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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Sistema de Condução Cardíaca ( Sistema His-Purkinje) .................................................... 3 3. Células miocárdicas e os seus potenciais de ação .......................................................... 4 4. Potenciais de ação cardíaco .................................. 8 5. Período Refratário Cardíaco .................................14 Referências Bibliograficas .........................................17 3POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS 1. INTRODUÇÃO O coração é realmente um órgão fasci- nante e ninguém pode descordar... Este órgão atua como uma bomba muito eficiente, durável e confiável, que distri- bui diariamente mais de 6.000 litros de sangue para todo o corpo e bate 30 a 40 milhões de vezes por ano, incessan- temente, fornecendo nutrientes vitais aos tecidos e facilitando a excreção de resíduos. Consiste em quatro câmaras, de modo que o átrio e o ventrículo esquerdo são parte da circulação sistêmica e o átrio e o ventrículo direito fazem parte da circu- lação pulmonar, atuando, assim, como uma bomba dupla. Para o bom funcio- namento mecânico desta “bomba de sangue”, é necessário um eficiente sis- tema de condução de impulsos elétricos para permitir a despolarização do mio- cárdio e, consequentemente, a contra- ção cardíaca. 2. SISTEMA DE CONDUÇÃO CARDÍACA (SISTEMA HIS-PURKINJE) O coração é dotado de um sistema es- pecial para (1) gerar impulsos elétricos rítmicos que causam contrações rítmi- cas do miocárdio e (2) conduzir os im- pulsos rapidamente por todo o coração. Este sistema condutor que é responsá- vel pela sincronia dos eventos do ciclo cardíaco. Quando esse sistema funciona nor- malmente, os átrios se contraem aproximadamente um sexto de segun- do antes da contração ventricular, o que permite o enchimento dos ventrículos, antes de bombear o sangue para os pulmões e para a circulação periférica. Se átrios e ventrículos contraíssem ao mesmo tempo, o enchimento dos ventrículos não aconteceria. Outra característica especial desse sis- tema é que ele faz com que as diferen- tes porções do ventrículo se contraiam quase simultaneamente, o que é essen- cial para gerar pressão, com o máximo de eficiência, nas câmaras ventriculares. A Figura 1 mostra o sistema especiali- zado condutor e excitatório do coração que controla as suas contrações. A figu- ra mostra o nodo sinusal (também cha- mado nodo sinoatrial ou nodo SA), no qual são gerados os impulsos rítmicos normais; o Feixe de Bachmann, que permite o acoplamento elétrica entre o átrio direito e átrio esquerdo; os feixes internodais que conduzem os impul- sos do nodo sinusal ao nodo atrioven- tricular (nodo AV). Mostra também o próprio nodo AV, no qual os impulsos vindos dos átrios são retardados an- tes de passar para os ventrículos; esta pausa na condução é essencial para que a sístole atrial não aconteça junto com a sístole ventricular, permitindo o enchi- mento dos ventrículos mais eficiente. O feixe AV (ou feixe de His) conduz os impulsos dos átrios para os ventrículos, e os ramos direito e esquerdo do fei- xe de fibras de Purkinje conduzem os impulsos cardíacos para todas as partes do miocárdio ventricular. 4POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS Figura 1. Sistema de condução cardíaca. Fonte: OpenSax College Nó sinoatrial (AS) ou marcapasso Nó atrioventricular (AV) Ramos subendocárdicos (Fibras de Purkinje) Arco da aorta Fascículo atrioventricular (Feixe de His) Ventrículo esquerdo Ventrículo direito Átrio direito Feixe intermodal anterior Feixe intermodal medial Feixe intermodal posterior Feixe de Bachman Átrio esquerdo Ramo direito e esquerdo Plano frontal do coração 3. CÉLULAS MIOCÁRDICAS E OS SEUS POTENCIAIS DE AÇÃO Agora que vimos a progressão nor- mal da condução elétrica no sistema His-Purkinje, vamos entender como este estímulo elétrico se origina, ou seja, como ocorre o surgimento dos potenciais de ação nas células mio- cárdicas. Um aspecto que chama a atenção quando se fala em potencial de ação cardíaco é a grande diversi- dade de formas dependendo da re- gião do coração analisada. Podemos identificar três tipos de células car- díacas, com diferentes propriedades eletrofisiológicas: (1) células muscu- lares, presentes nas paredes atriais e ventriculares, são especializadas na contração, sendo responsáveis, assim, pelo acoplamento entre o im- pulso elétrico e a contração mecânica cardíaca; (2) Células de condução são especializadas na condução rá- pida de impulso elétrico e estão lo- calizados no sistema His-Purkinje; são essenciais para que o coração se contraia como um todo; (3) Células marca-passo, que têm propriedade de autodespolarização, sendo capa- zes de gerar o estímulo elétrico que se propagará pelo sistema cardíaco de condução; estas células estão lo- calizadas ao longo do sistema His- -Purkinje, destacando-se as célu- las marca-passo presentes no nodo sinusal. 5POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS Potencial de Repouso da membrana dos miócitos cardíacos Antes de falarmos do potencial de ação e o seu surgimento, é necessá- rio o entendimento sobre os íons que definem o potencial de repouso das células miocárdicas. O potencial transmembrana de uma célula depende, basicamente, das concentrações dos vários íons nas duas faces da membrana plasmática (portanto, dos potenciais de equilíbrio destes íons) e das condutâncias da membrana a estes íons (ou seja, da facilidade com que a membrana plas- mática se deixa permear por cada um destes íons) a cada momento. Deste modo, todos os íons presentes nos meios intra e extracelular podem con- tribuir para o potencial transmembra- na de uma célula. CONCEITO! Por definição, o potencial de repou- so de uma membrana é o potencial transmembrana da mesma quando se observa um fluxo nulo efetivo de cor- rentes através desta. Ou seja, o nú- mero de cargas positivas que entram na célula deve ser exatamente igual ao de cargas positivas que saem dela. Tratando-se do coração, esta é a ra- zão pela qual, durante a diástole, o po- tencial permanece estável ao longo do tempo em todas as células miocárdi- cas (exceto nos marca-passos, como veremos a diante). O principal cátion do meio extrace- lular é o Na+, de modo que suas con- centrações nos meios extra e intrace- lular são de aproximadamente 145 e 10 mM, respectivamente. As concen- trações do K+, o principal cátion do meio intracelular, são cerca de 4,5 e 140 mM, nos meios extra e intrace- lular. Estas concentrações são man- tidas dentro de faixas muito estreitas pela bomba de sódio/potássio que transporta três íons Na+ para fora da célula e dois íons K+ para dentro dela, contra os seus gradientes ele- troquímicos. Há, portanto, gradientes de concentração (opostos) entre es- tes dois meios para ambos os cátions majoritários. Devido à sua estequiometria, pode- mos dizer que a bomba sódio/potássio é uma bomba eletrogênica, uma vez que transporta em cada ciclo 3Na+ para fora da célula e 2K+ para dentro dela, o que gera um efluxo efetivo de uma carga positiva a cada ciclo. A corrente de efluxo carreada pela bom- ba deve, portanto, ser considerada na análise das correntes que contribuem para o potencial de repouso, que, no caso do miocárdio, é significativa. 6POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS Estudos eletrofisiológicos chegaram à conclusão que no miocárdio, o íon mais importante na determinação do potencial de repouso, o poten- cial transmembrana durante a di- ástole, é o K+ (considerando os seus níveis séricos dentro da normalidade). Durante o repouso, a condutância de K+ através da membrana plasmática é muito maior que a condutância iôni- ca do Na+ (cerca de 50 vezes). É por esta razão que o potencial de repou- so depende muito mais do K+ que do Na+ e tem um valor próximo ao po- tencial de equilíbrio do potássio. A manutenção do potencial de re- pouso dentrode certos valores é fun- damental para a ativação normal do coração, uma vez que os principais canais iônicos responsáveis pela ati- vidade elétrica cardíaca são depen- dentes de voltagem. Assim, para a ativação normal do miocárdio (exce- tuando-se o marca-passo), é funda- mental que tal potencial seja man- tido na faixa de -80 a -90 mV. Isso porque o canal de sódio, responsável pela fase inicial do potencial de ação, como veremos a seguir, apresenta inativação dependente de voltagem. Em -90 mV, a probabilidade de ina- tivação do canal de sódio é pequena; portanto, nesta faixa de potencial de membrana o miocárdio tem excitabili- dade normal. À medida que o poten- cial transmembranar se torna menos negativo (por exemplo, passa de -90 mV para -55 mV), há um progres- sivo aumento da inativação dos ca- nais de Na+, o que deixa o miocárdio progressivamente menos excitável, podendo ocorrer desde uma propa- gação lenta e deficiente, até a inter- rupção da propagação, pelo fato de o miocárdio passar a ser completamen- te inexcitável. Nesse valor de -55 mV, os canais rá- pidos de sódio já foram em sua maio- ria “inativados”, o que significa que ficaram bloqueados. A causa disso é que, a qualquer momento em que o potencial da membrana esteja me- nos negativo que os -55 milivolts, por mais do que poucos milissegundos, as comportas de inativação na mem- brana celular que fecham os canais de sódio se fecham e assim se mantêm. Outra situação que igualmente com- promete a excitação normal do cora- ção é o aparecimento de uma disper- são espacial de potenciais de repouso, com algumas regiões mais e outras menos despolarizadas, em locais pró- ximos. Isso leva ao aparecimento de correntes extracelulares entre essas SAIBA MAIS! Pelo bloqueio da bomba de Na+/K+ por digitálicos, observa-se que, no coração, ela é respon- sável diretamente por cerca de 5 a 10 mV do potencial de repouso. Portanto, no coração, a bomba de Na+/K+ contribui com esse potencial não só mantendo os gradientes de sódio e potássio, mas também transportando carga efetiva. 7POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS regiões, bloqueios de condução, for- mação de circuitos de reentrada etc.; estas situações favorecem o surgi- mento de arritmias. Vales salientar a os gradientes de concentração de outros íons, como o cátion Ca2+ e o ânion Cl-, que pos- suem uma concentração extraplas- mática maior em comparação ao meio intracelular. Mecanismos de ritmicidade e autoexcitação do Nodo Sinusal A Figura 2 mostra potenciais de ação, registrados no interior de fibra do nodo sinusal, de três batimentos cardíacos e, como comparação, ape- nas um potencial de ação de fibra muscular ventricular. Note que entre as descargas o “potencial de repou- so da membrana” da fibra sinusal tem SAIBA MAIS! As condições que alteram o potencial de repouso incluem a hiper e a hipopotassemia, além da intoxicação digitálica (bloqueio da bomba de Na+/K+), dentre outras. negatividade de aproximadamente -55 a -60 milivolts, comparada com -85 a 90 milivolts da fibra muscular ventricular. A explicação para essa menor negati- vidade é que as membranas celulares das fibras sinusais são por natureza mais permeável ao cálcio e ao sódio, e as cargas positivas desses íons que cruzam a membrana neutralizam boa parte da negatividade intracelular. Em virtude da alta concentração de íons sódio no líquido extracelular por fora da fibra nodal, além do nú- mero razoável de canais de sódio já abertos, os íons positivos de sódio tendem a fluir para o interior dessas células através dos canais funny de sódio (If). SAIBA MAIS! Funny, traduzindo para o português, significa “engraçado”, ou “estranho”. Estes canais são “estranhos”, ou “engraçados”, pois se mantêm abertos durante a fase de repouso do potencial de membrana. Decorrente do fato de que as células nodais possuem canais de sódio que se mantém abertos durante a sua fase de repouso, entre os batimentos cardíacos, o influxo de sódio posi- tivamente carregado provoca lento aumento do potencial de membrana de repouso em direção aos valores positivos. 8POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS Figura 2. Potencial de ação lento das células sinusais. Fonte: Hall (2011) Assim, como mostrado na Figura 2, o potencial “de repouso” gradualmente aumenta e fica menos negativo entre dois batimentos cardíacos. Quando o potencial atinge o limiar de voltagem de cerca de -40 milivolts, há a defla- gração do potencial de ação, como veremos adiante. Portanto, basica- mente é a permeabilidade inerente das fibras do nodo sinusal àa car- gas positivas que causa a sua auto excitação. Porém, outras células no coração possuem esta característica de auto excitação, a saber as células nodais do nodo AV e células que compõem as fibras de Purkinje nos ventrículos. Contudo, o nodo SA dita o ritmo car- díaco por possuir uma frequência de disparos maior em relação às outras células autônomas, despolarizan- do-as antes da auto-excitação das mesmas. 4. POTENCIAIS DE AÇÃO CARDÍACO Após falarmos sobre o potencial de repouso das células cardíacas e como surge o estímulo cardíaco do nodo SA que provocará toda as despolari- zação miocárdica, iremos começar a falar sobre as características do po- tencial de ação dos três tipos de cé- lulas do coração. O miocárdio apre- senta três tipos de canais iônicos nas suas membranas que desempenham papéis importantes para deflagrar as variações da voltagem do potencial de ação. Eles são: (1) canais rápidos de sódio (INa); (2) canais de cálcio do tipo L (canais lentos de cálcio, ICaL); e (3) canais de potássio. 9POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS Potencial de ação lento das células marca-passo A abertura dos canais rápidos de só- dio (INa), durante poucos décimos de milésimos de segundo, já é responsá- vel pela abrupta despolarização rá- pida, característica do potencial de ação observado nas células miocár- dicas e de condução (como veremos adiante), por causa da entrada rápida de íons sódio positivos para a fibra. Entretanto, existe uma diferença no funcionamento desses canais nas fi- bras do nodo sinusal, pois o seu valor “de repouso” é bem menos negativo — apenas -55 milivolts na fibra no- dal, em lugar dos -90 milivolts na fi- bra muscular ventricular. Nesse valor de -55 milivolts, os canais rápidos de sódio já foram em sua maioria “ina- tivados”, o que significa que ficaram bloqueados. A causa disso é que, a qualquer momento em que o poten- cial da membrana esteja menos ne- gativo que os -55 milivolts, por mais do que poucos milissegundos, as comportas de inativação na membra- na celular que fecham os canais de sódio se fecham e assim se mantêm. Dessa maneira, só os canais lentos de cálcio podem se abrir (isto é, se- rem “ativados”) e assim deflagrar o potencial de ação. Como resultado, o potencial de ação nodal atrial ocorre mais len- tamente que o potencial de ação do músculo ventricular. Além disso, depois de ocorrer o potencial de ação, a volta do potencial para seu estado negativo também ocorre lentamente, diferentemente do retorno abrupto nas fibras ventriculares. Como vimos anteriormente, estas células possuem a capacidade de se autodespolarizar, pois tais células não têm um potencial de repouso (que corresponde à fase 4 do potencial de ação) estável ao longo do tempo. Quando o potencial de membrana atinge o limiar de disparo dos canais ICaL(em torno de -40mV), ocorre a fase de despolarização (chamada de fase 0), que no caso das células mar- ca-passo, se caracteriza por uma ati- vação mais lenta. Como podemos ver na Figura 3, após a fase 0, na qual o influxo de cálcio é maior que o efluxo de potássio, se- gue-se uma fase de repolarização contínua (fase 3), mais lenta no início e mais rápida no final, onde a situação se inverte (o efluxo de potássio su- pera o influxo do cálcio). Sucedendo a fase 3, recomeça a fase 4, onde se observa uma despolarização lenta ao longo do tempo(por conta do influxo de Na+ pelos canais funny), até que o limiar de ativação dos canais de cálcio tipo L seja atingido novamente. Assim, podemos concluir que: (1) nas células do nodo SA (e também do nodo AV, que se constitui também de células do tipo marca-passo), as correntes que participam da gênese 10POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS do seu potencial de ação são as de potássio e de cálcio; (2) a propagação do potencial de ação nos dois nós é mais lenta (aproximadamente 0,05 m/s), pelas características dos canais iônicos envolvidos; (3) O potencial de ação nestas regiões não apresentam fase 1 nem propriamente uma fase 2 (que veremos no potencial de ação das células miocárdicas/de condu- ção); e (4) os potenciais de ação lentos dispõem de amplitudes bem menores que os de outras regiões (é cerca de 60 mV nos nós versus 120 mV nos miocárdios atrial e ventricular). Canais If abertos Muitos canais de Ca2+ abertos Canais de Ca2+ fechados, Canais de K+ abertos Alguns canais de Ca2+ abertos, canais If fechados Canais de K+ fechados Canais If abertos 4 0 3 4 Tempo Figura 3. Potencial de ação lento. Fonte: Hall (2011) 11POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS Potencial de ação rápida das células de condução e musculares Uma vez gerado o impulso elétrico no nodo SA, ele se propaga através das fibras de condução e, depois, pelo miocárdio. A Figura 4 mostra um es- quema de potencial de ação rápido característico das células miocárdicas atrial e ventricular e também do feixe de His e das fibras de Purkinje. Ao contrário do potencial de ação len- to das células marca-passo, o qual é composto por três fases (Fase 0, Fase 3 e Fase 4), o potencial de ação rápido das células musculares/de condução é composto por cinco fases (Fase 0, Fase 1, Fase 2, Fase 3 e Fase 4). Fase 0. A principal corrente despo- larizante, responsável pela fase 0 do potencial de ação rápido, é a cor- rente de sódio dependente de vol- tagem (INa). Ela é ativada quando a membrana é despolarizada até o nível limiar (-70mV) pelo impulso elétrico propagado a partir do nodo sinusal, promovendo rápido e maciço influxo de Na+. Desta forma, este aporte de cargas positivas permite a elevação do potencial de membrana de -90mV para até +20 mV / +30 mV. Esta cor- rente é fundamental para a rápida propagação do potencial de ação (1 a 5 m/s). Fase 1. Esta rápida e transitória re- polarização, que se segue à despo- larização inicial, está associada à abertura do canal de potássio tran- siente de efluxo ativado por despo- larização. Neste momento, portanto, há rápido e momentâneo aumento efluxo de K+, negativando um pou- co o potencial transmembrana (de +20mV para 0mV). As rápidas ciné- ticas de ativação e inativação deste canal explicam a pronta instalação desta fase de repolarização e o seu caráter transitório. Há abertura tam- bém transitória de canais de cloro, os quais permitem um rápido e breve aporte de cargas negativas, contri- buindo para a repolarização transitó- ria da fase 1. Fase 2. Nesta fase, observa-se um “platô” no potencial de membrana. Isto ocorre pois, durante a fase 2, tan- to as correntes despolarizantes (influ- xo de Na+ e Ca2+) quanto as repo- larizantes (efluxo de K+ e influxo de Cl-) são pequenas e de amplitudes praticamente iguais (a soma das condutâncias ao Na+ e Ca2+ prati- camente se iguala à soma das con- dutâncias ao K+ e Cl-). Assim, o fluxo efetivo de carga durante esta fase é muito pequeno, razão pela qual o po- tencial transmembrana permanece relativamente estável. A entrada de cálcio para o interior também é res- ponsável pelo mecanismo de contra- ção da célula muscular, de modo que, 12POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS na fase 2, o miócito permanece em estado de contração. Fase 3. A fase de repolarização rá- pida final caracteriza-se pela abso- luta predominância de correntes de efluxo de potássio, já que, na fase 3, as correntes positivas de influxo presentes durante o platô decaíram completamente. Fase 4. Durante esta fase, nas célu- las com potencial de repouso estável, como no miocárdio atrial e ventricu- lar, há novamente um balanço entre correntes de efluxo e influxo, de modo que o saldo é uma corrente efetiva nula, como já vimos antes. Como vi- mos anteriormente, isto não é verdade para as células com atividade marca- -passo, as quais mantém um “saldo” de influxo positivo, o que provoca sua automaticidade de despolarização. -100 -80 -60 -40 -20 -0 +20 4 0 1 2 3 4 0 100 200 300 ↑ PNa ↑ PNa ↑ PK e ↑ PCa Px = Permeabilidade ao íon X ↑ PK e ↑ PCa Po te nc ia l d e M em rb an a (m V) Figura 4. Potencial de ação rápido das células de condução. Fonte: Hall (2011) 13POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS Condução dos estímulos cardíacos célula-a-célula As áreas prateadas de comunicação longitudinal entre as fibras miocárdi- cas na Figura 5 são referidas como discos intercalados; elas são, na ver- dade, membranas celulares que se- param as células miocárdicas umas das outras. Isto é, as fibras do múscu- lo cardíaco são feitas de muitas célu- las individuais, conectadas em série e em paralelo umas com as outras. Em cada disco intercalado, as mem- branas celulares se fundem entre si, para formar junções “comunicantes” permeáveis (gap junctions), que permitem rápida difusão, quase total- mente livre, dos íons. Assim, do ponto de vista funcional, os íons se movem com facilidade pelo líquido intracelu- lar, ao longo do eixo longitudinal das fibras miocárdicas, com os potenciais de ação se propagando facilmente de uma célula muscular cardíaca para outra, através dos discos intercala- dos. Dessa forma, o miocárdio forma sincício de muitas células musculares cardíacas, no qual as células estão tão interconectadas que, quando uma célula é excitada, o potencial de ação se espalha rapidamente para todas. O coração é, na verdade, composto por dois sincícios; o sincício atrial, que forma as paredes dos dois átrios, e o sincício ventricular, que forma as paredes dos ventrículos. Os átrios são separados dos ventrículos por teci- do fibroso que circunda as aberturas das valvas atrioventriculares, entre os átrios e os ventrículos. Normal- mente, os potenciais não atraves- sam essa barreira fibrosa para atingir diretamente os ventrículos a partir do sincício atrial. Em vez disso, eles são conduzidos por meio de sistema es- pecializado de condução, pelo feixe de His, como explicado anteriormen- te. Essa divisão do músculo cardíaco em dois sincícios funcionais permite que os átrios se contraiam pouco an- tes da contração ventricular, o que é importante para a eficiência do bom- beamento cardíaco. 14POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS Figura 5. Fibras cardíacas e os seus discos intercalares Célula muscular cardíaca 5. PERÍODO REFRATÁRIO CARDÍACO O músculo cardíaco, como todos os tecidos excitáveis, é refratário à re- estimulação durante o potencial de ação. O miocárdio apresenta este fe- nômeno da refratariedade por con- ta da inativação dos canais iônicos responsáveis pela despolarização do potencial de ação. Uma vez estimu- lado um potencial de ação rápido no miocárdio, por maior que seja a inten- sidade de um estímulo subsequente, um segundo potencial de ação só po- derá ser elicitado depois que tenham ocorrido ao menos 50% de repola- rização. Este é o período refratário absoluto (Figura 6). Assim, o período refratário absoluto do coração é o intervalo de tempo du- rante o qual o impulso cardíaco nor- mal não pode reexcitar área já excita- da do miocárdio. O período refratário normal do ventrículo é de 0,25 a 0,30 segundos, o que equivale aproxima- damente à duração do prolongado platô do potencial de ação (fase 2). No início da fase 3 (período refratá- rio efetivo), a célula pode gerar um potencial de ação, porém muito fraco para ser propagado. Logo após, suce- de-se o período refratário relativo de cerca de 0,05 segundos,durante o qual é mais difícil excitar o músculo do que nas condições normais, mas que ainda assim pode ser excitado SAIBA MAIS! A condução lenta, nas fibras transicionais, nodais e do feixe penetrante AV (feixe de His), é explicada em grande parte pelo reduzido número de junções comunicantes (gap junctions) entre as sucessivas células das vias de condução nesta região, de modo que existe grande resistência para a passagem de íons excitatórios de uma fibra condutora para a próxima. Des- se modo, é fácil perceber por que cada célula é sucessivamente mais lenta em sua ativação. Além disso, as células do nodo AV possuem potencial de ação do tipo lento 15POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS por impulso excitatório mais intenso, em comparação com a intensidade do impulso que normalmente é necessá- ria para a deflagração do potencial de ação. O período refratário relativo cor- responde a parte da fase 3 e se es- tende até ao limiar de despolarização (-70 mV). Com potencial de ação de maior du- ração, os períodos refratários no mús- culo cardíaco são muito mais longos que no axônio. A consequência é a frequência máxima possível de ocor- rência de potenciais de ação ser cerca de três vezes menor no coração que no axônio, o que, do ponto de vista funcional, tem consequências inte- ressantes. No axônio, a função bási- ca do potencial de ação é transmitir rapidamente mensagens ao longo de grandes distâncias, sendo a mo- dulação de frequência um fator im- portante para o conteúdo da mensa- gem transmitida; consequentemente, quanto mais ampla a faixa de frequ- ência, maior a capacidade de trans- missão de mensagens. Já, no miocárdio, a função básica do potencial de ação é garantir uma pro- pagação rápida e coordenada e, com isso, disparar o processo da contra- ção sincronizada em todo o coração. Como cada ciclo de potencial de ação está associado a um ciclo de con- tração, frequências ventriculares muito altas reduziriam o tempo de enchimento ventricular durante a diástole, diminuindo a eficiência da bomba cardíaca. SAIBA MAIS! Uma observação interessante em relação ao potencial de ação lento, característico das cé- lulas marca-passo, é o longo período refratário que, neste caso, ultrapassa a própria duração do seu potencial de ação em si. Isso é uma consequência do maior tempo requerido para a remoção da inativação do canal de cálcio do tipo L. Um fenômeno relacionado com isso é a fadiga de transmissão através do nodo AV. Ela se manifesta como um bloqueio de condução à medida que a frequência cardíaca aumenta. O período refratário do músculo atrial é bem mais curto que o dos ventrícu- los (cerca de 0,15 segundo para os átrios, comparado a 0,25 a 0,30 se- gundo para os ventrículos). 16POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS Figura 6. Período Refratário Cardíaco -90mV 0 mV + 20 mV Limite de despolarização Período Refratário Absoluto Período Refratário Efetivo Período Refratário Relativo 4 0 1 2 3 4 Repolarização 17POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS CORAÇÃOCÉLULAS MARCA-PASSO POTENCIAL DE AÇÃO LENTO CÉLULAS MUSCULARES/ DE CONDUÇÃO FASE 0 FASE 3 FASE 4 INFLUXO DE CÁLCIO EFLUXO DE POTÁSSIO INFLUXO DE SÓDIO POTENCIAL DE AÇÃO RÁPIDO FASE 0 FASE 1 FASE 2 INFLUXO DE SÓDIO EFLUXO DE POTÁSSIO EFLUXO DE POTÁSSIO EFLUXO DE POTÁSSIO INFLUXO DE CÁLCIO EFLUXO DE POTÁSSIO INFLUXO DE SÓDIO FASE 3 FASE 4 MAPA MENTAL – POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS 18POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS Aires MM. Fisiologia/Margarida de Mello Aires. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica. 12.ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011. 19POTENCIAL DE AÇÃO DAS FIBRAS CARDÍACAS
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