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Melhoramento Genético de Bovinos de leite Introdução: A definição dos objetivos de seleção é o primeiro passo para a elaboração de um programa de melhoramento genético. As características a serem selecionadas devem ser escolhidas de acordo com a sua importância econômica para o sistema de produção (Ponzoni e Newman, 1989). Dessa forma, o conhecimento do sistema de produção e de suas características de importância econômica são essenciais para a correta elaboração de um programa de melhoramento genético visando à maximização do lucro da atividade. Seleção é um processo pelo qual indivíduos em uma população são escolhidos para produzirem descendentes, sendo indispensável em qualquer programa de melhoramento. Dois critérios podem ser empregados na seleção de uma vaca: 1. a sua "capacidade provável de produção", que permite uma previsão da sua produção numa próxima lactação com base em lactações passadas; 2. o seu "valor genético para produção", estimado usando-se registro da própria vaca e de parentes. Objetivos e metas na seleção: Objetivos e metas bem definidos são necessários em um programa de seleção. O estabelecimento de metas depende das características dos animais que contribuirão para a renda do produtor. Entçao, quais características deverão ser consideradas na seleção do próximo touro a ser usado no rebanho? Para que uma característica seja considerada na seleção em gado de leite, alguns requisitos devem ser observados, como: Importância econômica; Grau de controle genético - implicando conhecimento das heritabilidades das características e das correlações entre elas; Facilidade e custo de registro da informação sobre a característica - se medida em grande número de animais, permitirá avaliações genéticas confiáveis, possibilitando altos diferenciais de seleção, isto é, diferença entre animais selecionados e a população. Desse modo, dentre os caracteres economicamente importantes para o melhoramento genético do gado leiteiro destacam-se a produção de leite, produção de gordura, produção de proteína, duração da lactação, resistência à mastite e os componentes da eficiência reprodutiva, como idade ao primeiro parto e intervalo de partos. Registro de produção: Uma vez definidos os objetivos da seleção, o próximo passo é estabelecer as medidas a serem registradas. Por exemplo, quando a produção de leite é considerada a mais importante, a seleção irá referir-se apenas para esta característica. A medida padrão da produção de leite é a produção até 305 dias de lactação, não havendo necessidade de pesar o leite todo dia. O recomendável é que o leite seja controlado uma vez ao mês, combinando-se amostras de duas ordenhas para análise de gordura, proteína etc. A finalidade principal dos registros de produção é fornecer ao produtor informações detalhadas das vacas de seu rebanho para tomada de decisões, adequação de práticas de manejo e alimentação, bem como planejamento a média e longo prazo. Qualquer produtor que deseje melhorar a capacidade de produção de suas vacas ou aumentar a eficiência na produção de leite deverá estar atento para três práticas fundamentais, que são: descarte, alimentação e seleção. Sem registros de produção, o produtor pode somente especular sobre quais vacas descartar, sobre a quantidade de alimento para cada vaca e sobre quais deverão permanecer no rebanho. Então, os registros de produção mantidos por associações de criadores são pré-requisitos para avaliação e seleção de touros. Para os propósitos do melhoramento genético, as produções individuais das vacas são de grande importância, e todo o rebanho deverá ser controlado. Para cada vaca recomenda-se o registro das seguintes informações: data do nascimento e identificação do pedigree, incluindo, pelo menos, os pais e, se possível, os avós; produção de leite - controle mensal; datas de cobertura e parição; ocorrência de doenças e assistência veterinária; determinação periodica das porcentagens de gordura e proteína do leite; dados sobre consumo de alimentos. As produções de animais individuais contribuem para o progresso com a seleção somente se registradas e analisadas. Fatores não-genéticos que afetam a produção de leite: Fatores de meio ambiente, sendo muito importantes por contribuirem com cerca de 75% da variação na produção (por exemplo: região, diferenças sazonais de ano para ano, doenças etc.) Efeitos de vários fatores de meio ambiente na variação da produção de leite. Dentre os mais importantes destacamse: duração da lactação, número de ordenhas, idade da vaca e época de parição. Fatores de natureza fisiológica, como: sexo, idade, gestação, lactação, efeitos maternos etc. Obs: Para a estimação de valores genéticos, há necessidade de remoção das influências não- genéticas na variação da produção. Herdabilidade e repetibilidade O melhoramento genético depende, basicamente, da existência de variação genética nas características econômicas, da intensidade de seleção e do intervalo de gerações. O passo inicial é, portanto, avaliar as diferenças genéticas na população disponível, que são dadas pela herdabilidades das características. Produção de leite: Resume os resultados, e nela ressaltam os relativos à raça Holandesa, em que os valores de 33% para herdabilidade e 45% para repetibilidade já devem merecer a confiança dos melhoristas. As estimativas para Jérsei, Simental e mestiços, Caracu e Pitangueiras se referem a diferentes amostragens do mesmo rebanho, e talvez devessem pesar menos no cálculo geral. Os intervalos mais frequentes para o conjunto de estimativas registram níveis próximos aos constantes da literatura estrangeira e poderiam ser usados, no Brasil, com maior segurança de sua validade para nossas condiçôes. Produção e percentagem de gordura: O número de estimativas em relação à gordura por lactação é menor do que para produção de leite. Estes valores constam das Tabelas 2 e 3, onde se verifica maior freqüência de observações sobre a raça Holandesa. Aqui, também, os números para Jérsei e Pitangueiras se referem a diferentes amostragens do mesmo rebanho. Verifica-se que as estimativas de herdabilidade da produção de gordura variaram muito entre as raças, enquanto as da percentagem de gordura são muito mais baixas que as registradas na literatura internacional. Ramos et ai. (1984) calcularam a herdabilidade para produção de gordura or dia de lactação. h 2= 50% e por dia de vida útil, h - 42%, mais elevadas do que as constantes das Tabelas 2 e 3, relativas a lactações completas. Duração da gestação: Resume os dados existentes; os seis valores para herdabilidade se distribuem em dois grupos bem diferenciados, que variaram de 10%, 14% e 14% a 30%, 39% e 48%; a mediana, de 22%, é, assim, pouco representativa; os valores encontrados para repetibilidade são mais concentrados, e a mediana, de 18%, espelha bem os valores mais freqüentes, de 14% a 22%. Duração da lactação: Resume os resultados obtidos pelos diversos autores quanto à duração da lactação. O intervalo mais freqüente para herdabiiidade fica entre 29% e 33% com duas estimativas; para repetibilidade, este intervalo fica entre 14 e 15 também com dois valores. Idade ao primeiro parto: A mediana de todos os valores apresentou o alto valor de 49%, e o intervalo mais freqüente foi de 49% - 56%. É este intervalo interessante observar o contraste entre os altos valores aqui obtidos e os 22% registrados para idade na primeira fecundação. Correlação genética e fenotípica A correlação fenotípica é estimada diretamente de medidas fenotípicas, sendo resultante, portanto, de causas genéticas e ambientais. Apenas a correlação genotípica, que corresponde à porção genética da correlação fenotípica, é empregada para orientar programas de melhoramento, por ser a única de natureza herdável. Produção de leite x produçãode gordura: As estimativas de correlação genética entre produção de leite e de gordura foram elevadas. Ribas et ai. (1981 a), Freitas (1981), Freitas et al. (1981, 1982), Siqueira et ai. (1983), Rorato (1982) e Rarato et aI. (1983) apresentaram, para a raça Holandesa, valores variando entre 0,83 e 0,99 (mediana 0,91); Polastre (1980) e Polastre et al. (1981) apresentaram, para Jérsei, dois valore: 0,86 e 0,93, estimados no mesmo rebanho; Barbosa et ai. (1981) acharam o valor 1,00 em guzerá, e Nunes (1983), 1,52 em búfalos (a mediana de todas estimativas, excluidos os búfalos, é de 0,93). As correlaçôes fenotipicas foram, igualmente, altas: Outras correlações: Polastre et ai. (1983 a, c) determinaram, em rebanho Jérsei, as seguintes correlações genéticas: Seleção Seleção de vacas: A seleção de vacas a serem mantidas no rebanho pode ser baseada na produção de leite prevista para a próxima lactação (Capacidade Provável de Produção); ou por uma estimativa da sua superioridade genética para produção de leite (valor genético). No caso de seleção de mães de fêmeas de reposição ou de tourinhos, é interessante considerar valores genéticos, em vez da capacidade de produção (Se o interesse for a seleção pelo valor genético, as produções da vaca e de parentes mais próximos são consideradas. Empregam-se, então, os chamados "índices de seleção", os quais tendem a se aproximar dos valores genéticos verdadeiros dos animais avaliados). Independentemente dos propósitos da seleção, as produções deverão ser ajustadas para diferenças importantes de meio ambiente, como idade, período de lactação, número de ordenhas, raça, rebanho, ano e estação de parição. Seleção de touros: A decisão sobre qual ou quais touros serão usados é a mais importante para o melhoramento genético dos animais em um rebanho. Produtor progressista reconhece este fato e, após observar as informações disponíveis sobre vários touros, decide a favor de alguns poucos para uso em seu rebanho. É comum a frase "O touro é a metade de um rebanho"; isto significa que metade da herança futura de um rebanho origina-se do touro e a outra metade das fêmeas por ele cobertas ou inseminadas. Na realidade, os touros contribuem com mais da metade do progresso genético da maioria dos rebanhos, uma vez que eles podem ser mais intensamente selecionados do que as vacas. Touros selecionados poderão contribuir com até 90% do melhoramento genético em uma população. Na Figura 6 tem-se uma demonstração de como o emprego de touros superiores pode melhorar a constituição genética de um rebanho. Nota-se que a cada geração, os descendentes terão, na sua herança, a metade da carga genética do último touro, 1/4 do penúltimo e 1/8 do antepenúltimo. Portanto, as três gerações de emprego de touros superiores, 7/8 da herança dos animais origina-se destes touros, restando somente 1/8 da carga genética inicial. O emprego de touros selecionados poderá melhorar a renda, por meio da venda de machos, e aumentar o capital por meio das suas filhas. Uma vez que o touro não produz leite, as produções de leite das filhas é que tem sido usada para sua avaliação, daí o nome "teste de progênie". Cruzamento Na escolha de uma ou outra raça, ou de alguma das diferentes opções de cruzamentos, devem ser considerados vários aspectos, como o sistema de produção a ser adotado na propriedade, o clima (temperatura, ventos, radiação solar, umidade relativa do ar, precipitação média anual), o tipo e a fertilidade do solo, a topografia do terreno, o preço dos animais, a preferência pessoal do produtor, a capacidade de investimento etc. O conhecimento e entendimento do conceito da heterose pode ajudar o produtor na escolha do tipo de cruzamento mais adequado conforme o sistema de produção adotado em sua propriedade. O acasalamento de animais de raças diferentes é a maneira mais rápida de fazer melhoramento genético dos bovinos, reunindo em um só animal as boas características de duas ou mais raças, aproveitando-se a heterose. A heterose é o fenômeno pelo qual os filhos apresentam melhor desempenho (mais vigor ou maior produção) do que a média dos pais. Girolando: Genuinamente brasileira, a raça surgiu por volta da década de 1940, no Vale do Paraíba, estado de São Paulo, quando um touro da raça Gir teria invadido uma pastagem vizinha e cobrido algumas vacas da raça Holandesa. Ao nascerem os produtos desse cruzamento, os criadores observaram que eram animais com características diferentes e que, com o tempo, foram demonstrando maior rusticidade, precocidade e grande produção de leite. O sucesso obtido com o cruzamento levou criadores de outras regiões do Brasil a investir nesse tipo de animal e a desenvolver técnicas para selecionar os melhores exemplares com o objetivo de aperfeiçoar o desempenho zootécnico do cruzamento, que na época já era considerado muito satisfatório. Em 1989, foram definidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento as normas para formação da raça Girolando. O direcionamento dos acasalamentos buscou a formação de um grupamento étnico capaz de produzir leite de modo sustentável nas regiões tropicais e subtropicais. O objetivo foi a fixação do padrão racial na composição racial 5/8 Holandês + 3/8 Gir. São considerados como Puro Sintético (PS), ou seja, a raça propriamente dita, os animais advindos do acasalamento entre indivíduos 5/8. No dia 1° de fevereiro de 1996, o Girolando foi reconhecido oficialmente como raça pelo Ministério da Agricultura e tem como única delegada para a execução do Serviço de Registro Genealógico e do Programa de Melhoramento Genético em todo o país a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando. Desde 1989, a entidade registra diversas composições raciais permitidas dentro da formação da raça, indo desde o 1/4 Holandês + 3/4 Gir até o 7/8 Holandês + 1/8 Gir. Da raça Gir, o Girolando herdou, principalmente, a capacidade de adaptação e a rusticidade. Já do Holandês, com todos os seus anos de seleção no mundo, veio a grande produção de leite. Cruzamento Holandês x Gir: Principais Características do Gado Girolando: Produção de Leite – Proporciona uma excelente rentabilidade em sistemas rústicos de produção e em sistemas com alta tecnologia. Rusticidade – Caracteriza-se por ser um gado que se adapta muito facilmente a diferentes tipos de manejo e clima. Longevidade – São animais que produzem leite por muitos anos, reduzindo a taxa de reposição do rebanho. Fertilidade – Característica muito importante do gado Girolando, que mesmo em condições adversas apresenta bons índices de fertilidade, tanto em machos quanto em fêmeas. Precocidade – São animais que entram em fase de reprodução rapidamente, o que reduz os custos com a criação até o início da vida produtiva. Principais referências: https://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/view/13846/7856 http://www.girolando.com.br/ https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/103183/1/CT-43-Melhoram-gen-gado-de- leite.pdf
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