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J. R. MILLENSON p r in c íp io s d e ANÁLISE DO COMPORTAMENTO A mais moderna e sistemática coleção de princípios elementares universais que existem para a modificação do comportamento K l V k l : \ Obtura- Retículo de difração dor § L * tf) 1__ ■4 \ Monocromador Fonte de Luz ÍHesbiirUÍ PRINCÍPIOS DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO J.R. MILLENSON PRINCÍPIOS DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO T rad u ção de A lina de A lm eida Souza Dioue tie Kezende COORDENADA THESAURUS © Copyright, J. R. Milleonson, 1967 Título original: Principles-of Behavior Analysis THI MACMILLAN COMPANY, NLW YORK Library of Congress catalog card number: 67 15540 Montagem: Afonso Rocha Fotomontagem de : João Pinto Composição de: Antonio Carlos da Silva e Clemente Silva l 'ilho Capa: Paulo Magalhães MCMLXXV Todos os direitos, em língua portuguesa no Brasil, reservados de acordo com a lei. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação computadorizada, sem permissão por escrito da editora COORDENADA / THESAURUS EDITORA DE BRASÍLIA LTDA. SIG Q. 08 LOTE 2356 - FONE: (061) 344 3738 - FAX: (061) 344 2353 - Brasília - DF. Para VIVIENNE PREFÁCI O À ED I Ç Ã O B R AS I L E I RA A maior parte do livro PRINCÍPIOS DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO fo i escrita durante o ano acadêmico de 1964, enquanto eu era um jovem professor assistente de Psicologia no Institu to de Tecnologia Carnegie (agora Universidade Carnegie-Mellon), em Pittsburgh, Pensylvania. Eu o concebi como um texto sistemático de introdução dos estudantes, em nível elementar e avançado, àqueles princípios conhecidos de modificação do comportamento que devem servir de base à grande porção da conduta adaptativa do homem e de organismos relacionados com ele. Em sua maior parte, escrever este livro fo i um trabalho de amor. Eu ensinava Psicologia a iniciantes, para quem eu a interpretava como a ciência que se preocupa com as interações do comportamento com o meio ambiente e para quem havia tantas coisas que desejava dizer (e que o fiz muitas e muitas vezes!) que não se encontravam em qualquer dos livros textos existentes, que decidi desenvolvê-los por escrito. Aquela época existia apenas um livro tex to sistemático e elementar sobre esse campo de estudo que, embora suportando majestosamente a sua idade, muita coisa tinha acontecido desde a sua publicação em 1950. Parece-me claro agora, como o fo i ent£o, que a Psicologia é um campo c ien tífico a mover-se rapidamente de seu estágio pré-paradigmático para a exploração sistemática de um conjunto unificado de comportamentos. Gosto de pensar que em sua d im inuta trilha, o livro PRINCÍPIOS DE ANÁLIS E DO COMPORTAMENTO continua a dar uma contribuição permanente pc.ra o estabelecimento desse novo paradigma da Psicologia. Agor.i, olhando para trás, uma década desde que esse livro apareceu, posso ver mais claramente as suas virtudes e falhas. É certo que nessa ciência de desenvolvimento tão rápido qualquer livro texto logo se desatualiza. Novos processos importantes, como a ^uto-modelagcm, o comportamento adjuntivo e o biofeedback entraram em cena; outros processos familiares, como o da punição e do condicionamento clássico, foram consideravelmente relormulados. Por outro lado, enquanto em 1964 não tinhamos quase nenhuma teoria que merecesse esse nome, os anos de 70 testemunharam a chegada de modelos quantitativos tanto na teoria do reforço como na do condicionamento clássico. Esses modelos, embora deliberadamente restritos à área que cobrem, têm uma certa aura de au ten tic idade que íalta totalmente nas grandiosas teorias prim itivas sobre aprendizagem da era anterior. As descobertas complementares de que as atividades autônomas reflexas são reíorcáveis e nue os comportamentos emitidos nodem ser excitados por contingências associadas/ colocam em questão nossa distinção fechada entre operantes e respondentes. É m uito cedo para dizer quão drasticamente essas descobertas vão abalar nossos fundamentos teóricos, mas é certo que maiores modificações estão no ar. Há dez anos atrás, como reação às prematuras teorizações das décadas de 1940 e 1950, a disposição dos que trabalhavam nesse campo era fortemente descritiva. A análise que B.F. Skinner fez do comportamento proposital, sua preocupação com o organismo individual e sua ênfase no controle pelo reforçamento de contingências eram as bases do cultivo em pírico vigoroso dos princípios de reforçamento positivo. A lei do efeito de Thorndike estava no seu zênite e este livro é um produto daquele clímax. Porém algumas mudanças sutis estão acontecendo no Zeitgeist. O controle de contingências — pervasivo e importante como é — começou a ceder lugar a um conjunto de efeitos perplexantes que, mesmo parecendo intimamente ligados ao reforço, vão alem da lei do efeito. Por outro lado, o condicionamento clássico, a outra face da moeda do determinismo na Psicologia, acha-se menos e menos seguro de seu papel como o segundo maior princíp io de modificação do comportamento. Suspeito mesmo que devemos logo nos preparar para aceitar a idéia de que as modificações das respostas no condicionamento clássico pode ser grandemente reduzido a uma forma de aprendizagem instrumental. Naturalmente que, quando e se, essa integração vier, ela certamente não eliminará Pavlov. Pelo contrário, os diques serão finalmente eliminados para a exploração das descobertas do grande fisiólogo Russo, em sua área mais apropriada: a modulação do comportamento corrente pelos efeitos Pavlovianos sobre a motivação, a emoção e a criação de reforçadores. O livro PRINCÍPIOS DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO guarda um silêncio virtual sobre as contribuições dos biólogos comportamentais às fontes evolucionistas da variação do comportamento; fator este não facilmente manipulável mas não facilmente ignorado. Enquanto eu sempre senti a negligência às contribuições dos etologisias às características comportamentais das espécies, como a maior omissão de meu livro, e o enfoque no meio-ambientalismo (que poderia ter sido d ifíc il conseguir com uma apresentação balanceada de biologia e psicologia) fo i e é a sua maior força. Porquanto a sua preocupação com as variáveis do meio ambiente do passado e do presente permitiram-me aplicar a teoria do reforço de maneira criativa a um amplo espectro de com p o rta m e n to s humanos complexos, incluindo a aprendizagem de conceitos, significado e compreensão, solução de problemas, motivação e emoção, de tal modo que ainda hoje parece-me que retêm um sabor moderno. Assim, por todas as mudanças e fermentos que ocorreram desde o seu aparecimento e por todas as suas omissões, pode muito bem ser qüe o livro PRINCÍPIOS DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO ainda contenha a mais noderna e sistemática coleção de princípios elementares universais que existem para a jodificação do comportamento. Certamente eu creio que minha atenção meticulosa para a elaboração e a aplicação de conceitos fundamentais, minha pressão neste livro na descrição formal de contingências de reforçamento, a preocupação no texto com os detalhes íntimos, em profundidade, de um número lim itado de processos fundamentais do comportamento, seu comprometimento em compreender, opondo-se a uma ( obertura superficial dos temas, sua natureza programada e, finalmente, sua fé em que a teoria psicológica pode e deve ser desenvolvida a um nível comportamental são, todos eles, características que permanecem distintas e perenes. Tornando este livro disponível numa edição em Português a, talvez, uma audiência bem maior, esta poderá ser introduzida aos recentes insights e às promessas conceituais dessa ciência do século XX PREFACIO O objetivo deste livro é fornecer uma introdução rigorosa à Psicologia Experimental orientada para os dados. Ele se dirige principalmente ao estudante do primeiro curso em Psicologia e contém material adequado paradois semestres consecutivos ou um período de um ano. Embora o texto atinja um grau incomum de sistematização para o nível introdutório, o material que ele contém não é necessariamente mais difícil do que o encontrado na maioria dos textos de abordagem geral no campo. Com um grupo limitado de conceitos gerais, tentei construir uma estrutura razoável de modo que o estudante tenha, se este fôr o seu primeiro, único ou último curso em ciência, os meios para interpretar e ordenar uma ampla variedade de fenômenos psicológicos. Não fiz tentativa alguma para rever todas as atividades variadas dos psicólogos em geral na metade do século vinte. Na maior parte mantive o caminho direto e estrito da Psicologia Experimental. Dentro desses limites, concentrei-me no que, em termos tradi cionais, seria chamado aprendizagem e condicionamento, motivação e emoção e, em menor extensão, Psicofísica, percepção e resolução de problemas. Os correlatos fisio lógicos do comportamento são apresentados nas discussões sobre motivação e emoção. As desordens do comportamento são estruturadas como fenômenos emocionais patoló- >s. Não há um capítulo com títulos como os de Percepção e Psicofísica, mas seus 1'miiTilns básicos e alguns dados representativos são considerados no texto, nos capítulos h*>l»ic* controle de estímulo, discriminação e aquisição de conceitos, e em outras partes. A aluminum na área é feita em termos da análise funcional do comportamento, um ponto do visla há muito tempo associado com B. F. Skinnei. Embora a maioria dos “prin cípios’* dosciilos tenham suas origens no laboratório de pesquisa animal,sua relevância para as atividades humanas é repetidamente enfatizada. Algumas noçoes de Estatística elementar são apresentadas, principalmente para fornecei algum sabor à variabilidade dos dados e para apontar a utilidade de instrumentos estatísticos no losumo e interpretação dos resultados. Utilizei o método de anexar alguns capítulos com seçoes sobre análise de dados, muitos dos quais descrevem conceitos estatísticos simples. Embora estas seções estejam organizadas de modo a incorporar os dados empíricos citados nos capítulos em que aparecem, eles fornecem seqüência independente colocada à narte do corno do textn Um sistema de notação de R e S para descrever os procedimentos comportamentais é uma parte integral do texto. Os procedimentos no campo estão se tornando cada vez mais complexos e algum esquema formal para reduzí-los aos seus elementos parece dese jável se se quer que o estudante aprecie diferenças e similaridades de procedimento. 0 problema de se a notação particular, aqui elaborada, há de encontrar um lugar permanente na ciência não será resolvido aqui. Mas, com sua inclusão, desejo enfatizar que uma representação simbólica da lógica de nossos procedimentos está se tornando obrigatória para uma exposição e comun icação e ficientes. Espero que o instrutor encontre dificuldade para modificar a seqüência dos capítulos ou omitir qualquer um completamente. (As seções que podem ser omitidas sem destruir a continuidade estão em tipo pequeno.) Os conceitos se constroem uns sobre os outros e o livro é uma unidade. O nível de dificuldade parece-me ser uma função direta do número do capítulo. Ao usar o material com estudantes de vários níveis, o principal grau de liberdade parece ser a velocidade em que o instrutor pode progredir. Mantendo o prin cípio de Bruner1, que “qualquer assunto pode ser ensinado, de modo efetivo e de uma forma intelectualmente honesta, a qualquer indivíduo em qualquer estágio de desenvol vimento” , espera que o livro seja útil para diversos níveis: talvez, como um texto auxiliar para o curso de aprendizagem em graduação, ou mesmo como um livro de consulta para cursos de pós-graduação em análise experimental do comportamento. Um laboratório seria um complemento valioso para um curso tal como este e a seqüência do texto é tal que facilita uma ordem lógica de tópicos experimentais para o laboratório. Meus agradecimentos são para muitos dos meus ex-alunos da Columbia University, Birkbeck College (University of London) e Carnegie Institute of Technology que, durante anos, estabeleceram as condições para escrever o livro e que modelaram amplamente a sua estrutura. A Susan Alcott, Nancy Innes, Mary Carol Perrott, e par ticularmente Isabelle Alter, tenho uma dívida pela leitura crítica, releitura, e edição dos rascunhos preliminares. As sugestões dos meus colegas Daryl Bem, John Boren, Derek Hendry, Dennis Kelly, Bernard Migler e do editor dessa serie, Melvin Marx, que entre eles ieu cada capítu lo do livro, esclareceram , apreciavelmente, a versão final. Evalyn Segai, generosam ente, realizou o árduo trabalho de reler todo o manuscritc durante as férias de verão, e seus comentários detalhados ajudaram a melhorar o livro de muitas maneiras. W. N. Schoenfeld e Francis Mechner merecem o crédito por aquilo que de valor original aqui for encontrado. Não seria necessário dizer que eles não são de modo algum responsáveis pelos defeitos e deficiências e espero que eles perdoem quais quer distorções de suas idéias que eu possa ter, inadvertidamente, criado. J. R. M. J. S. Bruner, The process of education. Cambridge: Harvard llnivrr Press 196^ n ^ 1 S U M Á R I O NOTA AOS ESTUDANTES......................................................................................... 19 PRIMEIRA PARTE: A REGULARIDADE DO COMPORTAMENTO..................... 21 CAPÍTULO 1 - UM BACKGROUND PARA A ABORDAGEM CIENTÍFICA AO COMPORTAMENTO....................................................................... 23 1.1 Primeiras tentativas para explicar e classificar o comportamento hum ano..... 23 1.2 A ação reflexa........................................................................................................ 25 1.3 Reflexos condicionados ou adquiridos........... .................................................... 25 1.4 A teoria da evolução e o comportamento adaptativo....................................... 26 1.5 Os primeiros experimentos sobre o comportamento “voluntário” .................. 27 1.6 O Zeitgeist.............................................................................................................. 29 1.7 A psicologia perde a sua m ente............................................................................ 30 1.8 O firme estabelecimento de uma análise experimental do comportamento .... 32 1.9 Revisão.................................................................................................................... 34 CAPÍTULO 2 - COMPORTAMENTO REFLEXO (ELICIADO)........................... 37 2.1 A fórmula S - R .................................................................................................... 37 2.2 Leis do reflexo primário........................................................................................ 39 2.3 Leis secundárias do reflexo................................................................................... 41 2.4 Força do reflexo: um constructo hipotético....................................................... 42 2.5 Exemplos comuns de reflexos.............................................................................. 44 2.6 Variabilidade nas medidas; resumo de dados em distribuição de freqüência; estatística básica; a curva norm al........................................................................ 45 CAPÍTULO 3 - CONDICIONAMENTO PAVLOVIANO ....................................... 53 3.1 Reflexos condicionados e a natureza de um experimento................................. 53 3.2 O paradigma Pavloviano: um método esquemático de representar o condi cionamento 56 3.3 Relações temporais nos paradigmas de condicionamento................................. 62 3.4 A extensão do condicionamento clássico................................ ........................... 64 3.5 O método experimental ........................................................................................66 3.6 Introdução aos conceitos elementares de probabilidade................................... 70 CAPÍTULO 4 - FORTALECIMENTO OPERANTE............................................... 75 4.1 Introdução ao comportamento proposital.......................................................... 75 4.2 Um experimento protótipo.................................................................................. 77 4.3 Mudanças na taxa absoluta................................................................................... 79 4.4 Mudanças na taxa relativa.................................................................................... 84 4.5 Mudanças seqüenciais no responder.................................................................... 85 4.6 Mudanças na variabilidade.................................................................................... 86 4.7 Operantes e estímulos reforçadores..................................................................... 87 4.8 O paradigma do fortalecimento operante........................................................... 89 4.9 Operantes vocais..................................................................................................... 90 4.10 A extensão do fortalecimento operante............................................................. 92 4.11 Superstição............................................................................................................. 94 4.12 Condicionamento operante .................................................................................. 95 CAPÍTULO 5 - EXTINÇÃO E RECONDICIONAMENTO DO OPERANTE....... 99 5.1 Mudanças na taxa de resposta durante a extinção.............................................. 100 5.2 Mudanças topográficas e estruturais na extinção............................................... 101 5.3 Resistência à extinção........................................................................................... 102 5.4 Recuperação espontânea ....................................................................................... 106 5.5 Condicionamento e extinção sucessivos............................................................. 107 5.6 Esquecimento e extinção...................................................................................... 108 5.7 Uma definição compreensiva de extinção operante........................................... 112 5.8 A extensão dos conceitos de extinção................................................................. 112 5.9 Representações gráficas dos resultados de experimentos nos quais muitas variáveis independentes são estudadas em conjunto........................................ 116 SEGUNDA PARTE: AS UNIDADES FUNDAMENTAIS DE ANÁLISE............... 121 CAPÍTULO 6 - NOTAÇÃO DE CONTINGÊNCIA DE RESPOSTA E ESTÍ MULO................................................................................................ 123 6.1 Respostas e eventos ambientais............................................................................ 124 6.2 Situações e eventos ambientais............................................................................. 126 6.3 A noção de uma contingência comportamental................................................ 127 6.4 A situação inicial (Sa ) .......................................................................................... 129 6.5 Contingências múltiplas na mesma situação....................................................... 130 6.6 A contingência n u la .............................................................................................. 132 6.7 A duração das situações e das contingências....................................................... 133 6.8 Mais de uma resposta é exigida para a conseqüência S ....................................... 134 6.9 Contingências repetitivas......................................................................... ........... 135 6.10 Facilitação............................................................................................................. 136 6.11 Çontingências negativas....................................................................................... 137 6.12 Contingências probabilísticas............................................................................. 138 6.13 Discriminações...................................................................................................... 139 6.14 R e S funcionalmente dependentes................................................................... 140 6.15 Contingências agrupadas...................................................................................... 141 CAPÍTULO 7 - REFORÇAMENTO INTERMITENTE......................................... 143 7.1 Contingência de intervalo.................................................................................... 144 7.2 Probabilidade de reforçamento.......................................................................... 149 7.3 Notas teóricas sobre esquemas de reforçamento.............................................. 152 7.4 Os efeitos do reforçamento intermitente na resistência à extinção................. 153 7.5 Outros efeitos comportamentais do reforçamento intermitente.................... 155 7.6 Estados estáveis do comportamento.................................................................. 155 CAPITULO 8 - A ESPECIFICAÇÃO DA RESPOSTA.......................................... 159 8.1 A definição de classes de resposta............................................... ..................... 159 8.2 Uma definição de resposta operante em termos da teoria dos conjuntos....... 163 8.3 O paradigma da diferenciação............................................................................ 164 8.4 Aproximação sucessiva........................................................................................ 169 8.5 Extensão do conceito de operante.................................................................... 170 8.6 Diferenciação de tax a .......................................................................................... 176 8.7 Reforçamento do responder contínuo.............................................................. 178 8.8 Sumário................................................................................................................. 179 8.9 A linguagem e lógica dos conjuntos................................................................... 180 CAPÍTULO 9 - CONTROLE AMBIENTAL............................................................ 185 9.1 Dimensões do estím ulo....................................................................................... 185 9.2 Generalização de estím ulo................................................................................... 190 9.3 Generalização da extinção................................................................................... 197 9.4 Algumas implicações da generalização............................................................... 199 9.5 Notas sobre o delineamento de experimentos em psicologia usando sujeitos animais................................................................................................................... 201 TERCEIRA PARTE: UNIDADES COMPONENTES DO COMPORTAMENTO .... 203 CAPÍTULO 10 - DISCRIMINAÇÃO........................................................................... 205 10.1 Duas condições do estímulo, uma classe de resposta......................................... 206 10.2 O paradigma da discriminação............................................................................ 210 10.3 Duas condições do estímulo, duas classes de resposta..................................... 21 i 10.4 m Condições do estímulo, n classes de resposta............................................... 213 10.5 Mudanças contínuas no comportamento em função de mudanças contínuas numa dimensão do estím ulo............................................................................... 215 10.6 Discriminaçãosem respostas em S^ .................................................................. 217 10.7 Tempos de reação discriminativos..................................................................... 219 10.8 As implicações do controle de estímulo operante........................................... 220 10.9 A significância das diferenças entre duas matérias........................................... 221 CAPITULO 11 - REFORÇADORES ADQUIRIDOS................................ 227 11.1 As propriedades reforçadoras dos estímulos discriminativos positivos.......... 228 11.2 Como aumentar a durabilidade de reforçadores condicionados..................... 229 11.3 Recompensas “token” ......................................................................................... 233 11.4 Reforçadores generalizados ................................................................................. 234 11.5 Respostas de observação ..................................................................................... 235 11.6 As condições necessárias e suficientes para se criar reforçadores condi cionados ................................................................................................................. 237 11.7 O reforçamento secundário no comportamento social................................... 239 CAPÍTULO 12 - ENCADEAMENTO........................................................... 245 12.1 Os elementos de cadeias comportamentais............................................. ......... 245 12.2 O desenvolvimento de uma cadeia complexa................................................... 247 12.3 A aprendizagem de labirinto como um encadeamento................................... 251 12.4 Os efeitos da extinção seletiva em pontos diferentes na cadeia..................... 252 12.5 Esquemas encadeados.......................................................................................... 255 12.6 O comportamento humano cotidiano como encadeamento........................... 257 12.7 Cadeias vocais....................................................................................................... 260 12.8 Cadeias ramificadas e representação do diagrama de fluxo............................ 263 12.9 Cadeias de comportamento encoberto.............................................................. 267 QUARTA PARTE: CONTINGÊNCIAS COMPLEXAS.............................................. 271 CAPÍTULO 13 - AQUISIÇÃO DE CONCEITO ......................................... 273 13.1 Dispc' íção para aprender (simples)................................................................... 274 13.2 Algumas variáveis que interferem na aquisição da disposição para aprender (L -SE T )................................................................................................................. 278 13.3 L-SETS mais complexos.................................................................................... 278 13.4 Experimentos simples sobre formação de conceito em sujeitos humanos..... 280 13.5 Estudos sobre formação de conceito em animais............................................ 284 13.6 Classes arbitrárias de S^; conceitos disjuntivos............................................... 288 13.7 Significado e compreensão considerados como interrelações entre conceitos 291 13.8 A aquisição de conceito através da instrução programada............................. 298 13.9 As constâncias perceptivas.................................................................................. 305 CAPÍTULO 14 - SOLUÇÃO DE PROBLEMA E INTELIGÊNCIA........................ 311 14.1 A estrutura de um problema e a natureza de uma solução............................ 311 14.2 Quebra-cabeças..................................................................................................... 315 14.3 Estratégias de procura de heurísticas................................................................ 318 14.4 Identificação do conceito.................................................................................... 321 14.5 A mensuração de habilidades para solucionar problema: testes de inteli gência ..................................................................................................................... 323 14.6 Correlação, teste de confiabilidade e validade.................................................. 327 QUINTA PARTE: DINÂMICA DO REFORÇO......................................................... 335 CAPÍTULO 15 - MOTIVAÇÃO I ................................................................................ 337 15.1 Causa e efeito e a noção de lei científica......................................................... 337 15.2 Causas fictícias do comportamento .................................................................. 339 15.3 História passada com contingências de condicionamento e extinção como causas do comportamento................................................................................... 340 15.4 Motivos e reforçadores................................................................... ..................... 342 15.5 Operações de impulso ......................................................................................... 343 15.6 Periodicidades no valor do reforçamento......................................................... 344 15.7 Paradigmas de privação e saciação.................................................................... 346 15.8 A mensuração dos impulsos................................................................................ 348 CAPÍTULO 16 - MOTIVAÇÃO I I ............................................................................... 361 16.1 Ativação e aspectos direcionais da motivação.................................................. 361 16.2 Incentivo ............................................................................................................... 365 16.3 Fatores fisiológicos na motivação ...................................................................... 366 16.4 Reforçadores primários adicionais...................................................................... 371 16.5 Drives adquiridos.................................................................................................. 377 CAPÍTULO 17 - CONTINGÊNCIAS AVERSIVAS................................................... 383 17.1 Reforçadores negativos........................................................................................ 383 17.2 Condicionamento de fuga ................................................................................... 384 17.3 Parâmetros de S'".................................................................................................. 385 17.4 Estímulos aversivos condicionados..................................................................... 390 17.5 Condicionamento de esquiva.............................................................................. 392 17.6 Punição................................................................................................................... 398 1 7.7 Masoquismo........................................................................................................... 402 CAPfrULO 18 - COMPORTAMENTO EMOCIONAL..............................P................ 405 18.1 É a emoção uma causa do comportamento ou um efeito comportamental? .. 405 18.2 Três conceitos de em oção.................................................................................. 407 18.3 O paradigma da ansiedade.................................................................................. 412 18.4 R aiva...................................................................................................................... 416 18.5 Elação..................................................................................................................... 418 18.6 Um modelo para representar e interrelacionar fenômenos emocionais.......... 421 18.7 Medicina psicossomática......................................................................................425 18.8 O sistema nervoso autônom o.................................................................... i........ 427 18.9 Controle emocional, maturidade emocional e comportamento emocional patológico............................................................................................................... 431 18.10Um índice de mudança emocional..................................................................... 434 ÍNDICE ANALÍTICO.......................................................................................................... 437 NOTAS AOS ESTUDANTES UMA PSICOLOGIA INTRODUTÓRIA PODE SER INTERPRETADA COMO UMA introdução aos métodos e princípios da análise científica do comportamento. Embora as definições antigas de Psicologia enfatizassem os “processos mentais”, por razões que serão esclarecidas através deste texto, uma abordagem moderna àPsicologia toma o comportamento dos seres humanos assim como dos animais inferiores como seu objeto de estudo. Apoiando-se firmemente no canone de que apenas o que pode ser observado pode ser cientificamente estudado, este ponto de vista moderno ataca problemas da Psicologia tradicional através da análise do comportamento. No decorrer deste texto encontrar-nos-emos estudando e representando na linguagem do comportamento, tópicos tais como aprendizagem e memória, solução de problema e inteligência, sensação e per cepção, emoção e motivação. A organização deste livro permitirá que você chegue a uma compreensão preliminar dos princípios básicos do comportamento humano. Embora muitos dos paradigmas e conceitos fundamentais, que são tratados com detalhes, tenham sido derivados origi nalmente de experimentos de laboratório com sujeitos animais, eles não são de modo algum limitados aos animais. Empregamos sujeitos animais na pesquisa psicológica por razões pragmáticas: o ser humano do século vinte provavelmente não se submeteria livremente a uma faixa ampla de controle ambiental necessária para um estudo científico; e mesmo que se submetesse, a sociedade não o permitiria. Para chegar a uma compreensão das causas do comportamento humano e animal, será necessário que você adquira primeiro um vocabulário técnico e uma familiaridade completa com os conceitos básicos da Psicologia. Não se conhece um caminho mais curto para se chegar a tal vocabulário. Você deverá aprendê-lo do mesmo modo que, ao se preparar para uma partida de xadrez, é necessário aprender os nomes e movimentos permissíveis das peças, as saídas mais comuns e os princípios básicos de ataque e defesa. Ao estudar Psicologia, você pode ter uma desvantagem peculiar que não existe na aprendizagem inicial de xadrez. Certas opiniões e pontos de vista pré-concebidos sobre as causas do comportamento, os quais são uma parte padrão da interpretação do mundo dada pelo bom senso, devem primeiro ser esquecidas. Infelizmente, esta visão do bom senso da natureza humana não é sempre a mais útil para a formulação de uma ciência - 1 9 - sistemática das relações entre o comportamento e suas variáveis controladoras. Por essa razão, será melhor que você tente colocar de lado seus preconceitos sobre as ações das pessoas e, em particular, seu sistema de representação dos assim chamados processos mentais internos. Tente, assim, abordar a matéria com um ponto de vista novo, conten tando-se, inicialmente, em fazer perguntas ingênuas tais como “O que o organismo observado estava fazendo? ” e “O que se relaciona consistentemente com o que ele fazia? ” No início, seu progresso pode parecer lento mas ele será sempre seguro. J. R. M. - 2 0 - PRIMEIRA PARTE A REGULARIDADE DO COMPORTAMENTO 1. UM BACKGROUND PARA A ABORDAGEM CIENTIFICA AO COMPORTAMENTO 2. COMPORTAMENTO REFLEXO (EL1CIADO) 3. CONDICIONAMENTO PAVLOV1ANO 4. FORTALECIMENTO OPERANTE 5. EXTINÇÃO E RECONDICIONAMENTO DO OPERANTE Capítulo 1 UM BACKGROUND PARA A ABORDAGEM CIENTIFICA AO COM PORTAMENTO Quando Sócrates ouviu falar das novas descobertas no campo da anatomia, que se propunham a provar que as causas dos movimentos corporais eram derivadas de um engenhoso arranjo mecânico dos músculos, ossos e articulações, disse: “ Isto dificilmente explica porque estou sentado aqui, numa posição recurvada... falando com vocês” (Kantor, 1963). Passaram-se 2.300 anos desde este comentário de Sócrates e nos séculos subsequentes, as causas do comportamento humano foram atribuídas a marés, espirito divino, posição das estrelas e, com freqüência, simplesmente ao capricho. Nos últimos cem anos, surgiu uma ciência do comportamento trazendo um conceito estrutural novo, com novas atitudes em relação às causas do comportamento. Uma breve história dos eventos que levaram ao desenvolvimento desta ciência é uma introdução apropriada para seu estudo. Assim como não existe um modo melhor de entender as atividades presentes de uma pessoa do que estando a par de sua história passada, também não há melhor meio de entender as atividades presentes de uma ciência do que através do conhecimento do seu passado. 1.1 PRIMEIRAS TENTATIVAS PARA EXPLICAR E CLASSIFICAR O COMPORTA MENTO HUMANO As origens precisas da ciência do comportamento, como aquelas todos os campos do conhecimento, estão perdidas na obscuridade dos tempos. Mesmo assim, sabemos que pelo ano 325 a.C., na Grécia antiga, Aristóteles combinou a observação e a interpretação num sistema naturalístico de comportamento, ainda que primitivo. Aristóteles procurou as causas (1) do movimento dos corpos, e (2) das discriminações feitas pelos organismos. Descreveu muitas categorias de comportamento tais como a percepção dos sentidos, visão, olfato, audição, bom senso, pensamento simples e complexo, apetite, memória, sono e sonho..Seus tópicos soam-nos familiares, atualmente, e eles rão ainda encontrados de uma forma ou de outra, em quase todos os textos de Psicologia. Aristóteles estava menos interessado na previsão e controle da natureza do que estamos atualmente e, desta torma, suas explicações do comportamento têm um sabor mais antiquado. Aristóteles estava preocupado em explicar as várias atividades de um indivíduo, mostrando serem eias padrões específicos de “qualidades” gerais, tais como apetite, paixão, razão, vontade e habilidade sensorial (Toulmin e Goodfield, 1962). - 23 - As observações e classificações de Aristóteles e dos estudiosos gregos que o seguiram foram um início substancial na tentativa naturalística de entender as causas do compor-' tamento humano. Mas a nova ciência declinou com o desaparecimento da civilização helênica. O início da Era Cristã e da Idade Média produziu um clima intelectual pobre para o desenvolvimento da observação e pesquisa: o homem voltou sua atenção para os problemas metafísicos. Os Padres da Igreja iniciaram e os teólogos medievais comple taram uma transformação conceituai de uma das “qualidades” puramente abstratas de Aristóteles numa alma sobrenatural a quem as causas do comportamento humano eram atribuídas. Encarando esta alma como imaterial, insubstancial, e sobrenatural, um dualismo definitivo foi estabelecido entre alma e corpo. Colocando as causas do compor tamento numa região não observável do espírito, este dualismo inibiu o estudo natura- lístico do comportamento. Então, por um longo período de tempo, as ciências do comportamento permaneceram adormecidas. Temos que pular adiante para o século dezessete, no tempo de Galileu e o surgimento da física moderna para retomar os fios que eventualmente, deram-lhes uma estrutura científica. As teorias do filósofo e matemático Renè Descartes (1596-1650), contemporâneo francês de Galileu, representam uma quebra parcial da explicação metafísica do compor tamento. Tomando como modelo as figuras mecânicas dos jardins reais de Versailles que se moviam e produziam sons, Descartes sugeriu que o movimento corporal era o resultado de causas mecânicas semelhantes. As máquinas nos nrdins reais operavam baseadas em princípios hidráulicos. A água era bombeadaem tubos fechados para impulsionar os membros das figuras, produzindo movimentos, ou era conduzida através de aparelhos que emitiam palavras ou músicas quando a água passava. Descartes imaginou que animais e homens eram, na realidade, um tipo de máquina complicada, analogamente construída. Ele substituiu a água das figuras reais pelos espíritos animais, um tipo de substância intangível, elástica e invisível; e supôs que os espíritos fluíssem nos nervos de tal modo que entravam nos músculos causando, assim, sua expansão e contração e, por sua vez, fazendo os membros se movimentarem. Algumas das Figuras Reais estavam arrumadas de maneira que, se os visitantes passassem por cima de ladrilhos escondidos, o mecanismo hidráulico atuante fazia as figuras se aproximarem ou se afastarem. Descartes tomou essa resposta mecânica como modelo para explicar como um estímulo ambiental externo poderia causar um movimento corporal. Uma ilustração (ver la. Parte, p.21) num dos seus trabalhos, mostra o retraimentc de um membro de um homem próximo de uma chama. De acordo com Descartes, “a má quina do nosso corpo é assim formada” de tal modo que o calor de uma chama excita um nervo que conduz essa excitação ao cérebro. Do cérebro, os espíritos animais são transmitidos ou refletidos de volta ao membro, através do nervo, aumentando o músculo e causando assim a contração e retraimento (Fearing 1930). O desejo de Descartes de encarar o comportamento humano como determinado por íorças naturais foi somente parcial. Hle limitou sua hipótese mecânica para certos com portamentos “ involuntários” e supôs que o resto era governado pela alma, localizada no cérebro. A alma guiava inclusive os mecanismos dos comportamentos “ involuntários” , mais ou menos do mesmo modo que uma máquina poderia dirigir as Figuras Reais. A despeito deste dualismo e a despeito de sua escolha de um princípio hidráulico, as formulações de Descartes representaram um avanço no pensamento inicial sobre o com portamento. A teoria do corpo como um tipo específico de máquina poderia ser testada por observação e experimentação. Hsta foi a propriedade seriamente omitida nas - 24 explicações medievais. Ao'restabelecer a idéia de que, pelo menos, algumas das causas do comportamento humano e animal poderiaim ser encontradas no ambiente observável, Descartes estabeleceu as bases filosóficas que eventualmente iriam justificar uma abordagem experimental do comportamento. 1 .2 - A AÇÃO REFLEXA O ponto de vista de Descartes simboliza o novo interesse num mecanismo que conduziu à experimentação sobre a ação “reflexa” do animal. Em 1750, um psicólogo escocês, Robert Whytt, redescobriu e expandiu experimentalmente o princípio do estímulo, de Descartes. Pela observação da contração sistemática da pupila à luz, salivação a irritantes e vários outros reflexos, Whytt foi capaz de estabelecer uma relação necessária entre dois eventos separados: um estímulo externo (por exemplo, a luz), e uma resposta corporal (por exemplo, a contração da pupila). Além disso, a demonstração de Whytt que um número de comportamentos reflexos poderia ser eliciado numa rã decapi tada, enfraqueceu a atratividade de uma explicação em termos de alma. Contudo, não foi possível, ainda no século dezoito, olhar o estímulo isoladamente como uma causa sufi ciente do comportamento. A alma, pensou Whytt, provavelmente se difunde através da medula e do cérebro, retendo, consequentemente, o controle mestre dos reflexos. Nos 150 anos seguintes, mais e mais relações reflexas foram descobertas e elaboradas e o conceito de estímulo adquiriu mais força. Ao mesmo tempo, a ação do nervo passou a ser compreendida como um sistema elétrico ao invés de hidráulico. No inicio do século XIX, a tendência espiritual tomou-se supérflua para explicar a ação “involuntária” e Sir Charles Sherrington, célebre fisiologista inglês, pôde resumir as causas do comportamento reflexo em leis quantitativas de estímulo-resposta. Essas leis relacionavam a velocidade, magnitude e probabilidade da resposta reflexa à intensidade, freqüência e outras propriedades mensuráveis do estímulo. A ciência havia anexado inteiramente o reflexo. Mesmo assim, uma grande proporção do comportamento humano e dos animais superiores permaneceu ligada a forças sobrenaturais. 1.3 - REFLEXOS CONDICIONADOS OU ADQUIRIDOS Pouco antes do início do século XX, Ivan Pavlov, fisiologista russo, estava pesquisando as secreções digestivas de cães. No curso desses experimentos, notou que enquanto a introdução de alimento ou ácido, na bôca, resultava num fluxo de saliva, a mera aparição do experimentador trazendo alimento poderia também eliciar um fluxo similar. Pavlov não foi, de modo algum, o primeiro homem a fazer observações deste tipo. Mas parece ter sido o primeiro a suspeitar de que seu estudo detalhado poderia fornecer um indício para a compreensão do comportamento ajustado e adaptado dos organismos. Foi esta visão que o ievou ao estudo sistemático desses reflexos, os quais chamou de reflexos condicionais, porque eles dependiam ou eram condicionais a um evento prévio na vida do organismo. A aparição do experimentador não eliciava origi nalmente a saliva. Somente depois que sua aparição era frequentemente associada com alimento ou ácido, ela apresentava esse efeito. A contribuição particular de Pavlov foi mostrar experimentalmente como os reflexos condicionais eram adquiridos, como poderiam ser removidos (extintos) e que faixa de energias do ambiente era efetiva em sua produção. Pavlov, em tempo, apontou uma lei geral de condicionamento: depois de uma - 2 5 - associação temporal repetida de dois estímulos, aquele que ocorre primeiro, eventual mente, passa a eliciar a resposta que, normalmente, é eliciada pelo segundo estímulo.' Esta lei continua conosco até hoje, ligeiramente modificada. Três aspectos gerais do trabalho de Pavlov merecem nossa atenção. Primeiro, ele não estava satisfeito em observar simplesmente os aspectos gerais do condicionamento, como muitos outros fizeram antes dele (c. f. Hall e Hodge, 1890). Ê m vez disso, ele prosseguiu para verificar a generalidade do fenômeno usando muitos estímulos e muitos cães. Foi somente depois de numerosas demonstrações que ele codificou numa lei o que havia descoberto -- lei esta aplicável, pensou ele, a todos os estímulos e a todos os organismos superiores. Segundo, Pavlov, preocupou-se com os aspectos mensuráveis ou quantitativos do fenômeno. Essas quantidades mensuráveis, tais como a quantidade de saliva e o número de emparelhamentos do retlexo, foram úteis por permitirem uma análise deta lhada do condicionamento. Um terceiro aspecto do trabalho de Pavlov foi sua natureza sistemática. Limitando seus estudos aos efeitos de numerosas condições sobre uma única grandeza (quantidade de saliva), Pavlov assegurou que suas descobertas experimentais pudessem ser interrelacionadas e, consequentemente, mais significativas. Pavlov viu claramente como se deve proceder na explicação do comportamento. “o naturalista deve considerar somente uma coisa: qual é a relação desta ou daquela reação extema do animal com os fenômenos do mundo externo? Esta resposta pode ser extremamente complicada em comparação com a reação de qualquer objeto inanimado, mas o princípio envolvido permanece o mesmo. Estritamente falando, a ciência natural tem por obrigação determinar somente a conexão precisa que existe entre um dado fenômeno natural e a resposta do organis mo vivo a este fenômeno (Pavlov, 1928, p. 82)” . Contudo, apesar de seu próprio interesse declarado na relação meio e resposta, Pavlov gradativamente passou a encarar o condicionamento como um estudo da função do cérebro. Suas explicações tendiam a ser em termos de processos cerebrais hipotéticos. Mas, na verdade, Pavlov raramente mediu qualquer relação real entre cérebro e compor tamento. Assim, estas explicações eram tão fictícias como as primeiras explicações em termos da alma. Tentandoexplicar o comportamento através de funções desconhecidas do cérebro, ele evitava uma descrição direta do próprio comportamento violando, deste modo, uma das suas próprias afirmações de que uma ciência do comportamento necessita determinar somente a "conexão precisa que existe entre um dado fenômeno natural e a resposta do organismo vivo a este fenômeno” . L4 - A TEORIA DA EVOLUÇÃO E O COMPORTAMENTO ADAPT ATIVO De certo modo, o trabalho de Pavlov representa o auge da doutrina mecanicista de Descartes sobre o comportamento reflexo. Com respeito ao comportamento que tradicionalmente era colocado sob o controle do desejo ou volição, Descartes seguiu os preconceitos de seu tempo, atribuindo-o ao controle de uma alma não observável. Tal “solução” , todavia, apenas adiou a investigação científica, uma vez que o problema original de explicar o comportamento foi simplesmente transferido para um outro mais difícil, o de explicar o comportamento da alma postulada. Em 1859, ocorreu um grande evento científico que alterou o clima intelectual tornando-o favorável para um estudo - 2 6 - naturalistic*) do comportamento voluntário. Naquele ano, Charles Darwin propôs a teoria da evolução, dizendo que o homem era membro do reino animal e que diferenças entre o homem e outros animais eram quantitativas e somente uma questão de graus. Assim um conhecido historiador da Psicologia colocou a questão; “A teoria da evolução levantou o problema da Psicologia animal porque ela exige uma continuidade entre diferentes formas animais e entre o homem e os animais. De uma maneira vaga, a noção Cartesiana [de Descartes] ainda prevalecia. O homem possuia uma alma e os animais eram considerados sem alma, e havia, além disso, pouca distinção entre uma alma e uma mente. A oposição à teoria da evolução era baseada principalmente na suposição que fazia de haver continuidade entre homens e feras e a réplica óbvia para a crítica foi demonstrar a continuidade. A existência de mente nos animais e a continuidade entre a mente humana e animal, deste modo, tornou-se crucial para a sobrevivência da nova teoria (Boring, 1929, p. 462-463)” . A teoria de Darwin era baseada em muitas observações cuidadosas que ele havia feito de fósseis e da estrutura da flora e fauna vivas, em áreas isoladas da Terra. Além disso, ele pesquisou o comportamento através do qual os animais se adaptavam aos seus meios. As observações comportamentais de Darwin foram tão amplas e detalhadas que marcam a primeira tentativa sistemática de uma Psicologia Animal Comparativa (ver Darwin, 1873). O interesse de Darwin no comportamento foi, como observou o professor Boring, baseado naquilo que tal comportamento revelaria sobre a mente. Assim, a demonstração da complexidade e variedade nos comportamentos adaptativos de animais em relação a seus ambientes mutáveis, pareceria provar que eles, como o homem, deviam também pensar, ter idéias, e sentir desejos. Consequentemente, Darwin foi criticado por seu antropomorfismo, isto é, por tentar explicar o comportamento animal em termos de conceitos mentalistas. Mas pouco se pensou neste tempo em levantar a questão meto dológica mais radicai; se os conceitos mentalistas tradicionais (pensamento, idéia, desejos) têm valor explicativo mesmo para o comportamento humano. George John Romanes, amigo de Darwin, escritor inglês e popularizador da ciência escreveu um livro sobre a inteligência animal (Romanes, 1886) no qual comparou o comportamento de várias espécies de animais. Romanes colheu material da observação cuidadosa de animais, mas, também levou em consideração evidências de cunho popular sobre animais de estimação e de circo. Por esta razão, seu método veio a ser chamado anedótico. Os métodos, antropomòrfico e anedótico de Darwin e Romanes, respectivamente, marcaram uma renovação no interesse pelo comportamento adaptativo do animal e pela relação deste com o comportamento humano. Consequentemente, eles representam importantes precursores históricos de uma verdadeira análise experimental do comportamento. 1 .5- O S PRIM EIROS EXPERIM ENTOS SOBRE O COMPORTAMENTO “VOLUNTÁRIO” Em 1898, Edward L. Thorndike, da Universidade de Columbia, publicou os resultados de alguns estudos de laboratório com gatos, cães e pintos. Seus métodos eram radicalmente opostos àqueles da observação casual que o haviam precedido. A aparelhagem utilizada por Thorndike é mostrada na Fig. 1-1.0 comportamento estudado foi a fuga de um ambiente fechado e atos, tais como, puxar um cordão, mover um trinco, - 27 - pressionar uma barra ou abrir uma porta erguendo uma tramela, foram escolhidos por sua conveniência e exatidão de observação. Uma vez que qualquer um destes comportamentos podia ser organizado de modo a servir como instrumento que produziria a fuga da caixa, Thorndike os chamou de comportamentos instrumentais. I igura 1-1. A caixa quebra-cabeças utilizada por Thorndike para estudar a aprendizagem instrumental de animais (Garret, 1951). Quatro elementos do trabalho de Thorndike sobre o comportamento instrumental demonstram uma qualidade moderna não vista nas pesquisas comportamentais antes de sua época. (1) Ele reconheceu a importância de se fazer observações de animais cujas histórias passadas fossem conhecidas e mais ou menos uniformes. Logo, criou seus animais no laboratório onde poderiam obter condições ambientais semelhantes antes do experimento. (2) Thorndike compreendeu a necessidade de se fazer observações repetidas de um mesmo animal e de se fazer observações em mais de um animal e em mais de uma espécie. Somente deste modo poderia estar certo de que os resultados que ele obtinha eram aplicáveis aos animais em geral. (3) Thorndike viu que, a menos que considerasse mais do que um ato particular do comportamento, suas conclusões, seriam válidas apenas para o único aspecto do comportamento que ele escolhesse. Logo, empregou diversos comportamentos em vários aparelhos diferentes. (4) Ainda outra qualidade do trabalho de Thorndike, caracteristicamente científica, foi sua tentativa de fazer uma apresentação quantitativa dos resultados. De seus trabalhos com animais nas caixas quebra-cabeça, Thorndike apresentou um conjunto de princípios ou leis gerais do comportamento que acreditava serem válidas para muitas espécies e muitos tipos de comportamento. Um desses, princípios, embora - 2 8 - modificado chegou até nossos dias. Thorndike notou que, quando os animais eram inicialmente colocados na caixa quebra-cabeça, eles apresentavam muitas respostas difusas de debater-se. Eventualmente, um desses comportamentos difusos poderia, por acaso, fazer funcionar o mecanismo de fuga. A porta, então, abrir-se-ia, permitindo ao animal sair da caixa e o b te r um a pequena quantidade de alimento. Thorndike observou que o comportamento, que inicialmente permitia ao animal sair, era apenas um dos muitos que ele executava na situação. Assim, à medida que o animal era repetidamente submetido à situação , ele passava a ap resen tar menos comportamentos supérfluos, até que eventualmente não apresentasse, praticamente, nenhum daqueles mal sucedidos. Thorndike concluiu disto que os resultados bem sucedidos do passado, ou efeitos do comportamento, deveriam ter uma influência importante na determinação das tendências comportamentais presentes do animal. Thorndike chamou isto — a capacidade dos efeitos passados do comportamento modificarem os padrões do comportamento animal — a lei do efeito. Esta lei sobrevive ainda hoje como um princípio fundamental na análise fundamental e controle do comportamento adaptativo. 1 .6- O ZEITGEIST Thorndike forneceu um novo método experimental e com sua ajuda formulou o que logo seria aceito como uma lei básica do comportamento adaptativo. Do mesmo modo que Whytt, 1 50 anos antes, deixou o conceito de reflexos parcialmente no estado de fato observado e parcialmente no estado de interpretação supérflua, assim tambémThórndike deixou a lei doefeito. Na sua proposição do princípio, Thorndike não estava satisfeito em considerar o “efeito” como uma mera fuga do confinamento ou mero acesso ao alimento. Mas em vez disso, sentiu necessidade de inferir que o sucesso levava ao prazer e a satisfação, e que estas eram as causas verdadeiras das mudanças observadas no compor tamento. Deste modo, ele deixou a explicação a cargo de estados mentais hipotéticos, prazer e satisfação, os quais não eram mais reais do que a “alma” de Descartes. Para Thorndike, como para seus contemporâneos, o comportamento de um gato escapar de uma caixa quebra-cabeça não era importante como comportamento, mas somente como um meio de esclarecer os processos mentais e associações de idéias do animal. T hornd ike foi, então, fiel à sua época e suas tradições considerando o comportamento principalmente interessante pelo que podia revelar sobre algum outro sistema. O que as épocas e as tradições impõem aos mais originais pensadores são frequentemente denominadas de Zeigeist. Os grandes homens de uma era erguer-se-ão acima de Zeitgeist de algumas maneiras mas, mesmo assim, serão por ele acorrentados de outras maneiras. Descartes superou-o quando propôs uma teoria mecanicista original sobre o movimento do corpo. Que ele foi acorrentado pelo Zeitgeist, é evidente, pela sua permanência no dualismo “mente-corpo” . Vimos o Zeitgeist em Whytt, que redescobriu o princípio do estímulo, mas não foi capaz de eliminar a alma como a causa final dos reflexos que observou. Pavlov estudou os reflexos condicionados, um fenômeno cuja importância foi negligenciada durante séculos. Mesmo assim, vimos que Pavlov estava preso pelo Zeitgeist; ele manteve o ponto de vista de que os reflexos condicionados, embora, claramente, um fenômeno comportamental, eram de interesse para a compreensão do cérebro ao invés do comportamento. Agora, vemos o Zeitgeist em Thorndike, que realizou alguns dos primeiros experimentos sobre o comportamento “voluntário” , mas explicou suas descobertas através da associação de idéias. De fato, o - 2 9 - princípio do Zeitgeist penetra de tal forma todas as ciências que podemos tomar como regra geral que todo trabalho humano será colorido pelas teorias e ponlos de vistas aceitos em sua época. Assim, embora a grandeza de um homem consista em libertar-se de certas maneiras de pensar estabelecidas e ver o que ninguém antes dele viu claramente, ou, do mesmo modo, ele não escapará completamente do clima social, filosófico e 1 cultural no qual trabalha. 1.7 - A PSICOLOGIA PERDE A SUA MENTE Thorndike introduziu o comportamento adaptativo no laboratório e, assim fazendo, descobriu a importância da le i do efeito. Os estudos de Thorndike sobre o compor tamento surgiram do seu interesse, como Psicólogo, nos processos mentais. Será instru tivo, neste ponto, examinar a disciplina da Psicologia que, na primeira metade do século vinte, fundir-se-ia com outras contribuições históricas da ciência do comportamento. A pesquisa psicológica experimental iniciou-se em meados do século dezenove como uma disciplina derivada da fisiologia dos órgãos dos sentidos. De fato, os pioneiros Herman Helmholtz, Johannes Müller e Wilhelm Wundt eram todos físicos e fisiologistas. Estes primeiros psicólogos experimentais adotaram as categorias de comportamento descritas por Aristóteles mas, de um modo diferente deste, eles estavam interessados no comportamento, apenas, na medida em que esclarecia os processos mentais. Logo, o trabalho dos primeiros psicologistas representava uma tentativa para tornar os métodos experimentais naturalísticos, introduzidos por Galileu, compatíveis com as doutrinas metafísicas da Idade Média. Foi Wundt que, em 1879, fundou o primeiro laboratório de Psicologia em Leipzig. Podemos considerar o seu sistema como representativo das atividades desta nova disciplina, a qual tinha menos de vinte anos quando Thorndike estava fazendo seus experimentos com gatos e pintos na Colúmbia. Wundt advogou que a psicologia era a ciência da experiência; e, como tal% seu objeto de estudo abrangia sentimentos, pensamentos e sensação. Ele formulou a doutrina de que o método da Psicologia era introspectivo, um exame dos processos conscientes do organismo em experiencia. Logo, Wundt esquematizou o problema da Psicologia como “(1) a análise dos elementos dos processos conscientes, (2) a determinação de como esses elementos são conectados e (3) a determinação das leis de conexão” (Boring, 1929, p. 328, ital. omitidos). Os expe rimentos que Wundt e seus seguidores realizaram dão uma imagem melhor do conteúdo da psicologia do que as definições fornecidas por Wundt. A maioria dos trabalhos foi classificada sob o título de sensação humana e dizia respeito ao sentido visual em particular. Numerosos experimentos mediam as intensidades mínimas de luz que um ob servador poderia detectar sob várias condições. Outros estavam voltados para as menores mudanças ambientais necessárias para um observador relatar diferenças apenas percebidas çm luminosidade, cor e distância dos objetos. Tais pesquisas vieram a ser chamadas de experimentos de limiares em Psicofísica. Psico— porque as sensações eram consideradas estar sob estudo; física - porque mudanças físicas no ambiente eram manipuladas e medidas experimentalmente. Audição, tato, gosto, olfato e o sentido do tempo também foram pesquisados, assim como o tempo de reação, atenção e sentimento. A memorização de vários tipos de sílabas sem sentido era um método para tratar a associação de idéias e deduzir as propriedades da memória. Embora se afirmasse ser a psicologia uma ciência dos conteúdos, processos e atos mentais, o que de fato ela investigava era o comportamento. Associações de idéias eram - 3 0 - inferidas a partir da aprendizagem de sílabas sem sentido; sensações idênticas eram inferi das de observações do comportamento quando um sujeito humano agrupava dois objetos ambientais diferentes em contextos diferentes (por exemplo, duas amostras de papel cinza sob diferentes condições de iluminação); a velocidade do processo mental era inferida do tempo de reação do indivíduo. Assim, não foi paradoxo algum o fato de que quando Thorndike veio a fazer uma observação mais detalhada da associação de idéias, estivesse livre para escolher animais como sujeitos. Se o comportamento dos organismos humanos poderia levar à inferência sobre o processo mental, por que não o comportamento animal? Logo, aconteceu que o trabalho de Thorndike ajudou a intro duzir os métodos de pesquisa animal na Psicologia. Aí eles pejmanecem ao lado dos descendentes metodológicos da psicologia sensorial clássica e da Psicologia introspect iva do século dezenove. Mas, talvez o homem que mais contribuiu para esclarecer a relação entre o comportamento e Psicologia foi John B. Watson. O primeiro trabalho deste psicologista americano dizia respeito às modalidades sensoriais que o rato usa na aprendizagem de um labirinto. À medida que Watson continuava seus estudos com animais, tornava-se mais e mais preocupado com o ponto de vista predominante de que o comportamento era significativo somente quando esclarecia processos mentais ou conscientes. Ocorreu a Watson que os dados do comportamento tinham valor em si mesmos e que os problemas tradicionais da Psicologia — imaginação, sensação, sentimento, associação de idéias — poderiam ser todos estudados estritamento por métodos comportamentais. Em 1913, Watson publicou um trabalho, atualmente clássico, definindo a psicologia como ciência do comportamento e chamando esta nova Psicologia de “behaviorismo” . Watson argumentava, neste trabalho, que o estudo do comportamento poderia chegar a u m ‘status’ independente dentro da ciência. O objetivo de tal ciência seria a previsão e controle do comportamento de todos os animais, sem nenhuma preferência especial para os seres humanos. O behaviorista, dizia Watson, deve relacionar seus estudos de ratos e gatos com o comportamentohumano não mais (não menos) do que o zoologista deve relacionar suas dissecações de sapos e vermes à anatomia humana. Através de sua doutrina, Watson estava destruindo a teoria homocêntrica da importância do homem no mundo do comportamento tão eficazmente como Copérnico, quatrocentos anos antes, havia destruído a teoria do universo geocêntrico (terra no centro). O ponto crítico de Watson era o de que a psicologia deveria ser objetiva — isto é, ela deveria ter um objeto de estudo que, como nas outras ciências, fosse independente do observador. A Psicologia clássica, tentando estabelecer como seu objeto a auto- observação, carecia de um observador independente, localizado fora do sistema em consideração. A adoção do comportamento como objeto a ser observado deu à nova psicologia o observador independente necessário. O programa de Watson tinha um grande alcance e era para sua época, notavelmente sofisticado. Ao enfatizar o comportamento como um objeto independente de uma ciência dirigida para a previsão e controle do comportamento e a análise microscópica do ambiente e comportamento em termos de estímulo e resposta como a maneira para a compreensão eventual de padrões complexos do comportamento, o programa de Watson preparou a base para nossos pontos de vista modernos. - 31 - 1 . 8 - 0 FIRME ESTABELECIMENTO DE UMA ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO Os primeiros experimentos de Thorndike sobre o comportamento animal e a definição de Psicologia dada por Watson, como uma ciência do comportamento, introduziram a pesquisa animal na Psicologia,Mesmo assim, o ‘status’ científico da nova Psicologia era precário. No princípio dos reflexos condicionados formulado por Pavlov, Watson pensou ter encontrado um mecanismo explicativo para muitos dos ajustamentos complexos e sutis de organismos adultos, inclusive o homem, aos seus ambientes. Mas a tentativa de forçar todos os comportamentos no modelo do reflexo foi um fracasso. Watson não soube apreciar a importância daJei do efeito de Thorndike, principalmente, pode-se supor, devido ao excesso de bagagem conceituai com que Thorndike envolvera a questão. O ponto de vista de Watson de que a tarefa de uma ciência preditiva do comportamento fosse a compilação de todas as correlações estímulo-resposta hereditárias e adquiridas que um dado organismo exibisse, desviou a atenção da procura de leis gerais do comportamento. Neste vácuo teórico, conceitos mentalistas tradicionais continuaram a sobreviver. O rigor experimental do behaviorismo estava fora de questão, mas sua meto dologia corria o risco de ser estéril. “Vinte anos de “método de ciência natural” sustentados pelo behaviorismo fracas saram em fornecer uma formulação sistemática consistente e útil. Os dados experi mentais refletiam muitas propriedades arbitrárias dos aparelhos. Conclusões acei táveis com qualquer grau de generalidade referiam-se a aspectos, características ou capacidades limitantes. Enquanto muitas dessas eram bastantes válidas, poucas eram logicamente convincentes e preferências pessoais levavam a muitas ‘ciências’ individuais do comportamento” (Skinner, 1944; p. 276). Numa série de publicações iniciadas em 1930, B. F. Skinner propôs uma formulação do comportamento que surgiu de observações feitas num único organismo respondendo numa situação experimental artificial, cuidadosamente controlada e altamente padro nizada. O organismo que Skinner usou foi o rato branco, e a aparelhagem consistia numa caixa contendo uma pequena barra que, se pressionada pelo rato, fornecia uma pequena pelota de alimento em um recipiente localizado diretamente abaixo da barra Figura 1-2. A caixa de Skinner para o estudo do comportamen to operante de pequenos animais (Skinner, 1938). - 3 2 - Sob essas condições experimentais, um rato faminto deixado só na caixa, logo viria a pressionar a barra com uma taxa constante e moderada até que um dado número de pelotas de alimento liberadas começasse a saciar o animal. A situação experimental utilizada por Skinner e sua abordagem aos problemas do comportamento foram únicas em muitos aspectos. Skinner viu a necessidade de encontrar uma variável dependente sensível e exata. Isto é, algum aspecto quantitativo do comportamento que pudesse variar numa ampla faixa e ter uma relação ordenada e regular com as variáveis ambientais passadas e presentes, relação esta que pudesse ser formulada em termos de uma lei. Sua descoberta de que a freqüência de ocorrência da resposta de pressionar a barra durante um intervalo de tempo (sua taxa) satisfazia essas condições, foi o principal avanço em direção a uma análise sofisticada do comportamento individual. A abordagem de Skinner aos problemas do comportamento diferia, de certo modo, daquelas dos seus precursores assim como de seus contemporâneos que trabalhavam com a psicologia animal. Como proposição fundamental, ele sustentou que uma ciência do comportamento poderia ser o que chamou de descritiva ou funcional; isto é, poderia limitar-se a descobertas de relações ou correlações entre variáveis mensuráveis. Skinner também argumentou que as pesquisas deveriam ser sistemáticas, no sentido de que as relações obtidas estivessem ligadas por um ponto comum. Limitando suas observações às formas pelas quais uma única variável dependente (a freqüência por unidade de tempo de um ato arbitrário mas, mesmo assim, representativo) mudavam com as condições ambientais variadas, Skinner manteve seu próprio trabalho altamente sistemático. Um objeto de estudo, frequentemente, espera instrumentos para colocar o observador em melhor contato com ele. Skinner inventou um registrador que realiza um registro visual das respostas sucessivas através de um ligeiro deslocamento vertical de uma pena, movendo-se horizontalmente no tempo. À medida que o experimento progride, um gráfico de respostas acumuladas é desenhado em função do tempo. Esse registrador cumulativo de respostas torna possível um registro de alta qualidade do processo comportamental para inspeção imediata que funciona para os behavioristas de uma maneira não diferente da que o microscópio funciona para o biologista. As contribuições metodológicas reais de Skinner para a ciência moderna do comportamento são numerosas e podemos apresentar, aqui, somente um esboço de algumas das mais importantes. Ele reconheceu a antiga dicotomia entre ações reflexas e voluntárias ou, como chamou mais tarde, operantes. Mas mostrando que o princípio de Pavlov se aplicava ao fortalecimento dos reflexos, enquanto a lei do efeito de Thorndike descrevia o fortalecimento de operantes, ele colocou ambos os tipos em perspectiva harmoniosa. Formulou, tambérq um vocabulário preciso cujos termos foram definidos com referência aos fatores observáveis que ele media e manipulava. Nessa terminologia está a base do nosso quadro conceituai moderno. Desde o inicio, Skinner enfatizou a importância da predição e controle detalhados do comportamento individual, ao invés de diferenças gerais entre grupos de animais. Suas próprias pesquisas foram invariavelmente caracterizadas por um grande número de medidas em poucos organismos, sendo a reprodutibilidade do processo sob estudo o teste de sua validade. O enfoque de Skinner na taxa de uma resposta operante representativa evitou muitos dos problemas associados com as medidas mais indiretas do compor tamento. Thorndike observou o número de erros cometidos e o tempo gasto para alcançar o sucesso no seu quebra-cabeça, mas nenhuma dessas era, na realidade, uma propriedade real do comportamento instrumental que estava sendo adquirido. Se dese jamos treinar um cão a pular através de um aro, por exemplo, não estamos interessados - 3 3 - nos erros que ele comete, mas no seu comportamento de pular através do aro. Os erros são medidas de comportamentos outros que não aqueles que estamos investigando. Questões interessantes sobre se um dado ato ocorrerá ou não, ou com que freqüência ocorrerá, nuncapoderiam ser respondidas em termos de erros ou escores de tempo. O dado básico de Skinner, a taxa de respostas, está relacionado de perto com a probabilidade de ocorrência do comportamento e tem sido especialmente útil em fornecer respostas a questões sobre a probabilidade da resposta. Com o passar dos tempos, Skinner ampliou sua base empírica. Combinações de respostas e organismos outras que não o pressionar a barra por ratos têm sido estudadas. A expectativa original de que este ato seria característico do comportamento operante, de um modo geral, tem sido aparentemente confirmada. Além disso, as relações que Skinner obteve garantem, em muitos casos, o título de princípios comportamentais, já que elas parecem manter-se para um grande número de organismos, incluindo o homem, e para todas as respostas que podem ser classificadas como operantes. O trabalho de B.F. Skinner nos leva a um ponto próximo da nossa conceituação moderna de ciência do comportamento. Estamos ainda muito perto desse período his tórico, muito envolvidos em nosso próprio Zeitgeist, para termos a perspectiva necessária para determinar os pontos fracos no sistema de Skinner. Nos capítulos que se seguem, todavia, veremos que a ciência do comportamento, atualmente restabelecida de um modo firme como uma ciência natural, está se expandindo em muitas áreas de pesquisas. Talvez, a prova mais convincente de que essa ciência se desenvolveu encontra-se no surgimento recente de uma tecnologia do comportamento esboçada diretamente a partir dela. Como veremos, as aplicações de técnicas do comportamento estão sendo ampliadas a pesquisas de drogas, treino de animais, guerras, tratamento do comportamento humano anormal e educação. 1.9 - REVISÃO A história da ciência do comportamento começa com a classificação naturalística do comportamento feita por Aristóteles. Logo foi sucedida por uma Filosofia Teológica e a análise do comportamento permaneceu adormecida por quase dois mil anos. Mas no século XVII, surge novamente com a concepção de Descartes de que o corpo animal é uma máquina, e alguns dos seus movimentos são ordenados e regulares. Robert Whytt e várias gerações de fisiologistas posteriores mostraram que estes movimentos de característica automática se relacionavam, de forma precisa, a eventos particulares nc ambiente do animal. Essa relação entre um evento ambiental e um movimento particular torna- e a primeira unidade organizada de análise para a ciência do comportamento. Ê o reflexo. Eventualmente, Pavlov amplia o conceito de reflexo para incluir relações ambiente-comportamento que são condicionais a operações anteriores na história do animal. Esses reflexos condicionais tornam possível uma análise de alguns dos comportamentos que um organismo adquire durante sua vida. Thorndike é o primeiro a mostrar que o comportamento que possui uma espontaneidade não observada nos reflexos obedece a certas leis qualitativas que diferem das leis do reflexo. Nessa época, John Watson inicia a sua campanha para convencer a Psicologia, o estudo da mente, de que a mente é, em grande parte, comportamento. Com a descoberta de B. F. Skinner de um objeto de estudo fidedigno, a taxa de respostas operante, o comportamento espontaneamente emitido começa a desenvolver leis próprias, sendo cada ocorrência tão - 3 4 - geral e previsível como aquelas do reflexo. Aiiistória da análise do comportamento revela que os homens estão bastante enclinados a adotar interpretações supérfluas sobre o com portam ento, ao invés de aceitar a realidade das descrições do próprio comportamento. Quase todo contribuinte da ciência compartilhou de algumas superstições da sua época sobre o comportamento que estava pesquisando. REFERÊNCIAS PARA O CAPITULO 1. Boring, E. G. A history of experimental psychology. New York: The Century Company, 1929. Darwin, C. R. The expression of the emotions in man and animals. London: Murray, 1873. Dennis, W. Readings in the history of psychology. New York: Appleton- Century, 1948. (Chapters 3, 45, 48, and 50.) Fearing, F. Reflex action: a study in the history of physiological psy chology. Baltimore: Williams and Wilkins, 1930. Garrett, H. Great experiments in psychology, New York: Appleton- Century-Crofts, 1951. Hall, G. S., and Hodge, C. F. A sketch of the history of reflex action. Amer. J. Psychol., 1890, 3, 71-86; 149-173; 343-363. Kantor, J. R. The scientific evolution of psychology. Vol. 1. Chicago: Principia Press, 1963. Pavlov, I. P. Lectures on conditioned reflexes. New York: International Publishers, 1928. Romanes, G. J. Animal intelligence. (4th ed.) London: Kegan Paul, 1886. Skinner, B. F. A review of C. L. Hull’s Principles of behavior. Amer. J. Psychol., 1944, 57, 276-281. Skinner, B. F. The concept of the reflex in the description of behavior. / . gen. P s y c h o l1931, 5, 427-458. Thorndike, E. L. Animal intelligence. Psychol. R ev . Monogr. Suppl. 1898, No. 8. Toulmin, S., and Goodfield, June. The architecture of matter. New York: Harper and Row, 1962. Watson, J. B. Psychology as the behaviorist views it. Psychol. R ev.f 1913, 20, 158-177. - 3 5 - Capítulo 2 - COMPORTAMENTO REFLEXO (ELICIADO) Seria consistente com a nossa argumentação histórica sobre a ciência do compor* tamento afirmar que a Psicologia é a ciência que se preocupa com o modo pelo qual o comportamento de um organismo está relacionado com o seu ambiente. Talvez a mais simples dessas relações comportamento-ambiente seja o reflexo. Para o fisiologista, o reflexo é um fenômeno a ser explicado. Isto é, o fisiologista está interessado nas estruturas anatômicas subjacentes ao reflexo e os eventos corporais que ocorrem entre o estímulo eliciador e a resposta. Seu interesse baseia-se na compo sição ou análise do reflexo. Para o Psicólogo, por outro lado, o reflexo é um fenômeno a ser empregado para explicar outros comportamentos. Isto é, o Psicólogo está interessado em mostrar que padrões complexos de comportamento são compostos de, ou podem ser sintetizados a partir dos reflexos. A distinção análise-síntese mostra de uma vez o ponto comum e o ponto de partida das duas ciências. A partir do reflexo, as duas disciplinas movem-se em direções diferentes. Como Psicólogos, desejamos usar o reflexo como um princípio explanatório ou como uma unidade de análise do comportamento mais com plexo. Portanto, devemos entender algumas das propriedades quantitativas e conceituais dos reflexos. 2.1 - A FÓRMULA S - R Como vimos ao considerar o comportamento reflexo no capítulo 1, Descartes e Whytt representaram o ambiente com o conceito de estímulo. E representaram o com portamento em termos dos movimentos do organismo ou resposta a este estímulo. Esses conceitos continuam a ser úteis para a descrição de relações ordenadas entre ambiente e comportamento. Neste capítulo, designaremos o estímulo na relação reflexa pelo símbolo S e a resposta pelo símbolo R. A regularidade existente na relação entre eventos ambientais e ações reflexas podem ser resumidas pela fórmula. R2 = / ( S2) ^ssa fórmula diz que uma certa resposta reflexa, R2 (chamada um respondente). é uma função de (isto é, depende de) um evento estímulo S2 (chamado um eliciador)1. Essa 1. Os índ ices num éricos serão esclarecidos no C ap ítu lo 3. - 3 7 - fórmula expressa uma relação ou correlação importante, entre dois eventos. No de correr deste capítulo, examinaremos esta correlação em detalhe. Um dos experimentos de Sherrington serve de ilustração. Ele conectou um músculo da perna de um gato a um aparelho para medir a contração deste músculo. Anteriormente, sob anestesia, o cérebro do gato havia sido desconectado da medula. (No estudo dos reflexos, as influências que não estão sob o controle direto do expe- rimentador são frequentemente removidas cirurgicamente. Neste caso, separar o cérebro da medula espinhal remove qualquer efeito possível que o cérebro possa ter sobre o músculo em estudo.) Choques elétricos breves
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