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Yslane Costa - Medicina AVC HEMORRÁGICO CONCEITO A hemorragia pode interferir com a função cerebral por meio de vários mecanismos, incluindo a destruição ou a compressão do tecido cerebral e a compressão de estruturas vasculares, levando a isquemia secundária e edema. A hemorragia intracraniana é classificada por sua localização como intracerebral, subaracnóidea, subdural ou epidural; todas essas hemorragias – exceto a subdural – costumam ser causadas por sangramento arterial. -Dentre as doenças cerebrovasculares, o AVC hemorrágico é causado pela ruptura espontânea (não traumática) de um vaso, com extravasamento de sangue para o interior do cérebro (hemorragia intraparenquimatosa), para o sistema ventricular (hemorragia intraventricular) e/ou espaço subaracnóideo (hemorragia subaracnóide). c Hemorragia intracerebral (HIC) A hemorragia intracerebral causa sintomas ao comprimir tecido adjacente (podendo, assim, produzir isquemia local) e, em menor extensão, ao destruir células. Diferente do AVC isquêmico, a hemorragia intracerebral tende a causar cefaleia mais grave e depressão da consciência, assim como déficits neurológicos que não correspondem à distribuição de um vaso sanguíneo isolado. A hemorragia intracerebral (HIC) é definida como o sangramento espontâneo agudo no parênquima encefálico. A HIC primária é causada por degeneração microscópica de pequenas artérias encefálicas, decorrente de hipertensão crônica e mal controlada (80% dos casos) ou angiopatia amiloide (20% dos casos). A HIC secundária é o sangramento intraparenquimatoso decorrente de lesão vascular diagnosticável ou coagulopatia. c Hemorragia subaracnóidea A hemorragia subaracnóidea leva à disfunção cerebral pela elevação da pressão intracraniana, bem como exercendo efeitos tóxicos (ainda pouco conhecidos) sobre o sangue subaracnóidea ou o tecido cerebral. Além disso, a hemorragia subaracnóidea pode ser complicada por vasoespasmo (levando à isquemia), novo sangramento, extensão do sangue para dentro do tecido cerebral (produzindo um hematoma intracerebral), ou hidrocefalia. Essa hemorragia geralmente se apresenta com dor de cabeça, e não tanto com déficits neurológicos focais. c Hemorragia subdural ou epidural A hemorragia subdural ou epidural produz uma lesão de massa, que pode comprimir o cérebro subjacente. Essas hemorragias costumam ser de origem traumática e geralmente se apresentam com cefaleia ou alteração da consciência. Como seu reconhecimento é mais crítico no cenário do coma, as hemorragias subdural e epidural são discutidas no Capítulo 3 O hematoma intraparenquimatoso cerebral (HIP) espontâneo é o segundo subtipo mais frequente de acidente vascular cerebral (AVC), com incidência anual de 16 a 33 casos por 100.000 por ano. Ele corresponde a cerca de 10% a 30% dos AVCs, costuma ser mais frequente em asiáticos e afrodescendentes e apresenta altas taxas de morbidade e mortalidade hospitalar, em torno de 30% a 52%. Yslane Costa - Medicina Hemorragia intracerebral espontânea e hemorragia subaracnóidea são as formas mais comuns de AVC hemorrágico. EPIDEMIOLOGIA HEMORRAGIA INTRACEREBRAL A hemorragia intracerebral é responsável por 10 a 15% dos AVCs, sendo que a hipertensão é a causa subjacente mais frequente de hemorragia intracerebral não traumática. A incidência é na população negra, maior nos segmentos sociais menos favorecidos, onde o acesso às medidas de prevenção como tratamento da HAS é deficiente, maior nos homens em relação as mulheres. Quanto maior a idade, maior a incidência, especialmente acima dos 55 anos. A incidência geral estimada anual de HIC é de 12 a 15 casos por 100.000. A HIC, o tipo menos tratável e mais devastador de macidente vascular encefálico (AVE), é uma importante causa de mortalidade, morbidade e incapacidade nos EUA e no mundo, responsável por 10 a 30% das internações hospitalares por AVE. Após a HIC, muitos pacientes necessitam de atenção à saúde prolongada, e apenas 20% recuperam a independência funcional. Cerca de 40 a 80% dos pacientes vítimas de HIC morrem no decorrer dos primeiros 30 dias, e metade das mortes ocorre nas primeiras 48 h. HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA A hemorragia subaracnóidea (HSA) é responsável por 5% dos acidentes vasculares encefálicos (AVE); afeta quase 30.000 pessoas por ano nos EUA, com incidência anual de 1 por 10.000. Os aneurismas saculares na base do encéfalo são a causa de 80% dos casos de HSA. É mais frequente entre 40 e 60 anos de idade, e as mulheres são afetadas com maior frequência que os homens. A HSA por ruptura de um aneurisma intracraniano é um evento devastador; cerca de 12% dos pacientes morrem antes do atendimento médico, e outros 20% morrem depois da admissão hospitalar. Cerca de metade dos dois terços que sobrevivem apresenta incapacidade permanente, sobretudo por déficits neurocognitivos e depressão. Os avanços em neurocirurgia e terapia intensiva, inclusive a ênfase no uso precoce de clipes no tratamento de aneurismas e de tratamento agressivo do vasospasmo, levaram à melhora da sobrevida nas três últimas décadas, com redução da letalidade geral de cerca de 50% para 20% em centros de grande volume. FISIOPATALOGIA -Autorregulação cerebral A autorregulação do fluxo sanguíneo cerebral, que é obtida por alterações no calibre das pequenas artérias cerebrais de resistência, mantém o fluxo sanguíneo cerebral constante, enquanto a pressão arterial sistêmica se eleva e diminui. A gama das pressões sanguíneas autorreguladas é variável, mas normalmente é ampla. Em indivíduos normotensos, a pressão arterial média mais baixa, na qual a Yslane Costa - Medicina autorregulação é eficaz, é de cerca de 60 mmHg. Abaixo desse nível, as alterações do calibre das artérias cerebrais não podem compensar a redução da pressão de perfusão. Portanto, o fluxo sanguíneo cerebral diminui, causando confusão, vertigens e escurecimento visual. Se a pressão arterial média cair para menos de 35 a 40 mmHg, ocorre sonolência e perda da consciência. Por outro lado, com pressões sanguíneas acima do limite superior da autorregulação (150 a 200 mmHg), o fluxo sanguíneo cerebral aumenta, o que pode produzir encefalopatia hipertensiva. Em indivíduos cronicamente hipertensos, a curva de autorregulação está deslocada; isso pode ser decorrente de danos às pequenas paredes arteriais. O limite inferior da variação autorreguladora aumenta; assim, o fluxo sanguíneo cerebral diminui quando a pressão arterial média cai para menos do que cerca de 120 mmHg. Isto torna a redução acentuada da pressão arterial – em especial para níveis hipotensos – potencialmente perigosa. -Hipertensão crônica A hipertensão crônica parece promover alterações estruturais nas paredes das pequenas artérias cerebrais penetrantes e nas arteríolas, consistindo em necrose fibrinoide (algumas vezes denominada lipo-hialinose) e aneurismas miliares (Charcot- Bouchard). Embora a relação exata entre elas e com a hemorragia hipertensiva ainda seja debatida, a necrose fibrinoide pode enfraquecer as paredes vasculares, predispondo- as à formação de aneurismas e sua ruptura. -Hipertensão aguda O papel da hipertensão aguda – em oposição à hipertensão crônica – na patogênese da hemorragia intracerebral é incerto. A maioria dos pacientes com hemorragia intracerebral está hipertensa após o evento, mas isso pode ser explicado pela hipertensão de base, pela resposta vasopressora ao aumento da pressão intracraniana (reflexo de Cushing), ou por ambas. Além disso, grandes hemorragias intracerebrais são uma característica incomum da encefalopatia hipertensiva aguda. No entanto, o fato de que alguns pacientes com hemorragia intracerebral espontânea não têm história de hipertensão e não apresentam sinais de doença hipertensiva de órgão final, sugere que episódios hipertensivos mais agudos podem estar envolvidos,como a ocorrência de hemorragia cerebral em pacientes jovens após abuso de anfetamina ou cocaína. -Efeitos de hematoma Hemorragias hipertensivas causam compressão em vez de destruição do tecido cerebral adjacente, resultando em redução da perfusão e do metabolismo da região ao redor do hematoma. Produtos da degradação do sangue extravasado podem causar inflamação e lesão secundária. O edema ao redor do hematoma é máximo cerca de três dias após uma hemorragia intracerebral não traumática. A extensão do edema está relacionada com o tamanho do hematoma, que é um previsor de mau prognóstico, mas o edema em si não é um fator prognóstico independente. O aumento da pressão intracraniana resulta em tamponamento do vaso rompido, mas também pode levar a herniação cerebral e óbito. -Patologia A maioria das hemorragias hipertensivas se origina em áreas de predileção que correspondem a ramos arteriais penetrantes longos, juntamente com necrose fibrinoide; aneurismas de Charcot-Bouchard são encontrados na necropsia. Esses ramos incluem os ramos caudado e putaminal das artérias cerebrais médias (42%), os ramos da artéria basilar que suprem a ponte (16%), os ramos talâmicos das artérias cerebrais posteriores (15%), os ramos das artérias cerebelares superiores, que suprem os núcleos dentados e a substância branca profunda do cerebelo (12%), e alguns ramos da substância branca das artérias cerebrais (10%), especialmente nos lobos parieto-occipitais e nos lobos temporais. Na fase aguda, após uma hemorragia intracerebral, existe edema ao redor do hematoma e, frequentemente, deslocamento de estruturas cerebrais adjacentes, além de apagamento ventricular. Na fase crônica, a única anormalidade pode ser um defeito em fenda, correspondente ao hematoma reabsorvido, circundado de margens pigmentadas contendo macrófagos carregados de hemossiderina. Yslane Costa - Medicina - A ruptura arterial abrupta acarreta o rápido acúmulo de sangue no parênquima encefálico e aumento da pressão tecidual local, seguidos por início abrupto de forças de cisalhamento e destruição física. Além do relativo efeito expansivo, o próprio hematoma induz três alterações fisiopatológicas iniciais no tecido encefálico adjacente: (1) morte neuronal e de células gliais por apoptose e inflamação, (2) edema vasogênico e (3) ruptura da barreira hematencefálica (BHE). A expansão do hematoma é uma importante causa de deterioração neurológica precoce, e o volume da HIC é um potente preditor de desfecho após HIC primária. Um hematoma expansivo pode ser causado por sangramento persistente e/ou recidiva do sangramento por ruptura de somente uma arteríola. Alguns estudos relataram indícios de crescimento da HIC por sangramento para uma zona de penumbra isquêmica ao redor do hematoma, mas os estudos não confirmaram a existência de isquemia na área hipoperfundida na periferia do hematoma. Como a isquemia não explica as alterações e o grau de disfunção neurológica ocorridos após a hemorragia, recentemente mecanismos neurotóxicos e inflamatórios foram implicados na patogenia da lesão tecidual peri-hemorrágica. O edema em torno da HIC pode ser produzido por mediadores inflamatórios locais e sistêmicos que promovem, lesão tecidual pela ativação de leucócitos, geração de prostaglandinas e leucotrienos, além da ativação do complemento. Em parte, o sangue intracerebral é diretamente responsável pela ocorrência de edema local após HIC. - Ao exame anatomopatológico, o padrão de lesão dos pequenos vasos é caracterizado por (1) degeneração de células musculares lisas da túnica média; (2) pequenos aneurismas miliares associados a trombose e micro-hemorragias; (3) acúmulo de fragmentos não gordurosos; e (4) hialinização da túnica íntima, de preferência nos pontos de bifurcação e partes distais do vaso. Não está claro por que alguns pacientes apresentam infartos encefálicos profundos e outros, hemorragias, mas alguns apontaram a ruptura súbita de microaneurismas, também conhecidos como microaneurismas de Charcot-Bouchard, como a causa da HIC. Outros fatores de risco não modificáveis para HIC são sexo masculino e raça/etnia afro-americana ou japonesa. ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO Principais causas: Hemorragia intracerebral espontânea- Hipertensão arterial sistêmica e idade avançada, angiopatia amiloide Hemorragia subaracnóidea – Aneurismas saculares cerebrais e as malformações arteriovenosas. CAUSAS DE HEMORRAGIA INTRACEREBRAL HAS - A hipertensão arterial crônica causa vasculopatia de pequenos vasos caracterizada por fragmentação, degeneração e, por fim, ruptura de pequenos vasos perfurantes no encéfalo, denominada lipo-hialinose. Entre as estruturas afetadas com Yslane Costa - Medicina frequência estão os núcleos da base e o tálamo (50%), as regiões lobares (33%) e o tronco encefálico e cerebelo (17%). TRAUMATISMO - A hemorragia intracerebral é uma consequência frequente de traumatismo craniano fechado. Ela pode ocorrer sob o crânio, no local do impacto ou em um local diretamente oposto ao impacto (lesão por contragolpe). As localizações mais comuns são os polos frontais e temporais. O aparecimento das hemorragias traumáticas na TC pode estar retardado durante até 24 horas após a lesão; a RM permite uma identificação mais precoce. MAV- Anomalias vasculares que podem produzir hemorragia intracerebral incluem malformações arteriovenosas (MAVs) ou aneurismas saculares. As MAVs consistem em artérias tortuosas e veias dilatadas, e se originam durante o desenvolvimento, quando os leitos capilares intervenientes não se formam. Os aneurismas saculares resultam de uma fraqueza das paredes arteriais, especialmente em pontos de ramificação ao redor do círculo de Willis. As MAVs podem ser assintomáticas ou podem causar hemorragia, convulsões, cefaleia ou déficits neurológicos focais. Quando o problema são as con vulsões, a terapia com anticonvulsivantes é o tratamento de escolha. No caso de hemorragia, no entanto, que costuma ser intracerebral, mas que pode se estender para dentro do espaço subaracnoide, a remoção cirúrgica está indicada para prevenir novo sangramento, desde que a malformação seja cirurgicamente acessível. Os aneurismas geralmente se apresentam com hemorragia subaracnóidea, mas em alguns locais (p. ex., artéria cerebral média) podem sangrar para dentro do parênquima cerebral. HEMORRAGIAS DENTRO DE INFARTOSCEREBRAIS - Alguns infartos cerebrais, especialmente quando de origem embólica, são acompanhados de hemorragia espontânea dentro do infarto. A conversão hemorrágica também pode ocorrer durante tratamento trombolítico ou com anticoagulante. A conversão hemorrágica de um AVC isquêmico não significa, necessariamente, um prognóstico pior. ABUSO DE ANFETAMINA OU COCAÍNA - O uso intravenoso, intranasal e oral de anfetamina ou cocaína pode resultar em hemorragia intracerebral, que normalmente ocorre dentro de minutos a horas depois da administração da droga. A maioria dessas hemorragias está localizada na substância branca subcortical, podendo estar relacionada a uma elevação aguda da pressão arterial, levando a hemorragia espontânea ou ruptura de uma anomalia vascular, ouarterite induzida por drogas. ANGIOPATIA CEREBRAL AMILOIDE – A angiopatia cerebral amiloide (congofílica) é uma causa rara de hemorragia intracerebral. Os depósitos amiloides estão presentes nas paredes de pequenos vasos sanguíneos corticais e nas meninges. O distúrbio é mais comum em pacientes idosos (média de idade de 70 anos) e costuma produzir hemorragia lobar em locais múltiplos. Alguns casos resultam de mutações na proteína precursora amiloide bA4 (APP) ou no gene cistatina 3 (CST3), e sua hereditariedade é autossômica dominante. LEUCOENCEFALITE HEMORRÁGICA AGUDA - Este é um distúrbio desmielinizante e hemorrágico que, caracteristicamente, segue uma infecção respiratória e tem uma evoluçãofulminante, resultando em óbito depois de alguns dias. Pequenas hemorragias múltiplas são encontradas no cérebro, e hemácias podem ser observadas no LCS. HEMORRAGIA DENTRO DE TUMORES - O sangramento dentro de tumores cerebrais primários ou metastáticos é uma causa ocasional de hemorragia intracerebral. Tumores associados com hemorragia incluem melanoma, carcinoma pulmonar, glioma, carcinoma de mama, carcinoma de célula renal e oligodendroglioma. Sangramento dentro de um tumor deve ser considerado quando um paciente com câncer conhecido apresenta deterioração neurológicaaguda; também pode ser uma manifestação de apresentação de um câncer. Yslane Costa - Medicina COAGULOPATIAS – A hemorragia cerebral é uma complicação de distúrbios dos fatores de coagulação e das plaquetas, comoa hemofilia (deficiência do fator VIII) e a púrpura trombocitopênica idiopática. ANTICOAGULAÇÃO E TRATAMENTO TROMBOLÍTICO - Pacientes que recebem heparina ou varfarina têm um risco aumentado para o desenvolvimento de hemorragia intracerebral espontânea ou traumática. -Pode ser classificada em primaria (80 a 85%) onde 50% das causa primarias estão associadas a hipertensão arterial e 30% a angiopatia amiloide e secundaria (15 a 20%) podem ocorre devido a MAV, aneurismas, uso de antiocoagulantes, antiagregantes, ciagulopatias, doença hepática crônica, neoplasias, trauma, vasculites do SNC, doença de Moya-moya, trombose de seio venoso, eclampsia e endometriose cerebral. Fatores de risco para hemorragia intracerebral primária Demográficos Idade Raça/etnia negra Fatores de risco vasculares Hipertensão crônica (doença de pequenos vasos) Álcool – Em princípio, o álcool etílico pode afetar a função plaquetária e a fisiologia da coagulação e promover a fragilidade vascular. Tabagismo Baixo nível de colesterol - o fator de risco para HIC primária, embora haja controvérsia acerca dessa massociação, pois os resultados de estudos de caso-controle e coorte e de estudos randomizados prospectivos de redução de colesterol foram conflitantes. Patologia vascular Angiopatia amiloide (inclusive formas hereditárias) - A angiopatia amiloide cerebral (AAC) é um importante fator de risco para HIC em idosos. A AAC é caracterizada pela deposição de proteína beta-amiloide em pequenos e médios vasos sanguíneos do encéfalo e leptomeninges, que podem sofrer necrose fibrinoide. Pode ser um distúrbio esporádico, associado à doença de Alzheimer, ou ocorrer em algumas síndromes familiares (alelo da apolipoproteína E2 e E4). Tumores encefálicos, fármacos simpaticomiméticos, coagulopatias, cavernomas e malformações arteriovenosas também causam hemorragias encefálicas. Fatores de risco para hemorragia intracerebral secundária Infarto encefálico Transformação hemorrágica de lesão isquêmica subaguda Trombose venosa/de seio cerebral Lesões vasculares preexistentes Angioma cavernoso Malformação arteriovenosa Neoplasias malignas Tumor encefálico Metástase cerebral Inflamatórios Vasculite Endocardite (aneurisma micótico) Hematológicos Coagulopatia Trombocitopenia Iatrogênicos Anticoagulantes Fibrinólise Tóxicos Yslane Costa - Medicina Cocaína Anfetaminas CAUSAS DE HEMORRAGIA SUBARACNOIDE -ANEURISMAS Os aneurismas saculares ocorrem com maior frequência no círculo arterial do cérebro (círculo de Willis) ou em seus principais ramos, sobretudo nas bifurcações. Eles se originam na região de deficiência da lâmina elástica arterial e da túnica média e tendem a aumentar com a idade. A parede do aneurisma típico é formada apenas por túnica íntima e túnica adventícia e pode tornar-se fina como papel. Muitos aneurismas, em especial aqueles que se rompem, são irregulares e multilobulados, e os aneurismas maiores podem ser parcial ou totalmente preenchidos por um coágulo organizado, que às vezes é calcificado. Em geral, a ruptura ocorre na cúpula do aneurisma. Em 85 a 90% dos casos, os aneurismas intracranianos estão localizados na circulação anterior; os três locais mais comuns são o complexo da artéria comunicante anterior (cerca de 40%), a junção das artérias comunicante posterior e carótida interna (cerca de 30%) e a região intermediária da artéria cerebral média, no primeiro importante ponto de ramificação no sulco lateral (fissura de Sylvius) (cerca de 20%). Causas não aneurismáticas de hemorragia subaracnóidea: Traumatismo HSA perimesencefálica idiopática Malformação arteriovenosa Dissecção arterial intracraniana Uso de cocaína e anfetamina Aneurisma micótico Apoplexia hipofisária Doença de moyamoya Vasculite do sistema nervoso central Doença falciforme Distúrbios da coagulação Neoplasia primária ou metastática QUADRO CLÍNICO Hemorragia intraparenquimatosa A hemorragia intraparenquimatosa hipertensiva ocorre sem aviso, mais comumente enquanto o paciente está acordado. A cefaleia está presente em 50% dos casos e pode Yslane Costa - Medicina ser grave; vômito é comum. A pressão arterial está elevada, de modo que uma pressão arterial normal ou baixa em um paciente com AVC torna o diagnóstico de hemorragia hipertensiva improvável. Após uma hemorragia, o edema em desenvolvimento produz piora clínica durante minutos a dias. No entanto, a duração do sangramento ativo é breve, e ressangramento em geral não ocorre. Depois que os déficits estão estabilizados, a melhora é lenta. Pode ocorrer um retorno considerável da função neurológica, embora a mortalidade seja de cerca de um terço em seis meses, e muitos pacientes tornam-se permanentemente incapazes de cuidar de si mesmos. Hemorragias hipertensivas maciças podem romper através do tecido cerebral para dentro dos ventrículos, um quadro associado com prognóstico pobre; a ruptura direta pelo manto cortical é incomum. O óbito frequentemente se deve à herniação causada pelo efeito de massa. As características clínicas variam com o local da hemorragia. - Como a maioria das hemorragias espontâneas tem origem em vasos diminutos, o acúmulo de um hematoma é demorado e explica o início sereno da síndrome clínica ao longo de minutos ou horas. A evolução progressiva, os vômitos frequentes e a cefaleia são elementos importantes que ajudam a diferenciar a hemorragia do infarto. - O putame é o local afetado com maior frequência. Quando o hematoma em expansão acomete a cápsula interna adjacente, ocorre hemiparesia contralateral, em geral com hemianestesia e hemianopsia e, em grandes hematomas, afasia ou comprometimento da consciência do distúrbio. No entanto, às vezes pequenos hematomas autolimitados próximos da região capsular podem simular síndromes lacunares com déficits motores ou sensitivos puros. Quando a hemorragia tem origem no tálamo, a hemianestesia precede a hemiparesia. Uma vez estabelecidos os sinais motores, sensitivos e do campo visual contralaterais, os principais elementos que distinguem os dois locais são (1) desvio ocular horizontal conjugado na hemorragia do putame e (2) comprometimento do olhar para cima na hemorragia talâmica. - As hemorragias espontâneas primárias no mesencéfalo ou no bulbo ainda são objeto de discussão e são curiosidades raras. Quando ocorrem, o acometimento anatômico geralmente é secundário à hemorragia originada em regiões diencefálicas, cerebelares ou pontinas adjacentes. Hemorragia cerebral profunda Os dois locais mais comuns de hemorragia hipertensiva são o putame e o tálamo, que são separados pela perna posterior da cápsula interna. Este segmento da cápsula interna é atravessada pelas fibras motoras descendentes e pelas fibras sensoriais ascendentes, incluindo as radiações óptica. A pressão exercida por um hematoma lateral (putaminal) ou medial (talâmico), portanto, produz um déficit sensorimotor contralateral. Em geral, a hemorragia putaminal leva a um déficit motor mais grave, e a hemorragia talâmica leva a um distúrbiosensorial mais grave. Uma hemianopsia homônima pode ocorrer como um fenômeno transitório após hemorragia talâmica e, frequentemente, é um achado persistente na hemorragia do putame. Nas grandes hemorragias talâmicas, os olhos podem exibir um desvio tônico para baixo, como se o paciente estivesse olhando para a ponta do nariz, em decorrência do envolvimento do centro mesencefálico do olhar para cima. Afasia pode ocorrer se a hemorragia de ambos os lados exercer pressão sobre as áreas corticais da linguagem. Uma síndrome afásica associada com hemorragia localizada para dentro do tálamo foi descrita e tem um excelente prognóstico de recuperação completa. Yslane Costa - Medicina Hemorragia lobar As hemorragias hipertensivas também ocorrem na substância branca subcortical situada abaixo dos lobos frontais, parietais, temporais e occipitais. Os sinais e sintomas variam de acordo com a localização, mas podem incluir cefaleia, vômito, hemiparesia, déficits hemissensoriais, afasia e anormalidades de campo visual, apraxia, hemianopsia e negligência. As convulsões são mais frequentes que nas hemorragias em outras localizações, enquanto o coma é menos frequente. - Nos lobos cerebrais, as hemorragias ainda têm uma predileção inexplicada pelos dois terços posteriores do encéfalo. Quando afetam um ou mais lobos cerebrais, é difícil distinguir clinicamente a síndrome do infarto porque a evolução progressiva e os vômitos são muito menos frequentes no infarto; além disso, muitas vezes os hematomas da substância branca lobar resultam de malformações arteriovenosas, angiopatia amiloide, tumores ou outras causas que apenas raramente afetam os núcleos da base, o tálamo e a ponte Hemorragia pontina O sangramento dentro da ponte produz coma em segundos a minutos e costuma levar ao óbito em 48 horas. Os achados oculares normalmente incluem pupilas puntiformes. Os movimentos oculares horizontais estão ausentes ou comprometidos, mas os movimentos oculares verticais podem estar preservados. Em alguns pacientes, pode haver bobbing ocular, uma excursão para baixo e bilateral dos olhos com intervalos de cerca de cinco segundos. Os pacientes comumente estão quadriparéticos e apresentam postura descerebrada. Algumas vezes existe hipertermia. A hemorragia costuma romper para dentro do quarto ventrículo, e uma extensão rostral da hemorragia para dentro do mesencéfalo resultando em pupilas médias fixas é comum. Em contraste com a apresentação clássica da hemorragia pontina descrita anteriormente, pequenas hemorragias, que poupam o sistema ativador reticular – e que estão associadas com déficits menos graves e uma excelente recuperação – também ocorrem. - Habitual leva o paciente ao coma com quadriparesia e distúrbios da motilidade ocular com desconjugação acentuada, embora pequenas hemorragias possam simular síndromes de infarto. c Hemorragia cerebelar Sinais característicos de hemorragia cerebelar – cefaleia, tontura, vômito e incapacidade de ficar em pé ou andar – iniciam subitamente, dentro de minutos após o início do sangramento. Pode ter ataxia, dismetria e nistagmo. Embora os pacientes possam, inicialmente, estar alertas ou só levemente confusos, grandes hemorragias levam ao coma dentro de 12 horas em 75% dos casos e após 24 horas em 90% dos casos. Quando o coma está presente desde o início, o quadro clínico pode ser indistinguível do quadro clínico da hemorragia pontina. Achados oculares comuns incluem comprometimento do olhar para o lado da lesão ou desvio forçado para longe da lesão, causado pela pressão sobre o centro pontino do olhar lateral. Um desvio inclinado também pode ocorrer, no qual o olho ipsilateral à lesão encontra-se deprimido. As pupilas são pequenas e reativas. Fraqueza facial ipsilateral do tipo neurônio motor inferior ocorre em cerca de 50% dos casos, mas a força nos membros está normal. Uma ataxia de membro geralmente é leve ou está ausente. As respostas plantares são flexoras precocemente na evolução, mas se tornam extensoras quando o Yslane Costa - Medicina tronco cerebral fica comprometido e o quadro do paciente deteriora. Comprometimento do olhar voluntário ou reflexo para cima indica herniação transtentorial para cima do verme cerebelar e do mesencéfalo, levando à compressão da região pré-tectal. Isso implica em um mau prognóstico. - A hemorragia cerebelar demanda descrição à parte porque o modo de início é diferente do que ocorre na hemorragia cerebral e porque muitas vezes demanda evacuação cirúrgica. Em geral, a síndrome tem início abrupto, com vômitos e ataxia grave (que geralmente impede o paciente de ficar de pé e caminhar); às vezes, é acompanhada de disartria, acometimento dos nervos cranianos adjacentes (sobretudo do sexto e sétimo) e paralisia do olhar lateral conjugado para um lado, achados que podem levar os profissionais de saúde a pensarem que o local primário de acometimento é o tronco encefálico. No entanto, a origem cerebelar é sugerida pela ausência de alterações no nível de consciência e ausência de fraqueza focal ou perda sensitiva. c Hemorragia subaracnóidea (HSA) A hemorragia intraparenquimatosa pode se estender para o espaço subaracnódeio, ocupando cisternas basais. Nesse caso a investigação de aneurisma e MAV é obrigatória. A HSA, por sua vez, corresponde a cerca de 5% dos acidentes vasculares encefálicos, tendo como principais causas o trauma cranioencefálico (mais comum) e o rompimento de aneurismas e de malformações arteriovenosas preexistentes. Os sintomas mais comuns são cefaleia de forte intensidade ou “explosiva”, geralmente descrita como a “pior da vida”, essa cefaleia costuma ser generalizada, mas a dor focal pode se referir ao local de ruptura do aneurisma (p. ex., dor periorbital relacionada a aneurisma da artéria oftálmica), náuseas e vômitos, seguidos de alteração do nível de consciência ou perda dele (em casos graves), paresia de nervos cranianos, convulsão ou outros déficits focais, dor nas costas ou nos membros inferiores e fotofobia. Tais pacientes podem apresentar rigidez nucal e sinais meníngeos, bem como fundo de olho com sangramento (hemorragia sub-hialoide). Nos pacientes que perdem a consciência, pode haver postura tônica e dificuldade de distinguir de uma crise epiléptica. -Mais de um terço dos pacientes relata história de sintomas suspeitos dias ou semanas antes, entre os quais estão cefaleia, rigidez cervical, náuseas e vômitos, síncope ou perturbação visual. Com frequência, esses sintomas prodrômicos são causados por pequeno extravasamento de sangue do aneurisma e, portanto, denominados “extravasamentos de alerta” ou “cefaleias sentinela”. Por vezes, podem ocorrer cefaleias sentinelas, caracterizadas por dor súbita e de forte intensidade, sendo, muitas vezes, confundidas com enxaqueca. Elas ocorrem em cerca de 30% dos casos, em até 4 semanas antes da HSA, em razão da expansão do aneurisma ou de pequenos sangramentos do mesmo. Para classificação clínica da HSA usamos a Escala de Hunt Hess. - Há erro de diagnóstico inicial da HSA em cerca de 15% dos pacientes, e aqueles com sintomas mais leves correm maior risco. Cerca de 40% dos pacientes com diagnóstico errado apresentam deterioração neurológica subsequente por recidiva do sangramento, hidrocefalia ou vasospasmo antes de receberem atendimento médico, com aumento da morbidade e da mortalidade. Yslane Costa - Medicina - A rigidez cervical e o sinal de Kernig são características da HSA. No entanto, nem sempre esses sinais estão presentes e às vezes a confusão e a dor lombar são mais proeminentes que a cefaleia. - As hemorragias pré-retinianas ou sub-hialóideas – grandes, de bordas regulares e na superfície da retina – ocorrem em até 25% dos pacientes e são praticamente patognomônicas de HSA. - O mais importante determinante de desfecho após HSA é a condição neurológica do pacienteao chegar ao hospital. As alterações no estado mental são as anormalidades mais comuns; alguns pacientes se mantêm conscientes e lúcidos; outros apresentam confusão, delírio, amnésia, letargia, torpor ou coma. A escala de classificação de Hunt e Hess modificada é um mecanismo de estratificação do risco de HSA com base no primeiro exame neurológico. - Os pacientes com HSA de grau I ou II têm prognóstico relativamente bom, o grau III indica prognóstico intermediário e os graus IV e V, prognóstico sombrio. Os sinais neurológicos focais ocorrem na minoria dos pacientes, mas podem indicar o local de sangramento; a hemiparesia ou afasia sugere aneurisma da artéria cerebral média, e a paraparesia ou abulia sugere aneurisma da porção proximal da artéria cerebral anterior. Às vezes, esses sinais focais são causados por um grande hematoma, que pode exigir evacuação de emergência. Em 10% dos pacientes com HSA não traumática e em dois terços daqueles com angiografia negativa, a tomografia computadorizada (TC) mostra sangue limitado à cisterna circundante (perimesencefálica), com o centro do sangramento adjacente ao mesencéfalo e à ponte (Figura 39.1). Os pacientes com HSA “perimesencefálica” sempre apresentam achados normais ao exame neurológico e evolução clínica benigna; quase nunca ocorrem recidiva do sangramento e vasospasmo sintomático ou hidrocefalia. A origem da hemorragia nesses pacientes provavelmente é venosa. c Hemorragia subdural É uma hemorragia extrapaquenquimatosa, usualmente com formato crescente. Ocorre entre a dura-mater e a aracnoite, está associada a distúrbios de coagulação. Na maior aprte das vezes é causada por trauma craniano. c Hemorragia intraventricular A hemorragia intraparenquimatosa, pode –se estender pra o ventrículos. É comumente assoaciada à ruptura de aneurisma, hemorragia hipertensiva de gânglios basais ou do tálamo, malformação arteriovenosa (MAV) e coagulopatia. c Hematoma extradural É presença de sangue entre a dura-máter e o crânio, devida à ruptura da artéria meníngea média. A hemorragia intraparenquimatosa pode ser uma causa, porém, é frequentemente associada ao trauma de crânio. Yslane Costa - Medicina DIAGNÓSTICO Tomografia computadoriza Na fase aguda do AVC é a TC de crânio, tanto para diagnostico da HI e ao evidenciar região hiperdensa que corresponde ao sangramento, quanto para sugerir a etiologia, por meio da identificação do local do sangramento. A analise da imagem tem de ser capaz de identificar tanto o sangramento hipertensivo do não hipertensivo. - O controle da TC de crânio após o diagnostico é necessário, especialmente na vigência de deterioração clínica, o que pode corresponder a ressangramento. -Pacientes jovens ou sem história de hipertensão arterial com TC revelando hemorragias em locais típicos de sangramento hipertensivo. Devem ser investigados com exames admissionais de imagem, como angiografia por RM e/ou angiografia digital. - A tomografia computadorizada (TC) não contrastada do encéfalo é o método de escolha para avaliar a presença de HIC. A TC avalia o tamanho e a localização do hematoma, a extensão para o sistema ventricular, o grau de edema adjacente e a desorganização anatômica. O volume do hematoma, um potente preditor da mortalidade em 30 dias, pode ser facilmente calculado a partir de imagens de TC pelo uso do método ABC ÷ 2, no qual se multiplicam os diâmetros do hematoma em três dimensões e, em seguida, o resultado é dividido por dois.?????? A= maior diâmetro de hemorragia B= C= ABC/2 que é volume da hemorragia em cm³ -Hemorragia que envolvem o putame, o globo pálido, o tálamo, a cápsula interna, a substancia branca periventricular, a ponte e o cerebelo, particularmente em pacientes sabidamente hipertensos são frequentementes atribuídas aos sangramentos hipertensivos por doença de pequenos vasos. Nesses pacientes o hisotrico de HAS, a investigação complementar dos exames de imagens é desnecessária. Angiotomografia A angiotomografia pode revelar HIC secundário a aneurisma ou malformação arteriovenosa, ou extravasamento ativo de meio de contraste para o coágulo (spot sign), indicativo de aumento do risco de expansão precoce do hematoma quando identificado logo após o surgimento de sintomas. - A angiografia cerebral diagnóstica convencional deve ser reservada para pacientes Yslane Costa - Medicina com suspeita de causas secundárias de HIC, como aneurismas, malformações arteriovenosas, trombose de veia cortical ou dos seios da dura-máter ou ainda vasculite. RESSONANCIA MAGNETICA -Em pacientes idosos com hemorragias lobares e apresentam RM de crânio revelando múltiplas áreas de sangramentos corticais antigos, a investigação complementar também não é necessária, devido a hipótese mais provável de angiopatia amiloide. -Frequentemente, o estudo complementar com angiografia por RM é prejudicado par definir a etiologia do sangramento em uma fase mais precoce, devendo ser realizado em outra situação, ou seja, após a reabsorção do hematoma, que ocorre deposi de cerca de 3 a 4 semanas dos eventos iniciais. -Em caso de suspeita de sangramento secundário à trombose de seio venoso, a RM de encéfalo com angiografia venosa pode ser útil para diagnostico. - As técnicas de RM como gradiente-eco (GRE, T2*) também são muito sensíveis para o diagnóstico de HIC. Em pacientes com padrões atípicos de HIC à TC, a RM pode mostrar uma causa secundária de HIC (i. e., tumor, malformação arteriovenosa ou infarto hemorrágico em até 20% dos casos). - Os achados à TC ou RM que justificam a angiografia são hemorragia subaracnóidea (HSA), hemorragia intraventricular (HIV), calcificação subjacente ou hemorragia lobar em mpacientes jovens não hipertensos. A angiografia por cateter diagnóstica deve ser seriamente considerada em todos os pacientes com HIV primária e em pacientes mais jovens não hipertensos com HIC lobar. -Exames gerais como hemograma com contagem de plaquetas e coagulograma, são importantes, visto que é desnecessário afastar distúrbios da coagulação como causas do AVC hemorrágico. Sempre que houver hemorragia intracerebral, é crucial verificar os seguintes achados nos exames de imagem: Hemorragia subaracnóidea em associação com hemorragia intraparenquimatosa sugere ruptura de aneurisma e exige a realização de angiografia Hemorragia intracerebral em associação com dilatação ventricular exige avaliação neurocirúrgica para possível ventriculostomia de emergência Níveis líquido/líquido em um hematoma resultam de separação dos eritrócitos do plasma e indicam a existência de uma coagulopatia Edema, efeito expansivo e desvio da linha média resultam, geralmente, em deterioração neurológica quando associados a hemorragia volumosa (> 30 mℓ). O edema em torno do hematoma demora algumas horas para se desenvolver após a hemorragia intracerebral e, portanto, não costuma ser visto na TC de crânio inicial. O achado de edema anormalmente grande ou irregular associado a hemorragia na TC inicial sugere (1) conversão hemorrágica do tecido infartado, (2) sangramento associado a neoplasia ou (3) infarto venoso consequente a trombose de seio dural. - Tomografia computadorizada Yslane Costa - Medicina A TC deve ser o primeiro exame para diagnóstico de HSA, pois está prontamente disponível e a interpretação é direta. O erro mais comum nos casos de diagnóstico incorreto de HSA é a não realização de TC. Na maioria das vezes, a TC mostra sangue difuso nas cisternas interpedunculares (basais), nas hemorragias mais graves, o sangue se estende para as fissuras de Sylvius e inter-hemisférica, o sistema ventricular e sobre as convexidades. A distribuição de sangue oferece indicações importantes acerca da localização do aneurisma roto. A TC também pode mostrar hemorragia intraparenquimatosa ou subdural focal, aumento ventricular, grande aneurisma trombosadoou infarto por vasospasmo. A sensibilidade da TC para HSA é de 90 a 95% em 24 h, 80% em 3 dias e 50% em 1 semana. Por conseguinte, a TC normal nunca descarta a HSA, e sempre se deve realizar punção lombar quando existe suspeita de HSA e a TC é negativa. A ressonância magnética (RM) também pode ser usada para fazer o diagnóstico inicial de HSA ou para detectar um aneurisma com trombose completa se a angiografia inicial for negativa. - Punção lombar Em geral, o líquido cerebrospinal (LCS) contém sangue visível. A HSA é diferenciada da punção traumática pela aparência xantocrômica (amarelada) do líquido sobrenadante após a centrifugação. Entretanto, o surgimento da xantocromia pode demorar até 12 h. A pressão do LCS quase sempre é alta e o nível de proteínas é elevado. A princípio, a proporção entre leucócitos e eritrócitos no LCS é igual à observada no sangue periférico, com a razão habitual de 1:700; após vários dias, pode haver pleocitose reativa com baixos níveis de glicose decorrente de meningite química estéril causada pelo sangue. As hemácias e a xantocromia desaparecem em cerca de 2 semanas, exceto se houver hemorragia. - Angiografia A angiografia cerebral é o procedimento diagnóstico definitivo para a detecção de aneurismas intracranianos e definição de sua anatomia. Embora a crescente disponibilidade e a qualidade da imagem da TC e da ARM tenham possibilitado que alguns centros usem esses exames para fazer o diagnóstico inicial, é obrigatório realizar uma angiografia de quatro vasos (injeção nas artérias carótidas internas e artérias vertebrais bilaterais) quando esses exames são negativos. Além disso, a angiografia realizada durante a inserção de espirais metálicas ou após a inserção de clipes geralmente é aconselhável para avaliar a adequação do reparo de aneurisma e para pesquisar aneurismas secundários menores que podem não ser detectados por TC ou ARM. Vasospasmo, trombose local ou técnica inadequada podem acarretar um resultado falso- negativo da angiografia. Por essa razão, os pacientes com angiografia negativa devem ser submetidos inicialmente a exame de acompanhamento 1 a 2 semanas depois; em cerca de 5% dos casos será demonstrado um aneurisma. A exceção a essa regra ocorre em pacientes com HSA “perimesencefálica” que geralmente não necessitam de angiografia de acompanhamento. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Yslane Costa - Medicina Hemorragias no putame, talâmicas e lobares podem ser difíceis de distinguir de infartos cerebrais. Em alguma extensão, a presença de cefaleia grave, náuseas e vômito, além de comprometimento da consciência, é uma dica útil de que tenha ocorrido uma hemorragia. Uma TC ou RM, com gradiente de eco, identifica definitivamente o distúrbio subjacente. A principal armadilha diagnóstica na hemorragia cerebelar é não considerar o diagnóstico em decorrência da ausência de ataxia de membros. Como observado anteriormente, o sinal cerebelar mais proeminente nesses pacientes costuma ser a incapacidade de ficar em pé ou andar; por essa razão, a postura e o equilíbrio devem ser examinados em qualquer paciente que apresente cefaleia, tontura ou vômito de início agudo. Acidente vascular de tronco cerebral ou infarto cerebelar podem imitar hemorragia cerebelar, mas podem ser facilmente distinguidos por TC ou RM. O LCS irá confirmar o diagnóstico de hemorragia, mas um líquido claro não exclui a possibilidade de hematoma intracerebelar, e uma punção lombar pode precipitar o processo de herniação. Portanto, a punção lombar não é recomendada na suspeita de hemorragia cerebelar. Assim como a hemorragia cerebelar, uma vestibulopatia periférica aguda também produz náuseas, vômitos e ataxia da marcha. Cefaleia grave, distúrbio da consciência, pressão arterial elevada ou idade mais avançada no início do quadro favorecem o diagnóstico de hemorragia cerebelar TRATAMENTO HSA -Objetivo inicial do tratamento é evitar a recidiva do sangramento mediante a exclusão do saco aneurismático da circulação intracraniana e, ao mesmo tempo, preservação da artéria de origem e de seus ramos. Uma vez fixado o aneurisma, o foco passa a ser o monitoramento e o tratamento do vasospasmo e de outras complicações médicas secundárias da HSA. O melhor local é a unidade de terapia intensiva (UTI) Conduta terapêutica de emergência O diagnóstico de HSA quase sempre é feito no pronto-socorro. Nessa conjuntura, o manejo deve se concentrar em (1) minimizar a lesão encefálica contínua em pacientes com grau desfavorável e alterações do estado mental e (2) diminuir o risco de recidiva de sangramento do aneurisma antes de um procedimento efetivo de reparo. Nos pacientes com graus IV e V de Hunt-Hess, a preocupação imediata é garantir perfusão e oxigenação encefálica satisfatórias. No caso de pacientes com diminuição da capacidade de proteger as vias respiratórias, deve-se proceder a intubação, administração de oxigênio suplementar quando necessário e tratamento intensivo da hipotensão com líquidos e vasopressores para manter pressão arterial média de 90 mmHg. Os pacientes torporosos ou comatosos com HSA substancial ou sangue intraventricular à TC devem ser submetidos a tratamento empírico da hipertensão intracraniana com manitol a 20%, na dose de 1,0 g/kg, antes da instituição de dreno ventricular externo. Entre as intervenções médicas que podem diminuir o risco de recidiva aguda de sangramento de aneurisma estão o controle da hipertensão arterial (pressão arterial sistólica < 160 mmHg), uma dose de ataque intravenosa (IV) de agente antifibrinolítico (ácido épsilonaminocaproico, 4 g, seguidos por 1 g/h até 4 h antes da Yslane Costa - Medicina angiografia, durante no máximo 72 h após o início da HSA) [Nível 1]1 e administração de um anticonvulsivante para minimizar o risco de atividade convulsiva aguda (fenitoína, 20 mg/kg IV, é usada com maior frequência) Tratamento cirúrgico Essa mudança da conduta se tornou viável com as técnicas mais seguras de microcirurgia. Todavia, a cirurgia ainda é perigosa, com risco de 5 a 10% de morbidade ou mortalidade importante na maioria dos casos; os aneurismas menores estão associados a menor risco de complicações do procedimento. Além de evitar a recidiva precoce de sangramento, a cirurgia precoce também possibilita o tratamento agressivo do vasospasmo com terapia hipervolêmica hipertensiva, o que pode ser perigoso se o aneurisma estiver desprotegido. Embora a cirurgia precoce já tenha sido reservada para pacientes em boa condição clínica (graus I a III de Hunt-Hess), essa conduta foi ampliada para todos os pacientes, com exceção dos mais moribundos. O advento da embolização endovascular com mola foi um importante avanço, pois é a opção de tratamento para pacientes de alto risco que não são bons candidatos à cirurgia precoce. O tratamento de aneurismas íntegros assintomáticos é controverso. A maioria dos neurocirurgiões recomenda a cirurgia para aneurismas com mais de 5 mm, desde que o benefício esperado da cirurgia (redução do risco cumulativo de sangramento) supere os riscos. Em boas mãos, o risco de morbidade ou mortalidade importante pelo uso de clipes em aneurismas íntegros é de 2 a 5%; o risco é máximo nos grandes aneurismas e nos aneurismas da artéria basilar. Terapia endovascular A embolização com mola endovascular, introduzida no início da década de 1990, é uma alternativa segura e efetiva ao uso de clipes cirúrgicos para tratamento de aneurismas intracranianos rotos. O tamponamento endovascular de aneurismas (Figura 39.5) com molas de platina destacáveis trombogênicas e flexíveis causa obliteração quase completa de aneurismas menores (diâmetro <12 mm) em 80 a 90% dos casos, com uma taxa aceitável de complicações de aprox.. 9%. O risco a longo prazo de recidiva de sangramento após o procedimento é mínimo após o uso bem-sucedido de clipes ou molas, e há evidênciasbastante convincentes de que o procedimento menos invasivo com mola seja mais seguro. As razões para a melhora observada de desfecho na embolização com mola não estão claras, mas podem incluir menor risco de recidiva de sangramento peroperatório, redução da manipulação física do encéfalo, menor isquemia tardia por vasospasmo ou outros fatores não identificados. Os aneurismas com colo largo são menos sensíveis à embolização com mola porque é mais difícil que o saco aneurismático contenha a mola; em alguns casos, é necessário colocar um stent no vaso de origem através do colo do aneurisma e usar molas através do stent. A principal desvantagem do tratamento endovascular é a necessidade de reavaliação periódica para garantir a oclusão durável do aneurisma. Grandes aneurismas expansivos da parte cavernosa da artéria carótida interna podem ser tratados com oclusão endovascular proximal. Antes da oclusão permanente, realiza-se uma prova de oclusão com balão a fim de determinar se há fluxo colateral satisfatório no círculo arterial do cérebro (círculo de Willis) para evitar a isquemia sintomática no hemisfério ipsilateral. Caso o teste de Yslane Costa - Medicina oclusão seja negativo, pode-se considerar um procedimento de derivação extracraniana- intracraniana antes de tentar a oclusão permanente. Conduta na terapia intensiva Todos os pacientes com HSA devem ser monitorados em UTI, onde é possível realizar exames neurológicos frequentes. O controle da pressão arterial pode ser mais liberal depois do reparo do aneurisma, e a perfusão encefálica se torna a consideração dominante. Os antiepilépticos são suspensos no primeiro dia pós-operatório em pacientes com grau favorável que não tiveram crises epilépticas; a profilaxia com anticonvulsivantes é mantida por cerca de 1 semana nos pacientes com grau desfavorável. A maioria dos centros defende o uso de reposição volêmica agressiva com solução cristaloide isotônica (com ou sem outras soluções coloides) para evitar a contração de volume, embora não se tenha comprovado que isso reduza o risco de isquemia sintomática por vasospasmo. Usa-se um cateter venoso central ou arterial pulmonar em pacientes de alto risco para orientar a administração de líquidos de acordo com a meta das pressões de enchimento cardíaco. O nimodipino, um bloqueador dos canais de cálcio, reduziu a frequência de deterioração isquêmica tardia em cerca de 30% em vários ensaios clínicos; esse efeito foi atribuído à redução da entrada de cálcio em neurônios isquêmicos ou à melhora do fluxo microcolateral porque não se demonstrou espasmo angiográfico. O uso de dexametasona na HSA aguda é controverso; com frequência, é usado no período peroperatório para relaxamento encefálico. Nenhuma evidência específica sugere que seja benéfico, embora possa reduzir a cefaleia às vezes associada ao vasospasmo. Drenos ventriculares exteriorizados são usados para tratar a hidrocefalia obstrutiva em pacientes torporosos ou comatosos, mas estão associados a um risco de infecção (em geral, 10%) e, portanto, devem ser retirados quando a pressão intracraniana for estável durante um estudo de clampeamento por 24 h. A punção lombar seriada é usada para tratar a hidrocefalia em pacientes que obedecem a comandos. A ultrassonografia Doppler transcraniana (DTC) é muito usada no diagnóstico de vasospasmo das artérias cerebrais maiores após HSA. A aceleração do fluxo sanguíneo, que ocorre quando o fluxo é mantido através de artérias estreitas, tem sensibilidade e especificidade de 90% para vasospasmo angiográfico da parte proximal da artéria cerebral média, porém é menos sensível para detecção de espasmo das artérias cerebral anterior ou basilar. A observação de aumento da velocidade à DTC não implica aumento da probabilidade de isquemia por vasospasmo. Por essa razão, a perfusão por TC é obtida entre os dias 4 e 8 de HSA para identificar se há comprometimento regional do fluxo sanguíneo cerebral. O tratamento do vasospasmo sintomático agudo depende do aumento do volume sanguíneo, da pressão arterial e do débito cardíaco na tentativa de melhorar o fluxo sanguíneo cerebral através de artérias espásticas que perderam a capacidade de autorregulação. Administram-se soluções cristaloides ou coloides para manter a pressão diastólica na artéria pulmonar acima de 14mmHg ou a pressão venosa central acima de 8 mmHg. Fármacos pressores como norepinefrina ou fenilefrina são usados para elevar a pressão arterial sistólica até níveis de 180 a 220 mmHg. O tratamento hipertensivo, hipervolêmico e de hemodiluição (“triplo H”) desse tipo resulta em Yslane Costa - Medicina melhora clínica em cerca de 70% dos pacientes; a angioplastia cerebral pode propiciar melhora acentuada em pacientes com déficits graves refratários à expansão hemodinâmica. O vasospasmo pode causar infarto encefálico clinicamente “silencioso” em pacientes com grau desfavorável, torporosos ou comatosos, que necessitam de sedação para auxiliar a ventilação mecânica. Para detectar a isquemia nos estágios iniciais, muitos centros empregam o EEG contínuo e o monitoramento invasivo do oxigênio tecidual encefálico e do fluxo sanguíneo cerebral para obter informações em tempo real sobre a adequação da perfusão cerebral e da capacidade autorreguladora. As tendências indicativas de redução da perfusão encefálica geralmente desencadeiam uma tentativa de hipertensão induzida ou encaminhamento urgente para angiografia. Yslane Costa - Medicina INTRACEREBRAL Medicamentoso O tratamento medicamentoso inicial inclui apoio à via aérea com ventilação assistida, se necessário. O uso de fármacos anti-hipertensivos é controverso, pois a redução da pressão arterial sistêmica pode comprometer o fluxo sanguíneo cerebral, levando ao infarto do hematoma circundante, enquanto uma hipertensão continuada pode aumentar o tamanho do hematoma. Uma recomendação é reduzir a pressão sistêmica sistólica para cerca de 180 mmHg, usando fármacos vasodilatadores com meia-vida curta. Outra abordagem envolve o uso de pasta de nitroglicerina (1/2 a 1 polegada [2,54 cm] usada topicamente), que pode ser rapidamente retirada da pele para a interrupção de seu efeito, se necessário. Se uma sobrecarga de volume contribui para a hipertensão, o uso parcimonioso de um diurético (p. ex., furosemida, de 10 mg por via intravenosa em pacientes que nunca usaram o fármaco a 40 mg por via intravenosa em pacientes que estão acostumados a usá-lo) pode ser útil. Algumas vezes são prescritos corticosteroides para reduzir o edema vasogênico em pacientes com hemorragia intracerebral, mas existem poucas evidências de seu benefício. Agentes antiedematosos fornecem um alívio somente temporário. O tratamento hemostático com fator VII recombinante ativado não melhora o resultado. MANEJO CLÍNICO No pronto-socorro, a triagem dos pacientes com HIC deve ser rápida, com uso de TC para ter acesso a unidades específicas para manejo do AVE ou unidades de terapia intensiva (UTI). É altamente recomendável a observação na UTI ou em ambiente semelhante pelo menos durante as primeiras 24 h, pois o risco de deterioração Yslane Costa - Medicina neurológica é máximo durante esse período e porque a maioria dos pacientes com hemorragia no tronco encefálico ou no cerebelo tem depressão do nível de consciência e necessita de suporte ventilatório. Reversão de emergência da anticoagulação As anormalidades hemostáticas devem ser corrigidas logo que possível. Dentre os pacientes de risco estão aqueles em tratamento com anticoagulantes orais (ACO) por várias indicações, agentes antiplaquetários e deficiências congênitas ou adquiridas de fatores ou plaquetas. A incidência de HIC relacionada com os ACO aumentou durante a última década. Os antagonistas da vitamina K (AVK) são os ACO prescritos com maior frequência, mas é cada vez maior a oferta denovos anticoagulantes orais (NACO) que inibem a trombina ou o fator Xa, como dabigatrana, rivaroxabana e apixabana. Os pacientes com HIC tratados com varfarina devem ser submetidos a reversão imediata com concentrado de complexo protrombínico (PCC) de quatro fatores [25 a 50 U/kg dependendo da razão normalizada internacional (RNI) inicial] e injeção intravenosa direta de 10 mg de vitamina K. Os PCC de quatro fatores contêm os fatores de coagulação II, VI, IX e X, dependentes de vitamina K; normalizam a RNI mais rapidamente que o plasma fresco congelado (PFC); e podem ser administrados em volumes muito menores com rapidez muito maior (Nível I).1 O tratamento nunca deve ser adiado para verificar o coagulograma quando o paciente tem HIC aguda e uma história declarada de uso de ACO. Relatos recentes também descreveram o uso de fator VIIa ativado recombinante (rFVIIa), um potente agente pró-hemostático, para acelerar a reversão da anticoagulação com varfarina em pacientes com HIC. Uma dose intravenosa única de rFVIIa pode normalizar a RNI em minutos, e doses maiores produzem maior duração do efeito. Uma dose típica para reversão da varfarina é de 4 mg. O rFVIIa tem a desvantagem de um risco de 5% de complicações tromboembólicas (AVE isquêmico ou infarto do miocárdio) e, portanto, só é prescrito para acelerar uma intervenção neurocirúrgica para salvar a vida do paciente. Os pacientes com HIC anticoagulados com heparina não fracionada ou de baixo peso molecular devem ser revertidos com sulfato de protamina, e os pacientes com trombocitopenia ou disfunção plaquetária podem ser tratados com dose única de desmopressina (DDAVP), 0,3 μg/kg, transfusões plaquetárias (6 a 8 unidades) ou ambos. Os novos agentes como inibidores diretos da trombina e inibidores do fator Xa constituem um novo desafio para a reversão da HIC associada a coagulopatia, pois atualmente não existe antídoto. No caso de ingestão recente de dabigatrana, foi sugerida a hemodiálise. As possíveis estratégias incluíram atividade de bypass do inibidor de fator VIII (FEIBA), PCC ou rFVIIa. Nessa situação, também é indicado o parecer de um hematologista. Yslane Costa - Medicina Controle da pressão arterial Com frequência, a HIC aguda causa hipertensão arterial extrema. A redução excessiva da pressão arterial (PA) após HIC em caso de comprometimento da autorregulação pode Yslane Costa - Medicina exacerbar a lesão isquêmica, enquanto a ausência de controle da PA pode teoricamente exacerbar a expansão precoce do hematoma e o edema vasogênico. As diretrizes da AHA sugerem que o monitoramento da pressão intracraniana (PIC) deve ser usado em pacientes com grandes hematomas e depressão do nível de consciência para garantir que a pressão de perfusão cerebral (PPC) seja mantida acima de 60 mmHg e recomendem meta de PA sistólica (PAS) inferior a 180 mmHg e meta de PA média inferior a 130 mmHg, em vista da necessidade de controlar com precisão os níveis da PA em caso de comprometimento da autorregulação, recomenda-se o uso de agentes de infusão contínua de ação rápida com monitoramento intra-arterial. Os fármacos preferidos são betabloqueadores [labetalol intravenoso (IV)] e bloqueadores dos canais de cálcio (nicardipino e clevidipino). O uso de nitroprussiato tem desvantagens porque esse agente está associado a maior taxa de complicações médicas e pode exacerbar o edema cerebral e a PIC. O clevidipino, um bloqueador de canais de cálcio di-hidropiridina do tipo L, de ação ultracurta, com início rápido e oposição da ação, também foi aprovado recentemente para a redução da PA. Estudos comparativos demonstraram que o clevidipino é tão seguro e efetivo quanto a nitroglicerina, o nitroprussiato de sódio ou o nicardipino para reduzir a PA, mas tem maior capacidade de manter determinada meta de intervalo. Os fármacos orais e sublinguais não são preferidos por causa da necessidade de controle imediato e preciso da PA. Embora nenhum estudo prospectivo tenha abordado o momento da conversão do tratamento com anti-hipertensivos intravenosos para orais, esse processo geralmente pode ser iniciado entre 24 e 72 h, desde que a condição crítica do paciente tenha se estabilizado. Edema cerebral A HIC volumosa acarreta o risco de edema cerebral e elevação da PIC. O edema encefálico pode avançar durante muitos dias após o início da HIC, porém na maioria das vezes ocorre deterioração neurológica nas primeiras 72 h em pacientes com hemorragias de volume superior a 30 mℓ. A presença de HIV aumenta ainda mais a PIC e o risco de mortalidade. Esse efeito está relacionado principalmente com a ocorrência de hidrocefalia obstrutiva e alterações da dinâmica do fluxo normal de líquido cerebrospinal (LCS). Os pacientes com HIC volumosa, efeito expansivo intracraniano e coma podem ser beneficiados pelo monitoramento da PIC, embora não se tenham comprovado desfechos benéficos dessa intervenção após HIC . O manejo do edema cerebral deve ser guiado por medida da PIC com drenagem ventricular externa ou monitor parenquimatoso, com esforço para manter a PIC abaixo de 20 mmHg e a PPC acima de 70 mmHg. O tratamento deve ser orientado por um algoritmo que inclui sedação, otimização da PA, osmoterapia por injeção IV rápida (bolus), hiperventilação controlada, hipotermia leve e, como último recurso, hemicraniectomia de resgate em pacientes jovens selecionados (ver protocolo detalhado no Capítulo 107). Em geral, o controle empírico da PIC no pronto-socorro começa com 1,0 a 1,5 g/kg de solução de manitol a 20% administrada por acesso IV periférico. A instituição de acesso venoso central possibilita a administração de solução salina hipertônica, como 30 a 60 mℓ de solução salina a 23,4%, administrada por injeção intravenosa direta lenta durante 10 a 20 min. Yslane Costa - Medicina Crises epilépticas Doze por cento dos pacientes com HIC apresentam crises epilépticas durante o período de internação; o risco é maior quando a localização é lobar. A atividade epiléptica em pacientes com HIC deve ser diagnosticada intensivamente e tratada. Os pacientes com HIC podem ser beneficiados por terapia antiepiléptica profilática [fármacos antiepilépticos (FAE)], mas nenhum estudo randomizado abordou o uso dos FAE na HIC; portanto, as diretrizes atuais não endossam o uso de FAE nos pacientes com HIC sem crises epilépticas. Recomenda-se o monitoramento contínuo por eletroencefalograma (EEG) de todos os pacientes comatosos para detectar crises epilépticas ou estado de mal epiléptico. Mesmo com a terapia antiepiléptica, o monitoramento contínuo por EEG mostra atividade epileptiforme eletrográfica em 20% dos pacientes comatosos. Não está claro se a infusão de midazolam ou outras medidas intensivas para eliminar essas crises podem melhorar o desfecho. Se não houver crises epilépticas, deve-se suspender a administração de antiepilépticos por ocasião da alta, pois esses fármacos podem prejudicar a recuperação neurológica durante a reabilitação. Apoio clínico No caso de pacientes que necessitam de suporte ventilatório, deve-se manter a normoxia, evitar a hiperoxigenação de rotina e evitar infecções associadas ao ventilador. Outras medidas na unidade de atenção ao AVE ou na UTI são investigação diagnóstica e avaliação da fala e deglutição para manter suporte nutricional, manutenção de normoglicemia (meta < 180 mg/dℓ), profilaxia gastrintestinal para pacientes intubados e profilaxia de trombose venosa profunda, que podem ser iniciados com segurança 48 h após o início da HIC. A nutrição enteral precoce deve ser iniciada por tubo nasoduodenal em pacientes internados que perdem a capacidade de deglutir para combater a desnutrição e a emaciação muscular. A temperatura corporal deve ser mantida normal com antipiréticos e resfriamento superficial, conforme necessidade. TRATAMENTO CIRÚRGICO Com frequência, a consideraçãomais urgente relativa ao tratamento da HIC é a indicação de evacuação cirúrgica ou instituição de dreno ventricular em caráter de emergência. Em virtude da natureza irreversível da lesão encefálica secundária relacionada à herniação e à PIC, os resultados são sempre melhores quando medidas definitivas para reverter esses processos são tomadas logo que possível. É imprescindível que a intervenção cirúrgica tardia deflagrada por deterioração clínica seja equilibrada pela constatação de que um procedimento realizado mais cedo teria sido o melhor plano. Drenagem ventricular A drenagem ventricular externa é indicada em todos os pacientes torporosos ou comatosos com HIV e expansão ventricular com indicação de suporte intensivo. Esse procedimento, que salva vidas e pode ser realizado à beira do leito, descomprime a abóbada craniana e interrompe o processo de herniação inferior do tronco encefálico, pois permite a drenagem do LCS com sangue para um receptáculo de drenagem. A conexão do sistema de drenagem a um transdutor de pressão também possibilita a medida da PIC. Craniotomia Muitos especialistas acreditam que a craniotomia de urgência pode melhorar o desfecho de pacientes mais jovens com grandes hemorragias lobares e deterioração por efeito Yslane Costa - Medicina expansivo. Ao contrário da HIC supratentorial, há ampla aceitação de que os pacientes com hemorragia cerebelar com diâmetro maior que 3 cm são beneficiados por evacuação cirúrgica de emergência. Nesses pacientes, pode ocorrer deterioração abrupta e drástica para coma nas primeiras 24 h após o início da hemorragia. Desse modo, geralmente é imprudente adiar a cirurgia nesses pacientes até que haja maior deterioração clínica. Como a craniotomia de emergência não melhorou o desfecho neurológico após HIC, o papel de outras técnicas cirúrgicas, como a cirurgia minimamente invasiva (CMI) ganhou importância ao longo da última década. As vantagens da CMI em relação à craniotomia convencional incluem redução do tempo de operação, possibilidade de realização sob anestesia local e redução do trauma cirúrgico. Outras estratégias submetidas a pesquisa aprofundada atualmente são a terapia trombolítica e a remoção cirúrgica de hematomas, a administração intraventricular de trombolíticos para HIV e a hemicraniectomia com duraplastia. Hemorragia cerebelar – A intervenção terapêutica mais importante na hemorragia hipertensiva é a descompressão cirúrgica da fossa posterior ou a remoção endoscópica dos hematomas cerebelares. Isto pode reverter o déficit neurológico e, se feito prontamente, pode evitar um desfecho fatal ou uma deterioração inesperada. As indicações incluem deterioração neurológica, compressão de tronco cerebral e hidrocefalia, mas os resultados são melhores em pacientesconscientes. Hemorragia lobar – A evacuação cirúrgica também pode ser útil para hematomas lobares, em especial aqueles localizados dentro de cerca de 1 cm da superfície cerebral e operados em 12 horas, aproximadamente. Pacientes com função neurológica normal, que começam a deteriorar, são candidatos ideais. A evacuação estereotática ou endoscópica, quando disponível, está associada com menos complicações que a craniotomiaaberta. O prognóstico está diretamente relacionado com o nível de consciência antes da cirurgia, e a cirurgia em geral não é útil em um paciente que já se encontra comatoso. Hemorragia profunda – A cirurgia não está indicada para hemorragias hipertensivas pontinhas ou cerebrais profundas, pois na maioria dos casos a descompressão espontânea ocorre com ruptura para dentro dos ventrículos – e as áreas em questão são acessíveis somente a expensas de um cérebro sobrejacente normal. Hemorragia intraventricular e hidrocefalia – Cada uma dessas complicações é um indicador prognóstico pobre. A drenagem ventricular e a derivação ventriculoperitoneal podem ajudar a remover coágulos intraventriculares, aliviando a obstrução das vias do líquido cerebrospinal. A remoção endoscópica de sangue intraventricular e a administração intraventricular de agentes trombolíticos encontram-se em estudo. PROGNOSTICO INTRACEREBRAL A taxa de mortalidade da HIC é de 35 a 50% em 30 dias e 47% em 1 ano. Os fatores que preveem reiteradamente a morte ou os desfechos adversos na HIC foram estudados com profundidade. Os preditores independentes para morte em 30 dias e 1 ano Yslane Costa - Medicina incluem escala de coma de Glasgow e/ou depressão do nível de consciência, idade, HIC, volume, presença de HIV e origem infratentorial. Uma escala simples de classificação clínica, o ICH Score (Tabela 38.4), permite o cálculo da taxa de mortalidade, com possibilidade de uniformização da terminologia e melhora da comunicação entre os médicos. As taxas de mortalidade para as pontuações de 0, 1, 2, 3, 4 e 5 são 0%, 13%, 26%, 72%, 97% e 100%, respectivamente. Outros fatores associados à alta taxa de mortalidade após HIC são a presença de hemorragia subaracnóidea, pressão diferencial ampla, história de doença coronariana e hipertermia. Os fatores associados a bons desfechos incluem baixa pontuação na National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS) e baixa temperatura por ocasião da internação. Exceto nos casos mais graves, é preciso ter cuidado ao comunicar um prognóstico sem esperança antes de fazer tentativas intensivas de reanimar vítimas de HIC. É cada vez mais evidente que os médicos tendem a subestimar as chances de bom desfecho e que muitos desfechos sombrios resultam de profecias autorrealizáveis de catástrofes. A taxa de mortalidade após HIC é reduzida em pacientes assistidos em uma UTI neurológica. Provavelmente isso é consequência da adesão a melhores práticas médicas, transição precoce para reabilitação e atenção por equipe ou profissionais de saúde com interesse ativo na promoção da sobrevivência e da recuperação. Cálculo do IHC - É uma escala desenvolvida para caracterizar o prognóstico dos pacientes com HI, além de facilitar a tomada de condutas. O cálculo é baseado em aspectos clínicos. -Quanto maior o ICH, maior a mortalidade nos 30 dias subsequentes ao AVC. Em estudos realizados com a escala, nenhum paciente com ICH 0 foi a óbito 30 após 30 dias do AVC, enquanto todos os pacientes com ICH 5 foram a óbito nos 30 dias após o AVC. -Idade acima de 80 anos, sangramento intraventricular, volume maior que 30cm³, escala de coma de Glasgow abaixo de 13 e sangramento infratentorial são dados que apontam para pior prognóstico dos pacientes com HI. Yslane Costa - Medicina HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA Cerca de 20% dos pacientes com HSA tratados em centros de grande volume não sobrevivem para ter alta. Ao contrário do que ocorre com pacientes idosos, indicando que a isquemia tardia por vasospasmo é a principal causa de morte e incapacidade após HSA, atualmente a maioria das mortes está relacionada aos efeitos agudos da hemorragia em pacientes com grau desfavorável. Entre os fatores de risco importantes para mortalidade ou má recuperação funcional após HSA estão o grau clínico desfavorável, a idade avançada, o grande tamanho do Yslane Costa - Medicina aneurisma, a recidiva de sangramento, o infarto cerebral por vasospasmo e o edema cerebral global. Complicações clínicas como febre, hiperglicemia e anemia também foram associadas ao prognóstico sombrio. Ao contrário dos déficits neurológicos focais que costumam suceder o AVE isquêmico, os sobreviventes da HSA apresentam incapacitação principalmente por comprometimento cognitivo. A avaliação neuropsicológica mostra problemas a longo prazo de memória, concentração, velocidade psicomotora, habilidades visuoespaciais ou função executiva em 60 a 80% dos pacientes com HSA. Depressão e ansiedade também são comuns. Esses distúrbios não levam à evidência externa de incapacidade, mas afetam o trabalho, os relacionamentos e aqualidade de vida; cerca de 50% dos pacientes com HSA não recuperam o nível profissional prévio. A reabilitação cognitiva e física é essencial para maximizar a recuperação nos pacientes com acometimento acentuado. DESCREVER AS ESCALAS DE FISHER, HUNT E HESS. Escala prognóstica de Hunt-Hess Em 1968, Willian Hunt e Robert Hess criaram uma escala que classifica a gravidade de uma Hemorragia Subaracnóide no momento da admissão do paciente com base nos achados clínicos. Logo, é de extrema importância o conhecimento do quadro clínico da HSA. A escala de classificação de Hunt e Hess modificada é um ,mecanismo de estratificação do risco de HSA com base no primeiro exame neurológico. Os pacientes com HSA de grau I ou II têm prognóstico relativamente bom, o grau III indica prognóstico intermediário e os graus IV e V, prognóstico sombrio. ESCALAS DE FISHER Em 1980, Fisher et. al desenvolveram o principal estudo que relaciona a localização e a quantidade de sangue do espaço subaracnóideo com o vasoespasmo e prognóstico dos pacientes com essa doença por meio de uma escala radiológica. https://blog.jaleko.com.br/direto-ao-ponto-hemorragia-subaracnoide-hsa/ Yslane Costa - Medicina HSA, hemorragia subaracnóidea; HIV, hemorragia intraventricular. Referências: Neurologia clínica / David A. Greenberg, Michael J. Aminoff, Roger P. Simon ; [tradução: Renate Müller ; revisão técnica: Alessandro Finkelsztejn]. – 8. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: AMGH, 2014. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar da unifesp –EPM. Guia de Neurologia. Paulo Bertolucci, et al. 2011. Semiologia neurológica/Carlos Roberto Martins Jr…. [et al.]; ilustração Danilo dos Santos Silva. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Revinter, 2017. Merritt tratado de neurologia / Elan D. Louis, Stephan A. Mayer, Lewis P. Rowland ; tradução Carlos Henrique de A. Cosendey ... [et al.]. 13. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2018. : il. DIRETRIZES PARA O MANEJO DE PACIENTES COM HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA CEREBRAL ESPONTÂNEA. Arq Neuropsiquiatr 2009;67(3-B):940-950 940 Guidelines / Diretrizes. Octavio M Pontes-Neto et al.
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