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T E R A P I A . E X I S T E N C I A L . H U M A N I S T A f u n d a m e n t o s d a s p r i n c i p a i s c l í n i c a s p s i c o l ó g i c a s L A D O A Ana Lúcia Couto Ana Lúcia Couto PLANO DE ENSINO Objetivo Compreender as principais abordagens clínicas de orientação existencial e humanista. Procedimentos de Ensino Aulas expositivas e dialogadas, trabalhos em grupo, discussão de textos e vídeos. Bibliografia básica ERTHAL, T. C. Psicoterapia vivencial: uma abordagem existencial em psicoterapia. Campinas: Livro Pleno, 2004. PERLS, F. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: Brasiliense, 2012. ROGERS, C. R. Tornar-se pessoa. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014. Bibliografia complementar ANGERAMI-CAMON, V. A. Psicoterapia existencial. 4. ed. São Paulo: Thomson, 2007 SARTRE, J. P. Existencialismo é um humanismo. Rio de Janeiro: Vozes, 2010 MYERS, D.G. Introdução à Psicologia Geral. Rio de Janeiro: LTC, 1999. DAVIDOFF, L. Introdução à psicologia. São Paulo: McGraw-Hill, 1983. Artigos para pesquisa sobre: VIKTOR FRANKL CARL ROGERS LUDWIG BINSWANGER e MEDARD BOSS ROLLO MAY FRITZ PERLS JACOB LEVY MORENO http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v17n1/v17n1a10.pdf https://revistas.rcaap.pt/psilogos/article/download/6071/4769 http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v17n1/v17n1a06.pdf http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v5n1/a07.pdf http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v16n2/v16n2a12.pdf http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicodrama/v25n1/v25n1a06.pdf Ana Lúcia Couto PLANO DE ENSINO Conteúdo programático Unidade 1 - FUNDAMENTAÇÃO FILOSÓFICA 1.1. A Fenomenologia 1.2 O Pensamento Existencialista 1.3. O Pensamento Humanista. Unidade 2 - PSICOTERAPIAS HUMANISTAS 2.1. Psicologia das Necessidades Humanas (Abraham Maslow) 2.2. Psicoterapia Centrada na Pessoa (Carl Rogers) Unidade 3 - PSICOTERAPIAS EXISTENCIAIS 3.1. Logoterapia (Viktor Frankl) 3.2 Daseinsanálise (Ludwig Binswanger e Medard Boss) 3.3 Psicologia existencialista (Rollo May) 3.4 Gestalt Terapia (Fritz Perls) 3.5 Psicodrama (Jacob Levy Moreno) Unidade 4 – INTERVENÇÕES NA PRÁTICA CLÍNICA Ana Lúcia Couto Cronograma LADO A 09.08 Reflexões preliminares sobre psicoterapia: dinâmica do Tangram 16.08 Reflexões preliminares: o que sei sobre terapia existencial-humanista? 23.08 Análise do texto “Alguns apontamentos sobre as origens das psicoterapias fenomenológico-existenciais” 30.08 Semana de Psicologia 06.09 Psicoterapias humanistas (Maslow e Rogers) 13.09 Vídeo: O caso Glória (Rogers) 20.09 Psicoterapias existencialistas (Viktor Frankl, Ludwig Binswanger e Medard Boss) 27.09 Estudo em grupo 04.10 AV1 LADO B 11.10 Entrega de prova 18.10 Psicoterapias existencialistas (Rollo May, Fritz Perls, Jacob Levy Moreno) 25.10 Vídeo: O caso Glória (Perls) 01.11 A clínica existencial-humanista no SPA: “Primeiros passos na clínica existencial: vivências dentro e fora da universidade” (encontro com ex-alunos) 08.11 Atividade Acadêmica Complementar: “A clínica psicológica na Gestalt-terapia” (INSCRIÇÃO NO SIA) 15.11 Feriado 22.11 Estudo em grupo 29.11 AV2 06.12 AV3 http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v14n1/v14n1a06.pdf Ana Lúcia Couto Unidade 1 - FUNDAMENTAÇÃO FILOSÓFICA Matrizes científicas CIÊNCIAS NATURAIS As matrizes do pensamento psicológico apresentam-se em dois grandes grupos: Matrizes românticas CIÊNCIAS HISTÓRICAS Buscam a ordem natural e comportamental dos fenômenos psicológicos e partem do pressuposto de que existe uma “verdade” que pode ser indicada por evidências e demonstrações. Defendem a crença na realidade independente do sujeito que a conhece. Desconhecem a singularidade do sujeito e assumem o modelo das ciências naturais. Denunciam a insuficiência dos métodos naturais para o estudo dos fenômenos psicológicos e privilegiam a experiência subjetiva antes de qualquer racionalização e objetivação. Reconhecem e sublinham a singularidade do sujeito e rejeitam o modelo das ciências naturais. Ana Lúcia Couto Unidade 1 - FUNDAMENTAÇÃO FILOSÓFICA A Psicologia Existencial-Humanista, situada no contexto das ciências históricas, busca escapar do domínio da técnica, afastando-se de procedimentos prescritivos, voltados para o tratamento e a cura. Ana Lúcia Couto Ana Lúcia Couto Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Contexto A Psicologia Humanista surge nos EUA no final dos anos 1950 e início dos anos 1960 em meio ao movimento da contracultura. Havia uma forte insatisfação com os modelos proporcionados pelo Behaviorismo e pela Psicanálise. No entender dos primeiros psicólogos humanistas, a Psicanálise e o Behaviorismo eram enfoques por demais reducionistas, mecanicistas e deterministas acerca do humano, em detrimento de valores exclusivamente humanos, como a criatividade e a liberdade. Ana Lúcia Couto Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Abraham Maslow (1908-1970) foi um psicólogo norte-americano conhecido pela Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas e como um dos principais fundadores da Psicologia Humanista. Premissas fundamentais O que nos motiva é a busca de satisfação de necessidades. As necessidades seguem uma hierarquia das mais básicas para as mais complexas. O modo de ser corresponde às situações que cada ser humano vive. Personalidade não é estática e se constitui a partir da relação da pessoa com o contexto em que vive. As pessoas têm um desejo inato de auto-realização (“ser o que quer ser, de forma livre”) Ana Lúcia Couto Abertura para experiências inesperadas Ausência de preconceitos Aceitação de si mesmo Espontaneidade Criatividade Curiosidade Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA É uma necessidade básica se: 1. a sua ausência gerar doença 2. a sua presença evitar a doença 3. a sua restauração curar a doença Identificação dos níveis de necessidades – Queixas NÍVEIS FISIOLÓGICOS – queixas referentes a perigo de vida, fadiga, fome, sede, falta de dinheiro, más condições de moradia e trabalho, problemas de saúde etc. NÍVEIS DE SEGURANÇA – queixas relativas à instabilidade no trabalho, insegurança econômica, relações abusivas, medo de não receber ajuda quando necessário etc. NÍVEIS SOCIAIS – queixas por falta de amigos ou parceiro(a), por não pertencer a um grupo, por se sentir excluído. NÍVEIS DE ESTIMA – queixas referentes à perda de dignidade, à perda de prestígios, à perda de apreciação vida dos outros. NÍVEIS DE AUTO-REALIZAÇÃO – críticas em relação à ineficiência do mundo para com as pessoas em geral, às injustiças sociais, ao descaso público etc. Ana Lúcia Couto Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto Quatro propósitos da Psicologia Humanista 1. Criticar o cientificismo ortodoxo sem repudiar a ciência. 2. Nortear-se por métodos científicos mais holísticos e fenomenológicos para estudar a singularidade do indivíduo. 3. Propiciar um modo de vida que afete a pessoa e a sociedade, facilitando o alcance da auto-realização. 4. Transcender para um novo sentido de humanismo, ultrapassando o humano, a fim de integrar outras espécies, a natureza e o cosmo. Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto Carl Ransom Rogers (1902-1987) foi um psicólogo norte-americano atuante na terceira força da psicologia e criador da Abordagem Centrada na Pessoa. Premissas fundamentais A necessidade psicológica básica é de aceitação. Há um impulso inato para o desenvolvimento de potencialidades – tendência para a auto-realização Conceitos básicos Campo fenomenal: Percepção singular que um indivíduo tem de si (self) e do mundo Self ideal: Noção de quem gostaríamos de ser. Self real: Noção de como nos percebemos Congruência: Correspondência entre self real e ideal Incongruência: Conflito entre self real e ideal Observações Quando introjetamos as condições de valor no self ideal, perdemos contato com quem realmente somos. Quando agradar os outros torna-se mais importante do que satisfazer a tendência para a auto-realização, o crescimento saudávelfica ameaçado, resultando em experiências de incongruência. O crescimento saudável é caracterizado por espontaneidade, autocontrole e solidariedade, propiciando a auto-realização. Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto Nas minhas relações com as pessoas descobri que não ajuda, a longo prazo, agir como se eu fosse alguma coisa que não sou. Não serve de nada agir calmamente e com delicadeza num momento em que estou irritado e disposto a criticar. Não serve de nada agir como se sentisse afeição por uma pessoa quando nesse determinado momento sinto hostilidade para com ela. Não serve de nada agir como se estivesse cheio de segurança quando me sinto receoso e hesitante. Não me serve de nada agir como se estivesse bem quando me sinto doente. O que estou dizendo, em outras palavras, é que nunca achei que fosse útil ou eficaz nas minhas relações com as outras pessoas tentar manter uma atitude de fachada, agindo de uma certa maneira na superfície quando estou passando pela experiência de algo diferente. Fragmentos extraídos do livro “Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto Descobri que sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo aceitando-me, e posso ser eu mesmo. Tenho a impressão de que, com os anos, aprendi a tomar-me mais capaz de ouvir a mim mesmo, de modo que sei melhor do que antigamente o que estou sentindo num dado momento, que sou capaz de compreender que estou irritado, ou que, de fato, sinto rejeição em relação a um indivíduo, ou, pelo contrário, carinho e afeição, ou então, ainda, que me sinto aborrecido e sem interesse pelo que está se passando; ou que estou ansioso por compreender um indivíduo ou que tenho um sentimento de angústia ou de temor nas minhas relações com ele. Tornou-se mais fácil para mim aceitar a mim mesmo como um indivíduo irremediavelmente imperfeito e que, com toda a certeza, nem sempre atua como eu gostaria de atuar. Tudo isso pode parecer uma direção muito estranha a seguir. Parece-me válida pelo curioso paradoxo que encerra, pois, quando me aceito como sou, estou me modificando. Julgo que aprendi isso com os meus clientes, bem como através da minha experiência pessoal - não podemos mudar, não nos podemos afastar do que somos enquanto não aceitarmos profundamente o que somos. Fragmentos extraídos do livro “Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto Atribuo um enorme valor ao fato de poder me permitir compreender uma outra pessoa A nossa primeira reação à maior parte das afirmações que ouvimos das outras pessoas é uma avaliação imediata, é mais um juízo do que uma tentativa de compreensão. Quando alguém exprime um sentimento, uma atitude ou uma opinião, nossa tendência é quase imediatamente sentir: “Está certo”, “que besteira”, “não é normal”, “não tem sentido”, “não está certo”, “não fica bem”. Raramente permitimos a nós mesmos compreender precisamente o que significa para essa pessoa o que ela está dizendo. Julgo que esta situação é provocada pelo fato de a compreensão implicar um risco. Se me permito realmente compreender uma outra pessoa, é possível que essa compreensão acarrete uma alteração em mim. E todos nós temos medo de mudar. Compreender é duplamente enriquecedor. Quando trabalho com clientes perturbados, verifico que compreender o mundo estranho de uma pessoa psicótica, ou compreender e sentir as atitudes de um indivíduo que tem a impressão de que a sua vida é demasiado trágica, ou compreender um homem que se sente indigno e inferior - cada uma dessas compreensões me enriquece de algum modo. Estas experiências me modificam, tornam-me diferente e, segundo creio, mais sensível. Mas talvez o que mais importa é que a minha compreensão dessas pessoas permite a elas se modificarem. Permite-lhes assumir seus próprios temores, os pensamentos estranhos, os sentimentos trágicos e os desânimos, tão bem como os seus momentos de coragem, de amor e de sensibilidade. Fragmentos extraídos do livro “Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto Verifiquei ser enriquecedor abrir canais através dos quais os outros possam me comunicar os seus sentimentos, seus mundos perceptivos Existe na relação terapêutica um determinado número de processos para tornar mais fácil ao cliente comunicar-se. Posso, com minha própria atitude, criar uma segurança na relação, o que torna mais possível a comunicação. Como professor, encontrei o mesmo enriquecimento sempre que abri canais por meio dos quais os outros pudessem se revelar. Pedi muitas vezes aos estudantes “folhas de reação”, nas quais podem se exprimir individual e pessoalmente em relação ao curso. Podem indicar se as aulas vão ou não ao encontro das suas necessidades, podem dizer o que sentem em relação ao professor ou apontar as dificuldades pessoais que têm com respeito ao curso. Fragmentos extraídos do livro “Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto É sempre altamente enriquecedor poder aceitar outra pessoa. Verifiquei que aceitar verdadeiramente uma pessoa e seus sentimentos não é nada fácil, não mais do que compreendê-la. Poderei realmente permitir que outra pessoa sinta hostilidade em relação a mim? Poderei aceitar sua raiva como uma parte real e legítima de si mesma? Poderei aceitá-la quando ela encara a vida e seus problemas de uma forma completamente diferente da minha? Poderei aceitá-la quando tem para mim uma atitude positiva, quando me admira e me toma como modelo? Tudo isto está englobado na aceitação e não surge facilmente. Descobri que é quando posso aceitar uma outra pessoa, o que significa especificamente aceitar os sentimentos, as atitudes e as crenças que ela tem como elementos reais e vitais que a constituem, que posso ajudá-la a tornar-se pessoa. Fragmentos extraídos do livro “Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto Quanto mais aberto estou às realidades em mim e nos outros, menos me vejo procurando remediar as coisas. Quanto mais tento ouvir-me e estar atento ao que experimento no meu íntimo, quanto mais procuro ampliar essa mesma atitude de escuta para os outros, maior respeito sinto pelos complexos processos da vida. É esta a razão por que me sinto cada vez menos inclinado a remediar as coisas a todo custo, a estabelecer objetivos, modelar as pessoas, manipulá-las e impeli-las no caminho que eu gostaria que seguissem. Sinto-me muito mais feliz simplesmente por ser eu mesmo e deixar os outros serem eles mesmos. Fragmentos extraídos do livro “Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto As pessoas têm fundamentalmente uma orientação positiva Nos meus contatos mais profundos com indivíduos em psicoterapia, mesmo com aqueles cujos distúrbios eram mais perturbadores, cujos sentimentos pareciam muito anormais, a afirmação continua sendo verdadeira. Quando consigo afetivamente compreender os sentimentos que exprimem, quando sou capaz de aceitá-los, vejo que tendem a orientar-se em determinadas direções. E quais são essas direções que os seus movimentos subentendem? As palavras que julgo descreverem com maior veracidade essa direção são: positiva, construtiva, tendente à auto-realização, progredindo para a maturidade e para a socialização. Acabei por me convencer de que quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior sua tendência para se mover para a frente. Não tenho uma visão ingenuamente otimista da natureza humana. Tenho perfeita consciência do fato de que, pela necessidade de se defender dos seus terrores íntimos, o indivíduo pode vir a se comportar e se comporta de uma maneira incrivelmente feroz, horrorosamente destrutiva, imatura, regressiva, anti- social, prejudicial. Fragmentos extraídos do livro “Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto A vida, no que tem de melhor, é um processo que flui, que se altera e onde nada está fixado. É nos meus clientes e em mim mesmoque descubro que a vida é mais rica e mais fecunda quando aparece como fluxo e como processo. Essa descoberta provoca uma fascinação e, ao mesmo tempo, um certo temor. Quando consigo abandonar-me completamente a esse processo, é claro que não pode haver para mim nenhum sistema fechado de crenças, nenhum campo imutável de princípios a que me agarrar. A vida é orientada por uma compreensão e por uma interpretação variáveis da minha experiência. A vida é sempre um processo de devir. Fragmentos extraídos do livro “Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto As sete fases do processo terapêutico 1. Estágio de rigidez e repugnância em face de sua experiência, não buscando a terapia de boa vontade. Muitos bloqueios na comunicação interpessoal. Comunicação apenas sobre assuntos exteriores. Construções pessoais extremamente rígidas. Relações mais próximas são encaradas como perigosas. Nenhum problema pessoal é reconhecido. Os problemas permanecem captados como exteriores ao indivíduo. Não há sentimento de responsabilidade pessoal em relação aos problemas. Não há desejo de mudança. 2. Comunicação mais fluente sobre tópicos não pessoais Continuam as características da primeira fase, mas a expressão de tópicos não pessoais começa a ser mais descontraída e fluente a partir da experiência de sentir-se aceito. 3. Comunicação mais fluente sobre tópicos pessoais Maior expressão de experiências pessoais. Expressão e descrição de sentimentos e opiniões pessoas não atuais. Aceitação muito reduzida dos sentimentos, expressos como algo vergonhoso. As construções pessoas permanecem rígidas, mas podem ser reconhecidas como construções. Há maior reconhecimento de contradições. Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto As sete fases do processo terapêutico 4. Descrição de sentimentos no presente Há uma tendência para experimentar sentimentos no presente imediato, mas que é acompanhada de desconfiança e medo perante essa possibilidade. Início da abertura para aceitação dos sentimentos. Há o reconhecimento definitivo do caráter de construção pessoal. Começa a pôr-se em questão. Maior apreensão das incongruências. O indivíduo começa a tomar consciência de sua responsabilidade perante os problemas. Embora a relação com o terapeuta ainda pareça perigosa, o paciente aceita o risco de estreitar o vínculo de afetividade. 5. Maior abertura Sentimentos expressos livremente como se fossem experimentados no presente. Sentimentos prestes a serem experimentados, começam a subir à superfície apesar do receito do paciente em vivenciá-los. Há cada vez mais uma chamada a si dos próprios sentimentos, de ser o “verdadeiro eu”. Há uma análise das construções pessoais. O indivíduo aceita cada vez mais enfrentar suas próprias contradições. Há maior aceitação de sua responsabilidade perante os problemas. O diálogo interior torna-se mais livre. Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto As sete fases do processo terapêutico 6. Aceitação plena e consciente de si. Comunicação interior livre. O paciente sente-se separado de seu anterior quadro de referência estável. A incongruência desaparece diante da vivência da congruência. Uma vez que a experiência se tornou consciente e aceita, pode ser enfrentada com eficácia. A aceitação do terapeuta já não é tão necessário ao paciente. 7. Integração da noção de fluxo em todos os aspectos de sua vida psicológica. Sentido crescente em contínuo de aceitação pessoal dos sentimentos em mudança. As construções pessoas são provisoriamente reformuladas, sendo sustentadas de uma forma menos rígida. Há a experiência de uma efetiva escolha de novas maneiras de ser Unidade 2 – PSICOTERAPIA HUMANISTA Ana Lúcia Couto Síntese do processo terapêutico Menor rigidez dos sentimentos Menor rigidez cognitiva Passagem da incongruência à congruência Maior receptividade Maior facilidade de expressar-se Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto Viktor Emil Frankl 1905-1997) foi um neuropsiquiatra austríaco e fundador da Logoterapia. Contexto O ser humano passou a agir em função do ter, em vez do ser. Com isso, surgiram várias patologias de origem existencial. O determinismo nega-lhe o protagonismo, a liberdade e o poder de decisão. Disso decorre o sentimento de VAZIO EXISTENCIAL - perda de sentido da vida. Desponta um estado de neurose (noogênica) – desvalorização da vida. O agravamento desse estado compõe a tríade depressão, agressão e toxicodependência. Premissas fundamentais O conceito de homem da Logoterapia está baseado em dois pilares: 1. liberdade da vontade – resistência ao determinismo 2. vontade de sentido de vida – motivação primária para encontrar sentidos para a existência Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto A Logoterapia – Terapia do Sentido da Vida – surge com a função de ajudar o indivíduo a encontrar sua cura. Somente ele pode desvendar os próprios mistérios. O terapeuta será um facilitador que desenvolve a atitude de escuta e oferece meios para que o neurótico tome consciência da sua angústia e encontre a cura. Logoterapia Destina-se a pacientes com neurose noogênica - quando a pessoa convive com um vazio existencial. Introduz na psicoterapia uma reflexão sobre o sentido da vida. Tende a ser mais prospectiva do que retrospectiva, ou seja, mais focada no futuro. Busca tornar consciente o espectro de significados e valores. Propõe uma colaboração entre as escolas psicológicas (ecletismo). Frankl critica o termo “auto-realização” por enfatizar demasiadamente a possibilidade de a pessoa se realizar em si mesma. Para ele, esta realização só ocorre após o sentido de vida ser concretizado, o que é possível quando o indivíduo sai de si em direção a alguém ou algo que está no mundo. Por isto, Frankl prefere falar de autotranscendência como pré-requisito para a realização de si. Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto Em contraste com outras linhas de análise existencial, a Logoterapia propõe algumas estratégias diretivas para aliviar os sintomas dos pacientes. INTENÇÃO PARADOXAL Trata-se de propor ao paciente que alimente o seu sintoma, que fantasie da maneira mais dramática possível. Se, por exemplo, o paciente for um fóbico, que esteja diante de seu objeto de medo. Se for medo de avião, imaginar que está em um avião em chamas. Se for um hipocondríaco, que está tendo um infarto fulminante, e que nem adianta avisar os outros, não há nada a se fazer para salvá-lo. Se for um caso de disfunção erétil, o terapeuta poderá proibir terminantemente, como início de tratamento, que o paciente tenha relações amorosas por cinco ou dez dias. Ou, se for um insone, proibir duramente de dormir por uma semana, e mesmo que ele tenha sonolência, que use de qualquer estratagema para não dormir, saindo, tomando estimulantes, banho frio etc. Nestes casos, que são os mais frequentes, o paciente não consegue seguir a orientação terapêutica e acaba transgredindo as regras no sentido de sua cura. O remédio é o próprio sintoma. Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto Em contraste com outras linhas de análise existencial, a Logoterapia propõe algumas estratégias diretivas para aliviar os sintomas dos pacientes. DERREFLEXÃO Ferramenta específica para lidar com ansiedade, esta técnica pode ser descrita como uma tentativa de distrair a atenção do analisando, deslocando-a do foco de seu sintoma e rompendo com o círculo neurotizante. Por exemplo, um atleta tem que vencer outros concorrentes. Isso deixa o atleta extremamente ansioso e ele não consegue demonstrar toda a sua capacidade durante a prova. A logoterapia o recomenda tirar o foco dos outros concorrentes, a não ter como objetivo ser melhor do que os demais atletas, mas focar em si mesmo, vencer a si próprio, superar seus limites. Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto Em contraste com outras linhas de análise existencial, a Logoterapia propõe algumas estratégias diretivas para aliviaros sintomas dos pacientes. APELAÇÃO Consiste em apelar-se para a porção sadia do paciente, enaltecendo características positivas que demonstrem seus pontos fortes. Por exemplo, um cliente que procura psicoterapia por sentir-se tímido, covarde e inferior. O logoterapeuta ressalta a coragem de procurar ajuda e expor suas dificuldades, apesar da timidez. Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto Em contraste com outras linhas de análise existencial, a Logoterapia propõe algumas estratégias diretivas para aliviar os sintomas dos pacientes. DIÁLOGO SOCRÁTICO Oferecer condições ao analisando de ampliar seu autoconhecimento através de um questionamento profundo do significado no mundo do cliente. Por exemplo, o cliente diz que quer ser feliz. O logoterapeuta indaga o que é felicidade e o que o deixaria feliz. Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto Em contraste com outras linhas de análise existencial, a Logoterapia propõe algumas estratégias diretivas para aliviar os sintomas dos pacientes. TÉCNICA DE GANHOS E PERDAS Em situações que exigem tomada de decisão, esta técnica pede ao terapeuta que examine cada situação, fazendo, junto com o analisando, um criterioso balanço de livro-caixa existencial, em termos de perdas e ganhos, para promover ao cliente melhores condições de decidir quanto às possíveis consequências, a menos nociva a si e aos outros, e, acima de tudo, com total compromisso de responsabilidade. Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto Ludwig Binswanger (1881-1966) foi um psiquiatra suíço pioneiro na área da psicologia existencial. É um dos criadores da Daseinsanálise. Medard Boss (1903-1990) foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço que contribuiu para o desenvolvimento da Daseinsanálise. Pressuposto Fenomenologia Hermenêutica, de Martin Heidegger A Daseinsanálise prescinde da substancialização do psiquismo, já que não importa a interioridade, mas sim a articulação ser-aí/ser- no-mundo. Propósito da clínica daseinsanalítica Romper com distrações ou excesso de ocupações e abrir espaço para a angústia e o tédio. Não devemos ir contra eles. Ao contrário. Devemos nos aproximarmos deles e buscar na angústia e no tédio o clamor da existência. O daseinsanalista apenas participa, mas não comanda, nem determina, nem posiciona. No entanto, a sua participação é decisiva para que aconteça um jogo em que analista e analisando abram um espaço de abertura para possibilidades que se encontram obscurecidas, para que essas possam transparecer. Para tanto, esse analista precisa ao menos, como diz Kierkegaard (1987), da adição. Isso quer dizer que já tenha questionado as imposições, orientações sedimentadas ou retóricas hegemônicas presentes em nosso horizonte histórico. Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto Tonalidades afetivas As tonalidades afetivas fundamentais – angústia e tédio – se constituem em uma atmosfera que promove a possibilidade de uma saída do estreitamento das possibilidades existenciais. O Dasein busca, no mundo, apoio e tutela. Mas é exatamente esta busca que o coloca na cadência do mundo, esquecendo-se do seu próprio ritmo e obscurecendo seu caráter de poder-ser. Nessa condição, duas tonalidades afetivas podem emergir: Angústia e Tédio. Ambos colocam em jogo a compreensão do caráter de nada da existência, do ser incompleto e indeterminado, desvelando o poder do mundo sobre nós. A angústia emerge como um mobilizador existencial. Imediatamente, abrem-se duas possibilidades: na tentativa de livrar-se da angústia, Dasein ou bem retoma a tutela do mundo e volta àquilo que lhe é familiar, ou bem concretiza-se no poder-ser, singulariza-se, o que consiste na perda, nem que seja por um instante, da tutela do mundo. O tédio conduz a uma inércia existencial. Nasce do fato de nos tornarmos desinteressantes para nós mesmos: tudo nos diz muito pouco ou nada. A rotina traz a ausência de sentido e ao sentir que nada tem sentido, o tédio alerta para o insuportável do cotidiano, do familiar e da finitude. Unidade 3 – PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA Ana Lúcia Couto A atuação do analista Em uma atitude fenomenológica, o daseinsanalista não diagnostica nem conduz. Coloca em suspensão seus pressupostos e solicita e incita a descrição do que vem acontecendo com o analisando. Deixa que as interpretações de sentido surjam a partir do horizonte hermenêutico presente na situação clínica. Cuidado Heidegger utiliza a palavra Sorge (cuidado) para referir-se às relações do ser-aí. Há duas formas de cuidado: OCUPAÇÃO com os entes simplesmente dados e PREOCUPAÇÃO, referente à relação com o ser-aí. A preocupação pode se dar de duas formas: preocupação substitutiva, onde o cuidado é retirado de um e assumido por outro e preocupação por anteposição, quando se antepõe ao outro com o objetivo de lhe devolver o cuidado. A anteposição pode dar a impressão de desproteção, pois ao pretender devolver ao outro o cuidado que ele precisa ter com ele mesmo, deixa-se espaço para que o outro o ocupe. No entanto, é essa forma de preocupação por anteposição que permite ao outro responsabilizar-se pelo cuidado consigo mesmo, sendo o modo de cuidado próprio da Daseinsanálise.
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