Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hemoglobinopatias ANEMIA FALCIFORME Definição Trata-se de uma doença genética, ou seja, o indivíduo nasce com a mutação e não a adquire ao longo da vida. A anemia falciforme é caracterizada pela presença da hemoglobina S (HbS) e pelas suas hemácias em forma de foice, ao invés do formato bicôncavo normal. Anemia falciforme X Doença falciforme A anemia falciforme se refere a forma homozigótica (SS), a qual o indivíduo possui os dois cromossomos mutados. Enquanto a doença falciforme se refere à forma heterozigota, ou seja, mutação falciforme acrescida de outra hemoglobinopatia, como SC, S Beta (talassemia), SD. Traço Falciforme Refere-se também a forma heterozigota, são apenas carreadores e não manifestam a doença. Hereditariedade A anemia falciforme é uma doença autossômica recessiva e, portanto, isso implica em ambos os progenitores (pai e mãe) portadores do traço falciforme. Fisiopatologia As alterações clínicas presentes nesta doença são decorrentes da mutação na Hemoglobina S (HbS) devido a troca de pares de bases, isto é, ao invés de uma timina há uma adenina. Consequentemente, a valina (localizada na posição 6 da cadeia beta) é codificada no lugar da glutamina. Essa troca de um único aminoácido é responsável pela formação da HbS. Cabe ressaltar que hemoglobinas normais não são capazes de interagir entre si e seu formato bicôncavo permite um fluxo tranquilo pelo organismo. Entretanto, as Hemoglobinas S conseguem interagir entre si, principalmente em situações em que há pouco oxigênio disponível, formando um polímero rígido que altera a conformação das hemácias, adquirindo o conhecido formato de foice. Esse novo formato das hemácias dificulta o trânsito dentro dos capilares, levando a processos de vaso oclusão e hemólise. O grande problema é que as hemácias com formatos anormais acabam sofrendo hemólise e são destruídas, implicando na instalação dos quadros de anemia e icterícia. Além disso, a nível de microcirculação, ocorre um processo de vaso oclusão dos capilares e aumento da expressão das moléculas de adesão dos eritrócitos, levando ao infarto e necrose e por conseguinte, disfunção de órgãos e crises dolorosas, um desafio para o manejo da doença. Em relação a gravidade da doença, podemos classificá-la em ordem decrescente: Hb SS (forma mais grave), HbS beta ou Hb SC (forma intermediária) e Hb SD (forma mais leve). Epidemiologia A doença possui origem no continente africano e é comum no Brasil em pessoas afrodescendentes. Cerca de 1 a cada 35 nascidos vivos possuem o traço falciforme, equivalente a 200.000/ano. A respeito da distribuição do traço falciforme, a Bahia possui a maior quantidade de casos no Brasil, enquanto os estados do sul, menos casos. Diagnóstico Em geral, a maioria das crianças recebe o diagnóstico de anemia falciforme através do resultado do teste do pezinho, o qual vigora em todo o território nacional. Complicações ● Episódios dolorosos; ● Síndrome torácica aguda; ● AVC; ● Osteonecrose; ● Priapismo; ● Retinopatia proliferativa; ● Infarto e sequestro esplênico; ● Úlceras dos membros inferiores; ● Cálculo biliar; ● Crise aplástica; ● Osteopenia; ● Doença pneumocócica e sepse. Tratamento Na anemia falciforme não existe tratamento específico; assim, a melhora da sobrevida e da qualidade de vida desses pacientes se baseia em medidas gerais e preventivas. ANEMIA FERROPRIVA A anemia mais comum da prática clínica. Definição A anemia ferropriva ou ferropênica é oriunda da deficiência de ferro com comprometimento dos estoques corpóreos de ferro. Nesse tipo de anemia, há prejuízo na síntese de hemoglobina e eritrócitos (hemácias), que por sua vez provoca disfunções nos processos metabólicos normais ligados à presença do ferro no sangue. Epidemiologia A carência de ferro é mais prevalente em países em desenvolvimento, onde a alimentação é pobre nesse metal e rica em cereais (que inibem a absorção intestinal de ferro), e onde a prevalência das parasitoses intestinais é alta. Representa um problema de saúde pública, pois é considerada a doença carencial mais recorrente no mundo. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (2009), a prevalência da anemia ferropriva é de 20,9% das crianças menores de cinco anos e 24,1% das crianças menores de dois anos de idade; em mulheres entre 15 e 49 anos, a prevalência é de 29,4%. Fisiopatologia O ferro encontrado no organismo pode estar na forma heme ou ferrosa (Fe 3+ ) ou na forma não heme ou férrica (Fe 2+ ) e está distribuído em 65% nas hemoglobinas, auxiliando no transporte do oxigênio pelos eritrócitos. O ferro é essencial a várias funções do organismo, como a síntese de DNA, proliferação de células, reações enzimáticas e produção de energia. A absorção do ferro ocorre principalmente na borda em escova do intestino delgado e pode ser facilitada por agentes como ácido ascórbico e ácido cítrico. Sabe-se que a hepcidina é o hormônio, sintetizado no fígado, responsável por controlar a homeostase do ferro, em especial quanto aos seus níveis de absorção. A anemia ferropriva surge quando os níveis de ferro estão tão baixos que provocam déficit na formação de eritrócitos (eritropoese). Assim que os níveis de transferrina – proteína que transporta o ferro para precursores hematopoiéticos – ficam em torno 15%, as hemácias tornam-se microcíticas e hipocrômicas (com baixo nível de hemoglobina). A redução da massa de eritrócitos faz com que a sobrevida destes se torne diminuída, bem como ocorram deformações em seu arranjo estrutural. Desta maneira, há redução da quantidade de hemoglobina circulante – proteína que transporta oxigênio no sangue –, de modo que a hemoglobina se torna incapaz de carrear oxigênio adequadamente para o organismo do indivíduo que entra em estado de hipóxia, devido à deficiência de oxigenação sanguínea e tissular. A anemia ferropriva pode estar associada a perdas sanguíneas fisiológicas, como no período menstrual e/ou patológicas, a exemplo da perda oculta de sangue nas fezes, devido a condições como parasitoses, diverticulites ou neoplasias. É também associada à dieta alimentar rica em cereais que contêm pouco ferro, ou pobre em proteína animal – que contém muito ferro. O aporte insuficiente de ferro pode ocorrer por distúrbios na absorção, a exemplo do que ocorre na das doenças inflamatórias intestinais ou no caso de indivíduos que passaram por gastrectomia. Sinais e Sintomas Cansaço, fadiga, dispnéia aos esforços, palidez cutâneo-mucosa, glossite, queilite angular, coiloníquia, perversão do apetite, esplenomegalia, Síndrome de Plummer-Vinson (disfagia por formação de membrana na junção da hipofaringe com o esôfago). Diagnóstico O diagnóstico laboratorial é utilizado para confirmar os casos de anemia ferropriva mediante apresentação de sintomatologia típica e ocorre por meio da realização de hemograma e avaliação dos níveis de ferro sanguíneos. Tratamento ● É preciso investigar a causa e tratá-la. ● Reposição de Ferro via oral (estômago vazio) associado à vitamina C ● Sulfato ferroso 300mg (3 ou 4x ao dia) ● Tratar por até 6-12 meses para repor os estoques de ferro ou até ferritina > 100 ng/mL TALASSEMIAS Talassemias são hemoglobinopatias quantitativas, hereditárias, genéticas, decorrentes de mutações nos genes das globinas (alfa ou beta na maioria dos casos), que promovem redução ou ausência de síntese de uma ou mais das cadeias de globina, formadoras da hemoglobina. O resultado dessas alterações moleculares ocasiona desequilíbrio na produção das cadeias, tendo como maior consequência a eritropoese ine caz. Apresentam uma enorme variedade de manifestações clínicas e laboratoriais, de acordo com a cadeia afetada e com o grau de desequilíbrio na produção quantitativa. São classificados, de acordo com a cadeia polipeptídica afetada; as mais frequentes são as talassemias do tipo alfa e do tipo beta.Também são descritas as talassemias do tipo delta-beta, delta e gama-delta-beta, porém são muito raros estes tipos de talassemia. TALASSEMIA ALFA Definição A talassemia alfa constitui um grupo de doenças hereditárias, de distribuição mundial, causada pela deficiência de síntese de uma ou mais cadeias alfa da hemoglobina. A produção da globina alfa depende de 4 genes alfa funcionantes que estão nos cromossomos 16, sendo dois genes em cada cromossomo. Pessoas com alfa talassemia apresentam mutações no cromossomo 16 e são classificadas conforme o número de genes alfa mutados. São quatro as possibilidades genéticas de uma pessoa apresentar este tipo de talassemia: PORTADOR SILENCIOSO (α-/α) – Neste tipo de alteração, o indivíduo é o portador de um gene defeituoso, herdado de um dos pais, sem apresentar sintomas ou necessitar de tratamento. Ou seja, o portador silencioso não é considerado doente e não precisa de tratamento. TRAÇO ALFA TALASSEMIA (α-/α- ou –/ αα) – Este tipo de talassemia alfa acontece quando dois genes são defeituosos, o hemograma apresenta algumas alterações leves, e o portador pode apresentar palidez na pele e, quando adulto, sentir um pouco de cansaço. DOENÇA DA HEMOGLOBINA H (α-/–) – Considerado entre os casos mais graves, onde a pessoa herda dos pais três genes alterados, o indivíduo pode manifestar a doença da hemoglobina H (que tem uma função semelhante à da hemoglobina normal, mas é mais instável e seu tempo de vida menor, por isso as hemácias terão menor duração no organismo), resultando em anemia e necessidade de tratamento. HIDROPSIA FETAL (–/–) – Há casos em que a mutação atinge os quatro genes, o que causa completa incapacidade do organismo em produzir as cadeias alfa, tornando impossível a produção normal de hemoglobina. A doença desenvolvida é incompatível com a vida e leva o feto ao óbito ainda no útero. Mas felizmente, isso é raro. TALASSEMIA BETA Definição A beta talassemia ou talassemia beta, se dá a partir de um defeito genético no cromossomo 11, que afeta a produção das cadeias beta da hemoglobina. Este é o tipo mais frequente de talassemia no Brasil e no mundo. É classificada em três grupos básicos: ● Talassemia beta menor/traço talassêmico beta (anemia leve) ● Talassemia beta intermediária (anemia leve a grave, podendo necessitar transfusões de sangue esporadicamente) ● Talassemia beta maior (anemia grave, necessitando transfusões de sangue a cada 2–4 semanas desde os primeiros meses de vida). Diagnóstico das Talassemias O diagnóstico laboratorial das talassemias é feito por hemograma e eletroforese de hemoglobina. Também é possível estudar a mutação genética específica. O diagnóstico de talassemia beta menor não é possível de ser feito pela triagem neonatal “exame do pezinho”, enquanto na talassemia alfa encontra-se a hemoglobina Bart 's (só é detectada no recém-nascido) na triagem neonatal. Apesar de não ser doente, a pessoa com talassemia menor ou traço alfa-talassemia deve ser identificada, para fins de orientação familiar e para estabelecer o diagnóstico diferencial entre anemia ferropriva. METEMOGLOBINEMIA Definição A metemoglobinemia é um distúrbio sanguíneo caracterizado pela presença circulante da metemoglobina e no qual menos oxigênio do que de costume é fornecido às células do corpo. Normalmente, o oxigênio é transportado pela corrente sanguínea apegado à hemoglobina e é liberado para as células do corpo. No entanto, a metemoglobina é um tipo específico de hemoglobina que também transporta oxigênio pelo sangue, mas não o libera para as células. Se o corpo produz muita metemoglobina, ela pode começar a substituir a hemoglobina normal e isso pode levar à falta de oxigênio nas células. A metemoglobinemia pode ser congênita ou adquirida. Diagnóstico Uma das primeiras indicações de diagnóstico de metemoglobinemia é a cianose generalizada, que não melhora com a aplicação de O2. O sangue apresenta coloração acastanhada e não vermelho vivo, como é normal. A gasometria arterial mostrará uma pO2 normal. Para medir diretamente a metemoglobina, uma amostra de sangue deve ser enviada para análise por um co-oxímetro. Para diagnosticar a metemoglobinemia o médico pode ainda solicitar hemograma completo, exames para verificar enzimas, exame da cor do sangue, níveis sanguíneos de nitritos ou outras drogas, dentre outros. Um diferencial deve ser estabelecido com a sulfemoglobinemia. A sulfemoglobina também é incapaz de transportar o O2 e faz o paciente parecer cianótico. Tratamento Muitas pessoas que vivem com metemoglobinemia não apresentam sintomas e podem levar a vida normalmente com essa condição. Não existe tratamento eficaz contra a forma congênita ou para aqueles que tenham desenvolvido uma forma adquirida a partir dela. Os pacientes afetados não devem tomar medicamentos como benzocaína e lidocaína, capazes de induzir a metemoglobinemia. Pessoas que adquirem metemoglobinemia de medicamentos podem se recuperar completamente com o tratamento adequado. Se a forma adquirida não for adequadamente tratada imediatamente, pode levar à morte. A metemoglobinemia pode ser uma emergência médica. O primeiro tratamento é a infusão com a droga azul de metileno. Este medicamento ajuda as pessoas rapidamente, mas aquelas que não respondem ao azul de metileno podem precisar de uma transfusão de sangue. O azul de metileno NÃO pode ser usado em pessoas com o tipo congênito da doença. METEMOGLOBINEMIA CONGÊNITA A causa mais comum de MetHba congênita é a deficiência de CB5R. Herdada de forma autossômica recessiva, a doença é dividida em dois tipos: o tipo I, que acomete somente hemácias maduras e o tipo II, que atinge todos os tipos celulares. A deficiência de CB5R tipo I é distribuída mundialmente, mas é endêmica em algumas populações, como a dos índios Athabascan e Navajo, da América do Norte e Yakutsk, nativos da Sibéria. Em outros grupos étnicos, o defeito ocorre de forma esporádica. Os homozigotos têm fMetHb (fração de MetHb com relação à Hb total expressa em percentual, que varia de 10% a 35%) e em geral apresentam cianose e policitemia, permanecendo sem outros sintomas até que ocorram níveis de MetHb superiores a 40% . A expectativa de vida não é menor que na população em geral e as gestações ocorrem normalmente. A atividade CB5R nos indivíduos heterozigotos é em torno de https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/755617/em+que+consiste+a+gasometria+arterial+quando+deve+ser+feita.htm https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/523844/transfusao+de+sangue+o+que+e+como+ela+e+feita+quando+ela+deve+ser+feita+existe+alguma+complicacao+possivel.htm https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/523844/transfusao+de+sangue+o+que+e+como+ela+e+feita+quando+ela+deve+ser+feita+existe+alguma+complicacao+possivel.htm 50% da atividade observada nos indivíduos saudáveis. Apesar desse nível ser suficiente para manter a fMetHb abaixo de 1%, algumas vezes condições de estresse oxidativo agudo podem superar a capacidade do eritrócito em reduzir a MetHb, produzindo MetHba aguda sintomática, podendo-se inferir que ao menos uma parte dos pacientes que desenvolvem a síndrome aguda deva ser de fato heterozigota para deficiência de CB5R ainda sem diagnóstico. Pela instalação abrupta do quadro, esses indivíduos sofrem mais que os homozigotos, já que estes desenvolvem mecanismos de tolerância desde o nascimento, e os heterozigotos não o fazem. De 10% a 15% dos indivíduos com deficiência de CB5R congênita apresentam doença do tipo II, causada por deficiência enzimática em todas as variedades de células, incluindo células não-eritróides, como fibroblastos, linfócitos e células do sistema nervoso central. A doença, de ocorrência esporádica mundial, apresenta-se com retardo mental e atraso no desenvolvimento. A expectativa de vida nesses pacientes é bem reduzida em virtudede complicações neurológicas. O tratamento com agentes redutores não tem efeito nessas complicações e não altera o mau prognóstico da doença. Outra causa de MetHba congênita é a doença da hemoglobina M (HbM). Nessa condição, a Hb sofre mutações na cadeia de globina, com estabilização do ferro do radical heme no estado oxidado Fe3 +. Em geral, há substituição de histidina por tirosina na cadeia alfa ou beta. As aberrações levam à formação de complexo ferro-fenolato resistente à redução e, assim, a HbM não pode ser reduzida pela NADH-MR . Até o momento, diversas variantes da HbM já foram identificadas e caracterizadas (Boston, Iwate, Kankakee, Saskatoon, Hyde Park, Osaka, Fort Ripley) 9 . Quando a mutação acomete a cadeia alfa, a cianose se apresenta desde o nascimento; quando a cadeia beta é afetada, a cianose surge a partir dos seis meses de idade, período em que a maior parte da HbF já foi substituída pela HbA. Os portadores de HbM são cianóticos, mas não costumam exibir sintomas. Entretanto, a exposição a fármacos ou toxinas capazes de oxidar a Hb pode aumentar a fMetHb e com isso trazer descompensação clínica. Na HbM, a expectativa de vida não é afetada e a doença é herdada com um padrão autossômico dominante. Acredita-se que a homozigose seja incompatível com a vida. METEMOGLOBINEMIA ADQUIRIDA Acredita-se que os casos adquiridos sejam mais frequentes que os de origem congênita . Os agentes oxidantes aceleram a oxidação da Hb de 100 a 1.000 vezes e acabam sobrepujando a capacidade dos sistemas redutores endógenos. O contato com essas substâncias ocorre pelo tratamento com inúmeros fármacos, intoxicação por pesticidas, herbicidas, fertilizantes, fumaça de escapamento de automóveis e substâncias químicas industriais . Entre os fármacos mais implicados, destacam-se os anestésicos locais (benzocaína, lidocaína e prilocaína), a dapsona, os derivados da fenacetina e os antimaláricos. Os diversos casos de MetHba relacionados com sprays de benzocaína em procedimentos endoscópicos resultaram na proibição do emprego tópico orofaríngeo dessa droga pelo Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos . Grande parte das intoxicações que resultam em MetHba tem como agentes causadores nitritos ou nitratos. Com grande poder oxidante, essas substâncias têm amplo emprego na indústria alimentícia como preservativos e corantes. Estão presentes em refeições prontas para bebês, alimentos com sabor barbecue e muitos outros produtos. Os nitratos também participam como contaminantes de água potável. Há alguns anos vêm sendo relatados casos de MetHba aguda em áreas rurais nos Estados Unidos e em diferentes áreas residenciais na Índia. A população mais pobre, usuária de poços irregulares, é a mais atingida pelo problema. Os lactentes são particularmente suscetíveis à MetHba, uma vez que têm atividade reduzida da CB5R (de 50% a 60% com relação ao adulto) até os 4 meses de idade, além da hemoglobina fetal (HbF) ser mais facilmente oxidada que HbA. Além disso, o pH intestinal mais elevado facilita o crescimento de bactérias gram-negativas conversoras de nitratos alimentares em nitritos, que têm maior poder oxidante . O desmame anterior aos 4 meses de idade expõe o lactente à contaminação por nitratos de origens diversas, inclusive de fontes naturais (cenoura, beterraba, fava, feijão verde, espinafre e abóbora). A intoxicação de lactentes leva à formação de MetHb numa velocidade acima da capacidade de redução, e a gravidade do quadro depende de alguns fatores, como quantidade de toxina a que o indivíduo foi exposto, capacidade metabólica individual, absorção intestinal e recirculação êntero-hepática. ANEMIA MEGALOBLÁSTICA É um tipo de anemia que faz parte das carenciais, juntamente com a anemia ferropriva. Ela é ocasionada pela ausência de cofatores importantes para a síntese de DNA. Por conta disso, ocorre a assincronia na divisão celular, o citoplasma se prepara para uma divisão que não acontece e se torna muito grande em relação ao núcleo. Apesar de afetar todas as divisões celulares, as células que se dividem de forma mais rápida são as mais afetadas, estando aí incluídas as células precursoras da medula óssea. Como consequência disso, os eritrócitos passam a apresentar volume e tamanho aumentados, sendo chamados de megaloblastos que ao serem produzidos, são reconhecidos como defeituosos e destruídos na própria medula, ou seja, causando uma eritropoiese ineficaz e anemia. Quais são as causas? As principais causas são as deficiências de ácido fólico, que participa da formação de purinas e pirimidinas, e/ou de vitamina B12, necessária para permitir a entrada do folato nas células. Além disso, há também o uso de medicamentos que bloqueiam a síntese de DNA ou que interferem no metabolismo do ácido fólico, como alguns anticonvulsivantes. Por não serem produzidos pelas células do nosso corpo, a vitamina B12 e o folato precisam estar presentes em nossa dieta. Em ocasiões de baixa ingesta, síndromes disabsortivas ou aumento de consumo, haverá carência de ácido fólico, enquanto a de cobalamina, geralmente, é resultado de má absorção da vitamina. Diferente do ácido fólico, que poucos meses de balanço negativo entre ingestão e consumo são suficientes para desenvolver sintomas da anemia, as reservas de vitamina B12 duram até 15 anos. Por conta disso, dietas carentes em B12, como dos veganos, podem causar uma anemia megaloblástica, porém muito mais a longo prazo se não houver a devida reposição vitamínica. Quais as manifestações clínicas desse distúrbio? Apesar de muitas semelhanças, existem diferenças chave entre os quadros clínicos das anemias por deficiência de cobalamina e ácido fólico. Sendo assim, temos, dentro da deficiência de cobalamina, manifestações hematológicas, digestivas e neurológicas. As hematológicas são as comuns a todas as anemias, ou seja, astenia, palpitação, cefaléia, irritabilidade, e petéquias e púrpuras devido a trombocitopenia. As digestivas, secundárias à má absorção, são diarreia e perda de peso. Além disso, são comuns queixas de queilite angular (inflamação nos cantos da boca) e glossite (eritema e atrofia papilar). Por último, as manifestações neurológicas estão associadas a ausência de uma reação da vitamina, provocando o acúmulo de ácido metilmalônico e a formação inadequada de metionina (importante para a formação da bainha de mielina). As repercussões são muitas, entre elas polineuropatia periférica, diminuição da propriocepção, desequilíbrio, marcha atáxica, diminuição da força dos membros inferiores, déficit cognitivo, psicose.Como a deficiência de folato está mais associada à má alimentação, os pacientes apresentam-se mais desnutridos que os deficientes de cobalamina. As manifestações são muito parecidas, porém o trato gastrointestinal está mais comprometido e não ocorrem prejuízos neurológicos. Como é feito o diagnóstico? Os principais exames laboratoriais envolvem: 1- Análise do hemograma, acharemos um VCM aumentado, característico da megaloblastose, além de pancitopenia leve a moderada, devido a um defeito da produção de todas as células hematopoiéticas; 2- Esfregaço do sangue periférico, que terá como principal achado a hipersegmentação dos núcleos dos neutrófilos; 3- Realização do mielograma, o exame padrão ouro para diagnosticar anemia megaloblástica e que vai indicar uma medula óssea hipercelular e alterações morfológicas nucleares, como eritroblastos grandes com núcleos imaturos; 4- Dosagem de cobalamina sérica, que quando muito reduzida sugere fortemente o diagnóstico; 5- Dosagem sérica de folato, apesar de não muito confiável, pode ser solicitada e, para casos duvidosos, o folato eritrocitário pode ser dosado. É importante lembrar que a deficiência de B12 pode ocasionar um acúmulo de folato sérico e mascarar uma deficiência concomitantedeste; 6- Dosagem de ácido metilmalônico, que mostrará índices elevados quando há deficiência de cobalamina; 7- Dosagem de homocisteína, que indicará tanto a falta de B12 quanto de ácido fólico. Como tratar essa anemia? Como na grande maioria dos pacientes a deficiência de B12 é consequente da má absorção, a reposição deve ser realizada por via intramuscular com doses de 1000 mcg por dia durante uma semana. Em seguida, será administrada a mesma dose semanalmente por quatro semanas. Daí em diante são realizadas doses mensais para o resto da vida. Já a terapia de reposição de ácido fólico, pode ser feita por via oral e, caso haja defeito de absorção, poderá ser aplicada uma dose mais alta. A correção da dieta também é essencial para o sucesso do tratamento e redução da chance de recidiva. HEMOGLOBINOPATIA C E HEMOGLOBINOPATIA SC TIPO C: O indivíduo possui um gene para a hemoglobina C (que causa a ruptura das hemácias) TIPO SC: O indivíduo possui um gene para a anemia falciforme (S) e um gene para a hemoglobina C. As duas são genéticas, passadas dos pais para os filhos Sintomas TIPO C - Dores abdominais e articulares, fraqueza e cálculos na vesícula. TIPO SC - Dores articulares e na lombar, infecções frequentes, fraqueza e pele amarelada Tratamento O tratamento é feito com reposição de ferro e, em casos graves, transfusão sanguínea.
Compartilhar