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FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CURITIBA SOLANGE NEIVA CORBARI RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO DE PSICOLOGIA OPÇÃO III ANSIEDADE E LUTO NA PANDEMIA COVID 19 CURITIBA 2021 SOLANGE NEIVA CORBARI RELATÓRIO FINAL ESTÁGIO DE OPÇÃO III ANSIEDADE E LUTO NA PANDEMIA COVID 19 Relatório de Estágio apresentado como requisito parcial para conclusão de disciplina Estágio Supervisionado Opção III do curso de Psicologia, da FAE Centro Universitário Orientador Prof. A Dra. Maria do Desterro de Figueiredo CURITIBA 2021 FAE Centro Universitário Franciscano do Paraná Curso de Psicologia - Estágios Curriculares DECLARAÇÃO de RESPONSABILIDADE DE PRODUÇÃO e de CORREÇÃO de RELATÓRIO ADAPTADO PARA CENÁRIO REMOTO 1º SEMESTRE DE 2021 ESTÁGIOS DE OPÇÃO Estágio: De Opção III Local: Plataforma Google Meet Aluno(s): Solange Neiva Corbari Supervisor: Dr. Maria do Desterro de Figueiredo DECLARAÇÃO Declaro, com ciência dos alunos e para os fins acadêmicos, que este relatório de estágio supervisionado foi por nós produzido, corrigido pelo professor supervisor e encontra-se de acordo com as normas de trabalhos acadêmicos estabelecidas por esta instituição, assim como contempla as horas mínimas exigidas para a conclusão do mesmo, respeitando o caráter sigiloso que rege o código de ética da profissão do psicólogo. Solange Neiva Corbari RA: 1001560568 ______________________________ Dra. Maria do Desterro de Figueiredo CRP 08/08204 Supervisor de Estágio Curitiba, 16 de julho de 2021 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO..........................................................................................................1 2.CAMPO DE ESTÁGIO.............................................................................................2 3. ESTÁGIO SUPERVISIONADO ............................................................................2 4. OBJETIVO GERAL………….. ………………………………………………….3 4.1 OBJETIVO ESPECÍFICO....................................................................................3 5. DESENVOLVIMENTO E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES.......................... 4 6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...........................................................................5 6.1 ARQUÉTIPOS E INCONSCIENTE COLETIVO ….........................................5 6.2 ANSIEDADE E MEDO………..............................................................................6 6.3 LUTO E MEDO DA MORTE…………...............................................................9 7. CONCLUSÃO……………......................................................................................10 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................11 9. REFERÊNCIAS.......................................................................................................12 RESUMO CORBARI, Solange Neiva. ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA ÁREA DE OPÇÃO III: Clinica - Psicologia Analítica. Relatório Final do Estágio de Opção III – FAE Centro Universitário. Curitiba, 2021. Relatório produzido como parte das atividades desenvolvidas na disciplina de Estágio clínico de Opção III, do curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano do Paraná – FAE, do qual faz parte da grade curricular do 10ª período de formação, o estágio foi realizado de março a junho de 2021. Os atendimentos aos pacientes ocorreram de maneira remota, utilizando-se da plataforma do Google Meet, vinculados a PSICOFAE - Serviço Escola. O trabalho tem como objetivo apresentar a prática realizada nos atendimentos clínicos relacionados com a ansiedade e luto no contexto da pandemia COVID 19, vinculando com a perspectiva da abordagem da Psicologia Complexa de Carl Gustav Jung. Palavras Chaves: Pandemia COVID 19; Ansiedade, luto, estágio obrigatório. 1. INTRODUÇÃO Carl Gustav Jung desenvolveu a abordagem Junguiana com base na experiência psiquiátrica, onde passou a maior parte de sua vida se dedicando à exploração e aplicação das ciências humanas, como sociologia, antropologia, mitologia e religião. As comparações são feitas em revelações acadêmicas sobre cultura, descobertas históricas e arqueologia e ciência, campos relacionados, incluindo filosofia oriental e ocidental, alquimia e astrologia, e literatura e arte. Seu interesse por filosofia e ocultismo tem levado muitas pessoas a pensar que ele é um místico, o que o capacita a compreender a auto expressão da mente subconsciente em dispositivos e processos mentais. O processo clínico demanda do terapeuta uma postura ética diante do paciente, buscando ser um facilitador do processo terapêutico do sujeito, tendo como objetivo compreendê-lo na sua totalidade, onde o falar possibilita o encontro do sujeito com ele mesmo. Frente ao manejo clínico, o terapeuta é o iniciador do processo de psicoterapia, buscando sempre o estabelecimento de um vínculo entre o paciente e o terapeuta, onde valoriza a fala e a escuta do sujeito e promove o autoconhecimento favorável ao processo de individuação. O uso de técnicas provenientes do método de Jung proporciona o estudo de conteúdos inconscientes do sujeito, como a técnica de circumbulação que consiste em pontuar questões envolvidas no funcionamento psíquico do sujeito. Os atendimentos psicológicos online surgiram a partir das novas formas de comunicação da sociedade contemporânea devido a pandemia que tem assolado o mundo, causando impacto significativo na vida dos sujeitos através das perdas e isolamento social. Diante do contexto atual, pode-se observar o aumento das demandas psicológicas, onde pessoas desenvolvem algum tipo de transtornos psíquicos como ansiedade, depressão, medo, síndrome do pânico, lutos mal elaborados, entre outros sintomas que surgiram por meio da pandemia. Assim sendo, este relatório busca desenvolver sobre o tema da pandemia da COVID 19 e as consequências psicológicas que vem trazendo na vida do indivíduo, principalmente em relação a ansiedade, perdas e luto numa perspectiva junguiana. 2. CAMPO DE ESTÁGIO Por conta da pandemia do COVID-19 e das recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) acerca do isolamento social, foi necessário a ocorrência da adaptação nos atendimentos psicológicos da disciplina de Estágio Supervisionado em Área de Opção III, que até então eram realizados na FAE Centro Universitário, na PSICOFAE. As medidas de segurança estão previstas no Diário Oficial da União (2020, p. 62). § 3o No que se refere às práticas profissionais de estágios ou às práticas que exijam laboratórios especializados, a aplicação da substituição de que trata o caput deve obedecer às Diretrizes Nacionais Curriculares aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação - CNE, ficando vedada a substituição daqueles cursos que não estejam disciplinados pelo CNE. Em decorrência da situação, as práticas dos estágios do último período dos acadêmicos da FAE Centro Universitário passaram a ser realizados de maneira remota, através da plataforma do Google MEET, com o propósito de prevenção e segurança dos alunos,professores e pacientes. 3. ESTÁGIO SUPERVISIONADO O Estágio Supervisionado em Psicologia Clínica de Opção III, é previsto para o último semestre do quinto ano do curso de Psicologia e está vinculado ao Serviço-Escola PSICOFAE, situado na Rua 24 de maio 135, no Centro da Cidade de Curitiba. O Serviço-Escola PSICOFAE dá suporte para a formação acadêmica e profissional dos alunos do curso de Psicologia da Instituição, por meio de atendimentos à comunidade. É um espaço para o desenvolvimento de atividades específicas da prática profissional, vinculadas aos estágios curriculares, bem como aos projetos de extensão, ensino e pesquisa, supervisionados por professores capacitados em diferentes linhas de atuação. A PSICOFAE é referência e integra também as demais intervenções ligadas às disciplinas práticas previstas na matriz curricular do curso em áreas como Clínica, Social, Trabalho, Educacional, Saúde Hospitalar e Jurídica. Onde são realizados atendimentos individuais ou em grupos, realizado na modalidade remota neste momento, de forma gratuita de acordo com os horários e disponibilidades dos alunos e pacientes inscritos no programa de atendimento psicológico da PSICOFAE. A Clínica conta com uma infraestrutura ampla entre elas várias salas que promovem o atendimento dos pacientes, contribuindo com o aprendizado dos alunos, professores e supervisores. Neste estágio, o acadêmico realizará o total de 126 horas, sendo subdivididos 30 horas de supervisão e 40 horas de prática cabendo à parte concedente, o desenvolvimento do estágio, proporcionado meios que possibilitaram para o estudante realizar as atividades de observação e intervenção na área Psicologia Clínica no estágio de Opção III, restando ao estagiário, cumprir com empenho e interesse da programação estabelecida pelo Estágio. 4. OBJETIVO GERAL O objetivo deste relatório baseado na teoria Analítica, visa prestar atendimentos psicológicos na modalidade remota, promovendo a escuta e a diminuição sofrimento psíquico, contribuindo com o aprendizado e a formação acadêmica, desenvolvendo habilidades associadas a escuta e ao exercício da prática dos atendimentos clínicos na Perspectiva da Clínica Junguiana. 4.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ● Proporcionar ao indivíduo um espaço de escuta e acolhimento; ● Entender a importância da palavra e da escuta na prática do psicoterápica; ● Aplicar o método Analítico de Jung na prática clínica; ● Possibilitar um maior alcance de pessoas que necessitam de ajuda psicológica nestes tempos de pandemia através dos atendimentos realizados na modalidade remota e gratuita. 5. DESENVOLVIMENTO E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES Para realização deste estágio, foi definido um grupo composto por quatro estagiárias que realizavam as supervisões semanais em grupo com a professora orientadora e os atendimento eram realizados de forma individual, sempre utilizando como recurso tecnológico a plataforma (Google Meett), Os atendimentos aos pacientes ocorreram semanalmente, de forma on-line, com duração de 50 minutos cada sessão. Os recursos utilizados foram o método dialético; a escuta e a técnica de circumbulação; e equipamentos eletrônicos (notebook; celular). Foram atendidos três pacientes durante este estágio, dos quais dois foram citados neste relatório por apresentarem sintomas e consequências relacionados à pandemia em suas vidas. Sabemos que a pandemia COVID 19, tema deste relatório, atinge a todos de algumas formas e em graus diferentes para cada indivíduo, podendo considerá-lo como um tema arquetípico por se tratar de um estado pandêmico coletivo que gera muitos sentimentos de medo, ansiedade e depressão. A paciente T.H sexo feminino, 30 anos, reside em Curitiba, mora sozinha, perdeu o emprego devido a pandemia, teve COVID 19 e recuperou-se, em sua fala ficam evidentes a ansiedade, o medo de não conseguir um emprego, a solidão associada ao isolamento social, perda de ente querido para a COVID 19. Suas sessões foram realizadas nas quartas feiras às 16h. O paciente M.L sexo masculino, 20 anos, Reside em Curitiba, mora com a mãe, perdeu o emprego devido a pandemia em seguida sua avó faleceu, não elaborou esse luto, ansiedade e preocupação com seu futuro. Os atendimentos foram realizados nas quartas feiras às 14h. 6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19) tem sido considerada uma grave crise sob o ponto de vista epidemiológico e psicológico. A doença foi inicialmente reportada na China, em dezembro de 2019 e rapidamente houve crescimento do número de casos confirmados e de mortes em decorrência da COVID-19 em diferentes países, a Organização Mundial da Saúde passou a caracterizá-la como uma pandemia, a partir de 11 de março de 2020. A preocupação com a capacidade dos sistemas de saúde para atender à demanda crescente, incluindo a necessidade de leitos hospitalares e respiradores, tem levado à proposição de medidas para conter a rápida escalada da doença, tais como fechamento do comércio, de universidades e escolas, trabalho em home office, restrições a viagens, isolamento de casos suspeitos e distanciamento social para toda a população. (CREPALDI, 2020). Diante disso, uma combinação de variáveis que associadas a duração e letalidade trazem consigo o medo e a ansiedade em doses difíceis de serem administradas, somadas à insegurança financeira, à insegurança com a própria saúde e à saúde de pessoas próximas. Conforme Nascimento (2020), a palavra Pan é o radical da palavra Pânico. A síndrome de Pânico está associada à presença de “Pan”, nesta patologia. Quando C. G. Jung nos fala a respeito de um mito, refere-se ao que os antropólogos conhecem como um “Padrão de Comportamento” (“Pattern of Behaviour”). Um mito é uma extrapolação do inconsciente coletivo no plano da Consciência Coletiva. Um sonho nos remete a um mito particular, pessoal. Um mito, por sua vez, é um sonho coletivo. Cada Mito nos remete a um ou a vários “deuses” entremeados. Um deus, diz respeito a uma determinada disposição psíquica atuando em nossa Consciência Coletiva. Pan, é um deus da mitologia grega, associado à Natureza, à “Physis” e representado, da cintura para baixo, por um bode, e da cintura para cima, como um humanóide, protetor dos campos, dos bosques, dos rebanhos e temido por todos aqueles que precisavam atravessar a floresta durante á noite. Na ausência de Pan, pessoas e animais sentiam-se e percebiam-se sem a conexão com o divino, desnorteados e entregues à própria sorte e a si mesmos. Pan, na mitologia grega, também é descrito, como um deus perigoso e extremamente violento em sua fenomenologia, responsável, portanto, por ataques de "Pânico" e também por uma “Pan-Demia”. A perda de conexão com o sagrado aponta para a necessidade de sua recuperação, aponta para a necessidade urgente de ser resgatada. Precisamos nos re-conectar com o sagrado. Coletivamente, estamos negando a Natureza. Estamos realizando projeções de nossas próprias tendências destrutivas, de ordem paranóide e paranóica sobre a Natureza, elencando-a como um inimigo a ser vencido. Precisamos nos reconhecer como Natureza. A natureza que está do lado de fora, está também do lado de dentro. (NASCIMENTO, 2020). A despeito da nossa orgulhosa pretensão de dominar a natureza, ainda somos suas vítimas, pois não aprendemos nem a nos dominar. Atraímos o desastre de maneira lenta, mas que não parece fatal. (JUNG, 1964, p. 128) A prática do isolamento social sugere que as atitudes individuais refletem diretamente no bem-estar coletivo. Com medo de sermos inseridos nos dados estatísticos sobre a taxa de mortalidade da infecção pelo coronavírus, não ficamos preocupados apenas com o vírus, mas também com outras pessoas, pois, o outro acaba se tornando uma ameaça de infecção. O isolamento social perturbaa consciência e abala as relações interpessoais, a vida íntima e os planos futuros, constelando um aspecto sombrio coletivo. Parece até que cada qual possui a relação mais direta, íntima e competente com o seu interior e que sua psique é uma psique universal que serve a todos, considerando seu estado de espírito como válido em geral. Via de regra ficamos admirados, tristes ou decepcionados quando isto não funciona, isto é, quando descobrimos que o outro é realmente outro. As diferenças psíquicas não são consideradas simples curiosidade ou como algo encantador, mas como algo desagradável, difícil de suportar ou insuportável, como algo errado e condenável. O ser outro funciona como perturbação da ordem mundial, como erro que deve ser afastado o mais rápido possível ou como delito que é preciso punir. (JUNG, 2011a, p.146). Vivemos em um momento onde o medo da morte não só aparece nas perdas humanas absurdas que continuam a aumentar a cada dia, mas também parece estar roubando nossos sonhos, planos, projetos e até mesmo nosso cotidiano, nos deparamos com o isolamento social, o medo de pegar a doença, medo de alguém que amamos ficar doente, medo de perder o emprego, a renda, medo do futuro onde não se consegue mais fazer planos a curto, médio e longo prazo, porque a qualquer momento tudo pode mudar, tornando dessa forma o futuro incerto. “O homem sente temor profundo diante do desconhecido. (JUNG, 2013. §146) e tudo isso vem se tornando um hábito em nosso dia a dia, onde a ansiedade e a insegurança impera. A pandemia interrompeu projetos de vida, pessoais, sociais e econômicos, desconstruindo a sensação de controle. Precisamos lembrar que não somos o centro do mundo, mas parecemos rejeitar essa ideia porque a crise social e econômica mostra as condições, ou a falta de condições, para lidarmos com a incerteza. Tomam conta o medo, ansiedade, irritabilidade, estresse, tristeza, depressão e são acionados mecanismos de defesas como rejeições, projeções, negações, na esperança de uma solução, de um milagre que venha nos libertar dessa sombra coletiva do medo que nos domina. “Um ser humano possuído por sua sombra está postado em sua própria luz, caindo em suas próprias armadilhas. Sempre que possível, ele prefere exercer uma impressão desfavorável sobre os outros.” (Jung, 2014, §222.) Diante da pandemia, alguns indivíduos entram em uma espécie de negação da realidade, não tomando os cuidados para evitar o contágio, outros se sentem constantemente ameaçados com a pandemia entrando em uma espécie de neurose com excesso de cuidados e rituais, alimentando-se constantemente de notícias trágicas e espalhando através das redes sociais toda espécie informações, muitas vezes falsas, espalhando o medo e o horror a todos que o cercam, identificando-se desta forma, com a própria sombra inconsciente. “Muitas vezes é trágico ver como uma pessoa estraga de modo evidente a própria vida e a dos outros, e como é incapaz de perceber até que ponto essa tragédia parte dela e é alimentada progressivamente por ela mesma.” (JUNG, 1982, §18). Jung critica e aprofunda seu pensamento sobre a importância de ser responsável pelo próprio processo de conscientização diante dos acontecimentos coletivos, como acontece agora na pandemia. “é algo bem diferente vivenciar a transformação no grupo do que em si mesmo (…) O indivíduo na multidão torna-se facilmente uma vítima de sua sugestionabilidade (…) não se sente nenhuma responsabilidade, mas também nenhum medo.”(§.225) Quando esse tipo de movimento pessoal não acontece, contribuímos para o desenvolvimento da sombra coletiva. Nesta sombra, as pessoas esperam mudanças na sociedade, mas os indivíduos não estão dispostos a enfrentar suas próprias sombras. “Por isso as multidões humanas são sempre incubadoras de epidemias psíquicas.” (JUNG, 2014, §.227). O campo amplo e vasto do inconsciente, não alcançado pela crítica e pelo controle da consciência, acha-se aberto e desprotegido para receber todas as influências e infecções psíquicas possíveis. Como sempre acontece quando nos vemos numa situação de perigo, nós só podemos nos proteger das contaminações psíquicas quando ficamos sabendo o que nos está atacando, como, onde e quando isso se dá. (JUNG, 2011b. §.493). 6.1 Arquétipos e inconsciente coletivo Neste momento de pandemia, observa-se muito nos atendimentos clínicos o arquétipo do medo, tendo em vista que o arquétipo na sua formação é um conglomerado de energia, de emoção que foram gerados por cada ser humano ao vivenciar a mesma experiência. As estruturas do inconsciente coletivo são os arquétipos, que são como os modelos, “as conexões mitológicas, os motivos e imagens que podem nascer de novo, a qualquer momento e lugar sem tradição ou migração histórica”. (JUNG, 1991,p.417) Para Faria (2003), o inconsciente coletivo pode ser comparado a uma usina geradora de símbolos, a serviço da ampliação da consciência. O inconsciente junguiano não é apenas o lugar do reprimido, mas também uma fonte de possibilidades criativas. No momento atual, estamos alimentando e sendo alimentados pelo arquétipo do medo, medo de ficar doente, medo de morrer, medo de perder alguém que amamos, medo de perder a condição financeira, medo de essa realidade passar a ser o novo normal e muitos outros medos. Os conteúdos do inconsciente pessoal são principalmente os complexos de tonalidade emocional, que constituem a intimidade pessoal da vida anímica. Os conteúdos do inconsciente coletivo, por outro lado, são chamados arquétipos §4. O arquétipo representa essencialmente um conteúdo inconsciente, o qual se modifica através de sua conscientização percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual se manifesta. (JUNG, 2000, §6 ) Estamos frente a uma pandemia em que nos deparamos com a realidade de não termos nenhum controle sobre a doença e nem teremos perspectiva de como será nossa vida pós pandemia gerando grande ansiedade. Não se consegue planejar o futuro porque ele é incerto, não se tem perspectiva de como será o amanhã e isso paralisa, causa angústia, tristeza, depressão e ansiedade generalizada. Para Jung (2000), na medida em que uma neurose é um assunto particular e suas raízes estão fincadas exclusivamente em causas pessoais, os arquétipos não desempenham papel algum. Mas se a neurose é uma questão de incompatibilidade geral, ou causa um estado de certo modo prejudicial num número relativamente grande de indivíduos, somos obrigados a constatar a presença de arquétipos. Uma vez que na maioria dos casos as neuroses não são apenas fenômenos particulares, mas sim sociais, devemos admitir geralmente a presença de arquétipos: o tipo de arquétipo que corresponde à situação é reativado, e disso resultam as referidas forças motrizes ocultas nos arquétipos que, por serem explosivas, são tão perigosas e de consequências imprevisíveis. A pessoa sob o domínio de um arquétipo pode ser acometida de qualquer mal. Desta forma, conseguiremos melhor enfrentar o momento atual, enfrentar o medo da pandemia e tudo o que ela traz consigo, com o arquétipo da coragem, coragem para enfrentar essa situação caótica em que paralisam o mundo. Coragem para enfrentar o meu mundo psíquico e todos os medos que o assolam, coragem para motivar os que estão próximos e desta forma aos poucos criar uma atmosfera arquetípica mais positiva, mais esperançosa e assim superarmos este momento. 6.2 Ansiedade e Medo A ansiedade é o estado psicológico de medo causado pela antecipação de situações desagradáveis ou perigosas. A palavra "ansiedade" tem origem no latim anxietas, que significa “angústia", "ansiedade”, de anxius = “perturbado", "pouco à vontade”, de anguere = “apertar", "sufocar”. A ansiedade tem surgido no contexto clínico do momento como “medos”, medode morrer, medo de pegar o vírus e transmitir às pessoas que ama, no âmbito financeiro é o medo de perder a renda, medo de perder o emprego, se está desempregado tem medo de não conseguir um emprego e não ter como sustentar a família ou sustentar-se. Como no caso da paciente T.H 30 anos que trabalhava em uma ótica que encerrou suas atividades por não conseguir se manter durante o fechamento do comércio e isolamento social, a paciente perdeu o emprego, depende do benefício social seguro desemprego que está prestes a acabar e vive a angústia de procurar um emprego e não conseguir, nas sessões seus relatos constantes são o medo de não conseguir um emprego e não ter como se sustentar, a ansiedade em se deparar com um futuro incerto, medo de terminar sua faculdade de letras e não ser bem sucedida. O medo do destino é por demais compreensível: ele é imprevisível e ilimitado: encerra perigos desconhecidos. (JUNG, 1986. § 165). A ânsia do jovem pelo mundo e pela vida, o desejo de consumar altas esperanças e objetivos distantes constituem o impulso teleológico manifesto da vida que se converte em medo da vida, em resistências neuróticas, depressões e fobias, se fica preso ao passado, sob algum aspecto, ou recua diante de certos riscos sem os quais não se podem atingir as metas prefixadas. (JUNG, 2011.§ 798) Com a pandemia muitos indivíduos perderam renda, estão trabalhando em home office sem uma estrutura adequada e muitos não se adaptam a esse modelo de trabalho, pois, sentem falta do ambiente de trabalho, do contato com os colegas, contato com o público, gerando desta forma ansiedade, tristeza, depressão, angústia e isolamento social. Isso apareceu na clínica na fala do paciente M.L 20 anos, que devido a pandemia precisou trabalhar em home office e não se adaptou, não tinha condições apropriadas para o trabalho, sentia muita falta do contato com os colegas de trabalho e dessa forma foi se deprimindo, gerando muita ansiedade e levando-o a baixo desempenho em suas atividades e acabou perdendo o emprego. Hoje busca um novo trabalho, recebeu propostas tentadoras de trabalhar em home office e recusou por não se identificar com essa modalidade. Vive uma preocupação constante em conseguir um emprego, em ser bem sucedido e por outro lado sente-se inseguro e com medo quanto a planos para o futuro. Jung faz referência ao medo e a ansiedade no volume I, Estudos Psiquiátricos, escrito entre 1902 e 1905, onde diz: Talvez a maioria dos histéricos que frui plenamente de seus sentidos seja doente porque possui grande massa de recordações, dotadas de muita emoção e, por isso, profundamente arraigadas no inconsciente...Os doentes procuram excluir suas emoções da vida diária, por isso, de noite elas os atormentam com sonhos ruins e de dia os importunam com repentinos ataques de ansiedade precordial, inibem as forças de ação. (JUNG, 1994[1905], §176). O inconsciente apenas parece ser uma força destrutiva quando o ego assume uma unilateralidade exagerada. Consequentemente, pelo princípio da auto regulação psíquica realizada pelo self, o ego pode ser invadido por imagens e emoções amedrontadas e avassaladoras, cujo objetivo último, no entanto, é o de acordá-lo para uma transformação. (FARIA, 2003). 6.3 Luto e medo da morte Ao contrário de outros eventos que também causam mortes em grande escala (como desastres naturais e acidentes aéreos), onde os rituais funerários favorecem o processo de despedida e a elaboração de sentido para a perda, durante uma pandemia, esses rituais simbólicos foram proibidos devido ao risco de contaminação, visto que nestes momentos é normal que aconteçam aglomerações de pessoas, abraços e aperto de mão aumentando as chances de infecção. Essa mudança muitas vezes torna o processo de luto mais desafiador, principalmente quando a família acredita que o falecido não recebeu a cerimônia fúnebre que merecia, ou mesmo não tem oportunidade de de serem confortados e confortar as pessoas próximas, pois o apoio ajuda a lidar com a perda e seguir em frente. Conforme Guarnieri (2019), a perda de um ente querido provoca uma série de transformações que o sobrevivente não escolheu enfrentar, onde, observam-se com frequência episódios de raiva, irritação generalizada, amargura, tal como os comportamentos encontrados em situação de estresse. “É como se o enlutado estivesse reagindo a uma situação de perigo iminente que, na verdade, é o perigo da perda de si mesmo. O luto provoca uma reação em cadeia, nossa alma é afetada pela dor e se desorganiza com a perda. Um novo tempo se inicia e se torna inevitável que o passado se afirme quebrando todos os laços que o velho tempo construiu”. Nunca estamos tão convencidos desta marcha inexorável do que quando vemos uma vida humana chegar ao fim, e nunca a questão do sentido e do valor da vida se torna mais premente e mais dolorosa do que quando vemos o último alento abandonar um corpo que ainda há pouco vivia. (JUNG. 2011. § 796). Em um relato de sua experiência ao contrair o vírus, a paciente T.H conta que pegou COVID 19 e que foi uma experiência horrível, achava que iria morrer sem ver a mãe. Passou mal e foi para o hospital, ficou cinco horas na fila de espera deitada no chão do corredor com a cabeça apoiada em sua mochila, se sentindo como uma indigente, ninguém podia lhe acompanhar devido aos cuidados com o contágio e sem poder falar com ninguém pois seu celular estava sem bateria. Sentia-se sozinha e desesperada por se ver naquela situação e olhar em volta e ver muitas outras pessoas na mesma situação que ela e outras bem piores. Quando foi atendida, o médico passou a medicação para aplicá-la e ouviu o enfermeiro dizer que não tinha mais a medicação, que não teria aquela quantidade de soro para aplicar, que o hospital estava lotado e eles não tinham mais o que fazer, não tinham leitos, só um médico atendendo e uma fila de espera de cinquenta pessoas. Foi desesperador ouvir tudo aquilo e saber que ela estava lá passando mal, sem poder contar com as pessoas queridas, sentindo muito medo de morrer e não poder se despedir de ninguém, “era a visão do inferno, foi desesperador, achei que não sairia de lá viva” (SIC). A palavra “Inferno” tem sua origem na palavra latina INFERUS, que significava “lugares baixos”. Ter que deitar-se no chão do hospital porque não tinha lugar, se sentindo uma indigente, se vendo privada assim como as demais pessoas ali, de atender suas necessidades básicas, sem ter dignidade. A doença a colocou no chão, no chão frio de um hospital, no chão frio de se ver sozinha sem o conforto e afeto das pessoas que ama e o medo de não sair daquele lugar com vida, sem poder se despedir ou se comunicar com as pessoas queridas. A falta de medicamentos e de leitos, falta de profissionais da saúde para atender a demanda, a angústia de quem está ali precisando de ajuda, o desespero de quem está do lado de fora sem notícias de seu familiar e muitos outros fatores que se atravessam na vida do indivíduo nesse momento causando muita dor e sofrimento. A experiência relatada pela paciente retrata um pouco o sofrimento que passam milhões de indivíduos neste momento de calamidade. Temos, naturalmente, um repertório de conceitos apropriados a respeito da vida, que ocasionalmente ministramos aos outros, tais como: "Todo mundo um dia vai morrer", "ninguém é eterno" etc., mas quando estamos sozinhos e é noite, e a escuridão e o silêncio são tão densos, que não escutamos e não vemos senão os pensamentos que somam e subtraem os anos da vida, e a longa série daqueles fatos desagradáveis que impiedosamente nos mostram até onde os ponteiros do redigiu já chegaram, e a aproximação lenta e irresistível do muro de trevas que finalmente tragarão tudo o que eu amo, desejo, possuo, espero e procuro; então toda a nossa sabedoria de vidase esgueirara para um esconderijo impossível de descobrir, e o medo envolvera o insone como um cobertor sufocante. (JUNG. 2011 § 796). Além de causar muitas perdas em um curto período de tempo, a dificuldade de realizar cerimônias simbólicas de despedida entre moribundos e seus familiares e cerimônias fúnebres pode dificultar a vivência do luto. O luto é um processo natural do ser humano. Esta é uma forma de lidar com situações de perdas na vida que causam grandes sofrimento. Porém, embora essa pandemia seja um fenômeno natural da existência humana, provoca desequilíbrio na sociedade e na vida de cada indivíduo que precisa se adaptar às mudanças e enfrentar as perdas associadas a pandemia, como perda de entes queridos, perda do abraço e contato com as pessoas que ama, perda da liberdade de ir e vir, de viajar, de frequentar ambientes sociais, perda de recursos financeiros como desemprego, corte de salários, fechamento do comércio e encerramento de atividades comerciais, perda do lugar e da vida, todo indivíduo foi e está sendo afetado pela pandemia em diferentes graus de perdas. 7. CONCLUSÃO Ao final deste trabalho conclui-se que o papel do psicólogo é de extrema importância principalmente frente a pandemia da qual o mundo inteiro enfrenta e as consequências físicas, materiais e psicológicas que têm deixado na vida de cada indivíduo. Assim como os profissionais da saúde nesse momento cuidam do corpo do indivíduo, os profissionais da psicologia tem cuidado do psíquico, da mente/alma, sendo o suporte, o amparo é o espaço para que o indivíduo compartilhe sua dor, preocupações, anseios e medos. Neste espaço de acolhida se encontra consigo mesmo e encontra forças para continuar a jornada de herói frente a pandemia. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se desta forma, que este estágio proporcionou grande aprendizado na jornada acadêmica promovendo através da prática clínica grande conhecimento e bagagem a ser levada para a prática profissional. Os atendimentos clínicos durante o estágio possibilitaram uma reflexão que permitiu maior amplitude de conhecimento sobre os aspectos que envolvem o funcionamento psíquico de cada indivíduo. É oportuno considerar que a orientadora deste estágio, prof. Maria do Desterro foi de extrema importância, sempre acolhendo, orientando, compartilhando seu rico conhecimento na prática clínica que agregou muito em nosso aprendizado. Com esse estágio conseguimos visualizar a importância do atendimento clínico e o quanto essa prática profissional auxilia na vida dos indivíduos que buscam ajuda. 9. REFERÊNCIAS CREPALDI, Maria Aparecida et al . Terminalidade, morte e luto na pandemia de COVID-19: demandas psicológicas emergentes e implicações práticas. Estud. psicol. Campinas , v. 37, 2020. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 166X2020000100508&lng=en&nrm=iso>. acesso em 09 Maio 2021. FARIA, Durval L. de. O pai possível: Conflitos da Paternidade contemporânea. São Paulo: Educ, 2003 GUARNIERI, Maria Cristina Mariante. O Luto E O Silêncio Da Morte. IJEP. 2019. Disponível em: https://www.ijep.com.br/artigos/show/o-luto-e-o-silencio- da-morte. Acesso: 19/05/2021 JUNG, Carl Gustav. Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. O.C vol. 16/2, 7a ed. Petrópolis, RJ: Vozes.1971. JUNG, C.G. Aion: estudo sobre o simbolismo do si-mesmo. O.C. vol.9/2. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 1982. JUNG, Carl Gustav. A natureza da psique. 8 ed. Petrópolis: Editora Vozes,. O.C. vol. 8/2. 2011 JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica. O.C. vol. 18/1, 7a ed. Petrópolis, RJ: Vozes.1971. JUNG, Carl Gustav. Civilização em transição. O.C. vol.10/3. Petrópolis: Vozes, 2011A. JUNG, Carl Gustav. Estudos psiquiátricos. O.C. Vol.1. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. JUNG, Carl Gustav. O desenvolvimento da personalidade. 14 ed. Petrópolis: Editora Vozes, O.C. vol. 17. 2013. JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964. JUNG, Carl G. 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