Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Síndrome Consumptiva Pode ser chamada também de emagrecimento involuntário. É um estado patológico resultante de absoluta ou relativa deficiência de proteína e energia. São importantes as seguintes definições: 1. Caquexia: perda de peso associada à perda de massa muscular, é o estado mais grave do emagrecimento 2. Desnutrição: é a deficiência de nutrientes específicos ou globais, associada ou não a perda de peso 3. Sarcopenia: é uma síndrome geriátrica, caracterizada por perda de massa muscular, de força e de desempenho, gerando déficit funcional no idoso 4. Desnutrição energético-proteica (DEP): aporte inadequado de energia associada ou não ao déficit de proteínas Para definição da síndrome devemos ter em mente que tanto o grau de emagrecimento, como o tempo em que ocorreu devem ser avaliados com base no PESO BASAL DO PACIENTE. Considera-se emagrecimento involuntário se houve perda de: a. < 2% do peso basal em 1 semana b. > 5% em 1 mês c. > 7,5% em 3 meses d. > 10% em 6 a 12 meses PS: algumas situações devem ser avaliadas de forma específicas, como: ○ Em idosos nos quais considera-se síndrome consumptiva em perdas > 5% em 6 a 12 meses ○ Pacientes com anorexia nervosa se for > 15% em 6 meses. Epidemiologia A síndrome consumptiva possui incidência semelhante entre homens e mulheres. Seus principais fatores de risco são: a. Tabagismo b. Idade avançada c. Estado de saúde basal prejudicado Se estima que 15 a 20% de todos adultos com mais de 65 anos terão emagrecimento involuntário se acompanhados e observados por um período de 5 a 10 anos. Principais causas: neoplasias malignas (15 a 37%), doenças gastrointestinais, psiquiátricas e outras. Fisiopatologia A perda de peso só ocorrerá se houver: - Redução do aporte de energia - Aumento do gasto energético - Perda de energia por via urinária ou intestinal PODE SER: 1. Perda de peso involuntária com aumento do apetite: a quantidade de calorias ingeridas é insuficiente para suprir o déficit energético. São causas deste tipo de condição: hipertireoidismo, diabetes mellitus (DM) descompensado, síndrome de má absorção, feocromocitoma, aumento importante de atividade física. No hipertireoidismo, a perda de peso está associada com aumento do gasto energético basal e com o déficit na absorção intestinal devido ao aumento da motilidade gastrointestinal. 2. Perda de peso involuntária com redução do apetite: doenças como depressão, fase maníaca do distúrbio bipolar, distúrbio de personalidade e paranóia, uso crônico de drogas, doenças como câncer, endocrinopatias, doenças crônicas, doença pulmonar obstrutiva crônica e doenças gastrointestinais. A perda de peso devido ao câncer (síndrome anorexia-caquexia) é comum e ocasionalmente pode ser a única manifestação de tumores ocultos. Etiologias Neoplasias As neoplasias levam ao emagrecimento por anormalidades metabólicas. o câncer é uma doença eminentemente inflamatória, portanto há uma grande produção e liberação de citocinas como a TNF alfa, IL-1, IL-6, as quais são anorexígenas e geram saciedade precoce. Além disso, podem promover a perda de massa magra, através do estímulo aos processos de lipólise e proteólise. Muito desse hipercatabolismo ocorre por um estímulo alto de hormônios catabólicos como adrenalina e cortisol. Isso tudo gera depleção constante de nutrientes e consumo exacerbado de massa magra, que culmina em emagrecimento involuntário. O sítio específico acometido pela neoplasia também pode gerar mecanismos para o emagrecimento. Ex: cânceres de cabeça e pescoço podem gerar anosmia, ageusia (perda do paladar), hiporexia (redução parcial do apetite), disfagia (dificuldade para deglutir), bem como em neoplasias do Trato Gastrointestinal pode ocorrer náuseas, vômitos, diarreia e má absorção intestinal. Doenças gastrointestinais As principais doenças são: 1. Úlcera péptica: defeito na mucosa gástrica ou duodenal que se estende da camada muscular da mucosa até as mais profundas. O paciente pode apresentar sintomas desde dispepsia até emagrecimento involuntário 2. Doença celíaca: doença do intestino delgado marcada por inflamação na mucosa, atrofia vilosa e hiperplasia de criptas intestinais, causada pela exposição e intolerância ao glúten. Com o passar do tempo, a inflamação e lesão intestinal gera uma importante má absorção e depleção de nutrientes para o organismo. 3. Doenças inflamatórias intestinais: a primeira afeta apenas o intestino grosso, enquanto que a doença de Crohn pode afetar qualquer segmento do TGI da boca até a região perianal e as duas por causarem problemas intestinais podem gerar emagrecimento involuntário. Tais patologias podem gerar emagrecimento por dor, disfagia (ex disso é esofagite e acalásia), estado inflamatório sistêmico e perda de nutrientes nas fezes (síndromes disabsortivas). Doenças neurológicas As doenças neurológicas mais comumente associadas ao emagrecimento involuntário são: a. Acidente Vascular Cerebral (AVC): a lesão cerebral aguda classificada em dois tipos: isquemia cerebral (devido principalmente a trombose, embolia ou hipoperfusão sistêmica) e hemorragia cerebral (devido a hemorragia intracerebral ou hemorragia subaracnóidea). b. Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA): distúrbio neurodegenerativo que causa fraqueza muscular e incapacidade, culminando em morte, com sobrevida média de três a cinco anos. c. Demência: conjunto de distúrbios caracterizados por declínio na cognição envolvendo um ou mais domínios cognitivos como aprendizado e memória, linguagem, funções executivas, atenção, percepção perceptivo-motora e cognição social. d. Doença de Parkinson: síndrome manifestada por tremor no repouso, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural. O mecanismo gerador do emagrecimento depende de cada patologia. Mas, de uma maneira geral, a maioria delas causam sequelas ou déficits neurológicos permanentes como alteração da cognição, disfunções motoras (tanto periférica como central, como alteração do aparelho muscular mastigatório) ou mais comumente a disfagia. Diabetes Mellitus (DM) Há emagrecimento apesar do apetite preservado e muitas vezes exacerbado. Há um processo de fome celular, estimulando o paciente a se alimentar, o que gera uma hiperglicemia associada, pois o paciente continua ingerindo os alimentos mas não há sensibilidade à insulina ou insulina circulante para fazer o transporte da glicose para as células, permanecendo o paciente nesse ciclo, o que justifica as perdas energéticas abundantes. O quadro clínico clássico é de polifagia, poliúria e polidpsia. Há perda de glicose e nutrientes na urina (aumento da eliminação de urina), levando a uma perda de água (pelo componente osmolar). Essa perda justifica a polidipsia e a polifagia. Além do mecanismo fisiopatológico básico, pode haver emagrecimento na DM por um evento secundário, como um AVC ou IAM. Hipertireoidismo Ocorre um estado de hipermetabolismo sistêmico pelo aumento do hormônio tireoidiano circulante. Assim, ocorre um emagrecimento apesar do apetite preservado ou aumentado. O quadro clínico vai ser hiperfagia, palpitação, tremores distais, sudorese quente, insônia, hiperdefecção e presença de bócio. A!! idosos com apatia e emagrecimento SEMPRE pensar em hipertireoidismo apatético que pode culminar com fibrilação atrial de forma aguda. Transtornos psiquiátricos Ocupam grande porcentagem das causas de perda de peso não intencional, sendo 10 a 23% dos casos. Os principais são depressão e os transtornos alimentares. No primeiro ocorre por sobreposição de causas e o segundo por obsessão pelo excesso de peso, gerando a diminuição da ingestão alimentar de forma expressiva, um aumento do nível de atividade física até ao excesso (vigorexia), pode gerar vômitos provocados pela culpa após cursar com uma compulsão alimentar (principalmente na bulimia) e utilização de medicamentos para estimular a perda de peso Doenças infecciosas As doenças crônicas levam ao emagrecimento pelo estado inflamatório geral. As principais doenças infecciosas associadas ao emagrecimento involuntário sãoa Hepatite C, a Tuberculose e o HIV. Drogas Drogas psicoativas ou não, como a cocaína, o álcool e o tabaco, agem alterando o centro da saciedade, levando a um estado de anorexia durante o uso das substâncias. Pessoas adictas acabam por utilizar a substância durante mais tempo, levando a uma diminuição da ingesta alimentar e emagrecimento expressivo. O paciente alcoolista crônico troca a grande maioria das suas calorias diárias apenas pelas calorias da bebida, gerando um grande déficit nutricional. Maconha pode induzir o emagrecimento em seu processo de abstinência, quando o paciente cursa com síndrome composta por anorexia, irritabilidade e sonhos estranhos. Os opióides reduzem tanto o apetite, como a motilidade intestinal e a produção e liberação das secreções digestivas, promovendo a perda ponderal em pacientes com abuso de uso dos opiáceos. A utilização de anfetaminas gera liberação de catecolaminas a nível pré-sináptico, levando a um aumento expressivo do metabolismo basal do paciente acompanhado de perda do apetite. Idoso A regulação do apetite sofre alterações com o envelhecimento (“anorexia fisiológica da idade”), há aumento da circulação de colecistocinina, por exemplo, que associada à diminuição do metabolismo basal pode levar à perda de peso importante. Atrofia gordurosa também pode ocorrer gerando aparência caquética. Alguns estudos mostram que há declínio natural da sensibilidade ao paladar e olfato com o aumento da idade, o que pode contribuir para a diminuição de peso. Distúrbios de visão e cognição no idoso também podem contribuir para a diminuição de ingesta calórica. A!!! Pacientes em situações de isolamento social tendem a apresentar diminuição do apetite. Nos idosos, o isolamento se refere não apenas ao ato de comer, mas também à dificuldade em comprar e preparar os alimentos DEZ D’s DO EMAGRECIMENTO NO IDOSO. Dentição Próteses mal adaptadas, dentes mal cuidados, dor para mastigar, lesões gengivais Disgeusia Perda do paladar associada a perda do olfato, anosmia Disfasia Dificuldade para se alimentar que pode ser por doença neurológica ou do TGI Diarreia Síndrome disabsortiva Doenças Aumento do estado inflamatório geral ou por infecções oportunistas Depressão Emagrecimento multifatorial Demência Perda progressiva dos instintos de fome e sede Disfunção Perda de entes queridos, condições socioeconômicas precárias, dependência Drogas Alteração do centro da saciedade Don’t Know Uma boa parte dos pacientes idosos exibem emagrecimento sem uma causa conhecida Quadro clínico Deve-se focar em: ➢ Caracterizar a perda de peso: é uma medida antropométrica fácil, simples de ser aplicada e barata que pode auxiliar no entendimento do emagrecimento. Existem sinais que demonstram ao médico a perda de peso mesmo que de forma indireta, como o uso de roupas largas, fotos antigas ou relatos de familiares. Pacientes com perda progressiva tem prognóstico pior do que os que têm flutuação. É pertinente a aferição de altura e IMC, para que se possa observar o grau de magreza ➢ Caracterizar o apetite: deve-se avaliar se há uma diminuição do apetite e da ingesta alimentar associada ao emagrecimento ou se o apetite está preservado e até aumentado, apesar da perda ponderal. É importante questionar hábitos alimentares anteriores e atuais e a relação do paciente com a comida (compulsão, alimentar, vômitos) e sua percepção com seu corpo. ➢ Caracterizar os sintomas associados: a. Febre: é um importante sintoma relacionado à perda ponderal que pode estar presente em quadros inflamatórios, como infecções, quadros neoplásicos, reumatológicos, de doença inflamatória intestinal e de outras doenças sistêmicas. b. Atrofia muscular c. Descamação cutânea d. Queilite (ressecamento, rachaduras e lesões avermelhadas nos lábios) e. Unhas fracas e quebradiças f. Outros Diagnóstico De início, a anamnese e o exame físico farão uma hipótese diagnóstica e assim a pesquisa laboratorial deve ser direcionada para a causa específica. 1. Investigação de inflamação: hemograma, PCR e VHS → se tiver carga inflamatória elevada, aumenta-se a suspeição sobre neoplasias e doenças sistêmicas crônicas. 2. Pesquisa etiológica específica: bioquímica sérica, hemograma, enzimas hepáticas, albumina, TSH, urina tipo I. Pode-se solicitar a pesquisa de sangue oculto nas fezes, mamografia, Papanicolau, PSA, Endoscopia digestiva Alta (EDA), colonoscopia, entre outros exames que possam melhor direcionar para uma suspeita Tratamento O tratamento da síndrome é sempre multidisciplinar. O primeiro passo é tratar a causa base, sendo a etapa mais importante do tratamento, porque é o que garante ao paciente o retorno do ganho de peso. Entretanto, deve-se também realizar uma avaliação psicossocioeconômica, em busca de patologias psiquiátrica e causas de cunho psicossociais para o emagrecimento, que possam ser trabalhadas pela Psicologia, bem como pela Assistência Social. O restante do tratamento envolve a avaliação bucal e da deglutição, que engloba tanto a Odontologia como a Fonoaudiologia e Fisioterapia. Uma avaliação física e nutricional elaborada é demandada, para que haja um apoio pelo Nutricionista no processo de reganho do peso. A intervenção medicamentosa, por fim, se faz necessária em alguns casos.
Compartilhar