Buscar

literatura infanto juvenil (cor) LIVRO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 214 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 214 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 214 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Literatura Infanto Juvenil 
1 TROL 
Literatura Infanto Juvenil
Ageu Cleon de Andrade 
Cristina Dias de Souza Figueira 
Maria Nazareth de Souza 
1ª
 E
di
çã
o 
Literatura Infanto Juvenil 
2 
DIREÇÃO SUPERIOR 
Chanceler Joaquim de Oliveira 
Reitora Marlene Salgado de Oliveira 
Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira 
Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira 
Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira 
Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira 
Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira 
Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves 
 
DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA 
Assessora Andrea Jardim 
 
FICHA TÉCNICA 
Texto: Ageu Cleon de Andrade, Cristina Dias de Souza Figueira, Maria Nazareth de Souza 
Revisão Ortográfica: Marcus Vinícius da Silva e Natália Barci de Souza 
Projeto Gráfico e Editoração:, Eduardo Bordoni, Fabrício Ramos, Marcos Antonio Lima da Silva 
Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus 
Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos 
Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos 
 
COORDENAÇÃO GERAL: 
Departamento de Ensino a Distância 
Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br 
 
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói 
 
Bibliotecária: Elizabeth Franco Martins CRB 7/4990 
Informamos que é de única e exclusiva responsabilidade do autor a originalidade desta obra, não se responsabilizando a ASOEC 
pelo conteúdo do texto formulado. 
© Departamento de Ensino a Distância - Universidade Salgado de Oliveira 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma 
ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora 
da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).
A553l Andrade, Ageu Cleon de. 
 Literatura Infanto-Juvenil / Ageu Cleon de Andrade, Maria Nazareth de 
Souza e Cristina Dias de Souza Figueira ; revisão de Natália Barci de 
Souza e Marcus Vinicius da Silva. – Niterói, RJ: UNIVERSO, 2012. 
 214 p. ; il 
 
 1. Literatura infanto-juvenil. 2. Gêneros literários. 3. Leitor - 
Formação. 4. Leitura. I. Souza, Maria Nazareth de Souza. II. Figueira, 
Cristina Dias de Souza. III. Souza, Natália Barci de. IV. Silva, 
Marcus Vinicius da. V. Título. 
 CDD B809.89282 
Literatura Infanto Juvenil 
3 
 
Literatura Infanto Juvenil 
4 
 
 
Palavra da Reitora 
 
Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, 
exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de 
Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes 
segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi 
desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero 
bem-sucedidas mundialmente. 
São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio 
dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço 
presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio 
tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se 
responsável pela própria aprendizagem. 
O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que 
permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo 
momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de 
nossa plataforma. 
Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores 
especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são 
fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. 
A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a 
distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem-
sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo 
de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, 
graduação ou pós-graduação. 
Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando 
as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o 
programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. 
 
Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual! 
Professora Marlene Salgado de Oliveira 
Reitora
Literatura Infanto Juvenil 
5 
 
Literatura Infanto Juvenil 
6 
 
 
Sumário 
 
Apresentação da Disciplina ........................................................................................................ 8 
Plano da Disciplina......................................................................................................................... 9 
Unidade 1: Literatura Infanto-Juvenil: Das Origens à Contemporaneidade ............ . 11 
Unidade 2: Trabalhando os Gêneros Literários .................................................................. 41 
Unidade 3: O Gênero Dramático: O Teatro e a Sala de Aula .......................................... 97 
Unidade 4: Eternos Contos de Fadas e a Formação da Criança ................................... 145 
Unidade 5: Histórias: Uma Via para a Formação do Leitor ............................................. 157 
Unidade 6: A Prática Pedagógica da Leitura no Contexto Escolar .............................. 179 
Referências ..................................................................................................................................... .. 204 
Considerações Finais .................................................................................................................... 207 
Conhecendo os Autores ............................................................................................................. 208 
Anexos ............................................................................................................................................... 210 
 
Literatura Infanto Juvenil 
7 
 
 
Literatura Infanto Juvenil 
8 
 
Apresentação da Disciplina 
 
Caro Aluno, seja bem-vindo! 
 
Estudaremos a disciplina Literatura Infanto-Juvenil e suas relações com a 
prática pedagógica. 
A metodologia que elaboramos possibilitará que você conheça a Literatura 
Infanto-Juvenil e sua interface com a Educação. Desta forma, por meio de leituras 
prazerosas, propomos um estudo dinâmico e reflexivo da Literatura Infanto-
Juvenil, incluindo seu histórico, elencando possibilidades e sugerindo caminhos 
para a sua aplicabilidade no cotidiano escolar. 
Acreditamos que os conteúdos ministrados online e a bibliografia que 
sugerimos para a pesquisa contribuirão para o desenvolvimento das habilidades e 
competências dos nossos alunos para o exercício do ensino da Literatura Infanto-
Juvenil. 
Comprometemo-nos a auxiliá-lo em suas tarefas. Da mesma forma, pedimos 
que você cumpra passo a passo as atividades propostas e administre bem o seu 
tempo. 
Sucesso! 
 
 
Literatura Infanto Juvenil 
9 
 
Plano da Disciplina 
 
A disciplina Literatura Infanto-Juvenil tem como objetivo geral possibilitar o 
aluno a conhecer a Literatura tradicional e contemporânea, por meio da análise de 
textos narrativos e/ou poéticos, desenvolvendo competências e habilidades 
necessárias à formação de profissionais que atuarão nos diversos contextos 
escolares. 
Faremos um pequeno resumo de cada unidade, enfatizando seus objetivos 
para que você tenha uma visão generalizada daquilo que irá estudar. 
 
Unidade 1: Literatura Infanto-Juvenil: Das Origens à Contemporânea 
Nesta unidade, você conhecerá o percurso da Literatura Infanto-Juvenil, da 
narrativa tradicional à contemporânea, e sua linguagem simbólica. O discurso 
literário e seus aspectos formais e temáticos. 
Objetivo: Reconhecero caráter da literatura tradicional e seu processo 
evolutivo até a contemporânea, através da análise dos textos, suas respectivas 
características e os aspectos formais e temáticos. 
 
Unidade 2: Trabalhando os Gêneros Literários: O Poético e o Narrativo 
Aqui, trataremos dos gêneros literários (poético e narrativo), seus aspectos 
temáticos e formais. 
Objetivo: Identificar as características dos gêneros poéticos e narrativos 
centrados no lúdico, a fim de despertar o prazer de ler. 
 
Unidade 3: O Gênero Dramático: O Teatro e a Sala de Aula 
Veremos nesta unidade o gênero dramático: teatro, enquanto texto teatral, no 
contexto escolar. 
Objetivo: Reconhecer as contribuições do teatro como expressão artística, sua 
relação com a cultura e sociedade, sua função catártica e a importância do texto 
teatral auxiliando as diferentes disciplinas, utilizando a mímica e expressão 
corporal. 
Literatura Infanto Juvenil 
10 
 
Unidade 4: Eternos Contos de Fadas e a Formação da Criança 
Nesta unidade, vamos mostrar-lhe, sob o ponto de vista psicanalítico do 
estudioso Bruno Bettelheim, as contribuições dos contos de fadas para a formação 
da criança. 
Objetivo: Compreender as contribuições das histórias para formação integral 
da criança, através da leitura intertextual das narrativas. 
 
Unidade 5: Histórias: Uma Via Para a Formação do Leitor 
Agora, falaremos das contribuições das histórias para a formação do leitor. 
Confira! 
Objetivo: Estimular o gosto pela leitura visando à formação do leitor e sua 
relação com o livro através da prática da leitura em sala de aula. 
 
Unidade 6: A Prática Pedagógica da Leitura no Contexto Escolar 
Nesta unidade, veremos a aplicação teórica das leituras e os diversos gêneros 
através da intertextualidade e da paródia, no contexto escolar. 
Objetivo: Trabalhar de maneira prazerosa as várias leituras a partir da 
intertextualidade, da paródia e dos diversos gêneros literários do contexto escolar. 
 
Bons estudos.
Literatura Infanto Juvenil 
11 
1 
Literatura Infantil: Das 
Origens a Contemporânea
 
O Caráter da Literatura Tradicional e Contemporânea. 
O Discurso Literário e o Ato Prazeroso da Leitura. 
A Oralidade e as Tradições. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
12 
 
Nesta unidade, você conhecerá o percurso da Literatura infanto-juvenil da 
narrativa tradicional à contemporânea e sua linguagem simbólica. O discurso 
literário e seus aspectos formais e temáticos. 
 
Objetivos da Unidade: 
Reconhecer o caráter da literatura tradicional e seu processo evolutivo até a 
contemporânea. 
 
Plano da Unidade: 
 
 O Caráter da Literatura Tradicional e Contemporânea. 
 O Discurso Literário e o Ato Prazeroso da Leitura. 
 A Oralidade e as Tradições. 
 
 
 
 
Bem-vindo à primeira Unidade de Estudo! 
 
Literatura Infanto Juvenil 
13 
 
O Caráter da Literatura Tradicional e Contemporânea 
 
A matriz da história da literatura infantil é originária da Novelista Popular 
Medieval, que, por sua vez, tem suas origens mais remotas em certas fontes 
orientais ou, mais precisamente, na Índia. 
A arte de contar histórias é muito antiga, atravessa os milênios e está centrada 
na tradição oral. Durante a Idade Média, espalha-se no ocidente europeu uma 
literatura narrativa, hoje, conhecida como narrativa primordial, cujas origens 
remontam a fontes orientais. Com ela nascia a hoje chamada literatura popular 
que, através da comunicação oral ou da escrita, acabou se transformando em 
matéria folclórica. De seu registro escrito, por via culta, surge a Literatura Infantil, 
hoje conhecida como clássica ou tradicional, representada, dentre outras obras, 
pelas fábulas de Esopo, de Fedro, de La Fontaine, os Contos Populares de Perrault, 
de Grimm, de Andersen. 
Há registros de contos folclóricos do Antigo Oriente (Séc. V), provavelmente. O 
conto foi uma narrativa, por excelência, oral em sua primitiva forma. 
Histórias desde os primeiros registros de bichos, lendas populares ou 
aventuras eram contadas para povos antigos ao redor da fogueira ou em noites de 
luar. Ainda, hoje, permanece o desejo de ouvir histórias (poesia) através das rodas 
de leitura, das contações de histórias e dos saraus ou dos performances de poesias 
etc. 
 
Era uma vez... 
 
O rei persa Shariar, vitimado pela infidelidade de sua mulher, mandou matá-la 
e resolveu passar cada noite com uma esposa diferente, que mandava degolar na 
manhã seguinte. Recebendo como mulher a Sherazade, esta iniciou um conto que 
despertou o interesse do rei em ouvir-lhe a continuação na noite seguinte. 
Sherazade, por engenhosa ligação dos seus contos, conseguiu encantar o monarca 
por mil e uma noites e foi poupada da morte. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
14 
 
O conto narra que durante três anos, moças eram sacrificadas pelo rei, até que 
já não havia mais virgens no reino, e o vizir não sabia mais o que fazer para atender 
o desejo do rei. Foi quando uma de suas filhas, Sherazade, pediu-lhe que a levasse 
como noiva do rei, pois sabia uma maneira inteligente para escapar ao triste fim 
que a esperava. A princesa, após ser possuída pelo rei, começa a contar a 
extraordinária "História do Mercador e do Efrit", mas, antes que a manhã rompesse, 
ela parava seu relato, deixando um clima de suspense, só dando continuidade à 
narrativa na manhã seguinte. Então, Sherazade conseguiu sobreviver, graças ao 
poder da palavra e encantamento de tecer as narrativas prendendo a curiosidade 
do rei. Ao término desse tempo, ela já havia tido três filhos e, na milésima primeira 
noite, pede ao rei que a poupe, por amor às crianças. O rei finalmente responde 
que lhe perdoaria, sobretudo pela dignidade de Sherazade. 
O ato de contar histórias encanta a todos, assim se sucedeu com Sherazade, 
que escapou da morte pela sua inventividade. 
Vladimir Propp, estudioso dos contos populares da Rússia, nos apresentou 
uma estrutura básica para análise dos contos de fadas. O herói, em sua trajetória, 
enfrenta várias provas e tem que demonstrar a sua capacidade de solucionar os 
problemas, ou seja, obter um novo equilíbrio. Propp nos mostra um esquema 
circular da trajetória do protagonista, da estrutura da narrativa do conto popular. 
Temos os seguintes elementos: transgressão, busca, provas (obstáculos), solução e 
equilíbrio. A estrutura mencionada escapa aos padrões e pode servir de base para 
outras histórias, adaptadando-as das obras verdadeiramente literárias. 
Agora, vejamos algumas acepções das palavras-chave dos contos 
maravilhosos: 
 
 Fábulas (do latim - fari - falar e do grego - Phao - contar algo). 
 
Narrativa (de natureza simbólica) de uma situação vivida por animais, que 
alude a uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. 
Nascida no Oriente vai ser reinventada no Ocidente pelo grego Esopo 
(Séc. VI a.C.) e aperfeiçoada, séculos mais tarde, pelo escravo romano Fedro (Séc. I 
a.C.) que a enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no século X,
Literatura Infanto Juvenil 
15 
 
 começaram a ser conhecidas as fábulas latinas de Fedro. Ao francês Jean La 
Fontaine (1621/1692) coube o mérito de dar a forma definitiva a uma das espécies 
literárias mais resistentes ao desgaste dos tempos: a fábula, introduzindo-a 
definitivamente na literatura ocidental. Embora escrevendo para adultos, La 
Fontaine tem sido leitura obrigatória para crianças de várias comunidades, de 
todos os países. 
Podemos enumerar aqui algumas fábulas de La Fontaine: “O Lobo e o 
Cordeiro”, “A Raposa e o Esquilo”, “Animais Enfermos da Peste”, “A Corte do Leão”, 
“O Leão e o Rato”, “O Pastor e o Rei”, “O Leão, o Lobo e a Raposa”, “O Leão Doente e 
a Raposa”, “A Corte e o Leão”, “A Leiteira e o Pote de Leite”. 
Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum (destino, fatalidade, 
oráculo). Os contos maravilhosos são marcados pela presença da fada. 
 
 Lendas (do latim legenda/ leger - ler). 
 
Os homens relatavam suas aventuras e lembranças por meio da tradição oral. 
Por isso que se diz “Quem conta um conto aumenta um ponto”. Isso se deve ao 
contador de histórias ou ao narrador o qual recorria à imaginação e invenção de 
riqueza de detalhes ou inserção de novos personagens ou um novo desfecho. 
A invenção de histórias, nessa época, sinalizou o caráter moralizante e 
didático. 
Vamos saborear algumas narrativas contidas nas fábulas de Esopo da literatura 
tradicional ou clássica: 
 
Literatura Infanto Juvenil 
16 
 
A Gansa de Ovos de Ouro 
 
Certa manhã, um fazendeiro descobriu que sua gansa tinha posto um ovo de 
ouro. Apanhou o ovo, correu para casa, mostrou-o à mulher, dizendo: 
_ Veja! Estamos ricos! 
Levou o ovo ao mercado e vendeu-o por um bom preço. 
Na manhã seguinte, a gansa tinha posto outro ovo de ouro, que o fazendeiro 
vendeu a melhor preço. E assim aconteceu durante muitos dias. Mas, quanto mais 
rico ficava o fazendeiro, mais dinheiro queria. E pensou: 
"Se esta gansa põe ovos de ouro, dentro dela deve haver um tesouro!" 
Matou a gansa e, por dentro, a gansa era igual a qualquer outra. 
Quem tudo quer tudo perde. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
17 
 
Os três Porquinhos e o Lobo 
 
Era uma vez três porquinhos irmãos, que gostavam muito de música. Eles 
resolveram fazer suas casas perto do bosque. O primeiro porquinho era preguiçoso 
e fez sua casa de palha. 
Mas o lobo mau, que vivia no bosque, era muito invejoso. Certo dia, ele 
chegou perto da casa de palha, encheu os pulmões e soprou com força... 
_Fuuuuu! 
A casinha de palha voou pelos ares. 
E o porquinho fugiu para a casa do irmão mais velho. 
O segundo porquinho também era preguiçoso e fez sua casa de capim. E, 
quando terminou a construção, achou-a tão bonita, que se pôs a cantar e a tocar 
alegremente o seu bandolim. 
Mas sua alegria durou pouco. O lobo mau se aproximou e soprou com força... 
_Fuuuuu! 
A casa de capim voou pelos ares, e o porquinho fugiu para a casa do irmão 
mais velho, onde se abrigou junto com o outro que estava lá. 
O terceiro porquinho não era preguiçoso. Mais precavido que os irmãos, 
construiu sua casa com tijolos e cimento. 
_Trabalhei muito, mas valeu a pena! _disse ele, depois de terminar. 
O lobo mau continuou insistindo, perseguindo os três porquinhos, mas teve 
um final infeliz. 
O terceiro porquinho colocou a água para ferver, quando o lobo mau desceu 
pela chaminé, caiu dentro do caldeirão. O susto foi tão grande que ele saiu 
correndo e nunca mais apareceu. 
Os três porquinhos, salvos do lobo mau, puseram-se a cantar, a dançar e a 
pular. 
(História popular inglesa, adaptação de Naufer. Os três porquinhos e o lobo. Coleção samba – Lelê. p.1 a 5; p.11).
Literatura Infanto Juvenil 
18 
 
Mais uma fábula do Esopo. Vejamos: 
 
A Formiga e Pombo 
Uma formiga sedenta veio à margem do rio para beber água. Para alcançá-la, 
devia descer por uma folha de grama. Quando assim fazia, escorregou e caiu 
dentro da correnteza. 
Uma pomba, pousada numa árvore próxima, viu a formiga em perigo. 
Rapidamente, arrancou uma folha da árvore e deixou-a cair no rio, perto da 
formiga, que pode subir nela e flutuar até a margem. 
Logo que alcançou a terra, a formiga viu um caçador de pássaros, que se 
escondia atrás duma árvore, com uma rede nas mãos. Vendo que a pomba corria 
perigo, correu até o caçador e mordeu-lhe o calcanhar. A dor fez o caçador largar a 
rede e a pomba fugiu para um ramo mais alto. 
De lá, ela arrulhou para a formiga: 
- Obrigada, querida amiga. 
Uma boa ação se paga com outra. 
(Esopo). 
 
Literatura Infanto Juvenil 
19 
 
Há um tom de aconselhamento e fins moralizantes, em ambas as fábulas, que 
expressam a ideologia, ou seja, o sistema moral da época. Outro exemplo de 
literatura tradicional é a história “Os três porquinhos e o lobo”, que contém uma 
narrativa linear na qual o medo do lobo mau simboliza a maldade em oposição à 
bondade dos porquinhos. Essa dualidade é comum nas histórias clássicas. 
A partir do séc. XVIII a literatura infantil passa a ter um tratamento especial. 
Nesta época, os teóricos educacionais passam a ler a criança como criança, como 
um ser especial, passando a considerá-la diferente do adulto: um ser que 
necessitava de atenções específicas, atentando para os seus interesses, para os 
seus desejos e para as suas necessidades. 
A criança, até então, tinha acesso a uma literatura de adultos por onde 
circulavam apenas livros de autores clássicos e estes eram lidos sob a orientação 
dos pais. Paralelo a isto, a criança menos privilegiada lia ou ouvia histórias de 
cavalaria, de contos folclóricos que permeavam as classes. Com a ascensão da 
burguesia, passou a haver maior preocupação dos pais com a educação dos filhos. 
Desse modo, houve em toda a Europa, uma efetiva ligação da literatura infantil 
com a pedagogia. Tal ligação entre ambas assumiu função relevante, quando os 
educadores, à época, passaram a acreditar no valor da criação de uma literatura 
para crianças e jovens – polêmica que se mantém até os dias de hoje. Outro 
aspecto a se ressaltar é o caráter formativo dos pequenos leitores, norteados por 
uma literatura “especial”, pois os educadores fizeram adaptações de obras clássicas 
para os leitores mirins. 
Assim, a literatura infantil teve origem e expansão com registro das obras, 
como já foi explicitado, com Perraut e os irmãos Grimm, colecionadores das 
histórias folclóricas. No Brasil, teve início com obras de Carlos Jansen “Contos 
Seletos das Mil e uma noites”. 
A literatura infantil brasileira iniciou seu percurso a partir do século XIX, 
sustentada pela emancipação política e conquista da cultura. Isso se deve à vinda 
da família real para o Brasil e graças às medidas tomadas por D. João VI, a fim de 
preparar a colônia de Portugal. Mas D. Pedro I, reagindo a essa decisão, proclamou 
a Independência, tornando-se Imperador do Brasil. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
20 
 
Sabe-se, contudo, que com a vinda de D. João VI foram criadas as Academias, 
cursos, Escolas etc. O estudo e a educação passaram a ser uma preocupação do 
Estado. Assim, Literatura e Pedagogia estavam sempre atreladas e a partir das 
profissões liberais concebe-se um novo valor à inteligência, ao saber. Portanto, 
nessa época de valorização do saber, de exaltação nacionalista e de reivindicações 
liberais se propagam os ideais e as manifestações de reforma pedagógica e 
literária, visando à formação das novas gerações brasileiras. 
Não podemos ignorar que esse “Letramento” vem contribuir para a realização 
de uma literatura infantil, criando uma nova mentalidade, o culto pela inteligência 
sustentado pelas leituras escolares, na segunda metade do século XIX. 
Mas foi a partir de Monteiro Lobato que tivemos a fundação da verdadeira 
literatura infantil brasileira. Não só pelo resgate e revitalização do folclore 
brasileiro, pela criação extraordinária de Emília, Dona Benta, Tia Nastácia e outros 
que reinavam no Sítio do Pica-Pau Amarelo – seu universo ficcional – como 
também por trazer, para este “sítio”, histórias e personagens da cultura universal. É 
certo que em meio ao inventário ficcional que criou, destacam-se as preocupações 
com as questões nacionais e problemas sociais. 
Deste modo, podemos afirmar que Monteiro Lobato foi um divisor de águas 
na história da Literatura Infantil. A criação de Lobato nos anos 20 fundia o real e o 
maravilhoso em única realidade. Ratificamos esse posicionamento de acordo com 
os estudos de Tatiana Belinski: 
No Sítio do Picapau Amarelo Lobato criou uma constelação 
familiar sui-generis, a única talvez na qual seria possível, 
sem parecer forçado, aquele relacionamento ideal, livre das 
naturais tensões que existem na família normal. As crianças, 
Narizinho e Pedrinho, não são irmãos, mas primos, não 
vivem na mesma casa, e o seu encontro no Sítio não é umarotina, mas uma festa permanente. Os adultos não 
pressionam nem atrapalham, porque a autoridade no sítio 
não é pai nem mãe, e sim a avó. E as relações entre avós e 
netos são afetuosas e descontraídas. Especialmente, no 
caso de uma avó como Dona Benta Encerrabodes de 
Oliveira, inteligente e culta, enérgica e compreensiva, 
sensata e carinhosa, realista, mas capaz de topar as mais 
fantásticas brincadeiras. Lobato teve a habilidade de 
Literatura Infanto Juvenil 
21 
 
eliminar de suas histórias o elemento perturbador que 
seriam os pais, com as ansiedades, atritos e problemas 
emocionais que assolam normalmente até as melhores 
relações entre pais e filhos. Pedrinho e Narizinho não são 
órfãos, eles têm pais que devem ser ótimos, mas são 
invisíveis, não estão no Sítio. No Sítio, os adultos que 
existem podem ser curtidos e amados sem maiores 
complicações: Tia Nastácia tem uma ascendência sem 
mandonismo, proveniente da afeição mútua e aceita com 
naturalidade. Dona Benta é a autoridade máxima, tácita e 
livremente aceita, com amor e respeito, sem qualquer 
receio ou tensão. No Visconde de Sabugosa, “gente 
grande” mas boneco, pode ser descarregada, sem prejuízo 
da consideração devida à sua sapiência sabugal, a crítica ao 
adulto pomposo e professoral. E Emília, em que pese toda 
sua brilhante personalidade lobatiana, por ser boneca e 
não gente pode demonstrar e fazer desfilar impunemente 
todos os “pecados” infantis: a malcriação, o natural 
egoísmo de criança, a rebeldia, a birra, a teimosia, a 
esperteza marota e interesseira e até uma certa maldade 
ingênua – tudo imediatamente esquecido, sem maiores 
conseqüências [sic] nem sentimentos de culpa.(COELHO, 
1985, p. 194). 
 
Vê-se, portanto, nas palavras de Tatiana Belinski que Lobato explorou os 
“conflitos” ligados às aventuras e que podem ser solucionados, de forma 
satisfatória ao nível da narrativa e da própria vida. O autor conecta arte (narrativa) 
aos problemas e aos “conflitos” dos nossos pequenos leitores. A narrativa de 
Lobato estimula a criatividade, fisgando nossos pequenos leitores com o 
encantamento e a fantasia expressivos no “reino do Sítio de Pica-Pau Amarelo” até 
nossos dias. 
A partir dessas inovações, a criação de Lobato descortina um novo caminho da 
Literatura Infantil Brasileira. O universo ficcional dos anos 30 reuniu os escritores 
que iniciaram uma produção para crianças e/ou jovens e que destacam-se até hoje 
no acervo literário brasileiro: Graciliano Ramos, Érico Verísimo, Malba Tahan, 
Origenes Lessa, Viriato Correia. Foi uma produção mesclada por uma diversidade 
de temas, tais quais: o dia a dia na escola, da família, episódios nacionais, lendas 
folclóricas. 
Literatura Infanto Juvenil 
22 
 
Na trilha de publicações tendo como alvo as crianças e os jovens há inúmeras 
revistas contendo histórias em quadrinhos, as revistas Mirim e Lobinho, mas o 
sucesso foi o suplemento infantil de “O Globo” com o gibi. Nas décadas de 40, 
houve uma verdadeira expansão das histórias em quadrinhos, povoadas de super-
heróis e aventuras que costuravam a fusão entre o maravilhoso e a ciência. 
As novas propostas educacionais combatem as “mentiras” da literatura infantil 
tradicional. Até os livros de Lobato são refutados em colégios religiosos, pois os 
consideravam perniciosos à formação da criança. Imperava, na década de 40, o 
recrudescimento do conservadorismo, sendo assim constatado o caráter libertário 
da literatura de Lobato. Fadas, bruxas, gênios, castelos, príncipes ou princesas 
foram considerados perniciosos pelos educadores da época, pois adulteravam a 
realidade, levando os leitores a uma imaginação doentia e alienada. 
Há de ressaltar que, no entanto, houve escritores que romperam com essa 
limitação criadora, e deram certo grau de inventividade na escrita. Dentre eles 
destacam-se: Odette de Barros Mott; Lúcia Machado de Almeida, Maria Lúcia 
Amaral, Edy Lima, Hernani Donato. 
A literatura infantil passa a sinalizar para a valorização do folclore e do mundo 
natural, instaurando um viver mais autêntico. Há um maniqueísmo que estabelece 
fronteiras entre bom/mau, certo/errado, beleza/bondade, feiura/maldade etc. Essa 
literatura não se destina apenas às leituras nas escolas – como leituras “didáticas” – 
mas é concebida como entretenimento, fundamentando-se no prazer e na alegria 
de ler e ouvir histórias na escola, em casa, nos parques etc. Tal ruptura veio 
contribuir para novo enfoque da produção literária infantil. 
As novas tendências estimulam os criadores a preparar caminhos para as 
novas gerações, a fim de construir e (re)construir uma nova mentalidade. Nota-se 
uma lacuna na formação da consciência crítica do professor para a seleção e 
democratização da leitura. 
A Literatura Infantil atual está centrada no trans-real, no extraordinário, no 
lúdico. A ficção sobrepõe-se à realidade. A produção contemporânea apresenta 
uma busca de identidade cultural que o Brasil contemporâneo almeja. Muitos 
universos ficcionais são criados na linha do realismo mágico. O espaço essencial - o 
cotidiano, a temática do dia a dia, da turma da rua, da família, da escola, tão bem 
abarcados por Lobato - é a trilha abraçada pelos novos escritores. 
Literatura Infanto Juvenil 
23 
 
O Discurso Literário e o Ato Prazeroso da Leitura 
 
O discurso literário é um discurso polifônico. Ecoam nele várias vozes, vários 
significados que são acolhidos pelos leitores. Esses leitores recriam o real 
encontrando o lúdico pessoal e criativo da linguagem, como o faz Maria Mazzetti, 
em seus livros. Apenas para exemplificar, trazemos à lembrança, um trecho de 
Rente que nem pão quente, quando a mamãe de Manuela, vai ensinar à filha lições 
de roer, e, na primeira lição, Manuela “Não acertou, não! Roeu o fio errado. Ficou 
presa no fio. Toda enrolada até a cabeça. Quanto fio!” A segunda lição de roer era: 
 
Lição de roer blusa. 
 
 Mamãe apanhou uma blusa. 
Manuela apanhou uma blusa. 
Mamãe foi roendo a blusa. 
Manuela foi roendo a blusa. 
Aí, mamãe chegou na gola 
Mamãe olhou para trás 
Manuela ainda estava 
na pontinha 
do comecinho 
da beiradinha 
da casa 
do primeiro 
botãozinho. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
24 
 
Enfim, Manuela fazia tudo errado. E, como não podia deixar de ser, aparece na 
história um professor de roedura. Mas nada adianta. Manuela não aprende a roer 
de jeito nenhum. Não aprende a lição do ra, do re, do ro, nem a do roque-roque. 
Um dia a mamãe de Manuela a procura por todo o lado. “Procurou nas bainhas. 
Procurou nos bolsos. Procurou nas mangas. Não achou nada”. Continuando a ritmar 
o texto e a brincar com os fonemas de roer, Maria Mazetti nos apresenta Manuela, a 
ratinha, atrás do fogão, escondidinha, e: 
 
“Na mão de Manuela tinha um brilho. 
No fim do brilho tinha um fio. 
No dedo da Manuela tinha um chapéu. 
O brilho era agulha. 
O fio era de linha 
O chapéu era dedal. [...] 
Aquilo era uma grande novidade. 
Manuela não era rata de roer. 
Manuela era rata de costurar.” 
 
 
 
Mas Manuela também aprendeu a roer, pois “No finzinho da costura, Manuela 
rói a linha”, roendo, desta forma, a igualdade e instaurando a diferença. Assim, de 
forma lúdica, brincando com as palavras, Maria Mazzetti nos leva a aceitar o outro 
como ele é, incentivando a criatividade e negando a mesmice. Tal procedimento 
favorece o imaginário, a ação e o saber. 
A história de Maria Mazetti enquadra-se na literatura contemporânea e 
contém as seguintes características: 
 Leitor ativo; 
 Presença do lúdico; 
 A irreverência temática (aceitação do outro); 
 Tom de afetividade (diminutivo); 
 Musicalidade (rimas); 
 Aliteração - “Manuela não era rata de roer” (repetição da consoante).
Literatura Infanto Juvenil 
25 
 
IMPORTANTE! 
É bom lembrar que a chamada nova literatura para criança, na segunda 
metade dos anos 70, rompe com uma literaturaque estabelecia normas de 
comportamento cedendo lugar a uma literatura questionadora. O chamado Boom 
da Literatura infanto-juvenil. Dentre as obras que instauram uma ruptura com a 
interpretação maniqueístas (certo/errado, belo/feio, bom/mau) encontram-se: A 
Fada que tinha ideias (Fernanda L. de Almeida), O Reizinho Mandão (Ruth Rocha), 
Uxa, Ora Fada, Ora Bruxa (Sylvia Orthof) e outras. Vejamos: 
Declaração Universal dos Direitos Humanos 
Não se pode prender as pessoas 
ou mandá-las embora 
de seu país a não ser 
por motivos muito graves. 
Todo homem 
tem o direito de ser julgado 
por um tribunal justo 
quando é acusado 
de alguma falta. 
Todos os homens e mulheres, 
depois de certa idade, 
não importa sua raça, religião ou nacionalidade, 
têm direito de se casar e começar uma família 
um homem e uma mulher 
só podem se casar se os dois quiserem. 
(Adaptação de Ruth Rocha e Otávio Roth. Declaração Universal dos Direitos 
Humanos. 14. Impressão. São Paulo, 1998). 
Literatura Infanto Juvenil 
26 
 
Estes recortes da história adaptada por Ruth Rocha e Otávio Roth traduzem 
uma abordagem contemporânea da valorização dos direitos e a incorporação 
desses valores às crianças visando à formação de cidadania, de maneira lúdica e 
divertida levando-os a uma reflexão sobre a “Declaração Universal dos Direitos 
Humanos”. 
Canção Infantil 
O Sapo Cururu 
(aquele que mora na beira do rio) 
comeu tanto mosquito 
que ficou esquisito. 
De dentro de sua barriga 
estofada de mosquitos 
vinha um barulho esquisito 
mais ou menos assim: 
Zum! Zum! Zum! Zum! Zum!!! 
(FERREIRA, Antonio José; PEIXOTO, Dinah Terra; OLIVEIRA, Maria Helena Barros de; 
SOUZA, Maria Nazareth de. Laços Poesia. Clube de Literatura. Cromos, 1998). 
 
Há uma linguagem rica de sonoridade através da onomatopeia “Zum! Zum! 
Zum! Zum! Zum!!!” um tom de graça e encantamento. No poema ocorre também a 
paródia, ou seja, um texto com base em outro texto já conhecido: provérbio, 
cantigas, lendas, poemas e outros. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
27 
 
No Jardim 
As rolinhas 
do meu jardim 
gostam muito de mim. 
As rolinhas do meu jardim 
são mimosas como o jasmim. 
não sei se gosto 
mais dela ou do 
jasmim 
Não, gosto mais de mim. 
(FERREIRA, Antonio José; PEIXOTO, Dinah Terra; OLIVEIRA, Maria Helena Barros de; 
SOUZA, Maria Nazareth de. Laços Poesia. Clube de Literatura. Cromos, 1998). 
 
Há rimas gostosas que dão musicalidade ao texto e contém o tom afetivo 
através do diminutivo “as rolinhas”. Outro recurso usado pelo poeta é a 
comparação: 
“As rolinhas do meu jardim 
são mimosas como o jasmim.” 
 
A narrativa tradicional ou clássica é linear, há um tom moralizante e presença 
dos obstáculos que serão vencidos pelos personagens: herói ou heroína nos contos 
maravilhosos. 
O conto maravilhoso mostra uma leitura maniqueísta do mal e do bem. A sua 
narrativa leva a heroína a enfrentar desafios, “obstáculos” e surge um mediador 
mágico, que auxilia ou afasta o herói ou a heroína das desventuras, dos perigos e o 
herói se lança à conquista. Voltemos ao tempo com a clássica história “A 
Guardadora de Gansos”. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
28 
 
A Guardadora de Gansos (conto maravilhoso) 
 
A princesa deseja casar-se com o eleito de seu coração. 
Durante a viagem que faz para encontrá-lo, é dominada pela dama de 
companhia... e despojada de suas prerrogativas. 
Transformada em “guardadora de gansos”, fica afastada do príncipe, enquanto 
a usurpadora lhe toma o lugar. 
Mas surge um auxiliar mágico: a cabeça cortada de seu cavalo Falante conta ao 
príncipe o que aconteceu e tudo volta aos lugares certos. 
A malvada é castigada, os dois enamorados casam-se e “vivem felizes para 
sempre”. 
(COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil – Teoria, análise e didática. 6. ed. Ática. 1993.p.101). 
 
Dentre as formas literárias mais antigas da tradição oral encontram-se as 
narrativas maravilhosas, que são narrativas de acontecimentos ou aventuras que se 
desenvolvem no mundo mágico ou maravilhoso. Destacamos o conto de 
encantamento “A Dama e o Leão”. 
 
A Dama e o Leão (conto de encantamento) 
 
A filha mais nova deve casar-se com o Leão. 
Tal desígnio resultou de uma promessa feita durante uma viagem (a do pai 
Leão). 
O obstáculo à realização feliz da aspiração ou desígnio era a forma animal do 
esposo: um príncipe metamorfoseado em leão. 
O poder mágico se exerce através da própria jovem, que com suas virtudes 
desencanta o marido. 
Enfim, casados como pessoas normais, vivem felizes para sempre. 
(COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil – Teoria, análise e didática. 6. ed. 
Ática. 1993.p. 101-102). 
 
Literatura Infanto Juvenil 
29 
 
A incorporação de fadas, bruxas, reis, rainhas, objetos mágicos são 
ingredientes das histórias fundadas na oralidade, ou clássicas que permeiam as 
obras tradicionais. Tais elementos estruturais da narrativa são revitalizados e 
incorporados às obras de autores contemporâneos. Dentre elas selecionamos “O 
Casamento da Bruxa Onilda”: 
 
O Casamento da Bruxa Onilda 
 
Quando jovem, eu era uma mulher lindíssima. Andava sempre muito elegante 
e, por isso, tinha muitos pretendentes. 
Um dia, varrendo a casa pra cá e pra 
lá, achei uma moeda de ouro. 
Primeiro pensei em vendê-la e 
depositar o dinheiro na Caderneta de 
Poupança, mas logo desisti. Achei melhor 
comprar alguma coisa que me deixasse 
ficar ainda mais bonita. Eu era tão 
convencida!... 
E foi o que fiz. Comprei um grande laço azul da cor do céu e o amarrei na 
ponta do chapéu. 
Resolvi fazer uma faxina geral na casa para deixá-la brilhante como eu. 
Comecei pelos vidros da porta da frente para que todos pudessem ver como eu 
estava bonita. 
Estava quase terminando, quando apareceu um esqueleto – vocês sabem que 
nós, as bruxas, temos umas amizades meio esquisitas... Só de me ver, ficou 
apaixonado e fez uma declaração de amor. Disse que era um bom partido, que 
comia pouco e que estava louco por meus ossos. Só impôs uma condição: que não 
tivéssemos cachorro em casa, pois de cachorro ele morria de medo! 
Nem dei bola pra ele! Sei lá! ... Era magro demais e, além disso, não gosto de 
carecas. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
30 
 
Ele foi embora mergulhando num mar de lágrimas, dizendo que, de tanto 
desgosto, era capaz até de voltar a viver. 
(...) 
E assim continuava a Bruxa Onilda à procura de outros namorados. 
Quando de repente “uma espécie de morcego” enorme voando em 
ziguezague. Pensei em espantá-lo, mas ele logo virou um vampiro lindo, daqueles 
bem elegantes, de fraque e capa preta. E foi dizendo: Bruxa Onilda, você, que é tão 
linda, quer se casar comigo? Minha resposta foi não: com aquelas presas tão 
pontiagudas, ele mal conseguia fechar a boca. Além disso, parecia um chuveiro 
quando falava. E ele, em prantos, sumiu pelo ar. 
Finalmente, quando estava estendendo a roupa lavada no varal, ouvi alguém 
assobiar para mim, cheio de admiração. Era um jovem muito interessante, que 
vinha com uma flor na mão. 
Disse que se chamava Bruxo Pedrusco e que, só de me ver, tinha ficado 
perdidamente apaixonado e queria casar o quanto antes. 
Aí, não resisti e disse sim. Ele tinha cara de bom moço e parecia entender 
muito de magia e feitiçaria. (...) 
(LARREULA, E; CAPDEVILA, R. O Casamento da Bruxa Onilda. Editora Scipione, 1990, p. 2-9 e p. 19-22). 
 
Nesta história, a bruxa Onilda é um exemplo de personagem que rompe com 
as bruxas tradicionais. Esse processo de revitalização e de intertextualidade das 
narrativas populares resulta numa releitura dos contos de fadas. Assim se sucede 
com inúmeras histórias: Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque; Ora Fada, Ora 
Bruxa de Sylvia Orthoff: A Borboleta Amarela de Ziraldo e outras. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
31 
 
A Oralidade e as Tradições 
 
O Folclore é um elenco de manifestações artísticas de caráter popular 
originárias do povo,ou seja, é uma Literatura oral, através das lendas, contos, 
mitos, poesias, danças, cantigas de roda, de ninar, teatro. É a melhor forma de 
penetrar na alma do povo, de conhecer as vidas diferentes do país, de criar uma 
consciência nacional e o amor às nossas coisas e às nossas tradições. 
A lenda é uma forma de narrativa mais antiga, cujo argumento é extrair da 
tradição. Trata-se do relato de acontecimentos, em que o maravilhoso e o 
imaginário suplantam o histórico e o real. Geralmente, a lenda contém um 
sentimento de fatalidade. De origem quase anônima, a lenda é transmitida e 
preservada pela tradição oral. 
Venha conhecer, através do recorte, as lendas: 
 
Pombinha branca 
 
Pombinha branca 
Que está fazendo? 
Lavando a louça 
Para o casamento. 
 
A louça é muita 
Eu sou vagarosa 
Minha natureza 
É preguiçosa. 
 
Passou um homem 
De terno branco. 
Chapéu de lado 
Meu namorado. 
 
Mandei entrar 
Mandei sentar. 
Cuspiu no chão. 
Limpa aí, seu porcalhão (...). 
 
(FELIPE, Carlos; OLIVEIRA, Túlio. Mais Alegria Alegria: as mais belas canções de 
nossa infância. 2. ed. Belo Horizonte: Leitura, 2001 p. 20). 
Literatura Infanto Juvenil 
32 
 
Vozes dos animais 
 
Ladra o dogue, au, au, au 
Au, au, au, au, au, au. 
 
Mia o gato, miau, miau, minhau 
Miau, miau, minhau. 
 
Berra a cabra, bé bé, bé, bé 
 
Zurra o burro, him, hom, him, hom. 
 
Grunhe o porco, nhom, nhom, nhom 
 
Canta o galo, có, có, ri, có. 
 
Grita a choca, có, có, có, có. 
 
Arrulha o pombo, tru, lá, có, paco. 
 
Grasna o pato, chá, chá, macha. 
 
E a marreca, quá, quá, quá, quá. 
 
Malha o sapo, pum, toca o pau. (...) 
 
(FELIPE, Carlos; OLIVEIRA, Túlio. Mais Alegria Alegria: as mais belas canções de 
nossa infância. 2 ed. Belo Horizonte: Leitura, 2001. p. 2). 
 
Literatura Infanto Juvenil 
33 
 
O quadro sintetiza as contribuições das manifestações artísticas do folclore 
para a formação do leitor ou interlocutor em sua cultura popular, além de 
desenvolver uma consciência nacional sobre nossas tradições. 
 
Nesta unidade, você conheceu o itinerário da Literatura infanto-juvenil, 
texto/história contemporânea, sua linguagem simbólica e suas respectivas 
características. 
 
Vamos conhecer e apreender os gêneros literários na próxima. Até lá! 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
Aprofunde seus conhecimentos lendo: 
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil – Teoria, análise e didática. 6. ed. São 
Paulo: Ática, 1993. 
COELHO, Nelly Novaes. Literatura: arte, conhecimento e vida. São Paulo: 
Petrópolis, 2000. 
COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infantil. São Paulo: 
Ática, 1991. 
É HORA DE SE AVALIAR! 
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, elas irão ajudá-lo 
a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois às envie 
através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Literatura Infanto Juvenil 
34 
 
Exercícios – Unidade 1 
 
1. Monteiro Lobato, em 1920, publica A menina do narizinho arrebitado, marco de 
importante modificação que, desde aí, graças a ele e alguns outros autores, pode 
ser detectada num exame crítico dos livros destinados a crianças e jovens. 
Considerando a afirmação anterior e os nossos estudos, marque a opção incorreta. 
 
a) A partir de Lobato, a Literatura Infantil destinava-se à formação da criança. 
b) A partir de Lobato, os livros de LIJ destinavam-se às crianças e aos jovens. 
c) A partir de Lobato, a LIJ contempla uma literatura com padrões 
convencionais e não questionadora. 
d) A partir de Lobato, a LIJ tem como enfoque a criança em formação. 
e) A partir de Lobato, ocorre a relação entre literatura e escola destinada à 
formação ética, intelectual e espiritual, das crianças e dos jovens. 
 
2. Literatura Tradicional em conformidade com os padrões convencionais 
concebe a criança como um ser com uma visão global. 
 
Marque a alternativa correta quanto a esse ideal. 
 
a) A criança era concebida como um ser extraordinário. 
b) A criança era vista como um ser a parte com seus interesses e desejos. 
c) A criança passa a ser concebida como um ser em formação. 
d) A criança era concebida como um ser “adulto” em miniatura. 
e) A criança ocupava seu espaço enquanto cidadã na sociedade. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
35 
 
3. A célula da história da literatura infantil é originária da Novelista Popular 
Medieval, que, por sua vez, tem suas origens mais remotas em certas fontes 
orientais ou, mais precisamente, na Índia. Essa narrativa primordial tem como 
suporte a matéria folclórica chamada literatura popular que, através da 
comunicação oral ou da escrita, funda a Literatura Infantil. Esse processo ocorreu: 
 
a) no Renascimento. 
b) na Idade Média. 
c) no século X. 
d) no século II. 
e) no século III. 
 
4. Leia com atenção o texto abaixo: 
Texto I 
A incapacidade de ser verdadeiro 
 
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no 
campo dois dragões da independência cuspindo fogo e vendo fotonovelas. 
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que 
caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo. 
Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol 
durante quinze dias. 
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas passaram pela 
chácara de Sinhá Elpídea e queriam formar um tapete para transportá-lo ao sétimo 
céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a 
cabeça. 
Não há nada a fazer, Dona Coió. Este menino é mesmo um caso de poesia. 
 
(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Coleção O Dia - Os amáveis assaltantes, nº 7). 
 
Literatura Infanto Juvenil 
36 
 
A prosa de Drummond traduz uma inventividade da personagem, apontando 
para uma irreverência do menino. Marque a alternativa incorreta quanto à ideia do 
texto I. 
 
 a) A relação incompreendida entre o menino-poeta e sua mãe. 
 b) A relação repressora entre a mãe e o menino. 
 c) A relação de compreensão e aceitação entre a mãe e o filho face à revelação 
do seu ser poético. 
 d) A dicotomia entre a mãe e o menino-poeta quanto à sua imaginação. 
 e) A receptividade ao menino-poeta impregnado de poesia por sua mãe. 
 
5. Observe o trecho: “- Não há nada a fazer, Dona Coió. Este menino é mesmo um 
caso de poesia” (...). Marque a opção correta quanto à conclusão do Dr. 
Epaminondas. 
 
 a) O tom de conformismo do menino em ser poeta. 
 b) O tom conformista de sua mãe. 
 c) O tom de ironia de Dr. Epaminondas. 
 d) O tom de passividade do menino. 
 e) O tom de dúvida do menino. 
 
6. Retomando o enfoque histórico, podemos afirmar que com a vinda de D. João VI 
foram criadas as academias, cursos, escolas, etc. O estudo e a educação passaram a 
ser uma preocupação do Estado. Assim, Literatura e Pedagogia eram inseparáveis 
e, a partir das profissões liberais, concebe-se um novo valor à inteligência, aos 
saberes. Marque a alternativa correta quanto à relação Pedagogia e Literatura. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
37 
 
a) Criação de uma nova mentalidade na primeira metade do século XIX. 
b) Criação de uma nova mentalidade: o culto pela inteligência sustentado pelas 
leituras escolares na segunda metade do século XIX. 
c) Criação de uma nova mentalidade: o culto pela inteligência sustentado pelas 
leituras escolares na segunda metade do século VII. 
d) Criação de uma nova mentalidade: o culto dos saber sustentado pelas leituras 
escolares na segunda metade do século VIII. 
e) Criação do culto pela inteligência sustentado pelas leituras em família na 
segunda metade do século XIX. 
 
7. O Sítio do Pica Pau Amarelo é concebido como “sítio” que reúne histórias e 
personagens da cultura universal. Além deste inventário ficcional que Monteiro 
Lobato criou, destacam-se as preocupaçõescom as questões nacionais e 
problemas sociais. Marque a opção correta quanto à concepção desta LIJ. 
 
a) A criação de Lobato, nos anos 20, fundia o real e o maravilhoso em única 
realidade. 
b) A criação de Lobato, nos anos 20, fundia o irreal e o maravilhoso em única 
realidade. 
c) A criação de Lobato, nos anos 20, fundia o irreal e a realidade em única 
manifestação artística. 
d) A criação de Lobato, nos anos 20, fundia o real e o lúdico em única realidade 
artística. 
e) A criação de Lobato, nos anos 20, fundia o imaginário e o maravilhoso em única 
realidade. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
38 
 
8. Reflitamos sobre a postura de Lobato, que teve a habilidade de eliminar de suas 
histórias o elemento perturbador, que seriam os pais com suas ansiedades, atritos e 
problemas emocionais. Tal procedimento do autor resulta: 
 
a) em transtornos e conflitos, normalmente, até as melhores relações entre pais e 
filhos. 
b) em presença transtornos emocionais na constelação familiar do “sítio”. 
c) numa aceitação da autoridade paterna. 
d) numa autoridade paterna valorizando os desejos e os interesses das crianças 
simbolizadas pelas personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo. 
e) numa ausência de transtornos e de conflitos entre pais e filhos. 
 
9. A Cigarra e a Formiga, fábula de La Fontaine, enquadra-se na Literatura Clássica. 
Por quê? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Literatura Infanto Juvenil 
39 
 
10. O texto abaixo se enquadra na Literatura Tradicional ou Clássica. A seguir, 
apresente duas características e comente-as. 
 
Texto II 
A Lebre e a Tartaruga (Esopo) 
 
Um dia, uma Lebre ridicularizou as pernas curtas e o passo lento da Tartaruga. 
A Tartaruga disse rindo: "Pensa você ser rápido como o vento. Mas eu venceria 
você numa corrida." 
A Lebre considerou sua afirmação algo impossível e aceitou o desafio. Eles 
então concordaram que a Raposa escolheria o trajeto e o ponto de chegada. 
E no dia marcado, do ponto inicial eles partiram juntos. A Tartaruga, em 
momento algum parou de caminhar; com seu passo lento, mas firme, em direção à 
chegada. 
A Lebre, confiante de sua velocidade, despreocupada com a corrida, deitou à 
margem da estrada para um rápido cochilo. Ao despertar, correu o mais rápido que 
podia, e viu que a Tartaruga já cruzara a linha de chegada, e agora descansava 
tranquila depois do esforço. 
Moral: Ao trabalhador que realiza seu trabalho com zelo e persistência, sempre 
o êxito será o seu quinhão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Literatura Infanto Juvenil 
40 
 
Literatura Infanto Juvenil 
41 
 
 
Trabalhando os Gêneros 
Literários 
O Gênero Poético. 
O Gênero Narrativo. 
Do Lúdico ao Prazer do Texto. 
Poesia Infantil a Partir dos Anos 60/70. 
Interpretação dos Poemas Através da Subjetividade na Poesia. 
 
2 
Literatura Infanto Juvenil 
42 
 
Aqui, trataremos dos gêneros literários: poético e narrativo, seus aspectos 
temáticos e formais. 
 
Objetivo da Unidade: 
Identificar as características dos gêneros poéticos e narrativos centrados no 
lúdico, voltados para o prazer de ler. 
 
Plano da Unidade: 
 
 O Gênero Poético. 
 O Gênero Narrativo. 
 Do Lúdico ao Prazer do Texto. 
 Poesia Infantil a Partir dos Anos 60/70. 
 Interpretação dos Poemas Através da Subjetividade na Poesia. 
 
 
 
Bons estudos! 
 
Literatura Infanto Juvenil 
43 
 
Inicialmente, de acordo com o ponto de vista da estudiosa Nelly Novaes 
Coelho, reflitamos sobre a conceituação de literatura: 
 
fenômeno de linguagem, resultante de uma experiência 
existencial / social / política / cultural;a consciência do 
poder da palavra, não só como representativa da realidade, 
mas principalmente como nomeadora ou ordenadora do 
real (isto é, consciência de que é a palavra que permite aos 
seres, coisas, emoções, percepções, etc., tornarem-se 
existentes e comunicantes, ou melhor, reais;a valorização 
da imagem ou da ilustração como linguagem altamente 
sedutora e essencialmente formadora da consciência-de-
mundo das crianças, porque estimula o “olhar de 
descoberta” e o pensar – fundamentais para a descoberta e 
conhecimento-de-mundo. (COELHO, Nelly Novaes. 
Literatura: arte, conhecimento e vida. S. P. Petrópolis, 
2000, p. 132 e 133). 
 
Quem não se emociona com a história do Patinho Feio? 
Qual o adulto não se encanta com a Gata Borralheira, a Bela Adormecida, o 
Gato de Botas, a Emília? E por que literatura chamada infantil? Aqui as palavras de 
Drummond nos serão bastante úteis e propícias: 
 
O gênero ‘literatura infantil’ tem, a meu ver, existência 
duvidosa. Haverá música infantil? Pintura infantil? A partir 
de que ponto uma obra literária deixa de constituir 
alimento para o espírito da criança ou do jovem e se dirige 
ao espírito do adulto? Qual o bom livro para crianças, que 
não seja lido com interesse pelo homem feito? Qual o livro 
de viagens ou aventuras, destinado a adultos, que não 
possa ser dado a crianças, desde que vazado em linguagem 
simples e isento de matéria de escândalo? Observados 
alguns cuidados de linguagem e decência, a distinção 
preconceituosa se desfaz. Será a criança um ser à parte, 
estranho ao homem e reclamando uma literatura também 
à parte? Ou será literatura infantil algo de mutilado, de 
reduzido, de desvitalizado – porque coisa primária, 
Literatura Infanto Juvenil 
44 
 
fabricada na persuasão de que a imitação da infância é a 
própria infância? Vêm-me à lembrança as miniaturas de 
árvores, com que se diverte o sadismo botânico dos 
japoneses; não são organismos naturais e plenos; são anões 
vegetais. A redução do homem que a literatura infantil 
implica dá produtos semelhantes. Há uma tristeza cômica 
no espetáculo desses cavalheiros amáveis e dessas 
senhoras não menos gentis, que, em visita a amigos, se 
detêm a conversar com as crianças de colo, estas inocentes 
e sérias, dizendo-lhes toda sorte de frases em linguagem 
infantil, que vem a ser a mesma linguagem de gente 
grande, apenas deformada no final das palavras e 
edulcorada na pronúncia... Essas pessoas fazem oralmente, 
e sem o saber, literatura infantil. (COELHO, 1998. p. 25). 
 
De acordo com o exposto, diríamos que a Literatura Infantil não é um 
“subproduto” cultural, caso se apresente como verdadeira arte. Tal arte de 
linguagem, concebida como fenômeno literário – plural de significações, 
consequentemente, de interpretações – não tem tempo nem idade. Tem, sim, 
qualidade. O trabalho que o autor deve ter com seus textos está diretamente 
ligado ao ainda restrito vocabulário da criança, não à sua compreensão de mundo. 
Cabe ao professor, portanto, em sua prática pedagógica, uma reflexão crítica sobre 
a escolha dos livros para as crianças, observando suas virtualidades simbólicas. 
Há livros que fascinam crianças, jovens e adultos pela inventividade, diversão e 
falam do saber aos nossos leitores, poderemos conferir essa ideia em: “A 
CURIOSIDADE PREMIADA”, de Fernanda Lopes de Almeida e Alcy Linares. Vejamos: 
A história de Glorinha se parece com outras histórias de crianças. A sua 
curiosidade era tamanha. A cozinheira não podia trabalhar sossegada. 
 
“O que tem dentro dessa panela?” 
“Por que você chora quando corta cebola?” 
“Curiosidade puxa curiosidade.” 
 
Literatura Infanto Juvenil 
45 
 
Na sala de aula Glorinha questionava a professora como a Emília de Lobato. 
A incidência de perguntas de Glorinha deixava a todos exaustos, menos a D. 
Domingas que era “uma professora velhota”, mas jovem por dentro. Domingas 
representa a tradição sábia, dava conselhos a todos. 
E todos começaram a responder, sempre a verdade. Glorinha passou dias 
fazendo perguntas, sem parar: 
 
“Onde o sol estava, quando era de noite?” 
“De onde foi que eu vim?” 
 
A criança-leitora é fisgada pela curiosidade da personagem e pela sua própria 
que pode ser ajudada a aflorar. E Glorinhaperguntava mais e mais. Ela perguntou 
ao pai: 
“Onde acabam as estrelas?” 
 
Num determinado momento da história, os pais de Glorinha não souberam 
mais responder às suas perguntas. Desesperados correm para Dona Domingas, que 
lhes diz que a única maneira de responder à Glorinha é perguntar também. E os 
pais começam, então, a buscar as pessoas que poderiam saber as respostas e 
acabam pegando a doença de Glorinha. Glória quer dizer celebridade, reputação, 
fama, imortalidade, honra, ornamento, orgulho. Vence, na narrativa, a glória da 
curiosidade. 
Ao final da história, os pais de Glorinha resolveram dar-lhe um prêmio. Mas 
qual foi a surpresa, Glorinha respondeu: 
 
“É, já recebi o prêmio. O prêmio é viver num mundo interessante!” 
 
Literatura Infanto Juvenil 
46 
 
E D. Domingas continuava a dar conselhos a todos os pais. A simpática 
professora aconselhava para a falta de curiosidade. 
O tom irônico e cômico de D. Domingas remete ao prazer de ser curioso e 
descobrir o mundo. Glorinha descobriu fora de casa mil coisas. Essa curiosidade de 
Glória é peculiar às crianças – o desejo de compreender o mundo que a cerca. Um 
saber preso ao sabor de descobertas do seu eu, do outro e do mundo. 
Glorinha tem a glória de ser curiosa. 
 
O Gênero Poético 
 
O gênero poético tem uma configuração distinta dos demais literários. Sua 
brevidade, aliada ao potencial simbólico apresentado, transforma a poesia em uma 
atraente e lúdica forma de contato com o texto literário. Há poetas que quase 
brincam com as palavras, de modo a cativar as crianças que ouvem, ou leem esse 
tipo de texto. Lidam com toda uma ludicidade verbal, sonora e musical, no jeito 
como vão juntando as palavras e acabam por tornar a leitura algo muito divertido. 
Como recursos para despertar o interesse do pequeno leitor, os autores utilizam-se 
de rimas bem simples e que usem palavras do cotidiano infantil; um ritmo que 
apresente certa musicalidade ao texto; repetição, para fixação das ideias, e melhor 
compreensão dentre outros. 
A literatura permite ao leitor, por meio da interação com o texto, tomar 
contato com uma série de experiências, de conhecimentos, de impressões, que os 
homens foram acumulando com o passar dos séculos. É como se esse 
conhecimento estivesse guardado em nossa memória até o momento em que o 
reconhecemos nas manifestações artísticas. Esse reconhecimento é que provoca o 
prazer, faz sonhar, permite muitas interpretações e recriações. 
A literatura é feita de palavras, o homem material, portanto, de que são feitos 
os artigos científicos, as reportagens jornalísticas, as correspondências comerciais – 
mas, na literatura, as palavras são manipuladas de forma especial. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
47 
 
Não só de efeitos auditivos se faz o poema, à medida que a criança cresce e 
empreende sua aventura pelo mundo, ela se torna independente dos pais, mas 
precisa de pontos de apoio a fim de se sentir segura de suas forças para esse às 
vezes doloroso descolar-se do ninho protetor da família. O alicerce mais estável 
nessa empresa é sua percepção, que lhe dá a realidade e a orientação espacial. O 
processo de apreensão do outro se inicia pelos órgãos sensoriais mais 
dependentes do contato (gosto, tato) e se estende aos distanciadores (olfato, 
audição e visão). Estes últimos, em especial a visão, comandam a apropriação 
intelectual da realidade e seu apuramento possibilita a autodeterminação no 
espaço físico e, depois, no social. 
Estreitamente ligada ao aparato perceptivo está outra das peculiaridades da 
poesia, a imagética, que é a vereda poética de desvelamento das aparências 
sensoriais. No poema, em grau habitualmente mais elevado do que na prosa, a 
produção de sentido se faz interpondo ao referente do signo um outro referente, 
ou mais de um, por meio do processo dos tropos. O tropo é um deslizamento da 
relação signo-referente, efetuado por associações através de semelhanças (as 
metáforas) ou de contiguidades (as metonímias). Tanto num caso quanto no outro, 
o complexo de referência projetado imaginariamente pelos signos não obedece à 
correspondência de um para um, o que obriga as operações mentais de decifração. 
As chamadas figuras de linguagem podem todas ser reduzidas a fenômenos 
metafóricos ou metonímicos, mas não renunciam a seu caráter de representações 
deslocadas, em que a imaginação é induzida a trabalhar criativamente, 
reorganizando registros de vivências perceptuais. 
Das formas literárias, a poesia é a que mais exige introspecção, mas não 
porque o poema seja um fato altamente subjetivo, a exacerbação de um estado de 
espírito pessoal do escritor, como, por vários séculos, se acreditou que fosse uma 
de suas manifestações, a lírica. 
Porque condensa múltiplos sentidos num espaço gráfico mínimo, graças aos 
processos de realce dos signos já mencionados, o poema exige do seu leitor um 
olhar mais atento à página, uma ativa mobilização do conteúdo intelectual e 
afetivo preexistente ao contato, um ajustamento contínuo de emoções e desejos, 
juízos e avaliações à medida que a leitura progride. Isso ocorre com a mesma força 
de demanda quanto à poesia infantil esteticamente válida.
Literatura Infanto Juvenil 
48 
 
A condensação dos sentidos operada pela palavra poética não procede, 
porém, apenas da imagética ou da melopeia. Para poder entender por que o 
poema significa mais do que o conjunto de seus signos é preciso ir além do nível 
verbal, entretanto no campo das representações. Todo discurso evoca não as 
coisas, mas seus conceitos. O discurso poético reveste esses conceitos de uma 
carne imaginariamente sensorial, mas não pode ultrapassar o limite entre o signo e 
a coisa significada, por mais opaco que apresente esse primeiro com intenção de 
dar-lhe materialidade. Sucede que a não transparência aumenta a distância entre o 
poema e a vida, obrigando à introspecção. 
De acordo com Bachelard em O ar e os sonhos (2001, p.2), “O poema é 
essencialmente uma aspiração a imagens novas. Corresponde à necessidade 
essencial de novidades que caracterize o psiquismo humano”. A poesia requer 
profundo devaneio e memória. Bachelard continua a refletir sobre o assunto em A 
poética do devaneio (1988,p.7): “Notemos, aliás, que um devaneio, diferentemente 
do sonho, não se conta. Pra comunicá-lo, é preciso escrevê-lo com emoção. Com 
gosto, revivendo-o melhor ao transcrevê-lo”. Em outras palavras, são os poetas que 
irão nos ajudar a reencontrar a infância viva, permanente, durável, imóvel, e é a 
poesia que irá nos renovar: “somos feitos para respirar livremente. [...] E é nisso que 
a poesia-ápice de toda alegria estética - é benéfica”(BACHELARD,1988,P24-25). Só a 
leitura nos salvará nos proporcionará intensos momentos de regresso ao tempo 
acolhedor da infância e à superação de uma existência limitada. Ainda segundo o 
filósofo, é esse excesso de infância que será capaz de produzir o germe do poema. 
Nos devaneios da criança, a imagem prevalece acima de tudo. As experiências 
só vêm depois. Elas vão à contra-vento de todos os devaneios de alçar voo. A 
criança enxerga grande, a criança enxerga belo. O devaneio voltado para a infância 
nos restitui à beleza das imagens primeiras. (BACHELARD,1988,P.28). 
Os poetas devem ser capazes de nos convencer de que todos os nossos 
devaneios de criança merecem ser rememorados. Segundo Bachelard (1988 p.110-
11) “É preciso embelezar para restituir. A imagem do poeta devolve uma auréola às 
nossas lembranças. Estamos longe de uma memória exata, que poderia guardar a 
lembrança pura emoldurado-a. [...] A infância vê o Mundo ilustrado, o Mundo com 
suas cores primeiras, suas cores verdadeiras”. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
49 
 
Na poesia de Roseana Murray observa-se um projeto poético para crianças. 
Através de sua obra, percebemos um diálogo rico das imagens criadas no jogo 
entre o texto e a ilustração, garantindo aqualidade pictórica das obras, mas sem 
perder a riqueza poética do texto. 
No âmbito da literatura infantil brasileira, Roseana Murray, nascida no Rio de 
Janeiro, em 1950, é uma das representantes de nossa poesia que tem traçado um 
caminho singular e diferenciado no percurso da lírica moderna. A autora dedica 
sua obra literária basicamente ao público infantil e juvenil, sua poesia ultrapassa 
essa fronteira da faixa etária, devido à construção de um projeto estético singular e 
inovador, capaz de transformar a poesia numa aliada contra o peso das vicissitudes 
das adversidades da existência. Seus poemas fazem amplo uso de uma linguagem 
metafórica, permite ao leitor transcender o lúdico e radicando-se de vez no 
poético. Essa é a sua maior contribuição, o que permite enquadrar a poetisa em um 
projeto diferenciado, dotado de algumas das mais inovadoras características da 
linguagem poética moderna: ruptura com a tradição. Lucidez, exatidão, leveza e 
universalidade. A palavra do dia a dia transmuta-se. Transforma-se em sentidos 
novos, em metáforas sutilmente bem contornadas no contexto poético da sua 
obra, elevando-se a uma categoria estética realmente surpreendente. 
Com ilustrações de extrema beleza, os poemas de Roseana Murray fornecem 
ao leitor a senha de acesso a um outro mundo, o mundo da poesia. Sua poesia 
contribui para o futuro desenvolvimento da sensibilidade estética no jovem leitor. 
Em Manual da delicadeza de A a Z (2001), ilustrado por Elvira Vigna, a poetisa 
resgata, numa espécie de dicionário afetivo, as noções que orientam o bem viver, o 
bem relacionar-se com o outro e o bem compreendê-lo por meio de uma norma e 
de uma regra simples: a delicadeza. 
 
IMPORTANTE 
No panorama da poesia infantil no Brasil destaca-se a produção poética de 
Roseana Murray, poetisa contemporânea com vários livros de poesia para crianças. 
Literatura Infanto Juvenil 
50 
 
Segundo Sônia Maria dos Santos Menezes, Roseana consegue muito mais do 
que simplesmente escrever um manual. Ao direcionar sua forma literária para o 
fértil terreno do imaginário infantil, ela arrebata outros seguidores, interessados 
tanto em poesia como em fazer dela uma parte significativa do seu compromisso 
com o existir e com o humanizar-se. O livro é organizado em ordem alfabética (um 
título de poema para cada letra do alfabeto), numa sequência capaz de dialogar 
com leitor. É interessante notar que, ao fazer essa escolha, fica clara a importância 
do alfabeto no aprendizado da leitura, ou seja, ele é o passo inicial para penetrar no 
mundo simbólico da escrita onde começa pela letra A, primeira letra, e termina no 
Z, última letra do alfabeto. 
Seu manual foi organizado dessa maneira intencionalmente, a fim de facilitar o 
entendimento necessário que se precisa para exercer e praticar a delicadeza. E 
dentre as muitas possibilidades de palavras, Roseana Murray escolheu, 
privilegiando algumas: afago, bem-estar, carícia, dádiva, esperança, fonte, gavetas, 
horizonte, invisível, jardim, luz, moinho, nuvens, olhar, pássaros, querubim, rosto, 
silencio, tempo, universo, voz, xale e zelo. A primeira palavra é afago e a ultima é 
zelo. As duas convidando à aproximação, ao toque, ao cuidado com o outro. Todas 
as palavras, cuidadosamente selecionadas e combinadas, sugerem, mais imagens 
poéticas, uma situação de leveza que contraria o peso do viver, ao enfatizar 
situações que permitem ao leitor visualizar o outro e perceber tanto sua existência, 
como sua solidão e suas tristezas. 
Segundo a análise de Ferreira Gullar, “A poesia de Roseana Murray é feita de 
delicadeza e transparências, como se ela falasse para mostrar o silêncio. E assim a 
linguagem alcança a condição de pluma ou porcelana”. Isso nos faz lembrar que as 
penas voam embaladas pelo ar e que as antigas porcelanas chinesas são chamadas 
de casca de ovo pela sua fragilidade. Nas mãos, não têm peso algum e quem as 
preserva ainda hoje as guarda como verdadeiros tesouros, carregados de aura e de 
saudade. Assim se justifica a própria poetisa, explicando as razões de seu Manual: 
“Assim nasceu este manual: a partir de cada letra uma palavra, a partir de cada 
palavra um poema. A vida deveria ser uma teia de infinitas delicadezas. Ao invés de 
uma porta fechada, horizontes, ao invés de um grito, girassóis”. (MURRAY, 2001, 
30p.). 
 
Literatura Infanto Juvenil 
51 
 
Todos os vinte e três poemas parecem tocados pelo rico campo semântico 
relativo aos significados de leveza, dos quais foram escolhidos poemas dentre os 
mais representativos. Isso fica bastante evidenciado no poema: 
 
“Querubim” (p.21) 
 
Hoje um anjo pousou 
 
em meus olhos: 
 
eu caminhava, 
 
e de repente, 
 
tudo ficou 
 
tão leve e alado, 
 
havia em todos, 
 
nas ruas e nas casas, 
 
um desejo de querer bem, 
 
de repartir o pão, 
 
de inventar jardins 
 
e gestos delicados. 
 
Todos amavam todos 
 
Numa ciranda infinita, 
Que dava a volta no mundo 
 
Fazendo um anel de luz. 
 
Percebe-se, nesse poema, que a autora, assim como propõe Calvino, esforçou-
se por retirar peso, tornando leves e agradáveis alguns elementos importantes da 
poesia: a figura humana, a cidade e a linguagem. A figura humana fica destituída
Literatura Infanto Juvenil 
52 
 
de peso, pois é remetida ao sentimento de querer bem ao outro; vira um anjo, fica 
leve, tocada por esse sentimento. O mesmo ocorre com a cidade: “[...] nas ruas e 
nas casas, / um desejo [...]/ de inventar jardins [...]. Criar jardins, plantar flores, 
embelezar com eles as ruas e as casas faz com que a cidade fique mais leve, mais 
bonita, mais pronta para ser habitada por nós. Nesse caso, Roseana seleciona 
cuidadosamente as palavras que melhor representam a leveza, como é o caso das 
palavras ciranda infinita e depois anel de luz, que vão ao encontro de alguns dos 
maiores anseios da humanidade: liberdade, igualdade e união entre os povos. E 
esse cuidado se exerce com rigor em todos os poemas do livro, pois neles, 
concretamente, as palavras dão a ideia de que a vida, exercida com delicadeza, fica 
mais leve e mais agradável de ser vivida. 
É bom lembrar que as primeiras manifestações literárias se deram em forma de 
poesia. A literatura, portanto, tem origem na poesia. As histórias antigas de 
grandes batalhas ou de viagens extraordinárias, em que os heróis são muitos 
descendentes dos deuses e realizam ações sobre-humanas, salvando até nações, 
foram escritas em forma de poemas. 
Você já deve ter ouvido falar nos dois maiores poemas da Grécia antiga, A 
Ilíada e a Odisséia. Esses textos, que são o resultado de uma longa tradição oral de 
histórias e lendas, foram escritos em versos, pois dessa forma poderiam ser 
memorizados mais facilmente e preservados de geração em geração. 
É importante lembrar que, assim como todas as artes sofreram e sofrem 
transformações ao longo do tempo, a literatura também passou por mudanças 
constantes. Há muitas diferenças entre obras literárias de épocas diferentes. O 
conjunto dessas obras de diferentes épocas nos permite compreender a literatura 
de hoje, que influencia nosso modo de pensar e de agir. 
Ao produzir um texto literário, o autor organiza a mensagem, recriando certos 
conteúdos. Para isso, faz uso de variados recursos, de acordo com o tipo de texto 
que produz. Escolhe com rigor as palavras, combina-as para dar ritmo e sonoridade 
ao texto, descreve situações, apresenta os personagens e suas ações e 
pensamentos. No texto literário, não importa apenas o que vai ser dito, mas o 
modo como se vai dizer. A linguagem que caracteriza o texto literário é uma 
linguagem plurissignificativa, isto é, apresenta muitos significados; é conotativa. 
Nesse tipo de texto, o modo como o assunto vai ser tratado é tão importante 
Literatura Infanto Juvenil 
53 
 
quanto o conteúdo a ser transmitido. O texto literário exige, portanto, um leitor 
preparado para essa linguagemque sugere que admite interpretações diferentes. 
Podemos afirmar que o texto literário tem uma função estética, enquanto o 
não literário tem uma função utilitária (pretende informar, provar, convencer). 
Nos anos 70, houve um expressivo crescimento da produção literária infantil 
brasileira, motivado, principalmente, pelos projetos de autoridades educacionais 
preocupadas com o baixo índice de leitura dos alunos e decididas a fazer chegar às 
escolas um grande número de obras destinadas às crianças e aos jovens. 
A expansão do mercado dessas obras, além de provocar o aparecimento de 
novos títulos e de novos autores, favoreceu o aperfeiçoamento das técnicas de 
editoração e de utilização de recursos gráficos e visuais. 
Os temas moralizantes, conservadores e autoritários, que predominavam em 
épocas anteriores, dão lugar ao humor, à narração de aventuras e de viagens 
espaciais, ao envolvimento dos personagens nos problemas sociais e na busca de 
soluções. 
Também na poesia destinada às crianças manifestam-se grandes 
transformações nos temas e na própria construção do poema. Valoriza-se agora o 
poder comunicativo das palavras, dos versos, dos sons. 
As ilustrações passam a interagir efetivamente com o texto verbal, compondo 
o conjunto significativo do texto. 
A priori, é necessário lembrar que a essência da poesia arraiga em certo modo 
de ver as coisas. Uma visão que vai além do invisível ou do aparente, para captar 
algo que nele não se mostra de imediato, mas que lhe é essencial. 
Esse poder de ver além do invisível, que é dado aos poetas e que até agora 
nenhuma pesquisa científica conseguiu explicar, foi tido, desde a origem dos 
tempos, como um dom dado pelos deuses. É essa a magia da palavra poética 
multiplicar-se em diferentes sentidos, dependendo do olhar e do espírito de quem 
a lê. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
54 
 
Segundo Cassiano Ricardo, poesia é palavra. 
 
Que é a Poesia? 
Uma ilha 
Cercada 
De palavras 
Por todos 
Os lados. 
 
Mas não é só palavra... Poesia é também imagem e som. As palavras são signos 
que expressam emoções, ideias... através de imagens (símbolos, metáforas, 
alegorias...) e de sonoridade (rimas, ritmos...) É esse jogo de palavras, o principal 
fator de atração que as crianças têm pela poesia, transformada em canto (as 
cantigas de ninar...) ou pela poesia ouvida ou lida em voz alta, que lhe provoque 
emoções, sensações, impressões numa interação lúdica e gratificante. 
O jogo poético além de estimular o olhar de descoberta nas crianças, atua 
sobre todos os seus sentidos, despertando um sem-números de sensações: visuais 
(imagens plásticas, coloridas, acromáticas etc.); auditivas (sonoridade, música, 
ruídos...); gustativas (paladar); olfativas (perfumes, cheiros); tácteis (maciez, 
aspereza, relevo, textura...); de pressão (sensações de peso ou de leveza); termais 
(temperatura, calor ou frio); comportamento (dinâmicas estáticas...). 
É óbvio que num só poema, dificilmente todas essas sensações são 
provocadas ao mesmo tempo, pois cada um deles apresenta determinados tipos 
de transfiguração imagística que tem seu modo peculiar de atuar no pequeno 
leitor ou ouvinte. 
Entre a poesia infantil tradicional e a contemporânea há uma diferença básica 
de intencionalidade: a primeira pretendia levar seu destinatário a aprender algo 
para ser imitado depois, a segunda pretende levá-lo a descobrir a sua volta e a 
experimentar novas vivências que, ludicamente, se incorporarão em seu 
desenvolvimento mental/existencial. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
55 
 
A produção poética no Brasil, até bem pouco, foi extremamente limitada. 
Deixando de lado a poesia popular ou folclórica (perpetuada nas brincadeiras de 
roda ou nas cirandas...), que sempre encantou a meninada, o que havia de poesia 
infantil era uma produção poética de natureza culta e inspiração romântica. 
Nascida em fim do século XIX e expandindo-se nos primeiros anos do século 
XX, a poesia infantil brasileira surge comprometida com a tarefa educativa da 
escola, no sentido de contribuir para formar no aluno o futuro cidadão e o 
indivíduo de bons sentimentos. 
Daí a importância dos “recitativos” nas festividades patrióticas ou familiares, e 
a exemplaridade ou a sentimentalidade que caracterizam tal poesia. 
Fazia parte do nosso sistema educativo (de fins do século XIX até os anos 
30/40) a memorização de poemas que deviam ser ditos pelos alunos nas aulas de 
leitura ou em datas festivas. (Foram inúmeras as queixas que ouvimos de amigos 
ou familiares mais velhos, ao recordarem a vergonha ou a raiva com que se 
submetiam a tal recitação obrigatória e que os levou a detestar poesia...). 
Entende-se, hoje, que o dizer poesia é algo muito subjetivo e pessoal que não 
deve ser imposto à criança, pois só será gratificante se resultar de um gesto 
espontâneo, feito com entusiasmo ou alegria. No passado, porém os objetivos 
eram outros: a criança era entendida como um “adulto em miniatura” que 
precisava assimilar o mais rápido e o mais perfeitamente possível, o modo de ser, 
pensar e agir do adulto. Compreende-se, pois, que o método básico do ensino 
tradicional fosse o da memorização. Aos novos, só cabia repetir sem alterações o 
que os mais velhos sabiam ou faziam. 
E é nesse sentido que a poesia era criada e transmitida. (Consultando 
compêndio antologias ou coletâneas literárias que eram adotadas em nossas 
escolas no início do século, nota-se o predomínio de poemas narrativos filiais, 
fraternais, caridosos, generosos, de obediência etc.). 
A produção de poesia infantil era muito pequena, restringia-se a poemas 
lúdicos, de pura brincadeira e quase sempre pueris. Essa limitação na produção 
poética para criança era compensada com a voga das cantigas populares ou 
folclóricas, cantigas de roda etc., que a criançada sabia de cor. 
 
Literatura Infanto Juvenil 
56 
 
Nas coletâneas oficiais (de prosa e poesia) o número de autores portugueses 
superava o de brasileiros, devido não só a razão histórica (nossa literatura foi 
gerada por raízes portuguesas), mas também à ascendência cultural que Portugal 
manteve sobre o Brasil até a eclosão do Modernismo nos anos 20. 
Entre os poetas portugueses figuram Camões, Alexandre Herculano, Garret, 
Guerra Junqueira, Antero de Quental, João de Deus... Entre os brasileiros: 
Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Raimundo 
Correa... Entre os brasileiros que, nessa época, escreveram poesia para criança 
destacam-se Olavo Bilac, Zilma Rolim, Alexina de Magalhães Pinto, Francisca Julia, 
Maria Eugenia Celso... 
Para um breve confronto entre a poesia tradicional e a contemporânea 
destinada à meninada, selecionamos alguns fragmentos “exemplares” da poesia e 
da visão de mundo imperante no início do século XX: visão do homem como ser 
condenado à irrealização de seus sonhos ou ideias e que tem, como único caminho 
salvador o amor de Deus e a compaixão por seus semelhantes. 
Vista em conjunto, a poesia “oficial” que circulava nas escolas era 
predominantemente de natureza culta e de influência romântica ou realista. O que 
equivale a dizer que são poemas sentimentos ou de racionalização das emoções; e 
alimentados por uma visão de mundo ora idealizante ora pessimista, mas sempre 
de reforço à tradição herdada. 
O jogo lúdico das palavras e dos fonemas cria uma atmosfera que atrai o 
espírito infantil, mas ainda é a visão do adulto que predomina. 
 
Tico-tico no farelo 
Sinhá tem pena. 
Tico-tico troca as letras 
Sinhá tem pena. 
Tico-tico não aprende 
Sinhá tem pena. 
Tico-tico analfabeto 
Sinhá tem pena. 
Literatura Infanto Juvenil 
57 
 
Como é fácil notar, mesclado à situação natural e pitoresca (tico-tico comendo 
farelo) há um traço negativo: tico-tico é analfabeto - ignorância que era malvista 
pela sociedade. 
“Tempestade” é de seus poemas mais modernos, no que diz respeito à reação 
libertaria das crianças

Continue navegando