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TUTORIA 3 Objetivo 1 - Descrever a anatomia do sistema VISUAL. Anatomia Geral do Olho Quando olhamos nos olhos de alguém, para o que estamos olhando realmente? A pupila é a abertura que permite que a luz entre no olho e alcance a retina; ela parece escura devido aos pigmentos que absorvem luz na retina. A pupila é cercada pela íris, cuja pigmentação origina aquilo que chamamos a cor dos olhos. A íris contém dois músculos que podem alterar o tamanho da pupila; um deles a torna menor quando se contrai, enquanto o outro a torna maior. A pupila e a íris são cobertas pela superfície vítrea transparente externa do olho, a córnea. A córnea está em continuidade com a esclera, que constitui o “branco dos olhos” e que forma a resistente parede do globo ocular. O globo ocular situa-se em um compartimento ósseo do crânio, também chamado de órbita ocular. Inseridos na esclera estão três pares de músculos, os músculos extra-oculares, que movimentam o globo ocular dentro das órbitas. Esses músculos normalmente não são visíveis, pois localizam-se atrás da conjuntiva, uma membrana que se dobra para trás desde a parte interna das pálpebras, indo ligar-se à esclera. O nervo óptico, reunindo os axônios da retina, sai do olho em sua parte posterior, atravessa a órbita e alcança o encéfalo em sua base, próximo à glândula hipófise. Aparência Oftalmoscópica do Olho Outro modo de vermos o olho é através do oftalmoscópio, um aparelho que permite examinar o fundo do olho como visto através da pupila, mostrando a retina (Figura 9.5). A característica mais óbvia da retina, quando vista através de um oftalmoscópio, são os vasos sangüíneos em sua superfície. Esses vasos da retina originam-se de uma região circular clara, chamada papila óptica, que é também o ponto onde as fibras do nervo óptico deixam a retina (e saem do olho). É interessante observar que a sensação de luz não pode ocorrer na papila óptica, pois não existem fotorreceptores nesse lugar, e também não pode ocorrer onde estão os grandes vasos sanguíneos, pois os vasos lançam sombras sobre a retina. Mesmo assim, nossa percepção do mundo visual parece não possuir “remendos”. Não distinguimos quaisquer “buracos” em nosso campo de visão, pois o encéfalo completa nossa percepção dessas áreas. Existem alguns truques que nos permitem demonstrar as regiões “cegas” da retina (Quadro 9.1). No centro de cada retina, há uma região mais escura, com um aspecto amarelado. Essa é a mácula lútea (do latim para “mancha amarelada”), a parte da retina dedicada à visão central (em oposição à visão periférica). Além de sua cor, a mácula distingue-se pela relativa ausência de grandes vasos sanguíneos. Observe na Figura 9.5 que os vasos sanguíneos curvam- se a partir da papila óptica em direção à mácula; essa é também a trajetória das fibras do nervo óptico a partir da mácula em direção à papila. A relativa ausência de grandes vasos sanguíneos nessa região da retina é uma das especializações que melhoram a qualidade da visão central. Uma outra especialização da retina central, que pode algumas vezes ser percebida com o oftalmoscópio, é a fóvea, um ponto escuro com cerca de 2 mm de diâmetro. Fóvea vem do latim para “poço”, e a retina é mais delgada na fóvea do que em qualquer outro local. Uma vez que essa marca o centro da retina, a fóvea é um ponto de referência anatômica bastante conveniente. Assim, a parte da retina que se situa mais próxima ao nariz com relação à fóvea é chamada de nasal, e a parte que se situa mais próxima às temporas é chamada de temporal; a parte da retina acima da fóvea é chamada de superior, e a parte abaixo, de inferior. Anatomia da Secção Transversal do Olho Uma visão do olho em secção transversal mostra o caminho percorrido pela luz quando atravessa a córnea em direção à retina (Figura 9.6). A córnea não apresenta vasos sangüíneos e é nutrida pelo fl uido situado por detrás dela, o humor aquoso. A secção transversal revela o cristalino, uma estrutura transparente localizada por detrás da íris. O cristalino é suspenso por ligamentos (a zônula ciliar) que se ligam aos músculos ciliares, os quais conectam-se à esclera e formam um anel dentro do olho. Como veremos, mudanças no formato do cristalino permitem que nossos olhos ajustem o foco para diferentes distâncias visuais. O cristalino também divide o interior do olho em dois compartimentos contendo fl uidos ligeiramente diferentes. O humor aquoso, comentado anteriormente, é o fl uido aquoso que se situa entre a córnea e o cristalino. O humor vítreo, mais viscoso e gelatinoso, situa-se entre o cristalino e a retina; sua pressão mantém esférico o globo ocular. Embora os olhos façam um trabalho notável em transmitir informação visual para o resto do encéfalo, vários distúrbios podem comprometer essa capacidade (Quadro 9.2). Objetivo 2 – Fisiologia da visão ( formação da imagem) O olho coleta raios de luz emitidos ou refl etidos por objetos no ambiente e os focaliza sobre a retina para formar imagens. A focalização dos objetos envolve os poderes de refração combinados da córnea e do cristalino. Pode ser surpreendente saber que é a córnea, e não o cristalino, a lente responsável pela maior parte do poder de refração de seus olhos. Refração pela Córnea Considere a luz emitida por uma fonte distante, digamos, uma estrela brilhante à noite. Vemos a estrela como um ponto de luz porque o olho focaliza a luz da estrela em um ponto sobre a retina. Os raios de luz que atingem a superfície do olho a partir de uma estrela distante são praticamente paralelos, de forma que, para serem focados sobre a retina, devem sofrer um curvamento pelo processo de refração. Lembre-se que, à medida em que a luz atravessa um meio onde sua velocidade é diminuída, sua direção será desviada, aproximando-se da normal (ortogonal à superfície que separa os meios; ver Figura 9.3). Essa é precisamente a situação quando a luz atinge a córnea e passa do ar para o humor aquoso. Conforme mostrado na Figura 9.7, os raios de luz que atingem a superfície curvada da córnea mudam de direção, de forma a convergir na parte posterior do olho; apenas aqueles que cruzam pelo centro do olho passam diretamente para a retina, sem qualquer mudança na direção. A distância da superfície refratora até o ponto onde os raios de luz paralelos convergem é chamada distância focal. Essa distância depende da curvatura da córnea: quanto menor o seu raio de curvatura, menor a distância focal. A equação na Figura 9.7 mostra que a recíproca da distância focal*, em metros, é usada como uma unidade de medida e recebe o nome de dioptria. A córnea tem um poder refrator de cerca de 42 dioptrias, o que signifi ca que raios de luz paralelos que atingem a superfície da córnea irão focalizar-se a 1/42 = 0,024 m (ou 2,4 cm) atrás dela, aproximadamente a distância que separa a córnea da retina. Para perceber o grande poder de refração produzido pela córnea, convém notar que muitas lentes prescritas de óculos têm um poder de apenas umas poucas dioptrias. É conveniente recordar que o poder refrator depende da diminuição da velocidade da luz na interface ar-córnea. Se substituíssemos o ar por um meio que seja atravessado pela luz com aproximadamente a mesma velocidade com que ela atravessa o olho, o poder refrator da córnea seria eliminado. Essa é a razão pela qual as coisas parecem borradas quando abrimos os olhos sob a água; a interface água-córnea é incapaz de produzir a focalização de uma imagem. Uma máscara de mergulho restaura a interface ar-córnea e, conseqüentemente, o poder refrator do olho. Acomodação pelo Cristalino Embora a córnea realize a maior parte da refração do olho, o cristalino contribui com cerca de uma dúzia de dioptrias adicionais para a formação de umaimagem nítida de um ponto distante. No entanto, o mais importante é que o cristalino está envolvido na formação de imagens claras e nítidas de objetos próximos, localizados a uma distância menor do que 9 m com relação ao olho. À medida em que os objetos se aproximam, os raios de luz oriundos de um determinado ponto não podem mais ser considerados paralelos. Mais precisamente, esses raios divergem, e um poder de refração maior é necessário para focalizá-los na retina. Esse poder adicional de focalização é fornecido pela mudança no formato do cristalino, um processo chamado de acomodação (Figura 9.8). O Reflexo Pupilar da Luz Direta Além da córnea e do cristalino, a pupila também contribui para as qualidades ópticas do olho por meio do ajuste contínuo a diferentes intensidades de luz no ambiente. Para averiguar isso você mesmo, fi que diante de um espelho com as luzes apagadas por alguns segundos e observe suas pupilas mudarem de tamanho quando as luzes forem acesas. Esse refl exo pupilar da luz direta envolve conexões entre a retina e os neurônios do tronco encefálico que controlam os músculos que contraem a pupila. Uma propriedade interessante desse refl exo é que ele é consensual, isto é, se a luz atingir apenas um olho, provocará a constrição das pupilas de ambos os olhos. De fato, é incomum as pupilas não apresentarem o mesmo tamanho; a ausência do refl exo pupilar consensual para a luz é freqüentemente considerada um sinal de algum distúrbio neurológico grave que envolva o tronco encefálico. A constrição da pupila aumenta a profundidade do foco da mesma maneira que a diminuição da abertura da lente de uma câmara. Para entender a razão pela qual isso funciona, considere dois pontos no espaço, um mais próximo e o outro distante. Quando o olho se acomoda ao ponto mais próximo, a imagem do ponto mais distante na retina não mais é um ponto, mas sim um círculo borrado. A diminuição da abertura – constrição da pupila – reduz o tamanho desse círculo borrado, de forma que sua imagem se aproxima mais de um ponto. Dessa forma, objetos distantes parecem menos fora de foco Acuidade Visual A capacidade do olho de distinguir entre dois pontos próximos é chamada de acuidade visual. A acuidade visual depende de diversos fatores, em especial do espaçamento dos fotorreceptores na retina e da precisão da refração do olho. A distância através da retina pode ser medida em termos de graus de ângulo visual. Um ângulo reto compreende 90 graus; a lua, por exemplo, cobre um ângulo de cerca de 0,5 grau (Figura 9.10). Podemos falar da capacidade do olho em distinguir pontos separados por um determinado número de graus de ângulo visual. O quadro do Teste de Snellen, que todos já vimos em algum consultório médico, testa nossa capacidade para discriminar caracteres (letras e números) a uma distância de 6 metros. Sua visão será de 20/20 quando você puder reconhecer uma letra que cobre um ângulo de 0,083 grau, que equivale a 5 minutos de arco (1 minuto é 1/60 de um grau)*. ▼ ANATOMIA MICROSCÓPICA DA RETINA Agora que temos uma imagem formada sobre a retina, podemos passar para a Neurociência da visão: a conversão da energia luminosa em atividade neural. Para começar nossa discussão sobre o processamento da imagem na retina, devemos observar a arquitetura celular dessa que é uma porção do encéfalo. O sistema básico de processamento da informação na retina é mostrado na Figura 9.11. A via mais direta para o fl uxo da informação visual parte dos fotorreceptores rumo às células bipolares e, daí, para as células ganglionares. Essas últimas disparam potenciais de ação em resposta à luz, e esses impulsos se propagam, via nervo óptico, para o resto do encéfalo. Além das células presentes nessa via direta, desde os fotorreceptores até o encéfalo, o processamento na retina é infl uenciado por dois outros tipos celulares. Células horizontais recebem aferentes dos fotorreceptores e projetam neuritos lateralmente para infl uenciar as células bipolares vizinhas e os fotorreceptores. Células amácrinas recebem aferentes das células bipolares e projetam lateralmente para infl uenciar células ganglionares vizinhas, células bipolares e outras células amácrinas. Há dois pontos importantes que devem ser lembrados aqui: 1. As únicas células sensíveis à luz na retina são os fotorreceptores. Todas as outras células são influenciadas pela luz apenas por meio de interações sinápticas diretas e indiretas com os fotorreceptores (veremos no Capítulo 19 que há uma exceção a essa regra, envolvendo neurônios que controlam os ritmos circadianos; tais células, entretanto, são fotorreceptores incomuns que não parecem estar envolvidas na percepção visual.) 2. As células ganglionares são a única fonte de sinais de saída da retina. Nenhum outro tipo de célula da retina projeta axônios por meio do nervo óptico. A Organização Laminar da Retina Como mostrado na Figura 9.12, a retina apresenta uma organização laminar: as células estão organizadas em camadas. Observe que as camadas estão aparentemente ordenadas ao contrário: a luz deve atravessar o humor vítreo, as células ganglionares e bipolares antes de atingir os fotorreceptores. Uma vez que as células retinianas que fi cam no percurso da luz até os fotorreceptores são relativamente transparentes, a distorção da imagem, à medida que a luz as atravessa, é mínima. Um dos motivos para essa disposição “invertida” das camadas celulares é a posição do epitélio pigmentar, situado logo abaixo dos fotorreceptores, com seu papel crítico na manutenção dos fotorreceptores e dos fotopigmentos. O epitélio pigmentar também absorve qualquer luz que atravesse completamente a retina, minimizando assim a refl exão da luz no fundo do olho, o que borraria a imagem. As camadas celulares da retina são designadas com relação ao centro do globo ocular. Assim, a camada mais interna é a camada de células ganglionares, que contém os corpos celulares das células ganglionares. A seguir está a camada nuclear interna, que contém os corpos celulares das células bipolares, as células horizontais e amácrinas. A camada seguinte é a camada nuclear externa, que contém os corpos celulares dos fotorreceptores. Finalmente, temos a camada dos segmentos externos dos fotorreceptores, que contém os elementos sensíveis à luz da retina. Os segmentos externos estão embebidos no epitélio pigmentar. Entre a camada de células ganglionares e a camada nuclear interna está a camada plexiforme interna, na qual se estabelecem contatos sinápticos entre células bipolares, amácrinas e ganglionares. Entre as camadas nucleares interna e externa está a camada plexiforme externa, onde os fotorreceptores estabelecem contatos sinápticos com células bipolares e horizontais. A Estrutura de um Fotorreceptor A conversão da radiação eletromagnética em sinais neurais ocorre nos 125 milhões de fotorreceptores na parte posterior da retina. Cada fotorreceptor apresenta quatro regiões: um segmento externo, um segmento interno, um corpo celular e um terminal sináptico. O segmento externo contém uma pilha de discos membranosos. Fotopigmentos sensíveis à luz, localizados nas membranas desses discos, absorvem luz, determinando, dessa forma, alterações no potencial de membrana do fotorreceptor (como será discutido a seguir). A Figura 9.13 mostra os dois tipos de fotorreceptores encontrados na retina, os quais são facilmente distingüíveis pelo formato de seus segmentos externos. Os fotorreceptores do tipo bastonete apresentam um segmento externo longo e cilíndrico contendo muitos discos. Os fotorreceptores do tipo cone apresentam um segmento externo mais curto e que gradualmente diminui de espessura, contendo um menor número de discos membranosos. As diferenças estruturaisentre bastonetes e cones estão relacionadas a importantes diferenças funcionais. Por exemplo, o maior número de discos e a maior concentração de fotopigmentos nos bastonetes os tornam 1.000 vezes mais sensíveis à luz do que os cones. De fato, em um ambiente com iluminação noturna, isto é, em condições escotópicas, apenas os bastonetes contribuem para a visão. Por outro lado, em ambientes com iluminação diurna, ou seja, em condições fotópicas, são os cones que realizam a maior parte do trabalho. Por essa razão, fala-se na teoria da duplicidade da visão: uma retina escotópica, que utiliza apenas os bastonetes, justaposta a uma retina fotópica, que utiliza principalmente os cones. Bastonetes e cones diferem também em outros aspectos. Todos os bastonetes contêm o mesmo fotopigmento, mas há três tipos de cones, cada qual com um pigmento diferente. Essas variações entre os pigmentos fazem com que os diferentes cones sejam sensíveis a diferentes comprimentos de onda da luz. Com veremos logo mais, os cones desempenham um papel central em nossa capacidade de ver cores* Diferenças Regionais na Estrutura da Retina A estrutura da retina varia desde a fóvea até a periferia. Em geral, a retina periférica possui muito mais bastonetes do que cones (Figura 9.14). Nessa região, também há uma alta relação de fotorreceptores para células ganglionares. O efeito combinado desse arranjo é que a retina periférica é mais sensível à luz, pois (1) bastonetes são especializados para baixa intensidade luminosa, e (2) há mais fotorreceptores fornecendo informação para uma mesma célula ganglionar. Verifi que isso, você mesmo, em uma noite estrelada. (É divertido; experimente fazer isso com um amigo.) Fique, inicialmente, tentando orientar-se no escuro por cerca de 20 minutos e, então, olhe para uma estrela brilhante. Fixando o olhar nessa estrela, procure em sua visão periférica uma estrela pouco brilhante. Mova então seus olhos para olhar essa última estrela. Você descobrirá que ela desaparece quando sua imagem cai na retina central (quando você olha diretamente para ela), mas reaparece quando sua imagem cai na retina periférica (quando você olha ligeiramente para o lado dela). ▼ FOTOTRANSDUÇÃO Os fotorreceptores convertem, ou transduzem, energia luminosa em alterações do potencial de membrana. Começaremos nossa discussão sobre a fototransdução com os bastonetes, que excedem em número os cones na retina humana na proporção de 20 para 1. Muito do que sabemos sobre a fototransdução nos bastonetes, no entanto, também é aplicável para os cones. Foto transdução nos Bastonetes :Conforme discutimos na Parte I deste livro, uma forma pela qual a informação é representada no sistema nervoso é por meio de alterações no potencial de membrana dos neurônios. Assim sendo, procuramos um mecanismo pelo qual a absorção de energia luminosa possa ser transduzida em uma alteração no potencial de membrana do fotorreceptor. Sob muitos aspectos, esse processo é análogo à transdução de sinais químicos em sinais elétricos que ocorre durante a transmissão sináptica. Em um receptor de neurotransmissor acoplado à proteína G, por exemplo, a ligação do transmissor ao receptor ativa proteínas G na membrana, as quais, por sua vez, estimulam várias enzimas efetoras (Figura 9.16a). Essas enzimas alteram a concentração intracelular de moléculas de segundos mensageiros citoplasmáticos, os quais, direta ou indiretamente, alteram a condutância de canais iônicos na membrana, dessa forma alterando o potencial de membrana. De uma forma semelhante, no fotorreceptor, a estimulação do fotopigmento pela luz ativa proteínas G, as quais, por sua vez, ativam uma enzima efetora que altera a concentração citoplasmática de um segundo mensageiro. Essa alteração determina o fechamento de um canal iônico na membrana, e o potencial da membrana é, então, alterado (Figura 9.16b). Lembre-se que, como vimos no Capítulo 3, um neurônio típico em repouso tem um potencial de membrana de cerca de –65 mV, próximo ao potencial de equilíbrio para o K+ . Por outro lado, quando em completa escuridão, o potencial de membrana do segmento externo do bastonete é de cerca de –30 mV. Essa despolarização é causada pelo infl uxo constante de Na+ através de canais especiais no segmento externo da membrana (Figura 9.17a). Esse movimento de cargas positivas através da membrana é chamado de corrente do escuro. Os canais de sódio têm sua abertura estimulada – são ativados – por um segundo mensageiro intracelular chamado monofosfato de guanosina cíclico, ou GMPc. Evidentemente, o GMPc é produzido continuamente no fotorreceptor pela enzima guanilato ciclase, mantendo os canais de Na+ abertos. A luz reduz a quantidade de GMPc, o que determina o fechamento dos canais de Na+ , e o potencial de membrana torna-se mais negativo (Figura 9.17b). Dessa forma, os fotorreceptores são hiperpolarizados em resposta à luz. A resposta hiperpolarizante à luz é iniciada pela absorção da radiação eletromagnética pelo fotopigmento localizado nas membranas dos discos empilhados no segmento externo dos bastonetes. Nos bastonetes, esse pigmento é denominado rodopsina*. A rodopsina pode ser imaginada como uma proteína receptora possuindo um agonista previamente ligado. A proteína receptora é denominada opsina e apresenta sete segmentos de alfa-hélice transmembrana, típicos dos receptores acoplados a proteínas G que ocorrem em todo o organismo. O agonista previamente ligado é denominado retinal e é um derivado da vitamina A. A absorção de luz determina uma alteração na conformação do retinal, de forma que a opsina é ativada (Figura 9.18). Esse processo é um tipo de desbotamento, porque altera os comprimentos de luz que a rodopsina é capaz de absorver (o fotopigmento literalmente muda da cor púrpura para a amarela). O desbotamento da rodopsina estimula uma proteína G denominada transducina, presente no disco membranoso, e essa, por sua vez, ativa a enzima efetora fosfodiesterase (PDE). A PDE hidroliza o GMPc normalmente presente no citoplasma dos bastonetes (no escuro). A redução nas concentrações de GMPc determina o fechamento dos canais de Na+ e a hiperpolarização da membrana. Uma conseqüência funcional bastante interessante da utilização de uma cascata bioquímica para a transdução é a amplifi cação do sinal. Muitas moléculas de proteína G são ativadas para cada molécula de fotopigmento, e cada enzima PDE ativada hidroliza mais de uma molécula de GMPc. Essa amplifi cação confere a nosso sistema visual a capacidade de detectar até mesmo fótons individuais, as unidades elementares da energia luminosa. A seqüência completa dos eventos da fototransdução nos bastonetes está ilustrada na Figura 9.19. Fototransdução nos Cones Sob a luz do sol, há uma queda nos níveis de GMPc nos bastonetes, até um ponto em que a resposta à luz torna-se saturada; luz adicional não mais promove qualquer hiperpolarização. Essa é a situação no caso de um dia de sol brilhante. Assim sendo, a visão durante o dia depende inteiramente dos cones, cujos fotopigmentos necessitam de maior nível de energia para sofrerem desbotamento. O processo de fototransdução nos cones é praticamente o mesmo que aquele que ocorre nos bastonetes; a única diferença signifi cativa é o tipo de opsinas dos discos membranosos dos segmentos externos dos cones. Cada cone em nossas retinas contém uma das três opsinas que conferem aos fotopigmentos diferentes sensibilidades espectrais. Assim sendo, podemos falar de cones “para o azul”, cuja ativação máxima se dá pela luz com comprimentos de onda em torno de 430 nm; cones “para o verde”, cuja ativação máxima ocorre com comprimentos de onda ao redor de 530 nm, e cones “para o vermelho”, cuja ativação máximaocorre com comprimentos de onda por volta de 560 nm (Figura 9.20). Detecção de Cores. As cores que percebemos são determinadas principalmente pelas contribuições relativas de cada tipo de cone para o sinal na retina. O fato de que nosso sistema visual detecta as cores dessa forma foi, na verdade, predito há quase 200 anos pelo físico britânico Thomas Young. Esse pesquisador mostrou, em 1802, que cada cor do arco-íris, incluindo o branco, poderia ser criada pela mistura de uma proporção adequada de luz vermelha, verde e azul (Figura 9.21). Ele propôs, com bastante acerto, que em cada ponto na retina existe um conjunto de três tipos de receptores, cada tipo apresentando sensibilidade máxima ao azul, ao verde ou ao vermelho. As idéias de Young foram mais tarde defendidas por um infl uente fi siologista alemão do século XIX, Hermann von Helmholtz. (Entre suas realizações está a invenção do oftalmoscópio em 1851.) Essa concepção acerca da visão das cores veio a ser conhecida como a teoria tricromática de Young-Helmholtz. De acordo com essa teoria, o encéfalo atribui cores com base em uma comparação da leitura (fotométrica) dos três tipos de cones*. Quando todos os tipos de cones são igualmente ativos, como no caso da luz de amplo espectro, percebemos o “branco”. Várias formas de cegueiras para cores resultam no caso de defi ciências de um ou mais dos tipos de fotopigmentos dos cones (Quadro 9.4). Se os cones fossem inteiramente responsáveis pela percepção da cor, não deveríamos ser capazes de perceber diferenças de cores quando eles estivessem inativos. Essa inferência é correta, e você pode demonstrá-la. Saia em uma noite escura e tente distinguir as cores dos vários objetos. É difícil detectar cores durante a noite porque apenas os bastonetes, que apresentam um único tipo de fotopigmento, estão ativados quando a luz é escassa. (Sinais brilhantes de neon ainda são visualizados em cores porque emitem luz sufi ciente para afetar os cones.) O pico de sensibilidade para os bastonetes ocorre em um comprimento de onda próximo dos 500 nm, que é percebido como verde-azulado sob condições fotópicas. Esse fato serve de base para dois diferentes pontos de vista com relação à escolha das luzes indicadoras nos painéis dos automóveis. Um desses pontos de vista sustenta que as luzes devem ser verde-azuladas, para aproveitar a sensibilidade espectral dos bastonetes. Um ponto de vista alternativo é o de que as luzes devem ser de cor vermelha brilhante, porque esse comprimento de onda afeta principalmente os cones, de forma que os bastonetes não estarão saturados, resultando em uma melhor visão noturna. Adaptação ao Escuro e à Claridade Essa transição da visão diurna, com base nos cones, para a visão noturna, com base nos bastonetes, não é instantânea: leva cerca de 20 a 25 minutos (daí o tempo necessário para orientar-se no exercício de olhar as estrelas que sugerimos anteriormente). Esse fenômeno é denominado adaptação ao escuro. Na verdade, a sensibilidade à luz aumenta um milhão de vezes ou mais durante esse período. A adaptação ao escuro explica-se por diversos fatores. Talvez o mais óbvio deles seja a dilatação das pupilas, que permite que mais luz penetre no olho. O diâmetro da pupila humana, porém, varia somente de 2 a 8 mm, ou seja, a área pupilar pode variar suas dimensões apenas de um fator de 16. O principal componente da adaptação ao escuro, portanto, envolve a regeneração da rodopsina para uma confi guração molecular anterior ao desbotamento e o ajuste da circuitaria funcional da retina, de forma que mais bastonetes estejam disponíveis para cada célula ganglionar. Devido a esse grande aumento na sensibilidade, quando o olho adaptado ao escuro retorna para um ambiente com luz brilhante, torna-se temporariamente saturado. Isso explica o que ocorre logo que você sai para fora de casa em um dia bonito. Durante os próximos 5 a 10 minutos, os olhos sofrem uma adaptação à claridade, invertendo as alterações na retina que ocorreram durante a adaptação ao escuro. Essa adaptação ao escuro ou à claridade na retina duplex confere ao nosso sistema visual a capacidade de operar em intensidades de luz que variam desde uma noite sem luar até um brilhante meio-dia. O Papel do Cálcio na Adaptação à Claridade. Em adição aos fatores mencionados acima, a capacidade do olho de adaptar-se a mudanças na intensidade da luz depende de alterações na concentração de cálcio dentro dos cones. Quando você sai de um cinema escuro para um dia luminoso, os cones estão inicialmente hiperpolarizados, tanto quanto possível (i.e., estão no máximo no EK, que é o potencial de equilíbrio do K+ ). Se os cones permanecessem nesse estado, seríamos incapazes de perceber mudanças na luminosidade. Como discutido antes, a constrição das pupilas ajuda um pouco, reduzindo a luz que entra no olho. A mudança mais importante, no entanto, é uma despolarização gradual da membrana, de retorno a um potencial de aproximadamente –35 mV. A razão para tal ocorrer origina-se no fato de que os canais de sódio dependentes de GMPc, que discutimos anteriormente, também admitem cálcio. No escuro, o Ca2+ entra nos cones e promove um efeito inibitório na enzima (guanilato ciclase) que sintetiza o GMPc. Quando os canais dependentes de GMPc se fecham, o fl uxo de Ca2+ para dentro dos fotorreceptores é reduzido; como resultado, mais GMPc é sintetizado, pois sua enzima de síntese está menos inibida, permitindo assim que os canais dependentes de GMPc se abram novamente. Dito de forma mais simples, quando os canais se fecham, um processo é iniciado que gradualmente os reabre, mesmo que o nível de luminosidade não mude. O cálcio também parece afetar os fotopigmentos e a fosfodiesterase, diminuindo suas respostas à luz. Esses mecanismos com base no cálcio asseguram que os fotorreceptores sejam sempre capazes de registrar mudanças relativas no nível de luz, embora informações sobre seu nível absoluto possam perder-se. ▼ O PROCESSAMENTO NA RETINA Bem antes da descoberta de como funcionam os fotorreceptores, os pesquisadores foram capazes de explicar algumas das formas pelas quais a retina processa imagens visuais. Desde cerca de 1950, os neurocientistas têm estudado as descargas dos potenciais de ação nas células ganglionares da retina à medida que a retina é estimulada pela luz. Os pioneiros nesses estudos foram os neurofi siologistas Keffer Hartline, Stephen Kuffl er e Horace Barlow, com Hartline e Kuffl er trabalhando nos EUA e Barlow na Inglaterra. Seus estudos revelaram quais aspectos da imagem visual são codifi cados como sinais de saída nas células ganglionares. Estudos iniciais em caranguejos e rãs abriram caminho para pesquisas em gatos e macacos. Descobriu-se que os mesmos princípios estão envolvidos no processamento de imagens pela retina em uma ampla variedade de espécies. O progresso na compreensão de como as propriedades das células ganglionares são determinadas pelas interações sinápticas na retina tem sido lento. Isso ocorre porque apenas células ganglionares disparam potenciais de ação; todas as outras células na retina (com exceção de algumas células amácrinas) respondem à estimulação com alterações graduais no potencial de membrana. A detecção dessas mudanças graduais requer métodos tecnicamente complicados de registro intracelular, enquanto potenciais de ação podem ser detectados usando métodos simples de registro extracelular (ver Quadro 4.1). Apenas nos primeiros anos da década de 1970 é que John Dowling e Frank Werblin, da Universidade de Harvard, foram capazes de demonstrar como as respostas das células ganglionares são construídas a partir das interações com células horizontais e bipolares (Quadro 9.5). A via mais direta para o fl uxo de informaçãona retina é a partir de um fotorreceptor do tipo cone para uma célula bipolar e, daí, para uma célula ganglionar. Em cada estação sináptica, as respostas são modifi cadas por conexões laterais de células horizontais e amácrinas. Enfocaremos inicialmente a maneira como a informação é transformada à medida em que passa dos fotorreceptores para as células bipolares e, ao fi nal, estudaremos os sinais de saída das células ganglionares. Transformações na Camada Plexiforme Externa Os fotorreceptores, assim como outros neurônios, liberam neurotransmissores quando despolarizados. O transmissor liberado pelas células fotorreceptoras é o aminoácido glutamato. Como vimos, os fotorreceptores estão despolarizados no escuro e se tornam hiperpolarizados com a luz. Temos, assim, uma situação contrária àquela que seria a mais esperada: na verdade, os fotorreceptores liberam menos neurotransmissores na presença da luz do que no escuro. Podemos conciliar esse aparente paradoxo, entretanto, se aceitarmos o ponto de vista de que é o escuro, e não a luz, o estímulo preferido pelo fotorreceptor. Assim sendo, quando uma sombra passa sobre um fotorreceptor, ele responde sofrendo uma despolarização e liberando neurotransmissores. Na camada plexiforme externa, cada fotorreceptor efetua contatos sinápticos com dois tipos de células retinianas: as células bipolares e as células horizontais. Lembre-se que as células bipolares estabelecem a via direta, desde os fotorreceptores até as células ganglionares; células horizontais, por sua vez, fornecem informação lateralmente para a camada plexiforme externa, infl uenciando a atividade de células bipolares vizinhas e fotorreceptores (ver Figuras 9.11 e 9.12). Campos Receptivos de Células Bipolares. As células bipolares podem ser divididas em duas classes, com base em suas respostas ao glutamato liberado pelos fotorreceptores. Células bipolares do tipo OFF apresentam canais de cátions ativados por glutamato, que medeiam um clássico potencial excitatório pós- sináptico (PEPS), o qual despolariza a membrana pelo infl uxo de íons Na+ . Já as células bipolares do tipo ON apresentam receptores acoplados a proteínas G e respondem ao glutamato com uma hiperpolarização. Observe que os nomes OFF e ON referem-se ao fato de as células despolarizarem em resposta à luz sendo desligada (off; quando há mais glutamato) ou acesa (on; quando há menos glutamato). Cada célula bipolar recebe aferências sinápticas diretas de um grupo de fotorreceptores. O número de fotorreceptores nesse grupo varia desde um, no centro da fóvea, até milhares, na retina periférica. Além dessas conexões diretas com os fotorreceptores, as células bipolares estão conectadas via células horizontais a um anel circunscrito de fotorreceptores que cerca aquele grupo. O campo receptivo de uma célula bipolar (ou de qualquer outra célula do sistema visual) é a área da retina onde, em resposta à estimulação pela luz, ocorre uma alteração do potencial de membrana da célula. O campo receptivo de uma célula bipolar é constituído por duas porções: uma área circular de retina, que proporciona aferências diretas do fotorreceptor, chamada de centro do campo receptivo, e uma área de retina adjacente, que proporciona aferências via células horizontais, chamada de periferia do campo receptivo (Figura 9.22a). As dimensões do campo receptivo podem ser medidas em milímetros na retina ou, mais comumente, em graus de ângulo visual. Um milímetro na retina, corresponde a um ângulo visual de aproximadamente 3,5 graus. Os diâmetros dos campos receptivos das células bipolares variam desde uma fração de grau na retina central até diversos graus na retina periférica. A resposta do potencial de membrana de uma célula bipolar à luz no centro do campo receptivo é oposta àquela promovida pela luz na periferia. Por exemplo, se a iluminação do centro causa despolarização da célula bipolar (uma resposta ON), então a iluminação da periferia causará uma hiperpolarização antagônica dessa célula (Figura 9.22b, c). Da mesma forma, se a célula for despolarizada quando houver uma mudança de luz para escuro no centro de seu campo receptivo (uma resposta OFF), ela será hiperpolarizada pelo mesmo estímulo escuro quando esse for aplicado à periferia. Assim sendo, diz-se que essas células apresentam campos receptivos organizados como centro-periferia, com centro e periferia antagônicos entre si. Esse antagonismo entre centro e periferia parece vir de uma interação complexa nos contatos sinápticos de células horizontais, fotorreceptores e bipolares. A organização dos campos receptivos em centro-periferia passa das células bipolares para as ganglionares por meio das sinapses na camada plexiforme interna. As conexões laterais das células amácrinas na camada plexiforme interna também contribuem para a construção dos campos receptivos das células ganglionares e para a integração de sinais oriundos dos cones e bastonetes que chegam às células ganglionares. Numerosos tipos de células amácrinas têm sido identifi cadas, porém sua contribuição para as respostas das células ganglionares ainda está sendo investigada. ▼ OS SINAIS DE SAÍDA DA RETINA A única fonte de sinais de saída da retina para o resto do encéfalo são os potenciais de ação provenientes das células ganglionares, que perfazem cerca de um milhão de células. A atividade dessas células pode ser registrada ele trofi siologicamente, não apenas na retina, mas também no nervo óptico, por onde transitam seus axônios. Os Campos Receptivos das Células Ganglionares A maior parte das células ganglionares da retina apresenta a organização concêntrica de seus campos receptivos em centro-periferia, conforme discutimos acima para as células bipolares. Células ganglionares com centro-ON e com centro-OFF recebem aferências dos tipos correspondentes de células bipolares. Assim sendo, uma célula ganglionar com centro-ON será despolarizada e responderá com uma rajada de potenciais de ação quando um pequeno ponto de luz for projetado sobre o centro de seu campo receptivo. Da mesma forma, uma célula com centro-OFF responderá para um ponto escuro projetado sobre o centro de seu campo receptivo. Em ambos os tipos de célula, entretanto, a resposta à estimulação do centro é cancelada pela resposta à estimulação da periferia de cada campo receptivo (Figura 9.23). A surpreendente conseqüência desse fato é que a maior parte das células ganglionares da retina não é particularmente responsiva a mudanças na iluminação que incluam, ao mesmo tempo, o centro e a periferia do campo receptivo. Pelo contrário, parece que as células ganglionares são responsivas principalmente a diferenças na iluminação que ocorram dentro de seus campos receptivos. Para ilustrar esse ponto, considere a resposta gerada por uma célula centroOFF quando uma sombra escura atravessa seu campo receptivo (Figura 9.24). Lembre-se que, nessa célula, uma projeção escura sobre o centro do campo receptivo determina a despolarização da célula, enquanto que uma projeção escura sobre a periferia determina a hiperpolarização da célula. Sob uma iluminação uniforme, o centro e a periferia se cancelam, produzindo um baixo nível de respostas (Figura 9.24a). Quando a sombra entra na região da periferia do campo receptivo sem avançar sobre o centro, ela tem um efeito de hiperpolarizar o neurônio, determinando uma diminuição na taxa de disparos da célula (Figura 9.24b). À medida que a sombra passa a estender-se também sobre o centro, no entanto, a inibição parcial, determinada pela periferia, é suplantada, e a resposta da célula aumenta (Figura 9.24c). No entanto, quando a sombra fi nalmente preenche toda a periferia, a resposta do centro é novamente cancelada (Figura 9.24d). Observe que a respostacelular, nesse exemplo, é apenas levemente diferente sob luz uniforme ou sob escuridão uniforme; a resposta é modulada principalmente pela presença de uma borda que delimite luz e sombra em seu campo receptivo. Agora, consideremos os sinais de saída de todas as células ganglionares com centro-OFF que são estimuladas por uma borda fi xa delimitando luz e sombra, que é projetada sobre a retina. As respostas possíveis são mostradas nas quatro categorias ilustradas na Figura 9.24. Assim sendo, as células que registram a presença dessa sombra são aquelas cujos centros e periferias dos campos receptivossão diferentemente afetados pela borda. A população de células com os centros dos campos receptivos “percebendo” o lado iluminado da borda será inibida (Figura 9.24b). A população de células com os centros dos campos receptivos “percebendo” o lado escuro da borda será excitada (Figura 9.24c). Dessa forma, a diferença na iluminação em uma borda que separa o claro do escuro não é representada com fi delidade pela diferença nos sinais de saída das células ganglionares em quaisquer dos lados da borda. Em vez disso, a organização centro-periferia dos campos receptivos leva a uma resposta neural que exagera o contraste nas bordas. Há muitas ilusões visuais envolvendo a percepção do nível de luminosidade. A organização dos campos receptivos das células ganglionares sugere uma explicação para a ilusão mostrada na Figura 9.25. Embora os dois quadrados centrais sejam do mesmo tom de cinza, o quadro da esquerda parece mais escuro do que o da direita. Considere os dois campos receptivos com centro-ON, mostrados nos quadrados de cor cinza. Em ambos os casos, a mesma luz cinza atinge o centro do campo receptivo. Entretanto, o campo receptivo à esquerda terá mais luz atingindo sua periferia do que o campo receptivo à direita. Isso levará a uma menor resposta, que pode estar relacionada com a aparência “mais escura” do quadrado cinza à esquerda. Tipos de Células Ganglionares A maior parte das células ganglionares na retina dos mamíferos apresenta um campo receptivo organizado como centro-periferia com seu centro sendo ON ou OFF. Essas células podem ainda ser divididas em função de seu aspecto, de suas conexões ou de suas propriedades eletrofi siológicas. Na retina do macaco, assim como na retina humana, distinguem-se dois tipos principais de células ganglionares: células ganglionares do tipo M, que são grandes, e células ganglionares do tipo P, menores. (M signifi cando magno, i.e., “grande” em latim, e P signifi cando parvo, do latim para “pequeno”.) A Figura 9.26 mostra os tamanhos relativos das células ganglionares do tipo M e do tipo P em uma mesma localização sobre a retina. As células do tipo P constituem cerca de 90% da população de células ganglionares, e as do tipo M, cerca de 5%, sendo os restantes 5% constituídos de uma variedade de tipos celulares denominados células ganglionares do tipo não-M-e-não-P, as quais são menos bem caracterizadas. As propriedades de resposta visual das células do tipo M diferem daquelas das do tipo P em vários aspectos. Elas têm maiores campos receptivos, conduzem potenciais de ação mais rapidamente no nervo óptico e são mais sensíveis a estímulos com baixo contraste. Além disso, as células do tipo M respondem à estimulação dos centros de seus campos receptivos com uma série rápida e transitória de rajadas de potenciais de ação, enquanto que as células do tipo P respondem com uma descarga sustentada que persiste enquanto persistir o estímulo (Figura 9.27). No Capítulo 10, veremos que os diferentes tipos de células ganglionares parecem desempenhar diferentes papéis na percepção visual. Processamento em Paralelo Um conceito importante que emerge de nossa discussão sobre a retina é a idéia do processamento em paralelo no sistema visual. Eis aqui o porquê. Primeiro, nossa visão do mundo não se dá com um olho, mas com dois, que fornecem dois fl uxos paralelos de informação. No sistema visual central, esses fl uxos são comparados para se obter informações acerca da profundidade, isto é, a distância entre um objeto e o observador. Segundo, parece haver fl uxos independentes de informação sobre os níveis de claro e escuro originários de células ganglionares com centro- ON e centro-OFF em cada retina. Terceiro, células ganglionares de ambos as variedades, ON e OFF, apresentam diferentes tipos de campos receptivos e propriedades de resposta. Células do tipo M podem detectar contrastes sutis sobre seus grandes campos receptivos e provavelmente contribuem para a visão de baixa resolução. Células do tipo P apresentam campos receptivos pequenos, adequados para a discriminação de detalhes fi nos. Células do tipo P e células do tipo não-M-e-não-P são especializadas para o processamento, em separado, de informações referentes ao vermelho-verde e ao azul-amarelo. Objetivo 3- Quais as vias neurológicas sensitivas e áreas cerebrais relacionadas visão? Vias visuais centrais Os nervos ópticos dos olhos direito e esquerdo seguem sobre os ossos da base do crânio, na região logo acima do diafragma da sela da glândula hipófise onde formam um cruzamento de fibras, ou seja, uma decussação, o quiasma óptico. As fibras que continuam a partir do quiasma passam a formar, agora, o trato óptico. Deve-se ressaltar aqui que as fibras da retina temporal seguem ipsolateralmente, enquanto que as da retina nasal decussam no quiasma. Assim, a informação que chega ao córtex visual de um lado é a que vem do campo visual do lado oposto, e não do olho oposto. Um pequeno número de axônios do trato faz sinapses com regiões do hipotálamo, mais ou menos 10% seguem até o colículo superior e o restante segue para o núcleo geniculado lateral, no tálamo. Então, os axônios que saem desse núcleo se dirigem para o córtex visual primário no lobo occipital, projetando-se pela via denominada de radiações ópticas (Figura 15.8). As projeções que se dirigem para o hipotálamo têm função importantíssima na sincronização de diversos ritmos biológicos, incluindo aqui o sono e a vigília. As fibras que se projetam para o colículo superior respondem a pontos de luz por meio de conexões indiretas com neurônios motores no tronco cerebral, de modo a fazer com que os movimentos da cabeça e dos olhos formem a imagem na fóvea. Mas, conforme já falamos, os núcleos geniculados laterais, portanto, um de cada lado do tálamo, são os maiores alvos dos dois tratos ópticos. Quando observada em corte histológico transversal essa estrutura apresenta seis camadas e pelo fato de ter uma forma que parece um joelho recebe o nome de geniculado, pois essa é uma palavra de origem latina que significa como um joelho. O núcleo geniculado é a porta de entrada para o córtex visual e, portanto, da percepção visual consciente. Córtex visual primário Região do córtex cerebral no lobo occipital do encéfalo, que pode também ser chamado de córtex estriado, importante para o processamento de sinais visuais básicos Córtex estriado Região do córtex cerebral no lobo occipital do encéfalo, recebe esse nome por apresentar axônios mielínicos que aí se localizam, atribuindo-lhe aspecto estriado, as estrias de Gennari Assim, é no córtex visual primário que ocorre o processamento de sinais visuais básicos, fundamental para todos os aspectos da percepção visual. Dessa maneira, o córtex visual secundário é importante para a visão em cores e o córtex visual terciário é para a percepção do movimento. Córtex visual secundário Região cortical que recebe projeções do córtex visual primário, importante para o processamento de informações referentes à visão a cores Córtex visual terciário Região cortical importante para a percepção do movimento Os axônios quedecussam no corpo caloso produzem a unificação do que foi detectado nos dois campos visuais de modo a ter-se a percepção de uma única imagem. As projeções que descem até os centros oculomotores no mesencéfalo têm a função de focalizar na retina a imagem obtida. Finalmente, deve-se notar que existem relações espaciais nítidas entre as células ganglionares na retina e os alvos centrais, formando, por exemplo, mapas de localização do espaço no córtex visual primário. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2396-1/epub/OEBPS/Text/chapter15.html?create=true#ch15fig8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2396-1/epub/OEBPS/Text/chapter15.html?create=true#ch15fig8 A essa estrutura característica dá-se o nome de retinotopia. Ainda, deve-se notar que a fóvea tem uma grande representação nesse córtex se compararmos ao restante da retina, ou seja, a retina periférica Objetivo 4 - O que é retinopatia diabética e como afeta a visão? (mecanismo de lesão) A retinopatia diabética (RD) é uma doença que afeta os pequenos vasos da retina, região do olho responsável pela formação das imagens enviadas ao cérebro. O aparecimento da retinopatia diabética está relacionado principalmente ao tempo de duração do diabetes e ao descontrole da glicemia. Quando o diabetes não está controlado, a hiperglicemia desencadeia várias alterações no organismo que, entre outros danos, levam à disfunção dos vasos da retina.1,4 O diabetes está associado a diversas complicações como a disfunção e falência dos rins, do sistema nervoso, do coração e dos vasos sanguíneos. O olho é um dos principais órgãos lesados pelo diabetes, e entre as complicações oculares, a RD é a complicação microvascular mais comum do diabetes, sendo a principal causa de cegueira em adultos de 20 a 74 anos de idade.1-3 Vale destacar que a RD está se tornando cada dia mais comum em diabéticos de todas as faixas etárias.1 A retinopatia diabética geralmente afeta ambos os olhos e se não diagnosticada e tratada precocemente pode levar a cegueira irreversível.4 No entanto, o aparecimento ou progressão da doença pode ser prevenido pelo controle adequado dos níveis de glicose no sangue. Além disso, exames oftalmológicos regulares são essenciais para detectar complicações oculares decorrentes do diabetes e permitir o início dos tratamentos o mais cedo possível, quando as chances de controlar a doença são maiores. Retinopatia diabética não proliferativa Características: A retinopatia diabética não proliferativa é o estágio menos avançado da doença. Nesta fase, podem ser encontrados microaneurismas (pequenas dilatações vasculares), hemorragias e vasos sanguíneos obstruídos, fazendo com que diversas áreas da retina fiquem sem suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes (conhecido como isquemia). Estas áreas isquêmicas da retina podem então estimular a formação de novos vasos sanguíneos.1,2,4 Se a mácula (pequena área no centro da retina responsável pela visão central) não for afetada, este estágio da retinopatia diabética pode não apresentar sintomas ou perda da visão. No entanto, quando o edema macular (inchaço da retina) provocado pelo acúmulo de fluído na mácula estiver presente, a visão pode parecer turva e o risco de perda visual ou cegueira aumenta significativamente.3,4 Retinopatia diabética proliferativa Características: A retinopatia diabética proliferativa é a fase mais avançada da doença, caracterizada pelo aparecimento de novos vasos sanguíneos (também conhecidos como neovasos) na superfície da retina. A principal causa da formação de neovasos é a oclusão dos vasos sanguíneos da retina, chamada isquemia, com impedimento do fluxo sanguíneo adequado.1-3 Os neovasos são frágeis e crescem ao longo da retina sem causar qualquer sintoma ou perda de visão. No entanto, podem romper e liberar sangue, provocando perda de visão grave e até mesmo cegueira.3 Frequentemente, os neovasos são acompanhados de uma espécie de cicatriz (tecido cicatricial), cuja contração pode levar a outra grave complicação chamada de descolamento da retina.4 Entre as razões para a perda de visão na retinopatia diabética proliferativa estão complicações como hemorragia vítrea, descolamento de retina e glaucoma neovascular.2,4 Além dessas complicações, cerca de metade das pessoas com retinopatia proliferativa também desenvolve o edema macular diabético. O edema macular diabético é causado por acúmulo de líquido na zona mais “nobre” da retina, a mácula, e é a principal causa de cegueira nas pessoas com diabetes e idade economicamente ativa.1-3 Objetivo 5- Como a hipertensão afeta a visão? Problemas na retina causados pela hipertensão surgem de forma abrupta “A hipertensão descontrolada gera dilatações e obstruções dos micro vasos da retina, órgão responsável pela visão. Alterações iniciais destes vasos podem ser detectadas em um simples exame de fundo de olho no consultório e informam se a hipertensão está bem controlada ou não”, afirma a cardiologista Ana Catarina de Medeiros Periotto. Caso o problema não seja tratado adequadamente, o paciente pode até mesmo ficar cego. “Quando um vaso da retina se rompe, pode haver cegueira parcial ou total, dependendo da extensão do sangramento, que acontece dentro do olho e cujo único sintoma é a cegueira que se instala de repente”, alerta a médica. A perda de sangue na parte branca do olho, chamada de esclera, não é causada pela doença. O tratamento correto da hipertensão é a principal forma de prevenção. Ao notar alterações na visão, é importante consultar um oftalmologista para uma avaliação da retina e para observar se o paciente tem outras doenças, como glaucoma e diabetes, que podem igualmente afetar a visão de forma súbita. A profissional explica que não existem vitaminas ou exercícios capazes de fortalecer os vasos sanguíneos da retina, tornando o tratamento da hipertensão a única forma de prevenir complicações nos olhos. Além de manter a pressão sempre abaixo de 140x90mmHg, a médica recomenda comer alimentos mais naturais e frescos. “Observamos que as pessoas vegetarianas e que praticam atividades físicas tendem a ter uma saúde mais preservada em todas as áreas”. Caso a doença esteja instalada, o uso da medicação também é fundamental para manter a pressão arterial sob controle. Objetivo 6- Qual a importância da visão para o bem estar biopsicossocial ? Objetivo 7- De que forma a legislação apoia e quais os serviços oferecidos aos portadores de deficiência visual?
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