in natura e a indenização. O dever de indenizar no Direito Ambiental, não exclui a reparação específica do dano ambiental29. 26 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p. 956. 27 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p. 956-957. 28 Idem. p. 957. 29 FIORILLO, Celso Antônio Pachecco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. Editora Saraiva: São Paulo, 2007. p. 35/36.
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