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Abuso sexual entre crianças e adolescentes no âmbito familiar

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FACULDADE CATHEDRAL DE BOA VISTA
CURSO DE DIREITO
CÁSSIA MARIANA NUNES PEREIRA
ABUSO SEXUAL NO ÂMBITO FAMILIAR CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
BOA VISTA-RR
2022
CÁSSIA MARIANA NUNES PEREIRA
ABUSO SEXUAL NO ÂMBITO FAMILIAR CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Monografia apresentada a faculdade cathedral de Boa Vista, coo requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em direito. 
Orientador: 
BOA VISTA-RR
2022
CÁSSIA MARIANA NUNES PEREIRA
ABUSO SEXUAL NO ÂMBITO FAMILIAR CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Monografia apresentada a faculdade cathedral de Boa Vista, coo requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em direito. 
Orientador: 
APROVADO EM ___________de ___________ de 202______. 
COMISSÃO EXAMINADORA:
_________________________________________________________________
BOA VISTA-RR
2022
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela minha vida, e por me permitir ultrapassar todos os obstáculos encontrados ao longo da realização deste trabalho. Aos meus pais e irmãos, que me incentivaram nos momentos difíceis e não me deixaram desistir no meio da caminhada. Ao professor Marcos Pereira, por ter sido meu orientador e ter desempenhado tal função com dedicação e amizade.
DEDICATÓRIA
Аоs meus pais, irmãos, meu namorado Richard, minha tia fatima "in memorian" е a todos os meus amigos que, cоm muito carinho е apoio, nãо mediram esforços para qυе еυ chegasse аté esta etapa dе minha vida, sendo mеυs guias,meu socorro e presentes nа hora dа angústia.
“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito. Não sou o que deveria ser, mas Graças a Deus, não sou o que era antes”. (Marthin Luther King)"
RESUMO 
O presente Trabalho de Conclusão de Curso teve como mote principal abordar a temática da violência sexual contra crianças e adolescentes, concebendo-a como um crime grave contra os direitos infanto-juvenis que deve ser enfrentado. Trata-se de um problema complexo, com raízes históricas e culturais, que nega os direitos estabelecidos e assegurados por lei à criança e ao adolescente. É um fenômeno que se manifesta através do abuso sexual e da exploração sexual comercial e que, em ambas as formas, viola a integridade física e psicológica de suas vítimas, desconsiderando sua condição de sujeitos em fase peculiar de desenvolvimento. Procurou-se destacar os principais avanços quanto ao enfrentamento dessa problemática, além de ressaltar alguns desafios pertinentes que se apresentam ao efetivo enfrentamento à violência sexual contra o segmento infanto-juvenil em nível nacional.
Palavras Chaves: Violência sexual. Criança e Adolescente. Estupro de vulnerável. 
SUMARIO
INTRODUÇÃO 	9
EVOLUÇÃO HISTORICA DO ABUSO SEXUAL 	11
ABUSO SEXUAL 	21
DANOS PSICOLOGICOS AS VITIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL	36
METODOLOGIA 	40
CONCLUSÃO	42
REFERÊNCIAS	44
INTRODUÇÃO 
Atualmente a violência sexual contra crianças, adolescentes e mulheres é considerada um grave problema de saúde pública. Essa problemática vem tomando uma vasta proporção diante das diversas denúncias de abusos sexuais, principalmente, envolvendo menores de 14 anos, intitulados como vulneráveis pela Lei nº 12.015/09.
Para iniciar o artigo, importante se faz compreender, que a violência sexual contra crianças e adolescentes faz parte do dia a dia da sociedade brasileira, sendo dever de todos, ou seja, da família, da sociedade e do Estado, assegurar todos os direitos fundamentais e específicos para esses infantes, combatendo toda forma de negligência, descriminação, exploração, violência, crueldade e opressão que venham a sofrer ou se sintam ameaçados de sofrer, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988 e a Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente.
O objetivo desse trabalho é mostrar que é o abuso infantil, seu histórico e posteriormente suas consequências para a criança abusada. 
Posteriormente, se faz necessário abordar a nova tipificação, denominada de Estupro de Vulnerável, instituído pela Lei 12.015/09, onde se tutela a dignidade sexual das pessoas em situação de vulnerabilidade. No presente artigo, será analisado somente os vulneráveis, quanto a classificação etária, ou seja, os menores de 14 anos, estabelecidos no caput do art. 217-A do Código Penal Brasileiro, apesar do tipo penal apresentar vulneráveis, também, no § 1º do referido artigo. Analisando, ainda, o entendimento que tem prevalecido nos Tribunais a respeito da vulnerabilidade ser absoluta, ou seja, não se admite prova em contrário. E, ainda, a palavra da vítima como de extrema relevância para solucionar os casos de abusos sexuais.
Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica, a pesquisa bibliográfica, conforme Amaral (2007),
[...] é uma etapa fundamental em todo trabalho científico que influenciará todas as etapas de uma pesquisa, na medida em que der o embasamento teórico em que se baseará o trabalho. Consistem no levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de informações relacionadas à pesquisa (AMARAL, 2007, p. 1).
A decisão de estudar o tema da violência sexual contra o segmento infanto-juvenil com o intuito de buscar apreender as múltiplas interfaces dessa problemática partiu de início, da notável indignação que esse fenômeno provoca na sociedade e da grande repercussão que o mesmo passou a ter na mídia nos últimos anos, uma vez que crianças e adolescentes são transformadas em vítimas por esta agressão violenta que deixa marcas profundas em seus corpos e mentes. Em vista disto, diante da complexidade e da gravidade que integram tal problemática. 
1. EVOLUÇÃO HISTORICA DO ABUSO SEXUAL 
Foucault (1997) aponta que, conforme o sistema capitalista foi se desenvolvendo nas sociedades europeias, surgiu uma nova reorganização estrutural e conceitual entre mulheres, homens e crianças, a qual permitiu que o conceito de família nuclear, incluindo a criança como membro central surgisse.
Neste sentido, foram-se produzindo saberes discursivos a respeito da infância ao longo dos anos, considerando que “os discursos não descobrem verdades, senão as inventam”. (VEIGA NETO, 2007, p.122.), eles foram formando os conceitos, disseminando-os e adequando as necessidades dos contextos. Por isso, atribuir significados, categorias de estudo como a infância, nos séculos anteriores, partindo da ideia que temos hoje é o mesmo que “querer encontrar pronto no passado aquilo que é próprio do presente e que se engendrou num quase sempre complexo processo histórico”. (VEIGA NETO, 2007, p.61).
Segundo Marcílio (1998, p.27), a mitologia e a filosofia grega relatam práticas como o infanticídio, abandono e aborto como sendo legais e comuns na Antiguidade e no início da Idade Média. Nessa época, em Roma, assim como em toda a Grécia o abandono e o infanticídio eram vistos como um ato comum. “Em momento algum as leis de Constantino proibiam, negaram ou condenaram o direito dos pais de abandonar seus filhos, nem mesmo o de vendê-los no caso de miséria.”
Na Idade Média, o sentimento de família era desconhecido e não havia a preocupação com a educação formal dos filhos, “assim, o serviço doméstico se confundia com a aprendizagem, como uma forma muito comum de educação”. (ARIÈS,1981, p.156).
Como afirma Áries (1981, p.159) “O clima sentimental agora era completamente diferente, mais próximo do nosso, como se a família moderna tivesse nascido ao mesmo tempo que a escola, ou, ao menos, que o hábito geral de educar as crianças na escola”. 
De acordo com Postman (1999), depois que a infância foi instituída e a ela foi atribuído uma característica da ordem natural das coisas, criou-se uma separação entre adultos e crianças cujo efeito é o estabelecimento de classes de pessoas.
A família moderna, ao contrário, separa-se do mundo e opõe à sociedade o grupo solitário dos pais e filhos. Toda a energia do grupo é consumida na promoção das crianças, cada umaem particular, e sem nenhuma ambição coletiva: as crianças, mais do que a família. (ARIÈS, 1981, p.271)
Segundo Foucault (1997), a família nuclear é um espaço no qual os micropoderes das relações de forças cotidianas acontecem. Neste novo espaço a criança ocupa um lugar privilegiado, à medida que se torna o ícone do progresso e do futuro da família e da sociedade como um todo.
“Os adultos se permitiam tudo diante delas: linguagem grosseira, ações e situações escabrosas” (ARIÈS, 1981, p. 77).
De Mause (1975), apud Toledo (2003) ao tratar do abuso sexual, como o entendemos hoje, reporta-se para a história e evidencia que:
[...] o abuso sexual de crianças era muito mais frequente no passado do que hoje em dia. Crescer na Grécia ou em Roma incluía ser usado sexualmente por homens mais velhos. Bordéis de meninos floresciam em todas as cidades da Antiguidade, e meninos escravos eram comumente mantidos para uso homossexual (p.22).
Também eram comuns brincadeiras sexuais entre adultos e crianças, principalmente entre membros da própria a família. “Essa prática familiar de associar as crianças às brincadeiras sexuais dos adultos fazia parte do costume da época e não chocava o senso comum.” (ARIÈS, 1981, p. 106).
 Não havia lei ou algum comportamento social que impedisse essas práticas, a criança era considerada um brinquedo de prazer do adulto, “o imperador romano Tibério, segundo obra de Suetônio sobre a vida dos Césares, tinha inclinações sexuais que incluíam crianças como objeto de prazer” (ADED et al 2006, p. 206).
como aponta Nunes (1987, p.93). 
O sexo é reduzido ao privado e com fim procriativo. À concepção de racionalidade e eficiência burguesa soma-se a produtividade. O sexo subjetivo, humano, prazeroso desaparece. O corpo é negado no trabalho e na repressão sexual. O “eu” corporal não existe; existem, sim, a civilidade e a máscara social. Sobre o sexo nasce a cultura da vergonha e do pecado em níveis tão profundos que nem mesmo a Idade Média tinha conseguido.
Ariès (1981) aponta duas razões para que essa permissão sexual ocorresse entre adultos e crianças, uma é que se acreditava que a criança era alheia e indiferente à sexualidade, e a outra é que não havendo o sentimento de infância e preservação dela, não se acreditava que ele poderia ser ferido. A ideia de que há inocência na criança só surgiu à medida que a infância começa a constituir-se enquanto categoria na Modernidade.
 Toledo (2003) traz em outra perspectiva a influência do Cristianismo na introdução do conceito de inocência, auxiliados pelos moralistas que realizavam campanhas que instituíram uma série de comportamentos considerados mais adequados e que combatiam as práticas sexuais. É possível perceber a privação das crianças quanto a assuntos relacionados à sexualidade no regulamento para as crianças do colégio de Port-Royal no século XVII de Jacqueline Pascal na França, pois, acreditava-se que sua inocência deveria ser preservada por meio da vigilância.
Os teóricos disseminadores desse novo discurso não consideravam as crianças brinquedos dos homens como na Idade Média e antes dela, mas obras divinas que deveriam ser disciplinadas e cuidadas. “Passou-se a admitir que a criança não estava madura para a vida, e que era preciso submetê-la a um regime especial, a uma espécie de quarentena antes de deixá-la unir-se aos adultos.” (ARIÈS, 1981, p. 277).
Nesse sentido Guerra e Azevedo (1988):
O advento do cristianismo corresponde ao início de um ciclo sistemático de condenação da participação sexual adulto-criança baseada de um lado na concepção repressiva da sexualidade como prática impura, só tolerável para fins procriativos e, de outro na idealização da infância como idade da pureza e da inocência livre de pensamentos e sentimentos sexuais, assexuada portanto. (GUERRA e AZEVEDO, 1988, p.21)
Neste contexto Guerra e Azevedo (1988) afirmam que a violência sexual começa ser considerado um ato desviante, ou seja, que se desvia do considerado normal pela sociedade, e é possível observar preocupações de diversas áreas em relação à criança.
Se até o final do século XVIII, a medicina não se interessava particularmente pela infância nem pelas mulheres, o século XIX assiste à ascensão da figura do “reizinho da família” e da “rainha do lar”, cercados pelas lentes dos especialistas deslumbrados diante do desconhecido universo infantil [....]” (RAGO, 1985, p. 117).
Segundo Landini (2006), no início do século XX no Brasil, os dois crimes sexuais mais retratados nos jornais eram o estupro e os crimes contra honra. Era notável o sentimento de revolta nos casos de crimes sexuais contra criança.
Marcílio (1998) considera o século XX como sendo o da proteção à criança, pois, é neste período que a partir do reconhecimento da criança com suas particularidades é construída seus direitos.
Na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 227, o qual estabelece que:
Cabe à família, à sociedade e ao Estado promover segurança à criança e ao adolescente, como direito à vida, à saúde, à alimentação à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (CFF, 1988).
De acordo com Labadessa e Onofre (2010) o artigo 34º da Convenção sobre os Direitos da Criança de 1990, trata especificamente da proteção às situações de violência e exploração sexual.
Os Estados Partes se comprometem a proteger a criança contra todas as formas de exploração e abuso sexual. Nesse sentido, os Estados Partes tomarão, em especial, todas as medidas de caráter nacional, bilateral e multilateral que sejam necessárias para impedir: a) o incentivo ou a coação para que uma criança se dedique a qualquer atividade sexual ilegal; b) a exploração da criança na prostituição ou outras práticas sexuais ilegais; c) a exploração da criança em espetáculos ou materiais pornográficos. (CONVENÇÃO, 1990)
Segundo Libório (2003) e O Guia Escolar (2004) na década de 1990, a violência sexual contra crianças e adolescentes foi incluída na agenda pública da sociedade civil como questão relacionada com a luta nacional e internacional pelos direitos humanos, e durante os debates sobre o fenômeno. 
Segundo o ECA (1990):
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Como aponta Flores e Caminha (1994, p. 158): “Observa-se um despreparo generalizado envolvendo desde os profissionais da área de saúde, educadores e juristas até as instituições escolares, hospitalares e jurídicas, em manejar e tratar adequadamente os casos surgidos”
O direito penal sexual é uma complexa ramificação do direito penal que sofreu grande influência da moral e dos bons costumes. Sua conceituação é tumultuada, marcada por diversas influências da sociedade. Para compreendê-lo, faz-se necessário explorar a formação do código penal, a criação das leis, normas e regulamentos, bem como as modificações que a evoluçãoda sociedade lhe trouxe.
A sociedade interpreta um papel fundamental na regulação do direito penal sexual. Regrada pelo patriarcalismo, temas como pudor, moral, honestidade e costumes possuem grande influência na construção e aplicação da lei penal.
Há complexidade e divergências, também, na conceituação do bem jurídico a ser tutelado. Na atualidade, entende-se que o que deve ser tutelado é a liberdade e a dignidade sexual. Contudo, apesar de mudanças significativas na legislação, essa determinação ainda é vaga e problemática em apontar e regular os crimes contra a dignidade sexual.
De acordo com o Código Penal Brasileiro em seu artigo 213 (na redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009), estupro é: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
O estupro é considerado um dos crimes mais violentos, sendo considerado um crime hediondo. O crime pode ser praticado mediante violência real (uso de força física direcionada à vítima ou alguém próximo dela ) com a Lei nº 12.015, de 2009 removeu-se a questão da violência presumida, substituindo essa presunção pelos delitos do artigo 217- A que tipificam o Estupro de Vulnerável (quando praticado contra menores de 14 anos, alienados mentais ou contra pessoas que não puderem oferecer resistência).
O delito também pode ocorrer através de grave ameaça], que se caracteriza pela promessa da realização de mal grave e futuro à vítima ou alguém que seja próximo dela. O tipo penal não exige que a consequência posta na ameaça seja injusta, por exemplo exigir favores sexuais em troca de não delatar alguém que cometeu um crime para a polícia; esse caso ainda seria visto como estupro.
A conjunção carnal se refere especificamente à penetração do pênis na vagina, enquanto o espectro dos atos libidinosos é bem abrangente, referindo-se a todos aqueles que se destinam à satisfação do instinto sexual de maneira análoga ao coito. Esse conceito pode abarcar inclusive o beijo lascivo. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento de recurso ordinário em habeas corpus (RHC 93906/PA) que teve o Ministro Ribeiro Dantas como relator, afirma ele em sua decisão:
“O beijo lascivo ingressa no rol dos atos libidinosos e, se obtido mediante violência ou grave ameaça, importa na configuração do crime de estupro. Evidentemente, não são lascivos os beijos rápidos lançados na face ou mesmo nos lábios, sendo preciso haver beijos prolongados e invasivos, com resistência da pessoa beijada, ou então dos beijos eróticos lançados em partes impudicas do corpo da vítima. Por conseguinte, verificar-se-á estupro mediante violência caso a conduta do beijo invasivo busque a satisfação da lascívia, desde que haja intuito de subjugar, humilhar, submeter a vítima à força do agente, consciente de sua superioridade física”
Atualmente a pena no Brasil é de 6 a 10 anos de reclusão para o criminoso no caso de estupro simples, aquele disposto no caput, podendo, porém, aumentar quando qualificado; se há lesão corporal grave da vítima passa para 8 a 12 anos, o mesmo ocorre se a vítima possui entre 14 a 18 anos de idade; e para 12 a 30 anos, se a conduta resulta em morte.
Antes de 2009, a lei definia estupro como "constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça". Assim, se deixava implícito que apenas a mulher poderia ser a vítima desse crime, e somente o homem poderia ser o agente ativo. Com a Lei 12.015/2009, o artigo 213 do Código Penal foi alterado, substituindo a expressão "mulher" por "alguém". Logo, o homem também pode ser vítima de estupro. A alteração também coloca a mulher como possível autora do crime, deixando de ser um crime "bi-próprio", em que é necessário uma condição especial para o sujeito ativo (homem como criminoso) e passivo (mulher como vítima) para um crime "comum", em que homens e mulheres podem ser sujeitos ativos e passivos. 
Em alguns trechos, o termo "violência" foi substituído por "conduta", visando ampliar a atuação da lei. Também foram removidos por completo os termos "mulher honesta" e "virgem".
Outra mudança importante foi a fusão entre os crimes tipificados nos artigos 213 e 214 do Código Penal. O segundo configurava o atentado violento ao pudor, cuja redação era “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal”. Com a mudança legislativa de 2009, esse delito passou a ser considerado estupro, independente da inocorrência de conjunção carnal, enquadrando-se então no artigo 213 e resultando na revogação formal do artigo 214. 
Atualmente, o bem jurídico tutelado pelo estado no caso do estupro é a dignidade e liberdade sexual, a autonomia do indivíduo de poder escolher com quem e quando se relaciona sexualmente com outra pessoa. Essa concepção moderna afastou algumas controvérsias antigas, como a possibilidade de uma prostituta ser vítima de estupro, ou se existe a possibilidade de uma mulher casada ser estuprada pelo próprio marido. Ambas situações se tornaram claramente válidas e plausíveis se enxergadas pela perspectiva da liberdade sexual e inviolabilidade do corpo. Com efeito, ninguém é obrigado a se relacionar sexualmente com ninguém, mesmo se consentiu previamente ou se estão em um relacionamento. 
O uso de arma, possivelmente pelo princípio da consunção ficará absorvido, sendo o agente punido apenas pelo estupro ou atentado violento ao pudor, mas isto ocorrerá desde que não sejam as condutas autônomas e independentes entre si. 
A compreensão da evolução jurídica ao longo da história é de suma importância, entre outros motivos, para entender por onde passamos e onde queremos chegar. O direito penal sexual brasileiro não destoa dessa premissa, sendo fundamental traçar sua evolução no transcorrer do tempo, a fim de melhor compreender sua situação no tempo presente.
No decorrer da história do nosso país, desde a chegada dos portugueses até os dias atuais, tivemos a vigência de três códigos penais. O primeiro data do período imperial do Brasil; o segundo é da época da República Velha; e o último - embora tenha passado por muitas alterações - remete à década de 1940 (LUTHOLD, 2013).
O Código Penal do Império (1830), em seu Capítulo II, Parte III, dispunha sobre os crimes contra a segurança da honra. Nesse trecho havia a referência às punições contra os crimes de estupro – com a ressalva de que cometido contra a vítima mulher virgem ou honesta, ou com idade inferior a 17 anos - e rapto. Em outras palavras, a conduta só era tipificada quando fossem respeitadas algumas características subjetivas da vítima.
Desses aspectos morais podemos extrair duas consequências graves. A primeira delas é que não havia o estupro conjugal, ou seja, mulheres casadas não podiam ser enquadradas como vítimas em caso de estupro cometido pelo marido. Além disso, havia o conceito de mulher “não honesta”, que abria uma enorme margem de interpretação que, muitas vezes, negava o direito às mulheres por mera objeção moral. Esse conceito, cabe ressaltar, é impregnado com viés patriarcal e sexista (GRECO; RASSI, 2010).
O Código Penal de 1890, por sua vez, abordava os crimes contra a segurança da honra e da honestidade das famílias, no seu Título VIII. Havia, ali, a tipificação de condutas como o lenocídio (favorecimento da prostituição e da exploração sexual), o adultério (infidelidade conjugal) e o estupro. Esse código praticamente manteve inalterado o raciocínio moral que o seu predecessor utilizava para identificar as vítimas - excluindo os direitos de determinadas mulheres.
Por último temos o Código Penal de 1940 que, antes de sofrer diversas alterações importantíssimas, versava sobre os crimes contra os “costumes”. Não deixou de se orientar pela lógica da moralidade, adquirindo a tutela dos costumes morais como elemento orientador. Caso a conduta tivesse como vítima uma mulher não reconhecida como digna de proteção, não haveria crime. Isso porque a referida conduta nãoera identificada como moralmente reprovável, visto que a vítima - seja por conta da sua liberdade sexual ou pela sua condição social - não possuía, teoricamente, um direito a priori que pudesse ser violado.
Entretanto, esse código teve algumas modificações importantes no que tange aos crimes sexuais, trazidas pela nº Lei 11.106/2005. Entre outros objetivos, a referida lei pretendeu afastar a discriminação de gênero (não mais limitando a vítima à mulher), coibir a exploração sexual infantil e eliminar alguns dispositivos ultrapassados. Essa legislação retirou os artigos que faziam menção a crimes como: o rapto de mulher honesta e o rapto consensual; a sedução da mulher virgem; a multa pelo tráfico internacional de pessoas; e o adultério. Eliminou, também, as causas extintivas de punibilidade e atenuantes como motivo de casamento (GRECO; RASSI, 2010). 
Em outras palavras, buscou afastar uma parcela do patriarcalismo moral representado por algumas tipificações.
Outros dispositivos também impuseram alterações ao Código Penal. A Lei nº 8.069/1990, também conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente, trouxe penalizações à utilização de jovens para finalidades pornográficas e de exploração sexual. A Lei nº 11.829/08, por sua vez, seguiu a mesma premissa para tornar mais rígida a punição para essas condutas e criminalizou, também, a aquisição e a posse desses materiais.
Por fim, a Lei nº 12.015/2009 foi causadora de uma reforma significativa no Código vigente, objetivando tornar o tratamento penal aos crimes “contra os costumes” mais moderno. Dentre as alterações promovidas, temos a fusão do dispositivo do estupro com o dispositivo de atentado violento ao pudor - admitindo a violência sexual contra qualquer pessoa -, a retirada das condições de “virgem” e “honesta” atribuídas à vítima - minimizando os impactos morais - e a admissão da existência de práticas libidinosas de igual ou maior gravidade que a conjunção carnal.
Quanto ao artigo que instituiu o estupro (213), Greco e Rassi reforçam que é notável a ausência de um aprofundamento no que seria o constrangimento e qual a sua gravidade. Essa lacuna ocasionaria a decisão restrita do juiz a respeito da dosagem da pena. A lacuna se repete de forma similar ao mencionar a violência e a grave ameaça. A Lei também introduziu o estupro de vulnerável, a satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente e o favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável. Acrescenta, ainda, um dispositivo ao Estatuto da Criança e do Adolescente sobre o indivíduo que incentivar ou facilitar que a pessoa com idade inferior a 18 anos cometa uma infração penal.
Assim, a partir dessa análise do aparato histórico do Direito Penal positivo brasileiro, podemos aferir como a sua influência dificultou a ascensão dos direitos humanos (direito à liberdade sexual). Destaca-se, contudo, que apesar da atualização proposta pela Lei nº 12.015/2009, o Direito Penal ainda não avançou o suficiente no campo da proteção contra os crimes sexuais, conforme veremos adiante. Há ainda subjetividades e lacunas que o legislador não elencou, dificultando a aplicabilidade técnica do Direito Penal e causando infortúnios em casos concretos.
O conceito de família ao ser abordado rememora obrigatoriamente os conceitos de papeis e funções, que basicamente em toda família independente da sociedade cada membro ocupa posições ou tem determinado estatuto, como exemplo, a mãe, pai, filho e irmãos. Exercendo papéis, papéis estes que são expectativas apenas de obrigação, comportamentos e também de direito (DINIZ. 2010. Pp.13/15). 
Eghrari (2006) afirma que dessa forma é possível traçar um paralelo entre as famílias geradoras de abuso sexual infanto-juvenil, uma vez que crenças em torno de como deve ser o relacionamento entre pais e filhos são passadas de uma geração para a outra, e como não se questiona a legitimidade do que está ocorrendo, apenas se repete um padrão familiar antigo para que a família tenha sua continuidade e não perca suas raízes, mesmo que existam ações questionáveis como o abuso sexual, os mesmos são envoltos em segredos que garantem sua preservação, pois o que acaba se priorizando é a manutenção de uma organização familiar fictícia. Primeiro temos que entender qual é a realidade enfrentada por essas crianças e adolescentes que foram vítimas da violência sexual, assim também como a dos demais envolvidos, como a família da vítima, e os agressores. 
Com base no exposto, é possível concluir que o abuso sexual de crianças e adolescentes faz parte de um processo de ruptura de relacionamentos entre pais e filhos e da construção de estruturas familiares doentias e fictícias. Ele é construído a partir do histórico de vida de todos os envolvidos em sua prática, seja o agressor, a vítima ou apenas o perpetuador de sua existência. O abuso pode ultrapassar gerações familiares enquanto o silêncio que o promove não é quebrado. É uma forma de violência que determina a “própria desvalorização da infância e da adolescência, como também do papel da mulher, mantendo, na maioria dos casos, uma cegueira e surdez coletiva aos apelos, muitas vezes mudos, da vítima” (PFEIFFER e SALVAGNI, 2005, p. 200).
De acordo com Priore (2010), foram entre pais, mestre, senhores e patrões que pequenos corpos tanto se dobram a violência, as humilhações, a força. Não apenas a família, como também a sociedade em geral, com suas instituições (Escola, Estado, Igrejas etc), não cumpriram seu papel protetor e zeloso, pelo contrário, agrediram e exploraram, das mais variadas formas, suas crianças e adolescentes. 
Araújo (2002) afirma que o abuso sexual corrói a estrutura familiar e a relação entre pais e filhos ao negar os papéis atribuídos aos pais de protetores e provedores das necessidades materiais e afetivas de seus filhos.
A violência física contra criança e adolescente são definidas como uma relação social de poder que afeta bruscamente o desenvolvimento e o bem-estar da criança e/ou adolescente, podendo trazer sequelas danosas à vida dos mesmos, como lesões corporais, fraturas nos . membros inferiores e superiores, queimaduras, hemorragias, além do assassinato da mesma. É praticada principalmente na própria família, pelos genitores ou responsáveis, e por outros parentes (FALEIROS e FALEIROS, 2007, p. 26).
Sobre isso discorre Guerra (2008, p. 43)
Nas famílias nas quais existe violência física, as relações do agressor com os filhos vítimas se caracterizam por ser uma relação sujeito-objeto os filhos devem satisfazer as necessidades dos pais, pesa sobre eles uma expectativa de desempenho superior às suas capacidades, são vistos como pessoas criadoras de problemas. [...] Um outro aspecto interessante que surge na dinâmica entre pais e filhos reside no fato de que as vítimas de violência física devem aprender que são “responsáveis” por estes quadros de violência, devem ser hipostasiadas como culpa e jamais remetidas a questões mais amplas que se interliguem a problemas familiares, sociais etc.
Conforme Gonçalves (2003), no Brasil a violência física é um dos tipos de abuso mais frequentemente identificado nos diversos serviços de saúde, nas escolas, dentre outros, e essa alta incidência é associada ao modelo cultural que justifica a punição corporal como medida educativa. A violência psicológica, diferente da física, não deixa traços visíveis no corpo, porém ela destrói a autoimagem da criança e/ou do adolescente e se manifesta através do comportamento destes. Essa violência afeta a mente da vítima, causando-lhes traumas, desfigura suas atitudes e as emoções, podendo torná-la passiva ou agressiva (FALEIROS e FALEIROS, 2007).
A violência sexual contra crianças e adolescentes são entendidas como uma violação aos direitos humanos e à liberdade sexual do público infanto-juvenil, podendo ser classificada nas formas de abuso sexual e exploração sexual comercial. É oportuno mencionar que nas . realidades concretas envolvidas com a violência contra crianças e adolescentes, é observado que asdiferentes manifestações do fenômeno não se excluem, pelo contrário, elas se associam em uma relação harmônica. Como o caso da violência física que sempre é psicológica, do mesmo modo a violência sexual também envolve agressão psicológica e pode compreender a violência física (FALEIROS e FALEIROS, 2007).
2.ABUSO SEXUAL 
A violência sexual contra crianças e adolescentes é caracterizada como um crime grave contra os direitos humanos, e que deve ser enfrentado, haja vista que se apresenta como um fenômeno violador da integridade física e psicológica de pessoas em fase peculiar de desenvolvimento (SILVA e MARQUES, 2009).
O fenômeno da violência é um grave problema social, atingindo crianças e adolescentes, independentemente da raça, sexo ou camada social à qual pertencem. Ela está presente na zona rural e urbana, e se estende do centro à periferia das cidades. Atualmente, a discussão acerca da violência contra a população infanto-juvenil vem sendo alvo de acirrados debates. Todavia, ela não é uma característica da nossa época, pois em toda a evolução da educação transmitida pelos adultos às crianças e aos adolescentes podemos constatar que a violência esteve sempre presente na história da humanidade (RAMALHO e ARAÚJO, 2005).
De acordo com Faleiros e Faleiros (2007), a construção de tal fenômeno se dá num processo que é cultural e histórico, portanto, o mesmo deve ser entendido não como ato isolado cujos determinantes pertencem apenas ao subjetivo patológico daquele que o pratica, mas como um desencadear de relações que envolvem a cultura, o imaginário, as normas, a visão do mundo e o processo civilizatório de um povo, eles explicam que seus aspectos se constituem a partir dessas raízes históricas, econômicas e socioculturais. Não podendo ser interpretada como um ato isolado, ou específico de um sujeito ou grupo, mas sim como um desencadear de relações que envolvem a cultura, as normas e os processos civilizatórios e históricos de um povo, de uma sociedade. 
Freire (1963) demonstra que no Brasil a parcela da população infantil e adolescente que mais sofria com os abusos sexuais e com a exploração, era a escrava.
Negras tantas vezes entregues virgens, ainda molecas de doze e treze anos, a rapazes já podres de sífilis das cidades. Porque por muito tempo dominou no Brasil a crença de que para o sifilítico não há nada melhor depurativo que uma negrinha virgem (FREIRE, 1963, p.361).
Santos (2010) retrata o cotidiano de inúmeros crianças e adolescentes no século XX. Muitos deles aprendiam prematuramente a vida árdua nas ruas, estavam expostos a todas as formas de violência, sendo uma delas violências sexual.
O roubo, o furto, a prostituição e a mendicância tornaram – se instrumentos pelos quais estes menores proviam a própria sobrevivência e de suas famílias. “[...] Frequente também era a presença de garotas, ora mendigando pelas calçadas ou furtando pequenos estabelecimentos, ora prostituindo-se para obter o difícil sustento (SANTOS, 2010, p.218)”.
De acordo com Azevedo e Guerra (2007), a historia social da infância e da adolescência sempre esteve permeada por relações hierárquicas e adultocêntricas fundadas no poder do adulto sobre a criança e adolescente, cuja vontade e desejo são reprimidos pelo adulto, que os submetem seu poder, a fim de coagi-los a satisfazer os seus interesses, as expectativas ou paixões deste.
Segundo Maria Regina Fay, a violência sexual trata-se de: A violência sexual vem definida como: 
 “todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa” (Kristensen et al., 1998, p. 33). É também entendida como o envolvimento de crianças e adolescentes, dependentes e imaturos quanto ao seu desenvolvimento, em atividades sexuais que não têm condições de compreender plenamente e para quais são incapazes de dar o consentimento informado ou que violam as regras sociais e os papéis familiares. Incluem a pedofilia, os abusos sexuais violentos e o incesto, sendo que os estudos sobre a frequência da violência sexual são mais raros dos que os que envolvem a violência física (Kempe; Kempe, 1996). (AZAMBUJA, 2011, p. 91
Esse tipo de violência não pode ser visto como algo desvinculado das demais questões sociais da violência social, pois as relações sociais são construídas e se sustentam em fundamentos objetivos e subjetivos, constituídos historicamente pelos sujeitos (produto e produtor da sociedade) em sua realidade social (ZOTTIS, ALGERI E PORTELLA, 2006).
Pode-se afirmar que a violência e suas consequências negativas sobre a saúde são, antes de tudo, uma violação dos direitos humanos, não escolhe classe social, raça, credo, etnia, sexo e idade (SANCHEZ, 2003).
A violência pode apresentar-se sob diversas formas, existe algumas maneiras de: identificar se a criança e o adolescente está sofrendo abuso sexual no seio familiar, através de sinais, como o comportamento da criança e do adolescente (SOUZA; GODOY, 2015).
Ainda de acordo com Souza e Godoy (2015), as mudanças são claras, a vítima apresenta sinais decorridos dos abusos sexuais, hematomas causados pelo uso da força, e são intimidadas pelas ameaças sofridas.
Para Guerra (1998, p. 32-33) a violência contra crianças e adolescentes:
Representa todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis pelas crianças e/ou adolescentes que – sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima – implica, de um lado, uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da infância, isto é, uma negação do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
A violência intrafamiliar é a que consiste, de acordo com o entendimento de Azevedo (2003):
Numa transgressão do poder disciplinador do adulto, convertendo a diferença de idade adulta versus criança/ adolescente, numa desigualdade de poder intergeracional; numa negação do valor da liberdade; num processo que aprisiona a vontade e o desejo da criança ou do adolescente, submetendo-os ao poder do adulto, coagindo-os a satisfazer os interesses, as expectativas e as paixões deste.
Esse tipo de violência não pode ser visto como algo desvinculado das demais questões sociais da violência social, pois as relações sociais são construídas e se sustentam em fundamentos objetivos e subjetivos, constituídos historicamente pelos sujeitos (produto e produtor da sociedade) em sua realidade social (ZOTTIS, ALGERI E PORTELLA, 2006).
Faleiros, (2000, p. 15) destaca que o abuso sexual :
Trata de uma situação de ultrapassagem de limites: de direitos humanos, legais, de poder, de papéis, do nível de desenvolvimento da vítima, do que esta sabe e compreende, do que o abusado pode consentir fazer e viver, de regras sociais e familiares, e de tabus.
De acordo com Souza e Godoy (2015), na maioria dos casos, o agressor tem como preferência crianças e adolescentes que possui uma vulnerabilidade maior, que se encontram em situação de dificuldade e desproteção seja ela por situação econômica, social, deficiências físicas ou mentais.
De acordo com Patricia Calmon (2011), estudos recentes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelam que alguns grupos de crianças são particularmente vulneráveis à violência, como crianças portadoras de deficiências, crianças pertencentes a grupos minoritários e outros grupos marginalizados, “crianças de rua” e crianças em conflito com a lei. Nesse grupo também se incluem as crianças pouco protegidas, negligenciadas por suas famílias e abandonadas (RANGEL, 2011, p.156).
Com o advento da lei nº 8.069/1990 foi imposto total proteção para crianças e adolescentes.
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. 
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescenteaquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.
 Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. 
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
 a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
 b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública
; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; 
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. 
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
Porém, segundo Lauria (2008) a pedofilia não é um fato recente, na Grécia Antiga essa prática era considerada comum e não estava ligada a desejos sexuais imorais. A conotação negativa a este tipo de prática sexual começou a surgir a partir do século XIX, neste momento a palavra pedofilia passou a ser utilizada da forma como se conhece hoje.
Almeida (2005) concorda com este pensamento ao afirmar que a pedofilia é a perversão sexual, na qual a atração sexual de um indivíduo adulto está dirigida primariamente para crianças, assim a pedofilia está relacionada a uma atração sexual considerada desviada, uma atração constante por crianças. Estudos comprovam que o número de casos envolvendo crianças e adolescentes em atividades sexuais de adultos são significativos (ADED et al., 2006); porém, ainda não se conhece essa a realidade do fenômeno, pois de acordo com Dias (2007), apenas 10 a 15% dos casos de abuso sexual são denunciados.
No Brasil, a Lei 12.015/2009 integra o Código Penal e protege as vítimas nos casos dos chamados “crimes contra a dignidade sexual”. Apesar da existência da legislação e dos órgãos protetores, parte das vítimas de abusos sexuais apresenta resistência em denunciar os agressores. Entre os motivos da omissão da violência, estão medo (de ser julgada pela sociedade; de sofrer represália quando o agressor é uma figura de poder ou considerada pessoa de confiança), vergonha, burocracia das investigações e sensação de impunidade no julgamento dos culpados.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a maior parte das vítimas de estupro é constituída de crianças e adolescentes, em torno de 70% dos casos denunciados. 
Estupro x estupro de vulnerável
A legislação brasileira divide o crime de estupro entre menores e maiores de 14 anos:
Estupro de vulnerável - quando a vítima tem menos de 14 anos. Mesmo que haja consentimento no ato sexual ou demais atividades (como carícias), a lei julga o caso como estupro de vulnerável. O mesmo julgamento vale para pessoas com incapacidade de se defender, como é o caso de vítimas com deficiência mental ou física ou alguém que esteja sob efeito de droga.
A pena para o estupro de vulnerável vai de oito a 15 anos de prisão. Há agravamento na pena se houver lesão corporal grave (10 a 20 anos de reclusão) ou se resultar em morte da vítima (12 a 30 anos).
Estupro - quando a vítima tem mais de 14 anos. Como citado anteriormente, são os casos em que há constrangimento da vítima e uso de força física ou violência psicológica para conseguir qualquer vantagem sexual.
A lei prevê pena de seis a 10 anos de prisão para quem pratica o estupro. Quando a vítima é menor de 18 anos, a punição pode ser de oito a 12 anos de reclusão. Se houver morte, a pena aplicada é de 12 a 30 anos no regime fechado.
Estupro marital
Pouco discutido quando comparado aos outros tipos de estupro, o estupro marital é mais comum do que se imagina. Esse tipo de abuso sexual trata-se de quando o marido ou cônjuge obriga a esposa a fazer sexo com ele, usando de violência física e psicológica para conseguir o que quer.
Como a atividade sexual é presente nos relacionamentos, muitas culturas não enxergam o estupro marital como violência conjugal ou sexual, já que acreditam que é obrigação da mulher manter relações sexuais com o marido. Dos 193 países que integram a Organização das Nações Unidas (ONU), apenas 52 consideram o sexo forçado no casamento como crime.
Aliciamento e exploração sexual
O aliciamento é quando uma pessoa utiliza sua posição social para praticar abusos, ganhando a confiança até da própria vítima. Quando o aliciamento tem como objetivo o ganho financeiro do agressor, mesmo que ele não se relacione sexualmente com a vítima, há o crime de exploração sexual.
Facilitar a prostituição, exigir favores sexuais das vítimas para sua própria sobrevivência ou, como ainda ocorre em várias regiões do país, abusar sexualmente de crianças e adolescentes em troca de benefícios financeiros para a família da pessoa agredida (mesmo com o consentimento dos pais) são práticas de exploração sexual.
O aliciamento e a exploração sexual geralmente formam um círculo vicioso na vida da vítima, já que o agressor começa a colocar condições para o término dos abusos, dificultando as denúncias e o abandono das práticas sexuais.
Assédio sexual x abuso sexual
O assédio sexual é um dos tipos de abuso sexual. Nesse caso, não precisa haver contato físico para que haja a agressão. Palavras constrangedoras, tentativa de toques e avanços sem permissão da outra pessoa, constrangimento com brincadeiras de teor sexual, observações sobre partes do corpo da vítima, pressão psicológica em troca de favores fazem parte das atitudes de quem assedia uma pessoa.
Vale lembrar que o constrangimento é algo presente nos abusos de todos os tipos. Muitos chefes intimidam suas funcionárias com aproximações forçadas, convites para encontros sexuais ou oferta de benefícios em troca de sexo (ou sexo oral e masturbação).
O assédio sexual é recorrente em casos nos quais o agressor tem um cargo superior às vítimas. A cultura machista da sociedade perpetua a figura da “troca de favores” como algo normal, dificultando as denúncias das pessoas assediadas.
Súmula 593 do STJ
O crime de estupro de vulnerável configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para a prática do ato, experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.
Acontece que, mesmo com essa mudança, ainda perdura o debate doutrinário e jurisdicional quanto ao caráter relativo e absoluto, agora em relação a vulnerabilidade, quanto a classificação etária (12 – 13 anos).
Entretanto, tem prevalecido nos tribunais o entendimento de ser a vulnerabilidade absoluta, não tendo, a meu ver, o legislador acompanhado a evolução da sociedade, além de não ter considerado o que preceitua o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), referente a idade e o grau de desenvolvimento desses sujeitos, gerando problemas no mundo jurídico, por não ser apreciado, conforme a legislação, o conhecimento ou o discernimento da suposta vítima, e sim sua situação de vulnerabilidade.
Sustenta Nucci (2014, p.114) que: “O legislador brasileiro encontra-setravado na idade de 14 anos, no cenário dos atos sexuais, há décadas. É incapaz de acompanhar a evolução dos comportamentos na sociedade. Enquanto o Estatuto da Criança e do Adolescente proclama ser adolescente o maior de 12 anos, a proteção penal ao menor de 14 anos continua rígida. Cremos que já devesse ser tempo de unificar esse entendimento e estender ao maior de 12 anos a capacidade de consentimento em relação aos atos sexuais”.
Afirma, ainda, que: “A sociedade não pode vendar-se à realidade social, pois meninas iniciam a vida sexual cada vez mais cedo, seja por serem estimuladas pelos programas televisivos, cuja qualidade educacional decai periodicamente, seja por amizades de variadas idades, ou por outros motivos igualmente relevantes”.
Importante asseverar, que nos crimes sexuais a palavra da vítima é de extrema relevância, levando em conta que na maioria dos casos que ocorre a violência sexual o fato envolve apenas o sujeito ativo e passivo, além de ocorrer em locais ermos, isolados ou em ambiente privado, longe de testemunhas, tornando-se difícil a prova da ocorrência do delito. Sendo a palavra da vítima essencial na apuração desse crime.
Vejamos julgados nesse sentido:
APELAÇÃO CRIMINAL. CÓDIGO PENAL. ART. 217-A, CAPUT, C/C ART. 61, INCISO II, ALÍNEA F, NA FORMA DO ART. 71, CAPUT. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. CONTINUIDADE DELITIVA. ABSOLVIÇÃO. INSURGÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. SENTENÇA REFORMADA. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. No caso concreto, há elementos de prova suficientes a fundamentar um juízo condenatório no que tange ao crime de estupro de vulnerável. A vítima, que contava com apenas 03 anos de idade à época dos fatos, relatou, através do método do depoimento sem dano, que o acusado fez “cocô e xixi” em sua boca. O depoimento da vítima foi corroborado pelo testemunho de sua genitora, para quem ele contou detalhes acerca dos fatos, bem como pelo depoimento de seu genitor, restando claro que o acusado colocava o pênis na boca da vítima, vindo a ejacular. Soma-se a isso, que a vítima apresentou sintomas e indícios compatíveis com a hipótese de abusos sexuais, situação que foi confirmada na avaliação psíquica realizada, bem como no parecer psicológico. Ademais, tratando-se de crime que, por sua própria natureza, é praticado fora das vistas de testemunhas, a palavra da vítima é de vital importância para a determinação da materialidade e da autoria do delito. Sentença absolutória reformada. Recurso provido (TJRS AP. 70058901505. Rel. Lizete Andreis Sebben. Quinta Câmara Criminal. DJe: 14/05/214).
(NUCCI, 2014, p. 142): “TJRJ: “Nos crimes sexuais, a palavra da vítima, ainda que de pouca idade, tem especial relevância probatória, ainda mais quando harmônica com o conjunto fático-probatório. A violência sexual contra criança, que geralmente é praticado por pessoas próximas a ela, tende a ocultar-se atrás de um segredo familiar, no qual a vítima não revela seu sofrimento por medo ou pela vontade de manter o equilíbrio familiar. As consequências desse delito são nefastas para a criança, que ainda se apresenta como indivíduo em formação, gerando sequelas por toda a vida. Apesar da validade desse testemunho infantil, a avaliação deve ser feita com maior cautela, sendo arriscada a condenação escorada exclusivamente neste tipo de prova, o que não ocorreu no caso concreto, pois a condenação foi escorada nos elementos probatórios contidos nos autos, em especial pela prova testemunhal, segura e inequívoca de E. E S., irmão e cunhada do acusado, que presenciaram a relação sexual através da fechadura da porta, bem como pelo depoimento da avó que também presenciou o fato, sem contar com a confissão do acusado e do laudo pericial que atestou rupturas antigas e cicatrizes no hímen” (Ap. 0009186-56.2012.8.19.0023/RJ, Rel. Marcus Basilio, Primeira Câmara Criminal. DJE. 24.04.2013) (NUCCI, 2014, p. 142).
Conforme estabelece Salter (2009, p. 74) resta claro que a prisão não faz nada para mudar o padrão de interesse sexual de tais agressores. Eles passam a vida pensando, fantasiando, se masturbando, planejando o ato e abusando de crianças. A prisão os impede de abusar sexualmente na maior parte do tempo. Mas, com certeza, a prisão ao menos diminui a quantidade de abusos. Por si mesma, no entanto, a prisão não faz nada quanto às fantasias e ao planejamento. A obsessão é mantida pela constante masturbação em cima de fantasias com crianças. O presidiário emerge do encarceramento ao menos tão depravado quanto quando entrou.
Segundo Nucci (2011, p.576), a medida de segurança é uma forma de sanção penal, com caráter preventivo e curativo, visando evitar que o autor de um fato havido como infração penal, inimputável ou semi-imputável, mostrando periculosidade, torne a cometer outro injusto e receba tratamento adequado.
Segundo Gouvêa (2011, não paginado), a pedofilia é:
Desvio sexual caracterizado pela atração por crianças ou adolescentes sexualmente imaturos, com os quais os portadores dão vazão ao erotismo pela prática de obscenidades ou de atos libidinosos – a pedofilia é o regresso do indivíduo adulto a curiosidade sexual e ao comportamento de exploração da criança.
Segundo Maior (1975 p. 153), “o pater era, ao mesmo tempo, o juiz de todas as questões domésticas, o sacerdote do culto no lar e o único senhor do patrimônio familiar”, os filhos deviam da honra ao seu chefe, o Pater Familiar, independentemente de qualquer ato que violasse a Dignidade da Pessoa Humana.
Para Maria Berenice Dias (2012, p. 19)
Apesar de toda a consolidação dos direitos humanos, o homem continua sendo considerado proprietário do corpo e da vontade da mulher e dos filhos. A sociedade protege a agressividade masculina, respeita sua virilidade, construindo a crença da sua superioridade. Afetividade e sensibilidade não são expressões que combinam com a idealizada imagem masculina. Desde o nascimento, o homem é encorajado a ser forte, não chorar, não levar desaforo para casa, não ser “mulherzinha‟. Precisa ser um super-homem, pois não lhe é permitido ser apenas humano. Essa errônea consciência de poder é que assegura, ao varão, o suposto direito de fazer uso de sua força física e superioridade corporal sobre todos os membros da família. Venderam para a mulher a ideia de que ela é frágil e necessita de proteção, tendo sido delegado ao homem o papel de protetor, de provedor. Daí à dominação, do sentimento de superioridade à agressão, é um passo.
O inciso II do art. 226 do Código penal prevê pena mais severa ao agressor que, se aproveitando da sua condição de autoridade, pratica o delito, quando, na realidade, a sociedade espera deste uma postura de proteção e orientação, jamais de total desrespeito à dignidade humana daqueles a quem lhe são confiados. Este agressor deve ser, portanto, duramente punido.
Art. 226. A pena é aumentada:
II - De metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;
A violência sexual intrafamiliar nada mais é do que o rompimento do tabu do incesto. A violência sexual incestuosa envolve relações sexuais entre pai e filha ou algum homem que “simbolicamente ocupa para a menina/mulher o lugar de pai, ainda que seja vivo, presente ou não em sua vida” (Cromberg, 2004, p. 62).
Ocorre, com frequência, dentro da família, em algumas vezes, na própria casa da criança, podendo se estender por longos períodos, envolver padrastos, madrastas, meio-irmão, avós por afinidade, namorados ou companheiros que morem junto com o pai ou a mãe e que exerçam o papel de cuidador. (AZAMBUJA, 2011, p. 90)
Segundo Simone de Assis, a violência cometida por pessoas de quem a criança espera amor, respeito e compreensão é um importante fator de risco que afeta o desenvolvimento da autoestima, da competência social e da capacidade de estabelecer relações interpessoais, potencializando a fixação de um autoconceito negativo e uma visão pessimista do mundo (ASSIS, 2004, p. 2).
Segundo a Organização Mundialde Saúde (1999), abuso infantil ou violência contra a criança são todas as formas de maus-tratos físicos e emocionais, negligência, exploração comercial ou outro tipo de exploração, que resulte em dano atual ou potencial para a saúde, sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade, no contexto de um relacionamento de responsabilidade, confiança ou poder. Trata-se de um problema sério de saúde, devendo ser encarado como tal pelo poder público.
A criança passa a sentir culpa e medo, “os quais refletem-se em sua baixa autoestima e explicam o comportamento de vítima dos adultos que sofreram abuso sexual quando crianças” (FURNISS, 1993, p. 17).
Esses casos começam lentamente através de sedução sutil, passando a prática de “carinhos” que raramente deixam lesões físicas. É nesse ponto que a criança se pergunta como. Alguém em quem ela confia, de quem ela gosta, que cuida e se preocupa com ela, pode ter atitudes tão desagradáveis. (ALVES; SANTOS, 2010)
Pfeiffer e Cardon (2006) ressaltam que a violência praticada dentro da família, velada por pactos de silêncio, deve ser considerada a mais danosa para a criança, visto que “pode levar à desestrutura da personalidade em desenvolvimento, impedindo a formação ou destruindo os valores morais positivos, fazendo com que o respeito a si mesmo e ao outro nunca seja aprendido”. 
Sustenta Azambuja (2011) que, nas famílias em que o abuso sexual está presente, é comum as crianças não se sentirem compreendidas ou devidamente amparadas por seus pais ou cuidadores. Imaturas emocionalmente, acabam se submetendo ao abuso com medo de serem castigadas ou aceitam-no como manifestações de afeto pelo abusador.
O bem jurídico tutelado é a dignidade sexual da pessoa vulnerável, e não mais a sua liberdade sexual, “na medida em que, estando nessa condição, a vítima é considerada incapaz de consentir validamente com o ato de caráter sexual” (MARCÃO E GENTIL, 2011, p. 187)
A criança vitimizada pela violência sexual tem seu contexto intensificado pela síndrome do silêncio a ela imposta. Dessa maneira, a única saída para a vítima passa a ser “o olhar atento dos educadores e das pessoas que, de algum modo, fazem parte da sua vida fora de casa; crianças e adolescentes costumam pedir socorro assim que estabelecem um vínculo de confiança com outro adulto” (MACHADO et al., 2005, p. 55).
Azambuja (2011, p. 126) aponta a inexistência de uma cultura de denúncia do abuso, fragilizando as vítimas e contribuindo para a continuidade dos episódios. 
Os crimes sexuais são pouco denunciados e há falta de instrumentos adequados para registrar estatisticamente o problema, dificultando a produção de um diagnóstico nacional exato sobre a violência doméstica e sexual no Brasil. O número real de casos é muito superior ao volume notificado à Polícia e ao Judiciário. Estudos do Departamento de Medicina Legal da Unicamp, de 1997, indicam que apenas 10% e 20% das vítimas denunciam o estupro (SOUZA; ADESSE, 2005, p. 25)
Pfeiffer e Cardon (2006) ressaltam que a denúncia e notificação da suspeita ou da confirmação da violência praticada contra a criança é obrigatória por lei, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Penal, e deveria desencadear uma série de medidas de proteção às vítimas, desde a orientação e acompanhamento familiar até a intervenção judicial com afastamento do agressor ou da família.
1) o abusador possui um poder hierárquico superior, exercendo controle sobre a vítima que não compreende o que se passa; 2) o agressor deve possuir uma diferença na idade cronológica ou avanço no desenvolvimento social-cognitivo; 3) o agressor busca ou obtém uma gratifi cação e satisfação, sendo que um possível prazer da vítima é acidental ou de interesse de quem abusa. (WATSON, 1994 apud FRONER, 2008, p. 33).
A violência sexual intrafamiliar é considerada um fenômeno complexo e, como visto, pode ser entendida todo ato ou jogo sexual entre adultos e uma criança ou adolescente, com o intuito estimular sexualmente a criança ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa. O “abuso sexual intrafamiliar, com ou sem violência explícita, é caracterizado pela estimulação sexual intencional por parte de algum dos membros do grupo que possui um vínculo parental pelo qual lhe é proibido o matrimônio” (COHEN, 1993, p. 212). 
Segundo Barbosa (2007) o maior número de crianças violentadas sexualmente ocorre dentro da própria casa, perpetrada por algum membro da família, ou outra pessoa que exerça função parental, sem necessariamente haver laços de consanguinidade.
É comum que os casos de pedofilia no âmbito familiar sejam marcados pelo silêncio e segredo, ou seja, embora esses casos ocorram na infância eles só são descobertos anos mais tarde, muitas vezes na vida adulta (BRAUN, 2002). 
Isto ocorre porque a criança apresenta dificuldade em expressar e revelar a situação do abuso no contexto familiar, uma vez que reviver os fatos gera sentimentos de culpa, vergonha, medo, e em alguns casos, medo de prejudicar o agressor ou desestruturar a família (AZEVEDO, 2001).
Faz-se necessário destacar, também, que os casos de pedofilia não são exclusivos das classes sociais mais baixas, não pode ser vista como consequência da pobreza, “ao contrário, toda a sociedade, independentemente de raça, credo, poder econômico, cultura, escolaridade etc., está sujeita a esta violência” (NOGUEIRA, 2009, p. 2).
Cohen e Fígaro (1996, p. 149), afirmam que, o abuso sexual pode ser entendido como “qualquer relacionamento interpessoal no qual o ato sexual é veiculado sem o consentimento do outro, podendo ocorrer pelo uso de violência física ou psicológica” 
A violência sexual contra crianças, seja ela intra ou extra familiar, pode ser subdividida didaticamente em três grupos: não envolvendo contato físico (abuso verbal, exibicionismo, voyeurismo), envolvimento contato físico (carícias, coito ou tentativa de coito, manipulação de genitais, sexo oral, sexo anal) e envolvimento de violência (estupro, assassinato) (AZEVEDO e GUERRA 1995).
Faleiros (2000), afirma que em geral, o abuso fica cercado por um complô de silêncio, visto que este é um ato que envolve medo, vergonha, culpa e que desafia tabus culturais (especificamente o sexo e a sexualidade da criança) e aspectos das relações de interdependência. O silêncio pode ser compreendido como uma tentativa de preservar o núcleo familiar, evitando dar-se conta da contradição existente entre o papel de proteção esperado da família e a violência que nela se dá.
De acordo com Furniss (1993), abusar é precisamente ultrapassar os limites e, portanto, transgredir. Abuso contém ainda a noção de poder, ou seja, o abuso de poder ou de astúcia, abusar da confiança, da lealdade, o que significa que houve uma intenção e que a premeditação estão presentes.
As considerações médicas, a análise das queixas apresentadas à polícia e as declarações dadas à justiça deixam transparecer que os autores dos abusos sexuais contra crianças, na sua quase totalidade são de responsabilidade exclusivamente dos homens. Embora o abuso possa vitimizar também meninos, sendo mais comum contra o sexo feminino (COHEN e FÍGARO, 1996). 
Afirma Freud (1967), que os cuidados maternos que se estendem aos filhos a um período maior do que o necessário, como mães que amamentam filhos de três anos de idade ou dão banho em filhos praticamente adolescentes, podem ser relações abusivas, mas que oferece mais dificuldade de serem percebidas como tal. 
Cohen e Fígaro (1996) afirmam que o abuso sexual da criança também acontece em famílias com um relacionamento mãe - filha próximo e protetor. Porém, o abuso não continuará através dos anos, essas mães geralmente são pessoas que revelam, elas mesmas, o abuso. Elas captam os sinais de abuso sexual por parte das crianças, que falam a respeito e são acreditadas, tomando medidas para proteger a mesma e induzindo-a fazer uma revelação.
Se a violência intrafamiliar é construída histórica, psicológica e socialmente, é impossível apontar apenas uma única causa paratal problemática. É preciso, portanto observar as características tanto pessoais como circunstanciais dos membros familiares envolvidos, as condições ambientais em que ocorre o fenômeno, as questões psicológicas de interação, o contexto social e as implicações socioeconômicas (LEVISKY, 1997). 
A razão individual para os pais, parentes ou desconhecidos se tornarem pessoas que abusam serem incapazes de proteger, podem ser muito variadas: ambos podem ter sofrido abuso físico ou sexual quando crianças, a experiência individual de vida dos pais faz com que muitas vezes seja compreensível por que eles reagem do modo como o fazem e por que escolhem uma ao outro como parceiros, frequentemente recriando o padrão familiar de suas próprias famílias de origem (ENGELS, 1985).
3.DANOS PSICOLOGICOS AS VITIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL 
A vivência de situações traumáticas, como o abuso sexual durante a infância e a adolescência, pode acarretar sérios prejuízos tanto ao desenvolvimento infanto-juvenil quanto para a vida adulta, com repercussões cognitivas, emocionais, comportamentais, físicas e sociais, que variam para cada indivíduo (Briere e Elliot et al., 2003 apud Rangé B.)
Segundo HABIGZANG, L. F. e KOLLER, S. H. (2011) a violência sexual contra crianças e adolescentes é apontada como um problema de saúde pública, devido seus efeitos negativos para o desenvolvimento cognitivo, emocional, comportamental e físico das vítimas e por seus altos índices de ocorrência em diferentes níveis socioculturais. O abuso sexual tem sido indicado como uma das formas mais graves de violência, pois frequentemente está relacionado a abusos físicos e psicológicos.
De acordo com SANDERSON (2004, apud HABIGZANG , L. F. e KOLLER, S. H. 2011), as estimativas apontam que, uma em cada quatro meninas e um em cada seis meninos, são vítimas de alguma forma de abuso sexual antes de completar a maioridade.
Para a maioria dos pesquisadores, o abuso sexual infantil é facilitador para o aparecimento de psicopatologias graves, prejudicando a evolução psicológica, afetiva e social da vítima. Os efeitos do abuso na infância podem se manifestar de várias maneiras, em qualquer idade da vida (ROMARO; CAPITÃO, 2007, p. 151, apud FLORENTINO B. R. B., 2015).
A reação da criança diante vai depender da duração do abuso, já existiu casos de apenas um abuso causar a morte de uma criança, como outros casos não, e da presença ou ausência de figuras de apoio para a criança (familiares, profissionais ou amigos) e da proximidade do vínculo entre a criança e aquele que a agrediu (agravando a vivência de traição de confiança). (AMAZARRAY e KOLLER, 1998; BANYARD e WILIAMS, 1996, apud GONÇALVES H. S., BRANDÃO, E. P., 2004)
Dalgalarrondo (2000, apud FLORENTINO B. R. B., 2015) aponta que alguns estudos apresentam resultados que confirmam existir uma forte relação entre ter sofrido abuso na infância e transtornos de conduta na adolescência e na vida adulta. Alguns transtornos são classificados como transtorno de identidade de gênero. Há também os transtornos de preferência sexual, que incluem as parafilias como fetichismo (dependência de alguns objetos inanimados com estímulo para a excitação e satisfação sexual); voyerismo (excitação sexual em olhar pessoas envolvidas em comportamentos sexuais ou íntimos); sadomasoquismo (preferência por atividade sexual que envolve servidão ou a influição de dor ou humilhação); pedofilia (preferência sexual por crianças púberes); e outras, conforme descritas na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento – CID – 10 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1993).
Hiperatividade ou retraimento; baixa autoestima; dificuldade de relacionamento com outras crianças ou com adultos, acompanhada de reações de medo, fobia ou vergonha; culpa, depressão, ansiedade e outros transtornos afetivos; distorção da imagem corporal; enurese e/ ou eco prese; amadurecimento sexual precoce, ou masturbação compulsiva; gravidez e tentativas de suicídio tão associadas à violência sexual. (BERKOWITZ et al, 1994, apud GONÇALVES H. S., BRANDÃO, E. P., 2004)
De acordo com BANYARD E AILLIAMS (1996, apud GONÇALVES H. S., BRANDÃO, E. P., 2004) quando o abuso vem acompanhado de violência física, as consequências de curto prazo tendem a ser mais traumáticas, com ansiedade, depressão e distúrbios do sono.
De maneira evidente, a exposição ao abuso sexual na infância está associada a prejuízos em longo prazo, exibindo fator de risco para o desencadeamento de diversas alterações de ordem psicológica e funcional, entre as quais depressão, ideias suicidas, ansiedade e transtorno do estresse pós-traumático. Através de uma pesquisa realizada, as repercussões devastadoras foram mostradas ao se avaliar a capacidade de resiliência e auto perdão em mulheres sobreviventes de abuso sexual na infância, que apresentaram níveis de desesperança, capacidade para o autoperdão inferiores e níveis mais elevados de sintomas de estresse pós-traumático, quando comparados a outras mulheres que apresentaram as mesmas dificuldades, mas que não foram abusadas sexualmente na infância. São alterações que variam em tempo e intensidade, afetam o referencial de vida de meninas vitimadas e resultam em grandes sofrimentos emocionais. (CARVALHO E LIRA, et al., 2017)
É fundamental que o psicólogo reconheça com clareza o seu papel, suas atribuições e as contribuições que pode conferir ao caso que lhe foi encaminhado (Brito, 2012).  
, Consequências A Curto Prazo Do Abuso Infantil
· Físicas: pesadelos e problemas com o sono, mudanças de hábitos alimentares, perda do controle de esfíncteres.
· Comportamentais: Consumo de drogas e álcool, fugas, condutas suicidas ou de autoflagelo, hiperatividade, diminuição do rendimento acadêmico.
· Emocionais: medo generalizado, agressividade, culpa e vergonha, isolamento, ansiedade, depressão, baixa autoestima, rejeição ao próprio corpo (sente-se sujo).
· Sexuais: conhecimento sexual precoce e impróprio para a sua idade, masturbação compulsiva, exibicionismo, problemas de identidade sexual.
· Sociais: déficit em habilidades sociais, retração social, comportamentos antissociais.[2]
Se uma criança não tiver o tratamento adequado e necessário para os casos de abusos sexuais, além de terem reações imediatas como citado acima, em sua vida adulta terá graves consequências, onde poderá desenvolver problemas amorosos e sexuais, afetando sua rotina diária e levando a sua exclusão social.
CONSEQUÊNCIAS A LONGO PRAZO DO ABUSO SEXUAL INFANTIL
Existem consequências da vivência que permanecem, ou inclusive podem piorar com o tempo, até chegar a configurar patologias definidas. Por exemplo:
· Físicas: dores crônicas            gerais, hipocondria      ou        transtornos psicossomáticos, alterações do sono e pesadelos constantes, problemas gastrointestinais, desordem alimentar.
· Comportamentais: tentativa de suicídio, consumo de drogas e álcool, transtonno de identidade.
· Emocionais: depressão, ansiedade, baixa auto-estima, dificuldade para expressar sentimentos.
· Sexuais: fobias sexuais, disfunções sexuais, falta de satisfação ou incapacidade para o orgasmo, alterações da motivação sexual, maior probabilidade de sofre estupros e de entrar para a prostituição, dificuldade de estabelecer relações sexuais.
· Sociais: problemas de relação interpessoal, isolamento, dificuldades de vínculo afetivo com os filhos.
Com o exposto acima os genitores que são responsáveis pelos seus filhos deverão estar atentos aos sintomas apresentados, pois sua atenção é primordial para que acontecimentos de abusos sexuais sejam descobertos em sua fase inicial, assim podendo ter um tratamento mais eficaz, e também evitando que esses delinquentes continuem praticando tais crimes repugnantes, para que estes sejam devidamente punidos.
Dependendo da idade da criança, os sinais do abuso serão diferentes.
Crianças de até 11 meses: 
Em casos de bebês que sofrem abuso sexual, é comum a criança apresentar choros frequentes, irritabilidade, apatia, atraso no desenvolvimento, distúrbiosdo sono, vômitos e dificuldades na alimentação/amamentação e desconforto no colo. 
Crianças de 1 a 4 anos
Crianças entre 1 e 4 anos já possuem mais potencial de comunicação, mas ainda tem pouco discernimento das coisas. Elas podem reagir com choros frequentes, irritabilidade, tristeza frequente, atraso no desenvolvimento, dificuldade no desenvolvimento da fala, agressividade acentuada, ansiedade, medo de pessoas, pesadelos, tiques e manias.
Crianças de 5 a 9 anos
São crianças um pouco mais desenvolvidas. A escola pode ter um papel importante para identificar comportamentos suspeitos.
A criança costuma apresentar tristeza frequente, baixa autoestima, irritabilidade, choro frequente, falta de limite, distúrbio alimentares, enurese e encoprese, tendência ao isolamento, ansiedade e medo, comportamentos obsessivos, automutilação, déficit de atenção, hiperatividade.
Pré-adolescentes e adolescentes de 10 a 19 anos
Entre 10 e 19 anos, já se tem uma consciência maior do que é um abuso. Mas muitas vezes, o jovem se sente culpado ou pensa que não irão acreditar se ele denunciar a violência.
As reações nesta faixa etária incluem choro, ansiedade, medo, baixa autoestima, uso de drogas, tendência ao isolamento, automutilação, comportamento de risco, agressividade acentuada e ideação suicida
METODOLOGIA 
A pesquisa científica está presente em todo campo da ciência, no campo da educação encontramos várias publicadas ou em andamento. Ela é um processo de investigação para solucionar, responder ou aprofundar sobre uma indagação no estudo de um fenômeno. Bastos e Keller (1995, p. 53) definem: “A pesquisa científica é uma investigação metódica acerca de um determinado assunto com o objetivo de esclarecer aspectos em estudo”. 
Para Gil (2002, p. 17) “A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não pode ser adequadamente relacionada ao problema”. A pesquisa científica apresenta várias modalidades, sendo uma delas a pesquisa bibliográfica que será abordada no presente artigo, expondo todas as etapas que devem ser seguidas na sua realização. Esse tipo de pesquisa é concebida por diversos autores, dentre eles Marconi e Lakatos (2003) e Gil (2002).
 A pesquisa bibliográfica está inserida principalmente no meio acadêmico e tem a finalidade de aprimoramento e atualização do conhecimento, através de uma investigação científica de obras já publicadas.
Para Andrade (2010, p. 25):
A pesquisa bibliográfica é habilidade fundamental nos cursos de graduação, uma vez que constitui o primeiro passo para todas as atividades acadêmicas. Uma pesquisa de laboratório ou de campo implica, necessariamente, a pesquisa bibliográfica preliminar. Seminários, painéis, debates, resumos críticos, monográficas não dispensam a pesquisa bibliográfica. Ela é obrigatória nas pesquisas exploratórias, na delimitação do tema de um trabalho ou pesquisa, no desenvolvimento do assunto, nas citações, na apresentação das conclusões. Portanto, se é verdade que nem todos os alunos realizarão pesquisas de laboratório ou de campo, não é menos verdadeiro que todos, sem exceção, para elaborar os diversos trabalhos solicitados, deverão empreender pesquisas bibliográficas (ANDRADE, 2010, p. 25).
Segundo Macedo (1994, p. 13), a pesquisa bibliográfica: “Trata-se do primeiro passo em qualquer tipo de pesquisa científica, com o fim de revisar a literatura existente e não redundar o tema de estudo ou experimentação”. Desta forma para Lakatos e Marconi (2003, p. 183): “[...] a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”.
A pesquisa bibliográfica, segundo Boccato (2006),
...] busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica. Para tanto, é de suma importância que o pesquisador realize um planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de comunicação e divulgação (BOCCATO, 2006, p. 266).
CONCLUSÃO
A discussão apresentada neste trabalho nos permitiu concluir que a violência sexual é um problema da sociedade atual, que em diferentes períodos históricos do antigo regime não foi considerada como crime. As transformações históricas sofridas pela sociedade em sua transição do antigo regime para a modernidade influenciaram na constituição de novas formas de pensar e tratar a criança. Com os discursos que permearam estas mudanças, surgiu o conceito de família e infância, sendo que neste contexto, a criança passa a ser considerada enquanto sujeito que necessita de cuidado e proteção dos adultos.
 A partir de então, relações sexuais entre adultos e crianças, vistas como naturais, uma vez que, a criança era considerada um brinquedo do adulto e não apresentava o que hoje entendemos como particularidades infantis, se tornou um crime, que comove quem presencia e condena quem o pratica. Por meio desta pesquisa, compreendemos a pertinência da relação entre o tema violência sexual e as práticas que permeiam a escola. Alguns aspectos nos fazem compreender este vínculo, como: ser um tema que tem recebido atenção de diferentes áreas das ciências humanas, incluindo a educação; por se tratar de crianças, que na maioria das vezes frequentam esta instituição, podem manifestar sintomas e indicadores de que está sendo vítima de violência sexual no contexto escolar, e pela Legislação que compreende o professor como profissional responsável por proteger a criança deste crime.
 O olhar que lançamos para a constituição da infância e para a violência sexual, neste trabalho, nos permite compreendê-las como construídas historicamente, na tensão entre os discursos e as práticas que se organizaram em torno das crianças ao longo dos anos. Isso nos fez perceber a necessidade de problematizarmos o tema de forma crítica e cuidadosa, uma vez que, o discurso disseminado acerca dela influenciará diretamente forma como a compreendemos e nas práticas de intervenção que criamos. 
Acreditamos que este trabalho poderá contribuir com aproximações entre a violência sexual e a educação e ainda provocar reflexões entre professores sobre discursos produzidos em relação às situações que envolvam casos de violência sexual em sala de aula. Para finalizar, esperamos também, e, sobretudo, que possamos vir a construir uma compreensão histórica acerca da violência sexual tanto em nossa formação quanto em nossa prática docente.
No Brasil, bem como, em outros países, a violência sexual praticada contra crianças e adolescentes é um grave e preocupante problema que deve ser enfrentado com devida cautela.
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REFERÊNCIAS
ADED, Naura Liane de Oliveira Ade et al. Abuso sexual em crianças e adolescentes: revisão de 100 anos de literatura. Revista de Psiquiatria Clínica, Rio de Janeiro, v. 33, n. 4, p. 204- 213, nov. 2006. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. 
AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane Nogueira. Pele de asno não é só história: um estudo sobre a vitimização de crianças e adolescentes em família. São Paulo: Roca, 1988. 
BORGES, Jeane Lessinger; DELL’AGLIO, Débora Dalbosco. Abuso sexual infantil: indicadores de risco e consequências. Interamerican Journal of Psychology, Porto Alegre, v. 2, n. 3, dez. 2008. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 
______. Decreto nº 99.710, de 21 de novembro de 1990. Dispõe sobre a Convenção dos Direitos da Criança. 
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