Prévia do material em texto
São Paulo – 2013 1ª- edição HISTÓRIA Conexão VOLUME 3 ENSINO MÉDIO HISTÓRIA 3a- série Roberto Catelli Junior Bacharel e licenciado em História pela Pontifícia Universidade de São Paulo. Mestre em História pela Universidade de São Paulo. Professor de História da rede particular de ensino do estado de São Paulo. Assessor para organização de currículos e formador de professores na rede pública de ensino. MANUAL DO PROFESSOR Editores: Arnaldo Saraiva e Joaquim Saraiva Projeto gráfico e capa: Flávio Nigro Pesquisa iconográfica: Cláudio Perez Coordenação digital: Flávio Nigro e Nelson Quaresma Colaboração: Maria Soledad Más Gandini, Renata Pereira Lima Aspis e Roberto Giansanti Produção editorial: Maps World Produções Gráficas Ltda Direção: Maurício Barreto Direção editorial: Antonio Nicolau Youssef Gerência editorial: Carmen Olivieri Coordenação de produção: Larissa Prado Edição de arte: Jorge Okura Editoração eletrônica: Alexandre Tallarico, Flávio Akatuka, Francisco Lavorini, Juliana Cristina Silva, Veridiana Freitas, Vivian Trevizan e Wendel de Freitas Edição de texto: Ana Cristina Mendes Perfetti Revisão: Adriano Camargo Monteiro, Fabiana Camargo Pellegrini, Juliana Biggi e Luicy Caetano Pesquisa iconográfica: Elaine Bueno e Luiz Fernando Botter Cartografia: Maps World (Alexandre Bueno e Catherine A. Scotton) Conteúdos digitais: Esfera Digital Fotos da capa: Pirâmide do Egito – Photodisc; Pirâmide do Louvre – IDREAMSTOCK/Alamy/Glow Images 2013 Editora AJS Ltda. – Todos os direitos reservados Endereço: R. Xavantes, 719, sl. 632 Brás – São Paulo – SP CEP: 03027-000 Telefone: (011) 2081-4677 E-mail: editora@editoraajs.com.br Título original: Conexão História © Editora AJS Ltda, 2013 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Catelli Junior, Roberto Conexão história : volume 3 : ensino médio : 3º série / Roberto Catelli Junior. -- 1. ed. -- São Paulo : Editora AJS, 2013. Bibliografia. "Suplementado pelo manual do professor" 1. História (Ensino médio) I. Título. 13-06550 CDD-907 Índices para catálogo sistemático: 1. História : Ensino médio 907 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Catelli Junior, Roberto Conexão história : volume 3 : ensino médio : 3º série / Roberto Catelli Junior. -- 1. ed. -- São Paulo : Editora AJS, 2013. Bibliografia. "Suplementado pelo manual do professor" 1. História (Ensino médio) I. Título. 13-06550 CDD-907 Índices para catálogo sistemático: 1. História : Ensino médio 907 ISBN: 978-85-8319-003-5 (Aluno) ISBN: 978-85-8319-004-2 (Professor) Muitas gerações se fizeram as mesmas perguntas ao estudar História: Para que serve? Por que tenho de saber o que aconteceu na Revolução Francesa ou no Brasil colonial? Essas perguntas ainda persistem. Talvez você já tenha se perguntado isso. A História, vista em si, talvez não pareça servir para nada. Ela só tem sentido quando lhe atribuímos um significado. E quanto mais questionarmos e refletirmos sobre os acontecimentos da história, mais poderemos refletir sobre a realidade que nos cerca e a vida que vivemos. Quando estudo História com a única finalidade de memorizar fatos do passado para obter um resul- tado satisfatório em uma avaliação, dificilmente ela terá algum sentido. Seria o mesmo que ouvir uma canção da qual não gosto repetidas vezes apenas para decorar sua letra e sequência melódica. Para mim, autor desta obra e professor, estudar História significa, principalmente, estimular a reflexão, exercitar o espírito crítico e promover descobertas. Preciso sempre fazer perguntas: Em que a Revolução Francesa, por exemplo, se relaciona com o mundo em que vivo? Que ideias foram produzidas pelo ser huma- no daquela época (século XVIII)? O que é diferente dos dias atuais? O que pensavam os revolucionários? Que sociedade eles queriam construir? Preciso ainda ser crítico o suficiente para saber identificar as dife- rentes posições dos autores que têm interpretações contrárias. Por que concordo com um e discordo do outro? É preciso saber contextualizar o assunto em um duplo sentido: compreender os eventos históricos conforme a época em que se vivia, além de buscar construir as relações com o presente. Estudar História pode ser também um profundo mergulho nas experiências vividas pelos seres huma- nos, ao longo do tempo, nas mais diferentes dimensões: cultural, econômica, política e social. Podemos entrar em contato com modos de vida muito diversos do que conhecemos na atualidade e refletir sobre o significado daquelas experiências para o presente e para o futuro. O que se estuda na História? Certamente não são apenas os grandes eventos políticos e econômicos, ainda que esses estabeleçam marcos para a humanidade. Podemos estudar a vida cultural, a condição feminina, a religiosidade, a música, o pensamento científico, as atividades esportivas, enfim, tudo aquilo que se refere à experiência de homens e mulheres em sociedade. Nesse mergulho nas várias dimensões da vida humana não podemos nos limitar aos conhecimentos de História. Será necessário recorrer às Artes, às Ciências, à Filosofia, à Geografia e à Sociologia, pois sabemos que a vida humana não está compartimentada em conhecimentos disciplinares. Ao contrário, para com- preender a sua história é preciso recorrer a todas as suas dimensões, formando uma rede de conhecimentos. Para estudar história precisamos acessar uma grande rede de conhecimentos para discutir a experi- ência humana ao longo de milhares de anos. Muitos desses conhecimentos, por sua vez, podem, hoje, ser obtidos por meio da rede mundial de computadores e da variedade de linguagens disponíveis. É possível recorrer a internet, vídeos, cinema, televisão, rádio, enfim, a variadas fontes de informação que também contribuem para a construção do conhecimento histórico na escola. Ao estudar História, cabe ainda perguntar quais fontes podemos utilizar. Os documentos escritos, os objetos da cultura material, as imagens, as histórias em quadrinhos, as obras literárias, as propagandas, as canções, os depoimentos gravados, ou seja, todo registro ou vestígio da vida humana pode ser fonte para o estudo da História. Desejo que este material didático o auxilie a construir um sentido para seus estudos, embora isso não dependa apenas de um livro ou do professor. Estes podem apenas favorecer e despertar a sua curiosida- de. Essa é minha intenção primeira com esta obra. A partir daí, e das informações disponíveis, recomendo o mais fundamental: faça perguntas, busque relações e atribua um significado para tudo. “Fazer sentido” também quer dizer “fazer sentir”: é preciso que esse processo nos desperte para algo. Caso contrário, tanto a História quanto a música, o futebol, a praia, o(a) namorado(a), os amigos, a família, o mundo, enfim, ficam incompletos e insuficientes. O autor APRESENTAÇÃO CONHEÇA SEU LIVRO PESQUISA Orientações para organização de pesquisa sobre algum tema relevante para uma melhor compreensão dos conceitos, fatos históricos ou situações em estudo no capítulo. CONTEXTO Núcleo de desenvolvimento do conteúdo didático do livro, que contém informações tex- tuais, cartográficas, visuais e esquemáticas. LINHA DO TEMPO Eventos e fatos históricos relativos ao tema do capítulo em desenvolvimento, organizados cronologicamente. NA INTERNET Sugestão de links destinados ao detalhamen- to e aprofundamento de assuntos estudados.TRABALHANDO COM DADOS Apresentação de coleções de dados e infor- mações, geralmente organizadas em tabelas, para suscitar discussões e dimensionamentos de fatos históricos e econômicos. ROTEIRO DE TRABALHO Proposta de atividades ordenadas a partir de algumas das seções com conteúdos previa- mente fixados. VESTIBULANDO Apresentação de testes e questões exigidas em vestibulares e no Enem. RELEITURA Apresentação das ideias e conceitos estu- dados no capítulo em linguagem distinta do texto didático como, por exemplo, letras de música, obras de arte ou publicações. PARA LER, ASSISTIR E NAVEGAR Sugestões de livros, filmes e sites que con- têm mais e diversificadas informações sobre os temas estudados. INTERDISCIPLINARIDADE Apresenta relações entre os diversos con- ceitos históricos estudados e outras disciplinas ou matérias com as quais o aluno tem contato. DOCUMENTOS Aqui são apresentados artigos, transcrições e informações que, quando discutidas, con- solidam a aprendizagem e a significação dos conceitos estudados. PONTO DE VISTA Detalhamento ou confrontação de diferen- tes pontos de vista sobre o assunto em estudo. Relação dos objetos digitais de aprendizagem apresentados no livro. Infográfico de fatos históricos organizados de forma contínua e cronológica Conjunto de referências cruzadas de temas relevantes estudados ao longo dos livros da coleção. UNIDADE 1 Conflitos e diversidade cultural no Brasil . . . . . . . . . . . . . 8 CAPÍTULO 1 O Brasil do sertão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O sertão das secas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O sertão – da Colônia à República . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 O sertão do cangaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 O sertão do padre Cícero. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 CAPÍTULO 2 O Brasil amazônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 A Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 A independência e os conflitos durante o Império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 A borracha e a belle époque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 As transformações do ecossistema da Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 A ocupação da Amazônia no Brasil contemporâneo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 A terra e o desenvolvimento na Amazônia . . . . . . . . 49 CAPÍTULO 3 Afro-brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 A África pré-colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Os europeus na África . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Os africanos no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 UNIDADE 2 Cidadania e relações de poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 CAPÍTULO 4 Nacionalismo, guerras mundiais e autoritarismo . . . . 84 CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Imperialismo e nacionalismo no final do século XIX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Trinta e um anos de guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 A Primeira Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 A República de Weimar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 A crise de 1929 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 A crise da República de Weimar e a ascensão do nazismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 A construção do ideário nazista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 O fascismo italiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 A Guerra Civil Espanhola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 A Segunda Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 A Guerra Fria: a Coreia, o Muro de Berlim e o Vietnã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 SUMÁRIO C or bi s/ La ti ns to ck C or bi s/ La ti ns to ck CAPÍTULO 5 A República varguista: da Revolução de 1930 ao Estado Novo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 O fim do predomínio da oligarquia cafeeira e o governo Vargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 A Revolução Constitucionalista de 1932 . . . . . . . . . . 132 A Constituinte e a Constituição de 1934 . . . . . . . . . . 134 Fascismo e comunismo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 O Estado Novo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138 O fim da ditadura Vargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 CAPÍTULO 6 Ensaios democráticos no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .151 CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 O governo Dutra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 Getúlio Vargas: presidente eleito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156 O governo JK e o desenvolvimentismo . . . . . . . . . . . . 160 Jânio Quadros e a renúncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 O governo Goulart e asreformas de base . . . . . . . 167 CAPÍTULO 7 Da ditadura à democracia: golpe, guerrilha e abertura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180 CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184 A montagem do poder ditatorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184 O governo Costa e Silva e o período do “milagre econômico” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186 A resistência e o Ato Institucional n. 5 . . . . . . . . . . . . 188 A cultura jovem nos anos 1960 e o sentido de protesto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194 O governo Médici . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 De Geisel a Figueiredo: mudança de rumos . . . . 201 A abertura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205 Sarney governa de 1985 a 1989 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 CAPÍTULO 8 O cidadão contemporâneo: um roteiro de estudo . . . 221 CONTEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225 O Brasil democrático e socialmente desigual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225 A globalização e o desenvolvimento do capitalismo no mundo contemporâneo . . . . . . 231 Os Estados nacionais no contexto da globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 A crítica à globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236 Os conflitos pós-Guerra Fria e as guerras do século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236 O ser humano e o meio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251 Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269 Gabarito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 272 SUMÁRIO CONTEÚDO DIGITAL G Paisagens do Sertão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 G Revolução de 1932 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 G O DIP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 G Getúlio Vargas – anos 1950 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156 G Campanhas nacionalistas – anos 1970 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 G Objetos sagrados de culturas africanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62 G Festas tradicionais brasileiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72 G Cidades destruídas pela guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 A Áudio de soldados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 Declaração de Guerra, 1940 – Mussolini . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 A Hora do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 V Trecho de vídeo da Primeira Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . 92 V Olimpíadas de 1936 – Jesse Owens e Hitler . . . . . . . . . . . . . . . . 102 V Conflito entre israelenses e palestinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248 V Degelo na Antártida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222 I Desmatamento e Mineração – impactos ambientais . . . . . . . .45 I Terras indígenas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 I Sufragistas e o voto feminino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 I Programa de Metas de Juscelino Kubitschek . . . . . . . . . . . . . . 161 I FMI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204 I Aquecimento global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222 I Conflito entre judeus e palestinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247 I Violência no campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50 I Antigos reinos e impérios africanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 I Primeira Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93 I Ofensivas durante a Segunda Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . 111 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 à 268 G Imprensa alternativa na ditadura militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194 G Alemanha pós-queda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Declaração de Guerra, 1940 – MussoliniV LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS R og ér io R ei s/ P ul sa r Im ag en s 8 UNIDADE 1 Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidadeConflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade Conflitos e diversidade cultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasilcultural no Brasil 9 O Brasil do sertão Estudar a história brasileira significa desvendar acontecimentos marcados pela diversidade cultural. A formação multicultural do Brasil se constitui por uma grande variedade de grupos sociais que interagiram de maneira conflituosa. Muitos antropólogos, historiadores e cientistas sociais, a exemplo de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando de Azevedo e, mais recentemente, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, Roberto da Matta, Alfredo Bosi e Renato Ortiz, já se preocuparam em definir e compreender a cultura brasileira em suas múltiplas dimensões. Todos, a par de suas diferentes posições político-ideológicas, são unâni- mes em concordar que a característica marcante de nossa cultura é a riqueza de sua diversidade, resultado de nosso processo histórico-social e das dimensões continen- tais de nossa territorialidade. Nesse sentido, o mais correto seria falarmos em “culturas brasileiras”, ao invés de “cultura brasileira”, dada a pluralidade étnica que contribuiu para sua formação. FERNANDES, José Ricardo Oriá. Ensino de História e diversidade cultural: desafios e possibilidades. Cadernos CEDES, Campinas, v. 25, n. 67, set./dez. 2005. p. 379. Disponível em: <www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622005000300009>. Acesso em: 18 abr. 2013. Nesta unidade vamos colocar em destaque parte dessa diversidade cultural, buscan- do compreender a história brasileira mais recente levando em conta a sua pluralidade. Vamos começar estudando o que denominamos como Brasil do sertão. Lampião, o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, nasceu em 1897 e morreu em 1938. Pernambucano, era representante de uma cultura brasileira que não pode ser entendida apenas pelo que ocorria no Rio de Janeiro, então capital da República. Desde o período colonial, o sertão se diferenciou pela peculiaridade de sua formação territorial, por suas condições climáticas, por seu isolamento em relação ao centro de decisão de poder e por sua formação cultural singular. Para o antropólogo Darcy Ribeiro: Conformou, também, um tipo particular de população com uma subcultura própria, a sertaneja, marcada por sua especialização ao pastoreio, por sua dispersão espacial e por traços característicos identificáveis no modo de vida, na organização da família, na estruturação do poder, na vestimenta típica, nos folguedos estacionais, na dieta, na culinária, na visão de mundo e numa religiosidade propensa ao messianismo. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 340. CAPÍTULO 1 R og ér io R ei s/ P ul sa r Im ag en s 10 O Brasil do sertão Estudar a história brasileira significa desvendaracontecimentos marcados pela diversidade cultural. A formação multicultural do Brasil se constitui por uma grande variedade de grupos sociais que interagiram de maneira conflituosa. Muitos antropólogos, historiadores e cientistas sociais, a exemplo de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando de Azevedo e, mais recentemente, CAPÍTULO 1 R og ér io R ei s/ P ul sa r Im ag en s LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS Lampião com sua mulher, Maria Bonita, e cachorros. Nesta foto de 1936, tirada pelo fotógrafo Benjamin Abrahão, que acompanhou o bando, o cangaceiro aparece segurando um exemplar da revista musical Noite Ilustrada, que fazia sucesso na época. CONTEXTO O sertão das secas A seca do Nordeste ocorre em sua região semiárida, que compreende cerca de 700 mil km2 do território brasileiro. Lá as temperaturas médias são bastante elevadas durante todo o ano. Além disso, as chuvas são escassas e irregulares, haven- do pouca umidade e ausência de rios perenes. As médias pluviométricas no semiárido, em alguns lugares, não ultrapassam os 400 mm anuais. No sertão nordestino, o inverno seco pode durar até oito meses e o verão chuvoso até sete meses. A paisagem torna-se acinzentada nos períodos de seca e muito verde nas épocas de chuva. Quando as chu- vas se avolumam no verão, a população das regiões secas diz que chegou o inverno, pois o calor torna-se mais ameno com a redução da secura. A caatinga é um tipo de vegetação própria das extensões semiáridas. Conforme o geógrafo Nilo Bernardes: A região das caatingas abrange, praticamente, to- da a área dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte; quase todo o sudeste do estado do Piauí; a maior parte do este dos estados da Paraíba, de Per- nambuco, das Alagoas e de Sergipe; a maior parte de todo o interior da Bahia e até mesmo uma apre- ciável porção do extremo norte do estado de Minas Gerais. São mais de 800 mil km2 de extensão, Em 1936, o governo federal delimitou o que foi denominado Polígono das Secas, abrangendo mais de quarenta municípios entre o Piauí e o norte de Minas Gerais. Após diversas revisões de seu traçado, em 2010 o número de municípios incluídos contava 1 348. O POLÍGONO DAS SECAS M ar io Y os hi da /A rq ui vo d a ed it or a Cangaceiros como Lampião desafiaram o poder das autoridades brasileiras, impuseram suas próprias leis e mantiveram centenas de pessoas sob seu comando. Estudar o Brasil significa, antes de tudo, compreender sua diversidade. Por isso, nesta unidade não podemos deixar de fazer referên- cia à cultura que expressa as diferenças sociais e as várias formas de conflito presentes em nossa sociedade. M ap s W or ld Com base em Ministério da Integração Nacional. Relatório final: grupo de trabalho interministerial para redelimitação do semiárido nordestino e do polígono das secas. Brasília. Janeiro de 2005. 11 Lampião com sua mulher, Maria Bonita, e cachorros. Nesta foto de 1936, tirada pelo fotógrafo Benjamin Abrahão, que acompanhou o bando, o cangaceiro aparece segurando um Noite Ilustrada, M ar io Y os hi da /A rq ui vo d a ed it or a 1 2 3 4 5 6 7 8 C A P ÍTU LO LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS Cactos xiquexiques em Poço Redondo (SE), 2007. Os xiquexiques e os mandacarus (outra planta nativa do sertão) servem de alimento para seres humanos e animais. O xiquexique é uma planta rica em pro- teínas, sais minerais, carboidratos e fibra. Deve-se a essa planta a sobrevivência de muitos rebanhos nordestinos durante as secas. R ub en s C ha ve s/ P ul sa r Im ag en s significando que uma décima parte do território brasileiro é coberto pelas caatingas. Ao norte, elas chegam até a faixa praiana e, a oeste e ao sul, entram em contato com a região dos campos cer- rados, características das nossas regiões centrais. BERNARDES, Nilo. As caatingas. Revista Estudos Avançados. São Paulo: IEA/USP, maio/ago. 1999. n. 36. p. 69. O geógrafo ainda esclarece que: As caatingas aparecem nas áreas onde os totais anuais de chuva, em termos normais, já estão abaixo de 1 000 mm. […] De início se dizia que a caatinga – a mata (caa) clara (tinga), na língua indígena – era uma floresta espinhenta. Nos ma- nuais de língua inglesa ela ainda é frequentemente assim referida (scrub-forest). Mas nem sempre os seus diversos tipos lembram realmente o porte de uma floresta e nem sempre eles são, na verdade, caracteristicamente espinhentos. Em algumas áreas, com efeito, a predominância das árvores lhe dá um porte que a caracteriza como caatinga arbó- rea. Mas em muitos outros lugares somente ocorre a caatinga arbustiva, ora mais alta, ora mais baixa. BERNARDES, op. cit., p. 71. Nesse contexto se destacam as cactáceas, que se adaptaram à falta de chuvas: os mandacarus, os xiquexiques e as coroas-de-frade, entre outras plantas. A caatinga é uma vegetação de folhas caducas que se renovam todos os anos. Por isso, nos períodos de seca, os arbustos tornam-se galhos secos e as árvores ficam desfolhadas. Há também as regiões úmidas do sertão, cha- madas pela população local de brejos. Localizam- -se em formações geográficas específicas, como serras, encostas e vales úmidos. Esses seriam os casos de Garanhuns, em Pernambuco, e Ribeira do Pombal, na Bahia. Segundo o geógrafo Aziz Ab’Sáber, tais regiões são essenciais para a eco- nomia regional: Os brejos são fundamentais para a produção de alimentos no domínio dos sertões, como mostra qualquer apanhado sobre a origem dos produtos comercializados nas feiras locais ou nos agres- tes. De certa forma, o vigor e o sucesso das feiras nordestinas são o próprio termômetro da produtividade dessas áreas, cujos solos de mata deram origem à formação dos primeiros celeiros fornecedores de alimentos baratos e de uso tradi- cional no amplo espaço sertanejo. O transporte a baixo custo, feito no lombo de jegues, aliado à bai- xa expectativa de lucro dos camponeses brejeiros, garantiu a comercialização com níveis toleráveis de preços para as populações. A carne verde de ga- do ou de animais de pequeno porte é quase sempre proveniente de todos os sertões, mas o restante do necessário à alimentação do povo sertanejo provém dos pequenos espaços, muito férteis, dos brejos que pontilham os sertões. Dali saem a mandioca e a farinha, o feijão, uma parte do café, um sem-número de frutas, além da rapadura e da aguardente, subprodutos de pequenas plantações de cana-de-açúcar. AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos: uma geogra- fia humana sofrida. Revista Estudos Avançados, São Paulo: IEA/USP, maio/ago. 1999. n. 36. p. 20. Em 2008, mais de 20 milhões de pessoas viviam no sertão e agreste nordestinos, sendo Caruaru (PE), Mossoró (RN), Feira de Santana (BA) e Campina Grande (PB) algumas cidades que são capitais regionais e centros de comércio. Ainda é preciso considerar que quase toda a extensão do sertão seco nordestino se situa nas chamadas depressões interplanálticas. Conforme o geó- grafo Jurandyr Ross: A depressão sertaneja e do São Francisco compre- ende uma extensa área rebaixada e predominante- mente aplanada, constituindo superfície de erosão que secciona uma grande diversidade de litologias e arranjos estruturais. Esta superfície apresenta inúmeros trechos com ocorrência de relevos resi- duais constituindo inselbergs […] ROSS, Jurandyr Sanches. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1996. p. 63. Esses inselbergs podem ser considerados ele- vações residuais de relevos mais antigos. 12 significando que uma décima parte do território brasileiro é cobertopelas caatingas. Ao norte, elas chegam até a faixa praiana e, a oeste e ao sul, entram em contato com a região dos campos cer- rados, características das nossas regiões centrais. BERNARDES, Nilo. As caatingas. Revista Estudos Avançados. São Paulo: IEA/USP, maio/ago. 1999. n. 36. p. 69. O geógrafo ainda esclarece que: As caatingas aparecem nas áreas onde os totais anuais de chuva, em termos normais, já estão abaixo de 1 000 mm. […] De início se dizia que a caatinga – a mata (caa) clara (tinga) clara (tinga) clara ( ), na língua indígena – era uma floresta espinhenta. Nos ma- nuais de língua inglesa ela ainda é frequentemente assim referida (scrub-forest). Mas nem sempre os seus diversos tipos lembram realmente o porte de uma floresta e nem sempre eles são, na verdade, caracteristicamente espinhentos. Em algumas áreas, com efeito, a predominância das árvores lhe dá um porte que a caracteriza como caatinga arbó- rea. Mas em muitos outros lugares somente ocorre a caatinga arbustiva, ora mais alta, ora mais baixa. BERNARDES, op. cit., p. 71. madas pela população local de -se em formações geográficas específicas, como serras, encostas e vales úmidos. Esses seriam os casos de Garanhuns, em Pernambuco, e Ribeira do Pombal, na Bahia. Segundo o geógrafo Aziz Ab’Sáber, tais regiões são essenciais para a eco- nomia regional: O B R A SI L D O S ER TÃ O LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS G Inselberg em Itaberaba (BA). Inselberg foi o nome dado em 1900 pelo geólogo alemão Bonhardt e quer dizer “montanha isolada”, “monte ilha” ou “morro testemunho”. Essas rochas costumam abrigar plantas de lento crescimento e longa vida, com baixa substituição de espécies. Fa bi o C ol om bi ni Há também as regiões agrestes, faixas de tran- sição entre a zona da mata e o sertão seco. Nos agrestes chove mais do que no sertão e há zonas de pecuária intercaladas com zonas de agricultura. Trata-se da região mais povoada do interior nor- destino. No período de grandes chuvas, ocorrem enchentes em algumas áreas onde os rios são mais rasos. As águas muitas vezes extravasam e correm pelos vales, atingindo moradias e plantações. A população nordestina mais duramente atin- gida pelas secas é aquela desprovida de terras. A falta de continuidade na produção rural gera grandes contingentes de desempregados que se transformam em retirantes – população que deixa seu local de origem para procurar meios de sobrevi- vência em outra parte. Nesse sentido, afirma mais uma vez Aziz Ab’Sáber: Alta fertilidade humana, forte seleção biológica e ausência de oportunidades de emprego para os sem-terra teriam que ocasionar o apelo à migra- ção, numa desesperada luta pela sobrevivência. Assim, a grande região seca brasileira passou a ter o papel histórico de fornecer mão de obra barata para quase todas as outras regiões detentoras de algum potencial de emprego. Nordestinos de to- dos os recantos mobilizaram-se nas mais variadas direções, seguindo a vaga de cada época. Para a Amazônia, nos fins do século passado e inícios do atual. Para São Paulo, desde a década de 1930. Para Brasília nos anos [19]60. Para o norte do Paraná e São Paulo por todo o tempo, sobretu- do depois da construção da estrada Rio-Bahia. Finalmente, para o norte de Goiás, às margens da Belém-Brasília, a Transamazônica e, para o sul do Pará, nos anos [19]70. AB’SÁBER, op. cit., p. 26-7. Essa caracterização do sertão seco nordesti- no não significa que não há solução para que as famílias possam viver com dignidade e sem sofri- mento na região. As soluções existem e depen- dem, certamente, da ação estatal nos diferentes níveis. Contudo é preciso criar políticas sérias que não alimentem o que ficou conhecido como a indústria da seca, ou seja, a transferência de volumosos recursos para empreendimentos que jamais resolveram os problemas do sertanejo, mas, ao contrário, enriqueceram ainda mais certos empreendedores. Para algumas pessoas, acabar com a seca seria acabar com verbas e auxílios governamentais direcionados à região. Manter a seca, para essas pessoas, é uma forma de se apropriar de recursos sem investir naqueles que realmente necessitam. É preciso controlar tam- bém os desmandos coronelistas, que influenciam o poder público e exploram os habitantes locais, além de se aproveitar de toda sorte de situações para benefício próprio. 13 foi o nome dado em 1900 pelo geólogo alemão Bonhardt e quer dizer “montanha isolada”, “monte ilha” ou “morro testemunho”. Essas rochas costumam abrigar plantas de lento crescimento e longa vida, com baixa substituição de espécies. Fa bi o C ol om bi ni 1 2 3 4 5 6 7 8 C A P ÍTU LO LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS O sertão – da Colônia à República O processo inicial de colonização das terras que hoje são o Brasil ocorreu pelo litoral. Nessa região, desenvolveram-se as primeiras atividades econô- micas. Nos mapas ao lado, observamos que, até o século XVII, as áreas de povoamento se situavam mais próximas ao litoral, sendo o interior pouco explorado e habitado. Mesmo assim, ainda no século XVI começaram as primeiras incursões pelo interior com a finalidade de obter indígenas para serem escravizados. Além disso, iniciou-se também a busca de riquezas, como os metais preciosos tão abundantes na América espanhola e ainda desconhecidos no Brasil. O sertão a que nos referimos aqui não inclui apenas o Nordeste das secas, mas também o inte- rior de várias regiões. O antropólogo Darcy Ribeiro classificou essa região como o Brasil Sertanejo, o qual delimitou, ao afirmar: Para além da faixa nordestina das terras frescas e férteis do massapé, com rica cobertura florestal, onde se implantaram os engenhos de açúcar, des- dobram-se as terras de uma outra área ecológica. Começam pela orla descontínua ainda úmida do agreste e prosseguem com as enormes extensões semiáridas das caatingas. Mais além, penetrando já o Brasil Central, se elevam em planalto como campos cerrados que se estendem por milhares de léguas quadradas. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 339. No caso nordestino, ainda no século XVI, expli- ca-nos mais uma vez Darcy Ribeiro: O gado trazido pelos portugueses das Ilhas de Cabo Verde vinha já, provavelmente, aclimatado para a criação extensiva, sem estabulação, em que os próprios animais procuram suas aguadas e seu ali- mento. Os primeiros lotes instalaram-se no agreste pernambucano e na orla do recôncavo baiano, suficientemente distanciados dos engenhos para não estragar os canaviais. Daí se multiplicaram e dispersaram em currais, ao longo dos rios perma- nentes, formando as ribeiras pastoris. Ao fim do sé- culo XVI, os criadores baianos e pernambucanos se encontravam já nos sertões do Rio São Francisco, prosseguindo ao longo dele, rumo ao sul e para além, rumo às terras do Piauí e do Maranhão. Seus rebanhos somariam então cerca de 700 mil cabe- ças, que dobrariam no século seguinte. RIBEIRO, op. cit., p. 341. Assim, a região do sertão nordestino trans- formou-se em uma produtora de couros e carnes que alimentariam a população que vivia na zona POVOAMENTO E URBANIZAÇÃO Com base em SOUZA, Laura de Mello e. História da vida privada no Brasil; AZEVEDO, Aroldo de. A marcha do povoamento (séculos XVI e XVIII). In: AZEVEDO, Aroldo de. Vilas e cidades do Brasil colonial. Ensaio de geografia urbana retrospectiva. Boletim n 208, Geografia 11. São Paulo: FFLCH-USP, 1956. M ap s W or ld 14 O sertão – da Colônia à República O processo inicial de colonização das terras que hoje são o Brasil ocorreu pelo litoral. Nessa região, desenvolveram-seas primeiras atividades econô- micas. Nos mapas ao lado, observamos que, até o século XVII, as áreas de povoamento se situavam mais próximas ao litoral, sendo o interior pouco explorado e habitado. Mesmo assim, ainda no século XVI começaram as primeiras incursões pelo interior com a finalidade de obter indígenas para serem escravizados. Além disso, iniciou-se também a busca de riquezas, como os metais preciosos tão abundantes na América espanhola e ainda desconhecidos no Brasil. O sertão a que nos referimos aqui não inclui apenas o Nordeste das secas, mas também o inte- rior de várias regiões. O antropólogo Darcy Ribeiro classificou essa região como o Brasil Sertanejo, o qual delimitou, ao afirmar: Para além da faixa nordestina das terras frescas e férteis do massapé, com rica cobertura florestal, onde se implantaram os engenhos de açúcar, des- O B R A SI L D O S ER TÃ O LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS açucareira. Até os dias atuais, as carnes salgadas, como a carne de sol, são uma tradição presente em cidades do sertão. Essa criação extensiva de gado originou tam- bém os primeiros latifúndios do sertão. Colonos recebiam da Coroa grandes quantidades de terras na forma de sesmaria. Por intermédio de carta régia expedida pelo rei, os colonos tomavam posse de terras desocupadas. Nessa atividade, o trabalho escravo não predominou, sendo comum o paga- mento de vaqueiros que recebiam mantimentos e gado em troca de seu trabalho. Desde o início, os conflitos dos europeus e seus descendentes com os povos indígenas tornaram-se inevitáveis na exploração do território com a finali- dade de constituir pastos para o gado. Mais do que a catequese dos jesuítas ou as alianças interessei- ras, nessa região as lutas armadas com os indíge- nas foram mais comuns, podendo também estar aí uma das origens do cangaço, como veremos mais adiante. O povo Tabajara, por exemplo, que vivia no Nordeste, resistiu ferozmente aos colonizadores. Chegou mesmo a ocorrer a Guerra dos Bárbaros, quando indígenas do Rio Grande do Norte e do Ceará se uniram aos de outras capitanias para lutar contra o conquistador, entre o final do século XVII e o início do século XVIII. O historiador Frederico Pernambucano de Mello nos adianta: Nos primórdios da vida social sertaneja, ao longo dos séculos XVII e XVIII, de forma generalizada, e mesmo de boa parte do XIX, em bolsões remotos, a vida da espingarda não se constituía apenas em procedimento legítimo à luz das circunstân- cias, mas em ocupação francamente preferencial. O homem violento, afeito ao sangue pelo traque- jo das tarefas pecuárias e adestrado no uso das armas branca e de fogo, mostrava-se vital num meio em que se impunha dobrar as resistências do índio e do animal bravio como condição para o assentamento das fazendas de criar. Naquele mundo primitivo, o heroísmo social se forjava pela valentia revelada no trato com o semelhante e pelo talento na condução cotidiana do empreendi- mento pecuário. Nas festas de apartação em que se engalanavam [embelezavam] as fazendas no meado do ano, um e outro de tais valores – é dizer, valentia e talento – precisavam somar-se para a produção ou confirmação de heróis pelas vias da vaquejada bruta, corrida com o homem nos couros e por dentro dos paus da caatinga mais cerrada, ou da corrida de mourão, expressão moderna em que se resume toda a lúdica sertaneja da derrubada do boi. Nesse sentido, há versos de gesta que valem por um retrato sociológico, como o de Francisco das Chagas Batista: “Ali se aprecia muito Um cantador, um vaqueiro Um amansador de poldro Que seja bom catingueiro Um homem que mata onça Ou então um cangaceiro”. MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi Lampião. Recife/Zurique: Stahli, 1993. p. 25-6. No século XVIII, pode-se afirmar que já existia um núcleo significativo de povoamento no sertão, como mostra o mapa da página anterior, com predomínio da atividade pecuária. Além disso, as secas já causavam muitos problemas para a população local. Só nesse século foram registrados sete períodos de seca. O historiador Marco Antonio Villa menciona: A seca de 1723-1727, que atingiu todo o Nordeste, promoveu, além de desastrosos efeitos econô- micos, o deslocamento das populações para as áreas menos afetadas pelo flagelo e o surgimento de pequenos grupos de bandoleiros, que acaba- ram marcando durante mais de dois séculos a história da região. […] Em 1777, depois de outras duas grandes secas, novamente o flagelo atingiu a região. A pecuária foi severamente atingida. Segundo Thomaz Pompeu, no Ceará, o gado “ficou reduzido a menos de um oitavo e fazendei- ros que recolhiam mil bezerros não ficaram com 20 nos anos seguintes”. O mesmo quadro de des- truição atingiu o sertão das outras capitanias, que acabaram perdendo o mercado consumidor das Minas Gerais. […] Nos anos 1791-1793 ocorreu aquela que provavelmente foi a maior seca do sé- culo XVIII, atingindo Ceará, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e até o Piauí. No Ceará, segundo Joaquim Catunda, “no ano de 1792 as águas desapareceram comple- tamente em grande parte da capitania. Morreram os gados, os vaqueiros, muitos fazendeiros e os animais domésticos e bravios. As estradas jun- cadas de cadáveres, famílias inteiras mortas de fome e sede, e envolvidas no pó dos campos; o in- terior deserto; a população esfaimada e dizimada pela peste nos povoados do litoral; atulhadas de retirantes as capitanias vizinhas, esmolando uns, furtando outros, trabalhando poucos. VILLA, Marco Antonio. Vida e morte no sertão. São Paulo: Ática, 2001. p. 19-20. A população estava sempre despreparada para os momentos de seca, por isso seus efeitos eram catastróficos. Surgiam epidemias, como a da varíola, em época de fome, e a vida econômica oscilava entre altos e baixos, conforme a extensão das secas. No século XIX, após a Independência do Brasil, o banditismo começou a se espalhar pelo 15 açucareira. Até os dias atuais, as carnes salgadas, como a carne de sol, são uma tradição presente em Essa criação extensiva de gado originou tam- bém os primeiros latifúndios do sertão. Colonos recebiam da Coroa grandes quantidades de terras na forma de sesmaria. Por intermédio de carta régia expedida pelo rei, os colonos tomavam posse de terras desocupadas. Nessa atividade, o trabalho escravo não predominou, sendo comum o paga- mento de vaqueiros que recebiam mantimentos e Desde o início, os conflitos dos europeus e seus descendentes com os povos indígenas tornaram-se inevitáveis na exploração do território com a finali- dade de constituir pastos para o gado. Mais do que a catequese dos jesuítas ou as alianças interessei- ras, nessa região as lutas armadas com os indíge- nas foram mais comuns, podendo também estar aí uma das origens do cangaço, como veremos mais adiante. O povo Tabajara, por exemplo, que vivia no Nordeste, resistiu ferozmente aos colonizadores. Chegou mesmo a ocorrer a Guerra dos Bárbaros, “Ali se aprecia muito Um cantador, um vaqueiro Um amansador de poldro Que seja bom catingueiro Um homem que mata onça Ou então um cangaceiro”. MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi Lampião. Recife/Zurique: Stahli, 1993. p. 25-6. No século XVIII, pode-se afirmar que já existia um núcleo significativo de povoamento no sertão, como mostra o mapa da página anterior, com predomínio da atividade pecuária. Além disso, as secas já causavam muitos problemas para a população local. Só nesse século foram registrados sete períodos de seca. O historiador Marco Antonio Villa menciona: A seca de 1723-1727, que atingiu todo o Nordeste, promoveu, além de desastrosos efeitos econô- micos, o deslocamento das populações paraas áreas menos afetadas pelo flagelo e o surgimento de pequenos grupos de bandoleiros, que acaba- ram marcando durante mais de dois séculos a história da região. […] Em 1777, depois de outras duas grandes secas, novamente o flagelo atingiu 1 2 3 4 5 6 7 8 C A P ÍTU LO LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS sertão nordestino nesses períodos de penúria. O governo imperial pouco investiu na região, embo- ra tenham surgido os primeiros projetos de cons- trução de açudes e se tenham introduzido camelos e dromedários como meio de transporte nesses locais de seca. Essa última iniciativa, entretanto, não obteve nenhum sucesso. As secas continuaram no século XIX, e, nos períodos em que elas se estenderam, as cidades do sertão ficaram “inchadas” de retirantes à pro- cura de comida e trabalho. Na seca de 1877, mais de 50 mil retirantes foram para Fortaleza em pou- cas semanas. No mesmo ano, o jornal paraibano A Opinião noticiou, em 11 de novembro, que: […] os sertões estão ficando desertos pela emigra- ção […]; e nos brejos surge a miséria pela supera- bundância de emigrantes que de tudo precisam, e nada conduzem. Apud VILLA, Marco Antonio. Vida e morte no sertão. São Paulo: Ática, 2001. p. 52. Parte dessa população ia para o litoral e aca- bava sendo explorada pelos produtores de açúcar, que pagavam ínfimos salários aos trabalhadores famintos. Outros retirantes iam para a Amazônia tentar a sorte na economia da borracha em ascen- são. No entanto, chegavam à região endividados com o transporte e trabalhavam para pagar dívi- das em regime que se aproximava da escravidão. Também doenças como a cólera, o tifo e a varíola mataram milhares de emigrantes. Em cidades como Fortaleza, meninas, filhas de retirantes, ainda muito jovens, já se entregavam à prostitui- ção como forma de ganhar algum dinheiro na luta contra a fome. Mesmo com as tragédias ocorridas durante a seca de 1877-1879, não houve mobilização gover- namental suficiente para mudar a situação com relação à seca. O imperador Dom Pedro II não se manifestou quanto ao problema. As autoridades locais pareciam mais preocupadas com a lavou- ra açucareira, não concentrando esforços no Nordeste das secas. Ao longo do século XIX, o sul brasileiro acabou por se tornar um polo pecuário, tornando ainda mais difícil a situação da economia do sertão, que não era mais o único setor produtor de carnes e couros para as regiões litorâneas. Com a procla- mação da República, evidentemente, os interesses dos cafeicultores do Sudeste brasileiro prevale- ceram. O federalismo implementado tinha como principal objetivo permitir que os ricos governos do Sudeste pudessem fazer investimentos, sem ter de prestar contas ao governo federal e sem ter de destinar recursos aos estados de outras regiões do país. No Nordeste, as famílias tradicionais oligárqui- cas trataram de fazer funcionar a seu favor a nova ordem política. Os governos estaduais, regidos por constituições locais, passaram a servir dire- tamente aos seus interesses. No caso do Ceará, a família Accioly, liderada inicialmente por Nogueira Accioly, teve o domínio político do estado entre 1896 e 1912. Para se manter no poder, não só se submetia às ordens do governo federal, como contava com o auxílio de coronéis que garantiam os resultados eleitorais nas localidades. Aos seus opositores cabia a perseguição e a repressão. Em Pernambuco dominaram os Rosa e Silva, em Alagoas os Maltas e no Piauí os Pires Ferreira. Quando entre 1898 e 1900 ocorreu uma grande seca, ficou claro que o governo federal não aten- deria à região. O então presidente Campos Sales não destinou recursos suficientes para combater os efeitos dela. Em 1915, uma nova seca atingiu o Nordeste e mais uma vez os retirantes foram para as cidades. A fome e as doenças começaram a fazer muitos mortos. Obedecendo ao jogo oligár- quico, os governadores não enfrentaram o gover- no federal, e os recursos novamente não vieram para combater a seca. Para complicar ainda mais a situação, em 1915 a borracha amazônica já se encontrava em decadência como atividade econô- mica, tornando ainda mais difíceis as migrações. Nesse período, a região Nordeste começou a perder a liderança na produção de ovinos, bovinos e caprinos para o sul do país, pois milhares de animais morreram com a seca. Em 1919, o então presidente Epitácio Pessoa propôs a realização de obras de irrigação no Nordeste, como a construção de açudes e poços. Queria ainda ampliar as estradas para facilitar a circulação de mercadorias na região. No entanto sofreu forte oposição no Congresso, principal- mente da bancada do sudeste e do sul do país. A oposição temia, entre outros motivos, que essas atitudes levassem à desapropriação de terras irrigadas que não fossem cultivadas. Em 1920, quando uma nova seca atingiu o Nordeste, Epitácio Pessoa conseguiu dar andamento a algumas obras. Construiu mais de 200 açudes e perfurou mais de 100 poços, além de reformar estradas e portos. No entanto, nos anos finais da Primeira República, não se repetiram os esforços de Epitácio Pessoa, que deixou o governo com a imagem desgastada. 16 sertão nordestino nesses períodos de penúria. O governo imperial pouco investiu na região, embo- ra tenham surgido os primeiros projetos de cons- trução de açudes e se tenham introduzido camelos e dromedários como meio de transporte nesses locais de seca. Essa última iniciativa, entretanto, não obteve nenhum sucesso. As secas continuaram no século XIX, e, nos períodos em que elas se estenderam, as cidades do sertão ficaram “inchadas” de retirantes à pro- cura de comida e trabalho. Na seca de 1877, mais de 50 mil retirantes foram para Fortaleza em pou- cas semanas. No mesmo ano, o jornal paraibano A Opinião noticiou, em 11 de novembro, que: […] os sertões estão ficando desertos pela emigra- ção […]; e nos brejos surge a miséria pela supera- bundância de emigrantes que de tudo precisam, e nada conduzem. Apud VILLA, Marco Antonio. Vida e morte no sertão. São Paulo: Ática, 2001. p. 52. Parte dessa população ia para o litoral e aca- bava sendo explorada pelos produtores de açúcar, que pagavam ínfimos salários aos trabalhadores ter de destinar recursos aos estados de outras regiões do país. cas trataram de fazer funcionar a seu favor a nova ordem política. Os governos estaduais, regidos por constituições locais, passaram a servir dire- tamente aos seus interesses. No caso do Ceará, a família Accioly, liderada inicialmente por Nogueira Accioly, teve o domínio político do estado entre 1896 e 1912. Para se manter no poder, não só se submetia às ordens do governo federal, como contava com o auxílio de coronéis que garantiam os resultados eleitorais nas localidades. Aos seus opositores cabia a perseguição e a repressão. Em Pernambuco dominaram os Rosa e Silva, em Alagoas os Maltas e no Piauí os Pires Ferreira. seca, ficou claro que o governo federal não aten- deria à região. O então presidente Campos Sales não destinou recursos suficientes para combater os efeitos dela. Em 1915, uma nova seca atingiu o Nordeste e mais uma vez os retirantes foram para as cidades. A fome e as doenças começaram a O B R A SI L D O S ER TÃ O LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS Acima, chegada de retirantes em Fortaleza (CE). Milhares de sertanejos que migraram para lá, na seca de 1915, foram abrigados em locais que ficaram conhecidos como “campos de concentração”, pois as pessoas não podiam sair sem permissão das autorida- des, e as condições de vida e higiene eram as piores possíveis. Abaixo, foto de família em um desses “campos”, em cerca de 1910. Arquivo particular Biblioteca MunicipalMário de Andrade, São Paulo (SP) 17 Acima, chegada de retirantes em Fortaleza (CE). Milhares de sertanejos que migraram para lá, na seca de 1915, foram abrigados em locais que ficaram conhecidos como “campos de concentração”, pois as pessoas não podiam sair sem permissão das autorida- des, e as condições de vida e higiene eram as piores possíveis. Abaixo, foto de família em um desses “campos”, em cerca de 1910. 1 2 3 4 5 6 7 8 C A P ÍTU LO LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS O sertão do cangaço O cangaço refere-se aos grupos de pessoas armadas que, com suas roupas e chapéus de couro, faziam assaltos, matavam opositores, enfim, viviam sob suas próprias regras. Esses homens e mulheres, os cangaceiros, estiveram muito presentes no ser- tão nordestino entre os anos 1910 e 1940. A palavra “cangaço” faz referência a canga, peça de madeira que segura o boi pelo pescoço. É uma alusão à carga que os cangaceiros carregavam no corpo, a qual muitas vezes ultrapassava os vinte quilos. De que maneira o cangaço estabelece rela- ção com a história da pecuária e das secas no Nordeste? Para responder a essa questão é necessário estar atento ao duplo significado que o cangaço pode ter. É possível se reportar aos cangaceiros para fazer referência aos grupos de homens armados que prestavam serviço aos chefes políticos de dada localidade e que eram pagos para cumprir as ordens desses senhores. Esse tipo de grupo arma- do já existia no Brasil há mais tempo, desde pelo menos o século XVIII. A historiadora Maria Isaura Pereira de Queiroz explica: Qualquer dissensão, por pequena que fosse, no in- terior de uma parentela, ou entre duas parentelas, imediatamente dava início a um conflito, que podia desenvolver-se na forma de uma “guerra de famí- lias”, se estendendo por várias gerações. Assim, por exemplo, na luta entre Pereiras e Carvalhos, na zona de Pajeú de Flores, Pernambuco, a cada pequeno Pereira que nascia, aconselhavam seus avós, seus pais, seus padrinhos “que procurasse o seu Carvalho a quem devia liquidar”, o mesmo acontecia entre os Carvalhos e a pendência, ora violenta, ora larvada. […] QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. História do cangaço. São Paulo: Global, 1997. p. 23. Na Primeira República, essas lutas estavam diretamente ligadas à disputa oligárquica pelo domínio político local. Já os grupos de cangacei- ros independentes surgiram mais tarde e lutavam em defesa de seus próprios interesses. Errantes e sem residência fixa, eram fugitivos da polícia e de grupos armados particulares que queriam seu extermínio. O mais famoso desses grupos, como veremos mais adiante, foi o liderado por Lampião entre 1920 e 1930. Esses grupos independentes eram uma resposta à miséria que se instalava no Nordeste principalmente nos períodos de seca. Sobre a origem mais remota do cangaço, como já lembramos, devemos considerar que a própria história da colonização da região envolveu cons- tantes conflitos entre a população indígena e os colonos pela posse da terra destinada à pecuária. Com isso, a utilização de armas e as lutas sangren- tas entre indígenas e colonos eram comuns, assim como as brigas entre famílias. O ser humano do cangaço certamente nasceu dessa fusão cultural entre uma população indígena que resistia ao domínio e um grupo de colonizadores que lutava para conquistar terras a qualquer preço. Os cangaceiros buscavam o enriquecimento pelo roubo, e se vingavam dos inimigos com vio- lência e morte. Procuravam construir alianças que lhes garantissem segurança temporária. Uma das formas de os chefes locais evitarem o confronto com os cangaceiros era estabelecer alianças com o bando, que se transformavam em relações de compadrio. Conforme Maria Isaura P. de Queiroz: Um dos melhores exemplos destas relações de aliança está no pacto implicitamente estabelecido entre Lampião e o poderoso chefe político do muni- cípio de Jeremoabo, ao norte da Bahia, Cel. João Sá. Vangloriava-se João Sá de ser tão temido e respeita- do, que o próprio Lampião, que tanto havia circulado pela região, nunca atacara as “suas” fazendas e a “sua” cidade. Na verdade, vários documentos demonstram que João Sá frequentava os acampa- mentos de Lampião, principalmente o que estabe- lecera no Raso da Catarina, sendo parceiro habitual das rodas de jogo que o chefe de cangaceiros ali organizava frequentemente. Este relacionamento se estreitara ainda mais porque João Sá aceitara ser padrinho de filhos de Lampião com Maria Bonita. QUEIROZ, op. cit., p. 33. Os bandoleiros também comprometiam comu- nidades inteiras ao propagar o medo. Ameaçavam aqueles que se voltavam contra eles e premiavam com dinheiro e proteção os que estivessem do seu lado. Uma das atividades que exerciam era exata- mente a venda de proteção a fazendeiros, com a qual o bando de Lampião ganhou muito dinheiro. Economicamente, aderir ao cangaço poderia ser uma forma de alcançar rendimento, coisa que o trabalho na terra ou outras atividades jamais pro- porcionariam a um cidadão pobre. Os cangaceiros contavam com uma rede de colaboradores e pro- tetores, os coiteiros, que informavam quando a polícia ou outro inimigo se aproximava. Os inimigos do cangaço poderiam se alistar na polí- cia ou aderir às volantes, grupo de soldados liderados por um tenente ou um sargento que perseguia os cangaceiros sem pertencer a um quartel fixo. Assim, o conflito ganhava dupla dimensão: de um lado, o grupo de cangaceiros assaltava, matava e ameaçava comunidades; de outro, as volantes e as polícias locais 18 O sertão do cangaço O cangaço refere-se aos grupos de pessoas armadas que, com suas roupas e chapéus de couro, faziam assaltos, matavam opositores, enfim, viviam sob suas próprias regras. Esses homens e mulheres, os cangaceiros, estiveram muito presentes no ser- tão nordestino entre os anos 1910 e 1940. A palavra “cangaço” faz referência a canga, peça de madeira que segura o boi pelo pescoço. É uma alusão à carga que os cangaceiros carregavam no corpo, a qual muitas vezes ultrapassava os vinte quilos. De que maneira o cangaço estabelece rela- ção com a história da pecuária e das secas no Nordeste? Para responder a essa questão é necessário estar atento ao duplo significado que o cangaço pode ter. É possível se reportar aos cangaceiros para fazer referência aos grupos de homens armados que prestavam serviço aos chefes políticos de dada localidade e que eram pagos para cumprir as ordens desses senhores. Esse tipo de grupo arma- do já existia no Brasil há mais tempo, desde pelo menos o século XVIII. A historiadora Maria Isaura tantes conflitos entre a população indígena e os colonos pela posse da terra destinada à pecuária. Com isso, a utilização de armas e as lutas sangren- tas entre indígenas e colonos eram comuns, assim como as brigas entre famílias. O ser humano do cangaço certamente nasceu dessa fusão cultural entre uma população indígena que resistia ao domínio e um grupo de colonizadores que lutava para conquistar terras a qualquer preço. pelo roubo, e se vingavam dos inimigos com vio- lência e morte. Procuravam construir alianças que lhes garantissem segurança temporária. Uma das formas de os chefes locais evitarem o confronto com os cangaceiros era estabelecer alianças com o bando, que se transformavam em relações de compadrio O B R A SI L D O S ER TÃ O LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS Lampião (à esquerda), em 1922, quando iniciou como chefe do cangaço. Na foto, tirada na Fazenda da Pedra, município de Princesa (PB), aparecem também Livino, Antônio Rosa e Antônio Ferreira, seus companheiros. C ol eç ão p ar ti cu la r cometiam todotipo de violência em busca dos bandi- dos e também para manter o domínio local. Antônio Silvino foi um dos primeiros que formaram um desses grupos de cangaceiros inde- pendentes. Nascido em 1875, em Pernambuco, era descendente de uma família tradicional da região. Em 1896, decidido a vingar a morte do pai, juntou-se a um bando já formado, do qual depois se tornou líder. Após liquidarem vários de seus inimigos, os bandoleiros prosseguiram lutando contra a polícia, promovendo assaltos e armando tocaias para autoridades e instituições governamentais. Silvino considerava as autoridades do governo, em todos os níveis, seu maior inimigo. Andava pelo sertão com um grupo pequeno, quase nunca superior a seis homens, fortemente armado. Em 1912, tentou abandonar a vida de cangaceiro e pediu ao governo do Estado que perdoasse seus crimes. Como a resposta foi negativa, voltou a atuar como bandido. Cobrava impostos de comerciantes e negociantes, assaltava trens e não reconhecia nenhum tipo de autoridade legal. Em 1914, acabou sendo capturado no município de Taquaretinga (PE) pelas forças policiais lideradas por José Alvino, ex- -comerciante que entrara para a polícia depois de ter sido assaltado por Antônio Silvino e que havia prometido capturar o cangaceiro. Silvino ficou preso por mais de vinte anos; libertado, foi morar com a esposa no Rio de Janeiro. Uma vez lá, solicitou emprego ao presidente Getúlio Vargas. Chegou mesmo a ser recebido pelo presidente, que lhe concedeu o emprego. Morreu em 1944. Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, nasceu na fazenda de seus pais, no Vale do Pajeú, Pernambuco, em 1897. Era filho de um modesto fazendeiro que foi morar no estado per- nambucano após matar inimigos no Ceará, sua terra natal. Depois de novos conflitos entre famílias, foi viver em Alagoas. Na cidade de Água Branca, seus filhos, incluindo Virgulino, começaram a participar de um grupo de cangaceiros. A polícia alagoana passou a perseguir os Ferreira da Silva após um ataque a uma vila. O pai de Lampião acabou sendo assassinado pela polícia. Em seguida morreu a mãe, e os irmãos regressaram para Pernambuco. Em 1918, Lampião ingressou no bando formado por Sinhô Pereira, descendente de família rica e influente de Pernambuco. Ganhou então o apelido por ser muito rápido no gatilho e porque de sua arma saía um constante clarão dos disparos, como um lampião. Em 1922, Sinhô Pereira abandonou a região e Lampião se tornou o chefe do bando. A partir daí, o bando de Lampião começou a sobreviver de assaltos e das ameaças que fazia a fazendeiros e chefes locais. Temidos, os canga- ceiros conseguiram estabelecer várias alianças, recebendo proteção de autoridades e fazendei- ros. Quando se sentiam ameaçados, atacavam o inimigo e as pessoas que lhe eram próximas. Frequentemente Lampião enviava carta de cobran- ça ou advertência a possíveis aliados ou inimigos. Em 1927, enviou uma carta de cobrança para o pre- feito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, na qual dizia: Estando Eu ate aqui pretendo é dr [dinheiro]. Ja foi um a viso, ahi pa oSinhoris, si por acauso rezolver mi a mandar-me a importança qui aqui nos pedi, Eu envito di Entrada ahi porem não vindo esta Emportança eu entrarei ate ahi, penço qui adeus querer, eu entro, i vai aver muito estrago, por isto si viro dr eu não entro ahi mas nos resposte logo. Apud MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi Lampião. Recife/Zurique: Stahli, 1993. p. 142. 19 C ol eç ão p ar ti cu la r cometiam todo tipo de violência em busca dos bandi- foi um dos primeiros que formaram um desses grupos de cangaceiros inde- pendentes. Nascido em 1875, em Pernambuco, era descendente de uma família tradicional da região. Em 1896, decidido a vingar a morte do pai, juntou-se a um bando já formado, do qual depois se tornou líder. Após liquidarem vários de seus inimigos, os bandoleiros prosseguiram lutando contra a polícia, promovendo assaltos e armando tocaias para autoridades e instituições governamentais. Silvino considerava as autoridades do governo, em todos os níveis, seu maior inimigo. Andava pelo sertão com um grupo pequeno, quase nunca superior a seis homens, fortemente armado. Em 1912, tentou abandonar a vida de cangaceiro e pediu ao governo do Estado que perdoasse seus crimes. Como a resposta foi negativa, voltou a atuar como bandido. Cobrava impostos de comerciantes e negociantes, assaltava trens e não reconhecia nenhum tipo de autoridade legal. Em 1914, acabou sendo capturado no município de Taquaretinga (PE) pelas forças policiais lideradas por José Alvino, ex- a fazendeiros e chefes locais. Temidos, os canga- ceiros conseguiram estabelecer várias alianças, recebendo proteção de autoridades e fazendei- ros. Quando se sentiam ameaçados, atacavam o inimigo e as pessoas que lhe eram próximas. Frequentemente Lampião enviava carta de cobran- ça ou advertência a possíveis aliados ou inimigos. Em 1927, enviou uma carta de cobrança para o pre- feito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, na qual dizia: Estando Eu ate aqui pretendo é dr [dinheiro]. Ja foi um a viso, ahi pa oSinhoris, si por acauso rezolver mi a mandar-me a importança qui aqui nos pedi, Eu envito di Entrada ahi porem não vindo esta Emportança eu entrarei ate ahi, penço qui adeus querer, eu entro, i vai aver muito estrago, por isto si viro dr eu não entro ahi mas nos resposte logo. Apud MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi Lampião. Recife/Zurique: Stahli, 1993. p. 142. 1 2 3 4 5 6 7 8 C A P ÍTU LO LINHA DO TEMPOÍNDICEÍNDICEÍNDICE OD THESAURUSTHESAURUSTHESAURUS Em outra carta, de 1926, Lampião faz uma adver- tência ao sargento José Antônio do Nascimento, delegado de Juazeiro do Norte (CE): Eu lhi faço este, até não devia mi sujeitar a ti escrever porem sempre mando ti avizar pois eu soube qui no dia qui cheguei ahi na fazenda este- ve prompto para vir mi voltar porem, Eu sempre lhi digo qui Voce crie juizo, e deixi de violencias, pois Eu venho chamado é por home, mesmo asim, com zuada não mi faz medo. Eu tenho visto é cousa forte, e não me asombra, portanto deve e tratar de fazer amigos não para fazer como diz voce. Sempre lhi avizo, qui E para depois não se- arrepender e nada mais: não se zangue, isto E um conselho que lhi dou. Apud MELLO, op. cit., p. 141. O bando de Lampião era composto de um gran- de número de homens e também mulheres – chegou a ter mais de 120 bandidos sob seu comando direto e mais de 300 divididos em outros grupos –, que se espalhavam por vários estados do Nordeste realizando diferentes ações. Quando necessário, dispersavam-se para escapar de uma luta que não podiam ganhar. Andavam à noite pelas matas para evitar serem vistos e apareciam sempre de surpresa. Maria Isaura Pereira de Queiroz conta: Surgia inesperadamente nos povoados – como aconteceu em Souza, na Paraíba, em 1924. O ban- do cortara previamente os fios do telégrafo, im- possibilitando assim qualquer pedido de socorro para o exterior. Penetrando na vila, os cangaceiros pilharam as casas comerciais. Abasteceram-se em gêneros; envergaram roupas novas; organi- zaram um baile; gozaram os favores de algumas mulheres que não lhes resistiram. Em seguida partiram, levando com eles um menino para car- regar cobertores e bagagens – menino que mais tarde se tornou o cangaceiro Lua Branca. QUEIROZ, op. cit., p. 49. O historiador Frederico Pernambucano de Mello chama a atenção para a ostentação promo- vida por Lampião. Com as cobranças e os saques realizados, ele conseguia sustentar o luxo. Explica o historiador: Se a vestimenta dos bandoleiros do Nordeste sempre se mostrou imponente, a ponto de muitos jovens cederem à tentação de se ligar aos grupos por conta do fascínio que