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Autora: Profa. Tercia de Tasso Moreira Pitta Colaborador: Prof. Alexandre Ponzetto Didática Específica Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 Professora conteudista: Tercia de Tasso Moreira Pitta Nascida em Fortaleza, mora em São Paulo desde 1979. É mestre em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2005), e possui especializações em Psicopedagogia, pela Universidade São Marcos (1995), e em Psicopedagogia Clínica, pela Escola Psicopedagógica Buenos Aires – EPSIBA (2000). É graduada em Pedagogia (licenciatura plena), pela Faculdade São Marcos (1989). Atualmente, cursa especialização em Educação a Distância pela Universidade Paulista (UNIP). Possui experiências na área de Educação e Arte, com ênfase em Educação, tendo atuado nos seguintes temas: artes, interdisciplinares, educação, desenho animado, história da fotografia, imagética, entre outros. Atua na área educacional desde 1989 e é professora da UNIP desde 2010, onde, além de ministrar aulas, é vice-coordenadora do curso de Pedagogia EaD – UNIP Interativa. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P688a Pitta, Tércia de Tasso Moreira. Didática específica. / Tércia de Tasso Moreira Pitta. – São Paulo: Editora Sol, 2015. 60 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2-110/15, ISSN 1517-9230. 1. Didática específica. 2. Artes visuais. 3. Dimensão pedagógica. I.Título CDU 7.01 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Cristina Z. Fraracio Virgínia Bilatto Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 Sumário Didática Específica APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 1 CONCEPÇÕES E TEORIAS SOBRE O ENSINO E A APRENDIZAGEM .................................................9 1.1 O que é ensinar ........................................................................................................................................9 2 CONCEPÇÃO BEHAVIORISTA DE APRENDIZAGEM ............................................................................. 14 3 CONCEPÇÃO CONSTRUTIVISTA DE APRENDIZAGEM ........................................................................ 16 4 CONCEPÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA-CULTURAL DA APRENDIZAGEM .............................................. 21 5 USO DA DIDÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE ARTES VISUAIS ...... 24 6 MÉTODOS DE ENSINO NAS ARTES VISUAIS .......................................................................................... 27 7 O ENSINO DAS ARTES VISUAIS .................................................................................................................. 29 7.1 Ensino da arte para brasileiros ........................................................................................................ 33 8 DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA SALA DE AULA ...................................................................................... 36 8.1 A aula – imersão em sala de aula .................................................................................................. 36 8.2 Dimensão didática organizacional ................................................................................................ 38 8.3 Dimensão crítico-dialógica em sala de aula ............................................................................. 41 7 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 APRESENTAÇÃO A disciplina de Didática Específica enfoca os estudos a respeito de um dos aspectos da ciência da Educação, a Didática. Ela é capaz de verificar e compreender os sujeitos e as ações que levam à aprendizagem, além de ser uma ciência dialogicamente elaborada, pois é preciso considerar a linguagem, a subjetividade e a historicidade que formam um conjunto de processos implicados nas ações pedagógicas. É uma ciência autônoma, com uma linguagem que lhe é peculiar. O presente material discute como o professor poderá utilizar a teoria que norteia o fazer pedagógico, de que forma trabalhar com os conteúdos, estabelecendo objetivos para o bom desenvolvimento de uma aula. Será possível conhecer alguns teóricos que estudaram o processo de desenvolvimento cognitivo nas principais fases de desenvolvimento da criança e do adolescente, como Vygotsky, Piaget, Fernandez Demo, Gadotti entre outros. Diante das teorias da Didática, você terá noção do planejamento de uma aula e de quais fundamentos a estruturam, bem como de onde vem um planejamento e como ele é elaborado. Você terá oportunidade de verificar um plano de aula cujo conteúdo se refere a um grande pintor, para que o aluno tenha acesso à linguagem, ao exercício do fazer pedagógico e às várias possibilidades da construção do conhecimento. INTRODUÇÃO Caro aluno, Neste livro-texto você encontrará subsídios para o direcionamento de sua aprendizagem sobre o ensino de Artes Visuais, tendo como foco a didática específica, que o auxiliará no entendimento do posicionamento do professor em sala de aula ao lidar com uma turma heterogênea como as presentes em um ambiente escolar. A disciplina Didática Específica possui como objetivo geral a problematização do ensino de Artes Visuais e manifestações artísticas, discutindo encaminhamentos didático-teórico- metodológicos e propiciando contextos para que: a) o aluno compreenda a importância de seu papel social como profissional do ensino da Arte em diferentes contextos e realidades brasileiras; b) por meio de discussões teórico-práticas, o aluno reflita criticamente sobre como ser professor de Artes Visuais e se torne competente para idealizar instrumentos que contribuam para sua futura atividade docente. Um dos objetivos específicos desta disciplina é propiciar condições ao aluno para que ele tenha condições de a) familiarizar-se com as diferentes práticas pedagógicas em relação às manifestações culturais; b) compreender a importância de orientar as práticas discursivas em sala de aula, de modo a possibilitar o desenvolvimento do aluno como cidadão crítico, capaz de discutir e argumentar em relação a assuntos que circulam nas diferentes esferas sociais;c) identificar e analisar diferentes estratégias didáticas para a abordagem dos conteúdos específicos das artes; d) planejar atividades 8 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 didáticas orientadas pela concepção sociointeracionista de ensino-aprendizagem; e) planejar e discutir a avaliação do ensino-aprendizagem em Artes Visuais. De acordo com Santos (2000), para entender a prática enquanto práxis é preciso compreender que a teoria e a prática são necessidades de igual importância. Portanto, a formação de um indivíduo não pode ser constituída de forma mecânica para a execução de um trabalho produtivo, e sim basear-se na interação e na dialogicidade, necessárias para o aprofundamento do fazer reflexivo e refletido. Passini, Passini e Malysz (2007, p. 29) afirmam que “tanto durante a formação do professor como posteriormente, na sua atuação em sala de aula, é indissociável a produção constantemente articulada entre teoria e prática [...]”. Esse binômio deve estar aliado a uma atitude de pesquisa por parte do professor. Dessa forma, levantaremos estudos e discussões sobre o ato de ensinar Artes Visuais, com o objetivo de fazer com que o aluno consiga despertar seu olhar crítico e idealizar metodologias e instrumentos que possam ser utilizados em sua prática. Num primeiro momento, discutiremos o que é ensinar, refletindo sobre essa prática nos dias atuais, e pensaremos na missão do professor. A concepção behaviorista de aprendizagem também será discutida, e pensaremos no ensino tecnicista, tão trabalhado por Skinner (1957). Estudaremos ainda Piaget em suas concepções construtivistas sobre a cognição do ser humano, a concepção sócio-histórica-cultural da aprendizagem, defendida pelo teórico desta abordagem, Vigostsky (apud MOREIRA,1999), e a importante zona de desenvolvimento proximal. 9 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA 1 CONCEPÇÕES E TEORIAS SOBRE O ENSINO E A APRENDIZAGEM 1.1 O que é ensinar O ato de ensinar pode ser considerado como parte do cotidiano de uma instituição de ensino direcionada a qualquer público, bem como estar relacionado ao dia a dia das pessoas. Por isso, poucas vezes você já deve ter se perguntado: o que é ensinar? Seria o ato de transmissão do conhecimento? Ou vai além disso? Tem como se aprender a ensinar? Figura 1 – Jean Monet (1867 – 1913) – His Hobby Horse Antes de falarmos sobre aprender e ensinar, leremos o diálogo entre duas irmãs: — Vou aprender a nadar – diz Sivina com a alegria de seus seis anos recém-feitos. — Vais nadar? – intervém a irmã, três anos mais jovem. — Não, vou aprender a nadar. — Eu também vou brincar na piscina. — Não é o mesmo. Eu vou aprender a nadar, diz Silvina. — O que é aprender? — Aprender é... como quando papai me ensinou a andar de bicicleta. Eu queria muito andar de bicicleta. Então ... papai me deu uma bici... menor do que a dele. Me ajudou a subir. A bici sozinha cai, tem que segurar andando... 10 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA — Eu fico com medo de andar sem rodinhas. — Dá um pouco de medo, mas papai segura a bici. Ele não subiu na sua bicicleta grande e disse “assim se anda de bici...” Não, ele ficou correndo ao meu lado sempre segurando a bici... muitos dias e, de repente, sem que eu me desse conta disso, soltou a bici e seguiu correndo ao meu lado. Então, eu disse: Ah! Aprendi! Uma mulher que escutava a conversa de longe não pôde deixar de ver a alegria com que foi pronunciado “aprender”, que se transfere para o corpo da mais moça e surge no brilho de seus olhos. — Ah! Aprender é quase tão lindo quanto brincar – respondeu. — Sabe, papai não fez como na escola. Ele não disse “Hoje é o dia de aprender a andar de bicicleta”. Primeira lição: andar direito. Segunda lição: andar rápido. Terceira lição: dobrar. Não tinha um boletim onde anotar: muito bem, excelente, regular... porque, se tivesse sido assim, não sei, algo nos meus pulmões, no meu estômago, no coração não me deixaria aprender. A mulher, uma psicopedagoga que presenciava a cena, nunca havia escutado, nem lido, nem conseguido escrever uma explicação tão acertada do ato de ensinar e aprender, que hoje quer compartilhar algo do que essas meninas permitiram-lhe pensar. Fonte: Fernandez (2001, p. 28). A história relatada é verídica e foi motivo de discussão no grupo terapêutico psicopedagógico no qual Alicia Fernandez se reunia com profissionais brasileiros. Discutiu-se o quanto essas duas ações estão unidas – aprender e ensinar – e que não podemos pensar em uma sem a outra. Silvina precisou nomear o pai como pessoa que ensina para contar sobre o seu aprendizado e nesse momento ela falou da confiança que teve nele ao ensiná-la e da confiança e crédito que ele depositou nela; a alegria que ambos viveram naquele instante foi dimensionada nesse ato – de quem ensina e de quem aprende. Contudo, há diferenças que se estabelecem no prazer e alegria de aprender. Há distinção nas ações de ambos, pois, como afirma Fernandez (2001, p. 29): “O ensinante entrega algo, mas para poder apropriar-se daquilo o aprendente necessita inventá-lo de novo. É uma experiência de alegria, que facilita ou perturba, conforme se posiciona o ensinante”. É possível afirmar que, mais do que o ato de transmissão do conhecimento, ensinar envolve dar subsídios ao aluno para que ele eleve o conhecimento adquirido a um nível de compreensão da realidade. Considera-se o ensino como uma via de mão dupla, configurando-se o ensinar como o caminho de ida, enquanto a aprendizagem é o caminho de volta, sendo, portanto, um processo. Para que o caminho de volta seja feito com eficiência, necessário se faz que o ato de ensinar seja bem-sucedido. 11 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Observação Rubens Alves, em entrevista ao Portal Brasil (RUBEM, 2011), afirmou: “A missão do professor não é dar respostas prontas. É provocar a inteligência, o espanto, a curiosidade”. De acordo com Paulo Freire, para que se possa ensinar é de grande importância que se tenha conhecimento prático sobre o assunto: O ato de cozinhar, por exemplo, supõe alguns saberes concernentes ao uso do fogão, como acendê-lo, como equilibrar para mais, para menos a chama, como lidar com certos riscos mesmo remotos de incêndio, como harmonizar os diferentes temperos numa síntese gostosa e atraente. A prática de cozinhar vai preparando o novato, ratificando alguns daqueles saberes, retificando outros, e vai possibilitando que ele vire cozinheiro. A prática de velejar coloca a necessidade de saberes fundantes como o do domínio do barco, das partes que o compõem e da função de cada uma delas, como o conhecimento dos ventos, de sua força, de sua direção, os ventos e as velas, a posição das velas, o papel do motor e da combinação entre motor e velas. Na prática de velejar se confirmam, se modificam ou se ampliam esses saberes (FREIRE, 1997, p. 2). Observação Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) foi educador, pedagogista e filósofo brasileiro. Considerado o patrono da educação brasileira, ganhou 41 títulos de doutor honoris causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford. Assim, de acordo com o autor, para que o ensino seja bem-sucedido é necessário esse saber prático. Ressalta-se que todo ato educativo obedece a determinados fins e propósitos de desenvolvimento social e econômico. Em consequência, ele responde a determinados interesses sociais, sustenta-se em uma filosofiaeducativa, adere a concepções epistemológicas específicas, leva em conta os interesses institucionais e, em grande parte, depende das características, interesses e possibilidades dos sujeitos participantes, alunos, professores, comunidades escolares e demais fatores do processo. O que é educar? Do latim, educare, o verbo educar sofreu modificações ao longo dos anos e o seu significado passou ser “alimentar”, “criar”, “sair” e “conduzir para fora” (HAYDT, 2006). Educação tem um caráter social, pois ela é composta por ações que gerações anteriores transmitem aos jovens, além de possuir um rol de 12 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA itens que a completam, como valores, crenças, costumes e conhecimentos de um determinado grupo num contexto histórico social. Vale ressaltar que apesar de tantas reflexões, a situação atual da prática educativa das escolas ainda demonstra a massificação dos alunos, que apresentam pouca ou nenhuma capacidade de resolução de problemas e poder crítico-reflexivo, além de sua padronização, pois devem decorar os conteúdos. Vemos também o ensino-aprendizagem dividido em duas partes e o estabelecimento de uma hierarquia entre educador e educando. A base de um curso de Pedagogia não pode ser a docência. A base de um curso de Pedagogia é o estudo do fenômeno educativo, em sua complexidade, em sua amplitude. Então, podemos dizer: todo trabalho docente é trabalho pedagógico, mas nem todo trabalho pedagógico é trabalho docente (LIBÂNEO, 2006, p. 850). Segundo Libâneo (2001), a Pedagogia é uma ciência e deve ser tratada como tal, porque ela estuda questões de educação, sua história, as ações educativas, as problemáticas decorrentes dessas ações que são transformadoras e modificam os homens socialmente, culturalmente e educacionalmente. Libâneo (2001, p. 10) diz de forma resumida que: A Pedagogia, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico- profissionais investiga a realidade educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. Ela visa ao entendimento, global e intencionalmente dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação. Saiba mais A didática em sala de aula, conforme diz o autor Libâneo (2009, p. 10) “significa saber juntar o conhecimento teórico-científico e as ações mentais próprias desse conhecimento”. Pensar nas teorias e saber aplicá-las é, de certa forma, aprender a pensar teoricamente, ou seja, saber como chegamos aos conceitos, como dominamos os processos mentais, como chegamos às formas desses conceitos e, principalmente, como utilizamos as competências cognitivas; significa dominar os procedimentos metodológicos das ciências para aprender a pensar cientificamente. O autor continua: “A ideia é de que, ensinar hoje consiste considerar a aquisição de conteúdos e as capacidades de pensar como dois processos articulados entre si” (LIBÂNEO, 2009, p.10). 13 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Sugerimos a leitura a seguir: LIBÂNEO, J. C. Conteúdos, formação de competências cognitivas e ensino com pesquisa: unindo ensino e modos de investigação. Cadernos de Pedagogia Universitária, São Paulo, USP, n. 11, out. 2009. Disponível em: <http://www.prg.usp.br/wp-content/uploads/caderno11.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2015. É possível dizer que não há o ensinar sem o aprender, estando esses fenômenos interligados na via de mão dupla que citamos, em constante movimento, podendo-se dizer que o professor quando ensina também aprende. Freire (2002) bem discorre sobre o assunto: Ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender (FREIRE, 2002, p. 25-26). Adotando ponto de vista semelhante ao de Freire (2002), Liblik (2005) afirmam que as práticas de ensino que estão vigentes hoje fazem com que o ato de ensinar tenha somente o caminho de ida garantido, não se confirmando ao certo o caminho de volta. Saiba mais Rubem Alves acredita que o papel do professor é o de ensinar o aluno a pensar, provocando a curiosidade da criança ou adolescente. Portanto, recomendamos que você assista ao vídeo: RUBEM Alves – o papel do professor. Revista Digital: Personagens. Prod. Portal Brasil. Brasília: Governo Federal, 2011. 10 minutos. Disponível em: <http://www.tvmpf.mpf.mp.br/videos/322>. Acesso em: 15 jul. 2015. Já Mantoan (2011) afirma que ensinar e aprender são dois processos absolutamente independentes, e que nem tudo dependerá da Didática, pois não seria possível ensiná-la, considerando ser essa disciplina algo desconectado do sujeito e de seu contexto; também não haveria nenhuma outra disciplina que pudesse ensinar o professor a ensinar. Para a autora é necessário criar um espaço crítico, de relações humanas, de troca de saberes, excluindo a visão reducionista de que o professor está no centro do conhecimento. Ensinar, de acordo com Mantoan (2011), não deve ser considerado uma ação técnico- programada, e é necessário que um conteúdo seja ensinado primeiro que outro, devendo também ser algo espontâneo. 14 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA É possível, sim, aprender a ensinar, desde que seja um desejo do professor, e ele aprenderá isso em sua prática. Afinal, um curso de graduação explora muito pouco para desenvolver essa questão, já que se limita aos fundamentos, e o processo educativo não se encerra com o diploma, não sendo ele o que torna as pessoas professores/educadores diferenciados. Saiba mais No vídeo recomendado a seguir, Maria Teresa Eglér Mantoan, da Faculdade de Educação da Unicamp, fala sobre algumas condições necessárias para a qualidade do ensino: ENSINAR e aprender: nem tudo depende da didática. Prod. Univesp TV. São Paulo: Universidade Virtual do Estado de São Paulo, 2011. 13 minutos. Nesse contexto, refletir sobre o processo de ensino se faz fundamental, pois entender o que de fato vem a ser ensinar pode contribuir para que o professor assuma uma posição crítica sobre sua própria postura. Exemplo de aplicação E para você: o que é ensinar? Com qual dos autores citados você mais se identificou? 2 CONCEPÇÃO BEHAVIORISTA DE APRENDIZAGEM Alguma vez você já recompensou uma criança ou um animal por algo que eles tenham aprendido? Ou mesmo os castigou por terem feito diferente do que foi ensinado? Você pode até não saber, mas utilizou a concepção behaviorista de aprendizagem, que procura justamente entender a relação entre estímulos e reações e acredita que o comportamento e a aprendizagem são condicionados por estímulos do ambiente. Essa concepção de aprendizagem foi popularizada por Burrhus Frederic Skinner, com a publicação de sua obra Verbal Behavior. Outros pensadores também foram fundamentais para fixação dessa teoria comportamentalista, como John Watson e Ivan Pavlov, que desenvolveram diferentes experimentos com o intuito de comprovar sua tese. Observação Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) foi autor e psicólogo americano. Ele propôs o behaviorismo radical. 15 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fers on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA A concepção behaviorista de aprendizagem é um tema bastante amplo e não cabe seu aprofundamento neste momento do estudo. O intuito é apenas que vocês percebam que essa estrutura comportamentalista de aprendizagem, por mais que tenha tido seu período de auge na década de 1970 no Brasil – quando predominava o ensino tecnicista –, ainda hoje pode ser vista no cotidiano das pessoas e nas escolas, com a predominância de uma atitude de aprendizagem que considera o esforço, a recompensa, a repetição e o reforço. Conforme menciona Skinner (1957), existem três eventos importantes que devem ser considerados: um estímulo, uma resposta e um reforço. Saiba mais Recomendamos a reportagem a seguir que descreve o experimento de Ivan Pavlov, marcante pela descoberta do condicionamento reflexo: VERSIGNASSI, A. O que é o cão de Pavlov? Mundo Estranho, São Paulo, ed. 11, [s.d.]. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/ o-que-e-o-cao-de-pavlov>. Acesso em: 15 jul. 2015. De acordo com a abordagem behaviorista, cabe ao docente planejar e desenvolver o sistema de ensino- aprendizagem de tal forma que o desempenho do aluno seja ampliado ao máximo, considerando-se igualmente fatores como economia de tempo, esforços e custos. Recorrendo à tradição empírica, o conceito de aprendizagem como descrito por Bransford, Brown e Cocking (2007) é visto da seguinte maneira: Os behavioristas conceituaram a aprendizagem como o processo de estabelecer conexões entre os estímulos e as reações. Consideravam que a motivação para aprender era desencadeada principalmente por impulsos, como a fome, e pela presença de certas forças externas, como recompensas e castigos (BRANSFORD; BROWN; COCKING, 2007, p. 19). Assim, tem-se na concepção behaviorista o comportamento e a aprendizagem como consequências dos estímulos ambientais. A teoria de Skinner é compreendida como uma teoria de aprendizagem a partir dos conceitos de generalização e de discriminação, considerando que em algumas situações o educando precisa generalizar o conhecimento, apoiando-se em determinado aprendizado para diferentes situações, assim como precisa discriminar os estímulos, dando uma resposta específica a cada um deles. Saiba mais Recomendamos a leitura a seguir: SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. 5. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. 16 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Para essa concepção de aprendizagem, o ambiente fornece estímulos, e o indivíduo, por sua vez, oferece respostas, podendo ter de volta recompensa ou reforço, de acordo com a aprendizagem que demonstrou ter a partir de sua resposta. Não se pode dizer que uma teoria é suficiente ou possui uma verdade absoluta sobre a aprendizagem, pois as pessoas pensam e respondem de forma diferente; assim, acredita-se que todas as teorias contribuem, à sua maneira, para o aprendizado. Exemplo de aplicação E você, o que pensa sobre a concepção de aprendizagem proposta no behaviorismo? Você considera possível que o professor saiba antecipadamente quais são os seus desejos como aluno? Quais os pontos positivos e negativos da aprendizagem proposta no behaviorismo? 3 CONCEPÇÃO CONSTRUTIVISTA DE APRENDIZAGEM De acordo com Rego (1997), Jean Piaget, epistemólogo suíço considerado o maior expoente do estudo cognitivo, acredita que o indivíduo constrói a compreensão do mundo, o conhecimento, sozinho. Pioneiro do enfoque construtivista relativo à cognição do ser humano, ele elaborou propostas convincentes para essa teoria. Sua obra é bastante vasta, mas para explicar o princípio de sua importância para a teoria construtivista à cognição humana, é importante analisar os períodos de desenvolvimento mental, por conterem conceitos essenciais de sua teoria cognitivista. Antes de explicar os períodos de desenvolvimento mental, é interessante saber que Piaget propõe o processo de aprendizagem como um período de adaptação, composto por dois processos complementares, a assimilação, que acontece quando um objeto se altera frente à percepção do sujeito, e a acomodação, que depende da assimilação para acontecer e se dá quando o sujeito altera sua estrutura para lidar com o objeto do conhecimento. Saiba mais Recomendamos a leitura a seguir: AZENHA, M. da G. Construtivismo: de Piaget à Emília Ferreiro. São Paulo: Ática, 1993. (Série Princípios). Levando em conta, então, esta interação fundamental entre fatores internos e externos, toda conduta é uma assimilação do dado a esquemas anteriores 17 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA (assimilação a esquemas hereditários em graus diversos de profundidade) e toda conduta é, ao mesmo tempo, acomodação destes esquemas a situação atual. Daí resulta que a teoria do desenvolvimento apela, necessariamente, para a noção de equilíbrio entre os fatores internos e externos ou, mais em geral, entre a assimilação e a acomodação (PIAGET, 2011, p. 89). Ainda para compreender o desenvolvimento cognitivo, Piaget demonstra noções práticas de ações que se desenvolvem nos dois primeiros anos de vida: a noção de objeto, que é a permanência de um objeto em âmbito sensorial, mesmo quando esse objeto não está mais presente; a noção de causalidade, que é a ligação entre a ação do sujeito e o resultado dessa ação; a noção de espaço, que é o espaço único e objetivo onde todos os objetos estão incluídos; e a noção de tempo, pois, entre a ação e o seu resultado, há uma sequência temporal. A partir dessas noções práticas de ações defendidas por Piaget, é possível explicar o desenvolvimento cognitivo, que, para ele, é o processo pelo qual as estruturas da inteligência se constroem progressivamente, por meio de uma contínua interação entre o sujeito e o mundo externo; ele é dividido em períodos que obedecem a uma sequência invariável: o período sensório-motor, o pré-operacional, o operacional- concreto e o operatório-formal. A inteligência não aparece, de modo algum, num dado momento do desenvolvimento mental, como um mecanismo completamente montado e radicalmente diferente dos que o precederam. Apresenta, pelo contrário uma continuidade admirável com os processos adquiridos ou mesmo inatos respeitantes à associação habitual e ao reflexo, processos sobre os quais ela se baseia, ao mesmo tempo que os utiliza (PIAGET, 1986, p. 23). O período sensório-motor compreende, aproximadamente, os dois primeiros anos de vida da criança e é marcado pela ausência da função simbólica. Nesse período, a inteligência trabalha com as percepções de ação e deslocamento do próprio corpo da criança: A criança, neste estágio, não diferencia o seu eu do meio que a rodeia: ela é o centro e os objetos existem em função dela. Suas ações não são coordenadas, cada uma delas é ainda algo isolado e a única referência comum e constante é o próprio corpo da criança, decorrendo daí um egocentrismo praticamente total. Tudo o que a criança vê é uma extensão do seu próprio corpo (MOREIRA, 1999, p. 96). É nesse período que a criança apresenta comportamentos reflexos: tudo o que ela faz advém de reflexos, por apresentar pouca organização dos movimentos de seu corpo. 18 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Figura 2 – O período sensório-motor compreende, aproximadamente, os dois primeiros anos de vida da criança O período pré-operacional se manifesta aproximadamente entre os dois primeiros anos de vida até os seis ou sete anos. É a partir desse período que a criança apresenta a função simbólica, já vista por Brunet,em sua Teoria do Desenvolvimento Intelectual. A função simbólica, presente nesse período, é manifestada por uma imitação diferida, pois ainda não é presente na criança a noção de imitação. A criança também apresenta o que Piaget denomina de “jogo simbólico”, o qual é conhecido como brincadeiras de “faz de conta”. Esse período também é marcado pela evolução de comportamentos e apresenta, ainda, a irreversibilidade de pensamento: Seu pensamento começa a se organizar, mas não é ainda reversível, isto é, não é capaz de percorrer um caminho cognitivo e, após, percorrê-lo mentalmente em sentido inverso, de modo a reencontrar o ponto de partida não modificado. Sua atenção volta-se para os aspectos mais atraentes dos acontecimentos e suas conclusões são também as mais atraentes perceptualmente (MOREIRA, 1999, p. 97). A partir do sexto ou sétimo ano de vida a criança passa para o período operacional-concreto, que se manifesta até, aproximadamente, os onze anos de idade. Nesse período, a criança começa a pensar sobre o que faz, há a presença de reversibilidade de pensamento, a criança também adquire à noção de conservação de massa, líquido etc. A criança, também nesse período, resolve diversas situações, passa a enfrentá-las: Durante este período, a criança ganha precisão no contraste e comparação de objetos reais e torna-se capaz, por exemplo, de predizer qual o recipiente que contém mais água. [...] Ela não é ainda capaz de operar com hipóteses, com as quais poderia raciocinar independentemente de saber se são falsas ou verdadeiras. A criança recorre a objetos e acontecimentos concretos, presentes no momento. Somente de maneira limitada é que seu sistema operacional-concreto a leva em direção ao ausente (MOREIRA, 1999, p. 98). 19 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Ainda nesse período, a criança se utiliza de signos, consegue compreender sua utilização na linguagem, já que seu sistema cognitivo passa a ter mais coerência. Essa é a fase ideal para a alfabetização, é o momento de investir na criança em termos de cursos de aprendizagem como música, esportes, artes, pois sua atenção estará totalmente voltada para o que realiza. A partir dos onze anos de idade, Piaget classifica o período como operacional-formal, manifestando-se até a fase adulta. O adolescente, aqui, liberta-se do objeto, e o pensamento passa a ser hipotético e dedutivo, já formulando proposições para enfrentar os problemas, como coloca Moreira (1999, p. 98): “O adolescente torna-se capaz de fazer raciocínios hipotético-dedutivos. A dedução lógica é um de seus novos instrumentos, ele passa a buscar hipóteses gerais que possam explicar fatos observáveis que tenham ocorrido.” Logo, a característica básica desse período é a capacidade de manejar construções mentais e reconhecer as relações entre essas construções. Esse período, como já foi visto, prolonga-se até a idade adulta, porém, na fase que corresponde à adolescência, a pessoa demonstra uma espécie de egocentrismo: “[...] o adolescente atribui grande poder ao seu próprio pensamento, à sua capacidade de raciocinar formalmente, e julga, muitas vezes, que somente ele está certo” (MOREIRA, 1999, p. 99). Figura 3 – A característica básica da adolescência é a capacidade de manejar construções mentais e reconhecer as relações entre essas construções Com essa breve noção dos períodos de desenvolvimento cognitivo de Piaget, é possível entender como acontece o aprendizado pelo aluno em sala de aula, apesar de Moreira destacar que a teoria de Piaget não é necessariamente uma teoria de aprendizagem: Ocorre que a teoria de Piaget não é propriamente uma teoria de aprendizagem, e sim uma teoria de desenvolvimento mental. Piaget não enfatiza o conceito de aprendizagem, talvez por não concordar com a definição usual de “modificação do comportamento resultante da experiência”. [...] Piaget prefere, então, falar em “aumento do conhecimento”, analisando como isto ocorre: só há aprendizagem (aumento de conhecimento) quando o esquema de assimilação sofre acomodação (MOREIRA, 1999, p. 102). 20 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Ao longo do desenvolvimento mental da criança, é importante frisar que a passagem de um período de desenvolvimento para outro não acontece de maneira abrupta, cada período apresenta as características que têm dominância em determinada faixa etária; no entanto, pode ocorrer, ocasionalmente, que a criança apresente características de período anterior ou posterior à sua fase, sem problemas. Por outro lado, os períodos possuem ordem invariável, isto é, cada qual ocorre em sua fase. O que vale para a formação mental e intelectual do indivíduo não são as idades cronológicas, mas sim experimentar todas as passagens psicológicas de desenvolvimento cognitivo. Observação De acordo com Piaget (1986), fazer é compreender, compreender em ação; sua hipótese é de que a ação constitua um conhecimento autônomo. Moreira (1999) faz algumas implicações para o ensino e aprendizagem da teoria de Piaget, expondo um processo reequilibrador da mente, denominado por Piaget de “equilibração majorante”. O autor explica que: A mente, sendo uma estrutura (cognitiva) tende a funcionar em equilíbrio, aumentando, permanentemente, seu grau de organização interna e de adaptação ao meio. Entretanto, quando esse equilíbrio é rompido por experiências não assimiláveis, o organismo (mente) se reestrutura (acomodação), a fim de construir novos esquemas de assimilação e atingir novo equilíbrio (MOREIRA, 1999, p. 102). Esse processo de reequilibração da mente, para Piaget, é o fator principal na evolução, no desenvolvimento mental e, também, na aprendizagem, ou, como prefere Piaget, no “aumento de conhecimento” da criança. Saiba mais Recomendamos o seguinte vídeo, que descreve as teorias piagetianas sobre o desenvolvimento cognitivo da criança: JEAN Piaget. Roteiro e apresentação: Yves de La Taille (professor livre-docente e chefe do Laboratório de Estudos do Desenvolvimento e da Aprendizagem do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - USP). Brasil: Atta Mídia e Educação, 2006. 57 minutos. (Coleção Grandes Educadores).. Assim como já mencionado, o objetivo de apresentar a Teoria de Desenvolvimento Cognitivo de Piaget é mostrar uma visão geral sobre ela e suas implicações para o ensino e aprendizagem, por isso, 21 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA o foco central esteve nos períodos de desenvolvimento mental propostos pelo autor. É sabido que os estudos desse autor estão além do que foi abordado, tanto no que diz respeito ao detalhamento dos períodos quanto em termos de conceito. Porém, a visão geral cognitiva de seus períodos de desenvolvimento mental é a base para um aprofundamento ideológico dos problemas enfrentados hoje pela maioria dos professores. 4 CONCEPÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA-CULTURAL DA APRENDIZAGEM As diferenças entre as pessoas não envolvem apenas questões individuais, mas também aspectos coletivos que podem ser determinantes na formação de cada ser, como o contexto histórico, social e cultural em que cada um está inserido, havendo inúmeras concepções sobre até que ponto a formação do ser humano é influenciada por esses aspectos. Para Lev Vygotsky (1999), o meio em que um indivíduo está inserido influencia em sua formação, devendo ser considerado para sua aprendizagem. Esse autor via o desenvolvimento cognitivo como dependente das interações com as pessoas e com os instrumentos do mundo da criança, como caneta, lápis, papel, entreoutros. Exemplo de aplicação Você acredita que o indivíduo pode ter a sua formação influenciada pelo meio em que está inserido? Vygotsky, diferentemente de Piaget (que compreendia o equilíbrio como princípio para explicar o desenvolvimento cognitivo), pressupõe que o desenvolvimento cognitivo não existe sem abordar sua inserção no ambiente social, histórico e cultural. De acordo com Moreira (1999, p. 110), Vyotsky entendia que “[...] o desenvolvimento cognitivo do ser humano não pode ser entendido sem referência ao meio social”. Na teoria de Vygotsky, o processo de cognição acontece contrariamente ao processo apresentado por Piaget. Se, para Piaget, é por meio do desenvolvimento cognitivo que o indivíduo se socializa, para Vygotsky é por meio da socialização que o indivíduo desenvolve os processos mentais superiores. E é a partir desse conceito que aparece a mediação na teoria de Vygotsky: segundo o teórico, a internalização de atividades e comportamentos sócio-históricos e culturais ocorre por meio da mediação. Assim, pode-se depreender a ideia de que a conversão das relações sócio-históricas e culturais em funções cognitivas não é realizada de maneira direta, mas sim mediada. Para isso, é necessário incluir o uso de instrumentos e signos, assim denominados por Vygotsky. Moreira (1999, p. 111) explica: “Um instrumento é algo que pode ser usado para fazer alguma coisa; um signo é algo que significa alguma coisa”. Vygotsky ainda defende que não se pode conceituar algo sem se utilizar de um conceito pré- estabelecido. Assim, ele frisa a ideia anterior, que diz que é necessário ao indivíduo socializar-se para obter o conhecimento e, assim, o desenvolvimento da mente. 22 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA No que diz respeito ao ensino e à aprendizagem, a teoria de Vygotsky é satisfatória, pois a aprendizagem é que é necessária para o desenvolvimento, devendo o ensino estar à frente do desenvolvimento cognitivo, dirigindo-o, não sendo efetiva aquela aprendizagem que é orientada para níveis de desenvolvimento já alcançados. Observação Pensador importante em sua área e época, Lev Vygotsky foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Veio a ser descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934, por tuberculose, aos 37 anos. A teoria de Vygotsky, assim como a de Piaget, é uma teoria construtivista, particularmente no sentido de que os instrumentos e signos são construções histórico-sociais e culturais, e a internalização desses instrumentos e signos socialmente construídos pelo indivíduo é uma reconstrução interna em sua mente. Isso caracteriza sua premissa como suficiente para justificar seu estudo. Saiba mais Recomendamos a leitura a seguir: OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento. Um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1993. A escola deve atuar, segundo Vygotsky (1988), despertando os vários processos internos para que o aluno seja capaz de interagir com os outros alunos, pois o ambiente escolar é considerado o espaço ideal para a obtenção do conhecimento científico, e a tarefa principal do professor é a de intermediar o aluno e o objeto de conhecimento. Vygotsky (1988) considera a aprendizagem como a construção de conhecimentos, e não como uma transferência do saber do professor para o aluno, sendo ela um processo de construção de conhecimento, que se dá na interação do aluno com o professor ou com seus pares subjacentes. O autor desenvolveu a teoria da zona de desenvolvimento proximal (ZDP), na qual ele entende que o indivíduo pode realizar sozinho o que teria potencial para realizar, devendo a escola atuar nessa área, para despertar processos internos no momento em que um aluno interage com o outro. A ZDP é a distância entre “o nível de desenvolvimento real da criança, determinado a partir da resolução independente de problemas”, e o nível mais elevado de desenvolvimento potencial, determinado pela “resolução de problemas com a ajuda do adulto ou em colaboração com os seus pares mais capacitados” 23 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA (VYGOTSKY, 1988, p. 86). Atrás de um conhecimento científico existe um sistema de hierarquias em que há uma relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Para o autor, o desenvolvimento e a aprendizagem estão inter-relacionados desde o nascimento da criança, que desde muito pequena passa por uma série de aprendizagens por meio da interação com o meio físico e social. No seu dia a dia, observando, experimentando, imitando e recebendo orientações de pessoas mais experientes de sua cultura, ela vivencia uma série de experiências e poderá operar sobre todo o material cultural (REGO, 1997). Observação Material cultural trata-se de todo o acervo de cultura absorvido pelo indivíduo. De acordo com Rego (1997), Lev Vygotsky, professor e pesquisador, abordou o desenvolvimento cognitivo por um processo de orientação. Em vez de olhar para o final do processo de desenvolvimento, ele debruçou-se sobre o processo em si e analisou a participação do sujeito nas atividades sociais. Ele propôs que desenvolvimento não precede a socialização, pelo contrário, as estruturas sociais e as relações sociais levam ao desenvolvimento das funções mentais. O autor acreditava também que a aprendizagem na criança podia ocorrer por meio do jogo, da brincadeira, da instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e um aprendiz mais experiente. O processo básico pelo qual isso ocorre é a mediação, ou seja, a ligação entre duas estruturas, uma social e uma pessoalmente construída, por meio de instrumentos ou sinais. A influência do meio social é incontestável, haja vista que é por meio das interações sociais que a criança adquire conhecimentos e se desenvolve. Sendo assim, crianças que vivem em subculturas podem entrar em choque com as normas, linguagens e modos de vida diferentes de seu meio, criando, assim, conflitos e ambivalências nessas relações. Vale ressaltar que, apesar de serem as mais afetadas, não são apenas as crianças de subcultura que enfrentam tais problemas, qualquer criança está sujeita a eles. Diante disso, os problemas podem agravar-se caso o professor e os familiares não estejam preparados para lidar com essas situações e passem a discriminar essas crianças, vendo-as como perturbadoras do ambiente e com baixo rendimento escolar. Quando há notáveis diferenças entre as condições e valores do grupo social em que vive o aluno, é possível que ocorram sérias dificuldades para a aprendizagem. Cabe ao professor e aos familiares reverterem essa situação, procurando entender e valorizar o que existe de positivo no aluno. Assim, é interessante que o professor conheça a história de seus alunos, do seu grupo. Pesquisar a vida do aluno também é resolver problemas pedagógicos. Vygotsky preocupou-se em saber quais aspectos da dinâmica da cultura e da sociedade teriam influência no desenvolvimento do sujeito. Esse estudioso chama a atenção para o fato de que as funções no desenvolvimento da criança se dão primeiro em âmbito social e posteriormente, individual. Sendo assim, a partir dessa concepção de aprendizagem, o conhecimento é construído a partir da internalização de signos construídos culturalmente. 24 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA 5 USO DA DIDÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE ARTES VISUAIS Para realizar um trabalho pedagógico com basena Didática, o professor deve ser crítico, perspicaz, conseguindo estimular em seus alunos o mesmo pensamento crítico sem que precise forçar essa situação. Para tanto, ele deve conhecer seu campo de atuação de forma aprofundada, sabendo também como passar conhecimento a seus alunos, motivando-os a interpretar os temas abordados. Um professor que baseia sua atividade na Didática orienta e acompanha seus alunos, mostrando interesse em não somente passar o seu saber, mas também, em receber o conhecimento que cada aluno possui. Etimologicamente, a palavra Didática vem do grego Techné Didaktike que significa arte ou técnica de ensinar, de dirigir e orientar a aprendizagem. Assim, pode-se dizer que a Didática consiste em uma metodologia de ensino pela qual o indivíduo aprende tanto a teoria quanto a prática, dentro de suas necessidades (CAVALCANTI, 1999). De acordo com Castro (2009), o foco da Didática é o ensino e o progresso cognitivo. Acredita-se que ela incentiva um processo de ensino no qual o aluno se depara com a teoria e levanta suas próprias críticas e interpretações, ampliando, assim, seus conhecimentos, fator que foge ao método tradicional, pelo qual o aluno deve acatar simplesmente o que é dito teoricamente. Comenius, Rousseau e Pestalozzi De acordo com Gil (2007), é possível perceber a Didática em obras de Comenius, Jean Jacques Rousseau, Johann Pestalozzi, entre outros pedagogos da época. Os autores citados possuíam um forma de ensino mais à frente das concepções psicológicas dominantes de sua época. Figura 4 – Comenius 25 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Figura 5 – Rousseau Figura 6 – Pestalozzi A partir do século XIX, a Didática começa a evoluir, porém, atendendo aos interesses das classes dominantes, e a criança começa a ser olhada de modo diferente do que era até então. A partir da Revolução Industrial, a criança passa a ser valorizada por ser uma mão de obra barata, e a Didática, que antes se fundamentava apenas na Filosofia, começa a apoiar-se em outras ciências, como a Biologia e a Psicologia, principalmente. Com o início do século XX, a Europa e a América passam por um processo de reforma na educação, e começou-se a buscar uma metodologia de ensino que considerasse os aspectos psicológicos que envolviam o processo de ensino; surgia, assim, a chamada Escola Nova. Também aqui no Brasil, com o advento da Escola Nova, os princípios de atividade, liberdade e individualização passaram a ser valorizados. A visão que se tinha até então acerca da criança foram erradicados, passando-se a valorizar a criança como um ser dotado de capacidade. Vale ressaltar que na época, a Escola Nova sofreu inúmeras críticas, pois não estava em conformidade com o ensino passado pelos professores clássicos. Com a Didática, o ensino passou a focar no pensamento crítico do aluno e em seu poder de interpretação. 26 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Até a década de 1980, predominou o chamado ensino tecnicista, que se resumia em um ensino técnico, por meio do qual o professor apenas passava o conteúdo e os alunos deviam aprender da mesma forma que lhes eram passados. Esse tipo de ensino foi dominante no Brasil durante a Ditadura Militar. A partir da década de 1980, a Didática ganhou novas formas e os educadores começaram a buscar novos meios de ensinar, baseados em um ensino capaz de despertar o interesse dos alunos, associando teoria e prática. A Didática passou a ser centrada não no aluno ou no professor, mas na formação do homem. A educação volta-se para o ser humano e sua realização em sociedade. Pode-se dizer que a Didática no ensino de Artes Visuais é um dos principais alicerces para o professor, pois, trata-se da arte de ensinar e compreende vários fatores que influenciam diretamente no processo de ensino-aprendizagem e na relação professor-aluno. Assim, é de grande importância compreendê-la e buscar seus fundamentos para a prática pedagógica. Se for desejo do professor ter uma boa didática, é necessário que ele aprenda a cada dia a lidar com a subjetividade dos alunos, sua linguagem, suas percepções, sua prática de vida. O professor precisa ter a capacidade de desenvolver problemas, desafios e perguntas que se relacionem com o conteúdo. Dessa forma, ele provocará o interesse dos alunos e proporcionará uma visão crítica sobre o que se aprende. Libâneo (2001, p. 3) elucida que: [...] A didática hoje precisa comprometer-se com a qualidade cognitiva das aprendizagens e esta, por sua vez, está associada à aprendizagem do pensar. Cabe-lhe investigar como pode ajudar os alunos a se construírem como sujeitos pensantes, capaz de pensar e lidar com conceitos, argumentar, resolver problemas, para se defrontarem com dilemas e problemas da vida prática. [...] Para adequar-se às necessidades contemporâneas relacionadas com as formas de aprendizagem, a Didática precisa estabelecer a investigação sobre o papel mediador do professor na preparação dos alunos para pensar. [...] Nesse caso, a questão está em como o ensino pode impulsionar o desenvolvimento das competências cognitivas mediante a formação de conceitos teóricos. Ou, em outras palavras, o que fazer para estimular as capacidades investigadoras dos alunos ajudando-os a desenvolver competências e habilidades mentais. Portanto, a Didática faz com que o professor assuma uma responsabilidade diante do ato de ensinar, pois sua função não é meramente transmitir os conteúdos, mas também propiciar conhecimentos com bases científicas e reflexões, que auxiliarão na formação dos cidadãos. Exemplo de aplicação Você acha que é possível aprender a ter didática ou esta já deve fazer parte do indivíduo? 27 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Segundo Masetto (2003, p. 82), a Didática não consiste apenas em substituir palavras difíceis por palavras mais fáceis, mas sim em transitar: a centralização do professor para o aluno, cabendo a este o papel central de sujeito que exerce as ações necessárias para que ocorra sua aprendizagem, adquirindo habilidades, enfim, produzindo conhecimento; o papel do professor seria o de agente de transmissão de informações para a função de mediador pedagógico, ou mesmo de orientador do processo de aprendizagem do aluno. Saiba mais Recomendamos o seguinte DVD, da coleção Terezinha Rios: FILOSOFIA e didática. Dir. Terezinha Rios. São Paulo: ATTA Mídia, [s.d.]. 88 minutos. Assim, o ensino de Artes Visuais, ao fazer uso da Didática, assume grande importância, pois se trata de uma área do conhecimento com potencial expressivo e simbólico. É necessário que o professor assuma uma postura que desperte no aluno o desejo pela arte, contemplando a profundidade que ela possui. De acordo com Libâneo (2009, p. 10): Tais objetivos estão ligados a tarefas como o desenvolvimento da razão crítica, isto é, a capacidade de pensar a realidade e intervir nela, por meio de sólida formação cultural e científica; o provimento de meios pedagógico- didáticos para o domínio de competências cognitivas que levem ao “aprender a pensar”; o fortalecimento da subjetividade dos alunos e a ajuda na construção de sua identidade pessoal, dentro do respeito à diversidade social e cultural; a formação para a cidadania participativa. Um amplo leque de possibilidades se abrem em função da natureza dessa disciplina, desde a história dos movimentos até o estilo e a estética artística. À medida que o professor adota metodologias que problematizem estudos comparativos dos estilos e movimentos, com suas devidas contextualizaçõesdos espaços onde as obras de arte foram construídas, haverá a apropriação dos conteúdos de forma crítica, política e situando o aluno em seu mundo. 6 MÉTODOS DE ENSINO NAS ARTES VISUAIS Inicialmente, cabe conceituar o que vem a ser prática: em linhas gerais, ela consiste na execução repetida de um trabalho com a finalidade de adquirir habilidade. Assim, pode-se dizer que a prática pedagógica é a execução repetida de um trabalho em prol da pedagogia, da educação. Leal (2004, p. 28) afirma que a “[…] a prática pedagógica constitui uma das categorias fundamentais da atividade humana, rica em valores e significados, pois a questão metodológica se torna, muitas vezes, tão essencial quanto o conhecimento”. 28 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Nesse contexto, tem-se que a prática pedagógica é constituída durante a rotina escolar, tendo como agentes o professor e o aluno, conforme destacam Pavão e Gomes ([s.d.]): [...] a atividade pedagógica implica sempre um movimento de trocas entre professor, alunos e conteúdos de ensino. A organização do sistema de ensino repercute em uma proposta organizada e apresentada aos alunos. Considerada como a proposta ideal ou apenas inicialmente ideal, a partir da qual decorrem as demais ações educacionais. No decorrer dos tempos, houve uma evolução nas transformações didáticas e pedagógicas, iniciando com metodologias de ensino tradicionais, chegando-se hoje aos modelos construtivistas e interdisciplinares, que mostram que a escola que se utiliza apenas de conteúdos disciplinares não pode resolver os problemas que envolvem a educação. O método do experimento, concebido por Descartes no século XVII, pode ser amplamente utilizado no ensino das Artes Visuais em uma junção da teoria e da prática, colocando o indivíduo como instrumento de sua própria investigação, permitindo identificar-se (BREDARIOLLI, 2012). Saiba mais Recomendamos a leitura de: EFLAND, A. Imaginação na cognição: propósito da arte. In: BARBOSA, A. M. (Org.). Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. E o que é a arte sem criatividade? É a criatividade que propicia inovações, fruto da interação entre as forças biológicas, psicológicas e sociais. Moraes (2006, p. 7) diz que muitos autores entendem a criatividade como parte da inteligência, caracterizada pela fluência, flexibilidade e originalidade de ideias e soluções. Exemplo de aplicação E você, aluno? Acha que arte desperta a criatividade ou a criatividade desperta a arte? É possível pensar em criatividade sem pensar em conhecimento? A criatividade depende do conhecimento? Eles têm ligações? A criatividade precisa de conhecimento? Um aluno criativo precisa de conhecimentos? 29 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA 7 O ENSINO DAS ARTES VISUAIS Chegando aos dias atuais, o ensino das Artes Visuais aponta para uma diversificação de práticas de atuação em distintos contextos educacionais, em virtude das mudanças constantes socioculturais do mundo contemporâneo (JESUS et al., 2007). O ensino das Artes Visuais, desde século XX, passa por transformações, que podem ser facilmente identificadas nas escolas. Ou o ensino da arte é esquecido, ou é tido como um passatempo para preencher a hora do recreio ou da saída. E quando muito, sem critérios, a arte é trabalhada com o objetivo de realizar trabalhos manuais no cumprimento das datas comemorativas. De onde vem esse descaso? Precisamos mergulhar um pouco na história do ensino da arte no Brasil, e Barbosa, em seu texto Dos Preconceitos Contra o Ensino da Arte: Revisão do Século XIX, aponta várias questões relacionadas. A autora cita Alceu Amoroso Lima (1956) dizendo que: “brasileiro tem uma tendência natural muito maior para as artes do que para as ciências, para a imaginação do que para a observação” e esse preconceito, aos poucos, vem se desvinculando dessa verdade, que dura cerca de 150 anos. A Missão Francesa Segundo Barbosa (1995, p. 16), durante o período colonial, “o objetivo era formar uma elite que defendesse a colônia dos invasores e movimentasse culturalmente a Corte, durante os primeiros anos da República, [...] formar uma elite que governasse o país, o que norteou o pensamento educacional brasileiro”. Assim, as primeiras instituições de Ensino Superior foram as militares, as de cursos médicos e a Academia Imperial de Belas Artes (Decreto-Lei de 1816). Como o ensino da arte era dirigido por franceses e membros da Academia de Belas Artes, bonapartistas, e do Instituto de França, inspirado pelo pensamento neoclássico, surgiu um preconceito em relação a essa formação, já que, politicamente, o Brasil vivia um repúdio contra Bonaparte, que ameaçava a Inglaterra, país ao qual Portugal estava submetido – devido à essa ameaça, D. João VI se refugiou no Brasil. No período posterior, com a queda de Napoleão, Humboldt, naturalista alemão, recebe o embaixador de Portugal e designa contratos de artistas franceses para organizar o ensino da arte no Brasil. Desse modo, chefiado por Lebreton, chegam ao Brasil, em 1816, diversos artistas, entre eles Debret, Taunay, Dillon, Montigny, entre outros. O país apresentava posicionamento ambíguo em relação à contratação e ao patrocínio da Missão Artística Francesa, pois dizia que a criação da Academia Real de Ciências, Artes e Ofício visava abrigar alguns estrangeiros e protegê-los. O coronel Maler foi incumbido de vigiar os artistas da Missão, com a desculpa de participação dos artistas no plano de fuga de Napoleão para América; diante desse contexto e mais o fato de Portugal ainda não ter uma Academia como a Brasileira, o ensino de arte no Brasil sofreu muito preconceito no período. 30 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Os artistas que aqui chegaram trouxeram a estética neoclássica, e no Brasil a tradição era barroco-rococó. A transição entre o estilo europeu/neoclássico e o brasileiro/barroco gerou conflitos. Barbosa (1995, p.19) comenta que: [...] a Missão Francesa já encontrou uma arte distinta dos originários modelos portugueses e originais que podemos designar como o barroco brasileiro. Nossos artistas, todos de origem popular, mestiços em sua maioria, eram vistos pelas camadas superiores como simples artesãos, mas não só quebraram a uniformidade do barroco de importação, jesuítico, apresentando contribuição renovadora, como realizaram uma arte que já poderíamos considerar como brasileira. Outro fator que contribuiu para o olhar preconceituoso da classe dominante a respeito da arte foi o Decreto de 1816, que estabeleceu, no artigo 11, p. 24 que: “Eles [camada intermediária entre a classe dominante e a popular] encontram na atividade intelectual tanto de caráter político como de caráter estético condições de ascensão social de classificação que lhes são negadas em outros campos”. E ainda de acordo com Barbosa (1995, p. 21), a arte era colocada “num lugar de acessório, instrumento para modernização de outros setores, e não [...] uma atividade como importância em si mesma”. Saiba mais Recomendamos a leitura de: BARBOSA, A. M. Dos preconceitos contra o ensino da arte: revisão do século XIX. In: ___. Arte-educação no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1995. p. 15-30. A autora percorre a estrutura do ensino jesuítico, que enaltecia a literatura e demonstra preconceito contra as outras artes, ligadas aos trabalhos manuais. D. João VI contratou o pintor Pallière para ensinar desenho e pintura na Real Academia Militar. Isso influenciou o ensino da arte nasescolas e tornou-se símbolo de refinamento, outra “mina” de preconceito. Posteriormente, Manuel José de Araújo Porto-Alegre, escritor, pintor e crítico de arte, tentou ligar a cultura da elite e a cultura de massa, ao administrar, durante curto período, a Academia Imperial de Belas-Artes, em 1855. Na literatura, aparecem ilustrações que denotam que as Artes Visuais se adequaram à reforma que Porto-Alegre trouxe. Mesmo assim, sabemos que tais modificações não foram metodológicas e permaneceram velhos métodos. 31 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Mais adiante, em 1882, Ruy Barbosa, da corrente liberal brasileira, com seus ideais políticos, influenciou os parlamentares a pensarem que o enriquecimento do país só seria possível se por meio do desenvolvimento industrial e da educação técnica e artesanal do povo. O ensino da arte era pensado no modelo americano, que, de acordo com Felizola (2001), tinha em seu currículo escolar o desenho geométrico e industrial. As propostas oitocentistas e a influência americana ocasionaram algumas mudanças no ensino da arte. De acordo com Felizola (2001), o século XX iniciou-se com forte estímulo ao ensino da arte, mais precisamente do ensino de desenho na educação primária e secundária. De acordo com a autora: [...] percebemos que nesta estrutura ainda persistiam ideias filosóficas, políticas, pedagógicas e estéticas que embasaram o movimento republicano e que refletiam sobre os objetivos do ensino de arte. Entretanto, a metodologia da Escola de Belas Artes, do Rio de Janeiro, influenciou tão fortemente o ensino da arte durante mais de vinte anos do nosso século, que alguns acontecimentos como a chegada do pintor Lasar Segal (1913), o artigo de Oswald de Andrade Em Prol de uma Arte Nacional (1917), e a exposição da artista Anita Malfati (1917), não tiveram qualquer influência sobre a metodologia do ensino de artes na escola primária, secundária e superior (FELIZOLA, 2001, p. 8). São Paulo inaugura a Escola Brasileira de Arte, que foi conhecida por Theodoro Braga, seu professor mais importante, e frequentada por crianças de 8 a 14 anos, que estudavam música, desenho e pintura (REDE SÃO PAULO DE FORMAÇÃO DOCENTE, 2011). Posteriormente, baseada na livre expressão e no espontaneísmo, Anita Malfatti desenvolvia cursos para crianças, com pesquisas em torno do desenho geométrico, desenho pedagógico, estampas sob a influência do cinema e literatura. De 1937 a 1945, a Ditadura brecou muitas iniciativas de arte e, novamente, o desenho geométrico volta a fazer parte das aulas. Apenas em 1948, a Escolinha de Arte do Brasil começou a funcionar na Biblioteca Infantil do Rio de Janeiro e esse modelo foi espalhado por todo Brasil. Em 1964, outra ditadura desmontou as escolas experimentais e perseguiu professores e intelectuais da época. Novamente, o ensino de arte se volta aos desenhos com motivos cívicos, religiosos e festas. Entre 1968 e 1972, de acordo com a Rede São Paulo de Formação Docente: [...] em escolas especializadas em ensino de arte, começaram a ter lugar algumas experiências no sentido de relacionar os projetos de arte de classes de crianças e adolescentes com o desenvolvimento dos processos mentais envolvidos na criatividade, ou com uma teoria fenomenológica da percepção, ou ainda com o desenvolvimento da capacidade crítica ou da abstração e talvez mesmo com a análise dos elementos do desenho (REDE SÃO PAULO DE FORMAÇÃO DOCENTE, 2011, p. 27). 32 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA A Reforma Educacional de 1971 trouxe um novo conceito ao Ensino de Arte: a prática da polivalência – objetivava-se trabalhar com as linguagens da arte (artes plásticas, a música e as artes cênicas, teatro e dança). O Ministério da Educação organizou um convênio com a Escolinha de Arte e preparou os professores para organizarem a nova disciplina. Contudo, não houve adequação e nem articulação dos objetivos com os métodos. Essa dissociação distanciou e dificultou o fluxo da ação. Em 1973, criaram-se os primeiros cursos de nível superior de Licenciatura em Educação Artística, com objetivo de preparar os professores polivalentes, que escolheriam suas habilitações específicas nas linguagens da arte. Como consequência da inadequação mencionada anteriormente, o MEC criou o Prodiarte – Programa de Desenvolvimento Integrado de Arte Educação –, cujo objetivo era o de integrar a cultura da comunidade à escola, por meio de convênios com órgão estaduais e das escolas superiores. Em 1978, o programa se solidificou e foi estendido a outras cidades brasileiras. Em 1980, ocorreu a Semana de Arte e Ensino, na USP, um encontro que tratou de questões políticas de arte e educação, no qual se reuniram mais de 3.000 professores, resultando no Núcleo Pró-Associação de Arte-Educadores de São Paulo. A Semana de Arte e Ensino fortificou politicamente os arte-educadores e já em 1982/1983 foi criada na Pós-Graduação em Artes a linha de pesquisa em arte/educação na Universidade de São Paulo constando de doutorado, mestrado e especialização, com a orientação de Ana Mae Barbosa (REDE SÃO PAULO DE FORMAÇÃO DOCENTE, 2011, p. 30). Atualmente, quais são as possibilidades para se elaborar um currículo para Artes Visuais? Há uma diferença muito grande entre Arte e as demais disciplinas. Segundo Bernstein (1971), distinguir essa diferença é uma forma de encarar a disciplina de arte com seus próprios conteúdos, ou seja, a arte não deve ser disciplina auxiliar das demais. E ele acredita que quando as disciplinas estão integradas elas ficam menos fragmentadas, e o mesmo ocorre com a disciplina de artes. Embora Bernstein (1971) pense dessa forma, ele crê que há uma redução de conteúdo, mesmo que a disciplina seja bem integrada, e que ocorre um isolamento cada vez maior das artes. Portanto, o autor entende que há desvantagens, mas valoriza a integração, a coerência e a unidade. Ele acredita que, quando possível, seja feita a integração, contanto que não haja prejuízo ou diminuição dos conteúdos para arte e que o currículo seja aberto, flexível e que não haja nenhuma estrutura ortodoxa para seguir. Portanto, deve-se repensar a expansão da proposta pedagógica para o ensino das Artes Visuais, de modo que sua importância seja retomada dentro dos conteúdos da formação educacional básica do aluno. 33 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Saiba mais Recomendamos o vídeo seguinte: HISTÓRIA do ensino da arte no Brasil. Dir. Filipe Chaves. Belo Horizonte: Sarasvati, 2011. 28 minutos. Quando a Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394, de 1996, excluiu o termo Educação Artística dos currículos escolares e incluiu a disciplina Artes, ela trouxe alterações importantes para repensar as metodologias e conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. No entanto, a mudança trazida pela LDB esbarra na adequação de profissionais atuantes na educação básica, tendo em vista que se faz necessária uma reestruturação dos currículos de licenciaturas (JESUS et al., 2007). Atualmente, é possível encontrar propostas educativas em que profissionais são submetidos a várias práticas de ensino da arte, mas com carga horária insuficiente, o que reduz o ensino de arte visual e demais linguagens, interferindo em um propósito educacional significativo. Nesse contexto, é importante que nos cursos de licenciatura em Artes ocorram mudanças nos projetos político-pedagógicos, de modo que a Educação Artística seja substituída por cursos em linguagens específicas, como música, teatro e dança. 7.1 Ensino da artepara brasileiros A palavra arte na história da humanidade foi muito usada para indicar trabalhos que se referiam tanto a determinados ofícios e ocupações, como para indicar trabalhos de interação histórica. Somente a partir do século XIX foi que o termo arte passou a ter o seu atual significado, ou seja, a criação de “belas artes” (NASCIMENTO, 2013). Observação Belas artes é um conjunto de manifestações artísticas que possuem a dignidade da nobreza, sendo composta por pintura, escultura e desenho, subordinados à arquitetura. Como você entende a arte? Sabemos que ela é universal e essencial ao ser humano, e, apesar de muitas pessoas não apresentarem muito interesse pelo tema, convivem com arte por meio de seus gostos, confirmando a sua universalização. A arte é feita e mudada de acordo com cada época; ela veio variando desde a Pré-história até o momento atual, designando, desde muitos anos, estilos próprios que representam diversos momentos históricos (NASCIMENTO, 2013). 34 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Por exemplo, a arte Otoniana dominou os séculos XI e XII, e vários outros estilos de arte existiram ao longo do tempo, como o romântico, o gótico, o renascentista e o barroco. O ensino de arte prezava por um ensino impecável, com o objetivo de dominar a qualificação no mercado de trabalho. Em certo período, a arte foi influenciada pela Escola Nova, que veio ao Brasil por volta de 1930. Nesse período, as atividades voltaram-se para o processo de desempenho natural das crianças. Existiu uma mudança brusca na pedagogia tradicional para a nova, porque o aluno teria que passar a buscar por si próprio seu conhecimento por meio de experimentos. Um fato muito marcante para arte no Brasil foi a Semana de Arte Moderna de São Paulo, que aconteceu no ano de 1922. Observação A Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo no ano de 1922, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, no Teatro Municipal. O aluno que tem um bom desempenho na disciplina de Arte é considerado criativo, inteligente e é visto como se tivesse uma capacidade excepcional. Normalmente é requisitado na escola para eventos, festas e assuntos dessas áreas. Diante do que parece, esse aluno criativo mora com ou convive desde cedo com pessoas que lidam com arte ou áreas afins, pois, conforme vimos na teoria de Vygotsky, esse aluno é um resultado do meio que vive e seus elementos socioculturais. Mesmo assim, não podemos esquecer que a apropriação do conhecimento é um processo complexo, independentemente da disciplina, que exige do sujeito que aprende desejo, organização, método e planejamento. Mas, ao organizar uma aula ou algum tipo de conhecimento, o professor deverá planejar- se de tal forma que as características e as especificidades da área de arte sejam mostradas, por meio de pesquisas, apropriação do conteúdo pesquisado, para que a aula aconteça de acordo com os preceitos educacionais do ensino de Arte – produção, história, análise crítica e a estética. Conforme Libâneo (2009, p. 9): [...] as demandas e necessidades da aprendizagem nesse mundo em mudança precisam repensar seus objetivos e práticas de ensino, de modo a prover aos seus alunos os meios cognitivos e instrumentais de compreender e lidar com os desafios propostos por essa realidade. Tais objetivos estão ligados a tarefas como o desenvolvimento da razão crítica, isto é, a capacidade de pensar a realidade e intervir nela, por meio de sólida formação cultural e científica; o provimento de meios pedagógico-didáticos para o domínio de competências cognitivas que levem ao “aprender a pensar”; o fortalecimento da subjetividade dos alunos e a ajuda na construção de sua identidade pessoal, dentro do respeito à diversidade social e cultural; a formação para a cidadania participativa. 35 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Diante das perspectivas das experiências das artes, pensar sobre o ensino dessa disciplina implica, ainda, compreender a história da arte, o contexto cultural e os estilos provenientes dela em meio às referências dos contextos em que se inserem. Também deve-se considerar as formações dos conceitos que interagem com as definições, como: a criação, a percepção, o Belo, a estética, a técnica, o material e o sensível. Atualmente, Bello (2003, p. 36) diz que a arte se estabelece “muito mais em dúvidas do que em certezas, desafia, levanta hipóteses e antíteses em vez de afirmar teses”. Como estudamos, a História da Arte revela o contexto em que ela é elaborada (por meio das linguagens artísticas), e hoje temos elementos sociais que indicam e denunciam essas instabilidades que influenciam a estética, os conceitos e o fazer artístico. Devemos atentar para o fato de que a disciplina de Artes no Brasil também sofreu modificações em sua nomenclatura ao longo do tempo: como vemos, em Martins (2003, p. 52), ela já foi designada como Desenho, Artes Aplicadas, Educação Artística, Expressão Plástica, Artes Plásticas, Arte- Educação. Hoje, como sabemos, é chamada de Artes Visuais. Barbosa (2003) questiona o ensino de História da Arte e aponta que a disciplina é ensinada “rezando o credo” dos padrões europeus, cristão e brancos, o que restringe esse estudo a uma quantidade de artistas e movimentos amarrados a uma elite intelectual, distanciando e sacralizando não só a arte, mas o seu ensino. O autor propõe o ensino da arte local, regional e nacional, o que dá oportunidade ao aluno de conhecer a cultura do local onde mora. Assim, a partir de diferentes pesquisas e dos fundamentos e estudos na área de arte, foi possível diferenciar convergências de ensino do tema presentes ao longo da história da educação brasileira. O ensino da arte no Brasil possui três tendências conceituais, que se classificam como: ensino de arte pré-modernista, ensino de arte pós-modernista e ensino de arte modernista. Também identificamos o ensino de arte pós-moderna. Desse modo, compreendemos que o modernismo é fortemente considerado para conceber o ensino de arte, centralizado no ensino da técnica. A ideia de ensino da arte como técnica está ligada à origem do ensino brasileiro. Como vimos anteriormente, com a presença dos jesuítas no Brasil, a arte iniciou-se na educação por meio de aspectos informais, caracterizados pelo ensino da arte em fábricas de artesãos. O ensino da arte tem como objetivo o desenvolvimento da expressão e da criatividade, bases conceituais e metodológicas ligadas ao Movimento Escolinhas de Arte (MEA), que exerceu grande influência sobre o ensino de arte na escola. E essa influência se deve porque (MEA) foi constituído como primeiro e importante movimento que possibilitou o processo de transformação filosófica e metodológica de nossa arte e educação (SILVA; ARAÚJO, 2004). Os modernistas Mário de Andrade e Anita Malfatti exerceram um papel fundamental no início das “ideias da livre expressão” do ensino da arte para crianças. A ideia da livre expressão originou-se do termo expressionismo e defendia que a arte na educação tem como objetivo que as crianças expressem o que sentem, pois a arte não seria ensinada, mas sim expressada. 36 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 2 1/ 08 /1 5 DIDÁTICA ESPECÍFICA Figura 7 – Mário de Andrade (por Hugo Adami,1922) e Anita Malfati (por Tarsila do Amaral,1922) 8 DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA SALA DE AULA 8.1 A aula – imersão em sala de aula Infelizmente, muitos professores ainda trabalham numa abordagem tradicional. Consequentemente, os conteúdos das disciplinas são fragmentados e ficam desvinculados dos
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