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Conexão História vol3


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São Paulo – 2013
1ª- edição
HISTÓRIA
Conexão
VOLUME 3
ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA
3a- série
Roberto Catelli Junior
Bacharel e licenciado em História pela Pontifícia Universidade 
de São Paulo. Mestre em História pela Universidade de São 
Paulo. Professor de História da rede particular de ensino do 
estado de São Paulo. Assessor para organização de currículos 
e formador de professores na rede pública de ensino.
MANUAL DO
PROFESSOR
 Editores: Arnaldo Saraiva e Joaquim Saraiva
 Projeto gráfico e capa: Flávio Nigro
 Pesquisa iconográfica: Cláudio Perez
 Coordenação digital: Flávio Nigro e Nelson Quaresma
 Colaboração: Maria Soledad Más Gandini, Renata Pereira Lima Aspis e Roberto Giansanti
 Produção editorial: Maps World Produções Gráficas Ltda
 Direção: Maurício Barreto
 Direção editorial: Antonio Nicolau Youssef
 Gerência editorial: Carmen Olivieri
 Coordenação de produção: Larissa Prado
 Edição de arte: Jorge Okura
 Editoração eletrônica: Alexandre Tallarico, Flávio Akatuka, Francisco Lavorini, Juliana Cristina Silva, 
Veridiana Freitas, Vivian Trevizan e Wendel de Freitas
 Edição de texto: Ana Cristina Mendes Perfetti
 Revisão: Adriano Camargo Monteiro, Fabiana Camargo Pellegrini, 
Juliana Biggi e Luicy Caetano
 Pesquisa iconográfica: Elaine Bueno e Luiz Fernando Botter
 Cartografia: Maps World (Alexandre Bueno e Catherine A. Scotton)
 Conteúdos digitais: Esfera Digital
 Fotos da capa: Pirâmide do Egito – Photodisc; 
Pirâmide do Louvre – IDREAMSTOCK/Alamy/Glow Images
2013
Editora AJS Ltda. – Todos os direitos reservados
Endereço: R. Xavantes, 719, sl. 632
Brás – São Paulo – SP
CEP: 03027-000
Telefone: (011) 2081-4677
E-mail: editora@editoraajs.com.br
Título original: Conexão História
© Editora AJS Ltda, 2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 Catelli Junior, Roberto
 Conexão história : volume 3 : ensino médio : 
 3º série / Roberto Catelli Junior. -- 1. ed. -- 
 São Paulo : Editora AJS, 2013.
 Bibliografia.
 "Suplementado pelo manual do professor"
 1. História (Ensino médio) I. Título.
13-06550 CDD-907
 Índices para catálogo sistemático:
 1. História : Ensino médio 907
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 Catelli Junior, Roberto
 Conexão história : volume 3 : ensino médio : 
 3º série / Roberto Catelli Junior. -- 1. ed. -- 
 São Paulo : Editora AJS, 2013.
 Bibliografia.
 "Suplementado pelo manual do professor"
 1. História (Ensino médio) I. Título.
13-06550 CDD-907
 Índices para catálogo sistemático:
 1. História : Ensino médio 907
ISBN: 978-85-8319-003-5 (Aluno)
ISBN: 978-85-8319-004-2 (Professor)
Muitas gerações se fizeram as mesmas perguntas ao estudar História: Para que serve? Por que tenho 
de saber o que aconteceu na Revolução Francesa ou no Brasil colonial? Essas perguntas ainda persistem. 
Talvez você já tenha se perguntado isso.
A História, vista em si, talvez não pareça servir para nada. Ela só tem sentido quando lhe atribuímos 
um significado. E quanto mais questionarmos e refletirmos sobre os acontecimentos da história, mais 
poderemos refletir sobre a realidade que nos cerca e a vida que vivemos.
Quando estudo História com a única finalidade de memorizar fatos do passado para obter um resul-
tado satisfatório em uma avaliação, dificilmente ela terá algum sentido. Seria o mesmo que ouvir uma 
canção da qual não gosto repetidas vezes apenas para decorar sua letra e sequência melódica.
Para mim, autor desta obra e professor, estudar História significa, principalmente, estimular a reflexão, 
exercitar o espírito crítico e promover descobertas. Preciso sempre fazer perguntas: Em que a Revolução 
Francesa, por exemplo, se relaciona com o mundo em que vivo? Que ideias foram produzidas pelo ser huma-
no daquela época (século XVIII)? O que é diferente dos dias atuais? O que pensavam os revolucionários? 
Que sociedade eles queriam construir? Preciso ainda ser crítico o suficiente para saber identificar as dife-
rentes posições dos autores que têm interpretações contrárias. Por que concordo com um e discordo do 
outro? É preciso saber contextualizar o assunto em um duplo sentido: compreender os eventos históricos 
conforme a época em que se vivia, além de buscar construir as relações com o presente.
Estudar História pode ser também um profundo mergulho nas experiências vividas pelos seres huma-
nos, ao longo do tempo, nas mais diferentes dimensões: cultural, econômica, política e social. Podemos 
entrar em contato com modos de vida muito diversos do que conhecemos na atualidade e refletir sobre o 
significado daquelas experiências para o presente e para o futuro.
O que se estuda na História? Certamente não são apenas os grandes eventos políticos e econômicos, 
ainda que esses estabeleçam marcos para a humanidade. Podemos estudar a vida cultural, a condição 
feminina, a religiosidade, a música, o pensamento científico, as atividades esportivas, enfim, tudo aquilo 
que se refere à experiência de homens e mulheres em sociedade.
Nesse mergulho nas várias dimensões da vida humana não podemos nos limitar aos conhecimentos de 
História. Será necessário recorrer às Artes, às Ciências, à Filosofia, à Geografia e à Sociologia, pois sabemos 
que a vida humana não está compartimentada em conhecimentos disciplinares. Ao contrário, para com-
preender a sua história é preciso recorrer a todas as suas dimensões, formando uma rede de conhecimentos. 
Para estudar história precisamos acessar uma grande rede de conhecimentos para discutir a experi-
ência humana ao longo de milhares de anos. Muitos desses conhecimentos, por sua vez, podem, hoje, ser 
obtidos por meio da rede mundial de computadores e da variedade de linguagens disponíveis. É possível 
recorrer a internet, vídeos, cinema, televisão, rádio, enfim, a variadas fontes de informação que também 
contribuem para a construção do conhecimento histórico na escola.
Ao estudar História, cabe ainda perguntar quais fontes podemos utilizar. Os documentos escritos, os 
objetos da cultura material, as imagens, as histórias em quadrinhos, as obras literárias, as propagandas, 
as canções, os depoimentos gravados, ou seja, todo registro ou vestígio da vida humana pode ser fonte 
para o estudo da História.
Desejo que este material didático o auxilie a construir um sentido para seus estudos, embora isso não 
dependa apenas de um livro ou do professor. Estes podem apenas favorecer e despertar a sua curiosida-
de. Essa é minha intenção primeira com esta obra. A partir daí, e das informações disponíveis, recomendo 
o mais fundamental: faça perguntas, busque relações e atribua um significado para tudo. “Fazer sentido” 
também quer dizer “fazer sentir”: é preciso que esse processo nos desperte para algo. Caso contrário, 
tanto a História quanto a música, o futebol, a praia, o(a) namorado(a), os amigos, a família, o mundo, 
enfim, ficam incompletos e insuficientes.
O autor
APRESENTAÇÃO
CONHEÇA SEU LIVRO
PESQUISA
Orientações para organização de pesquisa 
sobre algum tema relevante para uma melhor 
compreensão dos conceitos, fatos históricos ou 
situações em estudo no capítulo.
CONTEXTO
Núcleo de desenvolvimento do conteúdo 
didático do livro, que contém informações tex-
tuais, cartográficas, visuais e esquemáticas.
LINHA DO TEMPO
Eventos e fatos históricos relativos ao tema 
do capítulo em desenvolvimento, organizados 
cronologicamente.
 NA INTERNET
Sugestão de links destinados ao detalhamen-
to e aprofundamento de assuntos estudados.TRABALHANDO COM DADOS
Apresentação de coleções de dados e infor-
mações, geralmente organizadas em tabelas, 
para suscitar discussões e dimensionamentos 
de fatos históricos e econômicos.
ROTEIRO DE TRABALHO
Proposta de atividades ordenadas a partir 
de algumas das seções com conteúdos previa-
mente fixados.
VESTIBULANDO
Apresentação de testes e questões exigidas 
em vestibulares e no Enem.
RELEITURA
Apresentação das ideias e conceitos estu-
dados no capítulo em linguagem distinta do 
texto didático como, por exemplo, letras de 
música, obras de arte ou publicações.
 PARA LER, ASSISTIR E NAVEGAR
Sugestões de livros, filmes e sites que con-
têm mais e diversificadas informações sobre os 
temas estudados.
INTERDISCIPLINARIDADE
Apresenta relações entre os diversos con-
ceitos históricos estudados e outras disciplinas 
ou matérias com as quais o aluno tem contato.
DOCUMENTOS
Aqui são apresentados artigos, transcrições 
e informações que, quando discutidas, con-
solidam a aprendizagem e a significação dos 
conceitos estudados.
PONTO DE VISTA
Detalhamento ou confrontação de diferen-
tes pontos de vista sobre o assunto em estudo.
Relação dos objetos digitais 
de aprendizagem apresentados 
no livro.
Infográfico de fatos históricos 
organizados de forma contínua 
e cronológica
Conjunto de referências cruzadas 
de temas relevantes estudados ao 
longo dos livros da coleção.
UNIDADE 1 Conflitos e diversidade cultural no Brasil . . . . . . . . . . . . . 8
CAPÍTULO 1 O Brasil do sertão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
O sertão das secas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
O sertão – da Colônia à República . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
O sertão do cangaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
O sertão do padre Cícero. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
CAPÍTULO 2 O Brasil amazônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
A Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
A independência e os conflitos 
durante o Império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
A borracha e a belle époque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
As transformações do ecossistema 
da Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
A ocupação da Amazônia no 
Brasil contemporâneo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
A terra e o desenvolvimento na Amazônia . . . . . . . . 49
CAPÍTULO 3 Afro-brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
A África pré-colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Os europeus na África . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Os africanos no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
UNIDADE 2 Cidadania e relações de poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
CAPÍTULO 4 Nacionalismo, guerras mundiais e autoritarismo . . . . 84
CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Imperialismo e nacionalismo 
no final do século XIX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Trinta e um anos de guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
A Primeira Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
A República de Weimar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
A crise de 1929 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
A crise da República de Weimar e 
a ascensão do nazismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
A construção do ideário nazista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
O fascismo italiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
A Guerra Civil Espanhola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
A Segunda Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
A Guerra Fria: a Coreia, 
o Muro de Berlim e o Vietnã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
SUMÁRIO
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CAPÍTULO 5 A República varguista: 
da Revolução de 1930 ao Estado Novo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
O fim do predomínio da oligarquia cafeeira 
e o governo Vargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
A Revolução Constitucionalista de 1932 . . . . . . . . . . 132
A Constituinte e a Constituição de 1934 . . . . . . . . . . 134
Fascismo e comunismo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
O Estado Novo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
O fim da ditadura Vargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
CAPÍTULO 6 Ensaios democráticos no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .151
CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
O governo Dutra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
Getúlio Vargas: presidente eleito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
O governo JK e o desenvolvimentismo . . . . . . . . . . . . 160
Jânio Quadros e a renúncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
O governo Goulart e asreformas de base . . . . . . . 167
CAPÍTULO 7 Da ditadura à democracia: 
golpe, guerrilha e abertura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
A montagem do poder ditatorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
O governo Costa e Silva e o período 
do “milagre econômico” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186
A resistência e o Ato Institucional n. 5 . . . . . . . . . . . . 188
A cultura jovem nos anos 1960 
e o sentido de protesto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
O governo Médici . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200
De Geisel a Figueiredo: mudança de rumos . . . . 201
A abertura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
Sarney governa de 1985 a 1989 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209
CAPÍTULO 8 O cidadão contemporâneo: um roteiro de estudo . . . 221
CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225
O Brasil democrático e 
socialmente desigual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225
A globalização e o desenvolvimento 
do capitalismo no mundo contemporâneo . . . . . . 231
Os Estados nacionais no contexto 
da globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233
A crítica à globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
Os conflitos pós-Guerra Fria 
e as guerras do século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
O ser humano e o meio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
Gabarito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 272
SUMÁRIO
CONTEÚDO DIGITAL
G Paisagens do Sertão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
G Revolução de 1932 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
G O DIP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
G Getúlio Vargas – anos 1950 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
G Campanhas nacionalistas – anos 1970 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200
G Objetos sagrados de culturas africanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62
G Festas tradicionais brasileiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72
G Cidades destruídas pela guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
A Áudio de soldados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Declaração de Guerra, 1940 – Mussolini . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
A Hora do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
V Trecho de vídeo da Primeira Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . 92
V Olimpíadas de 1936 – Jesse Owens e Hitler . . . . . . . . . . . . . . . . 102
V Conflito entre israelenses e palestinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
V Degelo na Antártida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222
I Desmatamento e Mineração – impactos ambientais . . . . . . . .45
I Terras indígenas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 I Sufragistas e o voto feminino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
I Programa de Metas de Juscelino Kubitschek . . . . . . . . . . . . . . 161
I FMI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204
I Aquecimento global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222
I Conflito entre judeus e palestinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
I Violência no campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50
I Antigos reinos e impérios africanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
I Primeira Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93
I Ofensivas durante a Segunda Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . 111
 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 à 268
G Imprensa alternativa na ditadura militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
G Alemanha pós-queda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Declaração de Guerra, 1940 – MussoliniV
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UNIDADE 1
Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidadeConflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade 
cultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasil
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O Brasil do sertão
Estudar a história brasileira significa desvendar acontecimentos marcados pela diversidade cultural. A formação multicultural do Brasil se constitui por uma grande variedade de grupos sociais que interagiram de maneira conflituosa.
Muitos antropólogos, historiadores e cientistas sociais, a exemplo de Gilberto 
Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando de Azevedo e, mais recentemente, 
Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, Roberto da Matta, Alfredo Bosi e Renato Ortiz, 
já se preocuparam em definir e compreender a cultura brasileira em suas múltiplas 
dimensões. Todos, a par de suas diferentes posições político-ideológicas, são unâni-
mes em concordar que a característica marcante de nossa cultura é a riqueza de sua 
diversidade, resultado de nosso processo histórico-social e das dimensões continen-
tais de nossa territorialidade.
Nesse sentido, o mais correto seria falarmos em “culturas brasileiras”, ao invés 
de “cultura brasileira”, dada a pluralidade étnica que contribuiu para sua formação.
FERNANDES, José Ricardo Oriá. Ensino de História e diversidade cultural: desafios e possibilidades. 
Cadernos CEDES, Campinas, v. 25, n. 67, set./dez. 2005. p. 379. Disponível em: 
<www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622005000300009>. Acesso em: 18 abr. 2013.
Nesta unidade vamos colocar em destaque parte dessa diversidade cultural, buscan-
do compreender a história brasileira mais recente levando em conta a sua pluralidade. 
Vamos começar estudando o que denominamos como Brasil do sertão.
Lampião, o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, nasceu em 1897 e morreu em 1938. 
Pernambucano, era representante de uma cultura brasileira que não pode ser entendida 
apenas pelo que ocorria no Rio de Janeiro, então capital da República. Desde o período 
colonial, o sertão se diferenciou pela peculiaridade de sua formação territorial, por suas 
condições climáticas, por seu isolamento em relação ao centro de decisão de poder e 
por sua formação cultural singular. Para o antropólogo Darcy Ribeiro:
Conformou, também, um tipo particular de população com uma subcultura própria, 
a sertaneja, marcada por sua especialização ao pastoreio, por sua dispersão espacial 
e por traços característicos identificáveis no modo de vida, na organização da família, 
na estruturação do poder, na vestimenta típica, nos folguedos estacionais, na dieta, na 
culinária, na visão de mundo e numa religiosidade propensa ao messianismo.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 340.
CAPÍTULO 1
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O Brasil do sertão
Estudar a história brasileira significa desvendaracontecimentos marcados pela diversidade cultural. A formação multicultural do Brasil se constitui por uma grande variedade de grupos sociais que interagiram de maneira conflituosa.
Muitos antropólogos, historiadores e cientistas sociais, a exemplo de Gilberto 
Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando de Azevedo e, mais recentemente, 
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THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS
Lampião com sua mulher, Maria Bonita, e 
cachorros. Nesta foto de 1936, tirada pelo 
fotógrafo Benjamin Abrahão, que acompanhou 
o bando, o cangaceiro aparece segurando um 
exemplar da revista musical Noite Ilustrada, 
que fazia sucesso na época.
CONTEXTO
O sertão das secas
A seca do Nordeste ocorre em sua região 
semiárida, que compreende cerca de 700 mil km2 
do território brasileiro. Lá as temperaturas médias 
são bastante elevadas durante todo o ano. Além 
disso, as chuvas são escassas e irregulares, haven-
do pouca umidade e ausência de rios perenes. 
As médias pluviométricas no semiárido, em alguns 
lugares, não ultrapassam os 400 mm anuais.
No sertão nordestino, o inverno seco pode durar 
até oito meses e o verão chuvoso até sete meses. A 
paisagem torna-se acinzentada nos períodos de seca 
e muito verde nas épocas de chuva. Quando as chu-
vas se avolumam no verão, a população das regiões 
secas diz que chegou o inverno, pois o calor torna-se 
mais ameno com a redução da secura.
A caatinga é um tipo de vegetação própria das 
extensões semiáridas. Conforme o geógrafo Nilo 
Bernardes:
A região das caatingas abrange, praticamente, to-
da a área dos estados do Ceará e do Rio Grande do 
Norte; quase todo o sudeste do estado do Piauí; a 
maior parte do este dos estados da Paraíba, de Per-
nambuco, das Alagoas e de Sergipe; a maior parte 
de todo o interior da Bahia e até mesmo uma apre-
ciável porção do extremo norte do estado de Minas 
Gerais. São mais de 800 mil km2 de extensão, 
Em 1936, o governo federal delimitou o que foi denominado 
Polígono das Secas, abrangendo mais de quarenta municípios entre 
o Piauí e o norte de Minas Gerais. Após diversas revisões de seu 
traçado, em 2010 o número de municípios incluídos contava 1 348.
O POLÍGONO DAS SECAS
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Cangaceiros como Lampião desafiaram o 
poder das autoridades brasileiras, impuseram 
suas próprias leis e mantiveram centenas de 
pessoas sob seu comando.
Estudar o Brasil significa, antes de tudo, 
compreender sua diversidade. Por isso, nesta 
unidade não podemos deixar de fazer referên-
cia à cultura que expressa as diferenças sociais 
e as várias formas de conflito presentes em 
nossa sociedade.
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Com base em Ministério da Integração Nacional. Relatório final: grupo de 
trabalho interministerial para redelimitação do semiárido nordestino e do 
polígono das secas. Brasília. Janeiro de 2005. 
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Lampião com sua mulher, Maria Bonita, e 
cachorros. Nesta foto de 1936, tirada pelo 
fotógrafo Benjamin Abrahão, que acompanhou 
o bando, o cangaceiro aparece segurando um 
Noite Ilustrada, 
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Cactos xiquexiques em Poço Redondo (SE), 2007. Os 
xiquexiques e os mandacarus (outra planta nativa 
do sertão) servem de alimento para seres humanos 
e animais. O xiquexique é uma planta rica em pro-
teínas, sais minerais, carboidratos e fibra. Deve-se 
a essa planta a sobrevivência de muitos rebanhos 
nordestinos durante as secas.
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significando que uma décima parte do território 
brasileiro é coberto pelas caatingas. Ao norte, 
elas chegam até a faixa praiana e, a oeste e ao sul, 
entram em contato com a região dos campos cer-
rados, características das nossas regiões centrais.
BERNARDES, Nilo. As caatingas. Revista Estudos 
Avançados. São Paulo: IEA/USP, maio/ago. 1999. n. 36. p. 69.
O geógrafo ainda esclarece que:
As caatingas aparecem nas áreas onde os totais 
anuais de chuva, em termos normais, já estão 
abaixo de 1 000 mm. […] De início se dizia que a 
caatinga – a mata (caa) clara (tinga), na língua 
indígena – era uma floresta espinhenta. Nos ma-
nuais de língua inglesa ela ainda é frequentemente 
assim referida (scrub-forest). Mas nem sempre os 
seus diversos tipos lembram realmente o porte de 
uma floresta e nem sempre eles são, na verdade, 
caracteristicamente espinhentos. Em algumas 
áreas, com efeito, a predominância das árvores lhe 
dá um porte que a caracteriza como caatinga arbó-
rea. Mas em muitos outros lugares somente ocorre 
a caatinga arbustiva, ora mais alta, ora mais baixa.
BERNARDES, op. cit., p. 71.
Nesse contexto se destacam as cactáceas, que 
se adaptaram à falta de chuvas: os mandacarus, 
os xiquexiques e as coroas-de-frade, entre outras 
plantas. A caatinga é uma vegetação de folhas 
caducas que se renovam todos os anos. Por isso, 
nos períodos de seca, os arbustos tornam-se galhos 
secos e as árvores ficam desfolhadas.
Há também as regiões úmidas do sertão, cha-
madas pela população local de brejos. Localizam-
-se em formações geográficas específicas, como 
serras, encostas e vales úmidos. Esses seriam os 
casos de Garanhuns, em Pernambuco, e Ribeira 
do Pombal, na Bahia. Segundo o geógrafo Aziz 
Ab’Sáber, tais regiões são essenciais para a eco-
nomia regional:
Os brejos são fundamentais para a produção de 
alimentos no domínio dos sertões, como mostra 
qualquer apanhado sobre a origem dos produtos 
comercializados nas feiras locais ou nos agres-
tes. De certa forma, o vigor e o sucesso das 
feiras nordestinas são o próprio termômetro da 
produtividade dessas áreas, cujos solos de mata 
deram origem à formação dos primeiros celeiros 
fornecedores de alimentos baratos e de uso tradi-
cional no amplo espaço sertanejo. O transporte a 
baixo custo, feito no lombo de jegues, aliado à bai-
xa expectativa de lucro dos camponeses brejeiros, 
garantiu a comercialização com níveis toleráveis 
de preços para as populações. A carne verde de ga-
do ou de animais de pequeno porte é quase sempre 
proveniente de todos os sertões, mas o restante 
do necessário à alimentação do povo sertanejo 
provém dos pequenos espaços, muito férteis, dos 
brejos que pontilham os sertões. Dali saem a 
mandioca e a farinha, o feijão, uma parte do café, 
um sem-número de frutas, além da rapadura e da 
aguardente, subprodutos de pequenas plantações 
de cana-de-açúcar.
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos: uma geogra-
fia humana sofrida. Revista Estudos Avançados, São Paulo: 
IEA/USP, maio/ago. 1999. n. 36. p. 20.
Em 2008, mais de 20 milhões de pessoas viviam 
no sertão e agreste nordestinos, sendo Caruaru 
(PE), Mossoró (RN), Feira de Santana (BA) e 
Campina Grande (PB) algumas cidades que são 
capitais regionais e centros de comércio. Ainda 
é preciso considerar que quase toda a extensão 
do sertão seco nordestino se situa nas chamadas 
depressões interplanálticas. Conforme o geó-
grafo Jurandyr Ross:
A depressão sertaneja e do São Francisco compre-
ende uma extensa área rebaixada e predominante-
mente aplanada, constituindo superfície de erosão 
que secciona uma grande diversidade de litologias 
e arranjos estruturais. Esta superfície apresenta 
inúmeros trechos com ocorrência de relevos resi-
duais constituindo inselbergs […]
ROSS, Jurandyr Sanches. Geografia do Brasil. 
São Paulo: Edusp, 1996. p. 63.
Esses inselbergs podem ser considerados ele-
vações residuais de relevos mais antigos.
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significando que uma décima parte do território 
brasileiro é cobertopelas caatingas. Ao norte, 
elas chegam até a faixa praiana e, a oeste e ao sul, 
entram em contato com a região dos campos cer-
rados, características das nossas regiões centrais.
BERNARDES, Nilo. As caatingas. Revista Estudos 
Avançados. São Paulo: IEA/USP, maio/ago. 1999. n. 36. p. 69.
O geógrafo ainda esclarece que:
As caatingas aparecem nas áreas onde os totais 
anuais de chuva, em termos normais, já estão 
abaixo de 1 000 mm. […] De início se dizia que a 
caatinga – a mata (caa) clara (tinga) clara (tinga) clara ( ), na língua 
indígena – era uma floresta espinhenta. Nos ma-
nuais de língua inglesa ela ainda é frequentemente 
assim referida (scrub-forest). Mas nem sempre os 
seus diversos tipos lembram realmente o porte de 
uma floresta e nem sempre eles são, na verdade, 
caracteristicamente espinhentos. Em algumas 
áreas, com efeito, a predominância das árvores lhe 
dá um porte que a caracteriza como caatinga arbó-
rea. Mas em muitos outros lugares somente ocorre 
a caatinga arbustiva, ora mais alta, ora mais baixa.
BERNARDES, op. cit., p. 71.
madas pela população local de 
-se em formações geográficas específicas, como 
serras, encostas e vales úmidos. Esses seriam os 
casos de Garanhuns, em Pernambuco, e Ribeira 
do Pombal, na Bahia. Segundo o geógrafo Aziz 
Ab’Sáber, tais regiões são essenciais para a eco-
nomia regional:
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Inselberg em Itaberaba (BA). Inselberg foi o nome dado em 1900 pelo geólogo alemão Bonhardt e quer dizer “montanha isolada”, “monte 
ilha” ou “morro testemunho”. Essas rochas costumam abrigar plantas de lento crescimento e longa vida, com baixa substituição de espécies.
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Há também as regiões agrestes, faixas de tran-
sição entre a zona da mata e o sertão seco. Nos 
agrestes chove mais do que no sertão e há zonas 
de pecuária intercaladas com zonas de agricultura. 
Trata-se da região mais povoada do interior nor-
destino. No período de grandes chuvas, ocorrem 
enchentes em algumas áreas onde os rios são mais 
rasos. As águas muitas vezes extravasam e correm 
pelos vales, atingindo moradias e plantações.
A população nordestina mais duramente atin-
gida pelas secas é aquela desprovida de terras. 
A falta de continuidade na produção rural gera 
grandes contingentes de desempregados que se 
transformam em retirantes – população que deixa 
seu local de origem para procurar meios de sobrevi-
vência em outra parte. Nesse sentido, afirma mais 
uma vez Aziz Ab’Sáber:
Alta fertilidade humana, forte seleção biológica 
e ausência de oportunidades de emprego para os 
sem-terra teriam que ocasionar o apelo à migra-
ção, numa desesperada luta pela sobrevivência. 
Assim, a grande região seca brasileira passou a ter 
o papel histórico de fornecer mão de obra barata 
para quase todas as outras regiões detentoras de 
algum potencial de emprego. Nordestinos de to-
dos os recantos mobilizaram-se nas mais variadas 
direções, seguindo a vaga de cada época. Para a 
Amazônia, nos fins do século passado e inícios do 
atual. Para São Paulo, desde a década de 1930.
Para Brasília nos anos [19]60. Para o norte do 
Paraná e São Paulo por todo o tempo, sobretu-
do depois da construção da estrada Rio-Bahia. 
Finalmente, para o norte de Goiás, às margens da 
Belém-Brasília, a Transamazônica e, para o sul do 
Pará, nos anos [19]70.
AB’SÁBER, op. cit., p. 26-7.
Essa caracterização do sertão seco nordesti-
no não significa que não há solução para que as 
famílias possam viver com dignidade e sem sofri-
mento na região. As soluções existem e depen-
dem, certamente, da ação estatal nos diferentes 
níveis. Contudo é preciso criar políticas sérias 
que não alimentem o que ficou conhecido como 
a indústria da seca, ou seja, a transferência de 
volumosos recursos para empreendimentos que 
jamais resolveram os problemas do sertanejo, 
mas, ao contrário, enriqueceram ainda mais certos 
empreendedores. Para algumas pessoas, acabar 
com a seca seria acabar com verbas e auxílios 
governamentais direcionados à região. Manter 
a seca, para essas pessoas, é uma forma de se 
apropriar de recursos sem investir naqueles que 
realmente necessitam. É preciso controlar tam-
bém os desmandos coronelistas, que influenciam 
o poder público e exploram os habitantes locais, 
além de se aproveitar de toda sorte de situações 
para benefício próprio.
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 foi o nome dado em 1900 pelo geólogo alemão Bonhardt e quer dizer “montanha isolada”, “monte 
ilha” ou “morro testemunho”. Essas rochas costumam abrigar plantas de lento crescimento e longa vida, com baixa substituição de espécies.
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O sertão – da Colônia à República
O processo inicial de colonização das terras que 
hoje são o Brasil ocorreu pelo litoral. Nessa região, 
desenvolveram-se as primeiras atividades econô-
micas. Nos mapas ao lado, observamos que, até o 
século XVII, as áreas de povoamento se situavam 
mais próximas ao litoral, sendo o interior pouco 
explorado e habitado.
Mesmo assim, ainda no século XVI começaram 
as primeiras incursões pelo interior com a finalidade 
de obter indígenas para serem escravizados. Além 
disso, iniciou-se também a busca de riquezas, como 
os metais preciosos tão abundantes na América 
espanhola e ainda desconhecidos no Brasil.
O sertão a que nos referimos aqui não inclui 
apenas o Nordeste das secas, mas também o inte-
rior de várias regiões. O antropólogo Darcy Ribeiro 
classificou essa região como o Brasil Sertanejo, 
o qual delimitou, ao afirmar:
Para além da faixa nordestina das terras frescas e 
férteis do massapé, com rica cobertura florestal, 
onde se implantaram os engenhos de açúcar, des-
dobram-se as terras de uma outra área ecológica. 
Começam pela orla descontínua ainda úmida do 
agreste e prosseguem com as enormes extensões 
semiáridas das caatingas. Mais além, penetrando 
já o Brasil Central, se elevam em planalto como 
campos cerrados que se estendem por milhares de 
léguas quadradas.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 339.
No caso nordestino, ainda no século XVI, expli-
ca-nos mais uma vez Darcy Ribeiro:
O gado trazido pelos portugueses das Ilhas de Cabo 
Verde vinha já, provavelmente, aclimatado para 
a criação extensiva, sem estabulação, em que os 
próprios animais procuram suas aguadas e seu ali-
mento. Os primeiros lotes instalaram-se no agreste 
pernambucano e na orla do recôncavo baiano, 
suficientemente distanciados dos engenhos para 
não estragar os canaviais. Daí se multiplicaram e 
dispersaram em currais, ao longo dos rios perma-
nentes, formando as ribeiras pastoris. Ao fim do sé-
culo XVI, os criadores baianos e pernambucanos se 
encontravam já nos sertões do Rio São Francisco, 
prosseguindo ao longo dele, rumo ao sul e para 
além, rumo às terras do Piauí e do Maranhão. Seus 
rebanhos somariam então cerca de 700 mil cabe-
ças, que dobrariam no século seguinte.
RIBEIRO, op. cit., p. 341.
Assim, a região do sertão nordestino trans-
formou-se em uma produtora de couros e carnes 
que alimentariam a população que vivia na zona 
POVOAMENTO E URBANIZAÇÃO
Com base em SOUZA, Laura de Mello e. História da vida privada no 
Brasil; AZEVEDO, Aroldo de. A marcha do povoamento 
(séculos XVI e XVIII). In: AZEVEDO, Aroldo de. Vilas e cidades do 
Brasil colonial. Ensaio de geografia urbana retrospectiva. Boletim 
n 208, Geografia 11. São Paulo: FFLCH-USP, 1956.
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O sertão – da Colônia à República
O processo inicial de colonização das terras que 
hoje são o Brasil ocorreu pelo litoral. Nessa região, 
desenvolveram-seas primeiras atividades econô-
micas. Nos mapas ao lado, observamos que, até o 
século XVII, as áreas de povoamento se situavam 
mais próximas ao litoral, sendo o interior pouco 
explorado e habitado.
Mesmo assim, ainda no século XVI começaram 
as primeiras incursões pelo interior com a finalidade 
de obter indígenas para serem escravizados. Além 
disso, iniciou-se também a busca de riquezas, como 
os metais preciosos tão abundantes na América 
espanhola e ainda desconhecidos no Brasil.
O sertão a que nos referimos aqui não inclui 
apenas o Nordeste das secas, mas também o inte-
rior de várias regiões. O antropólogo Darcy Ribeiro 
classificou essa região como o Brasil Sertanejo, 
o qual delimitou, ao afirmar:
Para além da faixa nordestina das terras frescas e 
férteis do massapé, com rica cobertura florestal, 
onde se implantaram os engenhos de açúcar, des-
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açucareira. Até os dias atuais, as carnes salgadas, 
como a carne de sol, são uma tradição presente em 
cidades do sertão.
Essa criação extensiva de gado originou tam-
bém os primeiros latifúndios do sertão. Colonos 
recebiam da Coroa grandes quantidades de terras 
na forma de sesmaria. Por intermédio de carta régia 
expedida pelo rei, os colonos tomavam posse de 
terras desocupadas. Nessa atividade, o trabalho 
escravo não predominou, sendo comum o paga-
mento de vaqueiros que recebiam mantimentos e 
gado em troca de seu trabalho.
Desde o início, os conflitos dos europeus e seus 
descendentes com os povos indígenas tornaram-se 
inevitáveis na exploração do território com a finali-
dade de constituir pastos para o gado. Mais do que 
a catequese dos jesuítas ou as alianças interessei-
ras, nessa região as lutas armadas com os indíge-
nas foram mais comuns, podendo também estar aí 
uma das origens do cangaço, como veremos mais 
adiante. O povo Tabajara, por exemplo, que vivia no 
Nordeste, resistiu ferozmente aos colonizadores. 
Chegou mesmo a ocorrer a Guerra dos Bárbaros, 
quando indígenas do Rio Grande do Norte e do 
Ceará se uniram aos de outras capitanias para lutar 
contra o conquistador, entre o final do século XVII 
e o início do século XVIII. O historiador Frederico 
Pernambucano de Mello nos adianta:
Nos primórdios da vida social sertaneja, ao longo 
dos séculos XVII e XVIII, de forma generalizada, e 
mesmo de boa parte do XIX, em bolsões remotos, 
a vida da espingarda não se constituía apenas 
em procedimento legítimo à luz das circunstân-
cias, mas em ocupação francamente preferencial. 
O homem violento, afeito ao sangue pelo traque-
jo das tarefas pecuárias e adestrado no uso das 
armas branca e de fogo, mostrava-se vital num 
meio em que se impunha dobrar as resistências 
do índio e do animal bravio como condição para 
o assentamento das fazendas de criar. Naquele 
mundo primitivo, o heroísmo social se forjava pela 
valentia revelada no trato com o semelhante e 
pelo talento na condução cotidiana do empreendi-
mento pecuário. Nas festas de apartação em que 
se engalanavam [embelezavam] as fazendas no 
meado do ano, um e outro de tais valores – é dizer, 
valentia e talento – precisavam somar-se para a 
produção ou confirmação de heróis pelas vias da 
vaquejada bruta, corrida com o homem nos couros 
e por dentro dos paus da caatinga mais cerrada, ou 
da corrida de mourão, expressão moderna em que 
se resume toda a lúdica sertaneja da derrubada do 
boi. Nesse sentido, há versos de gesta que valem 
por um retrato sociológico, como o de Francisco 
das Chagas Batista: 
“Ali se aprecia muito
Um cantador, um vaqueiro
Um amansador de poldro
Que seja bom catingueiro
Um homem que mata onça
Ou então um cangaceiro”.
MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi Lampião. 
Recife/Zurique: Stahli, 1993. p. 25-6.
No século XVIII, pode-se afirmar que já existia 
um núcleo significativo de povoamento no sertão, 
como mostra o mapa da página anterior, com 
predomínio da atividade pecuária. Além disso, 
as secas já causavam muitos problemas para a 
população local. Só nesse século foram registrados 
sete períodos de seca. O historiador Marco Antonio 
Villa menciona:
A seca de 1723-1727, que atingiu todo o Nordeste, 
promoveu, além de desastrosos efeitos econô-
micos, o deslocamento das populações para as 
áreas menos afetadas pelo flagelo e o surgimento 
de pequenos grupos de bandoleiros, que acaba-
ram marcando durante mais de dois séculos a 
história da região. […] Em 1777, depois de outras 
duas grandes secas, novamente o flagelo atingiu 
a região. A pecuária foi severamente atingida. 
Segundo Thomaz Pompeu, no Ceará, o gado 
“ficou reduzido a menos de um oitavo e fazendei-
ros que recolhiam mil bezerros não ficaram com 
20 nos anos seguintes”. O mesmo quadro de des-
truição atingiu o sertão das outras capitanias, que 
acabaram perdendo o mercado consumidor das 
Minas Gerais. […] Nos anos 1791-1793 ocorreu 
aquela que provavelmente foi a maior seca do sé-
culo XVIII, atingindo Ceará, Pernambuco, Bahia, 
Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e 
até o Piauí. No Ceará, segundo Joaquim Catunda, 
“no ano de 1792 as águas desapareceram comple-
tamente em grande parte da capitania. Morreram 
os gados, os vaqueiros, muitos fazendeiros e os 
animais domésticos e bravios. As estradas jun-
cadas de cadáveres, famílias inteiras mortas de 
fome e sede, e envolvidas no pó dos campos; o in-
terior deserto; a população esfaimada e dizimada 
pela peste nos povoados do litoral; atulhadas de 
retirantes as capitanias vizinhas, esmolando uns, 
furtando outros, trabalhando poucos.
VILLA, Marco Antonio. Vida e morte no sertão. 
São Paulo: Ática, 2001. p. 19-20.
A população estava sempre despreparada 
para os momentos de seca, por isso seus efeitos 
eram catastróficos. Surgiam epidemias, como a 
da varíola, em época de fome, e a vida econômica 
oscilava entre altos e baixos, conforme a extensão 
das secas. No século XIX, após a Independência do 
Brasil, o banditismo começou a se espalhar pelo 
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açucareira. Até os dias atuais, as carnes salgadas, 
como a carne de sol, são uma tradição presente em 
Essa criação extensiva de gado originou tam-
bém os primeiros latifúndios do sertão. Colonos 
recebiam da Coroa grandes quantidades de terras 
na forma de sesmaria. Por intermédio de carta régia 
expedida pelo rei, os colonos tomavam posse de 
terras desocupadas. Nessa atividade, o trabalho 
escravo não predominou, sendo comum o paga-
mento de vaqueiros que recebiam mantimentos e 
Desde o início, os conflitos dos europeus e seus 
descendentes com os povos indígenas tornaram-se 
inevitáveis na exploração do território com a finali-
dade de constituir pastos para o gado. Mais do que 
a catequese dos jesuítas ou as alianças interessei-
ras, nessa região as lutas armadas com os indíge-
nas foram mais comuns, podendo também estar aí 
uma das origens do cangaço, como veremos mais 
adiante. O povo Tabajara, por exemplo, que vivia no 
Nordeste, resistiu ferozmente aos colonizadores. 
Chegou mesmo a ocorrer a Guerra dos Bárbaros, 
“Ali se aprecia muito
Um cantador, um vaqueiro
Um amansador de poldro
Que seja bom catingueiro
Um homem que mata onça
Ou então um cangaceiro”.
MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi Lampião.
Recife/Zurique: Stahli, 1993. p. 25-6.
No século XVIII, pode-se afirmar que já existia 
um núcleo significativo de povoamento no sertão, 
como mostra o mapa da página anterior, com 
predomínio da atividade pecuária. Além disso, 
as secas já causavam muitos problemas para a 
população local. Só nesse século foram registrados 
sete períodos de seca. O historiador Marco Antonio 
Villa menciona:
A seca de 1723-1727, que atingiu todo o Nordeste, 
promoveu, além de desastrosos efeitos econô-
micos, o deslocamento das populações paraas 
áreas menos afetadas pelo flagelo e o surgimento 
de pequenos grupos de bandoleiros, que acaba-
ram marcando durante mais de dois séculos a 
história da região. […] Em 1777, depois de outras 
duas grandes secas, novamente o flagelo atingiu 
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sertão nordestino nesses períodos de penúria. 
O governo imperial pouco investiu na região, embo-
ra tenham surgido os primeiros projetos de cons-
trução de açudes e se tenham introduzido camelos 
e dromedários como meio de transporte nesses 
locais de seca. Essa última iniciativa, entretanto, 
não obteve nenhum sucesso.
As secas continuaram no século XIX, e, nos 
períodos em que elas se estenderam, as cidades 
do sertão ficaram “inchadas” de retirantes à pro-
cura de comida e trabalho. Na seca de 1877, mais 
de 50 mil retirantes foram para Fortaleza em pou-
cas semanas. No mesmo ano, o jornal paraibano 
A Opinião noticiou, em 11 de novembro, que:
[…] os sertões estão ficando desertos pela emigra-
ção […]; e nos brejos surge a miséria pela supera-
bundância de emigrantes que de tudo precisam, e 
nada conduzem.
Apud VILLA, Marco Antonio. Vida e morte no sertão. 
São Paulo: Ática, 2001. p. 52.
Parte dessa população ia para o litoral e aca-
bava sendo explorada pelos produtores de açúcar, 
que pagavam ínfimos salários aos trabalhadores 
famintos. Outros retirantes iam para a Amazônia 
tentar a sorte na economia da borracha em ascen-
são. No entanto, chegavam à região endividados 
com o transporte e trabalhavam para pagar dívi-
das em regime que se aproximava da escravidão. 
Também doenças como a cólera, o tifo e a varíola 
mataram milhares de emigrantes. Em cidades 
como Fortaleza, meninas, filhas de retirantes, 
ainda muito jovens, já se entregavam à prostitui-
ção como forma de ganhar algum dinheiro na luta 
contra a fome.
Mesmo com as tragédias ocorridas durante a 
seca de 1877-1879, não houve mobilização gover-
namental suficiente para mudar a situação com 
relação à seca. O imperador Dom Pedro II não se 
manifestou quanto ao problema. As autoridades 
locais pareciam mais preocupadas com a lavou-
ra açucareira, não concentrando esforços no 
Nordeste das secas.
Ao longo do século XIX, o sul brasileiro acabou 
por se tornar um polo pecuário, tornando ainda 
mais difícil a situação da economia do sertão, que 
não era mais o único setor produtor de carnes e 
couros para as regiões litorâneas. Com a procla-
mação da República, evidentemente, os interesses 
dos cafeicultores do Sudeste brasileiro prevale-
ceram. O federalismo implementado tinha como 
principal objetivo permitir que os ricos governos 
do Sudeste pudessem fazer investimentos, sem 
ter de prestar contas ao governo federal e sem 
ter de destinar recursos aos estados de outras 
regiões do país.
No Nordeste, as famílias tradicionais oligárqui-
cas trataram de fazer funcionar a seu favor a nova 
ordem política. Os governos estaduais, regidos 
por constituições locais, passaram a servir dire-
tamente aos seus interesses. No caso do Ceará, a 
família Accioly, liderada inicialmente por Nogueira 
Accioly, teve o domínio político do estado entre 
1896 e 1912. Para se manter no poder, não só se 
submetia às ordens do governo federal, como 
contava com o auxílio de coronéis que garantiam 
os resultados eleitorais nas localidades. Aos seus 
opositores cabia a perseguição e a repressão. 
Em Pernambuco dominaram os Rosa e Silva, em 
Alagoas os Maltas e no Piauí os Pires Ferreira.
Quando entre 1898 e 1900 ocorreu uma grande 
seca, ficou claro que o governo federal não aten-
deria à região. O então presidente Campos Sales 
não destinou recursos suficientes para combater 
os efeitos dela. Em 1915, uma nova seca atingiu o 
Nordeste e mais uma vez os retirantes foram para 
as cidades. A fome e as doenças começaram a 
fazer muitos mortos. Obedecendo ao jogo oligár-
quico, os governadores não enfrentaram o gover-
no federal, e os recursos novamente não vieram 
para combater a seca. Para complicar ainda mais 
a situação, em 1915 a borracha amazônica já se 
encontrava em decadência como atividade econô-
mica, tornando ainda mais difíceis as migrações.
Nesse período, a região Nordeste começou a 
perder a liderança na produção de ovinos, bovinos 
e caprinos para o sul do país, pois milhares de 
animais morreram com a seca.
Em 1919, o então presidente Epitácio Pessoa 
propôs a realização de obras de irrigação no 
Nordeste, como a construção de açudes e poços. 
Queria ainda ampliar as estradas para facilitar a 
circulação de mercadorias na região. No entanto 
sofreu forte oposição no Congresso, principal-
mente da bancada do sudeste e do sul do país. 
A oposição temia, entre outros motivos, que 
essas atitudes levassem à desapropriação de 
terras irrigadas que não fossem cultivadas. Em 
1920, quando uma nova seca atingiu o Nordeste, 
Epitácio Pessoa conseguiu dar andamento a 
algumas obras. Construiu mais de 200 açudes e 
perfurou mais de 100 poços, além de reformar 
estradas e portos. No entanto, nos anos finais da 
Primeira República, não se repetiram os esforços 
de Epitácio Pessoa, que deixou o governo com a 
imagem desgastada.
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sertão nordestino nesses períodos de penúria. 
O governo imperial pouco investiu na região, embo-
ra tenham surgido os primeiros projetos de cons-
trução de açudes e se tenham introduzido camelos 
e dromedários como meio de transporte nesses 
locais de seca. Essa última iniciativa, entretanto, 
não obteve nenhum sucesso.
As secas continuaram no século XIX, e, nos 
períodos em que elas se estenderam, as cidades 
do sertão ficaram “inchadas” de retirantes à pro-
cura de comida e trabalho. Na seca de 1877, mais 
de 50 mil retirantes foram para Fortaleza em pou-
cas semanas. No mesmo ano, o jornal paraibano 
A Opinião noticiou, em 11 de novembro, que:
[…] os sertões estão ficando desertos pela emigra-
ção […]; e nos brejos surge a miséria pela supera-
bundância de emigrantes que de tudo precisam, e 
nada conduzem.
Apud VILLA, Marco Antonio. Vida e morte no sertão.
São Paulo: Ática, 2001. p. 52.
Parte dessa população ia para o litoral e aca-
bava sendo explorada pelos produtores de açúcar, 
que pagavam ínfimos salários aos trabalhadores 
ter de destinar recursos aos estados de outras 
regiões do país.
cas trataram de fazer funcionar a seu favor a nova 
ordem política. Os governos estaduais, regidos 
por constituições locais, passaram a servir dire-
tamente aos seus interesses. No caso do Ceará, a 
família Accioly, liderada inicialmente por Nogueira 
Accioly, teve o domínio político do estado entre 
1896 e 1912. Para se manter no poder, não só se 
submetia às ordens do governo federal, como 
contava com o auxílio de coronéis que garantiam 
os resultados eleitorais nas localidades. Aos seus 
opositores cabia a perseguição e a repressão. 
Em Pernambuco dominaram os Rosa e Silva, em 
Alagoas os Maltas e no Piauí os Pires Ferreira.
seca, ficou claro que o governo federal não aten-
deria à região. O então presidente Campos Sales 
não destinou recursos suficientes para combater 
os efeitos dela. Em 1915, uma nova seca atingiu o 
Nordeste e mais uma vez os retirantes foram para 
as cidades. A fome e as doenças começaram a 
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Acima, chegada de retirantes em Fortaleza (CE). Milhares de sertanejos que migraram para lá, na seca de 1915, foram abrigados 
em locais que ficaram conhecidos como “campos de concentração”, pois as pessoas não podiam sair sem permissão das autorida-
des, e as condições de vida e higiene eram as piores possíveis. Abaixo, foto de família em um desses “campos”, em cerca de 1910.
Arquivo particular
Biblioteca MunicipalMário de Andrade, São Paulo (SP)
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Acima, chegada de retirantes em Fortaleza (CE). Milhares de sertanejos que migraram para lá, na seca de 1915, foram abrigados 
em locais que ficaram conhecidos como “campos de concentração”, pois as pessoas não podiam sair sem permissão das autorida-
des, e as condições de vida e higiene eram as piores possíveis. Abaixo, foto de família em um desses “campos”, em cerca de 1910.
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O sertão do cangaço
O cangaço refere-se aos grupos de pessoas 
armadas que, com suas roupas e chapéus de couro, 
faziam assaltos, matavam opositores, enfim, viviam 
sob suas próprias regras. Esses homens e mulheres, 
os cangaceiros, estiveram muito presentes no ser-
tão nordestino entre os anos 1910 e 1940. A palavra 
“cangaço” faz referência a canga, peça de madeira 
que segura o boi pelo pescoço. É uma alusão à carga 
que os cangaceiros carregavam no corpo, a qual 
muitas vezes ultrapassava os vinte quilos.
De que maneira o cangaço estabelece rela-
ção com a história da pecuária e das secas no 
Nordeste? Para responder a essa questão é 
necessário estar atento ao duplo significado que 
o cangaço pode ter. 
É possível se reportar aos cangaceiros para 
fazer referência aos grupos de homens armados 
que prestavam serviço aos chefes políticos de 
dada localidade e que eram pagos para cumprir as 
ordens desses senhores. Esse tipo de grupo arma-
do já existia no Brasil há mais tempo, desde pelo 
menos o século XVIII. A historiadora Maria Isaura 
Pereira de Queiroz explica:
Qualquer dissensão, por pequena que fosse, no in-
terior de uma parentela, ou entre duas parentelas, 
imediatamente dava início a um conflito, que podia 
desenvolver-se na forma de uma “guerra de famí-
lias”, se estendendo por várias gerações. Assim, 
por exemplo, na luta entre Pereiras e Carvalhos, 
na zona de Pajeú de Flores, Pernambuco, a cada 
pequeno Pereira que nascia, aconselhavam seus 
avós, seus pais, seus padrinhos “que procurasse 
o seu Carvalho a quem devia liquidar”, o mesmo 
acontecia entre os Carvalhos e a pendência, ora 
violenta, ora larvada. […]
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. História do cangaço. 
São Paulo: Global, 1997. p. 23.
Na Primeira República, essas lutas estavam 
diretamente ligadas à disputa oligárquica pelo 
domínio político local. Já os grupos de cangacei-
ros independentes surgiram mais tarde e lutavam 
em defesa de seus próprios interesses. Errantes 
e sem residência fixa, eram fugitivos da polícia e 
de grupos armados particulares que queriam seu 
extermínio. O mais famoso desses grupos, como 
veremos mais adiante, foi o liderado por Lampião 
entre 1920 e 1930. Esses grupos independentes 
eram uma resposta à miséria que se instalava no 
Nordeste principalmente nos períodos de seca.
Sobre a origem mais remota do cangaço, como 
já lembramos, devemos considerar que a própria 
história da colonização da região envolveu cons-
tantes conflitos entre a população indígena e os 
colonos pela posse da terra destinada à pecuária. 
Com isso, a utilização de armas e as lutas sangren-
tas entre indígenas e colonos eram comuns, assim 
como as brigas entre famílias. O ser humano do 
cangaço certamente nasceu dessa fusão cultural 
entre uma população indígena que resistia ao 
domínio e um grupo de colonizadores que lutava 
para conquistar terras a qualquer preço.
Os cangaceiros buscavam o enriquecimento 
pelo roubo, e se vingavam dos inimigos com vio-
lência e morte. Procuravam construir alianças que 
lhes garantissem segurança temporária. Uma das 
formas de os chefes locais evitarem o confronto 
com os cangaceiros era estabelecer alianças com 
o bando, que se transformavam em relações de 
compadrio. Conforme Maria Isaura P. de Queiroz:
Um dos melhores exemplos destas relações de 
aliança está no pacto implicitamente estabelecido 
entre Lampião e o poderoso chefe político do muni-
cípio de Jeremoabo, ao norte da Bahia, Cel. João Sá. 
Vangloriava-se João Sá de ser tão temido e respeita-
do, que o próprio Lampião, que tanto havia circulado 
pela região, nunca atacara as “suas” fazendas e 
a “sua” cidade. Na verdade, vários documentos 
demonstram que João Sá frequentava os acampa-
mentos de Lampião, principalmente o que estabe-
lecera no Raso da Catarina, sendo parceiro habitual 
das rodas de jogo que o chefe de cangaceiros ali 
organizava frequentemente. Este relacionamento 
se estreitara ainda mais porque João Sá aceitara 
ser padrinho de filhos de Lampião com Maria Bonita.
QUEIROZ, op. cit., p. 33.
Os bandoleiros também comprometiam comu-
nidades inteiras ao propagar o medo. Ameaçavam 
aqueles que se voltavam contra eles e premiavam 
com dinheiro e proteção os que estivessem do seu 
lado. Uma das atividades que exerciam era exata-
mente a venda de proteção a fazendeiros, com a 
qual o bando de Lampião ganhou muito dinheiro. 
Economicamente, aderir ao cangaço poderia ser 
uma forma de alcançar rendimento, coisa que o 
trabalho na terra ou outras atividades jamais pro-
porcionariam a um cidadão pobre. Os cangaceiros 
contavam com uma rede de colaboradores e pro-
tetores, os coiteiros, que informavam quando a 
polícia ou outro inimigo se aproximava.
Os inimigos do cangaço poderiam se alistar na polí-
cia ou aderir às volantes, grupo de soldados liderados 
por um tenente ou um sargento que perseguia os 
cangaceiros sem pertencer a um quartel fixo. Assim, 
o conflito ganhava dupla dimensão: de um lado, o 
grupo de cangaceiros assaltava, matava e ameaçava 
comunidades; de outro, as volantes e as polícias locais 
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O sertão do cangaço
O cangaço refere-se aos grupos de pessoas 
armadas que, com suas roupas e chapéus de couro, 
faziam assaltos, matavam opositores, enfim, viviam 
sob suas próprias regras. Esses homens e mulheres, 
os cangaceiros, estiveram muito presentes no ser-
tão nordestino entre os anos 1910 e 1940. A palavra 
“cangaço” faz referência a canga, peça de madeira 
que segura o boi pelo pescoço. É uma alusão à carga 
que os cangaceiros carregavam no corpo, a qual 
muitas vezes ultrapassava os vinte quilos.
De que maneira o cangaço estabelece rela-
ção com a história da pecuária e das secas no 
Nordeste? Para responder a essa questão é 
necessário estar atento ao duplo significado que 
o cangaço pode ter. 
É possível se reportar aos cangaceiros para 
fazer referência aos grupos de homens armados 
que prestavam serviço aos chefes políticos de 
dada localidade e que eram pagos para cumprir as 
ordens desses senhores. Esse tipo de grupo arma-
do já existia no Brasil há mais tempo, desde pelo 
menos o século XVIII. A historiadora Maria Isaura 
tantes conflitos entre a população indígena e os 
colonos pela posse da terra destinada à pecuária. 
Com isso, a utilização de armas e as lutas sangren-
tas entre indígenas e colonos eram comuns, assim 
como as brigas entre famílias. O ser humano do 
cangaço certamente nasceu dessa fusão cultural 
entre uma população indígena que resistia ao 
domínio e um grupo de colonizadores que lutava 
para conquistar terras a qualquer preço.
pelo roubo, e se vingavam dos inimigos com vio-
lência e morte. Procuravam construir alianças que 
lhes garantissem segurança temporária. Uma das 
formas de os chefes locais evitarem o confronto 
com os cangaceiros era estabelecer alianças com 
o bando, que se transformavam em relações de 
compadrio
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Lampião (à esquerda), em 1922, quando iniciou como chefe 
do cangaço. Na foto, tirada na Fazenda da Pedra, município de 
Princesa (PB), aparecem também Livino, Antônio Rosa e Antônio 
Ferreira, seus companheiros.
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eç
ão
 p
ar
ti
cu
la
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cometiam todotipo de violência em busca dos bandi-
dos e também para manter o domínio local.
Antônio Silvino foi um dos primeiros que 
formaram um desses grupos de cangaceiros inde-
pendentes. Nascido em 1875, em Pernambuco, era 
descendente de uma família tradicional da região. 
Em 1896, decidido a vingar a morte do pai, juntou-se 
a um bando já formado, do qual depois se tornou 
líder. Após liquidarem vários de seus inimigos, 
os bandoleiros prosseguiram lutando contra a 
polícia, promovendo assaltos e armando tocaias 
para autoridades e instituições governamentais. 
Silvino considerava as autoridades do governo, 
em todos os níveis, seu maior inimigo. Andava 
pelo sertão com um grupo pequeno, quase nunca 
superior a seis homens, fortemente armado. Em 
1912, tentou abandonar a vida de cangaceiro e 
pediu ao governo do Estado que perdoasse seus 
crimes. Como a resposta foi negativa, voltou a atuar 
como bandido. Cobrava impostos de comerciantes 
e negociantes, assaltava trens e não reconhecia 
nenhum tipo de autoridade legal. Em 1914, acabou 
sendo capturado no município de Taquaretinga (PE) 
pelas forças policiais lideradas por José Alvino, ex-
-comerciante que entrara para a polícia depois 
de ter sido assaltado por Antônio Silvino e que 
havia prometido capturar o cangaceiro. Silvino 
ficou preso por mais de vinte anos; libertado, foi 
morar com a esposa no Rio de Janeiro. Uma vez 
lá, solicitou emprego ao presidente Getúlio Vargas. 
Chegou mesmo a ser recebido pelo presidente, que 
lhe concedeu o emprego. Morreu em 1944.
Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como 
Lampião, nasceu na fazenda de seus pais, no Vale 
do Pajeú, Pernambuco, em 1897. Era filho de um 
modesto fazendeiro que foi morar no estado per-
nambucano após matar inimigos no Ceará, sua terra 
natal. Depois de novos conflitos entre famílias, foi 
viver em Alagoas. Na cidade de Água Branca, seus 
filhos, incluindo Virgulino, começaram a participar 
de um grupo de cangaceiros. A polícia alagoana 
passou a perseguir os Ferreira da Silva após um 
ataque a uma vila. O pai de Lampião acabou sendo 
assassinado pela polícia. Em seguida morreu a 
mãe, e os irmãos regressaram para Pernambuco. 
Em 1918, Lampião ingressou no bando formado 
por Sinhô Pereira, descendente de família rica e 
influente de Pernambuco. Ganhou então o apelido 
por ser muito rápido no gatilho e porque de sua arma 
saía um constante clarão dos disparos, como um 
lampião. Em 1922, Sinhô Pereira abandonou a 
região e Lampião se tornou o chefe do bando.
A partir daí, o bando de Lampião começou a 
sobreviver de assaltos e das ameaças que fazia 
a fazendeiros e chefes locais. Temidos, os canga-
ceiros conseguiram estabelecer várias alianças, 
recebendo proteção de autoridades e fazendei-
ros. Quando se sentiam ameaçados, atacavam 
o inimigo e as pessoas que lhe eram próximas. 
Frequentemente Lampião enviava carta de cobran-
ça ou advertência a possíveis aliados ou inimigos. 
Em 1927, enviou uma carta de cobrança para o pre-
feito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, na qual dizia:
Estando Eu ate aqui pretendo é dr [dinheiro]. Ja foi 
um a viso, ahi pa oSinhoris, si por acauso rezolver 
mi a mandar-me a importança qui aqui nos pedi, 
Eu envito di Entrada ahi porem não vindo esta 
Emportança eu entrarei ate ahi, penço qui adeus 
querer, eu entro, i vai aver muito estrago, por isto 
si viro dr eu não entro ahi mas nos resposte logo.
Apud MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi 
Lampião. Recife/Zurique: Stahli, 1993. p. 142.
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cometiam todo tipo de violência em busca dos bandi-
 foi um dos primeiros que 
formaram um desses grupos de cangaceiros inde-
pendentes. Nascido em 1875, em Pernambuco, era 
descendente de uma família tradicional da região. 
Em 1896, decidido a vingar a morte do pai, juntou-se 
a um bando já formado, do qual depois se tornou 
líder. Após liquidarem vários de seus inimigos, 
os bandoleiros prosseguiram lutando contra a 
polícia, promovendo assaltos e armando tocaias 
para autoridades e instituições governamentais. 
Silvino considerava as autoridades do governo, 
em todos os níveis, seu maior inimigo. Andava 
pelo sertão com um grupo pequeno, quase nunca 
superior a seis homens, fortemente armado. Em 
1912, tentou abandonar a vida de cangaceiro e 
pediu ao governo do Estado que perdoasse seus 
crimes. Como a resposta foi negativa, voltou a atuar 
como bandido. Cobrava impostos de comerciantes 
e negociantes, assaltava trens e não reconhecia 
nenhum tipo de autoridade legal. Em 1914, acabou 
sendo capturado no município de Taquaretinga (PE) 
pelas forças policiais lideradas por José Alvino, ex-
a fazendeiros e chefes locais. Temidos, os canga-
ceiros conseguiram estabelecer várias alianças, 
recebendo proteção de autoridades e fazendei-
ros. Quando se sentiam ameaçados, atacavam 
o inimigo e as pessoas que lhe eram próximas. 
Frequentemente Lampião enviava carta de cobran-
ça ou advertência a possíveis aliados ou inimigos. 
Em 1927, enviou uma carta de cobrança para o pre-
feito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, na qual dizia:
Estando Eu ate aqui pretendo é dr [dinheiro]. Ja foi 
um a viso, ahi pa oSinhoris, si por acauso rezolver 
mi a mandar-me a importança qui aqui nos pedi, 
Eu envito di Entrada ahi porem não vindo esta 
Emportança eu entrarei ate ahi, penço qui adeus 
querer, eu entro, i vai aver muito estrago, por isto 
si viro dr eu não entro ahi mas nos resposte logo.
Apud MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi 
Lampião. Recife/Zurique: Stahli, 1993. p. 142.
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Em outra carta, de 1926, Lampião faz uma adver-
tência ao sargento José Antônio do Nascimento, 
delegado de Juazeiro do Norte (CE):
Eu lhi faço este, até não devia mi sujeitar a ti 
escrever porem sempre mando ti avizar pois eu 
soube qui no dia qui cheguei ahi na fazenda este-
ve prompto para vir mi voltar porem, Eu sempre 
lhi digo qui Voce crie juizo, e deixi de violencias, 
pois Eu venho chamado é por home, mesmo 
asim, com zuada não mi faz medo. Eu tenho visto 
é cousa forte, e não me asombra, portanto deve 
e tratar de fazer amigos não para fazer como diz 
voce. Sempre lhi avizo, qui E para depois não se-
arrepender e nada mais: não se zangue, isto E um 
conselho que lhi dou.
Apud MELLO, op. cit., p. 141.
O bando de Lampião era composto de um gran-
de número de homens e também mulheres – chegou 
a ter mais de 120 bandidos sob seu comando direto 
e mais de 300 divididos em outros grupos –, que 
se espalhavam por vários estados do Nordeste 
realizando diferentes ações. Quando necessário, 
dispersavam-se para escapar de uma luta que 
não podiam ganhar. Andavam à noite pelas matas 
para evitar serem vistos e apareciam sempre de 
surpresa. Maria Isaura Pereira de Queiroz conta:
Surgia inesperadamente nos povoados – como 
aconteceu em Souza, na Paraíba, em 1924. O ban-
do cortara previamente os fios do telégrafo, im-
possibilitando assim qualquer pedido de socorro 
para o exterior. Penetrando na vila, os cangaceiros 
pilharam as casas comerciais. Abasteceram-se 
em gêneros; envergaram roupas novas; organi-
zaram um baile; gozaram os favores de algumas 
mulheres que não lhes resistiram. Em seguida 
partiram, levando com eles um menino para car-
regar cobertores e bagagens – menino que mais 
tarde se tornou o cangaceiro Lua Branca.
QUEIROZ, op. cit., p. 49.
O historiador Frederico Pernambucano de 
Mello chama a atenção para a ostentação promo-
vida por Lampião. Com as cobranças e os saques 
realizados, ele conseguia sustentar o luxo. Explica 
o historiador:
Se a vestimenta dos bandoleiros do Nordeste 
sempre se mostrou imponente, a ponto de muitos 
jovens cederem à tentação de se ligar aos grupos 
por conta do fascínio que