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A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira APRESENTAÇÃO A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira é marcada, profundamente, pelas transformações socioculturais e políticas ocorridas no país a partir de seu processo de modernização. Na virada do século XIX para o século XX, motivados pelo sentimento nacionalista oriundo da consolidação da República, escritores como Olavo Bilac e Coelho Neto iniciaram o caminho da produção literária direcionada a crianças e adolescentes. Entretanto, foi com Monteiro Lobato, em 1921, que a literatura infantojuvenil tornou-se um fenômeno popular e, com isso, trilhou um percurso multigeracional que a consagrou como patrimônio cultural brasileiro. Ao longo dos anos, sua produção manteve uma relação intrínseca com as diretrizes educacionais do país, estabelecendo associação permanente entre a prática escolar e a exploração dos recursos de linguagem. Já na contemporaneidade, com o advento das tecnologias eletrônicas e digitais, a literatura infantojuvenil amplia sua versatilidade e revela-se plena de potencialidades de abordagem, em harmonia com os processos cognitivos dos novos leitores. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá sobre as especificidades das transfigurações ocorridas na literatura infantojuvenil brasileira, investigará seus aspectos teóricos em textos de diferentes épocas e analisará o contexto do aluno, parte fundamental na complexa dinâmica do processo de ensino-aprendizagem. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as transformações da literatura infantojuvenil brasileira.• Reconhecer a importância dos interesses prévios dos alunos na seleção de livros para leitura na escola. • Analisar a utilização de linguagens verbais e não verbais em textos de literatura infantojuvenil. • DESAFIO A poetisa Cecília Meireles é um dos grandes nomes pertencentes à tradição da literatura brasileira. Geralmente associada à fase de construção do Modernismo - vigente entre 1930 e 1945 - Meireles refletiu, em seus textos, sobre a fugacidade da existência, a (im)permanência das coisas e outros assuntos de voga espiritual, sempre com linguagem simbólica e sugestiva. Sua poesia, dotada de intensa musicalidade, também retomou eventos históricos, como em o Romanceiro da Inconfidência, que recupera fatos e personalidades históricas ligadas à Inconfidência Mineira. Essa característica musical/sonora da autora aparece, notadamente, nos textos destinados ao público infantil. Esse é o caso do poema Colar de Carolina, publicado no livro Ou Isto ou Aquilo, de 1964, uma das obras mais significativas da sua extensa produção. Você é professor de literatura infantojuvenil e teve a ideia de realizar uma atividade pedagógica utilizando o poema Colar de Carolina, de Cecília Meireles. O intuito é lançar mão desse material linguístico extremamente poderoso e explorar os seus recursos didáticos em sala de aula. A fim de obter, concretamente, resultados teóricos e práticos que auxiliarão no processo de ensino-aprendizagem, você deve analisar as características do poema e responder às seguintes questões: a) O processo sonoro do poema é viabilizado pela utilização de recursos próprios de linguagem, como o uso de figuras, aproximações musicais, etc. Que recursos desse tipo você pode encontrar no decorrer dos versos? b) No processo de alfabetização, é importante o aluno identificar, distinguir e reproduzir as letras do alfabeto. Tendo isso em vista, quais são as letras que você identifica no poema, as quais podem ser exploradas no processo de ensino-aprendizagem? c) As palavras do poema formam imagens. Como você faria para aliar, nesse caso, o conteúdo do poema (o que transmite como mensagem) com a sua respectiva forma (os recursos explorados pela linguagem)? d) No verso "E o sol, vendo aquela cor" ocorre uma figura de linguagem muito comum nos textos de literatura infantojuvenil. Aponte que figura é essa? e) Considerando que o texto foi produzido na década de 1960, quais são os motivos que o fazem interessante para seus alunos nos dias de hoje? INFOGRÁFICO Apesar de relativamente recente, com cerca de cem anos, a literatura infantojuvenil passou por diversas fases, diretamente relacionadas às transformações dos contextos sociocultural e histórico, bem como às medidas adotadas tanto na esfera pública quanto na privada, em diferentes momentos e pelos próprios rumos da educação no Brasil. Confira no Infográfico os períodos cronológicos mais relevantes e as peculiaridades de difusão da literatura infantojuvenil. CONTEÚDO DO LIVRO A literatura infantojuvenil, como forma artística e expressão comunicativa, é, de maneira geral, destinada a um público específico, embora, notadamente, apresente conteúdos plurais que se ajustam a interesses de natureza diversa. Mesmo reconhecendo as subjetividades de cada indivíduo, as crianças e os adolescentes encontram, no universo da leitura, uma maneira criativa e envolvente de compreender a realidade e perceber a importância das relações interpessoais, fortalecendo os laços afetivos e o desenvolvimento tanto cognitivo quanto humanístico. No capítulo A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira, da obra Literatura infantojuvenil, você conhecerá em perspectiva diacrônica, como a história desse gênero consagrado desenrola- se em diálogo permanente com o âmbito educacional, além disso, identificará os aspectos que podem ser explorados na prática pedagógica. Boa leitura. LITERATURA INFANTOJUVENIL Lucas da Cunha Zamberlan A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as transformações da literatura infantojuvenil brasileira. Reconhecer a importância dos interesses prévios dos alunos na seleção de livros para leitura na escola. Analisar a utilização de linguagens verbais e não-verbais em textos de literatura infantojuvenil. Introdução A literatura infantojuvenil, devido à sua natureza formal, caracteriza-se pela liberdade imaginativa. Portanto, seu corpus é constituído por um conjunto variado de textos, que objetiva trabalhar com a fantasia, promovendo, pela linguagem verbal — e, na maioria das vezes, também visual —, uma conexão intercambiante entre a matéria extraordinária e a realidade. Neste capítulo, você compreenderá, além das articulações históricas que formataram a literatura infantojuvenil brasileira, quais estratégicas metodológicas podem potencializar a utilização de suas virtudes em sala de aula, sempre levando em consideração as particularidades contextuais dos alunos, seus interesses e históricos de leitura. A evolução da literatura infantojuvenil no Brasil As expressões artísticas circunscritas, propriamente, à literatura infantojuvenil desenvolveram-se originalmente na Europa, no fi m do século XVII, como uma consequência da particularização do universo infantil. Como parte integrante das transformações socioculturais próprias da Idade Moderna (1453–1789), a noção de infância nasce e aprimora-se nesse período. Assim, a partir de uma nova concepção, mais adequada às regras de convivência social que se estabeleceram, a criança passa a ser vista de uma forma específi ca, diferente do indivíduo adulto e, portanto, composta pelas suas próprias características e necessidades, em acordo com o que Coelho (1991, p. 108) denomina “A descoberta da criança [...]”. Com uma contribuição bastante significativa da narrativa oral — passada de geração para geração —, as primeiras histórias registradas possuíam um profundo apelo pedagógico, como uma educação moral que deveria auxiliar no processo de formação axiológica das crianças. Dessa época, é publicado o livro Contos de fadas ou histórias do tempo antigo: contos da mamãe ganso, 1697, de CharlesPerrault, que trazia versões hoje em dia já muito modificadas de narrativas como A bela adormecida no bosque, Chapeuzinho Vermelho, O gato de botas, As fadas, A gata borralheira, Henrique do topete e O pequeno polegar. E, no mesmo sentido, as fábulas de La Fontaine, recuperadas das de Esopo, datadas da Grécia Antiga. No século XIX, já na Idade Contemporânea (1789–hoje), ocorre uma evidente preocupação com o acabamento estético dos contos. Autores como os Irmãos Grimm e o dinamarquês Hans Christian Andersen atualizaram as histórias, estruturando-as com um andamento adequado ao ritmo de interesse do público- -alvo e modificando-as, com a finalidade de torná-las mais estimulantes. Essas narrativas que eram, em certa medida, traduzidas para o português — principalmente para o português europeu — apenas atingiam uma camada muito privilegiada de leitores brasileiros. Com isso, já no alvorecer do século XX, surgiu um primeiro interesse de se iniciar uma literatura infantojuvenil no País, motivado pelas primeiras reformas do sistema escolar nacional. No entanto, mais uma vez, como ocorrera nas origens do gênero, percebe-se, na escolha da maioria dos temas, uma intenção moral e, no nosso caso, sobretudo, patriótica. Dessa forma, grandes expoentes da literatura brasileira da época, principalmente os vinculados ao parnaso-simbolismo, passaram a escrever para jovens e crianças com o objetivo, entre outros, de despertar, nesses leitores, uma consciência nacional, moral e civil que acarretaria na formação de cida- dãos comprometidos com o País. Destacam-se, nesse cenário, escritores como Olavo Bilac, Coelho Neto, Hilário Ribeiro, Júlia Lopes de Almeida, Romão Puiggari, Fausto Barreto, Francisca Júlia, Tales de Andrade, entre outros. Entretanto, a revolução na nossa literatura infantojuvenil ocorreu, de fato, com Monteiro Lobato. Para Coelho (1991), o escritor conseguiu, com a sua produção, romper com as estruturas estereotipadas insistentemente repetidas para, a partir de uma concepção moderna ligada à realidade cultural do século XX, construir histórias conectadas com a realidade circundante. Já conso- ante com a nova diretriz pedagógica — a Escola Nova —, que privilegiava a A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira2 inclusão de imagens nas obras infantis, Lobato publica, com grande sucesso, em 1921, A menina do nariz arrebitado, seguido de Narizinho arrebitado, datado do ano seguinte. Segundo avalia Coelho (1991), com grande acerto, boa parte do sucesso do autor junto ao público infantojuvenil decorreu do fato de o autor ofere- cer, ao mesmo tempo, uma identificação advinda da esfera doméstica, por conseguinte, familiar e afetiva e a introdução a um universo maravilhoso, tal qual Lewis Carrol havia feito com Alice no país das maravilhas, décadas antes. É importante acrescentar, ainda, que, apesar de a literatura de Monteiro Lobato também não prescindir de um engajamento moral, assim como seus antecessores, essa marca vem acompanhada, como afirma Barbosa (1996), de informação e, acima de tudo, instrução. Cavalheiro (2001, p. 296), em uma síntese dos livros infantojuvenis do autor, observa: Embora sem plano pré-concebido, realiza uma obra ímpar do gênero. Cria o Sítio do Pica-Pau Amarelo, inventa a Emília, uma boneca que pensa e fala como gente grande, traz para o sítio um autêntico rinoceronte, transforma um simples sabugo de milho num sábio, o Visconde de Sabugosa. A saga infantil de Monteiro Lobato não tem semelhante mesmo na literatura universal, uma vez que autores de grandes livros há inúmeros, mas outro que tenha, como ele, construído, em torno de um mesmo ambiente e praticamente com as mesmas personagens, todo um ciclo de aventuras que se estende por duas dezenas de volumes, não será fácil apontar. Nas décadas subsequentes, houve alguns avanços, porém eles foram muito pontuais. Na década de 1930, a literatura infantojuvenil teve uma veiculação forte em jornais, como o Tico-Tico e a Biblioteca Infantil. De forma semelhante, A Gazeta passa a publicar um suplemento juvenil, assim como O Globo, com a seção O Globo Juvenil. Nos anos 1940, com a ascensão da estética noir, assoma-se as séries policiais, que são difundidas pelos periódicos especia- lizados. Assim, nomes de detetives famosos, como Dick Tracy e o Agente Secreto X-9, passam a aparecer em um novo tipo de texto: os quadrinhos, inaugurando uma nova maneira de ler histórias infantojuvenis. No decênio de 1950 e parte dos anos 1960, o gênero sofre interferência da popularização da cultura de massa (cinema, rádio e televisão) no País. Ao mesmo tempo, há a publicação de clássicos importantes, como Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles. Contudo, o fato mais relevante da época foi a votação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1961 (e reformulada em 1971), que atribuiu ao governo um papel fundamental na educação. 3A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira É o momento de grande esplendor da literatura infantojuvenil no Brasil. Em perfeita proporcionalidade criativa com a MPB (Música Popular Brasileira) e outras formas de expressão artística, como a dramaturgia, ocorre uma efer- vescência cultural historicamente sem precedentes. As editoras, identificando o momento promissor, investiram nessa forma de produção. A editora Ática, por exemplo, lançou, em 1973, a Série Vagalume, que abriu espaço para o surgimento e/ou a consolidação dos nomes da nova geração. Desse período, 1960, 1970 e 1980, surgem Ana Maria Machado (Menina bonita do laço de fita/Bisa Bia Bisa Bel), Lygia Bojunga Nunes (A bolsa amarela), Maria José Dupré (Éramos seis), Ruth Rocha (Marcelo, marmelo, martelo), Lúcia Machado de Almeida (O escaravelho do diabo/Xisto no espaço), José Mauro de Vasconcelos (Meu pé de laranja lima), Luiz Puntel (Meninos sem pátria), Marina Colasanti (Uma ideia toda azul), Fernanda Lopes de Almeida (A curiosidade premiada), João Carlos Marinho Silva (O gênio do crime), Eva Furnari (A bruxinha atrapalhada), Marcos Rey (Um cadáver ouve rádio), Pedro Bandeira (Droga da obediência), a publicação de O menino maluquinho, de Ziraldo, e A arca de Noé, musical do já então canônico Vinícius de Moraes. Grande parte das obras desses autores trata de questões de extrema relevân- cia social, como Menina bonita do laço de fita, que aborda o preconceito racial; A droga da obediência, por seu turno, relaciona os conflitos da adolescência com o abuso de drogas; ao passo que A bolsa amarela configura-se como obra síntese sobre a travessia existencial entre infância e fase adulta. Esses livros, entre outros, foram vistos, no contexto da redemocratização, como um material linguístico, artístico e principalmente pedagógico de extrema potencialidade, como símbolos culturais de um Brasil esperançoso com o futuro e seus agentes (crianças e jovens). Zilberman (2016, p. 20) faz um levantamento da convergência teórico- -acadêmica que se erigiu em virtude desses acontecimentos: Desse movimento são sintomas iniciativas como a realização do I Congres- so de Professores Universitários de Literatura Infantil e Juvenil, no Rio de Janeiro, em 1980, e a Primeira Jornada Sul-Riograndense de Literatura, em 1981, em Passo Fundo, eventos que se mostraram frutíferos e duradouros. Por sua vez, vocacionada para a difusão e o fortalecimento da literatura infantil e juvenil brasileira, desde 1974, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil patrocinava ações comprometidas com a qualificação das obras dirigidas ao público infantil e com a interlocução entre essa produção e o trabalho do professor, preparando-o crítica e pedagogicamente para lidar, em sala de aula, com textos adequados aos alunos. A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira4 Com isso, na esteira das dificuldades enfrentadas na tentativa de diminui- ção entre o que os projetos políticos-pedagógicos propõem e as práticas no sistema educacional brasileiro, a literatura infantojuvenil ingressou noséculo XXI, enfrentando todos os questionamentos que a literatura e o livro, de forma geral, acabaram se deparando. A evolução dos meios de comunicação e seus suportes abalaram a relação tradicional do pequeno leitor e a obra de arte. A despeito disso, adaptando-se a essas novas expressões, muitos nomes têm alcançado sucesso, como é o caso de Arthur Nestrovski, Luiz Ruffato, Lalau e Laurabeatriz, Adriana Falcão, Heloísa Prieto, Fernando Vilela, Daniel Munduruku, entre muitos outros. O Portal “Domínio Público — Biblioteca Digital” desenvolvido em Software Livre é um manancial que reúne as produções livres de direitos autorais. Nele, além de uma seção de Literatura Infantil, o profissional pode encontrar, gratuitamente, grandes clássicos da literatura brasileira que podem ser adaptados, com criatividade, para o público. Acesse o site por meio do link a seguir. https://qrgo.page.link/JqQgN Literatura infantojuvenil e ensino: como selecionar os livros A construção de um corpus de trabalho autêntico, instigante e pedagogicamente promissor principia com a seleção criteriosa de obras literárias — disponíveis em plataformas e suportes diversos — que estejam, de algum modo, vinculadas ao complexo quadro de interesses dos educandos. Como esse cenário é movente, os professores devem levar em consideração a prática de dois movimentos que farão parte do seu cotidiano: a) a permanente e continuada atualização dos livros publicados no mercado editorial brasileiro; b) a revisão crítica de procedimentos didáticos adotados, em compasso afinado com as transformações socioculturais e tecnológicas da nossa sociedade. 5A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira Os livros publicados hoje em dia carregam, por si só, temáticas, abordagens e formas de organizar ideias muito próprias ao pensamento de quem experencia a contemporaneidade. Esse ingrediente deve balizar boa parte das ações do educador, pois, ao colocar-se na posição de mediador entre o conteúdo e o aluno, ele deve assumir uma posição diligente para ambos os lados, facilitando e naturalizando, ao máximo, o processo de construção de conhecimento. A fim de elucidar a discussão teórica, tomemos o exemplo do livro vencedor na categoria de melhor livro infantil da 57ª edição do Prêmio Jabuti, a mais importante honraria da literatura nacional, denominado A história verdadeira do sapo Luiz, de Luiz Ruffato. O enredo do livro se baseia na história de uma princesa, Juliana, que, com idade de se casar, não consegue encontrar um pretendente que conquiste o seu coração, apesar dos esforços de seu pai. Sua aia, cansada de ver a jovem triste e solitária, tem, então, uma ideia fabulosa: o príncipe, na verdade, não aparece porque está encantado, perdido e trans- formado em um sapo. Caso a princesa encontre o pequeno animal e dê nele um beijo, com certeza, o bicho logo se tornará um belo e elegante rapaz. No entanto, a busca se revela, como era de se esperar, infrutífera. Entretanto, a moça acaba por se apaixonar verdadeiramente por um sapo, o sapo Luiz. Enfrentando o preconceito da maioria das pessoas, inicialmente inclusive da família, ela demonstra convicção e tenacidade. No final, em uma grande festa, Juliana se casa com o sapo Luiz, vivendo feliz para sempre em sua companhia, apesar do estranhamento de muitos. Ora, conquanto o livro obedeça boa parte dos protocolos ficcionais do conto de fadas infantil — inicia-se por “era uma vez...”; se passa em um reino distante em um período indeterminado; tem um final feliz —, ele traz à baila uma sucessão de reflexões muito prementes da sociedade moderna. A princesa Juliana, com uma atitude bastante obstinada, busca a felicidade por conta própria, diferentemente do papel atribuído às princesas nas histórias tradicionais. Essa busca pela emancipação feminina, traço indelével do com- portamento contemporâneo, é tratado de maneira muito natural pelo escritor, que, escolhendo o percurso canônico das histórias de reis, rainhas, príncipes e princesas, transmite um conhecimento linguístico e sociocultural sem perder o foco nas discussões atuais. Por certo, esse não é o único tema levantado pelo escritor. O livro também aborda, com sensibilidade ímpar, o respeito pelas diferenças; a importância da liberdade de escolha; a busca pela felicidade; a integração familiar, entre outros. O importante, nesse caso, é o professor realizar um levantamento dessas questões, previamente, e, de posse desse material, conseguir apresentá-lo para, depois, aprofundar o debate com os alunos. Dessa forma, trabalhar A história A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira6 verdadeira do sapo Luiz configura-se como uma oportunidade de partir de um universo conhecido pelos alunos, o dos contos de fada mais tradicionais, e, por meio dessa nova leitura, que subverte um pouco com o esperado desse gênero, romper com seu horizonte de expectativas e ampliá-lo, para poder discutir as questões que o livro propõe. Outro caso interessante é a literatura produzida pelo escritor Odilon Moraes. No seu livro Rosa, o autor constrói uma intrincada relação intertextual com o conto de profunda densidade lírica e existencial A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa. Odilon Moraes, nesse trabalho, aproveita sua experiência da paternidade e estabelece um contato único com o texto do reconhecido escritor mineiro, criando uma história que não atinge apenas o público infantojuvenil, mas também os adultos (grande marca da boa literatura). Nela, um pai, em um “endoidamento”, dá o nome do filho recém-nascido de Rosa. Em seguida, assim como no conto A terceira margem do rio, ele se isola em uma canoa dentro do rio, para nunca mais retornar à margem e, consequentemente, para sua família. Essa obra deve ser lida — e trabalhada em sala de aula — com muita atenção e repetidamente. Isso porque ilustração (linguagem não-verbal) e texto (linguagem verbal) contam o enredo em tempos diferentes. Nessa estrutura, é o leitor que deverá entender o jogo cronológico. Enquanto a escrita narra o afastamento do pai, a ilustração se preocupa em compor a odisseia da busca do filho pelo pai e pela sua própria história. Portanto, em Rosa, palavra e imagem concorrem no sentido de propor, na seara própria da literatura infantojuvenil, um mergulho vertiginoso por entre os laços sentimentais de pai e filho. Em tempos de franco distanciamento entre figuras familiares, o livro trata da questão com bastante cuidado e sensibilidade. Talvez se situe, nesse aspecto, a sua maior virtude. Odilon Moraes, sem esquecer as pautas da agenda contemporânea, resgata a grande literatura do passado, tramando sua obra com o texto de Guimarães Rosa e de Homero — que, há milhares de anos, na epopeia A odisseia, se ocupou em construir uma narração baseada no alheamento de Ulisses da sua terra natal e sua tentativa de reencontrá-la, enquanto seu filho, Telêmaco, parte, errantemente, em sua direção. Ao considerarmos o segundo movimento do professor — a revisão crítica dos procedimentos didáticos em diálogo com as transformações socioculturais da sociedade —, a seleção das obras da literatura infantojuvenil deverá ser realizada ao encontro dos interesses dos alunos, tanto no que diz respeito aos assuntos escolhidos (independentemente da data de publicação dos livros) quanto aos suportes midiáticos a que esses livros estão vinculados. 7A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira Enfrentando a querela indubitavelmente polêmica da tecnologia na infância e da preocupação dos pais em incentivar ou evitar esse hábito, trabalhar com a obra A menina da cabeça quadrada, produção independente da escritora Emília Nuñez, com ilustrações de Bruna Assis Brasil, parece um bom exemplo de aplicação pedagógica. Em suma, o livro busca construir uma inter-relação entre os passatempos interativos dos nossos tempos e as brincadeiras ao ar livre, comuns nas gerações passadas. A intenção da autora é criativa: buscaruma integração entre as diferentes formas de brincar, encontrando, no equi- líbrio e na versatilidade das expressões lúdicas, uma solução satisfatória para a resolução do problema. O livro revela-se interessante exatamente por não desprezar o passado, apro- veitando-o, reconfigurando-o para a formação de um novo produto cultural, atento à evolução dos meios de comunicação. Isso é totalmente possível, visto que as formas tradicionais de brincar, ensinadas pelos antepassados, trazem consigo uma carga afetiva, despertando nas crianças o interesse pelo exemplo e pela sabedoria popular. E quando usamos os novos suportes midiáticos em movimento conciliatório à tradição, o resultado é, quase sempre, positivo. A revisão crítica deve atingir, na mesma medida, a utilização pedagógica das obras clássicas. Em um primeiro momento, pode parecer difícil abordá-las, já que seus conteúdos são, na grande maioria, centenários e, portanto, muito distantes dos tempos modernos e de suas consequentes formas de expressão. Como essas histórias existem há muito tempo, elas foram sendo reelaboradas e recombinadas, de modo que não só seus enredos sofreram modificações significativas, mas também seus conteúdos foram sendo colocados em dife- rentes plataformas ao longo do tempo, em um processo evolutivo que conta a história da própria tecnologia. Tomemos o exemplo de O patinho feio. A narrativa é um conto de fadas, publicado pela primeira vez em 1843, pelo escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. Ela conta a história de um filhote de cisne que nasce no ninho de uma pata. Como ele é diferente dos outros filhotes, acaba sendo perseguido pelos patinhos e por outras aves. Um dia, já cansado, o filhote foge do ninho, iniciando uma longa jornada. No final, o cisne reconhece sua espécie verda- deira, e acaba como o belo de todos os integrantes do seu novo bando. O conto do patinho feio, história atemporal que tematiza a valorização das diferenças, possui uma difusão vastíssima, oferecendo aos professores uma gama diversificada de abordagens possíveis, das mais convencionais até às contemporâneas. Em 1939, por exemplo, Walt Disney produziu um curta-metragem de bastante sucesso com o clássico. Mais recentemente, a história ganhou um formato seriado, transmitido pela televisão. Em adição, A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira8 a turma da Mônica contou a sua versão, modificando muito o andamento da história. Além disso, existem dezenas de adaptações fílmicas que podem ser encontradas, facilmente, na internet. Como as crianças apreciam a repetição de histórias, usar diferentes mídias para recontar versões distintas de um mesmo conto mostra-se uma atividade interessante. Com isso, é permitido repisar o tema construído por meio do enredo, acentuando suas diferentes nuanças e formatos variados. Essas são possíveis alternativas pedagógicas. Elas devem ser elaboradas em harmonia com as diferentes realidades encontradas em cada sala de aula, pois, se cada turma, se cada escola possui suas particularidades, com certeza, a literatura, pela sua variedade e beleza, oferecerá suporte adequado para todas as situações. O Itaú desenvolveu um projeto chamado “Leia para uma criança”. O objetivo do programa é incentivar a leitura de crianças, jovens e adultos em uma atividade que visa a fortalecer os vínculos cognitivos e afetivos na educação desde a primeira infância. Além disso, o “Leia para uma criança” seleciona livros infantis por meio de editais. Os títulos selecionados são distribuídos para a sociedade e para ambientes educacionais, como bibliotecas, escolas, organizações da sociedade civil e instituições de assistência social, além de oferecer formações sobre mediação de leitura. Saiba mais sobre esse projeto no link a seguir. https://qrgo.page.link/16UFn Linguagens verbais e não-verbais: análises possíveis O conceito de arte literária está, invariavelmente, associado à elaboração criativa e, sobretudo, estética da linguagem verbal. Ultrapassando o objetivo de estabelecer uma interação comunicativa, a literatura compromete-se pelo processo, construindo um jogo sígnico de caráter exploratório, que busca potencializar os sons e os múltiplos signifi cados das palavras em conformidade com o exercício contínuo da imaginação. Se levarmos tais traços constitutivos em consideração, é possível concluir, de forma bastante segura, que a literatura infantojuvenil, pelo seu funcionamento, assume um papel de destaque dentre as categorias existentes da arte, pois tenciona elevar as características da literatura às últimas consequências. 9A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira Nesse sentido, a poesia oferece um arcabouço de elementos inigualável. Ela foi esmiuçada pelos escritores da literatura infantojuvenil no decorrer dos últimos séculos, e todo esse manancial linguístico mostra-se disponível para ser utilizado pelos professores. Comecemos com um texto de Vinícius de Moraes, chamado O pato (1970, documento on-line): O Pato Lá vem o pato Pata aqui, pata acolá La vem o pato Para ver o que é que há O pato pateta Pintou o caneco Surrou a galinha Bateu no marreco Pulou do poleiro No pé do cavalo Levou um coice Criou um galo Comeu um pedaço De jenipapo Ficou engasgado Com dor no papo Caiu no poço Quebrou a tigela Tantas fez o moço Que foi pra panela Logo nos primeiros versos, observa-se o entretenimento musical proposto no poema. A repetição dos sons de “p”, “t”, “a”, “o” e “c” cria um jogo sines- tésico marcado pela ludicidade, convidando a criança a participar daquele desvendamento verbal único, já que, embora as palavras apresentem uma constituição semelhante, elas não costumam estar arranjadas em conjunto. A reiteração de consoantes, como é o caso, determina o uso de uma figura chamada de aliteração, bem como a repetição de vogais caracteriza uma assonância. A exploração de textos baseados nesses recursos complementa muito bem o ensino das letras do alfabeto, haja visto que o reforço dos vocá- bulos consolida o processo interacional ensino-aprendizagem. Além disso, as próprias semelhanças sonoras (rimas) aliam a literatura com a música (traço A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira10 distintivo de Vinícius de Moraes), naturalizando o conhecimento por meio de brincadeiras de natureza didática, método educacional extremamente efetivo, como aponta Vickery (2016) no livro Aprendizagem ativa nos anos iniciais do ensino fundamental. Assim, o ritmo aproxima o conteúdo do texto, que descreve um pato combi- nando diversas ações em sequência, em uma estrutura repetitiva e inesperada. Vejamos. “O pato pateta pintou o caneco”. Há, aqui, uma consagração, basilar, do padrão frasal sujeito (o pato pateta) + verbo (pintou) + complemento (o caneco) que vai se repetindo no decorrer do texto, como em sujeito (o pato pateta) + verbo (surrou) + complemento (a galinha); sujeito (o pato pateta) + verbo (bateu) + complemento (no marreco); sujeito (o pato pateta) + verbo (pulou) + complemento (do poleiro), e assim por diante, até o seu desfecho, quando, de tanto aprontar, acaba na panela. A acumulação de padrões idênticos, além de reforçar certas estruturas verbais na mente das crianças, fornece um material vasto e rico para o tra- balho dos ilustradores. Cada situação possibilita o desenvolvimento de uma imagem nova (linguagem não-verbal), coerente dentro do contexto criativo, que complementa e dialoga com o texto (linguagem verbal). Esse casamento entre o verbal e o visual fortalece a produtividade cognitiva, incrementando componentes sensoriais que ajudam na absorção de habilidades adquiridas. Essa estratégia é igualmente aproveitada nos textos de prosa, estrutura literária comumente filiada ao domínio da literatura infantojuvenil. Para exemplificar os diferentes registros desse recurso no gênero estudado, ana- lisaremos o conto da Chapeuzinho Vermelho, em diferentes formatos, bem como outras histórias inspiradas nessa narrativatradicional. O ilustrador mais reconhecido do século XIX foi Gustave Doré. Dono de um estilo inconfundível, o artista assinou, como produtor de textos não-verbais, obras como Dom Quixote, A divina comédia e Os trabalhadores do mar. Ele também ilustrou o conto Chapeuzinho Vermelho da versão de Charles Perrault. Nessa versão da história, elaborada justamente para causar, nas crianças e nos adolescentes, um misto de fascinação, horror e medo (seguindo aquela ideia da função da literatura infantojuvenil como uma educação moral), o Lobo-Mau é retratado de forma exageradamente selvagem. A despeito de, na narrativa, aparecer antropomorfizado, ou seja, dotado da habilidade de falar e racioci- nar como ser humano, ele devora, literalmente, a avó da Chapeuzinho e, em seguida, a própria protagonista. O final choca os leitores pelo seu conteúdo terrível e alicerça as bases intencionais do autor: passar a mensagem clara de que as jovens: a) não devem enveredar por caminhos estranhos; e b) não devem conversar com desconhecidos. 11A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira Doré, nas ilustrações dessa versão cruel da história, desenha (linguagem não-verbal) um lobo desproporcionalmente enorme, em harmonia com os contornos assustadores da narrativa (linguagem verbal). Em uma das imagens, inclusive, em que Chapeuzinho e o Lobo-Mau estão lado a lado, o animal revela-se maior que a menina, ao passo que em outra, quando ambos se en- contram na cama (ele disfarçado de vovó), enfatiza a expressão maliciosa do bicho, que em nada se parece com uma figura humana. Fica evidente que a relação entre linguagem verbal e não-verbal, tão bem construída nesse caso, seja uma aliada do ensino infantil, por motivos fáceis de supor, mas pode ser uma possível aliada na educação juvenil, mais interessada na desconstrução artística de mitos ligados à infância. Uma prova disso é o sucesso do filme A garota da capa vermelha, de 2011, dirigido por Cathe- rine Hardwicke, produzido por Leonardo DiCaprio e estrelado por Amanda Seyfried e Gary Oldman. Classificado como uma obra de terror e fantasia, a película — misto de linguagem verbal e não-verbal — arrecadou perto de 90 milhões de dólares, tendo seu público-alvo formado, predominantemente, por jovens. Lançado no filão aberto pela saga O crepúsculo (que, por sua vez, também interliga a imagem da menina e do lobo), A Garota da Capa Vermelha explora o relacionamento amoroso entre Peter e Valerie, ameaçados pela figura selvagem de um lobisomem. Na Chapeuzinho Vermelho dos Irmãos Grimm, a narrativa perde seu caráter trágico, ainda que mantenha a mensagem instrucional da versão an- terior. Chapeuzinho é comida pelo Lobo-Mau, porém consegue se salvar pela ação de um caçador. Uma ilustração reconhecida pela beleza plástica dessa história é assinada pela artista Divica Landrová, formada pela School of Decorative Arts de Praga, entre 1923 e 1929. De traço delicado e usando quase exclusivamente as cores branco, preto, cinza e vermelho — somente no capuz da protagonista —, o desenho não apenas acompanha a linguagem verbal, como também a engrandece em uma conexão colaborativa que destaca a obra. Uma das alternativas pedagógicas é trabalhar com as duas versões, sem explicar previamente a relação com as ilustrações, mas motivando que os alunos façam essa relação eles mesmos, construindo, assim, a lógica entre as diferentes linguagens. No que tange à literatura infantojuvenil brasileira, existe uma obra derivada de Chapeuzinho Vermelho de importância significativa: Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, de 1997. O livro mistura elementos da poesia (é escrito em versos e vem permeado de jogos sonoros e outras explorações dos recursos da linguagem) e da narrativa (conta uma história, obedecendo ao andamento de causa e efeito desde o início até o desfecho). Em síntese, o enredo mostra a A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira12 evolução da Chapeuzinho Amarelo, que se desvencilha do medo que sente do lobo, enfrentando-o. Há, aqui, uma tematização do binômio coragem-medo, em um movimento representado pela palavra “LOBO” (negativo) que se torna “BOLO” (positivo). Para valorizar, ainda, o trabalho, o livro é ilustrado por Ziraldo, que, com seus traços característicos, acompanha o caminho de autoconhecimento e autonomia trilhado pela personagem. Já em relação à literatura juvenil, mais precisamente, Guimarães Rosa escreveu Fita verde no cabelo, história pungente também inspirada na Cha- peuzinho que relata a sempre difícil e traumatizante experiência da perda familiar no contexto da juventude. Rosa encara a morte, nessa obra plena de lirismo, como uma espécie de inevitável envelhecimento, ligado à condição humana. Roger Mello — indicado ao prêmio Hans Christian Andersen, o Nobel da literatura infantil, por sua obra como ilustrador — é o artista que assina Fita verde no cabelo com desenhos imensamente sugestivos e imagens imprecisas, apesar de cheias de significados. Realce para frases como “Havia uma aldeia [...] com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam” e “Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita inventada no cabelo [...]” (ROSA, 1992, p. 12–13). Enfim, a partir dos exemplos elencados, reforça-se que, para além dos textos verbais da literatura infantojuvenil e das ilustrações elaboradas com base na sua estrutura, as potencialidades didático-pedagógicas se constituem no encontro entre ambas. Iluminando-se, mutuamente, a tendência é de o desenvolvimento das habilidades cognitivas, interacionais e linguísticas ser mais efetivo ao se otimizar o aprendizado curricular das crianças e dos jovens, assim como sua convivência social. Um canal no YouTube e um blog, ambos chamados A cigarra e a formiga, disponibili- zados nos links a seguir, trazem dicas, sugestões de leituras e possibilidades didáticas voltadas ao ensino e à formação de jovens leitores. Os vídeos analisam livros publicados, mostram soluções criativas para vários assuntos-problema e apresentam as novidades tecnológicas do momento. https://qrgo.page.link/QhwDc https://qrgo.page.link/irdeq 13A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira BARBOSA, A. O ficcionista Monteiro Lobato. Porto Alegre: Brasil,1996 CAVALHEIRO, E. Ciclo paulista. In: COUTINHO, A. A literatura no Brasil. 6. ed. São Paulo: Global, 2001. COELHO, N. N. Panorama histórico da literatura infantil juvenil. 4. ed. São Paulo: Ática, 1991. MORAES, V. O pato. 1970. Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/ poesia/poesias-avulsas/o-pato. Acesso em: 28 jun. 2019. ROSA, G. Fita verde no cabelo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. VICKERY, A. Aprendizagem ativa nos anos iniciais do ensino fundamental. Porto Alegre: Penso, 2016. ZILBERMAN, R. O papel da literatura na escola. In: MARTINI, M.; OLIVEIRA, R. T.; FELIPPE, R. F. Literatura na escola: teoria, prática e (in)disciplina. Santa Maria: UFSM, 2016. Leituras recomendadas COELHO, N. N. Literatura infantil: história, teoria, análise: das origens orientais ao país de hoje. São Paulo: Quiron, 1981. HUNT, P. Crítica, teoria e literatura infantil. Sã o Paulo: Cosac Naify, 2011. LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. Literatura infantil brasileira: uma nova outra história. Curitiba: PUCPress, 2017. MORAES, V. A arca de Noé. São Paulo: Sabiá, 1970. A trajetória da literatura infantojuvenil brasileira14 DICA DO PROFESSOR A história da literatura infantojuvenil no país apresenta um histórico interessante de adaptações em gêneros diversificados dos grandes romances do século XIX, como as obras de José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Bernardo Guimarães, entre outros. Esses livros podem fornecer um arcabouço artístico relevante na composição de um corpus literário a ser trabalhado em sala de aula; para isso, é importante explorar as potencialidades dessas obras em harmonia com os interesses dos alunos. Nesta Dica do Professor,você verá meios criativos de como trabalhar com os clássicos da literatura em sala de aula. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A história da literatura infantojuvenil no Brasil tem uma trajetória muito particular que se desenvolveu em conformidade com os caminhos socioculturais e políticos do século XX. Considerando esse desenvolvimento histórico, responda: quando ocorreu, de fato, o chamado boom do gênero, que possibilitou a publicação de grandes artistas hoje consagrados tanto pela crítica quanto pelo público? A) No início do século passado, quando, impulsionados pelas conquistas civis, os escritores passaram a criar histórias que exaltavam a nação. B) Ainda no século XIX, quando, motivados pela obra de Andersen, dos irmãos Grimm e de outros, os autores passaram a aplicar os mesmos princípios narrativos aqui no país. C) Entre as décadas de 1970 e 1980, quando a literatura infantojuvenil ganhou mais espaço nas escolas e as editoras passaram a investir no gênero. D) Somente na contemporaneidade, quando, finalmente, com a pluralidade de suportes tecnológicos, as crianças tiveram acesso a diferentes autores e livros. E) Na década de 1920, quando Monteiro Lobato criou um grupo de autores que passou a produzir em conjunto livros do gênero. 2) Nelly Novael Coelho usa a expressão "a descoberta da criança" na obra Panorama histórico da literatura infantil/juvenil. Em que momento histórico aconteceu de fato a descoberta da criança? A) Na Idade Moderna, momento em que o conceito de infância começou a ser concebido com características próprias e particulares. B) No começo da Idade Contemporânea, depois de as histórias infantis serem repaginadas consoante ao apuro estético necessário e às normas de conduta social. C) No século XIX, quando a criança era encarada como símbolo da nação e, portanto, responsável pelo futuro do país. D) Na década de 1950, quando, a partir da popularização de genêros diversos, como os quadrinhos, a literatura infantojuvenil se expandiu. E) Na década de 1970, quando aconteceu maior difusão da literatura infantojuvenil no país. Algumas obras fazem parte do cânone da literatura brasileira, como Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado; A droga da obediência, de Pedro Bandeira e A bolsa amarela, de Lygia Bojunga. Considerando essas obras e o processo de consolidação da literatura infantojuvenil brasileira, selecione a alternativa que 3) apresenta temas relevantes desenvolvidos ao longo desse processo. A) Inclusão digital; popularização dos esportes; consumo de drogas. B) Preconceito racial; consumo de drogas; reflexão existencial na adolescência. C) Reflexão existencial na adolescência; inclusão digital; preconceito racial. D) Popularização dos esportes; preconceito racial; reflexão existencial na adolescência. E) Reflexão existencial na adolescência; popularização dos esportes; inclusão digital. 4) O escritor Monteiro Lobato foi a primeira grande voz da literatura infantojuvenil no Brasil. Além de ter publicado livros com personagens extremamente populares, ele estabeleceu uma identificação poderosa com seu público-alvo. Qual elemento fundamental está implicado nesse sucesso? A) A exploração exclusiva dos recursos linguísticos, em detrimento do conteúdo de suas histórias. B) O colorido narrativo que prescinde dos elementos contextuais para se constituir. C) A criação de um universo ficcional independente para cada obra publicada. D) O tom de mistério e de terror de seus livros, já presente em literaturas de outros países. E) A concepção moderna ligada à realidade cultural do século XX. Guimarães Rosa, um dos principais autores da literatura nacional escreveu o livro Fita verde no cabelo, indicado para o público juvenil. Sobre essa obra responda: qual 5) assunto é abordado e que conto clássico da literatura universal ela recupera? A) O livro aborda questões raciais e dialoga com o conto O patinho feio. B) O livro trabalha com a questão dos medos que a criança sente, representados pelo lobo, e por isso recupera o conto Os três porquinhos. C) O livro tematiza a morte ligada à família e resgata o conto Chapeuzinho vermelho. D) O livro aborda assuntos relacionados à baixa autoestima, dialogando com o conto O patinho feio. E) O livro relaciona aspectos da educação alimentar e recupera o conto Chapeuzinho vermelho. NA PRÁTICA Um dos grandes desafios para o professor é mediar a iniciação literária dos alunos. Além de saber conciliar diferentes interesses, oriundos da convivência plural da subjetividade de cada um, o profissional deve saber selecionar os livros adequados, levando em consideração os vários níveis de linguagem, a qualidade imagética das ilustrações, as temáticas abordadas e a relevância social; estimulando o hábito da leitura e inspirando a criação de textos. Entretanto, tal tarefa, pela sua natureza árdua, oferece certas resistências; e os resultados, em muitos casos, podem ser difíceis de serem alcançados. Nesse caso, é possível trabalhar com textos curtos, ou mesmo muito breves, como os minicontos. Veja Na Prática como desenvolver métodos de leitura e prática do gênero discursivo, de forma agradável e divertida, por meio da criação de uma oficina de minicontos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Prêmio Jabuti O prêmio Jabuti é considerado a maior honraria da literatura brasileira e oferece ao professor uma espécie de guia de leitura a ser explorado em sala de aula. Três categorias estão relacionadas ao público infantojuvenil: histórias em quadrinhos, infantil e juvenil. Na dica deste site, conheça quem foram os vencedores de cada ano. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Literatura indígena Apesar da pouca visibilidade, a literatura indígena tem uma contribuição importante na cultura brasileira. Nesta matéria, é possível tomar conhecimento de sua história, bem como das produções que estão sendo construídas sobre o assunto. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A literatura de cordel como patrimônio cultural A literatura de cordel é considerada um patrimônio cultural brasileiro. No artigo, é possível verificar que o pedido de registro da literatura de cordel como patrimônio cultural imaterial envolveu um longo processo de pesquisas. O cordel foi tratado como forma de expressão e sistema que se manifesta pela palavra como ação produtiva, na capacidade de gerar efeitos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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