Buscar

172_marx-karl-o-capital-2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

diante torna-se base constante de um salário mesquinho com tempo
de trabalho desmesurado, que tinha sido originalmente produto dessas
circunstâncias. Limitamo-nos a aludir a esse movimento, pois a análise
da concorrência não tem aqui lugar. Mas deixemos falar por um mo-
mento o próprio capitalista.
“Em Birmingham, a concorrência entre os patrões é tão grande,
que alguns de nós são obrigados — enquanto empregadores —
a fazer o que se envergonhariam de fazer em outras circunstân-
cias; e, apesar disso, não se faz mais dinheiro (and yet no more
money is made), mas somente o público leva vantagem.”374
Lembremo-nos das duas espécies de padeiros londrinos, uma das
quais vendia o pão pelo preço integral (the “fullpriced” backers); a outra
o vendia abaixo de seu preço normal (the underpriced, the undersellers).
Os fullpriced denunciam seus concorrentes perante a comissão parla-
mentar de inquérito:
“Eles existem apenas, primeiro, por enganarem o público” (fal-
sificando a mercadoria) “e, segundo, por extorquirem de sua gente
18 horas de trabalho pelo salário de 12 horas de trabalho. (...)
O trabalho não-pago (the unpaid labour) dos trabalhadores é o
meio pelo qual a luta da concorrência é conduzida. (...) É a con-
corrência entre os mestres-padeiros que causa a dificuldade de
suprimir o trabalho noturno. Um vendedor por subpreço, que
vende seu pão abaixo do preço de custo, variável conforme o
preço da farinha, se mantém sem prejuízo extraindo mais trabalho
de sua gente. Se eu extrair apenas 12 horas de trabalho de minha
gente, meu vizinho, porém, 18 ou 20, ele não pode deixar de me
derrotar no preço de venda. Se os trabalhadores pudessem insistir
no pagamento do tempo extraordinário, logo acabaria essa ma-
nobra. (...) Grande número dos ocupados pelos vendedores por
subpreços são estrangeiros, jovens e outros, que são obrigados a
aceitar qualquer salário que possam obter”.375
Essa jeremiada é interessante também porque mostra como so-
mente a aparência das redações de produção se reflete no cérebro ca-
pitalista. O capitalista não sabe que o preço normal do trabalho também
encerra determinado quantum de trabalho não-pago e que precisamente
esse trabalho não-pago é a fonte normal de seu lucro. A categoria de
tempo de mais-trabalho não existe para ele, pois este está compreendido
MARX
179
374 Child. Empl. Comm. III Rep. Evidence. p. 66, nº 22.
375 Report etc. Relative to the Grievances Complained of by the Journeymen Bakers. Londres,
1862. p. LII; e ibid, Evidence, nº 479, 359, 27. Mesmo assim, também os fullpriced, conforme
mencionado antes e seu próprio porta-voz, Bennet, confessa, fazem sua gente “começar o
trabalho às 11 horas da noite ou antes e prolongam-no freqüentemente até as 7 horas da
noite seguinte”. (Op. cit., p. 22.)

Outros materiais