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História da Psicologia

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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
História da Psicologia
Prof. Rodrigo Diaz De Vivar Y Soler
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof. Rodrigo Diaz De Vivar Y Soler
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
S685h
 Soler, Rodrigo Diaz de Vivar Y
 História da psicologia. / Rodrigo Diaz de Vivar Y Soler. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
 207 p.; il. 
 ISBN 978-65-5663-139-4
 ISBN Digital 978-65-5663-140-0
1. Psicologia - História. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da 
Vinci.
CDD 150.9
III
aPresentação
Apresentamos a você, leitor, este livro sobre os aspectos relacionados 
à disciplina de História da Psicologia. Neste material, você poderá encontrar 
elementos que subsidiarão os seus estudos e a sua formação. 
O presente livro é composto por três unidades subdividas em 
tópicos. Na primeira unidade, você será apresentado ao contexto histórico 
do aparecimento da psicologia, desde suas raízes filosóficas na antiguidade, 
até a sua consolidação como ciência no final do século XIX. Desta maneira, 
apresentaremos o contexto das ideias psicológicas na Grécia antiga, 
passando pelo império romano, pelos primeiros anos do cristianismo, pela 
visão psicológica na Idade Média e, também no Renascimento. Em seguida, 
apresentaremos as condições de possibilidades para o nascimento da 
psicologia científica desde os primeiros trabalhos desenvolvidos por Wundt, 
passando pelas primeiras escolas psicológicas, no caso o funcionalismo, o 
estruturalismo e o associacionismo. 
A segunda unidade é dedicada à contextualização das escolas 
psicológicas no século XX. Iniciaremos o nosso percurso pela emergência do 
behaviorismo, desde as primeiras descobertas promovidas pela reflexologia 
até as principais aplicações do comportamentalismo. Em seguida, 
apontaremos as contribuições do saber psicanalítico para a consolidação 
da psicologia como ciência e profissão na nossa sociedade. Esse percurso 
é inaugurado por Freud e as suas contribuições acerca da subjetividade e 
as estruturas do nosso inconsciente. Falaremos também da psicologia da 
Gestalt e as suas ressonâncias para os estudos sobre a subjetividade. Em um 
quarto momento, apontaremos as principais correntes ligadas ao movimento 
psicológico conhecido como humanismo. Por fim, apontaremos os elementos 
ligados a relações da psicologia com a América Latina, ocasião que permitirá 
apresentar ao leitor, os elementos singulares de uma prática psicológica 
ligada aos enfrentamentos sociais e políticas do nosso continente. 
Por fim, a terceira unidade deste livro é dedicada a pensar as 
correlações e o debate entre a psicologia e o mundo contemporâneo. 
Desse modo serão apresentadas aqui as relações entre a subjetividade e a 
religião no contexto da sociedade brasileira contemporânea. Em seguida, os 
tensionamentos existentes entre a subjetividade, a psicologia e as relações 
de gênero. Por fim, contextualizaremos os problemas ligados ao contexto da 
subjetividade, da psicologia e das relações étnico-raciais. 
Boa leitura e bons estudos! 
Prof. Rodrigo Diaz De Vivar Y Soler
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.
Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA 
FILOSOFIA À CIÊNCIA ...............................................................................................1
TÓPICO 1 – AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA .......................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 A PSICOLOGIA NA GRÉCIA ANTIGA ............................................................................................4
3 A PSICOLOGIA NA ROMA ANTIGA .............................................................................................9
4 A PSICOLOGIA E O CRISTIANISMO ...........................................................................................15
5 A PSICOLOGIA NA IDADE MÉDIA ..............................................................................................21
6 A PSICOLOGIA NO NASCIMENTO DA MODERNIDADE: DO RENASCIMENTO AO 
ILUMINISMO .......................................................................................................................................25
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................31
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................32
TÓPICO 2 – O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA E AS PRIMEIRAS 
ESCOLAS PSICOLÓGICAS ..................................................................................... 33
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................33
2 A PSICOLOGIA CIENTÍFICA E O POSITIVISMO ......................................................................34
3 WUNDT, O PAI DA PSICOLOGIA ..................................................................................................38
4 O FUNCIONALISMO ..........................................................................................................................42
5 O ESTRUTURALISMO .......................................................................................................................47
6 O ASSOCIACIONISMO .....................................................................................................................50
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................55
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................60AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................61
UNIDADE 2 – AS PRINCIPAIS ESCOLAS PSICOLÓGICAS .......................................................63
TÓPICO 1 – A PSICOLOGIA BEHAVIORISTA ...............................................................................65
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................65
2 OS PRIMEIROS ESTUDOS DO COMPORTAMENTO E A REFLEXOLOGIA .....................65
3 PAVLOV E A FISIOLOGIA DO COMPORTAMENTO CLÁSSICO .........................................66
4 WATSON E A PRIMEIRA TEORIA SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO .................70
5 SKINNER E O COMPORTAMENTALISMO RADICAL .............................................................74
6 PRINCIPAIS APLICAÇÕES DO COMPORTAMENTALISMO .................................................80
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................82
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................83
TÓPICO 2 – FREUD E A EMERGÊNCIA DA PSICANÁLISE .......................................................85
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................85
2 A PSICANÁLISE E CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO ...................................................................85
3 SIGMUND, ANTES DE FREUD: ASPECTOS BIOGRÁFICOS ..................................................88
4 FREUD COMO PENSADOR DA CULTURA .................................................................................90
5 A EMERGÊNCIA DO INCONSCIENTE .........................................................................................91
sumário
VIII
6 PSICANÁLISE E A CURA PELA PALAVRA...................................................................................93
7 A PSICANÁLISE E A SEXUALIDADE INFANTIL ........................................................................93
8 OS PRINCIPAIS CONCEITOS DA PSICANÁLISE ......................................................................94
9 A PSICANÁLISE DEPOIS DE FREUD .............................................................................................95
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................96
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................97
TÓPICO 3 – A PSICOLOGIA DA GESTALT E A EXPERIÊNCIA DA PERCEPÇÃO ................99
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................99
2 O QUE É GESTALT?.............................................................................................................................99
3 MAX WERTHEIMER E OS ESTUDOS SOBRE A PERCEPÇÃO ..............................................103
4 KURT KOFFKA E OS ESTUDOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA MENTE ..............108
5 KURT LEWIN E A TEORIA DE CAMPO ......................................................................................110
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................113
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................114
TÓPICO 4 – A PSICOLOGIA HUMANISTA...................................................................................115
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115
2 DETERMINANTES PARA O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA HUMANISTA ...............116
3 CARL ROGERS E A ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA .............................................118
4 MARTIN BUBER E A VOCAÇÃO DIALÓGICA ........................................................................120
5 VIKTOR FRANKL E A LOGOTERAPIA .......................................................................................124
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................126
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127
TÓPICO 5 – A PSICOLOGIA DESDE A AMÉRICA LATINA .....................................................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129
2 MARTIN-BARÓ E A PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO ...........................................................129
3 PICHON-RIVIÈRE E OS PROCESSOS GRUPAIS ......................................................................133
4 SILVIA LANE E UMA NOVA VISÃO DE SUBJETIVIDADE ...................................................137
5 ANTIPSIQUIATRIA E DESINSTITUCIONALIZAÇÃO: A LUTA ANTIMANICOMIAL NO 
BRASIL .................................................................................................................................................141
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................145
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................147
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................148
UNIDADE 3 – HISTÓRIA POLÍTICA DA SUBJETIVIDADE: UM DIÁLOGO COM O 
CONTEMPORÂNEO .................................................................................................149
TÓPICO 1 – SUBJETIVIDADE, RELIGIÃO E POLÍTICA NO BRASIL 
 CONTEMPORÂNEO .....................................................................................................151
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................151
2 RELIGIOSIDADE, SUBJETIVIDADE E ESTADO LAICO ........................................................151
3 RELIGIÃO, SUBJETIVIDADE E ARQUÉTIPOS .........................................................................155
4 RELIGIOSIDADE, SUBJETIVIDADE E DIREITOS HUMANOS ...........................................159
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................163
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................164
TÓPICO 2 – SUBJETIVIDADE E RELAÇÕES DE GÊNERO .......................................................165
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165
2 OS ESTUDOS DE GÊNERO E A PSICOLOGIA ..........................................................................165
3 GÊNERO, SUBJETIVIDADE E RELAÇÕES DE PODER ...........................................................169
IX
4 GÊNERO, SUBJETIVIDADE E BIOPOLÍTICA ............................................................................173
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................178
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................179
TÓPICO 3 – SUBJETIVIDADE E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS .............................................181
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1812 A PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE RACIAL NO BRASIL ..................................................181
3 SUBJETIVIDADE, RELAÇÕES ETNICORRACIONAIS E ESTUDOS SOBRE A 
BRANQUITUDE .................................................................................................................................185
4 SUBJETIVIDADE, RACISMO E NECROPOLÍTICA ..................................................................189
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................193
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................197
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................198
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................199
X
1
UNIDADE 1
CONTEXTO HISTÓRICO DO 
APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA 
FILOSOFIA À CIÊNCIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conceituar os determinantes históricos do aparecimento da psicologia 
desde a filosofia à ciência; 
• caracterizar as relações entre a psicologia, a filosofia e a ciência;
• compreender as condições de possibilidades em torno do saber psicológi-
co ao longo da história; 
• apresentar um panorama crítico sobre as principais ideias psicológicas 
que contribuíram para a constituição da psicologia como ciência. 
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade, 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA 
TÓPICO 2 – O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA E AS 
PRIMEIRAS ESCOLAS PSICOLÓGICAS
Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em 
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Meus parabéns pela sua escolha. Você optou por uma 
profissão em constante expansão no Brasil. Atualmente, segundo dados do 
Conselho Federal de Psicologia (LHULLIER, 2013), somos 359.101 profissionais 
atuando nas mais variadas áreas de intervenção. Desde a clínica, passando pelas 
áreas da educação, das organizações, da saúde pública e da assistência social, 
até as consideradas áreas emergentes como as ligadas ao judiciário, a prática 
hospitalar e, mesmo a área ambiental. 
O Conselho Federal de Psicologia – regulamentado pelo Decreto nº 79.822, 
de 17 de junho de 1977 – é uma autarquia responsável pela orientação e fiscalização da 
psicologia como profissão no Brasil. Todo o profissional que atua como psicólogo deve 
possuir o seu registro profissional para o exercício da sua prática. Você pode conhecer mais 
detalhes do CFP acessando o site: 
<site.cfp.org.br>. No site você encontra muitas informações importantes que, certamente, 
o auxiliarão desde a sua formação acadêmica até a sua futura prática profissional.
NOTA
A Psicologia é uma área muito importante para a nossa sociedade. 
Justamente, por conta de tal aspecto, é que devemos conhecer a sua história, seus 
contornos e suas possibilidades. Enquanto ciência, a psicologia é muito recente 
– falaremos mais adiante sobre o seu nascimento – mas, enquanto leitura sobre 
a subjetividade a psicologia é um saber que nasce nos horizontes filosóficos da 
nossa civilização, mas especificamente na Grécia Antiga. 
Este tópico será dividido em cinco itens. No primeiro deles, “A psicologia 
na Grécia Antiga”, você será apresentado às principais reflexões elaboradas por 
filósofos como Sócrates e Platão, acerca do conhecimento sobre a alma humana. 
Já no segundo item, “A psicologia na Roma Antiga”, você irá conhecer um pouco 
mais sobre à maneira, pela qual, os filósofos romanos compreendiam a psicologia 
como um elemento fundamental para a vida em sociedade. No terceiro item, “A 
psicologia e o cristianismo”, você conhecerá as relações existentes entre o discurso 
cristão sobre a alma e a psicologia. No quarto item, “A psicologia na Idade 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
4
Média”, você será apresentado às primeiras tradições escolásticas responsáveis 
por pensar as bases da psicologia em um mundo marcado, sobretudo, pela crença 
na espiritualidade e nos dogmas religiosos. Por fim, "A Psicologia no nascimento 
da modernidade: do Renascimento ao Iluminismo” você será apresentado as 
principais reflexões elaboradas por filósofos ligados ao campo da psicologia. 
2 A PSICOLOGIA NA GRÉCIA ANTIGA
Etimologicamente, a palavra Psicologia é proveniente do grego – ψυχή – a 
qual psyché significa alma e λογία, designa, por sua vez, a logia, ou seja, o estudo. 
Não foram os gregos que criaram a psicologia, mas é certo que eles foram um dos 
precursores das reflexões sobre os sentidos existenciais acerca de um possível 
compreensão e/ou articulação entre existência e conduta humana. 
Em outras palavras, no interior da história da nossa civilização, podemos 
encontrar também, os elementos responsáveis por indicar a necessidade de os 
sujeitos buscarem estabelecer uma linha de raciocínio sobre os sentidos e os 
significados da sua própria experiência, ou seja, a cultura grega foi responsável 
pela criação de um estilo próprio responsável por endossar as explicações 
racionais para todos os acontecimentos presentes nesse mundo. Vejamos um 
exemplo dessa reflexão a partir da seguinte charge: 
FIGURA 1 – CHARLIE BROWN E O AMIGUINHO CONVERSAM SOBRE O SENTIDO DA 
EXISTÊNCIA
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/629518854134466590/>. Acesso em: 24 abr. 2020.
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
5
A essa reflexão, os gregos nomearam Filosofia. A filosofia foi a primeira 
forma de sistematização racional e especulativa sobre a condição humana. As 
razões pelas quais somos afetados pelas experiências ao nosso redor. 
Os primeiros filósofos ficaram conhecidos, posteriormente como pré-
socráticos-socráticos. 
Os filósofos pré-socráticos são assim nomeados por se localizarem, no tempo 
anterior as primeiras sistematizações construídas por Sócrates e seus discípulos. Suas obras 
foram agrupadas a partir de fragmentos voltados à compreensão da relação entre o sujeito 
e a natureza.
NOTA
Os pré-socráticos procuravam introduzir, nas suas reflexões, os elementos 
antropológicos aos quais se relacionavam as experiências éticas e estéticas do 
humano. Nos seus quadros, podemos destacar os nomes de Tales de Mileto (624-
547 a.C.) para quem tudo era considerado um grande devir e, nesse sentido, a 
vida do sujeito participara ativamente de todo o cosmos. 
Já Heráclito de Éfeso (500 – 400 a.C.) elaborou suas reflexões, no sentido 
de estabelecer as constantes transformações pelas quais o sujeito passara ao longo 
de toda a sua existência como podemos destacar nos fragmentos a seguir:
Frag. 04: Se a felicidade consistisse nos prazeres do corpo, deveríamos 
proclamar felizes os bois, quando encontram ervilhas para comer. 
Frag. 45: Mesmo, percorrendo todos os caminhos, jamais encontrarás 
os limites da alma. 
Frag. 82: O mais belo símio é feio comparado ao homem. 
Frag. 101: Eu me procurei a mim próprio. 
Frag. 125: Mesmo uma bebida se decompõe se não for agitada 
(HERÁCLITO apud NOGARE, 1985, p. 28). 
O pensamento de Heráclito representa, portanto, a primeira aventura 
antropológica voltada para a compreensão do tensionamento entre os espaços 
teológico e cosmológico. Nesse sentido, o sujeito para Heráclito, é, antes de tudo, 
uma parte do cosmos estando submetido as suas leis. Entretanto, ao adquirir 
consciência de si, esse mesmo sujeito reflete em si mesmo, as experiências das leis 
divinas. 
Ainda com relação aos pré-socráticos podemos destacar à figura de 
Parmênides(530 – 460 a.C.) para quem a essência do ser era a permanência. 
Parmênides propunha que o ser só poderia manifestar a sua verdade pela sua 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
6
própria afirmação já que ele é o único responsável por afirmar quem ele mesmo 
é. Dessa forma, Parmênides inaugura uma reflexão muito aprofundada sobre a 
natureza ontológica do ser. 
Para que possamos esclarecer melhor essa afirmativa, convidamos você, 
leitor, a observar os primeiros versos do clássico poema escrito por Fernando 
Pessoa, intitulado Tabacaria no qual podemos ler: 
Não sou nada. 
Nunca serei nada. 
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo (ÁLVARO DE 
CAMPOS, s.d.). 
Como podemos observar, a partir da leitura de “Parmênides”, a 
imutabilidade do ser, reside na capacidade deste em formular uma reflexão sobre 
aquilo que ele mesmo é. É justamente essa capacidade que distingue o ser das 
outras coisas em geral, pois estas não podem questionar o seu sentido existencial. 
FIGURA 2 - O POETA FERNANDO PESSOA (1888-1935)
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/fernando-pessoa/>. Acesso em: 24 abr. 2020.
O poeta Fernando Pessoa (1888-1935) certamente fora influenciado pela 
filosofia de Parmênides.
Após o desaparecimento dos pré-socráticos, a sociedade grega fora 
tomada pela formação do que, os historiadores costumam chamar de Paideia que, 
segundo Jaeger (1995), compreende a composição de um mosaico sobre distintas 
práticas voltadas a formação intelectual, estética, moral e ética do sujeito. A 
Paideia configura-se como a primeira tentativa da nossa civilização de estabelecer 
uma estruturação pedagógica do sujeito, desde sua infância até à velhice. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
7
FIGURA 3 - A ACRÓPOLE DE ATENAS: UMAS DAS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS PROVENIENTES 
DA PAIDEIA GREGA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Acr%C3%B3pole_de_Atenas>. Acesso em: 24 abr. 2020.
É nesse contexto que aparecem os primeiros educadores, responsáveis por 
transmitir aos cidadãos gregos os rumos e percursos da Paideia. Esses educadores 
em geral, acabavam transmitindo esses conhecimentos mediante o pagamento 
ofertado pelos seus serviços. 
Embora a cidadania seja uma invenção da civilização grega, o seu sentido é 
radicalmente diferente dos dias atuais. Na Grécia Antiga, o cidadão era aquele que possuía 
terras e demais propriedades, além de ser natural de Atenas. A cidadania, portanto, era um 
conceito muito restrito as elites intelectuais e políticas da época. Com a Revolução Francesa 
é que esse conceito passa a se estender a todos os sujeitos como um direito natural.
NOTA
Esses profissionais da educação, por assim dizer, ficaram conhecidos como 
sofistas, isto é, pessoas esclarecidas e habilidosas que ofertavam seus serviços 
mediante pagamento. Os sofistas fizeram parte da Paideia nos mais variados 
campos. Desde a filosofia, mas também das artes, do militarismo e da medicina, 
somente para ilustrarmos alguns exemplos. 
Poucos estudados nos dias de hoje, os sofistas foram alvo de muitas críticas 
por conta do aparecimento da figura de Sócrates (469 - 399 a.C.), considerado o pai 
da filosofia. Pouco se sabe sobre a figura histórica de Sócrates até suas primeiras 
atividades filosóficas, mas muito se sabe sobre a figura simbólica de Sócrates 
devido ao seu legado registrado pelos seus discípulos, dentre os quais destaca-se 
Platão (428 – 347 a.C.). 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
8
Basicamente a relevância de Sócrates para a filosofia consiste no fato de 
que ele, foi o primeiro pensador a realmente sistematizar uma reflexão em torno 
de uma atitude filosófica a partir do enfrentamento e problematização dos valores 
da sociedade ateniense. 
Enquanto os sofistas preocupavam-se unicamente com as questões 
materiais da Paideia valendo-se da educação como instrumento de mercantilização 
e manutenção dos seus privilégios, Sócrates procurava demonstrar como, as 
experiências voltadas ao conhecimento eram resultado de um cuidado do sujeito 
em relação a ele mesmo. 
O papel da filosofia designada por Sócrates não consistia no acúmulo de 
propriedades, nem mesmo do próprio conhecimento, mas na atitude do sujeito 
buscar, ao longo da sua própria existência um trabalho de aperfeiçoamento do 
sujeito em relação a ele mesmo, ou o que Foucault (2012) chama de ascese. 
No diálogo Apologia de Sócrates podemos ler essa recomendação feita por 
Sócrates perante seus acusadores: 
Além disso, os jovens ociosos, os filhos dos ricos, seguindo-me 
espontaneamente, gostam de ouvir-me examinar os homens, e muitas 
vezes me imitam, por sua própria conta, e empreendem examinar os 
outros; e então, encontram grande quantidade daqueles que acreditam 
saber alguma coisa, mas, pouco ou nada sabem. Daí, aqueles que são 
examinados por eles encolerizam-se comigo assim como com eles, e 
dizem que há um tal Sócrates, perfidíssimo, que corrompe os jovens 
(PLATÃO, 1979).
É diante de tal perspectiva que o pensamento socrático se configura como 
a pedra angular do cuidado do sujeito em relação a si mesmo a partir da filosofia 
como forma de vida. Essa experiência corresponde à atitude voltada para o 
autoconhecimento, o exame de consciência e a vigilância ética presente em todos 
os momentos da vida do sujeito. 
Em torno dessa problemática é que Platão inaugurou a especulação 
metafísica sobre a relação entre o sujeito, a alma e a matéria. De um modo geral, 
Platão expressa que o mundo real, o mundo da matéria é inferior as experiências 
sensíveis que poderiam ser acessadas mediante à filosofia. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
9
FIGURA 4 – NEO, PERSONAGEM PRINCIPAL DO FILME MATRIX
FONTE: <https://www.einerd.com.br/matrix-4-jovem-neo/>. Acesso em: 28 abr. 2020.
O filme Matrix escrito e dirigido por Lily e Lana Wachowski é claramente 
influenciado pelas ideias platônicas acerca da relação entre matéria e ideia. 
Nesse filme, os diretores resgatam o mito da caverna proposto por Platão em 
A República. Neo, o personagem principal do filme Matrix é apresentado como 
alguém que consegue apreender o significado da essência das coisas para além 
do mundo material.
A imortalidade da alma, o valor das ideias, o amor pela sabedoria faziam 
parte para Platão, de uma forma superior de vida contrária a todas as atividades 
materiais. Nesse sentido, o objetivo da sensibilidade idealista presente no sujeito 
seria o de promover a busca, pelo acesso a esse outro mundo distante das 
preocupações meramente materialistas. 
Em oposição a essa concepção, Aristóteles (384 – 322 a.C.) irá discorrer 
sobre o valor da matéria como elemento fundamental acerca da psiché. Para 
Aristóteles, o sujeito era um resultado de uma constituição dialética que envolvia 
a contradição como elemento fundamental. 
Isso significa que, o sujeito existe primeiro, constrói suas experiências em 
relação a esse mundo apropriando-se da natureza. E, é a partir dessa apropriação 
que o sujeito desenvolve o seu conhecimento. 
3 A PSICOLOGIA NA ROMA ANTIGA 
Assim como os gregos, os romanos deixaram inúmeros legados à 
civilização ocidental. Suas influências são nitidamente sentidas até os nossos 
dias seja pela contextualização dos saberes jurídicos/institucionais, seja pelo 
aperfeiçoamento das diretrizes organizacionais da política. 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
10
No entanto, com relação à psicologia, quais seriam precisamente, as 
influências dos romanos? Alguns séculos após o declínio das cidades-Estados 
gregas, emergem inúmeras escolas filosóficas ao redor da Europa, da Ásia e da 
África no período nomeado pelos historiadores como helenismo. 
Em uma tradução livre, podemos dizer que o “helenismo “significa algo como 
“viver como os gregos.” Esse período da história compreende desde a morte de Alexandre, 
O Grande – 323 a.C. até a anexaçãoda península grega e suas ilhas por Roma em 146 
a.C. O helenismo registrou um grande impacto e influência no encontro entre as culturas 
ocidentais e orientais desde a filosofia, passando pelas artes, pela ciência e, até mesmo, 
pela religião.
NOTA
A partir de tal perspectiva passam a existir inúmeras escolas filosóficas 
responsáveis por inserir, na cultura romana, os elementos de uma leitura sobre o 
conhecimento humano, bem como as suas perspectivas éticas e estéticas. 
Um dos maiores estudiosos da filosofia antiga, o francês Pierre Hadot 
(2006) costuma-se referir-se ao helenismo como um importante e potente espaço 
para o fortalecimento da filosofia como forma de vida. 
FIGURA 5 – O FILÓSOFO FRANCÊS PIERRE HADOT (1922 – 2010)
FONTE: <https://www.optimize.me/authors/pierre-hadot/>. Acesso em: 28 abr. 2020.
Pierre Hadot foi um dos maiores estudiosos das escolas filosóficas da 
antiguidade. Dentre essas escolas filosóficas podemos destacar, em primeiro 
lugar, o cinismo. Criado por Diógenes (404 a.C. – 323 a.C.), o cinismo defendia a 
radicalização da própria atividade filosófica. O filósofo cínico deveria promover 
uma atitude de completo despojamento das regras elementares para a existência. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
11
Desse modo, o cinismo era compreendido como um ataque frontal a toda 
moralização vigente. Diógenes, por exemplo, fazia amor em público, bem como 
praticava seus rituais de escatologia sem o menor pudor. 
Contudo, nenhuma atividade cínica era mais radical do que o exercício da 
parresía. A coragem do sujeito expressar-se livremente não temendo sequer a mais 
absoluta tirania. Foucault (2013) nos lembra que a parresía praticada pelos cínicos 
compreendia uma prática de verdade fundamental aos horizontes políticos, pois 
por meio dela, os cínicos desafiavam toda ordem social vigente. 
A parresía significa, em uma tradução livre, “coragem da verdade”, ou, 
ainda, “franco dizer”. Sua proveniência remete ao período conhecido como democracia 
pericliniana. Uma época marcada, sobretudo, pela experiência de radicalização da atividade 
política. 
NOTA
O epicurismo foi outra escola filosófica muito importante dentro do 
helenismo. Seu criador foi Epicuro (342 a.C. – 271 a.C.). Basicamente, o epicurismo 
defendia a tese de que a obtenção da felicidade se daria pela mais absoluta vigília 
do sujeito em relação aos seus próprios apetites carnais. Hadot recupera uma 
importante mensagem transmitida por Epicuro a seus discípulos aonde podemos 
ler: “A voz da carne diz: não se deve sofrer a fome, a sede e o frio; aquele que é 
senhor disso, e tem a esperança de possuí-lo no futuro, pode lutar até mesmo com 
Zeus pela felicidade (EPICURO apud HADOT, 2006, p. 170). 
É importante lembrarmos que, por “carne”, Epicuro refere-se ao corpo 
do sujeito. Logo, para os epicuristas não havia a separação entre corpo e alma, 
da mesma maneira que, não existia prazer ou sofrimento sem que se tivesse um 
estado de consciência capaz de permitir ao sujeito escolher, de forma racional, os 
seus prazeres. 
Justamente por conta de tal perspectiva, é que Epicuro, em conjunto com 
seus discípulos, passa a compreender que essa busca pela felicidade não estaria 
mais no espaço do embate político, da guerra, das conquistas ou da aquisição dos 
bens materiais, mas justamente do equilíbrio entre racionalidade e emoção. 
Nesse sentido, Epicuro formulou nas suas escolas, o que ele mesmo 
chamou de jardins, espaços clínicos onde seus discípulos poderiam, antes de 
tudo, aplicar o ensino fundamental das experiências do prazer a partir de uma 
condição terapêutica. 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
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FIGURA 6 - LE SACRE DU PRINTEMPS OU A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA
IGOR STRAVINSKY & VASLAV NIJINSKY REGISTRA, COM PRECISÃO OS EFEITOS TERAPÊUTICOS 
DO JARDIM DE EPICURO
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Le_Sacre_du_Printemps>. Acesso em: 24 abr. 2020.
Por fim, outra escola que merece destaque dentro do helenismo foi o 
estoicismo. Criada por Zenão (495 a. C. – 425 a.C.) essa escola foi, a que mais 
encontrou adeptos dentro o que via a ser conhecido mais tarde como Império 
Romano. Basicamente, o estoicismo defendia a tese de que os sujeitos deveriam 
abster-se de todas as formas de vícios e prazeres, por meio da aplicação de 
exercícios espirituais. 
Os estoicos foram muito importantes por ilustrarem toda uma 
performatividade moral em torno das escolhas do sujeito como a preponderância 
pelo vínculo matrimonial, pela abstinência sexual e pelo despojamento dos bens 
materiais. 
Um dos filósofos romanos mais influenciados pelo estoicismo foi Sêneca (4 
d.C. – 65 d.C.), um importante interlocutor e guia espiritual com grande influência 
no interior do Império. Sêneca escreveu uma vasta obra, na qual exortava todos 
os políticos a exercitarem seu espírito de modo a desenvolverem suas práticas de 
governo. Entre esses textos destacam-se “As Cartas”, documentos prescritivos e 
correspondências nas quais Sêneca procurava estabelecer as regras fundamentais 
para o exercício da prática filosófica, do amor pelo conhecimento e do cuidado do 
sujeito com relação a si mesmo. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
13
Um dos discípulos mais ilustres de Sêneca fora o imperador romano Nero. 
Sêneca foi um importante conselheiro político, buscando exercer sua influência de modo 
a fazer com que Nero pudesse exercer o seu governo a partir de uma política justa e 
humanitária. No ano de 65, porém, Sêneca foi acusado de uma conspiração pela tentativa 
de assassinato de Nero, sendo, dessa maneira, sentenciado à morte.
NOTA
Conforme podemos observar, o helenismo exerceu uma influência decisiva 
para a filosofia romana e para a contextualização de uma possível existência da 
psiché na vida ativa do Império Romano. 
Muitos imperadores foram influenciados pelas escolas filosóficas, mas 
em absoluto, nenhum deles foi tão fortemente influenciado como Marco Aurélio 
(161 – 180). O imperador filósofo – como também é conhecido – publicou uma 
série de reflexões influenciado pelo estoicismo. Esses livros receberam o título de 
“Meditações”. 
Basicamente, suas ideias giram em torno de reflexões sobre o necessário 
controle das emoções que, por sua vez, poderiam libertar o sujeito do sofrimento 
causado pelo mundo material. 
Nesse sentido, ele recomendava ao sujeito desenvolver o que ele mesmo 
chamava de exame de consciência. Tratava-se de uma atitude crítica, por meio 
da qual o sujeito deveria examinar cotidianamente todos os seus atos, buscando 
o seu aperfeiçoamento pessoal. 
Da mesma forma que Marco Aurélio, outro filósofo muito importante 
para a época fora Artemidoro (Séc. II d.C.) um amante da filosofia grega e que, 
dedicou, grande parte de sua vida ao estudo interpretativo e analítico dos sonhos. 
A essa perspectiva Artemidoro desenvolveu um método de trabalho nomeado 
por ele de Onirocrítica. 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
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FIGURA 7 - MUITO ANTES DA PSICANÁLISE OU MESMO DO SURREALISMO OS SONHOS 
FORAM OBJETOS DE ADMIRAÇÃO E INTERPRETAÇÃO, POR PARTE DAS ESCOLAS 
FILOSÓFICAS DA ANTIGUIDADE
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Surrealismo>. Acesso em: 24 abr. 2020.
Para Artemidoro, a interpretação dos sonhos era possível graças a 
justaposição das semelhanças. Nesse caso, as chaves para essa análise dependiam 
de uma série de características como: a idade, o gênero e a posição social do sujeito. 
Ainda com relação a essa análise, os sonhos sexuais ganhavam um 
destaque muito importante a partir de uma tripla perspectiva: em primeiro lugar 
havia os atos consonantes com a lei – kata nomom –, em segundo lugar, os atos 
contrários à lei – para nomom – e, finalmente, os contrários à natureza – para phusin 
– de todo o modo, essas subdivisões eram importantes para destacar as rupturas 
e diferenças entre às leis e à natureza, ou seja, os atos contrários a ordem socialvigente e, os contrários à conduta humana. Nesse contexto Foucault nos lembra 
que: 
[...] a prática interpretativa tal como ele opera no discurso de Artemidoro 
mostra que o próprio sonho sexual é percebido, elaborado, analisado, 
como uma cenário social; se ele anuncia o “bom” e o “mau” no campo 
do ofício, do patrimônio, da família, da carreira política, do status, das 
amizades e das proteções, é porque os atos sexuais que ele representa 
são constituídos pelos mesmos elementos que ele (FOUCAULT, 1985, 
p. 36). 
É a partir dessas experiências evocadas por esses pensadores que a 
psicologia no Império Romano vai, aos poucos tomando a forma, de conselheira 
espiritual dos sujeitos. Esses sistemas filosóficos passam a influenciar diretamente 
as práticas cotidianas durante o Império. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
15
Um dos maiores historiadores do mundo romano, chamado Paul Veyne 
(1980), chega mesmo a afirmar que, diferentemente do que se convencionou a 
acreditar, a lei que regia Roma não era o “sangue”, mas a formação do que ele 
chama de “vínculo familiar”. 
Diferentemente da Grécia Antiga em que as sistematizações da política e 
da cidadania ou mesmo da filosofia eram restritas a um círculo muito reduzidos 
de sujeitos, em Roma passa a existir, por meio das famílias a universalização dos 
próprios sujeitos. 
FIGURA 8 - O HISTORIADOR FRANCÊS PAUL VEYNE
FONTE: <https://booksandideas.net/The-Curious-Monsieur-Veyne.html>. Acesso em: 28 abr. 2020.
Os desdobramentos da psicologia na Roma Antiga reverberam sobre as 
práticas culturais voltadas para os sujeitos trabalharem as suas emoções a partir 
de uma doutrina fortemente amparada nas perspectivas filosóficas das formas de 
vidas voltadas para o aperfeiçoamento e o cuidado de si mesmo. 
Portanto, o papel da cultura romana sobre a psicologia será de fundamental 
importância no que se refere à popularização desse acontecimento nomeado 
como cuidado de si. 
4 A PSICOLOGIA E O CRISTIANISMO 
O cristianismo é uma doutrina espiritual criada por Jesus e seus discípulos 
para anunciar, por um lado, a iminência do fim do mundo e, por outro lado, 
o advento do Reino de Deus. Trata-se de uma mensagem radicalmente oposta 
às culturas gregas e romanas. Essas duas últimas, jamais preocuparam-se em 
estabelecer um vínculo entre a existência dos sujeitos e a revelação escatológica 
dos fins dos tempos. 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
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A ideia de inferno que conhecemos não é uma invenção do Cristianismo, 
mas, sim, uma apropriação do que os gregos chamavam de Hades? Geralmente, o Hades é 
representado na mitologia grega como o “mundo inferior”. Essa terra dos mortos era aonde 
todos deveriam esperar pelo seu julgamento após a morte. Com o Cristianismo cria-se 
a ideia de que o inferno é um lugar aonde apenas os hereges deverão expiar pelos seus 
pecados.
INTERESSA
NTE
Contudo, a história mostra que após um século do desaparecimento 
de Jesus, alguns pensadores se esforçaram para apresentar o cristianismo não 
somente como uma filosofia, mas como a filosofia. Por conta de tal aspecto, a 
pergunta a ser feita seria: quais as condições de possibilidades que permitiram, 
durante muitos anos, o cristianismo tornar-se uma força hegemônica? 
Para que possamos esclarecer essa questão devemos compreender as 
possíveis relações entre as culturas grega e judaica. Essas duas perspectivas 
encontram-se representadas pelos trabalhos desenvolvidos por Fílon de 
Alexandria (15 a.C. – 45), filósofo judeu contemporâneo da era cristã. 
Por meio dos seus terapeutas de Alexandria, Fílon criou todo um estilo, 
ou melhor, uma exegese capaz de estabelecer a relação entre o inefável e o logos. 
Para Fílon, o logos designava não somente o discurso, mas a possibilidade de 
criação do mundo e de todas as coisas. 
Essa inspiração de Fílon foi extraída do Evangelho de João onde nos 
primeiros versículos podemos ler: 
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era 
Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas 
por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida 
era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a 
compreenderam. Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era 
João. Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que 
todos cressem por ele. Não era ele a luz, mas para que testificasse da 
luz. Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem 
ao mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo 
não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos 
filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do 
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de 
Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, 
como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade (JOÃO 
EVANGELISTA, BÍBLIA SAGRADA, 1995, 01:14, p. 1082).
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
17
Em todo esse conjunto de palavras, a que mais chama a atenção é o 
Verbo/logos. Por conta dessa palavra, é que uma filosofia cristã foi possível. 
Evidentemente que encontramos o emprego do logos entre os gregos e romanos. 
Contudo, para eles o significado de tal termo é resumido na relação entre discurso 
e razão. 
No Prólogo do Evangelho de João, o logo ganha uma representação eterna, 
uma vez que, a figura de Deus é tida como a razão responsável por instituir um 
guia de conduta não somente para o pensamento, mas também para as ações do 
sujeito. Ao proclamar que o “Verbo era Deus” e, mais tarde que o “logos se fez 
carne e habitou entre nós”, João constituiu, de acordo com Hadot (2006), uma 
experiência filosófica que liga a alma do mundo com o corpo do sujeito. 
Os primeiros cristãos, portanto, produziram uma experiência filosófica 
que aproxima, portanto, a doutrina cristã de temas até então tipicamente comuns 
à filosofia. Para os filósofos cristãos do século II, os gregos e romanos possuíam 
apenas uma limitação da compreensão totalizada do logos e, somente com a 
emergência do cristianismo é que passa a existir, o discurso verdadeiro da razão 
encarnada na figura de Jesus. 
Os primeiros filósofos cristãos são chamados pelos historiadores de 
apologistas. Eles receberam essa designação por desenvolverem uma reflexão voltada para 
a aproximação das formas de vidas filosóficas com as questões ligadas ao cristianismo.
NOTA
Ao considerarem o fato de que, o exercício filosófico consistia em 
estabelecer uma aproximação do discurso com a razão, os cristãos passaram a 
compreender que também eram filósofos, pois viviam em consonância com o 
logos divino. O cristianismo, por conseguinte, é a revelação completa do logos, 
transformando-se em uma atitude filosófica responsável por incitar todos os 
sujeitos a se conduzirem buscando se assemelhar a Deus como princípio de uma 
vida transcendental. 
Por se afirmar como uma experiência revelada, o cristianismo procura 
articular a relação do discurso com o modo de vida. Dessa maneira, desde 
seu aparecimento operou as suas reflexões tanto no texto bíblico, como nos 
ensinamentos filosóficos. 
Desse modo, da mesma maneira que os platônicos propunham cursos 
baseados nos diálogos do seu mestre, cristãos como Orígenes (184 – 253) 
propunham exercícios espirituais a partir da leitura de livros como os Provérbios 
e o Eclesiastes. 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
18
FIGURA 9 - O CRISTIANISMO EM ROMA
FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/cristianismo-primitivo.htm>. 
Acesso em: 28 abr. 2020.
Todo esse conjunto de ensinamentos deve ser observado como uma como 
uma introdução para a vida espiritual em consonância com o desenvolvimento 
espiritual do sujeito. Isso quer dizer que, o estudo sistemático das escrituras, 
constituiua base para a formação da subjetividade cristã. 
Por meio da ascese, os primeiros cristãos elaboravam um procedimento de 
aprendizagem do discurso filosófico, como também a produção de uma estética 
da existência que constituirá o modo de vida cristão. 
Se o logos é a revelação divina e a manifestação de Deus, é possível 
encontramos as ressonâncias de uma teologia sistemática já nos filósofos gregos. 
Tomemos como exemplo os livros Timeu, de Platão (2003) e Metafísica, de Aristóteles 
(1979). Nesses livros, enxergamos de diferentes fontes de revelação, modos de 
conduta e, distintos graus de manifestações divinas que serão incorporadas ao 
cristianismo. 
Isso significa que, a partir dessa perspectiva, a filosofia grega será o alicerce 
sob o qual toda arquitetura cristã foi construída. Ocorre que a estratificação do 
cristianismo como filosofia precisa ser observada não somente como uma cultura 
exegética, mas também como um estilo de vida, um modo de ser. Em outras 
palavras, não devemos conceber o cristianismo como um dogma religioso tão 
somente, mas sim uma sabedoria de vida e uma maneira de se viver de acordo 
com a razão divina. 
Justino (100 – 165) – um dos primeiros apologistas – costumava afirmar 
que, mesmo aqueles que vieram antes de Jesus – levando uma vida em consonância 
com o logos – eram cristãos, pois praticavam exercícios espirituais semelhantes 
aos primeiros praticantes do cristianismo. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
19
Da mesma maneira, Clemente de Alexandria prescrevia que, alguns dos 
prazeres precisariam levar em conta a tranquilidade da alma – amrimnia –, a 
prudência – eulaeia –, e à atenção do sujeito consigo mesmo – prosoche – essas três 
prescrições constituem o núcleo do pensamento da filosofia cristã a partir de uma 
experiência muito importante, no caso, o exame de consciência. 
Desse modo, o sujeito deveria dirigir seu exame para os sentimentos e 
ações, bem como questionar-se constantemente quanto as suas ações éticas 
e morais. Esse procedimento seria responsável por provocar no sujeito, uma 
minuciosa análise sobre seus atos e sentimentos. 
Nesse sentido, a filosofia cristã ganhará, cada vez mais, o tom de uma luta 
travada pelo cristão contra si mesmo, a tal ponto que, a partir do século IV muitos 
filósofos ligados ao cristianismo desenvolveram a ideia de que, para o sujeito 
ser um bom cristão, era necessário ser um herói e, esse heroísmo, consistia em 
produzir um estilo de vida próximo a de Jesus. 
É diante de tal cenário que emergem no cristianismo, os primeiros rituais 
de isolamento, de meditação, de batismo enfim, uma série de práticas voltadas 
para a produção de um rompimento absoluto da vida considerada devota com o 
mundo exterior.
FIGURA 10 - BATISMO DE CRISTO DE PERUGINO
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Batismo_de_Jesus>. Acesso em: 24 abr. 2020.
O batismo é uma das formas mais tradicionais do martírio instituído pelo 
cristianismo.
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
20
 Quando Basílio de Cesareia (330 – 379) proclama a frase: “[...] guarda-te 
de ter em teu coração um pensamento vil (BASÍLIO DE CESAREIA, 1999, p. 85)”, 
refere-se ao fato de que, guardar a si mesmo significa constituir um guia para a 
vida cotidiana baseado nos princípios racionais de pensamento e ação, por meio 
de um cuidado com o corpo e com a alma. 
Da mesma forma que os filósofos gregos e romanos, os cristãos ao 
promoverem o martírio, estabeleciam uma ruptura em relação aos bens materiais 
e examinar detalhadamente a consciência procurando estetizar-se da melhor 
forma possível segundo a filosofia cristã. 
A ascese cristã é um ritual de aproximação do corpo e da alma e, somente 
quando ocorre essa aproximação é que um estilo de subjetividade cristã possui a 
condição preliminar do sujeito viver de acordo com a vontade de Deus. Isto é, ao 
adotar um estilo de vida cristão, o sujeito associava a racionalidade com a palavra 
por meio do estudo aprofundado da Bíblia. Contudo, esse projeto só pôde ser 
concretizado quando o sujeito estaria apto a reconhecer a verdadeira realidade. 
Esse empreendimento encontra-se ancorado na busca pela coragem da 
verdade e, dessa maneira, os primeiros cristãos resgatam inclusive o conceito de 
parresía. A parresía aparece no Novo Testamento como uma convocação para o 
sujeito possuir uma fé contagiante a partir da abertura total do seu coração. 
De acordo com Foucault (2013), esse modelo de parresía seria uma 
modalidade da manifestação humana em consonância com o logos divino. 
Nesse sentido, essa prática de acordo com Foucault (2013) possui dois 
contextos muitos específicos: em primeiro lugar, essa é a inscrição de um processo 
de subjetivação dos primeiros cristãos. E, ao mesmo tempo essa inscrição não é 
da ordem verbal, mas manifestada a partir da confiança do sujeito em relação a 
Deus. 
A confiança é o ponto de partida do recurso parresiástico empregado 
no contexto do cristianismo. Isso significa por um lado que, ao crer no nome 
de Deus, o cristão sabe automaticamente que a vida eterna é o presente mais 
precioso concedido por Deus. Por outro lado, ao dirigir-se a Deus, o cristão não 
deveria esperar nada além dos desejos de Deus. 
Por conta desses aspectos, a prece ou a vontade do sujeito nada mais era 
do que uma remissão a Deus da sua própria vontade. Isso significa que a relação 
de confiança e de segurança presente na parresía cristã circula pelo princípio de 
obediência e, dentro dessa circularidade, encontra-se a crença na vida eterna e o 
pedido sincero para que seja feita sempre a vontade de Deus. 
Por conta desses aspectos, é que os primeiros cristãos construíam as suas 
experiências éticas e estéticas baseadas na vida do próprio Jesus. Esse símbolo de 
confiança significava o estabelecimento de uma aliança nos quais os cristãos que 
possuem fé não deviam pedir a Deus nada além daquilo que era a sua vontade. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
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Existia, portanto, nesse estilo de vida uma atitude voltada para a confiança 
do sujeito em relação ao seu destino. Por exemplo, a biografia de João Crisóstomo 
(347 – 407), retratada no livro Tratado das Providências relata que, no momento 
de perseguição aos cristãos por forças políticas muitos, não hesitaram em se 
tornarem almas invencíveis, cuja sabedoria não se deixava subjulgar por meio da 
audácia e da coragem. 
Esses dois elementos são inscrições da perspectiva que enaltecia a 
capacidade de certos sujeitos em se tornarem mártires de uma forma proveitosa 
e útil. Da mesma maneira, Gregório de Nissa (335 – 394) em Tratado da Virgindade 
elabora uma reflexão importantíssima sobre o estilo de vida dos cristãos a partir 
do estabelecimento de um estilo de vida ligado ao despojamento e a confiança em 
relação a Deus. 
Nesse sentido, podemos afirmar que o estilo de vida dos primeiros 
cristãos ligados a essa experiência instituiu toda uma reflexão sobre os modos de 
conduta responsável pelo desenvolvimento e pela própria institucionalização do 
cristianismo com a emergência da Igreja Católica. 
5 A PSICOLOGIA NA IDADE MÉDIA 
A Idade Média compreende o período marcado pela decadência do 
Império Romano até a expulsão dos árabes da Europa. Esse período – que 
durou do século V ao XV – entrou para a história como uma época marcada pela 
hegemonia da Igreja Católica nos campos da filosofia, das artes e das ciências. 
FIGURA 11 – O FILME O NOME DA ROSA
FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-2402/>. Acesso em: 28 abr. 2020.
O filme “O Nome da Rosa” é um retrato muito importante sobre a Idade 
Média.
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
22
Durante esse período destaca-se um alto grau de despovoamento das 
cidades devido às invasões bárbaras. Dessa maneira, o cristianismo passa a se 
disseminar a partir da estruturação dos primeiros monastérios. Esses monastérios 
desenvolveram todo um estilo de vida,próprio a ortodoxia católica. Geralmente, 
administrado por comunidades eclesiásticas subordinadas a Roma, os monastérios 
eram edificados como espaços de uma profunda reflexão interior, por parte do 
sujeito, acerca da sua condição e também para o exercício da expiação. 
Contudo, havia também outras ordens religiosas que procuravam 
estabelecer os pressupostos da forma de vida como elemento de subjetivação. 
Essas ordens receberam o nome de mendicantes e, eram formadas por homens 
e mulheres que procuravam renunciar a toda e qualquer ordem material a partir 
dos princípios da pobreza. 
Hierarquicamente, as ordens religiosas são estruturadas a partir de quatro 
grandes categorias: as monásticas, as mendicantes, as regrantes e as de clérigos regulares. 
Muitas dessas ordens nascem durante a Idade Média e se perpetuam até os dias de hoje.
NOTA
Essas ordens buscam administrar toda a vida da sociedade a partir dos 
elementos voltados para a busca pelo conhecimento. É nesse período que Bento 
de Nurcia (480 – 547) – conhecido depois como São Bento – elaborou um manual 
muito importante em torno do processo de subjetivação. As Regras Monásticas 
caracterizam-se como um conjunto de preceitos voltados para a regulação da 
vida monástica. 
As questões envolviam desde o ritual da ascese, como também os 
elementos voltados para o cuidado com a alimentação, o vestuário, as orações e 
todo um conjunto disciplinar para os elementos de uma virtude cristã. 
Assim como São Bento, outro intelectual muito importante para esse 
período foi São Francisco de Sales (1567 – 1622), responsável pela publicação do 
livro Introdução a Vida Devota, na qual Sales desenvolve, por meio de um conjunto 
de epístolas, os elementos voltados para a vocação religiosa e para a devoção. 
Essas duas perspectivas, apontadas por São Bento e São Francisco de 
Sales, são muito interessantes para visualizarmos um acontecimento relevante 
proveniente da Idade Média, no caso, o poder pastoral. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
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FIGURA 12 - MICHEL FOUCAULT
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault>. Acesso em: 24 abr. 2020.
O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) desenvolveu muitos estudos 
sobre o poder pastoral. Para Foucault (2008) o poder pastoral desenvolvido na 
Idade Média caracterizava-se como uma economia de poder responsável, por 
administrar a vida dos homens em consonância com o cristianismo. Tratava-se, 
portanto, de um estilo de governo voltado para a salvação das almas por parte do 
pastor. Segundo aponta Martin (2010, p. 28):
[...] através de um controle insidioso sobre o indivíduo e, é dessa 
maneira que a sua subjetividade será moldada. O poder pastoral é uma 
forma de poder na qual um sujeito (um guia) influencia a subjetividade 
de outro sujeito através do reforço do controle e da dependência, tanto 
através de uma política de identidade como pelo conhecimento de si. 
O poder pastoral torna-se possível pelo conhecimento em termos de 
conscientização e a capacidade do pastor em dirigir permanentemente 
a consciência do indivíduo. 
Dessa maneira, um dos traços fundamentais do poder pastoral refere-
se ao fato dessa modalidade de poder indicar, por meio do seu agenciamento 
de governo, a formação de uma economia da salvação na qual o sujeito ligava 
o problema do conhecimento de si – como um instrumento que dependia da 
capacidade dele aceitar incondicionalmente todas as diretrizes estipuladas pelo 
pastor – com os elementos das regras monásticas e da vida devota. 
Esse processo de condução das condutas está baseado na relação 
fundamental da aliança de Deus, o pastor e os homens. Nesse caso, o pastor, 
mais especificamente, atuaria como um mediador da experiência política com a 
experiência religiosa. 
Nesse contexto, o pastor era aquele que recebia a responsabilidade de 
conduzir todo o rebanho à terra prometida a partir de uma constatação bíblica. 
Quando escravos no Egito, Deus confiara a Moisés a responsabilidade de conduzir 
o rebanho por todo o deserto. 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
24
FIGURA 13 - A ALIANÇA ENTRE DEUS E OS HOMENS DEPENDIA DA MEDIAÇÃO DO PASTOR
REPRODUÇÃO DA ABERTURA DO MAR VERMELHO
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Mar_Vermelho>. Acesso em: 24 abr. 2020.
A escolástica foi um movimento teológico responsável por orientar os 
preceitos da fé a partir da filosofia e da ciência. A escolástica foi um método adotado por 
muitos monastérios e universidades a partir da articulação entre os saberes cristãos, a 
filosofia de Platão e de Aristóteles e das ciências naturais.
NOTA
Da mesma forma que Agostinho, outro nome muito importante dessa 
perspectiva foi Thomas de Aquino (1225 – 1323). Thomas de Aquino foi responsável 
pelo desenvolvimento de uma epistemologia voltada para o conhecimento da 
verdade a partir da elaboração da fé como elemento fundamental da vida cristã. 
Desse modo, Thomas de Aquino acreditava que a fonte de toda a verdade 
era encontrada na natureza da fé a partir da revelação natural e sobrenatural. A 
fonte de toda essa inspiração é refletida pelo Espírito Santo. 
Ainda com relação a esse aspecto, acreditava que a existência de Deus era 
possível de demonstração a partir de um conceito muito importante, no caso, o de 
causa primeira. Deus, para ele é movimento a partir de uma elaboração, segundo 
a qual todas as finalidades residem na vontade de Deus. 
Essas premissas levantadas por esses dois intelectuais foram de extrema 
relevância para o exercício da vida religiosa na Idade Média. Desse modo, 
a psicologia, nesse período, compreendia as relações entre a vida sagrada a 
partir de um momento muito importante para as experiências dos processos 
de subjetivação e dos movimentos ondulatórios que fizerem aparecer outros 
acontecimentos intrínsecos a esse período como o Renascimento e, mais tarde, o 
Iluminismo. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
25
6 A PSICOLOGIA NO NASCIMENTO DA MODERNIDADE: 
DO RENASCIMENTO AO ILUMINISMO
Com a crise dos sistemas econômicos, políticos e culturais da Idade Média, 
começam a emergir uma série de novas forças que ousarão questionar o sistema 
hegemônico e ideológico da Igreja Católica. Esses movimentos estão intimamente 
ligados a dois acontecimentos muito importantes para a nossa sociedade: o 
Renascimento e o Iluminismo. 
Contudo, antes de definirmos esses dois episódios, é necessário 
compreendermos alguns aspectos relevantes para uma problematização dessa 
hegemonia. O primeiro deles ficou conhecido, em linhas gerais, como Reforma 
Protestante. Essas reformas foram desenvolvidas a partir de três grandes linhas 
de atuação religiosa, como também política. 
A Reforma Protestante não foi meramente um movimento reformista, 
mas um movimento de contraconduta. No ano de 1517, às portas da Igreja de 
Wittenberg, Martinho Lutero (1483-1543) desenvolve as suas 95 teses voltadas, 
sobretudo, às críticas em relação às vendas de indulgências por parte da Igreja 
Católica. 
O desenvolvimento dessas teses gerou uma forte onda de insurreições 
espirituais e políticas por toda a Europa. Diversos reinados começaram a 
desenvolver uma problematização em relação a aspectos centrais da vida pública 
e privada. Com a insurgência de Lutero, outros dois intelectuais foram fortemente 
influenciados por essa dinâmica. Na Inglaterra por exemplo, o Rei Henrique VIII 
– fortemente influenciado pelos ideais de Lutero – resolve romper as relações 
com a Igreja Católica a partir da fundação do anglicanismo. 
O anglicanismo torna-se a primeira religião de Estado da era moderna. No 
ano de 1561, o anglicanismo desenvolve uma exortação à reforma modificando 
radicalmente, os seus dispositivos de liderança a partir do desenvolvimento com 
o congregacionismo. Ou seja, a finalidade de congregação do sacramento, por 
parte do pastor, a partir de eleições voltadas para o sacramento religioso. 
Da mesma forma João Calvino (1509 – 1564), foi um importanteinterlocutor do protestantismo. Responsável pela criação do calvinismo, João 
Calvino defendeu as suas teses refutando a tese católica do pecado original. Para 
Calvino, a herança teológica de Deus aos homens em relação às suas riquezas 
era sinal da graça divina. Logo, a experiência religiosa deveria ser voltada para o 
acúmulo da riqueza, por meio da ascensão burguesa. 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
26
FIGURA 14 - O MURO DOS REFORMADORES LOCALIZADO NO PARQUE DOS BASTIÕES EM 
GENEBRA. DA ESQUERDA PARA À DIREITA: GUILHERME FAREL, JOÃO CALVINO, TEODORO DE 
BEZA E JOÃO KNOX
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Muro_dos_Reformadores>. Acesso em: 24 abr. 2020.
Como vimos, o papel da Reforma Protestante foi imprescindível para 
o nascimento da Modernidade. No campo da economia, por exemplo, muitos 
reinados tornaram-se protestantes com o intuito de estabelecer uma fissura em 
relação ao poder da Igreja Católica. A crescente ascensão burguesa fez explodir 
na Itália, berço do catolicismo um elemento cultural muito importante que ficou 
conhecido como Renascimento. 
Basicamente, o Renascimento trata-se de um movimento cultural que 
procurava estabelecer os elementos de um retorno às origens da nossa civilização, 
ou seja, suas matrizes grega e romana. O Renascimento caracteriza-se, portanto, 
como um crivo potencialmente humanista no qual o homem passa a ser o centro 
do Universo e não mais a figura de Deus. 
O Renascimento é um período de valorização acentuada do Humanismo. 
Etimologicamente, o humanismo deriva do latim humanitas que significa erudição e/ou 
cultura.
NOTA
Um dos maiores renascentistas foi Nicolau Copérnico (1473 – 1543). 
Copérnico foi responsável pelo desenvolvimento do heliocentrismo. Em Da 
Revolução das Esferas Celestes Copérnico desenvolve sua teoria no sentido de 
propor que a terra não era o centro do Universo, mas o sol. 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
27
Essa ruptura foi, de fundamental importância, para o desenvolvimento 
das experiências do humano em detrimento ao transcendentalismo teológico. 
Enquanto que, na Idade Média, todas as reflexões eram dedicadas a pensar as 
bases da teologia, no Renascimento o sujeito – sem negar obviamente a Deus – 
deve encontrar o seu lugar no mundo a partir das experiências da filosofia, das 
artes, da economia e da ciência. 
FIGURA 15 - O FILME O CÓDIGO DA VINCI
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/O_C%C3%B3digo_Da_Vinci_(filme>. Acesso em: 24 abr. 
2020.
O filme “O Código da Vinci”, de Ron Howard é uma importante alegoria 
sobre os impactos do Renascimento na Modernidade. 
Os pontos destacados pelos renascentistas compreendiam a contemplação 
do humano que, por meio da arte e da ciência poderia reaproximar-se das suas 
condições originárias. Isso significa que o sujeito deveria se elevar sobre a natureza. 
Isso porque ele é o único capaz de compreendê-la, modelá-la e dominá-la. 
Desse modo, as obras renascentistas buscaram estabelecer um grau 
de complexidade o nível de excelência do humanismo como referência para o 
desenvolvimento da cultura moderna. 
É nesse contexto que, no campo da psicologia e da filosofia inúmeros 
pensadores irão dedicar grandes esforços no sentido de pensar os elementos 
fundamentais ligados à experiência moderna da nossa própria subjetividade. 
Um desses intelectuais foi Rene Descartes (1596 – 1650). Nascido na França, 
Descartes fez toda a sua formação junto aos jesuítas. Ele era, portanto, discípulo da 
escolástica vigente. A época de Descartes, o pensamento filosófico era fortemente 
influenciado pela lógica aristotélica, segundo a qual as coisas ocupam seu lugar 
no mundo buscando retornar a elas mesmas. Afastando-se dessa concepção, 
Descartes elabora o seu método racionalista, para afirmar que o motor principal 
do espírito científico não são as coisas em si, mas a dúvida. É por meio da dúvida 
que a ciência pode ocupar um lugar no mundo. Essa dúvida é expressa na clássica 
fórmula: cogito ergo sum, ou penso, logo sou. Esse enunciado contribuirá para 
o desenvolvimento do momento cartesiano nas ciências como um todo, pois até 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
28
para Descartes o sujeito não possuía qualquer estatuto. É somente a partir de suas 
reflexões que serão estabelecidas as bases de um racionalismo intrínseco ao sujeito. 
Isso significa que somente pode pensar aquele que duvida, mas esta 
dúvida se encontra no horizonte de racionalidade a qual é inata ao sujeito. 
Ao formular as bases para o seu método racionalista, Descartes acaba 
lançando a ciência moderna em um debate complexo sobre as origens do conhecimento. 
Os seguidores de Descartes ficaram conhecidos como racionalistas e, formulavam suas 
reflexões no sentido de compreender o sujeito como alguém naturalmente dotado das 
faculdades racionais do pensar. Descartes, portanto, inaugura o que mais tarde veio a ficar 
conhecido como inatismo, ou seja, o fato de que o sujeito já nasce pronto e, tudo o que 
lhe resta a fazer, é resgatar esse conhecimento.
NOTA
Na contramão das teses cartesianas sobre o conhecimento e sobre o 
sujeito, os empiristas ingleses passam a desenvolver outra teoria que também 
será decisiva para o nascimento da psicologia na Modernidade. Esses empiristas 
foram responsáveis pelo desenvolvimento da tese de que, o sujeito é como uma 
tábula rasa e, tudo o que ele aprende, bem como as suas potencialidades, só pode 
ser objeto das suas experiências. 
Entre esses empiristas, destaca-se em primeiro lugar Thomas Hobbes 
(1588 – 1679), um eminente jurista e filósofo. Hobbes vivera em uma Inglaterra 
assolada por diversas guerras, insurreições e revoltas. Portanto, muitas de suas 
obras são uma reflexão direta sobre à formação de um Estado moderno e com 
características voltadas para a soberania. 
Em Leviatã: matéria, palavra e poder de um governo eclesiástico e civil, Hobbes 
aponta que, no estado de natureza, os sujeitos são impelidos ao confronto uns 
contra os outros. A essa perspectiva Hobbes nomeia esses conflitos de estado de 
natureza. Logo, os sujeitos devem abrir mão dessas táticas e, consequentemente 
estabelecer a mediação desse processo por meio do contrato social, pois na 
natureza o homem é lobo do homem. 
Nesse sentido, podemos entender que Hobbes propõe uma aliança entre 
os sujeitos e o Estado na qual, os primeiros abrem mão da sua liberdade, em troca 
da segurança prometida nos mais variados níveis – saúde, educação, transporte, 
moradia etc. 
Um segundo empirista muito importante para a modernidade foi John 
Locke (1632 – 1704). Locke é considerado, por muitos, como o pai da doutrina 
econômica chamada liberalismo. No livro Ensaio Acerca do Entendimento Humano, 
TÓPICO 1 | AS ORIGENS FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA
29
Locke fundamenta as bases do direito natural, intrinsecamente ligado ao problema 
da propriedade privada. 
Diferentemente de Hobbes, Locke acreditava que os sujeitos poderiam, diante 
de um governo injusto, recusar as formas de governo as quais eram submetidos. Desse 
modo, quando algum governante retira direitos ou viola as garantias fundamentais, 
o exercício da resistência torna-se uma obrigação. Nesse contexto, passa a existir, 
segundo Locke, uma forte ocupação por parte do Estado, em garantir os interesses 
individuais e não o bem comum como se acreditava até então. 
Por fim, outro grande empirista, nascido já nos limiares do século 
XVIII, fora David Hume (1711 – 1776). Hume criou o que se conhece hoje por 
ceticismo filosófico. Trata-se de um método capaz de estabelecer uma crítica ao 
dogmatismo racionalista a partir da seguinte constatação: não há, na natureza 
humana, uma verdade absoluta. Isso porque é o sujeito quem define e, portanto, 
contamina toda experiência por conta da sua própria subjetividade. Logo, todo 
conhecimento, por mais confiável que seja, não pode abrir mão de dois princípios 
básicos: a causalidade e a necessidade.Por conta das reflexões elaboradas tanto por Descartes, quanto pelos 
empiristas ingleses é que uma ciência psicológica se tornará possível no século 
XIX. Entretanto, o debate sobre as origens do conhecimento humano quase 
ocasionou o fim da filosofia e das ciências do homem, propriamente ditas até o 
aparecimento da filosofia crítica de Kant. 
Immanuel Kant (1724 – 1804) foi um filósofo alemão entusiasta da 
modernidade e do iluminismo. Kant desenvolveu a sua filosofia já em um 
estágio muito avançado da sua idade e, basicamente, seus livros compõem o 
que seus interpretadores chamam de filosofia crítica. Essa filosofia é composta 
pelos livros: Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e Crítica da Faculdade de 
Juízo. Em relação à primeira crítica, Kant interessa-se em definir os limites e as 
possibilidades do conhecimento. Para ele, a faculdade do conhecimento não é 
atributo de uma razão universal e dogmática, mas um processo de síntese entre 
o sujeito e o objeto. Isso significa que não é a razão quem define os rumos para o 
conhecimento, mas o sujeito. Este sujeito encontra-se no centro e no fundamento 
de todas as coisas, contudo, esse conhecimento é sempre parcial e relativo, jamais 
absoluto. Logo, os sujeitos não podem conhecer tudo, mas apenas delimitar 
experiências e sensações daquilo que compreendem ser a totalidade. 
Em relação à Crítica da Razão Prática, Kant mostra-se inclinado a pensar as 
bases da doutrina moral humana. Para ele, a moral é um imperativo categórico 
mediado pela seguinte afirmação: Age de tal modo que a máxima da tua ação se 
possa tornar princípio de uma legislação universal. Esse imperativo designa, por 
sua vez, as regras de convivência dos seres humanos em uma sociedade iluminista. 
Por fim, a terceira e última crítica é ligada diretamente ao problema 
estético, ou seja, aos juízos de valores estabelecidos pelos sujeitos. Nesse contexto, 
Kant analisa por meio de categorias ligadas ao sublime voltado para o contexto 
da moral. Isso significa que, para Kant, a beleza estética é um produto ligado aos 
problemas das afeições e não uma questão racional como se acreditava até então. 
UNIDADE 1 | CONTEXTO HISTÓRICO DO APARECIMENTO DA PSICOLOGIA: DA FILOSOFIA À CIÊNCIA
30
Essas perspectivas abertas por Kant, na esteira do debate sobre o 
Iluminismo foram de fundamental importância para o fortalecimento das 
reflexões que levaram à criação das ciências humanas no final do século XIX, 
entre elas a Psicologia. De todo o modo, as experiências conceituais produzidas 
no debate e nas revoluções que antecederam a criação dos primeiros Estados 
democráticos de direito favorecerão todo um conjunto de reflexões sobre os 
modos pelos quais os seres humanos, a partir da Modernidade, devem tomar a 
palavra, sendo definidores do seu próprio destino nos horizontes da história da 
psicologia a partir da Modernidade, ou seja, conforme apontamos até aqui, os 
elementos dessa nova conjetura moderna abriu as possibilidades para a criação 
da ciência psicológica. 
O PENSAMENTO ILUMINISTA E O DESENCANTAMENTO DO MUNDO:
MODERNIDADE E A REVOLUÇÃO FRANCESA COMO MARCO PARADIGMÁTICO 
 Essa mudança subjetiva surgiria com a ideia de progresso, de ruptura com o 
passado – tratado brevemente na introdução. E, em geral, se encontraria associada com 
algum evento significativo tomado como um marco histórico – neste caso, a Revolução 
Francesa. Estaria por um lado, o prognóstico do racionalismo e, do outro, a filosofia da 
história. Assim, estes conceitos surgiriam em antagonia às antigas profecias, onde os 
homens poderiam ser os senhores de seu próprio destino e conhecedor das leis naturais – 
física e humana. 
 Assim, o progresso se desenvolveria na medida em que o Estado e seus prognósticos 
não fossem mais capazes de satisfazer a exigência soteriológica, e sua motivação seria forte 
o suficiente para chegar a um Estado que, em sua existência, dependesse da eliminação 
das profecias apocalípticas (KOSELLECK, 2007, p. 35-36).
 Deste modo, o futuro desse progresso se caracteriza pela aceleração que se poria 
à nossa frente e ao seu caráter desconhecido. A aceleração tornar-se-ia uma tarefa de 
planejamento temporal, principalmente a partir do século XVIII e pós-Revolução, onde 
o vetor fundamental da moderna filosofia da história seria o cidadão emancipado do 
absolutismo e da Igreja.
 Mas, isto só adviria através da arte do cálculo político, adquirindo seu refino 
ao longo dos séculos XV ao XVIII, sendo os pensadores do século XVIII, responsáveis 
sobremaneira pela mudança histórica abarcada pela Revolução. Resultado auferido pelo 
aprofundamento do pensamento iluminista, que acabaria por se conhecer como Século 
das Luzes. Pensamento este que tornaria o futuro um campo de possibilidades finitas, 
organizadas segundo o grau de probabilidade.
 Eliminava, então, a certeza ideológica dos partidos religiosos da chegada de 
um Juízo Final e de uma única alternativa entre o Bem ou o Mal. Ou seja, o Iluminismo 
introduzia a problemática da secularização no momento em que as ordens religiosas eram 
questionadas, além de denunciar as intromissões e injustiças promovidas pela instituição 
na política dos Estados. 
FONTE: MELLO, Vicco Denis S. DONATO, Manuella Riane A. O pensamento iluminista 
e o desencantamento do mundo: modernidade e Revolução Francesa como marco 
paradigmático. Revista Crítica Histórica. 2 (4), 248-264, 2011. Disponível: em: <http://www.
revista.ufal.br/criticahistorica/attachments/article/118/O%20Pensamento%20Iluminista%20
e%20o%20Desencantamento%20do%20Mundo.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2020.
IMPORTANT
E
31
Neste tópico, você aprendeu que:
• Foram os gregos que elaboraram as primeiras reflexões sobre o questionamento 
filosófico em relação às experiências subjetivas.
• Com os romanos, a filosofia tornou-se um estilo de vida voltado para o 
desenvolvimento do autoconhecimento e de uma doutrina moral baseada no 
cuidado de si.
• Durante o cristianismo primitivo, muitas das ideias gregas e romanas foram 
retomadas no sentido de pensar o bem viver como prática fundamental.
• Na Idade Média, o mundo se viu diante da hegemonia do catolicismo e do 
poder pastoral.
• O Renascimento e o Iluminismo desenvolveram inúmeras reflexões sobre o 
antropocentrismo como prática voltada para o desenvolvimento das ciências 
e, em especial, para a psicologia. 
RESUMO DO TÓPICO 1
32
1 Qual é o significado ético do poder pastoral elaborado pela Igreja Católica?
2 O que é o racionalismo proposto por Descartes?
3 Por que os filósofos gregos tinham tanto apreço pelos processos de 
subjetivação?
AUTOATIVIDADE
33
TÓPICO 2
O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA E AS 
PRIMEIRAS ESCOLAS PSICOLÓGICAS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Dando continuidade aos estudos sobre os saberes psicológicos, passamos 
a destacar o conjunto desses mesmos conhecimentos reunidos em uma realidade 
metodológica, verificada sistematicamente e controlada, que reúne hipóteses 
na tentativa de possibilitar maior entendimento ao objeto de estudo da ciência 
do comportamento, qual seja, o ser humano. Na esteira dos acontecimentos 
produzidos pelo Renascimento e pelo Iluminismo, as ciências humanas 
colocaram-se a favor de um projeto voltado para o progresso tecnológico da 
civilização ocidental. 
 
Falaremos sobre o momento histórico em que o saber psicológico é 
proposto como ciência psicológica e, desta forma, observaremos que a ciência 
tal qual reconhecemos hoje foi organizada a partir de uma necessidade da 
modernidade, tendo como fundamentação a epistemologia positivista.
Deste movimento surge o primeiro laboratório de psicologia experimental 
em Leipzig, na Alemanha, organizado por Wilhelm Wundt, que é considerado o 
pai da psicologia moderna; a partir daí vários outros laboratórios de psicologia 
experimental foram estabelecidos por universidades de outros países, mas foi na 
América, onde se destacaram, dentro da escola de pensamento estruturalista, as 
primeiras abordagens psicológicas.
Em outras

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