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CONCEITOS - genômica estuda os processos de trasncrição das informações contidas nos genes e as interrelações com o meio ambiente. - nutrigenômica os efeitos de componentes bioativos da dieta sobre o genoma, o proteoma (somatório de todas as proteínas) e o metaboloma (a soma de todos os metabólicos). - nutrigenética estudo do mecanismo pelo qual componentes dietéticos bioativos interagem com o material genético e de como a variação genética afeta a interação entre esses componentes dietéticos bioativos, bem como sua implicação na saúde e na doença do indivíduo. - genômica nutricional avalia a influencia da dieta e estilo de vida, no funcionamento de órgãos e células. É um termo amplo, que abrange a nutrigenômica, nutrigenética e a epigenômica nutricional. - trancriptômica estuda e possibilita a compreensão do conjunto dos produtos desses genes pelas ferramentas de biologia molecular capazes de isolar e caracterizar o RNA dos organismos. O transcriptoma é o conjunto completo de genes expressos sob condições particulares, definido como o conjunto de moléculas de RNA que esteja presente e que poderáser aplicado a um determinado tipo celular. - proteômica ciência que tem como objetivo isolar e caracterizar as proteínas, bem como suas relações com fatores ambientais. Portanto, proteoma significa o conjunto completo de proteínas codificadas pelo genoma. - metabolômica conjunto de ferramentas que apresenta com o objetivo de isolar e caracterizar os metabólitos relacionados com a expressão gênica e tradução das diversas proteínas. - testes de nutrigenética testes preditivos que têm como base o conhecimento das variações genéticas relacionadas ao potencial risco ou proteção que o indivíduo apresenta em relação ao desenvolvimento de doenças e à instituição de intervenções nutricionais e de estilo de vida. - ética em genômica nutricional: testes de nutrigenética não podem ser utilizados para estabelecer qualquer diagnóstico. Devem ser aplicados apenas como preditores de risco ou de proteção em relação ao desenvolvimento de doenças. Esses testes não substituem, em qualquer hipótese, dados como a história familiar, os exames bioquímicos e parâmetros clínicos, assim como a presença de fatores de risco bem estabelecidos para determinada doença. A genômica nutricional visa estabelecer um conceito de “nutrição personalizada” ou mesmo “nutrição dirigida a um alvo”, que busca no futuro o desenvolvimento de terapias nutricionais individualizadas através do conhecimento molecular da interação gene-nutriente, por exemplo, o que é apropriado para um indivíduo pode ser inadequado ou possivelmente evitar conflitos entre os termos, escolhe-se como nomenclatura geral o termo nutrigenômica. EFEITO DA DIETA SOBRE A EXPRESSÃO DE GENES A dieta é um dos principais fatores ambientais a que os nossos genes são expostos por toda a vida. A nutrigenômica estuda como componentes da dieta alteram a expressão molecular da informação genética do indivíduo. O promotor genético principal é representado pelo SNP (single nucleotide polymorphism). Os SNP são o tipo mais comum de variação encontrada no genoma (cerca de 90% de todas as variações) e referem- se à troca de apenas um nucleotídeo em determinada posição no DNA, a qual pode ou não ser uma região codificadora. Quando a troca do nucleotídeo ocorre na região codificadora, ou seja, em um éxon, a proteína traduzida pode ou não apresentar alteração em sua estrutura e/ou função, em razão da degeneração do código genético. Quando a troca do nucleotídeo não altera o aminoácido, o SNP é conhecido como sinônimo ou silencioso, pois não modifica a proteína traduzida (por exemplo, GUC GUA; ambos codificam uma valina). Caso a variação dê origem a um códon que resultará na tradução de um aminoácido diferente, o SNP é conhecido como não sinônimo ou missense (por exemplo, UUA UCA, onde o primeiro codifica leucina e o segundo serina). Se a troca de nucleotídeo resultar em um códon de terminação da tradução, ou stop códon prematuro, dará origem a um SNP nonsense (por exemplo, UAU UAG, em que o primeiro codifica uma tirosina e o segundo é um códon de terminação). Diferenças no SNP acarretam variações no aparecimento de doenças. Através da análise da expressão dos genes, SNP e resultados bioquímicos e fisiológicos, é possível estudar as respostas de indivíduos e grupos à dieta. Variações no SNP podem ocasionar alterações na expressão dos genes e modificar a estrutura e função de uma proteína. Os genes podem apresentar um ou mais SNP associados a padrões fenotípicos de doenças associadas à nutrição, como hiperhomocisteinemia, hipo ou hipercolesterolemia, intolerância à lactose etc. EXPRESSÃO DE GENES A expressão gênica é influenciada pela quantidade e tipo de nutriente ingerido. Assim, o conhecimento da interação nutriente versus gene é fundamental, pois a ativação ou NUTRIGENÉTICA E NUTRIGENÔMICA Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br silenciamento de genes em resposta a fatores da dieta pode afetar o equilíbrio entre saúde e doença. As doenças crônicas geralmente são de natureza multifatorial e nem todos os fatores etiológicos envolvidos são bem conhecidos. Alterações genéticas (SNP, haplótipos), fatores ambientais, comportamentais e nível sócio econômico são alguns fatores que influenciam a fisiologia do corpo humano ao longo do tempo, ocasionando doença de gravidade variável. Dois de cada três SNP envolvem a substituição de CITOSINA (C) por TIMINA (T). Os SNP ocorrem na região codificadora (genes) do genoma e na região não codificadora. A transcrição completa do DNA para RNA mensageiro é conhecida como transcriptoma e o resultado pode ser percebido através da síntese de proteínas (proteoma). Alterações na sequencia de aminoácidos das proteínas modificam a estrutura celular e influenciam processos biológicos que determinam o fenótipo. O polimorfismo de genes foi identificado como instrumento de avaliação para determinação do risco de doenças. NUTRIGENÔMICA, COMPOSTOS FARMACÊUTICOS E NUTRACÊUTICOS Compostos farmacêuticos e nutracêuticos são metabolizados in vivo pela ação de enzimas. A atividade das enzimas do Citocromo P450 (CYP) é alterada pela dieta e pelo genótipo, e isto é relevante para o risco de doenças, resposta ao tratamento, bem como para determinar dose de drogas no contexto clínico, por exemplo, dietas ricas em CHO ou em lipídios podem aumentar a atividade da CYP 2E1 e da CYP 4A, bem como o suco de framboesa pode inativa irreversivelmente o CYP 3A4 intestinal. O SNP determina os níveis satisfatórios de nutrientes ou compostos fitoquímicos para regular a síntese de proteínas. A nutrigenômica é uma alternativa às abordagens farmacêuticas que modulam a expressão de genes que estão relacionados com desenvolvimento de doenças e com o envelhecimento. INTERAÇÃO ENTRE NUTRIENTES E COMPOSTOS BIOATIVOS COM OS FATORES DE TRANSCRIÇÃO E IMPLICAÇÕES NO FENÓTIPO As associações entre genótipo, dieta e fenótipo não são homogêneas e são influenciadas por variáveis como sexo, etnia, uso de drogas e estilo de vida. Compreender essas interações possibilita determinar requerimentos dietéticos individualizados e identificar a resposta do organismo em relação ao consumo de nutrientes. A interação entre gene e nutriente permite a modulação dos efeitos dos componentes dietéticos em um fenótipo específico, associado a um polimorfismo genético. Sob estas circunstâncias, e em alguns indivíduos, os aspectos da dieta, relacionados à genômica nutricional, exercem papel notável na prevenção, na incidência, na progressão e na gravidade de doenças crônicas. Nutrientes ou compostos bioativos dos alimentos podem alterar a expressão gênica, principalmente ao se ligar aos receptores dos fatores de transcrição (FT), alterando a concentraçãode substratos ou intermediários em vias metabólicas primárias ou secundárias, ou ainda modificando, positiva ou negativamente, as vias de sinalização dentro da célula. Os FT atuam como sensores nutricionais e se ligam a sequências específicas de nucleotídeos na região promotira de genes, podendo ter sua afinidade aterada de modo a facilitar ou bloquear a sua atividade. A sequência de nucleotídeos é específca para o receptor nuclear e cada nutriente induzirá a característica de um conjunto de genes. Os nutrientes podem atuar nos fatores de transcrição diretamente ou indiretamente, através da interação com recetores de membranas ou quinases, que são enzimas que fosforilam os FT e atuam tanto no citoplasma das células como nas membranas plasmáticas. INFLAMAÇÃO CRÔNICA Os processos inflamatórios promovem a liberação de citocinas e quimiocinas pró-inflamatórias, fatores de crescimento e angiogênicos, formação de radicais livres de oxigênio (ROS) e de nitrogênio (RNS), que constituem parte importante da resposta do sistema imune. A inflamação crônica é definida como “resposta inflamatória prolongada, devido à persistência do estímulo causador da inflamação nos tecidos”. Geralmente, as inflamações crônicas são atribuídas a agentes infecciosos que são resistentes ao sistema imune do hospedeiro. ROS e RNS podem causar danos no DNA, lípides ou proteínas e intensificar o processo inflamatório, através da ativação das quinases. O fator nuclear kappa- beta (NFkB) e AP-1 são fatores de transcrição, que regulam a expressão de genes e codificam proteínas essenciais para a resposta ao estresse, comunicação intercelular, controle do ciclo celular e apoptose. A inflamação crônica, como as variantes no gene na interleucina 1 (IL-1) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) pode ser um mecanismo subjacente comum a várias doenças crônicas não transmissíveis, como a doença de Alzheimer, doenças cardiovasculares, diabetes, artrite reumatoide e câncer. O excesso de radicais livres pode danificar o material genético e provocar mutações primárias que contribuem para o desenvolvimento de neoplasias. Além disso, a liberação de citocinas pró-inflamatórias por macrófagos e fatores de crescimento podem estimular o crescimento de celular e promover avanços da carcinogênese. O NFkB age no microambiente tumoral, estimula a sobrevivência de células epiteliais malignas e promove o crescimento e vascularização do tumor. Polimorfismos associados à resposta imune tem efeito sobre a susceptibilidade a doenças, porém os genes envolvidos na sinalização celular, apoptose e a atividade antioxidante não têm efeitos definidos. Polimorfismos em CARD15 aumentam a susceptibilidade à doença de Crohn e estão relacionados ao desenvolvimento de câncer colorretal. Os genes do antígeno leucocitário humano (HLA) regulam a resposta imune e estão associados às doenças inflamatórias. Quanto ao metabolismo de lipídios e coronariopatias, o gene Apo-A1 desempenha papel importante, onde a transição da GUANINA (A) para ADENINA (A) associa-se a níveis elevados de colesterol HDL-C, porém em outros estudos, este aumento não foi observado. A participação de ROS na inflamação crônica e na destruição tecidual sugere que genes e/ou nutrientes envolvidos na regulação da resposta antioxidante tem participação na evolução da inflamação. A homeostase redox é obtida pelo equilíbrio entre geração e remoção redox através de mecanismos que inclui antioxidante celular e defesa antioxidante intracelular. A resposta antioxidante é regulada por uma classe de genes citoprotetores, que são responsáveis pela atividade das enzimas glutationa-S- transferase e γ-glutamilcisteína sintase, que são enzimas destoxificantes de fase II. Outro exemplo de modulação é através da ativação do fator nuclear eritroide relacionaod ao fator 2 (Nrf2) por compostos alimentares e estresse oxidativo. O Nfr2 é essencial para a indução coordanda de genes que codificam enzimas de resposta ao estresse oxidativo ou citoprotetoras e proteínas relacionadas , como a superóxido dismutase, a glutationa-S-transferase, a glutationa peroxidase, a heme- oxigenase 1, catalase, tioredoxina e glutamato-cisteína- ligase. Quando as células estão em repouso, o Nrf2 localiza-se no citoplasma, formando um complexo inativo com a proteína Keap-1 repressora. Após a ingestão de alimentos contendo sulforano (brócolis, couve flor, couve de Bruxelas, rúcula), curcumina, alicina (alho e cebola), resveratrol, licopeno ou em condições de estresse oxidativo ou eletrofílico, o FT do Nrf2 é fosforilado e transloca para o núcleo celular. Após a entrada do Nfr2 no núcleo celular tem-se o estímulo a codificação de enzimas antioxidantes. O aumento da expressão de Nrf2 pode modular a expressão do NF-kB, um vez que estes FT competem entre si para a ligação do Nrf2 ao seu coativador transcricional, a proteína ligante do elemento de resposta ao AMPc (a proteína CREB). Trabalhos em nutrigenômica têm observado que uma baixa ingestão de ácidos graxos W3/W6 na dieta está relacionada com o desenvolvimento da esteatose hepática. Por outro lado, a suplementação com ácidos graxos W3 inibiu o acúmulo de gordura sintetizada a partir de compostos não lipídicos no tecido hepático, além de promover a maior oxidação de gordura no parênquima hepático, via ativação do PPAR-α e SREBP-1c. Outro composto que regula a expressão gênica relacionada à lipogênese e à secreção de lipoproteínas no fígado são as proantocianidinas, presentes em sementes de uva, mirtilo e outros frutos roxos. OUTROS GENES COM IMPACTO SOBRE AS NECESSIDADES DE NUTRIENTES Polimorfismos em genes que controlam a absorção de nutrientes atuam no desenvolvimento do processo inflamatório. Indivíduos portadores de SNP no códon 593 da enzima antioxidante glutationa-peroxidase-1 humana (hGPX1) possuem atividade diminuída da glutationa peroxidase (GPx), aumentando a susceptibilidade a câncer de mama, pulmão e próstata, entretanto, a atividade basal desta enzima não é influenciada pelo aumento do selênio da dieta. Logo, a suplementação de selênio não melhora essa condição e não há melhora comprovada com suplementação de selênio nos casos de risco de câncer de próstata. MODULAÇÃO DIETÉTICA NA INFLAMAÇÃO CRÔNICA Nutrientes podem modular processos que levam à inflamação crônica e ao aumento da suscetibilidade a doenças, por exemplo: 1.Aminoácidos: arginina e glutamina podem ser depletados durante resposta e imune e tornarem-se “condicionalmente essenciais”. Aminoácidos sulfurados atuam como substratos para proteínas de fase aguda e síntese de Ig, logo, níveis baixos podem ter exercer influência pró-inflamatória. 2.Antioxidantes: danos ao DNA e aos tecidos estão associados à inflamação crônica devido à formação de ROS e/ou RNS, bem como pelo malonaldeído a partir da peroxidação lipídica. Indivíduos com Doença de Crohn apresentam altos níveis de danos oxidativos em comparação à população normal. A suplementação de antioxidantes dietéticos é uma estratégia terapêutica importante em doenças pulmonares inflamatórias crônicas como asma e DPOC. 3.Micronutrientes: diversas vitaminas e alguns sais minerais são antioxidantes naturais derivados de alimentos vegetais, como por exemplo, vitamina C, vitamina E e carotenóides. Durante a resposta imune os antioxidantes são consumidos no transporte e na proliferação celular. Bons níveis de selênio são fundamentais para a produção eficiente de anticorpos por células B, bem como para quimioprofilaxia e atividade de neutrófilos. A suplementação com selênio melhora a resposta das células T pela suprarrenal do receptor IL-2 e aumento da síntese de anticorpos. O zinco participa da transdução de sinais para ativação de células T e à interação com células B. Embora o cobre seja essencial para a função imune ótima, pouco se sabe sobre o mecanismo subjacente.A deficiência de cobre provoca diminuição da proliferação de células T, possivelmente pela supressão de IL-2 e redução do número de neutrófilos circulantes. Deficiência de ferro causa redução da função de neutrófilos, depressão do número de células T com atrofia do timo, resposta proliferativa de células T defeituosa e alteração da produção de IL-2 pelos linfócitos. Evidências demonstram que micronutrientes são importantes na síntese e no reparo do DNA, na prevenção de danos oxidativos ao DNA e na metilação de DNA, que variam em diferentes tecidos, indivíduos e condições mórbidas. Os micronutrientes estão envolvidos na manutenção geral da estabilidade do genoma. Micronutriente Papel na estabilidade genética Consequências da deficiência Vitamina C e E Prevenção da oxidação do DNA e de lipídios ↑ DNA SB, CA, lípides peróxidos aduzidos ao DNA Folato, vitamina B2, B6 e B12 Manutenção da metilação do DNA; síntese de TMP a partir de deficiência de UMP reciclagem do folato Incorporação incorreta de uracil ao DNA, ↑CA e hipometilação de DNA Niacina Necessária como substrato para a poli (ADP-ribose) polimerase que está envolvida na clivagem e na remontagem do DNA e na manutenção do comprimento do telômero ↑ entalhes não reparados do DNA, CA e mutações Zinco Necessário como cofator para Cu/Zn SOD, endonuclease IV, função da p53 em proteínas Zn como PARP ↑ oxidação de DNA, rupturas do DNA Ferro Necessário como componente da ribonucleotídeo redutase e dos citocromos mitocondriais ↓ reparo do DNA, ↑ danos oxidativos ao DNA mitocondrial Magnésio Necessário como componente da SOD mitocondrial Susceptibilidade aumentada a danos do DNA Manganês Necessário como componente da MnSOD mitocondrial Susceptibilidade aumentada a danos do DNA Selênio Componente da GPx e outras selenoproteínas que protegem em relação ao estresse oxidativo Susceptibilidade aumentada a danos do DNA FITOQUÍMICOS Um grande número de fitoquímicos, especialmente polifenóis como as catequinas e antocianinas demonstraram agir in vitro como antioxidantes potentes, porém, em seres humanos, não está claro seu potencial antioxidante. Os antioxidantes, além de remover radicais livres, apresentam influência na transdução de sinais. NUTRIGENÔMICA E CÂNCER Epigenética é o estudo das alterações passíveis de transmissão hereditária na expressão de genes que ocorrem sem alterações na sequência do DNA. Fatores epigenéticos são componentes importantes para o desenvolvimento e proliferação celular normais. Anormalidades nesses mecanismos são fatores promotores de doenças. Os fatores dietéticos são importantes para a provisão e regulação do suprimento e regulação de grupos metil para a formação da S-adenolimetionina (SAM ou SAMe). Compostos bioativos da dieta podem modificar a utilização do grupo metil, alterando a atividade da DNA metiltransferase. A desmetilação do DNA, pode alterar a regulação dos genes que influenciam absorção, metabolismo ou o local de ação de componentes bioativos. Compostos fitoquímicos com potencial anti-inflamatórios podem ter papel importante na quimioprevenção. Muitas pesquisas têm focalizado vários polifenois vegetais, incluindo epigalocatequina 3 galato (EGCG), curcumina, 6- gingerol e resveratrol. Esses compostos demonstraram inibir as vias de transdução de sinais na cascata de quinases, incluindo as vias da proteína quinase C (PKC), I-kB quinase (IKK), quinase de proteínas ativas de mitógenos (MAPK) e fosfoinositol-3-quinase (PI3K), provocando ativação diminuída de fatores de transcrição pró-inflamatórios como NFkB, AP-1 e β-catequina. A inibição dessas vias reduz a formação de enzimas pró-inflamatórias, incluindo ciclooxigenase-2 (COX-2) e óxido sintase induzível (iNOS) e de mediadores pró-inflamatórios como TNF-α, IL-8, PGE2 e óxido nítrico. Efeitos semelhantes sobre a sinalização celular e a inflamação foram observados nas antocianinas, e em uma variedade de polifenóis vegetais comuns em alimentos de cores vivas, como batata doce. NUTRIGENÔMICA: OBESIDADE E INFLAMAÇÃO Dentre os mecanismos moleculares envolvidos no desencadeamento da resposta inflamatória induzida pela obesidade, destaca-se a via de sinalização do fator de transcrição NF-kB, a qual aumenta a expressão de diversos genes que codificam proteínas envolvidas na resposta inflamatória e, consequentemente, está ligada à patogênese de diferentes doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). A estimulação da via de sinalização do NF-kB pode ocorrer pela ligação de um ligante em um receptor de superfície celular, como o receptor do TNF-α e o receptor do TLR-4, sendo que este último pode ser ativado tanto por lipopolissacarídeos (LPS) quanto por ácidos graxos saturados. O aumento do consumo de ácidos graxos saturados na dieta favorece a ativação da resposta inflamatória e, consequentemente, o aumento do risco para DCNT. A ativação da via de sinalização do NF-kB pelo TNF-α envolve a participação da família das proteínas quinases ativadas por mitígenos (MAPK), que atuam em reguladores upstream da via de sinalização do NF-kB. O aumento da atividade da MAPK e seu envolvimento na regulação da síntese de mediadores inflamatórios, tanto em nível de transcrição quanto de tradução, tornam essas enzimas alvos moleculares relevantes no contexto da nutrigenômica, da inflamação e da síndrome metabólica. NUTRIGENÔMICA: ÁCIDOS GRAXOS E INFLAMAÇÃO No tocante ao efeito metabólico dos ácidos graxos saturados no tecido adiposo branco, verifica-se que o excesso de palmitato aumenta a inflamação e a apoptose, por meio do estresse oxidativo, do estresse do retículo endoplasmático, da síntese de ceramidas e da ativação da via de sinalização da proteína quinase C (PKC). Em adipócitos, o palmitato aumenta a fosforilação da JNK, ao mesmo tempo em que ativa a PKC, o NF-kB e a via de sinalização da MAPK, o que induz a síntese de citocinas pró-inflamatórias em adipócitos. Ácidos graxos saturados podem causar diretamente inflamação e resistência insulínica no tecido muscular, por exemplo, o acúmulo de lipídios no tecido muscular causa resistência periférica à insulina mediada pelo palmitato, através da via de sinalização da PKC. Adicionalmente o palmitato aumenta a expressão e a secreção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6 e TNF-α) e prejudica a via de sinalização da insulina a partir da ativação da via do NF-kB. Além disso, ácidos graxos saturados induzem a resistência insulínica por sua ação antagônica sobre o coativador do receptor ativado por proliferadores de peroxissomos gama (PPAR-γ) o qual promove a expressão de genes mitocondriais envolvidos com a fosforilação oxidativa e com a captação de glicose mediada pela insulina. Fique atento: PPAR-α: sua ativação está relacionada à redução da concentração plasmática de triglcierídeos; PPAR-γ: sua ativação está relacionada ao metabolismo da glicose e, nesse sentido, à melhora da sensibilidade à insulina. NUTRIGENÔMICA: RESVERATROL E INFLAMAÇÃO O resveratrol reduz in vitro a expressão de citocinas pró- inflamatórias em células pulmonares estimuladas com LPS e diminui a ativação dos fatores de transcrição NF-kB e AP- 1, além disso, reduz a expressão dos genes que codificam as enzimas COX-2 e iNOS e das moléculas de adesão de superfície celular, como a ICAM-1, a molécula-1 de adesão de leucócitos endotelial (ELAM-1) e a VCAM-1. Uma vez que os genes que codificam essas proteínas são regulados pelo fator de transcrição NF-kB, é possível que esse efeito anti-inflamatório do resveratrol seja decorrente de sua supracitada ação sobre a via de sinalização desse fator de transcrição. FUNDAMENTOS DE EPIGENÔMICA NUTRICIONAL Os padrões de alimentação, por exemplo, uma dieta com alto teor de lipídios, podem influenciar o estado de metilação do DNA. Foi observado, em modelo animal, que ratos tratados com ração normocalórica e hiperlipídica(60% do VCT) apresentaram metilação da região promotora do gene POMC, especificamente no hipotálamo. A proteína codifcada por esse gene é essencial para o funcionamento adequado da via de sinalização antiobesidade hipotalâmica dependente da leptina. Nutrientes específicos são necessários para impulsionar as vias metabólicas que resultam em metilação. Por exemplo, o estado nutricional do indivíduo em relação ao ácido fólico, à vitamina B12, à metionina, à colina e à betaína pode influenciar o padrão de metilação do DNA. Isso ocorre especialmente porque esses nutrientes têm papel crítico na disponibilidade de grupamentos CH3 e regulam coletivamente o metabolismo de carbono (vias de transferência de grupamentos CH3 entre moléculas biológicas). Além dos nutrientes, os Compostos Bioativos de Alimentos (CBA) também são capazes de modular o padrão de metilação do DNA. Em culturas de células de câncer, a apigenina (presente no aipo e na salsa) e a luteolina (encontrada na couve-flor, cebola e nos brócolis) reduziram a atividade de enzimas DNA metil transferases (DNMT), com consequente aumento da apoptose e redução da proliferação celular. Já a quercetina parece exercer ativdiades anticarcinogênicas em culturas celulares de câncer de próstata. EFEITOS MODULADORES DE CONDIMENTOS Cúrcuma os efeitos antimutagênicos foram demonstrados em relação aos carcinógenos em modelo animal. A cúrcuma ativa enzimas xenobióticas teciduais que são protetoras em relação ao metabolismo de carcinógenos. A administração de 1,5g/dia em humanos fumantes por um mês inibiu a formação de agentes mutagênicos endógenos derivados do tabaco, seu metabolismo e excreção pela urina, mas a resposta mutagênica variou entre indivíduos. Alliums legumes da família Allium tem efeitos benéficos para a saúde pela indução da expressão de genes responsáveis pela síntese de enzimas desintoxicantes como glutationa-S-transferase (GST), que protege contra danos oxidativos ao DNA em consequência da exposição a compostos xenobióticos endógenos e exógenos. A cebola e o alho são os legumes mais comumente consumidos que contém compostos sulfurados como dialilsufeto, dialidisulfeto, alicina e ajoena. Gengibre na Medicina Tradicional o gengibre, na forma de pó seco, cru e em suco, tem sido prescrito para melhorar condições como transtornos reumáticos, inflamações e desconfortos gastrointestinais. Danos citogenéticos aos tecidos são usados como biomarcadores para a intervenção. Linfócitos sanguíneos humanos de homens fumantes, homens não fumantes e mulheres não fumantes foram expostos ao óxido transtilbene na presença e na ausência de gengibre. Os danos citogenéticos de micronúcleos foram reduzidos devido à presença de gengibre. Observou-se que o gengibre combate danos ao DNA em linfócitos periféricos humanos. Ratos expostos a benzo (a) pireno alimentados com gengibre tiveram excreção diminuída de mutagênicos urinários. O consumo de gengibre estimulou a produção de enzimas desintoxicantes e antioxidantes, sugerindo papel modulador na sua expressão. POSSIBILIDADES A CERCA DO CONHECIMENTO DO PERFIL NUTRIGENÉTICO Obter orientações mais próximas das necessidades individuais do que as recomendações aplicáveis à população em geral. Reduzir o risco de desenvolver algumas doenças como obesidade, hipertensão, dislipidemias, câncer de cólon e diabetes, a partir de intervenção precoce no estilo de vida. Prediz e prevenir carências nutricionais. Potencializar os resultados desejados para ganho de peso, emagrecimento ou desempenho esportivo, a partir da identificação de variantes metabólicas sobre gasto calórico, regulação do apetite, comportamento alimentar e utilização dos estoques de energia. Identificar risco de ganho de peso excessivo na gestação e retenção de peso pós-parto, além de auxiliar na definição de dose para suplementação de ácido fólico no período pré- concepcional e no primeiro trimestre gestacional. Identificar capacidade antioxidante e de desintoxicação, assim como resposta ao consumo de sódio e cafeína. Identificar vulnerabilidade e intolerâncias alimentares, a exemplo do glúten e da lactose. Obter informações acerca da eficácia e segurança na suplementação e medicação. Conhecer as tendências genéticas que possam motivar mudanças positivas no cotidiano, com o intuito de promover melhorias na qualidade de vida do indivíduo. Parece que o aconselhamento genético baseado no DNA resulta em maiores mudanças na ingestão de alguns componentes da dieta, especialmente o sódio, quando comparado ao aconselhamento direcionado à população geral no longo prazo. Dentre os testes disponíveis citam-se: 1.Perfil detox analisa a expressão de genes associados à reposta inflamatória exacerbada e ao desequilíbrio oxidativo que se relacionam com envelhecimento e dano celular. Possibilita avaliar alterações genéticas implicadas no processo de destoxificação. 2.Perfil de composição corporal destina-se a aperfeiçoar o controle ou redução de peso por meio da determinação das variantes genéticas que predispõem à obesidade e sua relação com fatores nutricionais e gasto energético. 3.Perfil nutrigenético é o teste mais completo em mercado brasileiro, consiste no mapeamento de 109 genes associados à alimentação e ao risco de DCNT: obesidade, DM2, HAS, metabolismo lipídico, intolerâncias alimentares (glúten e lactose), metabolismo de cafeína e vitaminas (A, C, D, E, B9 e B12), modulação de resposta inflamatória, estresse oxidativo e desintoxicação.