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A IMPUNIDADE DOS CRIMES DE ESTUPRO NO BRASIL

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Prévia do material em texto

1 
 
 
INSTITUTO APHONSIANO DE ENSINO SUPERIOR 
FACULDADE DE DIREITO 
COORDENAÇÃO DE TRABALHO DE CURSO 
MONOGRAFIA JURÍDICA 
 
 
 
 
A IMPUNIDADE DOS CRIMES DE ESTUPRO NO BRASIL 
 
E OS ÍNDICES DE REINCIDÊNCIA DOS AGRESSORES 
 
 
 
 
ORIENTANDO (ª) – THAIS MARTINS PEREIRA ANDRADE 
ORIENTADOR (ª) - PROF. (ª) ME. ISAC CARDOSO NEVES 
 
 
 
TRINDADE 
2021 
2 
THAIS MARTINS PEREIRA ANDRADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A IMPUNIDADE DOS CRIMES DE ESTUPRO NO BRASIL 
 
E OS ÍNDICES DE REINCIDÊNCIA DOS AGRESSORES 
 
 
 
Monografia Jurídica apresentada à 
disciplina Trabalho de Curso II, do 
Instituto Aphonsiano de Ensino 
Superior, Curso de Direito. 
Prof. Orientador Me. Isac Cardoso 
Neves 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRINDADE 
2021 
3 
 
 
 
THAIS MARTINS PEREIRA ANDRADE 
 
 
 
 
 
A IMPUNIDADE DOS CRIMES DE ESTUPRO NO BRASIL 
E OS ÍNDICES DE REINCIDÊNCIA DOS AGRESSORES 
 
 
 
 
 
Data da Defesa: 22 de junho de 2021 
 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientador: Me. Isac Cardoso Neves 
Examinador Convidado: Prof. Me. Alano Franco Bastos 
Examinador Convidado: Prof. Me. Ronney Francisco de Miranda 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todas as vítimas de 
violência sexual, que apesar de todo o 
sofrimento ainda encontram forças para lutar. 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço primeiramente à Deus por ter me dado um 
espírito de coragem e um senso de justiça, para que 
a cada dia eu consiga protestar e lutar pelos meus 
ideais. E em segundo lugar agradeço a todas as 
pessoas que se mobilizam para o enfrentamento da 
violência contra a mulher. 
6 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
RESUMO..................................................................................... 08 
METODOLOGIA ........................................................................ 09 
INTRODUÇÃO ............................................................................ 10 
CAPÍTULO I – História do Estupro ........................................... 11 
1.1 Evolução Historica do Crime de Estupro ................................ 11 
1.2 História do Crime de Estupro no Brasil .................................. 14 
1.3 No Brasil Imperial .................................................................. 15 
1.4 No Brasil República ............................................................... 16 
CAPÍTULO II – Parte Geral do Delito de Estupro ..................... 17 
2.1 Código Penal de 1940 ........................................................... 17 
2.2 Crime Único ou Concurso de Crimes ...................................... 22 
2.3 Ação Penal ............................................................................. 23 
2.4 Hediondez ............................................................................. 23 
2.5 Orgão Competente ................................................................ 24 
CAPÍTULO III – Dos Agressores .............................................. 24 
3.1 Dos Abusadores .................................................................... 24 
3.2 Dos Apenados e Reincidentes ............................................... 25 
3.4 Da Impunidade ...................................................................... 26 
CAPÍTULO IV – Dos Danos Causados as Vítimas ................... 27 
7 
 
4.1 Das Vítimas ........................................................................... 27 
4.2 Dos Danos Psicológicos Causados as Vítimas ..................... 28 
4.3 Da Cultura do Estupro. ......................................................... 28 
CAPÍTULO V – Identificação do crime. ..................................... 29 
5.1 Das Formas que as Vítimas Possam Identificar a Violência 
Sofrida ........................................................................................ 29 
5.2 Do Atendimento a Vítima ...................................................... 30 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 32 
REFERÊNCIAS ................................................................... 33 e 34 
8 
RESUMO 
 
 
 
O presente estudo tem por finalidade discorrer sobre os índices de impunidade 
nos crimes de violência sexual no Brasil. Sendo este um desafio a ser enfrentado 
pela sociedade e pelas autoridades, uma vez que, se trata de um crime 
silencioso, e uma pequena parcela dos acontecimentos chega ao conhecimento 
das autoridades. Apesar de existirem programas socias que visam a proteção 
das vítimas e a repreensão de tais crimes ainda há uma porcentagem de 
pessoas que não recebem o devido amparo legal. Tendo como principal objetivo 
destacar as falhas existentes no nosso ordenamento jurídico pátrio e evidenciar o 
sofrimento de tantas vítimas que são acometidas a tais situações. 
 
Palavras chave: impunidade, violência sexual, vítimas. 
9 
METODOLOGIA 
 
Para o desenvolvimento do presente artigo, foi-se utilizado a forma de pesquisa 
básica, e descritiva em relação aos dados analisados, proporcionando uma 
confinidade com a questão. 
Deste modo, criar hipóteses, pois a metodologia envolve pesquisas sob análise 
de dados e informações, de pessoas que tiveram experiencias ligadas de maneira 
direta com o tema pesquisado. 
O método usado para a coleta de dados supracitados, foi por meio de pesquisa 
bibliográfica e documental com abordagem quantitativa e dedutiva, com o objetivo 
de contrastar os dados para interpretação. 
No decorrer do levantamento da pesquisa, o primeiro procedimento realizado, diz 
respeito ao nome da autora, curso, tema e ano da defesa das monografias. 
As informações analisadas foram alteradas para porcentagem, para melhor 
visualização. Desta forma, as informações cruzadas, interpretadas de maneira 
quantitativa, para analisar o tema tratado. 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem como objetivo delatar os crimes de violência sexual, em 
especial o delito de estupro (art.213 do Código Penal), conforme redação 
estabelecida pela Lei nº 12.015/09. 
Trata-se de uma pesquisa baseada em elementos bibliográficos em torno do 
tema, cujo objetivo geral é destacar a taxa de condenação dos agressores e os 
transtornos causados as vítimas de abusos sexuais. 
Tendo como objetivo fazer uma reflexão sobre as leis do nosso ordenamento 
jurídico pátrio e a forma que o Estado age em relação aos agressores e as 
vítimas de crimes sexuais. 
O tema selecionado possui extrema relevância, uma vez que, trata-se, de um 
crime hediondo e possui grande repercussão e mobilidade social. No Brasil os 
números de vítimas de crimes sexuais é altíssimo, necessitando de uma atenção 
especial por parte das autoridades e da sociedade. 
11 
CAPÍTULO I – HISTÓRIA DO ESTUPRO 
 
 
1. Evolução Histórica do Crime de Estupro 
Os crimes sexuais existem desde os primórdios, perdurando até os 
dias atuais; tais problemas constituem em uma preocupação à nível mundial. 
Desde as civilizações antigas já eram previstas penas para esse tipo de crime, 
devido grande interesse social causado pela gravidade e o sentimento de revolta 
movido pelo ato delituoso. As penas aplicadas na antiguidade, por sua vez, eram 
severas e cruéis, Luiz Régis Prado, a respeito, afirma: 
 
 
Os delitos sexuais, entre eles, o estupro, foram 
severamente reprimidos pelos povos antigos. Na 
legislação mosaica, se um homem mantivesse 
conjunção carnal com uma donzela virgem e noiva de 
outrem que encontrasse na cidade, eram ambos 
lapidados. Mas se o homem encontrasse essa 
donzela nos campos e com ela praticasse o mesmo 
ato, usando de violência física, somente aquele era 
apedrejado. 
Se a violência física fosse empregada para manter 
relação sexual com uma donzela virgem, o homem 
ficava obrigado a casar-se com ela, sem jamais poder 
repudiá-la e, ainda, a efetuar opagamento de 50 
ciclos de prata a seu pai (PRADO, 2008, p. 636). 
 
Nesse mesmo sentido, respalda Funari: 
 
Historicamente, os povos antigos já reprimiam este 
odioso comportamento. A lei mosaica em 
12 
Deuteronômio 22: 25 a 28 previa e punia tal 
comportamento com a pena de morte e pecuniária. A 
primeira hipótese quando o homem, com o uso de 
força, abusar sexualmente de mulher desposada, ou 
seja, comprometida para o casamento. A segunda 
hipótese quando tratar-se de mulher virgem e livre, 
devia o homem pagar cinquenta ciclos de prata ao pai 
desta e tomá-la como mulher para toda a vida 
(FUNARI, 2003, P. 197). 
 
Diante desta conjuntura histórica, observa-se a presença da 
sociedade machista e patriarcal na aplicação da lei penal desde os primórdios 
da civilização. Dos crimes contra a liberdade sexual, o estupro é o que possui 
maior graveza, sendo previsto em todos ordenamentos jurídicos das civilizações, 
tendo para cada povo um meio de condenação. 
O Código de Hamurabi, é visto como a mais fiel origem do Direito, 
e nele havia sanção para o crime de estupro; este conjunto de normas surgiu na 
Mesopotâmia, por volta do século XVIII a. C., pelo rei Hamurabi, sendo o 
responsável por ter criado o primeiro império babilônico. Baseado nas Leis de 
Talião, esse conjunto de leis determinavam que todo criminoso deveria ser 
punido de maneira proporcional ao crime cometido. 
O referido Código, trazia em seu texto legal no artigo 130 a previsão para o 
crime de estupro: 
“Se alguém viola a mulher que ainda não conheceu homem e vive na casa 
paterna e tem contato com ela e é surpreendido, este homem deverá ser morto 
e a mulher irá livre.” 
Diante do exposto, é nítido que a mulher era vista perante a sociedade como um 
objeto sexual e não como sujeito de direitos. 
No direito germânico haviam alguns requisitos para a configuração 
do crime de estupro, dentre eles, que a mulher violada fosse virgem, pois se 
13 
exigia o emprego da violência sob a ofendida, e não consideravam o delito de 
estupro, se a violência utilizada fosse em mulher desvirginada (PRADO, 2002). 
O antigo direito francês fazia distinção entre o rapto violento e o 
estupro. O rapto consistia na subtração violenta de donzelas, mulheres e viúvas 
de qualquer idade, contra sua vontade, com o fim de abusa-las sexualmente, já 
o estupro compreendia, o emprego de força por parte do réu, contra virgem, 
mulher, ou viúva, tendo em mira a conjunção carnal. 
Na civilização francesa o elemento que diferenciava os crimes de estupro e 
rapto, consistia na remoção da vítima de um local para o outro. No delito de 
estupro, não havia a subtração do sujeito passivo, apenas a violência por parte 
do autor contra a vítima, com o objetivo de conjunção carnal. 
No Direito Romano, foi usada pela primeira vez a expressão 
estuprum, que derivou a palavra estupro, contudo, não possuia o significado de 
conjunção carnal violenta cuja expressão era crimen vis, ao qual era punida com 
a pena de morte Bittencour (2015, p. 48): 
 
 
Os povos antigos já puniam com grande severidade 
os crimes sexuais, principalmente os violentos, dentre 
os quais se destacava o de estupro. Após a Lex Julia 
de adulteris (18 d.C.), no antigo direito romano, 
procurou-se distinguir adulterius e stuprum, 
significando o primeiro a união sexual com mulher 
casada, e o segundo, a união sexual ilícita com viúva. 
Em sentido estrito, no entanto, considerava-se 
estupro toda união sexual ilícita com mulher não 
casada. Contudo, a conjunção carnal violenta, que 
ora se denomina estupro, estava para os romanos no 
conceito amplo do crimen vis, com a pena de morte. 
14 
A tradição perdurou até a Idade Média, período este, onde aplicava- se a pena 
de morte para o crime de estupro violento. 
 
1.2. HISTÓRIA DOS CRIMES DE ESTUPRO NO BRASIL 
 
 
O estupro no Brasil começou a ter impacto após o descobrimento 
do país pelos portugueses, sendo a base da mestiçagem brasileira; praticado 
como um direito divino, por portugueses contra índias e pelos senhores de 
escravos contra negras e índias durante o período colonial. As índias e negras 
eram alocadas na condição de “objeto privado”, cujo “uso” era “legal”, uma vez 
que, “honra” era atribuído apenas as mulheres brancas, sendo que, índias e 
negras não eram mencionadas nas Ordenações das Filipinas, o ordenamento 
jurídico português que vigorou no Brasil até 1830. 
As Ordenações Filipinas, foi um código legal português 
promulgado em 1603 por Filipe I, rei de Portugal, vigorando até 1830. Tais 
Ordenações eram formadas por cinco livros, sendo o último deles dedicado 
exclusivamente ao direito penal. O Título VIII do Livro V abordava os “Crimes de 
violência com o intuito de satisfazer os prazeres sexuais” (LARA, 1999). 
No livro V, título XXIII, previa-se o estupro voluntário de mulher 
virgem, o que acarretava ao agressor a obrigação de contrair núpcias com a 
donzela e, caso fosse inviável o casamento o mesmo deveria constituir um dote 
para a vítima. No entanto, se o agressor não tivesse bens, era martirizado e 
humilhado, exceto se fosse fidalgo ou pessoa de posição social, hipótese em 
que somente receberia a pena de degredo. 
Ante ao exposto, nota-se que sempre esteve presente a 
impunidade nos crimes de violência sexual, tanto por parte dos senhores quanto 
pelos escravos. Além dos abusos cometidos pelos senhores em nome do prazer 
sexual, as negras também sofriam abusos por outros escravos para “reprodução 
do cativeiro”; as crianças geradas serviam de mão obra escrava ou objeto de 
venda para as famílias escravistas. 
15 
1.3. NO BRASIL IMPERIAL 
 
 
O Código Criminal do Império do Brasil, sobreveio em 1830, 
sendo o diploma penal que sucedeu as velhas Ordenações do Reino. O referido 
código abordava o crime de estupro no capítulo II – Dos crimes contra a 
segurança da honra. 
Seção I – Estupro, art. 222, in verbis: 
 
 
Art. 222. Ter copula carnal por meio de violencia, ou 
ameaças, com qualquer mulher honesta. 
Penas - de prisão por tres a doze annos, e de dotar a 
offendida. 
Se a violentada fôr prostituta. 
 
Penas - de prisão por um mez a dous annos. 
 
 
 
De acordo com Luiz Flávio Gomes (2001), o Código Criminal do Império fazia 
uma distinção no quantum da pena se a vítima fosse “honesta” ou meretriz, 
reduzindo a pena que no caso da honesta, seria de três a doze anos, para um 
mês a dois anos, no caso da prostituta. Do mesmo modo, o código citado trazia 
em seu texto legal no artigo 223, a previsão de violência com fins libidinosos sem 
que houvesse conjunção carnal, in verbis: 
 
Art. 223. Quando houver simples offensa pessoal para fim libidinoso, causando 
dôr, ou algum mal corporeo a alguma mulher, sem que se verifique a copula 
carnal. 
Penas - de prisão por um a seis mezes, e de multa correspondente á metade do 
tempo, além das em que incorrer o réo pela offensa. 
Se a ofendida fosse menor de dezessete anos o autor era levado para fora da 
Comarca em que residia a menor, sendo obrigado a pagar um dote à vítima. De 
acordo com o artigo 224 do Código Penal de 1830, in verbis: 
16 
Art. 224. Seduzir mulher honesta, menor dezasete annos, e ter com ella copula 
carnal. 
Penas - de desterro para fóra da comarca, em que residir a seduzida, por um a 
tres annos, e de dotar a esta. 
 
 
 
1.4 NO BRASIL REPÚBLICA 
 
 
O Brasil é uma república presindencialista desde 1889. Através do 
Decreto n.º 847 de 11 de outubro de 1890 o Código Penal da Republica dos 
Estados Unidos do Brasil foi instituído, o qual tratava o crime de estupro em seu 
Título VIII – Dos crimes contra a segurança da honra e honestidade das famílias 
e do ultraje público ao pudor, Capítulo I – Da violência carnal, arts. 266 a 269, in 
verbis: 
Art. 266. Attentar contra o pudor de pessoa de um, ou 
de outro sexo, por meio de violências ou ameaças, 
com o fim de saciar paixões lascivas ou por 
depravaçãomoral. Pena – de prisão cellular por um a 
seis annos. 
Parágrafo único. Na mesma pena incorrerá aquelle 
que corromper pessoa de menor idade, praticando 
com ela ou contra ela ou contra ella actos de 
libidinagem. 
Art. 267. Deflorar mulher de menor idade, 
empregando seducção, engano ou frade: Pena – de 
prisão cellular por um a quatro annos. 
Art. 268. Estuprar mulher virgem ou não, mas 
honesta. Pena – de prisão cellular por um a seis 
annos. 
17 
§1°. Si a estuprada for mulher pública ou prostituta: 
Pena – de prisão cellular de seis mezes a dous annos. 
§2°. Si o crime for praticado com o concurso de duas 
ou mais pessoas, a pena será augmentada da quarta 
parte. 
Art. 269. Chama-se estupro o acto pelo qual o homem 
abusa com violência de uma mulher, seja virgem ou 
não. Por violência entende-se 
não só o emprego da força physica, como o de meios 
que privarem a mulher de suas faculdades physicas, 
e assim da possibilidade de resistir e defender-se, 
como sejam o hypnotismo, o chloroformio, o ether, e 
em geral os anesthesicos e narcóticos (BRASIL, 
1890). 
 
 
 
O aludido código penal abordava o crime de estupro de maneira generalizada, 
uma vez que, incluía os delitos de defloramento e sedução. Entendia-se por 
violência, o uso da força física e quaisquer outros meios que pudessem privar a 
ofendida de suas faculdades psíquicas, e dessa forma, cessar qualquer 
possibilidade de resistência ou defesa. 
 
 
 
CAPÍTULO II – PARTE GERAL SOBRE O DELITO DE 
ESTUPRO 
 
2.1 CÓDIGO PENAL DE 1940 
18 
No código penal brasileiro de 1940 (código vigente), o delito de 
estupro está tipificado no Título VI – Dos crimes contra a dignidade sexual, que 
através da Lei n.º 12.015 de 7 de agosto de 2009, recebeu nova redação. A 
alteração de nomenclatura do supracitado Título, em 2009, veio como forma de 
adequar os tipos penais à nova realidade dos bens jurídicos protegidos, tendo 
em vista que “o foco da proteção já não era mais a forma como as pessoas 
deveriam se comportar sexualmente perante a sociedade do século XXI, mas 
sim a tutela da sua dignidade sexual.” (GRECO, 2011, p. 611). 
Nesse contexto, houve uma importante revolução, visto que antes 
da instituição da nova legislação, a conduta do legislador era de simplesmente 
proteger a moral social e os costumes, contudo com as modificações realizadas 
pela nova lei, o bem jurídico protegido passou a ser a liberdade e a dignidade 
sexual do indivíduo, ou seja, sua intimidade e autodeterminação para dispor do 
seu corpo e escolher o parceiro ou a parceira que melhor lhe aprouver na prática 
de atos da natureza sexual. 
Antes da redação dada pela nova lei 12.015/2009, o caput do 
artigo 213, do CP, que trata sobre o estupro de natureza simples, trazia a 
seguinte redação: 
 
Estupro 
Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou 
grave ameaça: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. 
 
 
Após o advento da nova lei, a redação desse dispositivo ficou da seguinte forma: 
 
 
Estupro 
Art. 213 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a 
ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique 
outro ato libidinoso: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. 
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima 
é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: 
19 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. 
§ 2º Se da conduta resulta morte: 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
 
 
A alteração na redação do artigo 213 foi bem recebida pela doutrina conforme 
Bittencourt (2015, p. 49): 
 
“Considerando-se que o legislador unificou, com a Lei n. 12.015/2009 os crimes 
de estupro e atentado violento ao pudor, poderia ter aproveitado para substituir 
as expressões que identificam essas duas figuras – conjunção carnal (estupro) 
e ato libidinoso diverso de conjunção carnal – por uma expressão mais 
abrangente, capaz de englobar os dois vocábulos anteriores como, por exemplo, 
“violação sexual mediante violência”. Esse vocábulo, além da dita cópula 
vagínica, abrange também, na linguagem clássica, as relações sexuais ditas 
anormais, tais como o coito anal e o sexo oral, o uso de instrumentos roliços ou 
dos dedos para a penetração no órgão sexual feminino, ou a cópula vestibular, 
em que não há penetração. A expressão “violação sexual mediante violência”, 
ademais, mostra-se mais atualizada, por seu alcance mais abrangente, pois 
englobaria também, além dos atos supraenunciados, as relações homossexuais 
(tidas, simplesmente, como atos libidinosos diversos da conjunção carnal), tão 
disseminadas na atualidade.” 
No entanto, a nova lei unificou em um só tipo penal as figuras 
delitivas de estupro (art. 213) e atentado violento ao pudor (art. 214), antes 
previstas em tipos penais autônomos, não existindo mais uma distinção 
tipográfica entre elas. 
Ao contrário da antiga redação, agora qualquer pessoa, seja ela homem ou 
mulher, podem ser vítimas, trazendo então uma grande inovação ao crime de 
estupro, conforme Bittencourt (2015, p. 51): 
A partir da Lei n. 12.015/2009 simplificou-se essa questão, e o 
delito de estupro passou a ser um crime comum, podendo ser praticado ou 
sofrido, indistintamente, por homem ou mulher. Esta lei trouxe uma inovação, 
que o marido também pode ser sujeito ativo do crime de estupro contra a própria 
mulher (parceira). Nessa linha, evidentemente, a mulher, a partir de agora, 
20 
também pode ser autora do crime de estupro, inclusive contra o próprio marido 
(quando obrigá-lo, por exemplo, à pratica de atos de libidinagem contra a 
vontade daquele). Dito de outra forma, qualquer dos c ônjuges, a nosso juízo, 
pode constranger, criminosamente, o outro à prática de qualquer ato libidinoso, 
incorrendo nas sanções cominadas neste dispositivo legal. 
A nova redação do artigo 213, instituiu o estupro de vulnerável, 
o qual trouxe uma inovação, que é a proteção ao menor de quatorze anos que 
na edição do Código Penal de 1940 não existia, incluindo, os deficientes mentais 
e os que por alguma enfermidade não tem capacidade de discernimento para a 
prática do ato sexual e que não esteja em condições de oferecer resistência, 
conforme o artigo 217-A do Código Penal, in verbis: 
 
Art. 217-A Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 
(catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com 
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário 
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode 
oferecer resistência. 
§ 2º (VETADO) 
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: 
 
 
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. 
§ 4º Se da conduta resulta morte: 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
 
 
Vulnerável, termo de origem latina, vulnerabilis, em sua raiz vem a significar a 
lesões, cortes ou feridas expostas, sem cicatrização, feridas sangrentas com 
sérios riscos de infecção. No contexto da Norma aqui debatida expressa a 
incapacidade ou fragilidade de alguém, motivada por circunstâncias especiais. 
(CONDÉ, 2012). 
21 
Existem dois tipos de vulnerabilidade, a absoluta e a relativa. Entretanto a 
vulnerabilidade do menor de quatorze anos deve presumida, porém as demais 
devem ser devidamente comprovadas. 
A nova estruturação e redação dada ao caput do artigo 213 do 
Diploma Criminal, percebe-se os seguintes elementos a) o constrangimento 
levado a título de violência ou grave ameaça; b) dirigido a qualquer pessoa; c) 
para que haja a conjunção carnal ou para fazer com que a vítima pratique ou 
permita que com ela se pratique qualquer ato libidinoso. 
O sujeito ativo do crime de estupro pode ser qualquer pessoa, 
tanto homem quanto mulher, pois não se exige qualidadeou condição especial 
deste sujeito. Já o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, em regra, exceto o 
menor de quatorze anos, que não poderá ser vítima, pois tipifica-se estupro de 
vulnerável. 
O elemento subjetivo do crime de estupro o é o dolo genérico, que 
consiste na vontade de obter a conjunção carnal ou o outro ato libidinoso 
(DELGADO, 2009, online), não havendo modalidade culposa ante a ausência de 
disposição legal nesse sentido. Desse modo, conforme exemplifica GRECCO 
(2011, p. 617), se o agente de forma imprudente, correndo pela praia, se 
desequilibra e cai com o rosto sobre as nádegas da vítima, que ali se encontrava 
deitada tomando banho de sol, o mesmo não poderá ser culpabilizado pelo delito 
em estudo, uma vez que não se admite o estupro culposo. 
Para Nucci, há, também, a presença do elemento subjetivo do tipo 
específico, consistente na finalidade de obter a conjunção carnal ou outro ato 
libidinoso, satisfazendo a lascívia: 
Embora exista a possibilidade de o estupro dar-se 
como forma de vingança – ou mesmo para humilhar 
e constranger moralmente a vítima – tal situação em 
nosso entender não elimina o elemento subjetivo 
específico de satisfação da lascívia, até porque, 
nestas situações, encontra-se a satisfação mórbida 
22 
do prazer sexual, incorporada pelo desejo de 
vingança ou outros sentimentos correlatos. 
 
 
Estímulos sexuais pervertidos podem levar alguém se 
valer dessa forma de crime para ferir a vítima, 
inexistindo incompatibilidade entre tal desiderato e a 
finalidade lasciva do delito do art.213. Acrescenta-se, 
ainda, que somente os sexualmente pervertidos 
utilizam esse meio para a vingança (NUCCI, 2014, p. 
218). 
 
O crime consuma-se com a conjunção carnal ou com a 
prática de qualquer outro ato libidinoso. Na modalidade conjunção carnal, 
consuma-se com a introdução do pênis na vagina da vítima, ainda que 
parcialmente, não sendo necessário que a conjunção carnal tenha sido 
completa, não sendo necessária ejaculação. No que se diz respeito a prática de 
outro ato libidinoso, o delito se consuma no momento em que o agente, empós 
à prática do constrangimento levado a efeito mediante violência ou grave 
ameaça, força a vítima a praticar ou permitir que com ela se pratique outro ato 
libidinoso diverso da conjunção carnal (GRECO, 2011). 
Por se tratar o estupro um crime plurissubsistente, a tentativa é plenamente 
possível (GRECO, 2011). A tentativa consiste em quando o agente visa praticar 
o crime, mas não alcança por circunstancias alheias a sua vontade. Nesse 
sentido, Cleber Masson, em seu “CP comentado”: 
O estupro constitui-se um crime complexo em sentido amplo. Nada 
mais é do que o constrangimento ilegal voltado para uma finalidade específica, 
consistente em conjunção carnal ou outro ato libidinoso. 
 
 
 
2.2 CRIME ÚNICO OU CONCURSO DE CRIMES: 
23 
 
A 6ª turma do STJ (primeira corrente), possui o entendimento de que 
se o agente submete a vítima em uma única relação de contexto à conjunção 
carnal ou ato libidinoso diverso, haverá crime único, conforme disposto no artigo 
213 do Código Penal, inclui um tipo penal misto alternativo, ou seja, uma vez que 
pratique mais de um ato, cometerá um único crime. No entanto, se os atos forem 
praticados em momentos diferentes, o réu deverá responder por vários estupros, 
em continuidade delitiva, de acordo com o artigo 71 do CP, ou em concurso 
material art. 69, “caput” CP. 
Por outro lado, a 5ª Turma do STJ (segunda corrente), entende que, o art.213 
seria um tipo penal misto cumulativo, ou seja, se realizada mais de uma conduta 
prevista no aludido código, o agente deverá responder por mais de um crime e 
não por apenas um. 
 
2.3 AÇÃO PENAL: 
 
 
Com o surgimento da lei 12.015/2009, determinou-se que em regra a 
ação penal fosse pública condicionada à representação da vítima, salvo o 
vulnerável ou menor de 18 (dezoito) anos, casos em que a ação se daria 
independente de manifestação, com iniciativa do Ministério Público. 
No entanto a edição da Lei 13.718 ocasionou diversas mudanças, inclusive nas 
ações penais dos crimes contra a dignidade sexual, passando a ser pública 
incondicionada independente, da idade da vítima, vulnerabilidade ou se o crime 
foi praticado com ou sem violência real. 
 
2.4 HEDIONDEZ: 
 
 
A Lei n.º 8.072/90 de 25 de julho de 1990, aborda em seu texto legal 
os crimes que são considerados hediondos, uma vez que, caracterizam-se por 
delitos tentados ou consumados que possuem grande reprovação social e alta 
perversidade. 
24 
De acordo com o Plenário do Supremo Tribunal Federal, o crime de estupro 
mesmo em suas formas básicas, em que inexiste lesão corporal de natureza 
grave ou morte, e praticado com violência presumida, constituem crime 
hediondo, nos termos do art. 1º, inciso VI da referida lei. 
 
 
 
2.5 ORGÃO COMPETENTE: 
Os crimes tipificados como hediondos são julgados pelo juízo de 
execução, conforme o artigo 65 da Lei n.º 7.210/84, “A execução penal competirá 
ao Juiz indicado na lei local de organização judiciária e, na sua ausência, ao da 
sentença.” Atestando a natureza jurisdicional do processo de execução, 
rotulando o juízo da execução como um de seus órgãos. 
No que se diz respeito ao local competente para execução, o 
entendimento firmado pela Terceira Seção do STJ, é em razão que a 
competência se firma, em regra, de acordo com as leis de organização judiciária 
do juízo da condenação: 
“(…) A jurisprudência desta Corte, com fundamento no art. 65 da Lei 
de Execuções Penais, firmou entendimento de que o juízo competente para a 
execução penal é o indicado na lei local de organização judiciária do Juízo da 
condenação. É evidente que o fato de o processo executivo ser de competência 
de juízo que não corresponda ao do domicílio do réu não impede, por si só, que 
a pena possa ser cumprida neste último local, sob a supervisão de juízo que 
deve ser deprecado para essa finalidade. 3. A despeito de otimizar a 
ressocialização do preso e de humanizar o cumprimento da reprimenda, pela 
maior proximidade do preso aos seus familiares, a transferência de presídio 
depende da existência de vaga. 4. Agravo regimental não provido” (AgRg no CC 
143.256/RO, j. 08/06/2016). 
 
 
CAPÍTULO III – OS AGRESSORES 
 
3.1 DOS ABUSADORES: 
25 
 
A desinformação existente sobre os crimes de natureza sexual, cria 
como consequência mitos que giram em torno da conduta dos agressores, que 
em grande parte são rotulados como loucos ou doentes mentais, mas, no 
entanto, não são, uma vez que a grande maioria, levam vidas normais e não 
apresentam evidencias patológicas. 
Um pesquisador alemão chamado Otto Groth, realizou uma pesquisa 
ao longo de sua vida com quinhentos estupradores e chegou à conclusão de que 
existem três tipos de perfis desses agressores, sendo eles o: Estuprador Poder, 
sendo esse perfil subdivididos em garantia e vigoroso; Estuprador Raiva 
divindo-se em retaliatória e excitamento; e Estuprador Sádico (Groth, Burgess, 
e Holmsirom, 1977, citado em Burgess, Regehr & Roberts, 2009; Patherick, 
2014. 
O estuprador poder, possui características de baixa auto-estima, e 
comete tal crime na tentativa de enrijecer a sua masculinidade através do 
exercício do poder sobre as vítimas. 
O estuprador raiva, é considerado imprevisível e identificado por sua 
brutalidade física, usando muito mais que a força necessária para dominar a 
vítima, mesmo que a vítima não resista, exibindo sua raiva desde o abuso sexual 
até o homicídio. (Hazelwood & Burgess, 2009). 
E o ultimo padrão é denominado estuprador sádico, cuja sexualidade 
e agressividade se constituem em sadismo, cuja, motivação é atingir a satisfação 
sexual, implicando em dor física, mental e sofrimento da vítima, estando 
geralmente relacionado o aumento de violência com o de excitação. 
Durante o estudo realizado os pesquisadores observaram que nem sempre os 
agressorespossuem apenas um perfil, podendo se misturar e ter alguma 
característica dominante, além de utilizarem a violência para suprir necessidades 
não sexuais, ou seja, antes da expressão sexual é a expressão de poder e raiva 
sob suas vítimas (Patherick, 2014). 
 
3.2 DOS APENADOS E REINCIDENTES: 
26 
No que diz respeito aos crimonosos reincidentes nos delitos de 
violência sexual o Infopen da Subsecretaria do Sistema Prisional/SIP da Polícia 
Civil de Minas Gerais, realizou uma pesquisa sobre o Perfil dos Enquadramentos 
Criminais dos Presos Liberados por Término de Pena e Livramento Condicional 
em 2008 segundo Reincidência (Minas Gerais, 2015). 
Dentre os 17 presos entrevistados 8, ou seja, 47,1% são reincidentes no crime 
de estupro. Ainda que a média de casos que chegam ao conhecimento das 
autoridades seja de apenas 10%, a taxa de condenações é ainda menor cerca 
de 1%, segundo Buchmüller, no artigo Crimes sexuais: a impunidade gerada por 
um Estado omisso, conforme pesquisa realizada no ano de 2013 e 2014. 
De acordo com uma pesquisa realizada pelo IPEA sobre a 
Reincidência Criminal, o sistema prisional brasileiro não possui uma estrutura 
que seja capaz de ressocializar e tratar os condenados para inseri-los de volta 
na sociedade. Pois mesmo com programas sociais que são desenvolvidos 
dentro das unidades prisionais, ainda não são suficientes para que haja a 
ressocialização dos indivíduos. 
 
 
3.3 DA IMPUNIDADE: 
 
 
A impunidade dos crimes de natureza sexual começa antes mesmo 
de chegar ao conhecimento das autoridades, uma vez que, trata-se de crimes 
silenciosos e de difícil comprovação. A cultura do estupro enraizada na 
sociedade contribui de certa forma, para que tal situação aconteça, fazendo com 
que muitas vítimas fiquem receosas e envergonhadas, e com medo, esse 
sentimento, as impedem de realizar um boletim de ocorrência e denunciarem 
seu agressor. 
O pesquisador Helio Buchmuller, em seu artigo Crimes sexuais: A 
impunidade gerada por um Estado omisso, afirma que a taxa de condenação 
pelos crimes de estupro no Brasil gira em torno de 1%, sendo uma quantidade 
mínima de agressores condenados. 
De acordo com uma pesquisa desenvolvida pelo IPEA (Instituição de 
Pesquisas Econômica Aplicada), os casos de estupro tiveram um aumento 
27 
significativo entre 2011 e 2014, totalizando 66,1%. Nesta mesma pesquisa 
conforme dados fornecidos pelo SINAN (Sistema de Informação de Agravos de 
Notificação), os homens foram os agressores em 94,1% dos casos registrados, 
já as mulheres violadoras 3,3% dos casos. 
Tais dados nos revela uma grande impunidade destes crimes em nosso 
ordenamento jurídico, apontando um severo abismo entre a lei e a prática. 
 
CAPÍTULO IV – DOS DANOS CAUSADOS AS VITIMAS 
 
 
4.1- DAS VÍTÍMAS 
 
 
As vítimas dos crimes de violência sexual possuem um padrão, sendo 
a maioria esmagadora do sexo feminino, em especial crianças e adolescentes, 
totalizando 70% das denúncias registradas, conforme dados oferecidos pelo 
SINAN, dentro desse número, 10% possuíam alguma deficiência de ordem física 
ou mental, estando exposta à um duplo grau de vulnerabilidade. 
Além da violência sofrida e dos traumas causados, as vítimas ainda 
lidam com outra situação que dificulta ainda mais a realização de uma denúncia, 
pois 40,0% dos agressores de crianças pertencem ao círculo familiar próximo, 
incluindo pai, padrasto, tio, irmão e avô. 
Já as vítimas adultas, conforme dados oferecidos pelo SINAN, 
representam o número de 30,1% dos casos registrados, sendo na grande 
maioria dos casos agressores desconhecidos, correspondendo ao número de 
25,6% dos casos. 
Entre o ano de 2011 e 2014, houve um crescimento hostil para os 
crimes de estupros cometidos por dois ou mais agressores, saltando de 13,0% 
para 15,8%. Os estupros coletivos, onde seus algozes são duas ou mais 
pessoas, em maioria, são cometidos contra vítimas adultas, representando o 
número de 35,6% dos casos registrados. Tais números nos mostra a grande 
incidência de violência de gênero que ainda existe no Brasil, uma vez que, as 
vítimas em sua maioria são mulheres, não possuindo relação alguma sobre cor, 
raça, opção sexual e classe social. 
28 
4.2 DANOS PSICOLOGICOS CAUSADOS AS VÍTIMAS: 
 
 
O contexto da violência sexual pode abranger agressão, ameaças, 
intimidação psicológica e invasão do corpo, podendo acarretar um possível 
trauma psicológico. 
Segundo Early, em seu estudo The raven's return: the influence of 
psychological trauma on individuals and culture, publicado por Chiron 
Publications, Wilmette (1993), a violência do abuso sexual levar à delimitação 
confusa de suas próprias barreiras e de seus próprios limites, a estigmatização, 
vergonha, traição, dissociação e repetição. O autor ressalta que a invisibilidade 
é a vontade de muitas vítimas de crimes de violência sexual, pois, veem a si 
mesmo como “sujas”, “feias” e nojentas, percebendo a si mesmo e ao seu corpo 
como vergonha. 
A violência sexual é capaz de trazer inúmeros distúrbios na vida das 
vítimas, podendo se tornar frequente e permanente e se manifestar de forma 
patológica, como depressão, transtornos alimentares, dificuldade nas relações 
afetivas e sexuais e tentativas de suicídio. Segundo o estudioso Choudharyet, 
em seu artigo, Gender and time differences in the associations between sexual 
violence victimization, health outcomes, and risk behaviors, as mulheres que 
foram vítimas de abuso sexual, possuem maior incidência em problemas como, 
saúde mental debilitada, baixa autoestima, pouca satisfação com a vida, 
consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo. 
As consequências causadas as vítimas de crimes sexuais vão muito 
além dos traumas físicos, acarretando inúmeros prejuízos ao decorrer da vida, 
onde um amparo psicológico é fundamental para oferecer a possibilidade de 
superação desse sofrimento. 
 
4.3. DA CULTURA DO ESTUPRO: 
 
 
O termo cultura do estupro teve origem em meados dos anos de 1970, 
por grupos feministas, que lutavam contra a constante culpabilização das vítimas 
e a naturalização da conduta dos estupradores, em termos gerais, trata-se da 
29 
banalização dos crimes de violência sexual e a normalização do delito perante a 
sociedade. 
Esta ideia de poder possui uma estrutura patriarcal, que consiste na 
dominação dos homens em relação as mulheres, que os leva a acreditar ser 
superior e estar em posição de hierarquia em relação as mesmas. 
No Brasil a cultura do estupro vem sendo enraizada de diversas 
formas, se disseminando em especial, por meios de comunicação de maneira 
implícita ou explicita, através de músicas, piadas, propagandas de tv, comerciais 
de cerveja, dentre outros meios; colocando a mulher como objeto de utensilio de 
desejo e propriedade homem, incentivando diversos tipos de violência, das quais 
o estupro. 
No ano de 2014, o IPEA realizou uma pesquisa entrevistando diversas 
pessoas, sobre a “Tolerância social à violência contra as mulheres”, e 58,5% dos 
entrevistados afirmaram que, se as mulheres soubessem se comportar, haveria 
menos estupros. Por trás dessa afirmação está o pensamento de que, os 
homens não conseguem controlar seus impulsos sexuais e que as mulheres que 
provocam e deveriam se comportar, não os estupradores, trazendo a ideia de 
que o corpo das mulheres são livres para serem tocados pelos homens, caso 
não impuserem uma “barreira”, seja por forma de se vestir ou se comportar. 
Esta ideia de culpabilização da vítima e a trivialização dos crimes de 
estupro, contribui de forma direta com a violência de gênero, que consiste em 
qualquer tipo de violência seja física, psicológica ou sexual contra alguém que 
esteja em condição de vulnerabilidade, devido sua identidade de gênero ou 
orientação sexual, tratando-se de uma ofensa a dignidade da pessoa humana 
através de relações de controle e domínio historicamente desiguais entre 
homens e mulheres.CAPÍTULO V – IDENTIFICAÇÃO DO CRIME 
 
 
5.1 DAS FORMAS QUE AS VÍTIMAS POSSAM IDENTIFICAR A 
VIOLENCIA SOFRIDA: 
30 
É um fato de que a maioria esmagadora de vítimas de crimes sexuais 
são crianças e adolescentes, no entanto, nem sempre elas sabem identificar a 
violência sofrida, seja por desinformação sobre o acontecido, seja por deficiência 
e por encontrar-se em um duplo grau de vulnerabilidade, não sabem que foram 
vítimas de abuso sexual. Ocorre que, 40% dos agressores são do círculo familiar 
das vítimas, o que gera como consequência a dificuldade para as identificar o 
abuso sofrido. 
O papel de zelar, proteger e orientar é da família, mas em muitos 
casos, essa responsabilidade não é cumprida, pois têm como algozes, as 
pessoas que deveriam cuidar e defender. Tais situações geram como 
consequência, inúmeros transtornos físicos e psicológicos as vítimas, que 
carregam consigo o peso da hostilidade dos agressores. 
Como o dever das famílias nem sempre são cumpridos, é de 
responsabilidade do Estado, garantir a segurança, orientação e apoio necessário 
as vítimas, por meio da educação sexual e programas sociais. 
A educação sexual nas escolas é de extrema importância, uma vez 
que, se trata de métodos didáticos adequados para a criança ensinando sobre a 
igualdade de gênero, respeito, diferenças existentes entre toques de afeto e de 
abuso, orientação a quem pedir ajuda caso vier a sofrer uma violação, além de 
partes onde adultos podem ou não tocar. 
Em contrapartida, para os adolescentes a educação sexual é importante pois, 
pode-se evitar doenças sexualmente transmissíveis e seus efeitos de maneira 
progressiva, além de evitar a gravidez indesejada na adolescência, uma vez que, 
o Brasil possui maior índice de gravidez na adolescência da America Latina, 
chegando ao número de 69,9 nascimentos a cada mil mulheres entre 15 e 19 
anos, sendo que 18% das mães adolescentes são de baixa renda, enquanto no 
estrato de renda acima de cinco salários mínimos esse número não chega a 1%. 
A educação sexual é extremamente importante pois é necessário o fornecimento 
de informações cientificas e às oportunidades para a livre atividade de seus 
direitos individuais, sem diferenciação, opressão e violência, de forma a permitir 
a tomada de decisões responsável sobre a própria vida. 
 
5.2 DO ATENDIMENTOS AS VITIMAS: 
31 
 
A Lei 12.845 de 2013, dispõe sobre atendimento integral e obrigatório 
e imediato, em todos os hospitais integrantes do SUS para as vítimas de abuso 
sexual, conforme disposto no Art. 1º 
“Os hospitais devem oferecer às vítimas de violência sexual atendimento 
emergencial, integral e multidisciplinar, visando ao controle e ao 
tratamento dos agravos físicos e psíquicos decorrentes de violência 
sexual, e encaminhamento, se for o caso, aos serviços de assistência 
social.” 
As vítimas de abuso tanto adultas quanto crianças terão direito, conforme o art. 
3º da referida lei a: 
 
I - diagnóstico e tratamento das lesões físicas no aparelho genital e nas 
demais áreas afetadas; 
II - amparo médico, psicológico e social imediatos; 
III - facilitação do registro da ocorrência e encaminhamento ao órgão de 
medicina legal e às delegacias especializadas com informações que 
possam ser úteis à identificação do agressor e à comprovação da 
violência sexual; 
IV - profilaxia da gravidez; 
V - profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST; 
VI - coleta de material para realização do exame de HIV para posterior 
acompanhamento e terapia; 
VII - fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e 
sobre todos os serviços sanitários disponíveis. 
 
Deste modo, é extremamente importante que as vítimas se pronunciem e 
exponha a situação, que apesar do trauma sofrido, tenham forças para se 
manifestar, tomando as medidas necessárias para o enfrentamento da 
violência. 
32 
 
 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Ante ao estudo desenvolvido neste trabalho, tem-se as seguintes 
conclusões: 
 
A forma em que se é tratada o delito de estupro, vem sofrendo alterações 
e influencias culturais desde os primórdios. Com o passar do tempo e o 
avanço da sociedade, o tratamento penal, também evoluiu. 
O advento da lei 12.015/09, trouxe inovações ao direito penal brasileiro, 
onde os crimes de violência sexual deixaram de ser “Contra o costume” e 
passaram a ser “Contra a dignidade sexual”, e o bem jurídico a ser 
tutelado deixou de ser os costumes, passando a ser a dignidade sexual, 
colocando a liberdade sexual como um bem jurídico a ser tutelado. 
Apesar das inovações e a evolução do direito penal brasileiro, ainda 
existem muitas brechas a serem fechadas, considerando que, a 
impunidade nos crimes de violência sexual no Brasil é alta, dado os 
números de crimes registrados e o número de apenados, é notório a 
existência desse abismo, levando a crer que apesar das inovações e a 
evolução, o direito penal brasileiro ainda é falho. 
33 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
Infopen da Subsecretaria do Sistema Prisional/SIP da Polícia Civil de Minas 
Gerais 
 
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os Nossos súbditos, que a Assembleia geral Decretou, e Nós queremos a lei 
seguinte. 
 
Lei de 16 de dezembro de 1830. Manda executar o código criminal. D. Pedro por 
Graça de Deus, e Unânime Acclamação dos Povos, Imperador Constitucional, e 
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td_2313.pdf (ipea.gov.br) 
 
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visão a partir da psicologia positiva (bvsalud.org) 
https://jus.com.br/artigos/54227/breves-apontamentos-acerca-do-historico-do-estupro
https://jus.com.br/artigos/54227/breves-apontamentos-acerca-do-historico-do-estupro
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oucultura antiestupro? 
 
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Projetos de educação sexual nas escolas: benefícios e dificuldades 
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Educação sexual (fiocruz.br) 
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