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Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS TALASSEMIAS: As talassemias são um grupo heterogêneo de alterações hereditárias na síntese de uma ou mais cadeias de globina presentes na hemoglobina, levando a sua ausência total ou parcial. Todas as formas de hemoglobina apresentam estrutura semelhante, com 2 pares de globinas idênticas, um alfa e outro não alfa. Normalmente, essa proporção é de 1:1, sendo o alvo da patogênese da talassemia. Formas de hemoglobina presentes num adulto saudável Na beta-talassemia ocorre uma diminuição da formação dessas estruturas, motivada por alterações no cromossomo 11 da globina, ao passo que, nas alfa- talassemias, a incorreção afeta o cromossomo 16, impactando nos genes alfa 1 ou alfa 2. Molecularmente, ainda é possível identificar a alfa0-talassemia e a alfa+-talassemia. A primeira classificação decorre da deleção de ambas as cópias genéticas ou de grupos reguladores de sua expressão, ao passo que, na última, esse “apagamento” afeta apenas um dos genes. Nas beta-talassemias, os fenótipos + e 0 não estão associados a deleções, mas sim a mutações no código genético, responsável pela diminuição ou interrupção da produção de β–globina. Classificações moleculares das talassemias Clinicamente, as talassemias podem ainda ser segmentadas em três grupos, correlacionados ao grau de gravidade de suas apresentações, a saber: Talassemia major: é a variante de maior seriedade, transfusão-dependente e que requer acompanhamento especializado; Talassemia intermedia: representam o grupo com maior diversidade de sinais e sintomas, com anemia significativa, mas melhor controlada, ao ser comparada com apresentações major. Talassemia minor: majoritariamente assintomáticas, comuns na prática clínica. Os indivíduos afetados são portadores do traço talassêmico. Existem também portadores silenciosos, clínica e laboratorialmente normais (apenas passam a alteração para os descendentes). As talassemias são as doenças mais comuns associadas à genética, com dispersão universal pelo globo, ainda que haja certa discrepância na prevalência de cada uma de suas manifestações (ex.: alfa na África e Ásia, beta na região mediterrânea e Oriente Médio). Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS Dinâmica de herança genética das talassemias FISIOPATOLOGIA: A síntese alterada de alguma das cadeias de globina irá implicar em dois desfechos principais, o desequilíbrio entre frações alfa e não-alfa e a menor produção de hemoglobina. Todo esse processo resulta em decréscimo da vida média eritrocitária e no desenvolvimento de anemia hipocrômica (decorrente da hemoglobina), cuja intensidade é proporcional à expressão talassêmica. Nas alfa-talassemias, como a concentração de α-globina é baixa, as cadeias livres se organizam em tetrâmeros, formando a hemoglobina H, bastante instável (cria corpos de inclusão). Essa característica promove sua rápida eliminação pelo retículo-endotelial. Nesses casos, a anemia é compensada pela produção aumentada de hemácias. Processos fisiopatológicos na alfa-talassemia Já nos indivíduos afetados por beta- talassemias, ocorre o acúmulo excessivo de cadeias alfa que, mesmo com o aumento compensatório na produção de outras globinas, ainda se mantém insolúveis, precipitando-se nos precursores eritroides, que passam a se desenvolver incorretamente (eritropoese ineficiente). A formação de aglomerados de α- globina é responsável por aumentar a atividade de coagulação. Mecanismo fisiopatológico da beta-talassemia Como há sobrecarga na destruição de hemácias, o baço aumenta de volume, o que piora ainda mais o quadro basal de anemia. Como “última solução” o organismo tenta expandir a medula óssea e suas funções, desencadeando hematopoese extramedular. Tal “remanejamento medular” provoca alterações variadas ao esqueleto (ex.: “cara de rato”) e ao metabolismo celular. Para manter a viabilidade dessa situação há elevação na absorção intestinal de ferro, Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS o que, com o passar dos anos (e do histórico transfusional), pode levar ao desenvolvimento de hemocromatose tecidual. ALFA-TALASSEMIAS: Esse grupo de talassemias é pouco diagnosticado, pois sua apresentação clínica normalmente é mais leve que aquela associada à sua contraparte beta, além de necessitar de exames mais específicos, pouco acessíveis. Existem somente quatro condições fenotípicas para os defeitos das cadeias alfa, podendo ser hierarquizadas conforme sua gravidade: Hemoglobina de Bart’s com hidropsia fetal: corresponde à manifestação talassêmica de pior prognóstico, marcada pela produção quase exclusiva de Hb alterada. O quadro típico é de nascimentos prematuros de bebês bastante edemaciados e pálidos, que morrem pouco após o parto. O diagnóstico pré-natal pode ser feito pela análise do DNA do líquido amniótico (> 14ª semana de gestação) ou pela biópsia de vilosidades coriônicas (> 10ª semana). Natimorto com hidropsia fetal decorrente da Hb de Bart’s Doença de HbH: caracterizada por anemia (microcítica e hipocrômica, com Hb entre 7 e 10 g/dL) e esplenomegalia, assumindo um padrão de talassemia intermedia, que pode ter intensidade variada. O diagnóstico pode ser feito pela incubação sanguínea com corantes suparavitais (precipitam a HbH) ou pela eletroforese de hemoglobina. Hemoglobina H com aspecto de “bola de golfe” em esfregaço de sangue periférico Normalmente não é necessário tratamento específico, sendo a suplementação de ácido fólico indicada, assim como nas demais anemias hemolíticas. Transfusões sanguíneas podem ser recomentadas quando necessário, assim como a esplenectomia. Traço alfa-talassêmico: é um quadro benigno, bastante comum em descendentes de populações afetadas pela talassemia (ex.: italianos). Assintomática, é marcada apenas por hemograma microcítico e hipocrômico, o que dificulta do diagnóstico (há tão pouca HbH que não é captada na eletroforese); Estudos de DNA podem ser realizados para identificar, com maior assertividade, as alterações genéticas nesse grupo. Deve-se suspeitar de traço alfa- talassêmico em indivíduos com microcitose, perfil de ferro normal e níveis normais de HbA2 e HbF. Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS Portador silencioso (já detalhado anteriormente). Formas de apresentação e acometimento da alfa- talassemia BETA-TALASSEMIAS: As características sintomatológicas, laboratoriais e terapêuticas das beta- talassemias irão depender diretamente da classificação clínica da alteração nas cadeias de β-globina, a saber: Beta-talassemia major: representa a apresentação mais grade dessa doença, com alterações no crescimento, anemia e esplenomegalia (que pode ou não cursar com Hiperesplenismo). Distúrbios ósseos são comuns, uma vez que há aumento da medula óssea. A insuficiência de glândulas e órgãos é um importante desfecho crônico, decorrente do acúmulo de ferro oriundo de transfusões e da alimentação. “Cara de rato”, alteração esquelética comum em pacientes com beta-talassemia Ao hemograma, esses pacientes apresentam anemia microcítica e muito hipocrômica, com grande concentração de eritroblastos. Hemácias hipocrômicas em alvo (seta inferior) e eritroblastos (setas superiores) na beta- talassemia A conduta terapêutica é baseada principalmente em esquemas transfusionais e no controle da sobrecarga de ferro. O transplante de medula óssea é a única ação curativa. Beta-talassemia intermedia: nesses casos a anemia hemolítica (Hb entre 6 e 9 g/dL) temgravidade variável (resultado da heterogeneidade de mutações), não sendo necessárias transfusões crônicas. Distúrbios esqueléticos e alterações no baço são frequentes, assim como a eritropoese extramedular, responsável pelo desenvolvimento de massas mediastinais ou paravertebrais. Massa mediastinal sugestiva de hematopoese extramedular (linha pontilhada determinando contorno externo, círculo com identificação em perfil) Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS Quadros trombóticos podem afetar 10% dos pacientes, e a sobrecarga de ferro pode ser encontrada até mesmo em adultos sem histórico transfusional. Beta-talassemia minor: resulta em manifestações assintomáticas, com alterações basicamente restritas ao formato das hemácias (anisocitose acentuada, com microcitose, hipocromia e anemia ausente ou mínima). Graças a esse “padrão”, é descoberta por acaso, sendo inicialmente conduzida como uma deficiência de ferro. No entanto, ressalta-se que essa manifestação não requer tratamento. A confirmação diagnóstica se dá pela eletroforese de hemoglobina (principalmente após falha terapêutica com suplementos de fero), que indica aumento de HbA2 e, em alguns casos, de HbF. Possibilidades de acometimento genético na beta- talassemia
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