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Os pacientes eram encaminhados de trem e esquecidos dentro do hospital. Mais de 60 ml pessoas morreram. “Vagão para louco”. Os policiais agrediam os pacientes. Todas as pessoas perambulando da rua os policiais colocavam dentro do Raul Soares. Era um depósito de pessoas. Os “profissionais” do local só precisavam saber varrer o corredor, dar banho nos pacientes. Haldol e fernegan/diazepam, os medicamentos eram conhecidos pela cor. Mito de que, em Barbacena, havia um clima especial, a elite do Rio de Janeiro começa a descobrir Barbacena como um local pra se tratar, no antigo sanatório, que era um local muito requintado. Todas as imagens de barbacena remetiam a um campo de concentração, com tratamento muito desumano. O paciente era rotulado. Os alimentos foram acabando e os pacientes morriam de fome. Havia uma injeção que servia para todo mundo, era aplicada em todos com a mesma seringa. Os remédios eram distribuidos aleatoriamente para os pacientes e os pacientes que não aceitassem eram ameaçados com arma. Havia 1 médico para cada 3 pavilhões. 400 pacientes homens fechados por uma grade sem medicação, ninguém tinha coragem de entrar. Mais de 40 pacientes em uma cama, os tratamentos eram feitos com eletrochoque. Quando o paciente tinha uma crise ou fazia algo de errado, colocava-se uma bucha na boca para não morder a língua, 5 pessoas segurando, água com sal no rosto e o eletrochoque era aplicado. Muitas crianças do hospital infantil foram transferidas para o hospital colônia, os filhos muitas vezes tinham deficiência física ou mental e os pais tinham vergonha deles. As condições de sono também eram precárias, eles dormiam em colchões de mato e lençóis remendados cheios de bicho. A memória afetiva, muitas vezes, é congelada no momento do abandono, quando os pais deixam eles ali. Muitos eram “normais”, mas foram abandonados pela família.Quando os pacientes morriam, o rapaz pegava com uma carroça e eles faziam um buraco no cemitério e jogavam vários,sem caixão. Os loucos precisavam ter um local para sepultamento, não poderiam ser misturados com os “normais”. Em épocas de frio, os pacientes se amontoavam para se proteger e os de baixo acabavam morrendo asfixiados. O sepultamento na instituição parou de ser permitido porque os vizinhos estavam reclamando do mau cheiro, a terra já não aguentava a quantidade de mortos. O hospital já tinha um cemitério acoplado nele, ou seja, a expectativa não era curar, mas levar a vida até onde fosse possível. Existiam famílias que internavam o paciente e mudavam de endereço para não receber mais a pessoa, ou não manifestavam interesse em buscar os cadáveres, os cadáveres eram vendidos para as faculdades. Mais de 1800 cadáveres foram vendidos para 17 faculdades de medicina de 69 a 80. Os pacientes do hospital colonia iam para olaria fazer tijolo, alguns eram mais educados, 2 funcionários por 300 pacientes. O paciente pegava um cobertor para fazer capa de colchão para ele dormir. Muitos diretores do hospital levavam pacientes para ser pedreiro, servente da casa deles que eles estavam construindo, mas eles não tinham pagamento que não fossem cigarro. As pessoas internadas trabalhavam para a prefeitura gratuitamente. Na década de 30, a igreja católica começou a ajudar na instituição. As irmãs vicentinas exploravam muito as pacientes pra fazer crochê e elas não recebiam pra isso. Havia, também, separação entre mãe e filho. Geralda trabalhava na casa de um homem de 52 anos que era advogado, foi estuprada e engravidou dele, quando completou 3 meses de gestação foi levada para o Hospital Colônia, onde foi separada de seu filho e passou anos da sua vida. Depois de mais de 40 anos, o corpo de bombeiros localizou eles e promoveu o reencontro entre os dois. Às vezes as funcionárias também pegavam e criavam os filhos dos pacientes. Como é fotografar pessoas que perderam a condição humana? Há um silêncio de respeito a pessoas que não tiveram retorno à vida, violência institucionalizada, quebra de expectativa em relação ao cuidado e à destruição. Isolamento, silêncio, omissão, isso foi contraposto pelo próprio meio psiquiátrico. Essas pessoas não foram acusadas, passaram a se autocriticar.Houve uma reforma no hospital colônia, dando condições para gente formada e capacitada, muitos funcionários foram fazer sua formação profissional e técnica. Muitos foram contratados como acadêmicos para dar plantão. Basália passa a ser um símbolo de mudanças assistenciais psiquiátricas. O modelo hospitalar leva o paciente até o serviço, na rede é o contrário. Começou-se a fazer ressocialização dos pacientes (fazer desodorante, unha, batom, comer com colher e garfo). em 2001, com a aprovação da lei de atenção ao portador de transtorno mental no brasil, os leitos psiquiátricos passaram a ser substituídos por modelos de atendimento humanizados. No colônia, foram instituídas as residências terapêuticas. O Estado agiu em consonância com a instituição da psiquiatria, medicina, sanitarismo, judiciário, então a culpa é de todos e existe uma dívida histórica com os indivíduos remanescentes. Integração, escola inclusiva, tratamento ambulatorial, apoio familiar devem ser cada vez mais implementados. Hoje, há mais dignidade. A sociedade ainda tem muito de higienista e o discurso da periculosidade dá suporte a ele, a agressividade é utilizada para cometer violência. A judicialização e internações judiciais sobretudo para dependentes químicos ainda é um problema, destituindo a humanidade dos pacientes. É preciso sempre estar atento para que a história não volte a se repetir, a vigilância precisa ser permanente. O doente não tem voz.
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