Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 TUTORIA 7 – PROBLEMA 6 OBJETIVOS 1- ANALISAR O AVE HEMORRÁGICO CONSIDERANDO, EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO, PREVENÇÃO, TRATAMENTO E EVOLUÇÃO. 2- DESCREVER AS ESCALAS DE FISHER E HUNTER-HESS. ANALISAR O AVE HEMORRÁGICO CONSIDERANDO EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO, PREVENÇÃO, TRATAMENTO E EVOLUÇÃO Aproximadamente 15% de todos os AVEs são hemorragias intracranianas. O AVE hemorrágico pode ser difuso (sangramento para o espaço subaracnóideo ou intraventricular) ou focal (hemorragia intraparenquimatosa). Cerca de dois terços dos casos de hemorragia intracraniana são predominantemente hemorragias subaracnóideas, enquanto 33% são hemorragias intracerebrais. A hemorragia intracerebral é causada com mais frequência pela ruptura de artérias no interior da substância cerebral (hemorragia hipertensiva, malformações vasculares), mas não se estende aos espaços do LCR. Ambos os tipos têm taxas de mortalidade altas, dependendo do subtipo e da localização. A prevenção é o pilar da conduta, porque não há tratamentos suficientemente eficazes para a lesão cerebral induzida por hemorragia. HEMORRÁGIA INTRACEREBRAL PRIMÁRIA CONCEITO A hemorragia intracerebral não traumática primária (hemorragia que não resulta de lesão isquêmica) ocorre predominantemente como consequência de hipertensão crônica mal controlada. Com menos frequência, a responsabilidade fica por conta de uma malformação vascular rota ou angiopatia amiloide. A hemorragia intracerebral também pode ser causada por uma diátese hemorrágica e/ou certas drogas de uso abusivo. EPIDEMIOLOGIA Nos EUA, a hemorragia intracerebral primária é responsável por 10% a 15% dos AVEs e cerca de 80% de todas as hemorragias intracranianas. A incidência anual média nos EUA é de aproximadamente 50.000. A hemorragia intracerebral tem a taxa de mortalidade mais alta de todos os subtipos de AVE, e quase 60% dos pacientes afetados morrem no primeiro ano. O risco de hemorragia intracerebral primária em afrodescendentes é 40% mais alto do que nos brancos. As taxas ajustadas para a idade para homens são cerca de 50% mais altas do que para as mulheres. Como com o AVE isquêmico, a incidência parece estar declinando, concomitantemente com o declínio da hipertensão. FISIOPATOLOGIA A hemorragia intracerebral primária tipicamente consiste em uma grande área confluente de sangue que coagula. A maior parte do sangramento ocorre nas bifurcações de artérias, com proeminente degeneração das camadas média e muscular lisa. Várias semanas mais tarde, o sangue é lentamente removido por fagocitose, e depois de vários meses, PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 resta somente uma pequena cavidade colabada revestida por macrófagos contendo hemossiderina. A ruptura para dentro dos ventrículos, com sangramento no espaço subaracnóideo, costuma ocorrer com grandes hemorragias. O parênquima edemaciado se desenvolve com rapidez em torno do coágulo. Embora as hemorragias possam destruir o tecido cerebral localmente, o exame histológico sugere que o deslocamento de tecido cerebral normal e a dissecção de sangue ao longo dos tratos de fibras sejam responsáveis por grande parte da patologia. Pode existir tecido neural viável e recuperável nas proximidades do hematoma. O fator de risco mais importante é a hipertensão, particularmente em pessoas com menos de 55 anos, tabagistas e que têm pouca adesão ao tratamento com anti-hipertensivos. O consumo crônico excessivo de álcool também aumenta o risco. A hipertensão se associa a hemorragia especialmente na cápsula externa-putâmen, cápsula interna-tálamo, parte central da ponte e cerebelo. Ocorre um número menor de hemorragias na substância branca subcortical, especialmente nos lobos frontal, temporal e occipital. As hemorragias intracerebrais envolvem com mais frequência os lobos cerebrais e se originam da penetração dos ramos corticais perfurantes das artérias cerebrais anteriores, médias ou posteriores (A); gânglios da base e origem dos ramos lenticuloestriados ascendentes da artéria cerebral média (B); tálamo e origem dos ramos talamogeniculados ascendentes da artéria cerebral posterior (C); ponte e origem dos ramos paramedianos da artéria basilar (D);e cerebelo e origem dos ramos penetrantes das artérias cerebelares posteriores inferiores, anteriores inferiores ou superiores (E). Os sequenciais mostram que os hematomas se expandem por muitas horas depois do início do sangramento. O sangramento pode cessar quando a lesão atinge um tamanho suficiente para produzir aumento da pressão tecidual e consequente tamponamento. A angiopatia amiloide é um diagnóstico patológico feito com mais frequência em pessoas com mais de 55 anos. Esta patologia, não relacionada com amiloidose generalizada e às vezes hereditária, comumente produz múltiplas pequenas hemorragias. Costuma aparecer no cérebro de pacientes com doença de Alzheimer e os depósitos de amiloide são vistos na média e na adventícia de artérias de médio e pequeno calibres. Anticoagulação, trombólise e várias anormalidades hematológicas associam-se a hemorragias intracerebrais. A anticoagulação com varfarina em intensidades convencionais (INRde 2,0 a 3,0) associou- se a um risco de hemorragia intracraniana de 1% por ano em muitos pacientes com tendência a AVEs. A complicação mais temida na terapia trombolítica para IAM ou AVE é a hemorragia intracerebral. Também ocorrem hemorragias cerebrais em pacientes com leucemia, policitemia vera, trombocitopenia, hemofilia e outras anormalidades da coagulação, vasculites, neoplasias intracranianas e trombose venosa. Também pode ocorrer em pacientes que abusam de vários simpatomiméticos e de cocaína. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os eventos de rigidez de nuca, convulsões, pressão arterial diastólica >110 mm Hg, vômitos e cefaleia aumentam a probabilidade de um AVE hemorrágico em vez de um AVE isquêmico. Por outro lado, as anormalidades neurológicas causadas por hemorragia intracerebral não diferem daquelas causadas por AVEs isquêmicos, porque a destruição de tecido neural é a PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 base da disfunção neurológica causada por ambas as entidades. As hemorragias podem crescer à medida que o sangramento continua, enquanto as lesões isquêmicas geralmente não mudam de tamanho; em decorrência disso, as hemorragias caracteristicamente determinam perda cada vez maior da função neurológica até que seja atingido um platô, enquanto os AVEs isquêmicos podem flutuar ou permanecer estáticos depois das primeiras fases do AVE. Os pacientes com Hemorragias Maciças no Putâmen ficam letárgicos ou comatosos em minutos a horas depois do início e apresentam paresia contralateral (inclusive da face) com hemianopsia contralateral e paresia do olhar (desvio do olhar para o lado da hemorragia). Hemorragias Cerebelares inicialmente poupam o tronco cerebral, e a consciência em geral é preservada nos primeiros estágios. A cefaleia occipital pode ser o primeiro sintoma. Os achados habituais são marcha instável, ataxia, náuseas e vômitos, que costumam ser graves e repetitivos. Podem estar presentes várias anormalidades dos movimentos oculares. A paresia não é proeminente no início, mas, com a progressão e a compressão do tronco cerebral, desenvolvem-se paresia focal ou bilateral e coma. Pode ocorrer deterioração ainda maior por herniação do tecido cerebelar em direção caudal através do forame magno ou em direção cranial através do tentório; hidrocefalia pode ser causada por obstrução do fluxo do LCR. São menos frequentes as hemorragias talâmicas, que fazem os pacientes perderem a consciência de maneira relativamente rápida; aqueles que sobrevivem costumam apresentar hemiparesia contralateral, déficits sensitivos e hemianopsia homônima. Nas Hemorragias Pontinas graves,os pacientes ficam comatosos, com pupilas muito pequenas, porém reativas. As respostas oculovestibulares costumam ser perdidas cedo, podem ocorrer vômitos, e geralmente tetraplegia e postura extensora bilateral. Podem apresentar a síndrome do cativeiro. As Hemorragias Lobares, que são mais características da angiopatia amiloide do que de hipertensão, geralmente se originam nas junções entre as substâncias cinzenta e branca nos hemisférios cerebrais. A apresentação clínica depende da localização da hemorragia. A maioria dos pacientes é idosa. Sintomas inespecíficos, como cefaleia, náuseas e vômitos, ocorrem com quase a mesma frequência, mas com menos intensidade do que nas hemorragias hipertensivas profundas. DIAGNÓSTICO A hemorragia intracerebral não costuma ser distinguida de outros tipos de AVE com base em achados clínicos apenas. O exame de escolha para diagnóstico é a TC sem contraste, que mostra áreas de hemorragias como zonas de aumento da densidade, que podem ou não ter regiões associadas de diminuição da densidade, indicando infarto. As hemorragias parenquimatosas primárias tipicamente exibem áreas homogêneas de aumento da densidade e um efeito de massa (desvio do tecido normal de sua localização habitual), enquanto os infartos hemorrágicos são caracterizados por áreas de aumento da densidade (sangue) entremeadas com áreas de diminuição da densidade (infarto). Os achados de RM dependem da sequência precisa de imagens e da idade da hemorragia. A RM é capaz de detectar pequenas lesões melhor do que a TC, mas não se tem certeza de quanto da lesão é hemorragia ou hipoperfusão. A angiografia cerebral não é necessária para a avaliação aguda de hemorragias, mas em geral é usada mais tarde para identificar suspeita de aneurisma ou MAV que possa ser considerada para intervenção. TRATAMENTO A conduta aguda é de suporte, sendo os cuidados iniciais direcionados à manutenção das vias respiratórias, oxigenação, nutrição e prevenção e tratamento de complicações secundárias. O tratamento ideal da pressão arterial é incerto, embora as diretrizes gerais para hipertensão excessiva e redução da perfusão cerebral se apliquem como para AVEs isquêmicos. Não há protocolo aceito para o controle de hipertensão intracraniana. A hidratação deve manter a euvolemia. As crises convulsivas são particularmente prejudiciais para pacientes em estado crítico e devem ser tratadas. A manutenção da temperatura corporal normal é teoricamente desejável, porque a febre pode acelerar a destruição tecidual. A administração intravenosa do fator VII a recombinante 4 horas após o início reduz o volume de hemorragia e o edema cerebral circundante, porém não melhora os resultados clínicos. O objetivo do tratamento cirúrgico é remover o que for possível do coágulo no prazo mais rápido. De maneira PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 ideal, a cirurgia deve remover a causa subjacente, como MAV, e prevenir hidrocefalia. PROGNÓSTICO A taxa de fatalidade de casos em 30 dias é, em média, de 30% a 50%. A maioria dos óbitos precoces decorreu das consequências neurológicas diretas da hemorragia; a gravidade do sangramento (volume, extensão aos ventrículos, idade, infratentorial) e o nível de função neurológica são os melhores preditores de maus resultados. O risco de pelo menos um novo sangramento pode chegar a 25% nos anos seguintes. O controle da hipertensão leve a moderada diminui o risco de AVE hemorrágico de 33% a 50%. HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA CONCEITO A hemorragia subaracnóidea geralmente é causada por ruptura de vasos na superfície ou nas proximidades do cérebro ou dos ventrículos (aneurismas, malformações vasculares), com sangramento predominantemente para os espaços do LCR. EPIDEMIOLOGIA Nos EUA, ocorrem cerca de 30.000 novos casos a cada ano, afetando predominantemente adultos jovens. Ambos os sexos são igualmente afetados, e a taxa pode ser o dobro entre os afro-americanos, com relação aos brancos. A ruptura de aneurismas é, de longe, a causa mais comum de hemorragia subaracnóidea não traumática. Avanços no diagnóstico por imagens têm melhorado a detecção dos aneurismas intracranianos, porém a maioria dos casos não é descoberta até depois da ruptura. Os fatores de risco incluem tabagismo, uso abusivo de álcool, drogas ilícitas, fenilpropanolamina e outros simpatomiméticos. O declínio da hipertensão na população geral não foi acompanhado por diminuição na taxa de incidência de hemorragia subaracnóidea. FISIOPATOLOGIA As principais causas são aneurismas e malformações arteriovenosas (MAVs), mas traumas também podem causar hemorragia subaracnóidea. Causas raras incluem vasculite, neoplasias do SNC e distúrbios hematológicos, como hemofilia, coagulopatia intravascular disseminada e púrpura trombocitopênica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O sintoma clássico é uma cefaleia grave de desenvolvimento muito rápido, tipicamente chamada de “a pior dor de cabeça da minha vida” e algumas vezes acompanhada por rigidez de nuca. Os aneurismas podem gerar sinais e sintomas prodrômicos, à medida que se expandem gradualmente ou causam hemorragias sentinela (de aviso) que produzem cefaleia focalou generalizada. Tais cefaleias sentinela são frequentemente graves e podem ser acompanhadas por náuseas ou vômitos e causar irritação meníngea. A pressão arterial costuma estar elevada, e a temperatura corporal geralmente aumenta, particularmente durante os primeiros dias depois do sangramento, pois os produtos do sangue subaracnóideo causam meningite química. Ocorre alteração transitória do estado mental em quase metade dos pacientes, particularmente se a pressão intracraniana exceder a pressão arterial média cerebral. Os pacientes podem continuar em coma por vários dias, dependendo da localização do aneurisma e da quantidade de sangramento. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 A hemorragia subaracnóidea aguda causa irritação meníngea, rigidez de nuca e fotofobia, que podem requerer várias horas para se desenvolver. A observação oftalmoscópica revela hemorragias pré- retinianas bem circunscritas e de cor vermelho-vivo, conhecidas como hemorragias sub-hialoides. Disfunção neurológica focal geralmente não é uma característica proeminente, a menos que um aneurisma comprima as estruturas cerebrais em volta, um jato de sangue disseque diretamente uma região cerebral clinicamente eloquente, ou subsequentemente, se desenvolva um vasoespasmo. DIAGNÓSTICO Achados Laboratoriais O hemograma completo, incluindo plaquetas, deve ser pedido, e os tempos de coagulação devem ser determinados para avaliar se o paciente tem infecção ou anormalidades de coagulação. O sangue deve ser mandado para análise de eletrólitos para servir de base para a detecção de complicações mais tardias. Exames Por Imagem O paciente deve ser enviado imediatamente para fazer uma TC de emergência. Um exame realizado 24 horas após o início geralmente revela uma área de alta atenuação do sinal compatível com hemorragia; se houver presença de sangue no espaço subaracnóideo, será detectado dentro das cisternas basais em mais de 90% dos pacientes. Após 48 horas do início, a sensibilidade da TC declina para 75%. As sequências convencionais de RM são menos sensíveis que a TC. Alta atenuação do sinal nas cisternas basais, na fissura de Sylvius, ou na fissura intra-hemisférica costuma indica ruptura de um aneurisma sacular, enquanto concentrações mais altas de sangue sobre as convexidades ou no interior do parênquima superficial do cérebro são mais compatíveis com a ruptura de MAV ou de um aneurisma micótico. Se a TC for normal, mas o índice de suspeita continuar alto para hemorragia subaracnóidea, uma punção lombar geralmente fará o diagnóstico. Um acidente de punção produz um número decrescente de hemácias em tubos subsequentes, enquanto a hemorragia subaracnóidea produz umnúmero relativamente constante de hemácias em cada tubo. A pressão inicial do LCR costuma estar elevada e pode permanecer assim por muitos dias. As amostras de LCR obtidas no primeiro dia podem exibir uma contagem de leucócitos compatível com a proporção normal de leucócitos para hemácias circulantes (cerca de 1:1.000). A meningite química é produzida pela presença de sangue ou produtos de degradação no interior do espaço subaracnóideo, e as amostras de LCR contêm aumento do número de células polimorfonucleares e mononucleares, com relação às hemácias. A glicorraquia geralmente é normal logo após o início do sangramento, mas, à medida que se desenvolve meningite química, o nível de glicose pode declinar, raramente para menos que 40 mg/dL. Após a hemorragia subaracnóidea, a proteinorraquia geralmente está elevada, compatível com contaminação por sangue. A angiografia cerebral continua sendo o estudo definitivo para identificar o foco de hemorragia. A presença de dor nas costas ou de sinais neurológicos localizados na medula espinal no início deve apressar a pesquisa de um foco de hemorragia medular. Se a angiografia inicial for negativa e não houver outros indícios do ponto de sangramento, geralmente se repete o exame em algumas semanas; a RM ou a TC também podem ser úteis. DESCREVER AS ESCALAS DE FISHER E HUNTER-HESS PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 ESCALA DE FISHER Em 1980, Fisher et. al desenvolveram o principal estudo que relaciona a localização e a quantidade de sangue do espaço subaracnóideo com o vasoespasmo e prognóstico dos pacientes com essa doença por meio de uma escala radiológica. Nos pacientes com essa condição, a tomografia computadorizada (TC) de crânio possui, além do valor diagnóstico, uma importância na avaliação do prognóstico. A escala de Fisher prevê o risco de vasoespasmo em pacientes com hemorragia subaracnóidea aneurismática com base na distribuição radiográfica da hemorragia. Para isso, utiliza-se informações sobre o volume e a localização do sangramento observado na TC de crânio inicial, a escala classifica os pacientes com HSA aneurismática em quatro grupos: Em exame de imagem: ESCALA DE HUNTER-HESS Em 1968, Willian Hunt e Robert Hess criaram uma escala que classifica a gravidade de uma Hemorragia Subaracnóide no momento da admissão do paciente com base nos achados clínicos. A partir da escala, é possível determinar o risco de mortalidade cirúrgica. As pontuações mais altas, que refletem a gravidade progressivamente maior da hemorragia e consequente disfunção neurológica, estão associadas a uma mortalidade geral mais alta. https://blog.jaleko.com.br/direto-ao-ponto-hemorragia-subaracnoide-hsa/ https://blog.jaleko.com.br/direto-ao-ponto-hemorragia-subaracnoide-hsa/
Compartilhar