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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS ENGENHARIA CIVIL DISCIPLINA DE ELETROTÉCNICA LUMINOTÉCNICA Mayara Martins Spielmann da Silva 2021 Conceitos e Definições Luminotécnica é o estudo detalhado das técnicas das fontes de iluminação artificial, através da energia elétrica. Logo, toda vez que se planeja em fazer um estudo das lâmpadas de um determinado ambiente, está se pensando em fazer um estudo luminotécnico. Sistemas de iluminação artificial são compostos por luminárias, lâmpadas e equipamentos complementares (ex.: transformadores e reatores). O sistema ótico (luminária + lâmpada) pode ser classificado em função da forma como o fluxo luminoso é irradiado, em direta, semi-direta, uniforme, semi-indireta e indireta sendo esta a mesma classificação é proposta pela CIE - Commission Internationale de I’Eciairage para luminárias internas, que estabelece mais detalhadamente a proporção do fluxo luminoso dirigido para cima e para baixo do plano horizontal da luminária (IESNA, 2000): • Direta: quando o sistema ótico direciona 90% a 100% de seu fluxo luminoso emitido para baixo. A distribuição pode variar de muito espalhado a altamente concentrado dependendo do material do refletor, acabamento e controle ótico empregado; • Semi-direta: quando o fluxo luminoso do sistema ótico é emitido predominantemente para baixo (60% a 90%), mas uma pequena parte é direcionada para cima, iluminando o teto e a parte superior das paredes; • Uniforme ou difusa: quando as porções do fluxo luminoso ascendente e descendente se equivalem, medindo cada uma delas entre 40% e 60%, o sistema ótico é dito uniforme ou difuso. Uma outra categoria dentro dessa classificação, porém não considerada pela CIE, é chamada de direta-indireta, e ocorre quando o sistema ótico emite muito pouca luz nos ângulos próximos à horizontal; • Semi-indireta: é caracterizada pela distribuição luminosa inversa ao sistema semi-direta, ou seja, quando a maior parte do fluxo luminoso é direcionada para cima da luminária (60% a 90%), e o restante é direcionado para baixo; • Indireta: sistemas óticos classificados como indiretos são aqueles cujo fluxo luminoso é predominantemente ascendente (90% a 100%) iluminando o teto e a parte superior das paredes. Na luminotécnica distinguem-se as seguintes grandezas: 1. Intensidade Luminosa Símbolo: I Unidade: candela (cd) Se a fonte luminosa irradiasse a luz uniformemente em todas as direções, o Fluxo Luminoso se distribuiria na forma de uma esfera. Tal fato, porém, é quase impossível de acontecer, razão pela qual é necessário medir o valor dos lumens emitidos em cada direção. Essa direção é representada por vetores, cujo comprimento indica a Intensidade Luminosa. Em outras palavras é a potência da radiação luminosa em uma dada direção. É comum também o uso das curvas de distribuição luminosa, chamadas CDL para essas situações. 2. Curva de Distribuição Luminosa Símbolo: CDL Unidade: candela (cd) Considerando a fonte de luz reduzida à um ponto no centro de um diagrama e que todos os vetores que dela se originam tiverem suas extremidades ligadas por um traço, obtém-se a Curva de Distribuição Luminosa (CDL). Em outras palavras, é a representação da Intensidade Luminosa em todos os ângulos em que ela é direcionada num plano. A curva CDL geralmente é encontrada nos catálogos dos fabricantes de lâmpadas e iluminarias para facilitar o trabalho na hora do planejamento. 3. Fluxo Luminoso Símbolo: ϕ Unidade: lúmen (lm) É a potência de radiação total emitida por uma fonte de luz em todas as direções do espaço e capaz de produzir uma sensação de luminosidade através do estímulo da retina ocular. Em resumo, é a potência de energia luminosa de uma fonte percebida pelo olho humano. Um lúmen é a energia luminosa irradiada por uma candela sobre uma superfície esférica de 1 m² e cujo raio é de 1 m. Assim o fluxo luminoso originado por uma candela é igual à superfície de uma esfera unitária de raio (r = 1 m). 𝛗 = 𝟒𝝅. 𝒓 𝟐 = 𝟏𝟐. 𝟓𝟕 𝒍𝒎 As lâmpadas conforme seu tipo e potência apresentam fluxos luminosos diversos: - Lâmpada fluorescente de 40 W: 1700 a 3250 lm; - lâmpada incandescente de 100 W: 1000 lm; - lâmpada multi-vapor metálico de 250W: 17.000 lm 4. Iluminância (Iluminamento) Símbolo: E Unidade: lux (lx) É a densidade de fluxo luminoso na superfície sobre a qual este incide. A unidade é o LUX, definido como o iluminamento de uma superfície de 1 m² recebendo de uma fonte puntiforme a 1m de distância, na direção normal, um fluxo luminoso de 1 lúmen, uniformemente distribuído. A relação é dada entre a intensidade luminosa e o quadrado da distância, ou ainda, entre o fluxo luminoso e a área da superfície. 𝐄 = 𝛗 𝐀 Na prática, é a quantidade de luz dentro de um ambiente, e pode ser medida com o auxílio de um luxímetro. Como o fluxo luminoso não é distribuído uniformemente, a iluminância não será a mesma em todos os pontos da área em questão. Considerasse por isso a iluminância média (Em) e para isso existem normas especificando o valor mínimo de Em, para ambientes diferenciados pela atividade exercida relacionados ao conforto visual. A iluminância também é conhecida como nível de iluminação. Abaixo são mostrados alguns valores práticos de iluminância: - Dia ensolarado de verão em local aberto = 100.000 lux - Dia encoberto de verão = 20.000 lux - Dia escuro de inverno = 3.000 lux - Boa iluminação de rua = 20 a 40 lux - Noite de lua cheia = 0,25 lux - Luz de estrelas = 0,01 lux. 5. Luminância Símbolo: L Unidade: cd/m² É um dos conceitos mais abstratos que a luminotécnica apresenta. É através da luminância que o homem enxerga. No passado denominava-se de brilhança, querendo significar que a luminância está ligada aos brilhos. A diferença é que a luminância é uma excitação visual, enquanto que o brilho é a resposta visual a luminância é quantitativa e o brilho é sensitivo. É a diferença entre zonas claras e escuras que permite que se aprecie uma escultura; que se aprecie um dia de sol. As partes sombreadas são aquelas que apresentam a menor luminância em oposição às outras mais iluminadas. Luminância liga-se com contrastes, pois a leitura de uma página escrita em letras pretas (refletância 10%) sobre um fundo branco (papel, refletância 85%) revela que a luminância das letras é menor do que a luminância do fundo e, assim, a leitura “cansa menos os olhos”. A luminância depende tanto do nível de iluminação ou iluminância quanto das características de reflexão das superfícies. A equação que permite sua determinação é: 𝑳 = 𝑰 𝑨 ∙ 𝐜𝐨𝐬 𝒂 Onde: L = Luminância, em cd/m² I = Intensidade Luminosa, em cd A = área projetada, em m² α = ângulo considerado, em graus. Como é difícil medir-se a Intensidade Luminosa que provém de um corpo não radiante (através de reflexão), pode-se recorrer à outra fórmula, a saber: 𝑳 = 𝛒 ∙ 𝐄 𝝅 Onde: ρ = Refletância ou Coeficiente de Reflexão E = Iluminância sobre essa superfície Vale lembrar que o Coeficiente de Reflexão é a relação entre o Fluxo Luminoso refletido e o Fluxo Luminoso incidente em uma superfície. Esse coeficiente é geralmente dado em tabelas, cujos valores são função das cores e dos materiais utilizados. A luminância de uma fonte luminosa ou de uma superfície luminosa estabelece a reação visual da vista. Quando a luz de uma fonte ou de uma superfície que reflete a luz, atinge a vista com elevada luminância, então ocorre o ofuscamento, sempre que a luminância é superior a 1 sb. As luminâncias preferenciais em um ambiente de trabalho pode variar entre as pessoas, principalmente se estiverem desenvolvendo tarefas diferentes. O melhor conceito de iluminância talvez seja “densidade de luz necessária pararealização de uma determinada tarefa visual”. Isto permite supor que existe um valor ótimo de luz para quantificar um projeto de iluminação. Níveis de iluminamento O sistema de iluminação deve garantir níveis de iluminamento médio adequados em função das características do local e da atividade a ser desenvolvida. Para tanto, as normas técnicas possuem valores de referência habitualmente utilizados em projetos de iluminação. Uma vez escolhida a luminária a ser utilizada, a etapa final do projeto consiste em determinar o número de luminárias necessárias para alcançar o valor de iluminamento médio especificado e ainda proceder a ajustes de uniformização levando em conta a simetria do local. Define-se iluminamento médio (EM) em uma dada superfície como: 𝑬𝑴 = 𝛗 𝑺 Em que: φ - é o fluxo luminoso total que atravessa a superfície (lm); S - é a área da superfície considerada (m²). A unidade do iluminamento é lm/m², mais conhecida por lux. É através do iluminamento médio que são fixados os requerimentos de iluminação em função da atividade a ser desenvolvida em um determinado local. Coeficientes de utilização e depreciação. O fator de utilização (U) é um dado fornecido pelos fabricantes de luminárias. Ele indica o desempenho da luminária de acordo com as refletâncias do ambiente. Para determinar o fator de utilização, basta utilizar a tabela do fabricante cruzando o índice de recinto (k) com os índices de refletância. O fator de depreciação ou de manutenção relaciona o fluxo emitido da fonte de luz no fim do período de manutenção da luminária e o fluxo luminoso inicial da mesma. O dimensionamento dos sistemas de iluminação deve considerar um fator de manutenção (FM) ou fator de perdas luminosas em função do tipo de ambiente e de atividade desenvolvida, do tipo de luminária e da lâmpada utilizada e da frequência de manutenção dos sistemas. O fator de manutenção, normalmente utilizado pelos principais fabricantes de luminárias e projetistas, é de 0,80. Isso significa que: • No momento da instalação dos equipamentos, a iluminação será 25% maior do que o resultado mostrado pelo projeto luminotécnico; • A perda de 20% do fluxo luminoso ocorre após X horas de uso da luminária, dependendo das especificações do fabricante. O ideal é que isso ocorra após 75.000 horas de uso, mas alguns fabricantes fornecem equipamentos com perdas de 20% após 30.000 horas de uso, comprometendo a qualidade e efetividade do investimento; Escolha de lâmpadas e luminárias A experiência do projetista é muito importante neste processo, pois um determinado conjunto lâmpada/luminária disponível comercialmente pode-se adaptar melhor a algumas aplicações e não a outras. Por exemplo, iluminação fluorescente convencional é bastante indicada para iluminação de escritórios, e iluminação incandescente é a opção preferencial para galerias de arte, devido a sua excelente reprodução de cores. Para a luminária escolhida determina-se o Fator de Utilização (Fu). Este coeficiente, menor ou igual a 1, representa uma ponderação que leva em conta as dimensões do local e a quantidade de luz refletida por paredes e teto. A contribuição das dimensões do local é feita através do chamado Índice do Local (K) definido de acordo com: 𝑲 = 𝑪 ⋅ 𝑳 𝑯(𝑪 + 𝑳) onde: C - comprimento do local, considerando formato retangular (m); L - largura do local (m); H - altura de montagem das luminárias (m). O índice do local permite diferenciar locais com mesma superfície total, mas com formato diferente (quadrado, retangular, retangular alongado, etc.), e também incorpora a influência da distância entre o plano das luminárias e o plano de trabalho. Lâmpada e luminária De acordo com a NBR 5413 para a determinação da luminância convencional é recomendável se estabelecer parâmetros comparativos de lux para cada ambiente, sendo ele o iluminamento médio do local, que se dá em função do comprimento, altura e largura do local, como supracitado no tópico anterior. Tabela 1.0- iluminância por classe de tarefas visuais Classe Iluminância (lux) Tipo de atividade A I luminação geral para áreas usadas interruptamente ou com tarefas visuais simples 20 – 30 – 50 Áreas publicas com arredores escuros 50 – 75 – 100 Orientação simples para permanência curta 100 – 150 – 200 Recintos não usados para trabalho contínuo; depósitos 200 – 300 – 500 Tarefas com requisitos visuais limitados, trabalho bruto de maquinaria, auditórios B Iluminação geral para área de trabalho 500 – 750 – 1000 Tarefas com requisitos visuais normais, trabalho médio de maquinaria, escritório 1000 – 1500 – 2000 Tarefas com requisitos especiais, gravação manual, injeção, indústria de roupas C Iluminação adicional para tarefas visíveis difíceis 2000 – 3000 – 5000 Tarefas visuais exatas e prolongadas, eletrônica de tamanho pequeno 5000 – 7500 – 10000 Tarefas visuais muito exatas, montagem de microeletrônica 10000 – 15000 – 20000 Tarefas visuais muito especiais, cirurgia Seleção da iluminância Para recomendar a luminância tem-se de considerar alguns pareceres descritos na tabela 1.2, posteriormente soma-se, algebricamente, o valor dos caracteres de pesos, considerando o sinal, e para determinados resultados, podendo ser eles iguais a -2, -3, +2, +3, 0, -1,+1. Para os casos -2 ou -3, indica-se o grupo inferior descrito na tabela 1.0, quando a soma se refere a +2 ou +3, recomenda-se a iluminância do grupo superior a tabela 1.0, para demais casos a iluminância média. Tabela 1.2- Fatores determinantes da iluminância adequada Características da tarefa e do observados Peso -1 0 +1 Idade Inferior a 40 anos 40 a 55 anos Superior a 55 anos Velocidade e precisão Sem importância Importante Crítica Refletância do fundo da tarefa Superior a 70% 30 a 70% Inferior a 30% Para o caso em questão da análise de uma sala de aula, conforme a NBR 5413, trás consigo parâmetros pré-estabelecidos de locais e luminescências indicadas, sendo ela 200 – 300 – 500 luxes. Posteriormente estabelece-se o tipo de lâmpada e luminária, que para o caso em questão indica-se iluminação fluorescente convencional. O comprimento (C) da sala foi estipulado em 10,50 metros, a largura (L) em 42 metros, e a altura útil (H) em 2,8m. 𝑲 = 𝑪 ⋅ 𝑳 𝑯(𝑪 + 𝑳) Após aplicação da fórmula acima, obteve-se um índice de local (K) igual a 3. O fator de refletância será de 735, sendo teto de superfície branca, parede de superfície média e piso de superfície clara. O coeficiente de utilização foi de 0,78 O Fator de Depreciação (Fd), representa uma ponderação que leva em conta a perda de eficiência luminosa das luminárias devido a contaminação do ambiente, o Fd foi considerado igual a 0,67 como descrito ambiente Normal, com 12.000 horas, previamente tabelado. Posteriormente fora determinado o fluxo luminoso total φ (em lúmen) que as luminárias deverão produzir de acordo com a expressão abaixo. Sendo Fu o Fator de utilização, que fora considerado é referente a uma lâmpada da marca Philips, respeitando o índice do local anteriormente calculado, sendo ele igual a 0,52. φ = 𝑬 ⋅ 𝑺 𝑭𝒖 . 𝑭𝒅 O resultado obtido do fator de fluxo luminoso é 632893 lúmens. O espaçamento entre as luminárias pode ser considerado iluminação semidireta, o espaçamento máximo entre as luminárias, em relação a distancia da luminária ao piso teto, será de 3,42 metros. Logo após determina-se o número de luminárias (NL), sabendo-se que as lâmpadas utilizadas serão de 32, dessa forma o fluxo luminoso de cada uma será de 11800 lumens, a partir disso, algebricamente, se faz o quociente entre o fluxo luminoso necessário sob o fluxo luminoso da lâmpada. NL = φ φL A quantidade de luminárias necessárias para o ambiente em questão é igual54 luminárias necessárias para a sala de aula. Conhecendo o local, e a quantidade de luminárias, basta distribui-las uniformemente no ambiente, a disposição resultante para a sala foi a seguinte, 14 fileiras de 4, totalizando as 56 luminárias. Referencias ILLUMINATING ENGINEERING SOCIETY OF NORTH AMERICA - IESNA. The IESNA Lighting handbook. 9. ed. New York, 2000. IESNA Lighting Design Software Survey 2002. LD+A, [S.I], vol. 32, n.7, pg. 35-48, jul. 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413: Iluminância de interiores. Rio de Janeiro. 1992.
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