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permanecendo constante o salário por peça, implica em si e para si uma baixa de preço do trabalho. Com salário por tempo prevalece com poucas exceções salário igual para as mesmas funções, enquanto com salário por peça, ainda que o preço do tempo de trabalho seja medido por determinado quantum de produtos, o salário diário ou semanal, ao contrário, varia com a diferenciação individual dos trabalhadores, dos quais um fornece ape- nas o mínimo do produto num período dado, o outro a média e o terceiro mais do que a média. Quanto à receita real aparecem aqui, portanto, grandes diferenças conforme a habilidade, força, energia, persistência etc. dos trabalhadores individuais.385 Isso naturalmente nada altera na relação geral entre capital e trabalho assalariado. Primeiro, as di- ferenças individuais se compensam na oficina em seu conjunto, de modo que, em determinado tempo de trabalho, ela fornece o produto médio e o salário global pago será o salário médio do ramo de atividade, segundo, a proporção entre salário e mais-valia permanece inalterada, pois ao salário individual do trabalhador isolado corresponde a massa de mais-valia individualmente fornecida por ele. Mas a maior liberdade que o salário por peça oferece à individualidade tende a desenvolver, por um lado, a individualidade, e com ela o sentimento de liberdade, a independência e autocontrole dos trabalhadores; por outro lado, a concorrência entre eles e de uns contra os outros. Por isso, o salário por peça tem a tendência, com a elevação de salários individuais acima do nível médio, de baixar esse mesmo nível. Mas onde determinado salário por peça já havia se estabelecido tradicionalmente, oferecendo, portanto, sua rebaixa dificuldades extraordinárias, os patrões se refu- giavam excepcionalmente até em sua transformação forçada em salário por tempo. Contra isso dirigiu-se, por exemplo, em 1860,386 a grande MARX 185 385 "Onde o trabalho, em qualquer ofício, é pago um tanto por peça (...) os salários podem, quanto ao montante, diferenciar-se substancialmente uns dos outros. (...) Mas para o salário diário há geralmente uma taxa unitária (...) que é reconhecida pelo empresário e pelo trabalhador como salário-padrão para o trabalhador médio do ofício." (DUNNING. Op. cit., p. 17.) 386 "O trabalho dos oficiais-artesãos se regula por dia ou por peças (à la journée or à la pièce). (...) Os mestres sabem mais ou menos quanto de serviço os trabalhadores em cada métier podem prestar diariamente e lhes pagam, por isso, muitas vezes proporcionalmente ao serviço que prestam; assim trabalham esses oficiais tanto quanto podem, em seu próprio interesse, sem supervisão." (CANTILLON. Essai sur la Nature du Commerce en Général. Amst. Ed. 1756. pp. 185 e 202. A primeira edição apareceu em 1755.) Cantillon, de quem Quesnay, Sir James Steuart e A. Smith muito se aproveitaram, já apresenta aqui, portanto, o salário por peça como forma meramente modificada do salário por tempo. A edição francesa de Cantillon se anuncia no título como tradução do inglês, mas a edição inglesa: The Analysis of Trade, Commerce etc., by Philip Cantillon, late of City of London, Merchant, não apenas é de data posterior (de 1759), mas também demonstra por seu conteúdo que foi posteriormente elaborada. Assim, por exemplo, Hume ainda não é mencionado na edição francesa, enquanto na inglesa quase não figura Petty. A edição inglesa é teoricamente menos significativa, mas contém muita coisa específica relativa ao comércio inglês, ao comércio de bullion etc., que faltam no texto francês. As palavras no título da edição inglesa, segundo as quais esse escrito foi Taken chiefly from the Manuscript of a very ingenious Gentleman deceased, and adapted etc., que faltam parecem, portanto, mais que mera ficção, então muito costumeira.
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