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Atendimento Familiar

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Brasília-DF. 
Atendimento FAmiliAr 
Elaboração
Karina Santos da Fonseca
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
ATENDIMENTO FAMILIAR ........................................................................................................................ 9
CAPÍTULO 1
HISTÓRIA DA TERAPIA FAMILIAR ................................................................................................ 9
CAPÍTULO 2
TERAPIA FAMILIAR .................................................................................................................. 18
CAPÍTULO 3
AS ESCOLAS E A TERAPIA PÓS-MODERNA ............................................................................... 26
CAPÍTULO 4
ATENDIMENTO PSICOLÓGICO FAMILIAR E O GENOGRAMA .................................................... 34
CAPÍTULO 5
TERAPIA FAMILIAR E TRANSGERACIONALIDADE ........................................................................ 45
CAPÍTULO 6
RELAÇÕES FAMILIARES E TEORIA SISTÊMICA ............................................................................ 48
PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 58
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para 
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
6
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
Introdução
O Assistente Social, no exercício de suas atribuições, possui a necessidade do 
conhecimento do atendimento familiar. 
Por isso, torna-se relevante a obtenção de informações sobre o atendimento psicológico 
familiar e as relações familiares e a teoria sistêmica. 
Este caderno de estudos, portanto, tem o objetivo de proporcionar informações acerca 
do Atendimento Familiar, com o compromisso de orientar os profissionais da área de 
Serviço Social, para que possam desempenhar suas atividades com eficiência e eficácia.
Objetivos
 » Conhecer a origem do atendimento familiar.
 » Identificar a importância do atendimento psicológico familiar.
 » Levantar informações relevantes sobre as relações familiares e a teoria 
sistêmica. 
9
UNIDADE ÚNICAATENDIMENTO 
FAMILIAR
CAPÍTULO 1
História da terapia familiar 
Família: Grupo de pessoas ligadas entre si por laços de casamento ou de 
parentesco, ou conjunto de ancestrais ou descendentes de um indivíduo ou 
linhagem. 
Larousse Cultural, 1992.
Embora a Teoria Geral dos Sistemas e a Cibernética, tenham surgido em bases 
comuns, logo os diferentes sistemas de crenças, envolvidos na elaboração de teorias, 
resultaram em diferentes modelos de terapia familiar, caracterizados por sistemas de 
inteligibilidade diversos. Com isso, surgiram as distintas escolas de terapia familiar, 
com suas descrições, compreensões e interpretações próprias, podendo divergir apesar 
de terem os mesmos pontos de partida.
Na década de 1950 surgiu nos Estados Unidos a Terapia de Família. Inúmeros fatores 
contribuíram para que o seu surgimento ocorresse nesse país e nessa época, dentre os 
quais podemos citar como sendo um dos mais relevantes o pós-guerra. Nessa época de 
transformações que ocorriam nos Estados Unidos em diversas áreas, como o aumento 
da industrialização, a participação das mulheres no mercado de trabalho, novas 
tecnologias, relações sociais modificadas, aumento do acesso à educação, entre outras, 
foram as consequências da consolidação da expansão que já vinha ocorrendo desde a 
Segunda Guerra Mundial.
De acordo com Ponciano (1999), todas essas transformações geraram um clima de 
otimismo e fé no futuro, o que favoreceu o aumento das famílias e a crença de que a 
família era um lugar da felicidade. 
A Segunda Guerra proporcionou um ambiente intelectual e diversificado com a 
imigração, de vários profissionais de diversas áreas da Europa para os Estados Unidos. 
10
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
Esses imigrantes levaram consigo suas histórias e experiências vividas durante a guerra 
e esses acontecimentos tiveram efeito importante sobre as disciplinas relacionadascom a saúde mental. Isso porque, em situações de guerras a capacidade que as pessoas 
costumam ter de possuir o controle sobre as próprias vidas e destino parece ser posta 
à mercê de forças sobre as quais elas não têm nenhum controle. Para Bloch e Rambo 
(1998) a consciência da importância do contexto social sobre a vida dos indivíduos 
nessa época aumentou rapidamente e adquiriu maior complexidade.
Neste contexto, de forma paralela ocorreu a união de psicanalistas judeus europeus com 
psiquiatras militares norte-americanos parcialmente treinados que retornavam aos 
Estados Unidos sem muita perspectiva profissional, o que resultou no crescimento do 
movimento psicanalítico, e abriu as portas para terapias ativas que vieram suplantar a 
psiquiatria biológica inicial. Em um curto período de tempo o movimento psicanalítico 
dominou o cenário psiquiátrico norte-americano, ao mesmo tempo em que começaram 
a surgir sinais de descontentamento com essa teoria.
Segundo Bloch e Rambo (1998), o descontentamento com esse modelo teve origem 
em alguns pontos, sendo os principais, o caráter limitado do modelo freudiano de 
desenvolvimento psicológico feminino; as mudanças dos paradigmas nas ciências sociais 
e naturais, o que inclui a física pós-einsteiniana, a teoria da informação, a cibernética, 
a linguística e a teoria geral dos sistemas; a consciência dos limites das noções de saúde 
mental e a tomada de consciência em relação à importância do contexto, o que segundo 
os críticos estaria em desacordo com a psicanálise, já que esta teria seu enfoque voltado 
para a história passada, na experiência interna do indivíduo expressa em sequências 
intrapsíquicas.
O trabalho inicial centrado na família iniciou-se como pesquisa voltada, principalmente, 
para famílias com pacientes esquizofrênicos e delinquentes que não estavam se 
beneficiando dos tratamentos convencionais. As primeiras e principais pesquisas 
direcionadas às famílias com pacientes esquizofrênicos foram as realizadas por Gregory 
Bateson, Don Jackson, Weakland, Haley, Bowen, Lidz, Whitaker, Malone, Scheffen e 
Birdwhistle, a maioria descrita no livro organizado por Bateson et al. (1980) Interación 
familiar. Já as pesquisas direcionadas às 
famílias com delinquentes tiveram seu marco inicial no projeto Wiltwick, realizado por 
Minuchin, no início da década de 1960.
Segundo Grandesso (2000), essas pesquisas representam o início de um novo campo 
que começava a se desenvolver e que tinha como principal característica a mudança 
de foco da prática terapêutica no indivíduo e processos intrapsíquicos, para a família, 
com ênfase nas interações entre seus membros. Diferente de outras correntes teóricas, 
11
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
como a psicanálise, por exemplo, que tinha no seu início suas formulações centradas 
em torno de um autor principal, esse novo campo começou a se desenvolver com muitas 
influências, vindas de diversos campos e autores. As influências mais marcantes na 
formação desse campo foram da Teoria Geral dos Sistemas e da Cibernética.
Na década de 1930 foi desenvolvida por Ludwig Bertalanffy a Teoria Geral dos 
Sistemas, tendo por objetivo desenvolver leis que explicassem o funcionamento de 
sistemas gerais, independentes de sua natureza. Era também, uma tentativa de aplicar 
princípios organizacionais a sistemas biológicos e sociais (RAPIZO, 1996). Junto a um 
biomatemático e um fisiologista, Bertalanffy criou o Centro de Estudos Superiores das 
Ciências do Comportamento, que mais tarde se tornou a Sociedade de Pesquisa Geral 
dos Sistemas, com o objetivo de desenvolver estudos sobre sistemas teóricos que fossem 
aplicáveis a mais de uma das disciplinas tradicionais da ciência.
De acordo com essa teoria, existiam princípios e leis que se aplicam aos sistemas em 
geral, independente de seu tipo particular, da natureza de seus elementos e das relações 
que atuam entre eles. A busca por princípios universais aplicáveis aos sistemas em 
geral, obteve como resultado três propriedades que estariam presentes em sistemas:
 » a totalidade, que se refere ao fato de todos os sistemas serem compostos 
de elementos interdependentes e em interação; 
 » a relação, que diz respeito às estruturas básicas dos elementos e ao modo 
como eles se relacionam; 
 » a equifinalidade, que é a característica de o mesmo estado final poder 
ser alcançado partindo de diferentes condições iniciais e de diversas 
maneiras.
De acordo com Ponciano (1999) para definir essas propriedades, essa teoria operou o 
deslocamento da ênfase no conteúdo para a estrutura.
A palavra cibernética vem do grego kybernetes, que significa piloto, condutor. Tal 
palavra foi escolhida pelos criadores da cibernética, Wiener, Rosenblueth e Bigelow, 
para nomear o campo do conhecimento que se ocupa da teoria do controle e da 
comunicação na máquina e no animal. Ao escolherem esse nome, gostariam que fosse 
associado às máquinas que pilotam os navios, por estas serem as primeiras e mais 
bem desenvolvidas formas de feedback, conceito central de sua teoria. À medida 
que suas ideias foram apresentadas, outros cientistas se interessaram e perceberam 
claramente a analogia entre o funcionamento do sistema nervoso e o funcionamento 
das máquinas de computação. Com o desenvolvimento de pesquisas e sua importância 
12
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
para a guerra, visto que a construção de máquinas computadoras era essencial naquele 
momento histórico, em 1946 aconteceu a primeira de uma série de conferências 
dedicadas ao tema do feedback como promoção da Fundação Josiah Macy, em Nova 
York (VASCONCELOS, 2003).
A cibernética evoluiu enquanto teoria e o momento descrito é conhecido como primeira 
cibernética. A segunda cibernética surge com a introdução do conceito de morfogênese, 
feita por Maruyama (1968). Segundo esse autor, além da sobrevivência dos sistemas 
depender de sua capacidade de manter o equilíbrio e organização apesar das modificações 
do meio (morfoestase), um sistema vivo necessita, também, modificar sua organização 
básica para se adaptar às situações do meio. Dessa forma, o mecanismo chamado por 
ele de morfogênese, funcionava com sequências que amplificavam o desvio, fazendo 
com que o sistema conseguisse sobreviver adaptando-se às condições externas. Esses 
dois momentos, a primeira e segunda cibernéticas constituem a Cibernética de Primeira 
Ordem, que evoluiu para o que conhecemos como Cibernética de Segunda Ordem.
Para Vasconcelos (2003), essa passagem da Cibernética de Primeira para a de 
Segunda Ordem representa uma mudança paradigmática nas ciências como um todo, 
com o surgimento do que ela denomina cientista novo-paradigmático, ressaltando 
a mudança que ocorre no cientista e não na ciência como algo independente. Nesse 
novo paradigma alguns pressupostos básicos da ciência tradicional são substituídos, 
a partir de problemas que surgem no limite dessa ciência. Dessa forma, as dimensões 
da simplicidade, da estabilidade e da objetividade, são substituídas pela complexidade, 
instabilidade e intersubjetividade, ou objetividade entre parênteses.
Todas essas teorias influenciaram o campo da Terapia de Família desde início e 
continuaram a influenciar o seu desenvolvimento, havendo modificações que ocorreram 
paralelamente em ambas. Em um primeiro momento o principal responsável pela 
aproximação entre a Teoria Geral dos Sistemas e a Cibernética, e a área “psi” é 
o antropólogo Gregory Bateson, que veio a ser o grande mentor do que se tornou a 
Abordagem Sistêmica na Terapia de Família.
Novos aportes filosóficos, as questões da linguagem, a construção conjunta de 
significados (construtivismo e construcionismo social), as contribuições da nova física 
e os novos conhecimentos sobre o funcionamento do cérebro e da mente, formam 
um pano de fundo para o surgimento de novas escolas de Terapia Família, que sem 
abandonar completamente os pressupostos anteriores, passam a explorar as narrativas 
dos diversos membros de uma família novasdescrições para as histórias familiares, que 
tragam mais recursos para o funcionamento da família. O Terapeuta deixa de ser um 
observador externo, um “expert” em detectar problemas, para se transformar em um 
13
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
articulador, um mediador de conversações, mais preocupado em conhecer como esta 
família se organiza e opera, quais os significados que são ou não compartilhados por 
seus membros.
No Brasil podemos destacar como grandes nomes da Terapia Familiar; Marilene 
Grandesso, Maria José Esteves, Terezinha Féres, Rosa Macedo, Sandra Fedulo, 
Roberto Faustino (Recife), Rosana Rapizzo, Luiz Carlos Prado, dentre outros. É 
possível compreendermos que o sistema familiar vive interações que repercutem no seu 
desempenho, tanto em seu ambiente interno como externo. Desta forma, conseguimos 
entender um dos principais pilares da Terapia Familiar que é a circularidade que 
estuda atenciosamente, as sequências interacionais dos familiares, para um olhar 
mais aprofundado acerca dos fatores que estão “segurando” o padrão comportamental 
familiar. Sabe-se que todo sistema faz parte de um sistema maior, por esse motivo, é 
importante relacionar a família, observando-se sua rede de subsistemas, mediante a 
leitura de contextos mais amplos, ou seja: indivíduo, grupo, comunidade, sistema de 
crenças, cultural, político.
A família é compreendida como um sistema aberto, e, dependendo de como administra 
suas relações, poderá trabalhar para diante de um desafio, problema, continuar na sua 
zona de conforto e não propiciar a mudança, ficando na homeostase. Pode também 
trabalhar no favorecimento da mudança buscando condições de superação e novos 
significados.
É importante ressaltar que a Terapia Familiar dos dias atuais, tem seus paradigmas 
baseados na ciência pós-moderna e se apoia nos seguintes conceitos:
 » complexidade (não existe só uma realidade): base no multiverso; há 
diferentes olhares, múltiplos significados acerca de um mesmo fato.
imprevisibilidade: compreender que as imprevisibilidades existem, pois 
muitos fatos não estão sob o nosso controle;
 » intersubjetividade-influências recíprocas entre o observador e a realidade 
observada: negação da neutralidade. Ou seja, enquanto participante do 
processo terapêutico, o terapeuta, também, coloca nesse percurso suas 
vivências.
A Teoria Sistêmica nos ensina a olhar como a vida das pessoas é moldada pelas interações 
tanto com seus familiares como pelos contextos nos quais estão inseridos. O contexto 
familiar é compreendido de forma menos objetiva e mais complexa, na qual se vai em 
busca dos diversos significados dos membros familiares e da família como um todo. O 
terapeuta familiar deverá atuar como um facilitador, ajudando nesse processo de curar 
feridas e também de mobilizar talentos e recursos.
14
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
Para tal é preciso que ao trabalhar no processo terapêutico familiar, o terapeuta possa 
se aprofundar nos seguintes pontos significativos:
 » contexto relacional;
 » circularidade dos comportamentos: individual e familiar, emocional, 
afetivo, cognitivo;
 » padrão de comportamento familiar – abertura/fechamento à mudança;
 » estrutura familiar: subsistemas, fronteiras, triângulos, alianças, colisões, 
hierarquia, papéis;
 » heranças familiares e suas influências: proximidade e diferenciação, 
sentimento de pertencer à família através dos seus valores e aprendizados, 
mas também se trabalhar em busca de um sentido de autoria própria: 
autonomia. 
Esse olhar familiar é transgeracional focando a família de origem e a família nuclear. 
Muitas vezes, trabalhamos com a compreensão de três gerações; processos de 
comunicação;
 » crenças, valores, significados;
 » ciclos de vida familiar;
 » função do sintoma na família.
O terapeuta familiar sistêmico procura desenvolver uma epistemologia voltada à 
atenção de como evolui na sua forma de conhecer, atuar, mediante a observação atenta 
dos seus valores, sua visão de mundo, e a forma através da qual faz a integração desses 
fatores ao contexto terapêutico. Seu olhar é, continuadamente, voltado ao contextual, ao 
relacional, sem esquecer também o valor do fator individual em cada sistema familiar, 
refletindo o terapeuta, que ao mesmo tempo é parte integrante do sistema.
Contextualizando uma visão pós-moderna sistêmico-si-cibernética, dentro do conceito 
da Terapia familiar, Maria José Esteves (1998) coloca que é importante reforçar os 
seguintes pontos:
 » entender que a família é um sistema aberto e que o terapeuta não está 
a serviço de reparar ou consertar a disfunção. Importante o trabalho 
cooperativo entre família e terapeuta voltando o olhar à família também 
como recurso e não só dificuldade;
15
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
 » a intersubjetividade do terapeuta deverá ser compreendida e incluída no 
contexto do sistema: o terapeuta deverá, ao mesmo tempo que faz parte 
do sistema, dele tomar distância para refletir conteúdos que são seus e 
das famílias;
 » sabendo que não existe apenas uma realidade, o terapeuta precisa estar 
consciente das suas ideias que tem acerca das patologias, estruturas 
disfuncionais, seus preconceitos, das suas demandas, para que colocando 
tudo isso em parênteses, possa estar aberto para visões alternativas;
 » é essencial que o terapeuta aja como facilitador da autonomia do cliente, 
vez que ele tem a função de “arquiteto do diálogo”, que incentiva condições 
e facilita a abertura para a criação do espaço dialógico;
 » o terapeuta deverá compreender que adotar o pensamento circular não 
significa anular o pensamento linear, que faz parte da sobrevivência 
de todos nós. Importante é focalizar ideias, sentimentos e ações, 
compreendendo como esses se entrelaçam e contribuem ao sentido de 
autoria das famílias, olhando também as condições de interdependência 
dessas situações;
 » fundamental ao terapeuta pós-moderno é investir, continuadamente, no 
exercício de aprender sobre terapia familiar, aprender como fazer terapia 
familiar e aprender como ser um terapeuta de família.
Vivemos hoje na terapia familiar a uma multiplicidade de abordagens, tantos quantos 
forem os terapeutas em questão. Contudo, a ausência de um purismo de abordagens 
não significa uma anarquia epistemológica se considerarmos os marcos referenciais da 
pós-modernidade como seus denominadores comuns. Uma coerência epistemológica 
une as práticas pós-modernas de terapia em torno de alguns pressupostos teóricos 
comuns que organizam a ação dos terapeutas. 
 » A consciência de que o terapeuta coconstrói no sistema terapêutico em 
ação conjunta com a família, a definição do problema e das possibilidades 
de mudança. 
 » A crença de que toda mudança só pode se dar a partir da própria pessoa 
e da sua organização sistêmica autopoiética, sendo responsabilidade e 
especialidade do terapeuta a organização da conversação terapêutica. 
 » A mobilização dos recursos da família, da comunidade, das redes de 
pertencimento, legitimando o saber local de pessoas e contextos. 
16
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
 » Uma concepção não essencialista de self, compreendido como construído 
no contexto das relações e práticas discursivas. 
 » A visão da pessoa como autora de sua história e existência, competente para 
a ação, para o agenciamento de escolhas a partir de um posicionamento 
autorreflexivo, moral e ético, podendo criar e expandir suas possibilidades 
existenciais. 
 » A ênfase sobre os significados socialmente construídos na linguagem e 
nos espaços dialógicos, sendo construídos nos discursos emergentes e, ao 
mesmo tempo, responsáveis por suas transformações. 
 » A crença no diálogo, definido como um cruzamento de perspectivas, 
como uma prática social transformadora para todos os envolvidos, 
independente de seu lugar como terapeuta e cliente. 
 » A ênfase nas práticas de conversação e nos processos de questionamento 
como recurso para gerar reflexão e mudança, conforme expande oshorizontes de terapeutas e clientes. 
 » A adoção de postura hermenêutica em que a compreensão é coconstruída 
intersubjetivamente pelos participantes da conversação. 
 » A ênfase muito mais no processo do que no conteúdo das histórias, 
compreendendo as narrativas como locais e, portanto, idiossincráticas. 
Refletindo sobre o panorama atual da Terapia Familiar podemos considerar que 
sua consistência decorre de uma epistemologia unificadora pós-moderna apoiada 
numa hermenêutica contemporânea construída na intersubjetividade, envolvendo 
a pessoa do terapeuta como coconstrutor das realidades com as quais trabalha. A 
prática dessas terapias ditas pós-modernas envolve um trânsito do terapeuta entre 
teoria e prática de modo epistemologicamente coerente, de acordo com os meios que 
se lhe apresentem mais úteis e despertem seu entusiasmo e criatividade enquanto 
interlocutor qualificado.
Enquanto uma prática social transformadora esta terapia se organiza a partir dos 
contextos locais e das histórias culturais de distintas comunidades linguísticas. 
O respeito pela diversidade e multiplicidade de contextos com seus saberes locais 
implica numa terapia construída a partir da aceitação da responsabilidade relacional 
do terapeuta, legitimando os direitos humanos de bem-estar e de exercício da livre 
escolha.
17
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Os imensos desafios que se apresentam para o terapeuta, vindos do campo da saúde 
mental, das instituições voltadas para o cuidado e tratamento da pessoa, dentro 
de uma perspectiva pós-moderna, convidam para a humildade na construção do 
conhecimento e conduzem, cada vez mais para uma ação transdisciplinar numa 
instância de trocas colaborativas entre os distintos domínios de saber e no uso de 
técnicas como recursos a serviço do bem-estar. O caráter autorreferencial e de reflexo 
presente nas terapias pós-modernas, desafiam o terapeuta a tornar explícitos os seus 
pré-juízos, os seus valores, suas opções ideológicas, nos limites da sua subjetividade, 
estabelecendo parâmetros para a clínica que pratica harmonizando de forma estética 
teoria e prática a serviço do bem estar das famílias que são atendidas.
18
CAPÍTULO 2
Terapia familiar 
A família é uma unidade social que enfrenta uma série de tarefas de 
desenvolvimento. Estes diferem de acordo com os parâmetros das diferenças 
culturais, mas têm raízes universais. 
Minuchin
A Terapia Familiar estuda os indivíduos enquanto parte integrante de sistemas 
interpessoais, que por sua vez servem de contexto explicativo das condutas. Este 
enfoque, é uma explicação da denominada Teoria Geral dos Sistemas (TGS), no que 
concerne ao campo comportamental.
A Teoria Geral dos Sistemas é um modelo abstrato com um nível de generalização tal 
que se pode aplicar a diferentes ciências. O que os psicoterapeutas familiares fizeram 
foi tomar os seus conceitos básicos e utiliza-los ao campo da Terapia Familiar.
O conceito de família está diretamente relacionado a uma unidade fundamental que 
acompanha a formação e o desenvolvimento do ser humano. Sua composição ocorre por 
pessoas que estabelecem entre si profundas ligações emotivas, que são naturalmente 
complexas e diferentes ao longo da vida e muitas vezes unem várias gerações, podendo 
possuir elementos que, não tendo ligação biológica com a família, são afetivamente 
muito importantes no enredo das relações familiares. A família designa assim um 
conjunto de elementos emocionalmente ligados entre si.
A Terapia Familiar é um diálogo que se constrói e desenvolve no tempo, envolvendo um 
terapeuta disponível e uma família normalmente em grande sofrimento.
É uma procura de novas alternativas que não passa por resolver problemas e corrigir 
erros, mas, principalmente, por colocar em evidência a competência da própria família, 
ativando a sua participação na resolução dos seus problemas.
Os terapeutas não transformam, mas suscitam ocasiões favoráveis às mudanças, 
costumam orientar o seu foco de intervenção mais para o modo como os padrões de 
interação sustentam um problema, do que propriamente para a identificação das suas 
causalidades. Considera-se que a família como um todo é maior do que a soma das 
partes.
19
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
A Terapia Familiar, muitas vezes está associada à sua variante de terapia de casal, 
e conhecida como terapia familiar sistêmica devido à sua origem no seio do modelo 
sistêmico, é um tipo de terapia que se aplica a casais ou famílias, onde os membros 
possuem algum nível de relacionamento. A terapia familiar sistêmica tende a 
compreender os problemas em termos de sistemas de interação entre os membros de 
uma família. Desse modo, os relacionamentos familiares são considerados como um 
fator determinante para a saúde mental e os problemas familiares são vistos mais como 
um resultado das interações sistêmicas, do que como uma característica particular de 
um indivíduo.
O pensamento sistêmico surgiu no século XX em contraposição ao pensamento 
“reducionista-mecanicista” herdado dos filósofos da Revolução Científica do século 
XVII, como Descartes, Bacon e Newton. 
É uma forma de abordagem da realidade que compreende o desenvolvimento humano 
sobre a perspectiva da complexidade, o mesmo não nega a racionalidade científica, 
porém acredita que ela não oferece parâmetros suficientes para o desenvolvimento 
humano, sendo assim deve ser desenvolvida conjuntamente com a subjetividade das 
artes e das diversas tradições espirituais. É considerado como componente do paradigma 
emergente, representado por cientistas, pesquisadores, filósofos e intelectuais de vários 
campos. Por definição, aliás, o pensamento sistêmico inclui a interdisciplinaridade. É 
importante destacar que ele é percebido através da abordagem sistêmica que lança seu 
olhar não somente para o indivíduo isoladamente, pois considera também seu contexto 
e as relações aí estabelecidas.
Para se pensar de forma sistêmica é necessário ter uma nova forma de olhar o mundo 
e o homem, além disso, também é exigida uma mudança de postura por parte do 
cientista, postura esta que propicia ampliar o foco e entender que o indivíduo não é o 
único responsável por ser portador de um sintoma, mas sim que existem relações que 
mantém este sintoma. 
De acordo com Capra (1996), o pensamento sistêmico tem raízes 
teóricas na biologia organísmica, na física quântica, na psicologia 
Gestalt e na ecologia. É uma disciplina, e não uma tecnologia, porque 
constitui um regime de ordem livremente consentida pela pessoa ou 
grupo interessado. Entretanto, é possível “empacotar” (codificar) os 
princípios da dinâmica de sistemas como tecnologia de modelagem 
matemática (BRIDGELAND,1998).
20
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
A terapia familiar sistêmica consiste em uma abordagem terapêutica em que todos os 
indivíduos participam da sessão, a família funciona como um todo, onde as pessoas 
interagem umas com as outras e influenciam essas relações em apoio mútuo.
O terapeuta familiar pode oferecer uma melhora das interações no interior do sistema 
familiar e fazer um processo de recodificação de mensagens, onde possibilita a maior 
compreensão nas suas comunicações. Também pode facilitar uma busca e descoberta 
de novos caminhos de relação sistêmica, incitar a todos para atuarem e descobrirem 
onde convém introduzir mudanças para favorecer uma evolução e um amadurecimento 
ao paciente identificado e em todo sistema.
A terapia familiar evoluiu a partir de uma multiplicidade de influências tendo recebido 
contribuições de diferentes áreas do conhecimento. Desde o início da formulação da 
psicanálise, Freud considerou e ressaltou em seus estudos as relações familiares em 
Fragmento da Análise de um Caso de Histeria (1905), ele afirma que devemos prestar 
tanto atenção às condições humanas e sociais dos enfermos quanto aos dados somáticos 
e aos sintomas patológicos, ressaltando que o interesse do psicanalista deve dirigir-se 
sobretudopara as relações familiares dos pacientes. Freud faz referência à família em 
vários outros momentos de sua obra. Em uma das suas conferências ele se refere às 
resistências externas, emergentes das circunstâncias do paciente, de seu ambiente, que 
interferem no processo analítico e que podem explicar um grande número de fracassos 
terapêuticos. Ressalta que, muitas vezes, quando a neurose tem relação com os conflitos 
entre os membros de uma família, os membros sadios preferem não prejudicar seus 
próprios interesses a colaborar na recuperação daquele que está doente. Todavia, apesar 
da preocupação com as relações familiares e da importância que atribui a elas, Freud, 
como sabemos, não desenvolveu uma teoria da família nem tampouco uma técnica de 
atendimento familiar.
Na área “psi”, podemos ressaltar algumas postulações teóricas de autores que colaboram 
para o surgimento da terapia familiar. Um importante precursor, sem dúvida, foi Adler 
que enfatiza, na sua teoria do desenvolvimento da personalidade, a importância dos 
papéis sociais e das relações entre estes papéis na etiologia da patologia. Influenciado 
pelas teorias de Adler, Sullivan coloca que a doença mental tem origem nas relações 
interpessoais perturbadas e que um entendimento mais completo do indivíduo só 
pode ser alcançado no contexto de sua família e de seus grupos sociais. Sullivan coloca, 
assim, a patologia na relação, na dimensão interacional. Paralelamente a Sullivan, 
Frieda Fromm-Reichman estuda a relação mãe-filho como possível fonte de patologia 
e formula o conceito de mãe esquizofrenogênica para explicar, em termos etiológicos, a 
relação do paciente esquizofrênico com sua mãe.
21
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
No final da Segunda Guerra, surge o movimento das comunidades terapêuticas, proposto 
por Maxwell-Jones, para a reformulação da assistência psiquiátrica. O conjunto das 
relações imediatas do paciente internado passou a ser considerado no seu tratamento. A 
ideia fundamental é que a melhora do quadro clínico do paciente vai ocorrer na medida 
em que ansiedades e conflitos surgidos nas relações entre os membros da comunidade 
hospitalar possam ser trabalhados. Em seguida, Pichon-Rivière inclui a família na 
sua compreensão da doença mental e desenvolve a noção de “bode expiatório” como 
depositário da patologia que é de toda a família. Todos estes movimentos, formulações 
teóricas e novas compreensões da patologia propiciaram o surgimento dos primeiros 
estudos no campo da terapia familiar propriamente dita.
No início da década de 1950, ao mesmo tempo em que crescia, a partir da produção 
teórica, a consciência da importância da família no desenvolvimento e na manutenção 
da patologia mental, a prática clínica vigente era regida por regras que ressaltavam que 
o contato com a família do paciente não deveria ser feito.
Esta situação postergou a divulgação do trabalho clínico inicial com famílias e tornou 
a pesquisa, neste período, o modo mais facilmente aceitável de se atenderem famílias, 
facilitando a aprendizagem sobre seu funcionamento e sobre as possibilidades 
terapêuticas de atendimento conjunto. Assim, os primeiros autores importantes na 
área da terapia familiar, produziram conceitos teóricos relevantes sobre estrutura e 
dinâmica da família, ao longo do desenvolvimento de grandes projetos de pesquisa. 
Esta pesquisa inicial foi realizada com a população esquizofrênica, tendo em vista ser a 
esquizofrenia uma doença frequente, de longa duração, com alto índice de reincidência, 
e muito resistente aos métodos terapêuticos vigentes. O problema social dela decorrente 
justificou a aplicação de verbas públicas na investigação desta patologia, o que ocorreu, 
neste momento, sobretudo nos Estados Unidos e na Inglaterra.
Dentre os vários grupos de pesquisa que se organizaram, o grupo de Gregory Bateson, 
cujo trabalho foi desenvolvido em Palo Alto, tem como resultado, em 1956, a primeira 
publicação na área; o artigo clássico intitulado Toward a Theory of Schizophrenia 
em que são postuladas as bases familiares da etiologia da esquizofrenia e formulado o 
conceito de duplo-vínculo. Segundo estes autores, para que tenha lugar uma situação 
de duplo-vínculo são necessárias as seguintes condições: duas pessoas com um alto 
nível de envolvimento (em geral a mãe e o seu bebê); um paradoxo infringido pela 
mãe ao bebê que é chamado de “vítima”; a repetição desta experiência que passa a 
ser habitual; a impossibilidade da «vítima» de abandonar o campo, ou seja, escapar 
ao paradoxo. Aos poucos, o foco destes estudos, inicialmente voltados para famílias 
com pacientes esquizofrênicas foi se ampliando, abrangendo famílias com pacientes 
neuróticos e eventualmente famílias sem patologias sérias. Os trabalhos mostraram 
22
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
que os fenômenos descobertos nas famílias esquizofrênicos eram elementos básicos 
na dinâmica familiar. Constata-se que os mesmos princípios interacionais estavam 
presentes em todas as famílias, embora em graus diferentes. A patologia não representava 
(assim como não representa no indivíduo) uma situação qualitativamente diferente, 
mas uma exacerbação de determinados padrões.
O campo da terapia familiar
O enfoque sistêmico
Os Estados Unidos, que estão agora na terceira geração de terapeutas familiares, 
reclamam para si o pensamento sistêmico no trabalho clínico com famílias. A partir da 
teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação surgiram várias escolas de terapia 
familiar e vários institutos e centros de atendimento e de formação foram criados. Para 
os teóricos da comunicação, qualquer comportamento verbal ou não verbal, manifestado 
por uma pessoa – o emissor – em presença de outra – o receptor – é comunicação. Ao 
mesmo tempo em que a comunicação transmite uma informação, ela define a natureza 
da relação entre os comunicantes. Estas duas operações constituem, respectivamente, 
os níveis de relato (digital) e de ordem (analógico) presentes em qualquer comunicação. 
Quando estes dois níveis se contradizem, temos o paradoxo. A comunicação paradoxal 
está na origem da patologia familiar.
A família é vista como um sistema equilibrado e o que mantém este equilíbrio são 
as regras do funcionamento familiar. Quando, por algum motivo, estas regras são 
quebradas, entram em ação meta-regras para restabelecer o equilíbrio perdido. 
A terapia desenvolvida a partir deste enfoque enfatiza a mudança no sistema familiar, 
sobretudo pela reorganização da comunicação entre os membros da família. O passado 
é abandonado como questão central, pois o foco de atenção é o modo comunicacional 
no momento atual. A unidade terapêutica se desloca de duas pessoas para três ou mais 
na medida em que a família é concebida como tendo uma organização e uma estrutura. 
É dada uma ênfase a analogias de uma parte do sistema com relação a outras partes, de 
modo que a comunicação analógica é mais enfatizada que a digital.
Os terapeutas sistêmicos se abstêm de fazer interpretações na medida em que 
assumem que novas experiências no sentido de um novo comportamento que 
provoque modificações no sistema familiar é que geram mudanças. Neste sentido são 
usadas prescrições nas sessões terapêuticas para mudar padrões de comunicação, e 
prescrições, fora das sessões, com a preocupação de encorajar uma gama mais ampla 
23
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
de comportamentos comunicacionais no grupo familiar. Há uma certa concentração 
no problema presente, mas este não é considerado apenas como um sintoma. O 
comportamento sintomático é visto como uma resposta necessária e apropriada ao 
comportamento comunicativo que o provocou. A partir do enfoque sistêmico, várias 
escolas de terapia familiar se desenvolveram, entre elas a Escola Estrutural, a Estratégia, 
a de Milão e, mais recentemente, a Escora Construtivista.
Atendimento familiar
Terapia familiar é um método psicoterapêutico que utiliza como meio de intervenção 
sessões conjuntas com os diversoselementos de um sistema familiar.
A terapia familiar não é uma terapia da família, mas com a família, isto é, diz respeito, 
sobretudo a um modelo de trabalho familiar, não estando nos seus propósitos adaptar 
famílias a uma definição preestabelecida.
Em terapia familiar o conceito de família é usado em sentido lato, englobando todos os 
elementos significativos do contexto em que se vai centrar a intervenção. O contexto 
familiar é mais focado por ser mais possível intervir com as famílias e também por 
se considerar que a família é uma unidade de vital e duradoura importância para o 
indivíduo, devido aos laços biológicos e emocionais que a caracterizam e as regras 
específicas que governam as suas relações.
Em terapia familiar sistêmica a família é definida como um sistema, isto é, um 
conjunto de elementos ligados por um conjunto de relações, em continua relação com 
o meio exterior, mantendo o seu equilíbrio interno no decurso de um processo de 
desenvolvimento complexo, com crises regulares que exigem um reajustar flexível do 
conjunto das regras que regulam o funcionamento do sistema familiar.
O desenvolvimento da terapia familiar sistêmica vai surgir enquadrado na lenta 
transformação do pensamento cientifico ocorrida no século XX.
No que diz respeito à psicologia e psiquiatria não ha dúvida que a formulação da teoria 
geral dos sistemas por Bertalanffy em 1967 marcou um avanço decisivo. Essa teoria 
postula que os isomorfismos estruturais se encontram na estrutura formal dos diferentes 
sistemas e analisa a estrutura de organização dos sistemas físicos, biológicos e outros, 
de modo a atingir uma teoria geral que possa explicar em longo prazo o conjunto 
do mundo e dos seus fenômenos. É a partir de Bertallanfy que surge o princípio da 
equifinalidade, que nos diz que diferentes sistemas atingirão o mesmo fim mesmo com 
pontos diferentes de partida, desde que a sua organização seja idêntica.
24
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
Neste momento já não é possível aceitar, a luz dos progressos atrás resumidos, uma 
explicação monocausal para um determinado comportamento patológico; dizer que a 
causa daquilo que observamos é uma deficiência enzimática ou uma fraqueza do eu 
é continuar, em psicologia, um reducionisrno monocausal que as outras ciências já 
puseram de parte. Estarmos em pleno paradigma sistêmico, na medida em que nos 
confrontamos com um novo modelo de pensamento no qual surgem novas teorias 
gerais de conhecimento – trata-se de urna nova epistemologia.
A explicação dos fenômenos psicológicos tem que ser procurada não a partir de um 
fato único, mas através da análise de uma série de fatores, agindo conjuntamente, que 
segundo o seu modo de organização vão atingir a probabilidade suficiente para provocar 
um determinado comportamento. Corno resume Guntern o comportamento patológico 
é descrito como o resultado de um campo de transação complexo em que os fatores 
genéticos, os processos de aprendizagem e os modos de comunicação conduzem a uma 
determinada constelação que finalmente leva a esse comportamento.
A terapia sistêmica processa-se através de encontros regulares de um ou dois terapeutas 
com uma família que aceite este tipo de intervenção, com uma frequência semanal 
ou quinzenal. Inicialmente os terapeutas discutem o pedido da família e escolhem a 
unidade de intervenção, que em regra é a família nuclear tradicional (pais e filhos), mas 
pode ser a família extensa, trabalhando com três gerações simultaneamente ou com 
outros elementos importantes para a compreensão do problema em causa.
O terapeuta trabalha fundamentalmente segundo dois eixos – o eixo do aqui e agora 
– em que são recriados na sessão terapêutica os conflitos e interações que trazem a 
família, a terapia e o eixo multigeneracional em que se trabalham na sessão os mitos, 
papéis e funções características da família em causa e relevantes para a resolução do 
seu problema. Todos os membros do sistema são ouvidos e participam ativamente na 
sessão e é desejável que cada um deles tenha, ao longo da terapia, a sua experiência de 
crescimento.
A família deve ser protagonista da sua mudança e o terapeuta tem como função 
primordial criar alternativas para que essa mudança seja possível. Whitaker compara a 
terapia familiar a uma viagem, em que os terapeutas têm a função de guias. 
Quando está indicada uma terapia familiar?
Dado que a terapia familiar sistêmica corresponde a um novo olhar sobre a realidade da 
perturbação psicológica, diremos que está indicada sempre que houver uma perturbação 
no sistema biopsicossocial humano (casal, família, empresa, grupo de trabalho etc.). 
25
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Torna-se, contudo necessário que o sistema em causa aceite a intervenção e haja um ou 
vários terapeutas treinados no trabalho sistêmico.
A prática da terapia familiar exige um treino prolongado dos terapeutas e uma ética 
rigorosa: há que respeitar totalmente as características de uma família e, sobretudo 
procurar que esta acredite na sua capacidade de resolução da crise. O tempo acabou 
para os terapeutas messiânicos, que através de sessões onde ninguém sabia o que se 
passava, curavam individualmente pessoas (se bem que ao longo de muitos anos).
A terapia familiar é praticada a frente de vários elementos de uma família, frequentemente 
com as sessões registradas e acessíveis para supervisão e não pretende curar uma 
família, preferindo que rapidamente o grupo familiar seja capaz de resolver por si os 
seus problemas.
A fase de implantação em que a terapia familiar sistêmica se encontra em Portugal leva 
a que seja útil apontar algumas indicações preferenciais: 
 » sempre que através do relato de um indivíduo o terapeuta pressinta a 
disfunção do sistema familiar (o clássico padrão do bode expiatório); 
 » sempre que o problema apresentado o seja em termos de interação, 
como por exemplo nos casos de conflito marital, problemas pais-filhos 
no contexto da adolescência, crise familiar após separação ou morte etc.; 
 » em situações patológicas em que seja evidente a importância de trabalhar 
o sistema relacional do indivíduo portador do sintoma, como única forma 
de quebrar a cadeia de interações que o perpetua, como nos casos de 
sintomas fóbicos, anorexia mental, alcoolismo, asma brônquica, tentativa 
de suicídio juvenil etc.
Todos os técnicos que trabalham com famílias utilizam conceitos e métodos que 
aprenderam com várias escolas de Terapia Familiar ou mais numa perspectiva 
transgeracional, estrutural ou estratégica, ou relacionadas com o modelo psicanalítico 
ou comportamentalista.
O modelo escolhido deverá ser aquele que melhor resulte na sua aplicação prática e que 
melhor se adéqua à personalidade do técnico.
26
CAPÍTULO 3
As escolas e a terapia pós-moderna
A família poderia assim se constituir de uma instituição normalizada por uma série 
de regulamentos de afiliação e aliança, aceitos pelos membros. Alguns desses 
regulamentos envolvem: a exogamia, a endogamia, o incesto, a monogamia, a 
poligamia, e a poliandria. (MINUCHIN, 1990).
Escola estrutural
Na década de 1950 a Teoria Estruturalista tornou visível o conflito entre as Teorias 
Clássica e das Relações Humanas. A primeira considerava a organização formal sob 
uma visão de que para as empresas serem eficientes, deveria ter o foco na estrutura e na 
forma. Já a última valorizou a teoria informal, as pessoas e os grupos internos.
A Abordagem Estruturalista criou uma teoria mais abrangente, entendendo a empresa 
como uma organização aberta, ou seja, tendo grande interação com o ambiente externo 
direto e indireto. Além do conceito de homem organizacional, dos inevitáveis conflitos 
e dos incentivos mistos dentro da organização.
A Escola Estruturalista surgiu em decorrência do declínio do movimento das relações 
humanas, no final da década de 1950, com os seguintes aspectos:
1. Oposição entre os aspectos formais, e os defendidos pelos autores da 
escola clássica informais, valorizados pelosautores da Escola de Relações 
Humanas.
2. A necessidade de visualizar a organização como um todo, e não de forma 
compartimentada e isolada. A organização lida com muitas variáveis 
complexas de ordem interna e externa. Ela tanto influencia como pode 
ser influenciada pelo ambiente externo direto e indireto.
3. A repercussão dos resultados dos estruturalistas na compreensão das 
organizações como um todo integrado e complexo.
Conceito de estruturalismo
O estruturalismo é um método analítico e comparativo que estuda os elementos ou 
fenômenos em sua totalidade, salientando seu valor de posição. 
27
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Os estruturalistas preocupam-se com as relações e interconexões das partes na 
constituição e na compreensão de todos. O estruturalismo esta alicerçado na totalidade 
e na reciprocidade para facilitar o entendimento de que o todo é o maior que a simples 
soma das partes.
Fundamentos da escola estruturalista
O homem organizacional: é aquele que desempenha diferentes papéis em organizações 
diversas. Para cada papel desempenhado, o homem deve adotar posturas/comportamento, 
como a flexibilidade, tolerância, capacidade de adiar as recompensas e permanente 
desejo de realização. A necessidade de o homem relacionar seu comportamento com 
o de outras pessoas, com o fim de atingir um objetivo, gera a organização social. Na 
organização social, encontramos o elemento comportamento, gerado pelo estímulo, e o 
elemento estrutura, que é formado por categorias de comportamento ou conjuntos de 
comportamentos agrupados. 
Os conflitos inevitáveis: para os estruturalistas, o conflito entre grupos é um processo 
social fundamental, pois é o grande elemento propulsor do desenvolvimento, embora 
isso nem sempre ocorra. O movimento estruturalista não só reconheceu o conflito 
como inevitável, mas também como muitas vezes desejável para tirar os empregados da 
zona de conforto. Ele deve estimular a mudança, ou seja, a passagem do estado estável 
para o estado instável. A administração de conflitos requer a conservação de um nível 
adequado de conflitos em um grupo. Pouco conflito gera estagnação. Muito conflito 
gera rupturas e brigas internas. Ambos os casos são prejudiciais para o grupo. Dessa 
forma, compete ao gestor manter um nível adequado de conflitos por meio da utilização 
de técnicas de resolução e estimulação de conflitos. O conflito nas organizações pode 
ser decorrente tanto dos atributos estratégicos, estruturais, processuais e ambientais 
quanto de desempenho. 
Fatores como origem, educação, experiência e treinamento moldam cada empregado 
em uma personalidade única com um conjunto particular de valores. O resultado é que 
as pessoas podem ser vistas pelas outras como ríspidas, indignas de confiança, difíceis, 
estranhas de lidar. Essas diferenças pessoais podem estimular o conflito. 
As técnicas geralmente utilizadas na resolução de conflito são a abstenção, acomodação, 
imposição ou coerção, acordo ou conciliação e colaboração.
Os incentivos mistos: os estruturalistas consideram importantes tanto os incentivos e 
recompensas psicossociais quanto os materiais, bem como as influências mútuas. 
28
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
Os símbolos e os significados também devem ser prezados e compartilhados pelos 
outros, como a esposa, os colegas, os amigos, os vizinhos. Embora as recompensas sociais 
sejam importantes, elas não diminuem a importância das recompensas materiais.
Alguns autores identificaram a corrente, que foi denominada corrente estruturalista, 
cujo enfoque foi estabelecer uma crítica sobre o que tinha sido escrito até então dentro 
desse campo. Com isso foram passados em revista os conceitos da Escola Clássica, 
de Relações Humanas e da Burocracia, tomando-se novamente a retórica sobre 
organizações e sua complexidade.
As escolas anteriormente estudadas tinham visão parcial dos elementos que compunham 
uma organização. E é impróprio considerarmos que o Estruturalismo constitui por si 
só um corpo teórico com inovações conceituais sobre a administração, mas não o é 
considerá-lo a forma organizada de analisar os mesmos problemas já abordados de 
maneira fragmentada.
Ao estudarmos a organização sob a óptica estruturalista estamos necessariamente 
fazendo uma análise globalizante de todos os fatores que compõem o todo organizacional. 
Mais que isso, estamos reconhecendo a integração e interdependência desses fatores. 
Outro aspecto importante do conceito de estruturalismo é a influência que esses fatores 
exercem uns sobre outros, donde surge a necessidade de reconhecer a existência de um 
ambiente onde eles se inserem.
A finalidade da organização, em um sentido amplo, depende de alguma combinação 
dos seguintes fatores: das hipóteses concernentes à natureza do homem, da unidade de 
análise, ou seja, dos níveis institucionais, individuais e organizacionais e, por último, 
do ponto de partida da organização.
Minuchin é o principal teórico da Escola Estrutural e para ele a família é um sistema 
que se define em função dos limites de uma organização hierárquica. O sistema familiar 
diferencia-se e executa suas funções através de seus subsistemas. As fronteiras de um 
subsistema são as regras que definem quem participa de cada subsistema e como 
participa. Para que o funcionamento familiar seja adequado, estas fronteiras devem 
ser nítidas. Quando as fronteiras são difusas, as famílias são aglutinadas; fronteiras 
rígidas caracterizam famílias desligadas. Famílias saudáveis emocionalmente possuem 
fronteiras claras. A estrutura não é, para Minuchin (1974), uma entidade imediatamente 
acessível ao observador. É no processo de união com a família que o terapeuta obtém 
os dados do escalonamento do stress e a utilização dos sintomas. A terapia estrutural é 
uma terapia de ação, e o sintoma é visto como um recurso do sistema para manter uma 
determinada estrutura.
29
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Escola estratégica
A Escola Estratégica (HALEY, 1985; MADANES, 1984) é um modelo pragmático voltado 
essencialmente para a clínica. Sua preocupação é com a solução do problema e com a 
identificação dos comportamentos que mantêm o problema. Para cada resolução de 
problema, são traçadas estratégias específicas. Há um plano geral, que inclui a primeira 
entrevista, a qual tem lugar muito importante, pois além de explorar o problema, 
estabelece as metas e as atribuições que cabem a todos. Progressivamente vão sendo 
planejadas intervenções que requerem cooperação de todos, até o estágio de resolução 
do problema, e uma fase posterior de manutenção dos ganhos obtidos.
O termo estratégico é utilizado para descrever qualquer terapia em que o terapeuta 
realiza ativamente intervenções para resolver problemas. A visão estratégica define o 
sintoma como expressão metafórica ou analógica de um problema representando, ao 
mesmo tempo, uma forma de solução insatisfatória para os membros do sistema em 
questão.
A abordagem terapêutica é pragmática: trabalham-se as interações e evitam-se os 
porquês. O principal objetivo é mudar o comportamento manifesto do paciente. São 
utilizadas instruções paradoxais que consistem em prescrever comportamentos que, 
aparentemente, estão em oposição aos objetivos estabelecidos, mas que visam a 
mudanças em direção a eles. A instrução paradoxal é mais frequentemente utilizada 
sob a forma de prescrição de sintoma, isto é, encorajando- se aparentemente o 
comportamento sintomático. Para Watzlawick et al. (1967) o uso do paradoxo leva a 
substituir a ação do duplo vínculo patogênico por um duplo vínculo terapêutico.
Escola de milão
Refere-se à escola da psicoterapia sistêmica desenvolvida pelos psiquiatras e 
psicanalistas milaneses Mara Selvini Palazzoli, Luigi Boscolo, Gianfranco Cecchin e 
Giuliana Prata. Esse grupo de estudiosos afastou-se da psicanálise na década de 1970 
e dava ênfase ao tratamento da família como um todo, priorizando a observação do 
“jogo” intrafamiliar, ou seja, das regras internas eimplícitas que regem a família – e 
que – normalmente servem de apoio à sintomática.
Foi então desenvolvido um modelo sistêmico de intervenção familiar, que é utilizado no 
atendimento de famílias anoréticas e ou com problemas sérios emocionais.
Partindo da hipótese de que a família é um sistema autorregulado que se governa 
através de regras, Palazzoli et al.( 1978 ) relata suas pesquisas com diferentes grupos 
de famílias e conclui que as famílias de anoréticos são caracterizadas pela presença 
30
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
de redundâncias comportamentais e por regras particularmente rígidas, enquanto as 
famílias com um paciente psicótico, embora a rigidez do modelo base, apresentam 
enorme complexidade nas modalidades transacionais.
Um princípio terapêutico fundamental para o grupo de Milão é a conotação positiva 
dos comportamentos apresentados pela família. Quando se qualificam como positivos 
os comportamentos sintomáticos, motivados pela tendência homeostática do sistema 
e não os comportamentos. Outro tipo de intervenção utilizada por este grupo é o ritual 
familiar, ou seja, uma ação ou uma série de ações das quais todos os membros da família 
são levados a participar. A prescrição de um ritual visa evitar o comentário verbal sobre 
as normas que perpetuam o jogo em ação. No ritual familiar novas regras substituem 
tacitamente as regras precedentes. Para elaborar um ritual o terapeuta deve ser bastante 
observador e criativo. O ritual é rigorosamente específico a uma determinada família.
A neutralidade é a posição de que o sistema deve ser visto em todas as suas partes, 
e todas têm a mesma importância na sua expressão. Na prática é fazer aliança com 
todos os membros da família. Além do valor da equipe como um importante recurso no 
atendimento, a Escola de Milão trouxe questionamento sobre intervalo entre as sessões, 
como um outro recurso terapêutico (BOSCOLO; CECCHIN; HOFFMAN; PENN, 1993). 
Nichols & Schwartz (2006/2007) consideram que a Escola de Milão pode ser vista 
como estratégica (na origem de seus conceitos e prescrições) e com ênfase na adoção de 
rituais, que são ações prescritas para dramatização da conotação positiva.
Escola construtivista
No final da década de 1970, utilizando os conceitos da cibernética de segunda ordem e de 
sua aplicação aos sistemas sociais, surge a Escola Construtivista. A partir da concepção 
de retroalimentação evolutiva de Prigogine (1979), considera-se que a evolução de um 
sistema ocorre através da combinação de acaso e história em que, a cada patamar, 
surgem novas instabilidades que geram novas ordens, e assim sucessivamente. Nesta 
perspectiva em que os sistemas vivos são considerados como hipercomplexos e 
indeterminados, instabilidade e a crise ganham um novo sentido no sistema familiar. A 
crise não é mais um risco, mas parte do processo de mudanças, assim como o sintoma.
Assim, os terapeutas de família da Escola Construtivista passam a considerar a autonomia 
do sistema familiar partindo do estudo dos sistemas auto-organizados, da cibernética 
de segunda ordem, e dos sistemas autopoéticos postulados por Humberto Maturana 
(1990). Ocorre, neste enfoque, uma ruptura entre o sistema familiar/observado e o 
terapeuta/observador. O sistema surge como construção de seus participantes. O 
terapeuta estará interessado não mais no comportamento a ser modificado, mas no 
31
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
processo de construção da realidade da família e nos significados gerados no sistema. 
A ênfase é deslocada do que é introduzido no sistema pelo terapeuta para aquilo que o 
sistema permite a ele selecionar e compreender. Alguns terapeutas estratégicos podem 
ser citados como tendo incluído posteriormente na sua prática o modo de pensar 
construtivista; entre eles, os do grupo de Milão.
Palazzoli et al. (1980) estabelecem três princípios indispensáveis ao trabalho 
terapêutico: a formação de uma hipótese, a circularidade e a neutralidade. A hipótese 
formulada deve ser testada ao longo da sessão; se rejeitada, o terapeuta procurará 
outras, baseando-se nos dados obtidos na verificação da primeira hipótese. Todas as 
hipóteses devem ser sistêmicas, ou seja, devem incluir todos os membros da família e 
fornecer uma conjetura que explique a função da relação. A circularidade diz respeito à 
capacidade do terapeuta de conduzir a sessão baseando-se nos feedbacks recebidos da 
família como resposta à informação que solicitou em termos relacionais.
A neutralidade consiste numa atitude de imparcialidade do terapeuta que se alia a 
cada membro da família, neutralizando qualquer tentativa de coalizão ou sedução de 
qualquer componente do grupo familiar.
O enfoque construtivista, proposto a partir de uma ótica sistêmica de segunda ordem, 
questiona, portanto o poder do terapeuta na terapia familiar e as intervenções 
terapêuticas diretivas. A ênfase não é colocada na pergunta, mas na construção da 
interação e a ação do terapeuta pretende explorar as construções onde surgem os 
problemas.
A Terapia Sistêmica de Família mudou juntamente com o mundo que já não é mais o 
mesmo. As ideias pós-modernas, com contribuições dos aportes filosóficos abordando 
as questões da linguagem, as teorias sobre a construção conjunta de significado, as 
questões de gênero, a ética, as contribuições da nova física e os novos conhecimentos 
sobre o funcionamento do cérebro e da mente formaram um pano de fundo para o 
surgimento de novas escolas de Terapia de Família.
Sem abandonar completamente os pressupostos anteriores, novas abordagens 
terapêuticas passaram a explorar as narrativas dos diversos membros de uma família, 
em busca de diferentes descrições para os problemas e de mais recursos para o 
funcionamento da família, sempre se perguntando sobre o que seria adequado em cada 
contexto sociocultural. O terapeuta deixou de ser um observador externo, um especialista 
em detectar problemas, para se transformar em um articulador, um mediador de 
conversações preocupado em conhecer como determinada família se organiza e opera. 
E também os significados construídos e compartilhados por seus membros.
32
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
Nesse meio tempo, o desenvolvimento de nossas teorias da terapia 
tem caminhado rapidamente em direção a uma posição mais 
hermenêutica e interpretativa. Esta posição enfatiza os sentidos 
à medida que eles são criados e vivenciados pelos indivíduos nas 
conversações. Na busca por esta nova base teórica, desenvolvemos 
um conjunto de ideias que conduzem nosso entendimento e 
explicações à arena dos sistemas em movimento, que existem 
somente nos caprichos do discurso, da linguagem e da conversação. 
É uma posição firmada nos domínios da semântica e da narrativa 
que se apoia principalmente no princípio segundo o qual a ação 
humana acontece em uma realidade de entendimento criada pela 
construção social e do diálogo. Deste ponto de vista, as pessoas 
vivem e compreendem seu viver por meio de realidades narrativas 
construídas socialmente que conferem sentidos e organização à sua 
experiência. (ANDERSON; GOOLISHIAN, 1998, p.36)
Sem negar importância do conhecimento do especialista, o pós-modernismo põe em 
evidência o conhecimento local, o conhecimento trazido pelas histórias e narrativas 
pessoais. Geertz (1978), inspirado em Ryle – filósofo inglês representante da geração 
influenciada pelas teorias de Wittgentein sobre a linguagem – menciona dois tipos de 
narrativas ou descrições: as descrições superficiais, que buscam analisar os significados 
culturais a partir do ponto de vista do especialista, determinando o que eles são; e as 
descrições ou narrativas densas que analisam os significados a partir do ponto de vista 
dos atores, interessando-se por quem eles são.
O pós-modernismo trouxe novas metáforas para a questão da comunicação. Chamamos 
a atenção para sua etimologia, que mostra a mesma origem das palavras – comum – 
comuna – comungar: todas se originaram da expressão latinacommune. Além da ideia 
da transmissão de informações, comunicação remete ao processo de construção de um 
sentido comum através da relação mediada pela linguagem. 
O pensamento da pós-modernidade, associado a uma prática clínica 
sistêmica, manifesta-se em um conjunto de princípios e derivações 
práticas em torno dos enfoques conhecidos como construtivismo 
e construcionismo social... Posso dizer que, em linhas bem gerais, 
a oposição dá-se entre uma visão de construção do conhecimento 
centrada no indivíduo, no caso do construtivismo, e uma centrada 
na construção social, no caso do construcionismo. (GRANDESSO, 
2000, p. 56)
33
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Para Benjamim, a experiência é fundamental; não a experiência isolada, mas sim a 
experiência de uma pessoa em interação com seu contexto pessoal, familiar, social, 
político, espiritual. E a narrativa que surgirá dessa experiência será sempre uma forma 
artesanal de comunicação, cujo sentido surge a cada vez que é narrada, a cada encontro 
entre narrador e ouvinte, que, estando em interação, em comunicação, construirão em 
conjunto o sentido do que vivem.
34
CAPÍTULO 4
Atendimento psicológico familiar e o 
genograma
De acordo com Minuchin (1999), as famílias são como sistemas sociais e, por essa 
razão, é necessário prestar atenção nas características de qualquer sistema, pois 
uma parte influência a outra e todo o sistema passa por períodos de estabilidade 
e mudança, como também o poder dessas diferentes partes pode ser desigual 
como em qualquer estrutura.
O trabalho com as famílias considera as motivações individuais, relacionais e sociais, 
permitindo uma abordagem contextualizada de sentido sistêmico, ou seja, passar da 
preocupação com o produto à preocupação com o encontro entre o sujeito e o produto 
num contexto sociocultural, como defende Sudbrack (2001). O modelo sistêmico postula 
que os problemas relacionados ao uso de drogas situam-se na interação do indivíduo com 
seu contexto, existindo uma interação dinâmica entre variáveis individuais, ambientais 
e a substância química. Parece-nos, então, um modelo abrangente e, portanto, o mais 
indicado para dar conta da complexidade do fenômeno. 
A epistemologia ecossistêmica de Bateson (1976, 1979) propõe a visão de contexto, em 
oposição à visão dicotomizada de indivíduo e ambiente. O contexto indica um conjunto 
vivo – o ecossistema – composto de um organismo e de seu ambiente, indissociáveis, 
e ligados pela constância na relação. O ecossistema inclui o indivíduo em relação com 
seu ambiente. Seguindo-se a proposta de Bateson da visão de contexto como elemento 
fundamental de toda comunicação e significação, não se deve isolar o fenômeno de seu 
contexto, pois cada fenômeno tem sentido e significado dentro do contexto em que se 
produz. 
Esta proposta de trabalho segue, também, os fundamentos da epistemologia da 
complexidade nas ideias de Morin (1992, 1996, 1996a), quando nos fala do desafio de 
não separar o objeto de seu meio, de não ser redutor e disjuntivo; que a complexidade 
é um desafio que o real nos traz, pois a realidade é complexa. Morin (1996) coloca 
que o objetivo do conhecimento não é descobrir o segredo do mundo, mas dialogar 
com o mundo. O pensamento complexo luta contra a mutilação, não contra a 
incompletude, diz Morin (1992). O pensamento complexo tende para o pensamento 
multidimensional. 
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Com a teoria se reconhece a instabilidade, a indeterminação, a desordem, a ordem a 
partir das flutuações, a auto-organização, o acaso. Transpondo-se a perspectiva do caos 
na visão da complexidade, como propõe Ausloos (1995).
A epistemologia construtivista (VON GLASERSFELD, 1988, 1995; VON FOERSTER, 
1987,1988; WATZLAWICK, 1988, 1995) nos afasta da pretensão de objetivar e atingir 
uma realidade (a realidade é uma construção), e toda observação inclui o observador 
(como observadores, somos sempre parte do que observamos). O construtivismo 
reinsere o sujeito no processo de conhecimento. O cientista não é mais um observador 
neutro, mas ao contrário, as teses científicas são concebidas como criadas pelo e para 
o ser humano, a fim de apreender uma natureza complexa e desordenada (CAILLÉ, 
1981 apud SUDBRACK, 1997). A palavra chave no construtivismo é escolher: o 
terapeuta construtivista tem por objetivo resgatar no grupo as possibilidades deste 
reinvestir em outros níveis de leitura, de complexificar suas relações com o mundo 
(SUDBRACK, 1994). 
A família, então, é vista como recurso, como um sistema que tem competências. 
Trabalhar em terapia sobre a competência supõe uma grande confiança na capacidade 
do sistema familiar em resolver problemas. Ausloos (1995) coloca que todas as famílias 
têm competências, mas em certas situações, elas não sabem as utilizar, não sabem que 
as têm, estão impedidas de utilizá-las, ou ainda, impedem a si próprias de utilizá-las 
por diferentes razões. O papel do terapeuta ou equipe terapêutica, como ativadora deste 
processo de competência familiar. Sobre este aspecto Ausloos (1995) refere que o papel 
do terapeuta é de trabalhar com a família para encontrar ou descobrir o que ela sabe 
para reinventar soluções e para resolver seus problemas.
A psicologia que tradicionalmente tem seu foco de ação centrado na identificação de 
problemas/doenças em busca de soluções “curas” é convocada a propor novas formas 
de intervenção que deem conta das realidades atuais. E para que possamos construir 
estas perspectivas diferentes de intervenção clínica é preciso que modifiquemos alguns 
paradigmas tecnicistas. Inclusive compreendendo a intervenção clínica segundo 
propõe Figueiredo (1996), ou seja, o ethos da clínica psicológica é o de uma escuta 
diferenciada das aflições pelas quais passam as pessoas, aquilo que não é dito mas 
que gera tensões e conflitos. O paradigma proposto então é o ético-estético, ou seja, a 
produção de vida e a construção de cidadania, escutando-se o cotidiano como expressão 
das práticas humanas num determinado tempo e lugar com diferentes possibilidades 
de interpretação. 
Acreditamos que com esta perspectiva de atendimentos às famílias, estamos ampliando 
as possibilidades de os psicólogos se aproximarem das demandas atuais da sociedade, 
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
já que a identificação dos problemas com o abuso de drogas é tema recorrente e cada 
vez mais crescente. A sociedade em constante processo de mudança aponta para 
vivências e sofrimentos da coletividade que se alteram, cabendo a psicologia propor 
novas estratégias de enfrentamento desta realidade.
De acordo com Minuchin (1999), as famílias são como sistemas sociais 
e, por essa razão, é necessário prestar atenção nas características de 
qualquer sistema, pois uma parte influência a outra e todo o sistema 
passa por períodos de estabilidade e mudança, como também o poder 
dessas diferentes partes pode ser desigual como em qualquer estrutura.
A terapia familiar tem como objetivos, na perspectiva de Cordioli (1998), melhorar 
a comunicação entre os membros, desenvolver a autonomia e a individualização das 
diferentes pessoas, descentralizar e tornar mais flexíveis os padrões de liderança e de 
tomada de decisões, reduzir conflitos interpessoais, além de melhorar o desempenho 
individual.
Do mesmo modo, sua personalidade e comportamento são moldados pelo que a família 
permite e espera dele. Para Minuchim (1999), o indivíduo é a menor unidade do sistema 
familiar. O mesmo autor salienta que ele contribui para a formação de padrões familiares. 
As diferentes temáticas que emergiram dos atendimentos familiares realizados 
possuem desdobramentos a partir de um conflito central. O conflito que motivou o 
atendimento familiar num primeiro momento é identificado em um dos membros da 
família. Entretanto, no decorrer dos encontros realizados, a família começa a identificar 
como os demais familiares envolvem-se na conflitiva apresentadainicialmente, assim 
como, começam a perceber novas possibilidades de entendimento daquele conflito e a 
possibilidade uma mudança nos padrões de funcionamento familiar. 
Genograma
O genograma foi desenvolvido na América do Norte, baseado no modelo do 
heredograma, e mostra graficamente a estrutura e o padrão de repetição das relações 
familiares. Suas características básicas são: identificara estrutura familiar e seu padrão 
de relação, mostrando as doenças que costumam ocorrer, a repetição dos padrões de 
relacionamento e os conflitos que desembocam no processo de adoecer (RAKEL, 1997; 
MOYSÉS; COL., 1999; MOYSÉS; SILVEIRA FILHO, 2002); também pode ser usado 
como fator educativo, permitindo ao paciente e a sua família ter a noção das repetições 
dos processos que vem ocorrendo e como estes se repetem.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
O genograma é traçado a partir de símbolos gráficos, ao lado dos símbolos data de 
nascimento, eventos importantes, patologias e nome dos pacientes. Pode ser colocado 
no início do prontuário como sumário de problemas prévios, ações preventivas e 
medicamentos em uso (MOYSÉS; COL., 1999).
O Genograma ou Genetograma ou ainda Árvore Genealógica de uma pessoa e família, 
pode-se dizer que é uma forma de representar graficamente a composição de uma 
família, ao longo de duas ou mais gerações, ou seja, algo que fala da história e padrões 
de uma família. Um bom exemplo de seu uso é nas consultas médicas, onde frente a uma 
determinada doença, busca-se saber quem mais na família apresenta tal enfermidade, 
apontando o seu viés hereditário. 
O genograma pode ser definido como um desenho gráfico da vida em família, sendo o 
mesmo um instrumento de avaliação e intervenção que proporciona uma aproximação 
com o tecido de transmissão familiar tramado de geração em geração. O genograma, 
inserido na conversação terapêutica, transcende suas origens funcionalistas, para 
transformar-se num recurso de compreensão colaborativa.
Pode-se considerar, então, que a função limitadora dos sistemas sociais, por um lado, 
contribui para o senso de continuidade dos indivíduos e comunidades, por meio do 
reconhecimento do familiar, do sentimento de pertencer, de fazer parte. Por outro, em 
função de não conseguir dar conta de significar todas as contingências que aparecem 
na vida das pessoas, propicia o aparecimento de lacunas e inconsistências que geram 
as contradições, das quais os sujeitos inventam e reinventam a suas histórias (WHITE, 
1994), atualizando, também, as histórias que suportam a existência dos sistemas sociais 
dos quais estes sujeitos participam. 
Igualmente, os sistemas familiares elegem algumas histórias e abandonam outras para 
construir o contexto histórico intrínseco da família através das gerações. Uma vez que 
a história da família esteja configurada em torno de um problema, ao selecionar partes 
da experiência que tenham sentido nesta narração, as pessoas vão incrementando a 
narrativa que mantém o significado problemático. Nesse processo, as famílias tendem 
a confundir a sua própria história com a história de seus problemas, de forma que, com 
o passar do tempo, não conseguem mais discriminar uma da outra. 
A possibilidade de uma história que foi abandonada (marginal) emergir das 
experiências vividas reside na ocorrência de um incidente que possa produzir um 
acontecimento extraordinário, que constitua uma oportunidade para colocar dúvidas, 
para desestabilizar o relato que a família conta e que a define. Acessar estas histórias 
que, com o passar do tempo, foram marginalizadas nas narrativas familiares, constitui 
um caminho para a elaboração de histórias alternativas que possam fazer sentido na 
experiência vivida pelas pessoas. 
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
White e Epson (1990) consideram ser este o fundamento da abordagem terapêutica: 
mediante encontros conversacionais, auxiliar as pessoas a vislumbrar novas histórias. 
Não qualquer história, mas sim uma nova narrativa que encontre sentido no contexto 
histórico daquela família. As ideias apresentadas neste texto buscam inserir o trabalho 
com o genograma no espaço conversacional terapêutico. Ao serem descritas na perspectiva 
das práticas construcionistas (ANDERSON, 2001, ANDERSON; GOOLISHIAN, 1988; 
GERGEN, 1999; WHITE; EPSON, 1990), realiza-se uma escolha, entre muitas outras 
possibilidades de abordagem teórica, ou seja, elegem-se determinados aspectos. 
O genograma pode ser algo mais, embora pareça ser simples, se olharmos apenas um 
aspecto, mas um dos principais objetivos de sua realização é possibilitar uma (re)
conexão com a família de origem de cada um, revendo ou resgatando histórias perdidas 
ao longo do tempo. E oferece um efeito especial quando realizado conjuntamente com 
ou mais membros da família junto com um profissional.
A inclusão dos aspectos relacionais, linhas de afinidade, de tensão, de intensa 
amorosidade, separações, recasamentos, favorecem o universo de possibilidades de 
interpretações e entendimentos da vida cotidiana. O mais importante é o processo 
de realização do genograma, na medida em que nos colocamos em contato com a 
história familiar, com suas crenças, mitos, repetições, mandatos etc.Existem algumas 
maneiras de iniciar e significar um genograma, tais dados quando explorados são 
colaborativos para abertura de novas conversações e consequentemente uma mudança 
de entendimento e postura frente a um evento, muitas vezes paralisante ou conflitante 
na família. 
O genograma é como uma foto que foi tirada já algum tempo e que nesse momento se 
revela, dando oportunidade de falar do momento que a “foto” foi tirada e que significado 
ela traz agora.
 » Podemos começar um genograma a partir de qualquer fase do ciclo de 
vida pelo membro em foco naquele encontro, seus pais, seus avôs, o 
critério é construído pelo próprio autor do genograma. 
 » No casamento ele, mostra a união de duas famílias e a fase do ciclo de 
vida em que cada membro do casal se encontra. 
 » Numa família formada a partir de um recasamento, há pelo menos dois 
triângulos previsíveis o novo casal e o(s) cônjuge(s) anterior(es) e filho(s) 
se estes existirem. 
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
 » O genograma pode revelar estressores na passagem de uma fase para 
outra. Quando vemos perdas ou eventos traumáticos coincidentes, 
devemos avaliar seus impactos no processo familiar. 
 » Após uma perda, o processo da fase do ciclo de vida pode paralisar-se ou 
apresentar distorções. 
 » Quando os filhos atingem a adolescência provável que se desenvolvam 
triângulos, envolvendo, seus iguais, seus pais ou seus avós. 
 » Na fase tardia, o genograma poderá revelar qual o filho ficou/ficará como 
cuidador dos pais.
O uso do genograma, nos atendimentos de casais e famílias, colabora no entendimento, 
muitas vezes da complementaridade de um com o do outro. Ou até mesmo aponta 
para diferenças significativas que apesar de todos já a conhecerem, ao visualizá-la 
organizados, numa determinada “distância”, num formato (uso de cartaz ou lousa) de 
representação não habitual, permite conversações sobre as diferenças e semelhanças e 
o que desejam fazer com elas, para as gerações seguintes.
Não é incomum, ao fazer o genograma surgirem vazios, dúvidas sobre a ordem de 
irmãos, sobre os casamentos, do fato de saber mais sobre um dos lados da família o 
paterno ou o materno. O significado destes “vazios” ou dúvidas, podem proporcionar 
uma “ida” à família de origem, e abrirem outras possibilidades de entendimentos do que 
se vive no aqui e agora. O foco daquilo que era problema até então, pode ser dissolver, 
ao compreender que um aspecto se repete há muitas gerações e a importância de 
explorá-lo, nem tanto para confirmar o fato em si, mas para criar uma abertura e gerar 
negociações para modificar o pré-estabelecido. Ao reencontrar o “álbum de fotografia” 
até então no domínio de um ou de outro, temas proibidos podem sair da clandestinidade, 
segredos transformam-se

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