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Produção de etanol de 1ª geração Introdução Contexto no Brasil: - açúcar e álcool intimamente ligadas, desde a colonização (capitanias) - por séculos, as bebidas destiladas foram o único álcool produzido - no final do século 19, iniciou-se a produção de etanol no Brasil, com as sobras de melaço da indústria de açúcar - crise internacional do petróleo, 1974: alternativa para combustível líquido. Dos 700 milhões L/ano, passou a produzir 15 bilhões de L Há 3 vias de obtenção: por via destilatória, por via sintética e por via fermentativa. 1) Matérias-primas e produtos de interesse; De maneira mais ampla, qualquer produto que contenha açúcar e carboidrato em sua composição são candidatos para a produção de etanol. Entretanto, o que determina sua aplicação de fato é seu volume de produção, rendimento industrial e custo de fabricação. Dentre as diversas classificações de matérias primas para a produção de etanol, temos: ● Matérias açucaradas: obtidas de cana-de-açúcar, beterraba, sorgo, milho e frutas e podem ser diretamente fermentescíveis ou não diretamente fermentescíveis. As primeiras contém monossacarídeos que são diretamente convertidos pela fermentação e são provenientes de sucos de frutas. As não diretamente fermentescíveis são constituídas por dissacarídeos que precisam passar por uma hidrólise para fermentarem. ● Matérias amiláceas: provenientes de grãos amiláceos e precisam passar por um processo de sacarificação, onde o amido é convertido em açúcar para ser fermentado. ● Matérias feculentas: encontradas em raízes e tubérculos que também são constituídos por amido, precisando também passar por sacarificação antes da fermentação. ● Matérias celulósicas: provenientes de palhas, madeiras e resíduos agrícolas e sulfíticos de fábricas de papel, nessas matérias a conversão de celulose em açúcar é mais complexa e em geral pouco interessante industrialmente. No Brasil a principal matéria-prima é a cana-de-açúcar tendo uma produção anual e sua composição é dividida em: 74,5% água, 14% açúcares, 10% fibras e 1,5% dividido entre minerais, compostos nitrogenados, pectinas, ceras e ácidos. A composição de qualquer produto vegetal varia com grande número de fatores, uns controláveis pelo homem, outros não: a variedade, a idade, o local, as condições climáticas, de maturação, de sanidade, de colheita, de transporte, de armazenamento e de industrialização. Conservação Deve-se colher e moer a cana-de-açúcar o mais rápido possível. Quanto mais dilatado for o tempo entre corte e moagem, maiores são os riscos de deterioração física, química, enzimática ou microbiana, que prejudicam a fermentação futura do caldo, rendimento e qualidade do produto. Produto (etanol): O etanol ou o álcool etílico é o produto associado ao metabolismo energético da leveduras na fermentação alcoólica do mosto, seu emprego se dá majoritariamente como biocombustível, mas quando proveniente de processos não sintéticos é utilizado para fins alimentícios (produção de aguardente). Simultaneamente, ocorre o crescimento das leveduras e a excreção de glicerol, ácidos orgânicos (succínico, acético, pirúvico e outros), álcoois superiores, acetaldeído, butilenoglicol, além de outros em quantidades insignificantes. Estima-se que 5% do açúcar metabolizado seja desviado para gerar tais produtos secundários, resultando num rendimento de 95% em etanol, conforme já observado por Pasteur. Sendo a finalidade da indústria a produção de etanol, o álcool é o principal produto, cuja eficiência de produção é comprometida pela formação dos demais produtos de fermentação. Por outro lado, o etanol e o CO2 resultantes se constituem, tão somente de excreção, sem utilidade metabólica para a célula em anaerobiose, ou seja, um produto a ser rejeitado. A solução é explorar a capacidade de adaptação da levedura e alterar as condições físico-químicas para favorecer a conversão sem negligenciar as necessidades metabólicas mínimas da levedura. 2) Agente biológico e/ou bioquímico responsável pela(s) etapa(s) de transformação biológica e/ou bioquímica; Para a produção de álcool etílico a classe de microrganismos mais importante é a levedura, em especial a levedura Saccharomyces cerevisiae, a mais amplamente utilizada na fermentação alcoólica. No entanto, outro agente capaz de ser empregado, mas menos viável economicamente são as bactérias Zymomonas mobilis. Essa levedura é capaz de utilizar o nitrogênio na forma amoniacal, amídica ou amínica, no entanto não consegue aproveitar nitrato e proteínas do meio. A Saccharomyces cerevisiae tem a capacidade de ajustar o metabolismo a condições aeróbias e anaeróbias, onde na presença de O2 o açúcar do substrato é convertido em CO2 e água e na ausência de O2 é gerado etanol e CO2 majoritariamente, o que é de crítica importância para produção. O objetivo primordial da levedura é gerar energia em forma de ATP, para crescer e se multiplicar. Aplicado também em panificação, cervejarias, produção de riboflavina (vitamina D); 3) Etapas/fluxograma do processo, com indicação de operações unitárias e etapa(s) de reação/biorreação; Lavagem Uma vez que a cana de açúcar é trazida até a usina diretamente das plantações, é necessário primeiramente realizar a sua lavagem, sendo retiradas as impurezas mais grosseiras, tais como areia, terra e poeira. Logo em seguida, ela costuma ser picada e pode passar também por um eletroímã, a fim de retirar possíveis resquícios metálicos. Moagem A partir daí, ela é encaminhada para a moagem, em que a cana é moída por trituradores (moendas ou difusores), gerando um líquido comumente chamado de melado. Aproximadamente 70% da massa original estão nesse caldo, enquanto os outros 30%, que não puderam ser aproveitados, passam a compor o bagaço, o qual pode ser utilizado na geração de energia na usina. Peneiramento É necessário pois o caldo ainda contém impurezas provenientes das etapas anteriores. Costuma-se primeiramente realizar uma separação mecânica das partículas sólidas remanescentes com a utilização de peneiras e hidrociclones. Sulfitação É a absorção de SO2 pelo caldo, baixando o pH a ~ 4. Inibe reações que causam formação de cor; • Coagulação de colóides • Formação do precipitado CaSO3 ; • Diminuir a viscosidade do caldo; Caleação Em seguida, o caldo passa para o tanque de calagem, em que ele é misturado com leite de cal (solução básica de hidróxido de cálcio), provocando a floculação e decantação de impurezas. Por um lado, o aumento do pH do caldo atenua sua ação corrosiva contra os equipamentos e favorece a eliminação de microrganismos indesejados. Já por outro, leva também a uma redução do teor nutricional do caldo, podendo prejudicar a cultura de leveduras que realizará a fermentação. Sendo assim, é preciso manter um controle adequado do pH neste tanque, com estudos indicando a faixa entre 5,6 e 5,8. Embora se possa fazer a fermentação com caldo bruto, é comum clarificá-lo por meio de aquecimento, decantação e filtração para separar colóides, gomas e materiais nitrogenados. O caldo torna-se um mosto mais limpo, que fermenta melhor, espuma menos e suja menos às colunas de fermentação. Aquecimento Após a caleação, o caldo é aquecido entre 103 °C e 105 °C, buscando eliminar microrganismos contaminantes sensíveis ao calor. Neste ponto, podem ser utilizados diferentes tipos de trocadores de calor. Decantação Nesta operação, o líquido é transferido para um tanque a fim de repousar. Com o tempo, as partículas mais densas tendem a se acumular no fundo pela ação da gravidade e o caldo limpo pode ser retirado, recebendo o nome de caldo clarificado. Essa etapa costuma levar em torno de 3 horas em destilarias, visando a mínima remoção de nutrientes. https://propeq.com/post/corrosao-o-que-e-e-como-evitar/ https://propeq.com/post/trocadores-de-calor/ De posse do caldo clarificado, é necessário transformá-lo em mosto, que consiste basicamente em corrigir a concentração de açúcares via diluição, além de adequar o pH para a faixa entre 4,5 e 5. A adição de anti-sépticos tambémpode ser realizada. Filtração O lodo da decantação é filtrado e obtém-se a torta de filtro e o caldo filtrado; Resfriamento Após a clarificação, o caldo filtrado ainda costuma passar por um resfriamento, a fim de adequar a sua temperatura àquela ideal para a alimentação nas dornas de fermentação, a qual é próxima de 30 °C. O caldo, que entra com ~17% Brix sai ao final do tratamento como mel ~17% Brix e como torta, com ~2,5% Brix e ~6,0% fibra. Isso feito, é realizado o preparo do fermento, que consiste no inóculo inicial de leveduras, também chamado de pé-de-cuba. Cultivo celular O processo de cultivo celular ou preparo do inóculo para as dornas principais é realizado em duas etapas, uma laboratorial e outra industrial. Na etapa laboratorial, é feito crescimento consecutivo de uma cultura pura a partir de um substrato diluído (5° Brix) até um mais concentrado (11° Brix) até se atinja a quantidade suficiente para inocular o meio contido em pré-fermentadores. Na etapa industrial ocorre o preparo de cultura pura, em dimensão industrial e meio com concentração máxima de 13° Brix. Os pré-fermentadores são proporcionais ao volume das dornas principais e comumente fornecem 10% do volume total das dornas principais. Fermentação A transformação da glicose em etanol e CO2, envolve 12 reações ordenadas, cada uma catalisada por uma enzima específica. A fermentação alcoólica ocorre no citoplasma celular, pois é lá que se encontram essas enzimas. Preliminar ou Pré/fase lag - multiplicação celular intensa em máximo poder fermentativo - pouco etanol - pequeno desprendimento de dióxido de carbono - pequena elevação de temperatura Duração reduzida pelo uso de um inóculo bem volumoso Principal ou Tumultuosa: - maior temperatura - número adequado de células para desdobrar os açúcares fermentescíveis do mosto - produção de etanol - desprendimento intenso de CO2, maior espumas, agitação - maior acidez Maior duração Complementar ou pós-fermentação: - o desprendimento de CO2 abaixa - temperatura abaixa - cessa a concentração de açúcares Lembrando que 4) Tipos de biorreatores e modos de operação usuais; Um dos principais modos de operação é o modo em batelada, que apresenta fácil controle microbiológico e limpeza das dornas, porém os custos de manutenção e instalação são altos. Outro mais recente é a modo contínuo, que em termos de custos é mais viável, mas a limpeza e o controle microbiológico são mais difíceis. ● Batelada: Nas operações em batelada, geralmente é utilizado um sistema de reaproveitamento de leveduras, onde após a fermentação é separado um creme de leveduras que corresponde a cerca de 10 a 20% da dorna. Esse creme é diluído e tratado com ácido sulfúrico até pH 2 - 3 e posteriormente é enviado para outra dorna para iniciar uma nova fermentação com um novo mosto. Alimentando-se de forma contínua e bem dosada, a fermentação inicia-se de imediato, porque sendo o inóculo um creme rico em células e pobre em açúcares, dilui rapidamente o mosto e propicia a manutenção de baixa concentração de açúcares no fermentador até seu enchimento. Praticamente não há fase lag. Daí o processo se conduz de forma mais uniforme e com menos perdas. ● Continua: No sistema contínuo, a dorna é alimentada com fluxo de substrato a uma concentração determinada, simultaneamente há saída contínua de vinho que é encaminhado para as destilarias. Existem variações no processo de alimentação, mas em geral ela é feita na primeira dorna e as demais operam como fermentação final. ● Destilação: A destilação se baseia no processo de concentração do vinho proveniente da fermentação nas concentrações demandadas pelo mercado (anidro ou hidratado). Essa operação tem seu fundamento no equilíbrio de fases líquido/vapor, onde a diferença de volatilidade permite a separação dos componentes. O vinho entra no destilador A com cerca de 12% de etanol, onde ocorre a primeira separação de água e etanol de sobrenadantes de levedura, contaminações bacterianas, sais, álcoois com cadeias maiores e ácidos orgânicos. O flegma resultante com cerca de 50% de etanol é retificado em B, o álcool retificado resultante é o etanol hidratado com 95% de etanol. Desidratação do etanol Por conta da formação de uma mistura azeotrópica de água e etanol, não é possível obter álcool anidro via destilação. Para contornar esse problema podem ser empregados métodos químicos e físicos de desidratação. Exemplos de métodos químicos são o uso de substâncias capazes de absorver a água como óxido de cálcio e carbonato de potássio. E como métodos físicos temos a desidratação por arrastadores a adição de uma terceira substância insolúvel em um dos componentes que é capaz de formar uma mistura azeotrópica com a água e etanol e o uso de peneiras moleculares. Ao final desses processos o etanol obtido pode chegar a 99,9% de pureza. 5) Parâmetros importantes da(s) etapa(s) de transformação biológica/bioquímica (parâmetros cinéticos, condições reacionais ótimas, fatores que afetam, etc). Fatores de afetam a fermentação ● Temperatura: A temperatura ótima para processos industriais encontra-se na faixa de 26 a 35°C. Com o aumento da temperatura, aumenta a velocidade da fermentação, porém favorece a contaminação bacteriana, e a levedura torna-se mais sensível à toxicidade do etanol. Além disso, pode haver perdas de produto por evaporação no caso de dornas abertas. ● pH: A faixa de mais adequada é entre 4 e 5, pois favorece o crescimento das leveduras. No entanto, fermentações conduzidas em meios mais ácidos resultam em maiores rendimentos em etanol, por restringir o crescimento do fermento. Os caldos de cana naturalmente têm pH variando em 5 e 7 o que permite sua fermentação sem correções. ● Concentração de substrato: Como a produção de etanol está associada ao metabolismo energético, a velocidade específica de crescimento, a formação de produto e o consumo de substrato têm perfis semelhantes em função do tempo. O aumento na concentração de açúcar implica em uma maior velocidade de fermentação e produtividade. Entretanto, em níveis muito elevados pode haver complicações de estresse osmótico. ● Concentração de células: o crescimento é geralmente a função celular que mais requer energia. Portanto, se a produção é associada ao metabolismo energético, o produto será formado sempre que houver crescimento. Porém, em concentrações muito elevadas os requerimentos energéticos de manutenção é maior, consequentemente maior é o consumo de açúcar para manter as células vivas tornando-as cada vez mais inviáveis. ● Inibidores: O processo fermentativo pode ser inibido não só pelos seus próprios produtos, como o etanol, mas também por alguns minerais que podem ter restado no mosto, ou altos teores de sulfitos. ● Contaminação bacteriana e Antissépticos e antibióticos: presente em fermentações industriais, principalmente por Lactobacillus e Bacillus. Dependendo da intensidade pode comprometer o rendimento. Uma condição que favorece essa contaminação é o aumento da temperatura, também promovido pela fermentação em si (processo exotérmico), sendo necessária a utilização de trocadores de calor para manter a temperatura. Apesar do aquecimento, ainda não há uma esterilização propriamente dita. Para isso recomenda-se o uso de antisséptico, que são capazes de criar um ambiente favorável para o desenvolvimento das leveduras e desfavoráveis para bactérias e fungos ou, no caso dos antibióticos, atuando de forma bacteriostática, inibindo o crescimento de culturas bacterianas. Referências e links ● https://propeq.com/etanol-biocombustiveis/ ● https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-e-produzido-o-etanol/ ● https://studioeureka.files.wordpress.com/2011/10/infografico.jpg ● https://www.cgee.org.br/documents/10195/734063/Livro_Quimica_Verd e_9560.pdf/f6fa468d-8725-46d6-bc90-6c185835e4bf?version=1.3 ● https://www.a-folhadovale.com/single-post/2018/09/21/conhe%C3%A7a -quais-s%C3%A3o-as-etapas-de-produ%C3%A7%C3%A3o-do-etanol ● AQUARONE, E. et al. Biotecnologia industrial: Processos fermentativose enzimáticos. Editora Edgard Blucher Ltda, v. 3, 2001. https://propeq.com/etanol-biocombustiveis/ https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-e-produzido-o-etanol/ https://studioeureka.files.wordpress.com/2011/10/infografico.jpg https://www.cgee.org.br/documents/10195/734063/Livro_Quimica_Verde_9560.pdf/f6fa468d-8725-46d6-bc90-6c185835e4bf?version=1.3 https://www.cgee.org.br/documents/10195/734063/Livro_Quimica_Verde_9560.pdf/f6fa468d-8725-46d6-bc90-6c185835e4bf?version=1.3 https://www.a-folhadovale.com/single-post/2018/09/21/conhe%C3%A7a-quais-s%C3%A3o-as-etapas-de-produ%C3%A7%C3%A3o-do-etanol https://www.a-folhadovale.com/single-post/2018/09/21/conhe%C3%A7a-quais-s%C3%A3o-as-etapas-de-produ%C3%A7%C3%A3o-do-etanol
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