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Fronteiras da globalização 1 (ALUNO)

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1
FRONTEIRAS da Globalização 1
O mundo natural e o espaço humanizado
Lúcia Marina Alves de Almeida
Bacharela e licenciada em Geografia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento, da PUC-SP
Professora de Geografia no Ensino Fundamental e no Ensino Médio das redes pública e particular do estado de São Paulo
Tércio Barbosa Rigolin
Bacharel e licenciado em História pela USP
Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Unesp, campus de Araraquara
Professor de Geografia no Ensino Fundamental e no Ensino Médio das redes pública e particular do estado de São Paulo
Geografia
Ensino Médio
3ª edição
São Paulo, 2016
2
Diretoria editorial
Lidiane Vivaldini Olo
Gerência editorial
Luiz Tonolli
Editoria de Ciências Humanas
Heloisa Pimentel
Edição
Francisca Edilania de Brito Rodrigues
Gerência de produção editorial
Ricardo de Gan Braga
Arte
Andréa Dellamagna (coord. de criação), Adilson Casarotti (progr. visual de capa e miolo), Claudio Faustino (coord. e edição) e Arte Ação (diagram.)
Revisão
Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Rosângela Muricy (coord.), Ana Paula Chabaribery Malfa, Célia da Silva Carvalho, Paula Teixeira de Jesus e Patrícia Travanca; Brenda Morais e Gabriela Miragaia (estagiárias)
Iconografia
Sílvio Kligin (superv.), Denise Durand Kremer (coord.), Ana Vidotti (pesquisa), Cesar Wolf e Fernanda Crevin (tratamento de imagem)
Ilustrações
Luis Moura, Alex Argozino, Ingeborg Asbach
Cartografia
Eric Fuzii, Julio Dian, Márcio Souza, Portal de Mapas, Allmaps e Juliana Albuquerque
Foto da capa: Hora do rush em Berlim (Alemanha). Matthias Makarinus/Getty Images
Protótipos
Magali Prado
Direitos desta edição cedidos à Editora Ática S.A.
Avenida das Nações Unidas, 7221, 3º andar, Setor A
Pinheiros - São Paulo - SP - CEP 05425-902
Tel.: 40 03-30 61
www.atica.com.br / editora@atica.com.br
2016
ISBN 978850817973 2 (AL)
ISBN 978850817974 9 (PR)
Cód. da obra CL 713364
CAE 566161 (AL) / 566 162 (PR)
3ª edição
1ª impressão
Impressão e acabamento
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Almeida, Lúcia Marina Alves de
Fronteiras da globalização / Lúcia Marina Alves de Almeida, Tércio Barbosa Rigolin. -- 3ª ed. -- São Paulo: Ática, 2016.
Obra em 3 v.
Conteúdo: v. 1. O mundo natural e o espaço humanizado. -- v. 2. O espaço geográfico globalizado -- v. 3. O espaço brasileiro: natureza e trabalho.
Bibliografia.
1. Geografia (Ensino Médio). I. Rigolin, Tércio Barbosa. II. Título.
16-02164
CDD-910.712
Índices para catálogo sistemático:
1. Geografia: Ensino médio. 910.712
3
Apresentação
A Geografia assumiu um papel muito importante nesta época em que as informações são transmitidas pelos meios de comunicação com muita rapidez e em grande volume. É impossível acompanhar e entender as mudanças e os fatos ou fenômenos que ocorrem no mundo sem ter conhecimentos geográficos.
É no espaço geográfico - conceito fundamental da Geografia - que se dão as manifestações da natureza e as atividades humanas. Compreender a organização e as transformações ocorridas nesse espaço é essencial para a formação do cidadão consciente e crítico dos problemas do mundo em que vive. O papel do professor de Geografia, nesse caso, é pensar no aluno como agente atuante e modificador do espaço geográfico, formado dentro de uma proposta educacional que requer responsabilidade de todos, visando construir um mundo mais ético e menos desigual.
Organizamos uma obra com os conteúdos integrados, na qual estão intimamente relacionados o físico e o humano, o local e o global. Procuramos propor atividades que privilegiam a reflexão, a atualidade das informações e a construção da cidadania. Acreditando que a busca do conhecimento é um processo único e que a Geografia faz parte desse processo, incluímos atividades interdisciplinares em todos os volumes.
Os dois primeiros volumes da coleção abordam os contrastes que marcam o espaço geográfico: naturais, políticos, humanos, tecnológicos, econômicos e supranacionais. Com isso pretendemos mostrar que, mesmo em um mundo globalizado, encontramos inúmeras contradições e desigualdades. O terceiro volume apresenta um retrato do Brasil, país vasto e com paisagens muito variadas.
Agora é com você. Descubra uma nova forma de estudar Geografia e prepare-se para contribuir para a construção de uma sociedade mais tolerante, mais humana e mais solidária.
Os autores
4
Conheça seu livro
A obra
Antes de dar início aos seus estudos, veja aqui como o seu livro está estruturado.
Abertura de Unidade
Em todas as aberturas de Unidade, uma imagem e um texto introduzem os principais assuntos que serão abordados.
Abertura de capítulo
Cada capítulo tem início com imagem pertinente ao tema tratado.
Ao longo do texto principal há seções que vão dar dinamismo ao seu estudo. Em muitas delas, você encontra textos de outros autores e gêneros (poesias, letras de música, artigos de jornais, revistas e internet, pesquisas e textos opinativos de estudiosos da Geografia).
Leitura e reflexão
Nesta seção você vai encontrar textos que exigem uma leitura atenta e atividades que estimulam a reflexão sobre o tema.
Contexto e aplicação
Aqui você tem acesso a textos e atividades que o convidam a relacionar o assunto estudado ao seu cotidiano.
5
Pesquise e reflita
Nesta seção há sugestões de temas para pesquisa e questões de reflexão sobre o assunto estudado.
Ampliando o conhecimento
Aqui são apresentados textos que aprofundam e complementam um determinado assunto.
Outra visão
Esta seção apresenta textos que trazem uma opinião diferente sobre o tema estudado, favorecendo a análise imparcial.
Diálogos
Nesta seção você encontra conteúdos que são objeto de estudo de outras disciplinas, principalmente das Ciências Humanas - História, Sociologia e Filosofia -, e aprende como eles dialogam com a Geografia.
Ao final dos capítulos e das Unidades as seções de encerramento sintetizam os assuntos estudados.
Refletindo sobre o conteúdo
Encerrando o capítulo, esta seção propõe um conjunto de questões para análise, reflexão e interpretação dos assuntos estudados.
Concluindo a Unidade
No fim das Unidades, há uma série de testes e questões do Enem e de vestibulares para ajudar você a se preparar para o ingresso no Ensino Superior.
Este ícone indica que a atividade proposta é interdisciplinar, isto é, envolve conhecimentos de outras disciplinas.
6
Sumário
UNIDADE 1. ESPAÇO GEOGRÁFICO: LOCALIZAÇÃO E TEMPO, p. 9
CAPÍTULO 1. Um espaço de lugares e paisagens, p. 10
Espaço geográfico: objeto de estudo da Geografia, p. 10
Lugar: a nossa geografia, p. 11
Sistemas e redes, p. 11
Paisagem: o espaço que nossa vista alcança, p. 13
Diálogos - Paisagem cultural e seus elementos, p. 14
Espaço, paisagem e tempo, p. 16
Refletindo sobre o conteúdo, p. 20
CAPÍTULO 2. A localização no espaço geográfico, p. 21
As direções no espaço geográfico, p. 21
Coordenadas geográficas: importância e aplicação, p. 22
Diálogos - A descoberta da longitude, p. 26
Refletindo sobre o conteúdo, p. 28
FONTE: Fernando Araújo/Futura Press
CAPÍTULO 3. A medida do tempo no espaço geográfico, p. 29
O movimento de rotação, os dias e as noites, p. 30
O movimento de translação e as estações do ano, p. 34
Refletindo sobre o conteúdo, p. 36
CONCLUINDO A UNIDADE 1, p. 37
Testes e questões, p. 37
Outras fontes de reflexão e pesquisa, p. 41
UNIDADE 2. REPRESENTANDO O ESPAÇO GEOGRÁFICO, p. 43
CAPÍTULO 4. Representação do espaço geográfico: a construção de mapas, p. 44
Cartografia e tecnologia, p. 44
A construção de mapas, p. 49
Refletindo sobre o conteúdo, p. 54
CAPÍTULO 5. Linguagem cartográfica e leitura de mapas, p. 55
Tipos de mapas ou cartas, p. 55
A linguagem dos mapas, p. 59
Refletindo sobre o conteúdo, p. 62
CONCLUINDO A UNIDADE 2, p. 63
Testes e questões, p. 64
Outras fontes de reflexão e pesquisa, p. 69
UNIDADE 3. LITOSFERA E RELEVO TERRESTRE, p. 70
CAPÍTULO 6. Litosfera: evolução geológica da Terra, p. 71
As esferas da Terra, p. 71
O tempo geológico conta a história da Terra, p. 72
Origem, formação e camadas da Terra, p. 74
A origem dos continentes, p.75
Refletindo sobre o conteúdo, p. 83
CAPÍTULO 7. A Terra: estrutura geológica e formas de relevo, p. 84
A constituição da crosta terrestre, p. 84
O relevo terrestre, p. 88
Refletindo sobre o conteúdo, p. 90
7
FONTE: Gilles Adt/Reuters/Latinstock
CAPÍTULO 8. Agentes formadores e modeladores do relevo terrestre, p. 91
A dinâmica interna da Terra, p. 91
A dinâmica externa da Terra, p. 98
Refletindo sobre o conteúdo, p. 104
CAPÍTULO 9. Erosão e contaminação dos solos, p. 105
Solo: resultado do intemperismo, p. 105
A erosão dos solos, p. 107
A contaminação dos solos pelo lixo, p. 113
Refletindo sobre o conteúdo, p. 116
CONCLUINDO A UNIDADE 3, p. 117
Testes e questões, p. 118
Outras fontes de reflexão e pesquisa, p. 123
UNIDADE 4. A ATMOSFERA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS, p. 125
CAPÍTULO 10. O tempo meteorológico e os elementos do clima, p. 126
A atmosfera e os fenômenos meteorológicos, p. 126
Refletindo sobre o conteúdo, p. 134
CAPÍTULO 11. Fatores do clima e tipos climáticos, p. 135
Fatores que modificam o clima, p. 135
Principais tipos de clima do mundo, p. 137
Refletindo sobre o conteúdo, p. 142
CAPÍTULO 12. A poluição do ar atmosférico e as mudanças climáticas, p. 143
A poluição do ar e os impactos ambientais, p. 143
Fenômenos naturais e novos padrões climáticos, p. 150
Refletindo sobre o conteúdo, p. 153
CONCLUINDO A UNIDADE 4, p. 154
Testes e questões, p. 155
Outras fontes de reflexão e pesquisa, p. 160
UNIDADE 5. HIDROSFERA E BIOSFERA, p. 161
CAPÍTULO 13. Hidrosfera: o planeta pede água, p. 162
Um recurso esgotável, p. 162
A hidrosfera e a hidrografia, p. 162
Poluição e desperdício das águas continentais, p. 165
As águas subterrâneas e sua poluição, p. 166
Oceanos e mares e sua poluição, p. 168
Conflitos pela água, p. 169
Refletindo sobre o conteúdo, p. 171
CAPÍTULO 14. Biosfera: a esfera da vida, p. 172
A biosfera e o ser humano, p. 172
Os grandes biomas do mundo, p. 172
Refletindo sobre o conteúdo, p. 182
CONCLUINDO A UNIDADE 5, p. 183
Testes e questões, p. 184
Outras fontes de reflexão e pesquisa, p. 188
UNIDADE 6. A POPULAÇÃO MUNDIAL E A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO, p. 189
CAPÍTULO 15. A população da terra, p. 190
Crescimento demográfico ou populacional, p. 190
Estrutura da população mundial, p. 194
Distribuição da população mundial, p. 198
Diversidades culturais da população mundial, p. 200
Refletindo sobre o conteúdo, p. 201
8
FONTE: Thomas Coex/Agência France-Presse
CAPÍTULO 16. Migrações: diversidade e desigualdade, p. 202
Movimentos migratórios, p. 202
Diálogos - Rota do Mediterrâneo Ocidental, p. 208
Refletindo sobre o conteúdo, p. 212
CAPÍTULO 17. A urbanização mundial, p. 214
O fenômeno urbano, p. 214
Refletindo sobre o conteúdo, p. 222
CAPÍTULO 18. Desenvolvimento sustentável: um desafio global, p. 223
O mundo acorda para os problemas ambientais, p. 223
Refletindo sobre o conteúdo, p. 233
CONCLUINDO A UNIDADE 6, p. 234
Testes e questões, p. 235
Outras fontes de reflexão e pesquisa, p. 240
UNIDADE 7. POPULAÇÃO E TERRITÓRIO: O ESTADO-NAÇÃO, p. 241
CAPÍTULO 19. O Estado-Nação: fronteiras, território e territorialidade, p. 242
País, Estado-Nação e nação, p. 242
Território, territorialidade e soberania, p. 243
Onde termina um país e começa outro?, p. 245
As redes e as escalas geográficas, p. 250
As relações entre os países, p. 251
Diálogos - Além do butim, p. 252
Refletindo sobre o conteúdo, p. 254
CAPÍTULO 20. Um mundo em conflito, p. 255
Conflitos do século XXI - áreas de tensão, p. 255
Agravantes nas áreas de tensão, p. 256
Áreas de tensão pelo mundo, p. 259
Refletindo sobre o conteúdo, p. 267
CAPÍTULO 21. Oriente Médio: rica região sem paz, p. 268
O território: posição estratégica e petróleo, p. 268
Fundamentalismo e extremismo, p. 270
Região de conflitos, p. 272
Refletindo sobre o conteúdo, p. 278
CONCLUINDO A UNIDADE 7, p. 279
Testes e questões, p. 280
Outras fontes de reflexão e pesquisa, p. 284
SIGNIFICADO DAS SIGLAS, p. 286
BIBLIOGRAFIA, p. 287
FONTE: Andrzej Kubik/Shutterstock
9
unidade 1. Espaço geográfico: localização e tempo
LEGENDA: Vista aérea de plantação de tulipas em Lelystad, província de Flevolândia, nos Países Baixos, construída sobre um terreno artificial. Foto de 2014.
FONTE: Frans Lemmens/Alamy/Latinstock
Nesta Unidade, você vai conhecer o principal conceito da ciência geográfica - o espaço geográfico -, compreendido como resultado das modificações realizadas nos elementos naturais pelo trabalho humano através do tempo histórico. Um espaço formado por lugares localizáveis, que tem como expressão visível a paisagem.
10
capítulo 1. Um espaço de lugares e paisagens
LEGENDA: Vista de rua na cidade histórica de Penedo (AL), em 2015. Um dos primeiros lugares com os quais nos familiarizamos é a rua onde moramos, como a que podemos ver nesta imagem.
FONTE: Rubens Chaves/Pulsar Imagens
Espaço geográfico: objeto de estudo da Geografia
O conceito de espaço geográfico é complexo e abrangente. Entre as definições possíveis, podemos considerar espaço geográfico a combinação entre elementos naturais e construídos pelo ser humano (fixos) e as pessoas, mercadorias, finanças e informações (fluxos).
O espaço geográfico pode ser definido como resultado das relações econômicas, políticas e culturais, e tem como ator principal o ser humano. Assim, a Geografia dedica-se ao estudo dessas relações e de seu papel na construção e transformação do espaço.
Segundo o geógrafo Jacques Levy (1935-2004), a distância é o elemento central do espaço geográfico. É preciso que fique claro que a distância aqui mencionada não é a física - aquela medida por algum instrumento -, mas sim uma dimensão ampliada, em que ocorrem as relações estabelecidas entre os grupos sociais. Dependendo da maior ou menor capacidade desses grupos sociais em percorrer ou diminuir as distâncias entre seus indivíduos e outras coletividades, mais ou menos complexas vão ser as interações entre esses grupos. Daí a grande importância dos meios de comunicação modernos e atualizados.
O conhecimento da organização do espaço geográfico é fundamental para a compreensão do mundo de hoje, pois suas várias etapas e transformações explicam os atuais sistemas econômicos, sociais e culturais.
11
Para compreender como o espaço geográfico é construído e como ele se transforma, partimos da análise da paisagem e do lugar, que expressam espacialmente essas relações em diferentes arranjos.
Lugar: a nossa geografia
O conceito de lugar está relacionado aos espaços que nos são familiares e que fazem parte do nosso cotidiano. Quando falamos em lugar, pensamos em referenciais afetivos que desenvolvemos ao longo de nossa vida, os quais são carregados de emoções e que nos dão a sensação de segurança, de pertencimento, de identidade.
Durante a vida, podemos mudar de lugar várias vezes. Cada mudança exige que passemos por um processo de adaptação, sem, no entanto, perder nossa identidade, que está ligada ao nosso lugar de origem.
Ao recordar passagens de nossa vida, é natural evocar os lugares que fizeram parte dela: a casa onde nascemos, a rua onde brincávamos na infância, a primeira cidade para onde viajamos em férias, etc. A princípio, nos familiarizamos com a nossa casa, e, mais tarde, passamos a explorar outros lugares, como a rua onde moramos, o caminho para a escola, para o centro da cidade, para cidades próximas ou mais distantes. Dessa maneira vamos construindo a nossa própria "geografia".
É por meio dessa geografia dos lugares, do cotidiano, que começamos a estabelecer relações entre os lugares. Isso significa que o conhecimento geográfico não é exclusivo de geógrafos, cientistas e técnicos de planejamento; ele envolve conhecimentos e impressões que vamos construindo e adquirindo à medida que nos relacionamos com os lugares que compõem o espaço que nos rodeia. Não é difícil observar que, embora os lugares apresentem características próprias que os tornam singulares, eles estão também interligados e se relacionam entre si em diversos níveis (local, regional, nacional, global).
O lugar onde vivemos não é uma realidade isolada. Ele faz parte de um conjuntode lugares, marcados por diferentes aspectos naturais e sociais, que passaram por vários processos históricos e que fazem parte de uma realidade mais ampla.
Sistemas e redes
As relações entre os diferentes lugares do espaço geográfico acontecem por meio de sistemas que permitem a transformação e evolução desses lugares, como os sistemas urbanos, rurais, econômicos, políticos, ecológicos, climáticos, entre outros.
De um lugar para outro há uma constante troca de produtos, matérias-primas, energia, capitais e também uma intensa movimentação de pessoas. Chamamos esse fluxo de redes, pois ele permite a circulação contínua entre os diversos lugares do espaço geográfico.
As redes se cruzam em pontos, geralmente cidades influentes que participam ativamente da organização do território. Dependem basicamente de infraestrutura eficiente em transportes e comunicação: ferrovias, rodovias, aerovias, hidrovias, infovias (linhas telefônicas e internet), oleodutos, gasodutos, etc. Quanto mais desenvolvida tecnologicamente é a sociedade, mais complexas são as redes.
LEGENDA: Uma praça onde costumávamos brincar ou uma rua onde moramos pode ser um dos primeiros lugares com os quais nos familiarizamos. Na foto, crianças brincando em praça em Areado (MG), em 2015.
FONTE: João Prudente/Pulsar Imagens
12
Boxe complementar:
Leitura e reflexão
Atividade interdisciplinar: Geografia e Língua Portuguesa.
Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres
e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 68.
O poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu e passou parte de sua infância em Itabira, Minas Gerais. Nesse poema ele fala de Itabira e da influência que essa cidade exerceu sobre ele.
- Agora que você já leu o poema, faça o que se pede.
1. Identifique o verso que indica a origem do autor do poema, considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX.
2. Qual é o principal recurso natural encontrado na cidade do poeta?
3. Reproduza o verso em que o autor cita esse importante recurso natural e no que ele será transformado.
4. Agora pense nas suas próprias experiências e responda:
- Onde você nasceu?
- Em que lugar você passou a infância?
- Descreva as principais características desse lugar.
- Relate uma experiência vivida nesse lugar.
- Em que lugar você vive hoje? De que maneira ele se relaciona com outros lugares?
LEGENDA: Cidade de Itabira (MG), vista do pico do Amor. Pode-se ver o pico do Cauê ao fundo, à direita. Foto de 2014.
FONTE: João Prudente/Pulsar Imagens
Fim do complemento.
13
Paisagem: o espaço que nossa vista alcança
Se estivermos viajando de avião, a uma altitude não muito elevada, teremos ampla visão da porção do espaço que estamos sobrevoando. Em uma região bastante transformada pela ação humana, poderemos perceber, entre outras coisas, campos cultivados, pastagens, cidades grandes, médias ou pequenas, interligadas por uma rede de rodovias e ferrovias.
O conjunto de elementos que podemos observar nesse voo hipotético e todos os outros arranjos heterogêneos que observamos diariamente fazem parte do que chamamos paisagem.
Assim como o conceito de lugar, o conceito de paisagem também é bastante complexo. Paisagem pode ser considerada um conjunto de formas que, em determinado momento, revelam as relações entre o homem e a natureza em diferentes épocas.
O geógrafo Mílton Santos afirma:
Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima.
A palavra paisagem é frequentemente utilizada em vez da expressão configuração territorial. Esta é o conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma área. A rigor, paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão.
Podemos identificar nas paisagens todos os elementos que fazem parte do espaço em interação:
- Elementos naturais: relevo, clima, vegetação, rios, oceanos.
- Elementos culturais: plantações, cidades, estradas, indústrias e muitas outras realizações da sociedade.
Observe a paisagem abaixo e a que aparece na página 16. Nelas é possível descrever não só os principais elementos naturais e culturais que as constituem; mais ainda, é possível identificar, analisando os diversos arranjos existentes entre esses elementos, as relações econômicas, sociais e culturais expressas por eles em diferentes momentos.
Saber interpretar os processos naturais, sociais e econômicos que moldam as feições de uma paisagem é o verdadeiro objetivo do estudo da Geografia. Essa interpretação pode ser feita por meio de observação local, fotos, mapas, fotografias aéreas ou imagens de satélites, como veremos no Capítulo 4.
LEGENDA: Vista da Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC), em 2014. Na foto, podemos reconhecer elementos naturais (lagoa, vegetação) e elementos culturais (construções, ruas) da paisagem.
FONTE: Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens
14
Diálogos
Atividade interdisciplinar: Geografia, Sociologia e História.
Paisagem cultural e seus elementos
Os elementos culturais da paisagem são o resultado do trabalho humano no espaço natural ao longo do tempo. Esses elementos são estudados também por outras disciplinas, que, com a Geografia, fazem parte das Ciências Humanas. São elas a História, a Sociologia e a Filosofia. A História da Arte e da Literatura também são aspectos importantes nesse conhecimento.
Em 1992, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com sede em Paris, na França, criou um novo conceito de Patrimônio Mundial como forma de reconhecimento dos bens culturais: o Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural.
LEGENDA: Pintura rupestre representando um humano e um felino, encontrada na Toca do Caldeirão dos Canoas, no Parque Nacional da Capivara (PI). Foto de 2015.
FONTE: Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo
LEGENDA: O frevo é uma dança típica do folclore brasileiro. Na foto, dançarinos se divertem na cidade de Olinda (PE). Foto de 2015.
FONTE: Hans von Manteuffel/Opção Brasil Imagens
LEGENDA: Vista do centro histórico da cidade de Ouro Preto (MG), Patrimônio Cultural da Humanidade, com destaque para a Igreja do Carmo e o Museu da Inconfidência. Foto de 2015.
FONTE: Rubens Chaves/Pulsar Imagens
15
A paisagem cultural brasileira
O Brasil possui belezas naturais incomparáveis e uma diversidade cultural única. Promover a proteção desse riquíssimo patrimônio é dever de todos os brasileiros.
Desde 1937, o responsável oficial pela proteção e pela valorização do patrimônio no Brasil é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Atualmente, esse instituto regulamenta cerca de cem cidades históricas protegidas, mais de mil bens tombados individualmente, 15 mil sítios arqueológicos cadastrados e quinze manifestações culturais consideradas patrimônio imaterial.
Segundo o Iphan, Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar do território nacional, representativa da interação da humanidade com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. São exemplos de paisagens culturais as relações entre o sertanejo e a Caatinga, o candangoe o Cerrado, o boiadeiro e o Pantanal, o gaúcho e os Pampas, o pescador e os contextos navais tradicionais e o seringueiro e a Amazônia. Como esses, outros tantos personagens e lugares formam o "painel" das riquezas culturais brasileiras, destacando a relação exemplar entre o ser humano e a natureza.
Para que determinada paisagem cultural ou manifestação imaterial seja protegida pelo Iphan, é preciso que seja reconhecida como tal ou que tenha a chancela do instituto.
Qualquer cidadão brasileiro pode requerer a chancela de uma Paisagem Cultural ou manifestação cultural.
Texto elaborado com base em dados disponíveis em: http://portal.iphan.gov.br/. Acesso em: mar. 2015.
Glossário:
Chancela: selo ou sinal gravado usado para validar um documento.
Fim do glossário.
LEGENDA: A pesca artesanal, visando ao sustento das pessoas, ainda é muito praticada no Brasil. Na foto, pescador lança sua rede na praia da Armação, em Florianópolis (SC), em 2015.
FONTE: Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens
LEGENDA: Vaqueiros, figuras típicas do Sertão nordestino, cavalgando em estrada em Serrita (PE), em 2015.
FONTE: Cândido Neto/Opção Brasil Imagens
LEGENDA: Seringueiro colhendo o látex para a fabricação da borracha, em Neves Paulista (SP), em 2014.
FONTE: Thomaz Vita Neto/Pulsar Imagens
Ícone: Não escreva no livro.
- Em novembro de 2014, a Unesco conferiu à Roda de Capoeira o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
- Caracterize essa forma de arte. Pesquise suas raízes e explique por que ela foi considerada clandestina durante o período inicial de sua manifestação no Brasil.
16
Espaço, paisagem e tempo
A intervenção das sociedades humanas no espaço, intensificada pela evolução do desenvolvimento tecnológico, vem transformando as paisagens terrestres. Além da ação humana, a natureza também atua modificando as paisagens por meio de fenômenos como o vulcanismo, o tectonismo, a ação das águas, dos ventos, entre outros.
As paisagens revelam os variados graus de intervenção humana em diferentes épocas. Ao observar uma paisagem, é possível reconhecer o trabalho humano impresso em tempos passados e no tempo atual.
Para explicar as transformações das paisagens, o geógrafo pode utilizar diferentes escalas de tempo:
- O tempo histórico, que é contado em séculos e assinala fatos históricos marcantes, como o fim e o início de grandes civilizações, as Grandes Navegações (séculos XV e XVI), a Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX).
- O tempo cíclico, que marca a ocorrência de um fenômeno que se repete em ciclos, ou seja, em intervalos de duração variável. Podemos citar, por exemplo, eventos sociais, como a migração de trabalhadores rurais do Agreste para a Zona da Mata nordestina, nos períodos de safra; e eventos naturais, como terremotos, erupções vulcânicas e o El Niño.
Glossário:
El Niño: fenômeno de aquecimento das águas do oceano Pacífico que se manifesta no litoral do Peru.
Fim do glossário.
- O tempo geológico, calculado em eras e períodos. Marca acontecimentos de duração muito longa, como a história da formação da Terra e dos continentes.
LEGENDA: Centro da cidade do Recife (PE), em 2014. Na foto, podemos notar os contrastes criados pelo tempo: antigos casarões de séculos passados e modernos edifícios com muitos andares.
FONTE: Veetmano Prem/Fotoarena
Em geral, as transformações realizadas pelo ser humano nas paisagens são identificadas por meio de ações associadas aos tempos cíclico e histórico. Podemos perceber as modificações causadas pela ação humana na paisagem de um lugar do espaço geográfico observando os contrastes criados pelo tempo, como mostra a foto acima.
As mudanças causadas pela natureza podem ser marcadas pelo tempo cíclico ou pelo tempo geológico.
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A formação de uma cadeia de montanhas ou a evolução de uma bacia hidrográfica, por exemplo, podem ser explicadas pela história da formação da Terra, medida pelo tempo geológico (veja a imagem abaixo).
LEGENDA: Cânion do Itaimbezinho, no Parque Nacional de Aparados da Serra, em Cambará do Sul (RS), em 2015. Um cânion é o resultado da ação de forças da natureza durante a história geológica da Terra.
FONTE: Zé Paiva/Pulsar Imagens
Algumas forças da natureza alteram muito rapidamente o espaço geográfico e, por isso, são marcadas pelo tempo cíclico. Entre elas, podemos citar as erupções vulcânicas, os furacões, os terremotos e os maremotos. Por meio da observação de fotos do local atingido antes e depois de uma ocorrência, podemos perceber as modificações causadas na paisagem pelas forças da natureza.
Observe um exemplo disso nas imagens de satélite a seguir. Depois, leia o boxe da página 18.
LEGENDA: Imagem de satélite da cidade de Tacloban, nas Filipinas, em 2012.
FONTE: DigitalGlobe/Getty Images
LEGENDA: Imagem de satélite da cidade de Tacloban, nas Filipinas, em 2013, depois da passagem do tufão Haiyan.
FONTE: DigitalGlobe/Getty Images
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Boxe complementar:
Contexto e aplicação
Ícone: Não escreva no livro.
Tufão mais forte do ano atinge as Filipinas
MANILA, Filipinas - O tufão Haiyan, o mais forte em duas décadas nas Filipinas, atingiu nesta sexta-feira as ilhas centrais do país deixando ao menos três mortos e obrigando a retirada de 720 mil pessoas de suas casas. Haiyan registrou ventos de 315 quilômetros por hora, e já há previsões que o apontam como a tempestade mais violenta já registrada na História.
Autoridades disseram que o tufão tinha ventos de 275 km/h quando tocou a terra no povoado de Guiuan, na província de Samar do Leste. Pouco antes, o Centro Conjunto de Advertência de Tufões da Marinha dos Estados Unidos no Havaí informou que os ventos máximos da tempestade eram de 314 km/h, com rajadas de até 379 km/h.
O tufão de categoria cinco provocou ondas gigantes de 4 a 5 metros de altura que atingiram as ilhas de Leyte e Samar, e estava a caminho de destinos turísticos.
[...]
O GLOBO, 8 nov. 2013. Disponível em: http://oglobo.globo.com/mundo/tufao-mais-forte-do-ano-atinge-as-filipinas-10720605. Acesso em: 15 set. 2015.
- Com base no texto e no mapa abaixo, responda.
1. Qual é o tipo de transformação sofrida pelo espaço geográfico?
2. Qual é o tempo considerado para estudar essa transformação? Justifique sua resposta.
FONTE: (mapa) Adaptado de: FOLHA DE S.PAULO. São Paulo, 5 nov. 2013. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora. 
FONTE: (tabela) Adaptado de: FOLHA DE S.PAULO. São Paulo, 5 nov. 2013.
Fim do complemento.
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Boxe complementar:
Outra visão
O meio técnico-científico-informacional
Uma palavra relativamente abandonada do vocabulário da Geografia volta agora a ter evidência. Referimo-nos ao vocábulo "meio". Com os progressos alcançados no conhecimento das galáxias, a palavra "espaço" passou a ser utilizada com maior ênfase para designar espaço sideral interplanetário. Também nessa fase da pós-modernidade, a mesma palavra "espaço" ganhou um uso crescentemente metafórico em diversas disciplinas.
O meio resulta de uma adaptação sucessiva da superfície da Terra às necessidades dos homens. Nos primórdios da História registravam-se alterações isoladas, ao sabor das civilizações emergentes, até o processo de internacionalização criar em diversos lugares feições semelhantes. Agora, existe uma tendência à generalização à escala mundial dos mesmos objetos geográficos e das mesmas paisagens.
A globalização leva à afirmação de um novo meio geográfico cuja produção é deliberada e que é tanto mais produtivo quanto maior for o seu conteúdo em ciência, tecnologia e informação. Esse meio técnico-científico-informacional dá-se em muitos lugares (Europa, Estados Unidos, Japão, parte da América Latina) de forma extensa e contínua, enquanto em outros (África, Ásia, parte da América Latina) apenas pode se manifestar como manchas ou pontos. Cria-se, desse modo, uma oposição entre espaços adaptados às exigências das ações econômicas, políticas e culturais características da globalização e outras áreas não dotadas dessas virtualidades, formando o que, imaginativamente, podemos chamar de espaços luminosos e espaços opacos.
No caso do Brasil, o velho contrasteentre o país costeiro e o país interior e a mais recente oposição entre centro e periferia cedem lugar a uma nova oposição: de um lado, esse meio técnico-científico-informacional, espaço do artifício, formado, sobretudo, pelo Sul e pelo Sudeste; do outro, o restante do território nacional.
SANTOS, Mílton. Entenda sua época. Folha de S.Paulo, São Paulo, 13 abr. 1997. p. 5-9. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs130419.htm. Acesso em: 15 set. 2015.
LEGENDA: Imagem noturna da América do Sul obtida por satélites em 2012.
FONTE: NOAA & Earth Observatory/Nasa
- Agora que você já leu o texto, faça o que se pede.
1. Observe a imagem e determine um espaço luminoso e um espaço opaco no Brasil e na América do Sul.
2. Explique como pode ser definido o "novo meio geográfico", segundo Mílton Santos.
Ícone: Não escreva no livro.
Fim do complemento.
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Refletindo sobre o conteúdo
Ícone: Atividade interdisciplinar.
1. O professor Aziz Ab'Sáber (1924-2012), importante geógrafo brasileiro, descreve no trecho a seguir fatos e lugares de um outro grande escritor brasileiro. Acompanhe.
No livro Infância, de Graciliano Ramos, há alguns fatos interessantes sobre sua saída de Buíque, sertão de Pernambuco, até a zona costeira. O menino Graciliano estava transpondo os aspectos de Pernambuco. Os rios estavam secos e, à medida que caminhava, passava aquele pouquinho de água, um fiozinho, a vegetação começava a ser maior, mais densa, e então as águas ficavam mais caudalosas, mais propriamente rio. De repente, chega a lugares em que não dava mais para pensar nos rios do sertão; era outro mundo...
AB'SÁBER, Aziz N. O que é ser geógrafo: memórias profissionais de Aziz Ab'Sáber em depoimento a Cynara Menezes. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 17-18.
a) Identifique dois lugares citados no texto anterior.
b) Explique uma diferença entre o poema de Carlos Drummond de Andrade, que você leu na página 12, e o texto de Aziz Ab'Sáber.
c) Lendo o trecho que comenta a obra de Graciliano Ramos, a que conclusão podemos chegar?
2. A Geografia, ciência e matéria de ensino, se faz presente na vida de muita gente, seja pela ânsia de conhecer o mundo, pelos desafios postos atualmente pelo meio ambiente e todas as previsões apocalípticas ou sensatas a esse respeito, pelas exigências de planejamento territorial, pelo turismo ou, simplesmente, como tarefas escolares no ensino básico.
CALLAI, Helena C. A formação do profissional da Geografia. Ijuí: Unijuí, 2003. p. 11.
- Cite duas situações recentes em que a Geografia se fez presente em sua vida.
3. Como a Geografia pode contribuir para que possamos compreender melhor a questão ambiental? Exemplifique.
4. Atividade interdisciplinar: Geografia e História. Leia a seguir o trecho de um livro de um professor amazonense.
Foi por meio do Ciclo da Borracha que tivemos a "Fase Áurea de Manaus" (1890-1912), que passa por uma transformação, sendo então denominada de "Paris dos Trópicos", tal era o embelezamento da cidade pelos lucros produzidos pela borracha, onde o Amazonas era o principal produtor. Destaca-se nesse período o serviço de bondes elétricos, eletricidade e água encanada nos palacetes e residências da pequena cidade, os cabarés e cassinos, lojas de produtos importados e obras imponentes como o Teatro Amazonas, considerado ao lado do Colombo [Colón], de Buenos Aires, la Scala, de Milão, e Ópera de Paris, os mais belos e imponentes teatros do mundo...
MIGUEIS, Roberto. Geografia do Amazonas. Manaus: Valer, 2011. p. 72.
a) Identifique dois elementos naturais e dois elementos culturais presentes no texto anterior.
b) Caracterize o Ciclo da Borracha.
c) Consulte um atlas geográfico e explique por meio de um aspecto natural os lucros auferidos por Manaus durante o Ciclo da Borracha.
5. Que elementos compõem o espaço geográfico?
6. Cite fenômenos estudados por outras disciplinas que estão presentes no espaço geográfico.
7. Descreva as paisagens que compõem o lugar onde você vive.
Agora, escolha um local no lugar onde você vive para observar. Pode ser uma praça, um parque, um museu e seu entorno, um bairro característico, etc. Ao escolher esse local, considere os aspectos a seguir.
a) Qual foi o local escolhido? Por que você o escolheu?
b) Descreva com detalhes o local escolhido.
- Esse local é formado por elementos naturais ou culturais? Ou é composto desses dois elementos?
- É perto ou longe da sua moradia?
- É um local bastante visitado? Ou é mais isolado?
- Qual é a localização? (Informe o endereço e os pontos de referência para chegar a esse local.)
c) Pesquise como era esse lugar antigamente. Depois descreva se esse local sofreu modificações na paisagem ao longo do tempo e quais foram essas alterações.
d) Descreva também qual é o estado de conservação desse local (se é limpo e bem-cuidado, se tem boa sinalização, etc.).
e) Na sua opinião, o que poderia ser feito para melhorar as condições desse local?
Sob a orientação do professor, apresente suas observações aos colegas de sala. Converse com eles sobre os aspectos do espaço onde vocês vivem e também sobre o papel que cada um tem na sociedade.
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capítulo 2. A localização no espaço geográfico
LEGENDA: Se você fizer uma trilha na mata e se perder do grupo, poderá achar o caminho de volta orientando-se por uma bússola. Se tiver acesso às novas tecnologias, como um GPS - lembrando que esse equipamento tem a desvantagem de depender do satélite e pode não conseguir a captação do sinal -, será possível obter a localização exata do lugar de onde você partiu ou aonde você quer chegar. Na foto, Parque Nacional do Monte Roraima, com o monte Roraima ao fundo. Município de Uiramutã (RR), em 2014.
FONTE: Andre Dib/Pulsar Imagens
LEGENDA: Bússola
FONTE: Cordelia Molloy/Science Photo Library/Latinstock
LEGENDA: GPS
FONTE: Jana Mänz/Westend61/Corbis/Latinstock
As direções no espaço geográfico
Os instrumentos mencionados na legenda da foto utilizam duas maneiras de orientação e localização no espaço geográfico: os pontos cardeais e as coordenadas geográficas.
Embora o conceito de espaço geográfico envolva elementos concretos e abstratos, para localizar qualquer lugar nesse espaço precisamos trabalhar com algo concreto: um local onde podemos nos mover, levando em conta as direções e a altitude.
Em Geografia, a ideia de direção nos é dada pela orientação, baseada nos pontos cardeais, colaterais e subcolaterais.
As direções indicadas pelos pontos cardeais (leste, oeste, norte, sul) baseiam-se no movimento aparente do Sol, desde o momento que ele desponta ao amanhecer até desaparecer no horizonte.
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Entre os pontos cardeais encontram-se os pontos colaterais e, entre estes, os subcolaterais. Para relembrar, observe a seguir um modelo de rosa dos ventos.
FONTE: Adaptado de: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6ª ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 14. CRÉDITOS: Banco de Imagens/Arquivo da editora
Coordenadas geográficas: importância e aplicação
Desde que o mapa ou a bússola estejam com a direção norte representada corretamente, qualquer ponto da superfície terrestre pode ser localizado com exatidão, com o auxílio das coordenadas geográficas, que se baseiam em linhas imaginárias traçadas sobre a Terra. Essas linhas são os paralelos e os meridianos, que se cruzam formando um sistema de coordenadas geográficas: a latitude, medida nos paralelos, e a longitude, medida nos meridianos.
Veja na página 25 um exemplo de localização de um ponto na superfície terrestre utilizando coordenadas (planisfério "Latitude e longitude").
Ao longo da História, muitos aparelhos foram criados para facilitar o trabalho de localização, como a bússola, o sextante e o astrolábio.
Glossário:
Sextante: aparelho óptico utilizado há mais de duzentos anos para auxiliar na navegação marítima. Permite medir a posição de certas estrelas. Baseado nos valores obtidos, o observador calculava a latitude da sua posição, ou seja, quanto estava ao norte ou ao sul da linha do equador.
Astrolábio: aparelho astronômico, desenvolvido na Antiguidade, utilizado para medir a altura de um astro acima da linha do horizonte.Também era usado para resolver problemas geométricos, como calcular a altura de um edifício ou a profundidade de um poço.
Fim do glossário.
Hoje, porém, existe um sistema de localização muito preciso - o GPS (Global Positioning System ou Sistema de Posicionamento Global) -, que fornece as coordenadas geográficas e a altitude de um ponto a partir de sinais captados por satélites artificiais que giram em torno da Terra. Veja mais detalhes sobre esse assunto no Capítulo 4.
LEGENDA: Rede de satélites usados no Global Positioning System (GPS).
FONTE: ESA/CE/Eurocontrol/SPL/Latinstock
Os paralelos e a latitude
Como sabemos, o principal paralelo, a linha do equador, determina a divisão da Terra em duas partes iguais, o hemisfério norte ou setentrional e o hemisfério sul ou meridional.
A partir da linha do equador, traçamos os demais paralelos. Podemos traçar 90 paralelos no hemisfério norte e 90 no hemisfério sul. Eles são indicados por graus de circunferência, sendo o equador o paralelo inicial, de 0º.
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LEGENDA: Vista do marco zero da linha do equador, em Macapá (AP), em 2015.
FONTE: Paulo O. de Almeida/Futura Press
Além do equador, outros quatro paralelos, como sabemos, têm denominação própria: o círculo polar Ártico e o trópico de Câncer, no hemisfério norte, e o trópico de Capricórnio e o círculo polar Antártico, no hemisfério sul, conforme se pode ver na figura a seguir.
LEGENDA: Paralelos, linhas imaginárias traçadas paralelamente ao equador.
FONTE: Adaptado de: INSTITUTO GEOGRÁFICO MILITAR (IGM). Atlas geográfico para la educación. Santiago (Chile): IGM/Ministerio de Educación Pública, 2014. p. 12. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
A latitude é a distância, medida em graus, de qualquer ponto da superfície terrestre ao equador. Ela é expressa em graus e varia de 0º a 90º para o norte (N) ou para o sul (S). Assim, todos os pontos situados ao norte do equador têm latitude norte e os que ficam ao sul dessa linha têm latitude sul.
LEGENDA: Todos os pontos que se encontram ao longo de um mesmo paralelo têm a mesma latitude, isto é, estão a igual distância do equador.
FONTE: Adaptado de: INSTITUTO GEOGRÁFICO MILITAR (IGM). Atlas geográfico para la educación. Santiago (Chile): IGM/Ministerio de Educación Pública, 2014. p. 11. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
Os meridianos e a longitude
Conhecer apenas a latitude não é suficiente para determinar a localização exata de um ponto na superfície terrestre. Por exemplo, as cidades de São Paulo, no Brasil, e Alice Springs, na Austrália, estão quase à mesma latitude (aproximadamente 23º S), mas em lugares muito distantes entre si. Saber a localização exata dessas duas cidades só é possível com a ajuda dos meridianos e das longitudes.
LEGENDA: Meridianos são linhas imaginárias que cortam perpendicularmente os paralelos e vão de um polo a outro.
FONTE: Adaptado de: INSTITUTO GEOGRÁFICO MILITAR (IGM). Atlas geográfico para la educación. Santiago (Chile): IGM/Ministerio de Educación Pública, 2014. p. 12. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
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LEGENDA: Longitude é a distância, medida em graus, de qualquer lugar da Terra ao meridiano de Greenwich, e varia de 0° a 180° para leste (L) ou para oeste (O).
FONTE: Adaptado de: INSTITUTO GEOGRÁFICO MILITAR (IGM). Atlas geográfico para la educación. Santiago (Chile): IGM/Ministerio de Educación Pública, 2014. p. 11. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
Nenhum meridiano circunda totalmente a esfera terrestre. Na outra face está o meridiano oposto, ou antimeridiano. O meridiano inicial tem longitude 0º e, por convenção internacional, foi adotado como ponto de partida para a numeração dos demais meridianos. É uma linha que passa pelos jardins do Observatório Real Astronômico de Greenwich, um subúrbio londrino (Reino Unido). Daí ser chamado meridiano de Greenwich.
LEGENDA: Linha do meridiano de Greenwich, em Londres, no Reino Unido, em 2014.
FONTE: Alex Segre/Moment Editorial/Getty Images
O meridiano oposto ao de Greenwich é a Linha Internacional de Data e tem longitude 180º. Ambos marcam a divisão da Terra em hemisfério oriental (leste) e hemisfério ocidental (oeste). Todos os infinitos pontos situados à direita do meridiano de Greenwich têm longitude leste e os situados à esquerda têm longitude oeste.
Todos os lugares atravessados por um mesmo meridiano têm a mesma longitude e estão a igual distância do meridiano de 0º.
FONTE: Adaptado de: INSTITUTO GEOGRÁFICO MILITAR (IGM). Atlas geográfico para la educación. Santiago (Chile): IGM/Ministerio de Educación Pública, 2014. p. 11. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
Latitude e longitude - mais aplicações
Latitude e longitude não são importantes apenas para determinar a localização exata de um ponto na superfície terrestre. O clima de determinado lugar depende bastante da latitude, pois esta define a maneira como os raios solares atingem a superfície do planeta. Embora outros fatores, como a altitude e a proximidade do mar, também interfiram para que ocorram as diferenças de temperatura, de modo geral elas diminuem do equador para os polos.
Veja no planisfério a seguir alguns exemplos de localização de cidades determinada por latitude e longitude.
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FONTE: Adaptado de: ATLANTE geografico metodico De Agostini 2014-2015. Novara: Istituto Geografico De Agostini, 2015. p. 12-13; IL MONDO: grande atlante geografico. Novara: Istituto Geografico De Agostini, 1998. p. 287-387. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
Os paralelos delimitam as zonas climáticas ou térmicas da Terra:
- Zona tropical ou intertropical. Localiza-se entre os trópicos de Câncer (23°27' de latitude norte) e de Capricórnio (23°27' de latitude sul). Pelo fato de os raios solares incidirem quase perpendicularmente durante o ano todo, é a zona mais quente da Terra.
- Zonas temperadas. A zona temperada do Norte está localizada entre o trópico de Câncer (23°27' de latitude norte) e o círculo polar Ártico (66°33' de latitude norte); a zona temperada do Sul está localizada entre o trópico de Capricórnio (23°27' de latitude sul) e o círculo polar Antártico (66°33' de latitude sul). São zonas menos quentes do que a zona tropical porque recebem raios solares mais inclinados (oblíquos).
- Zonas polares ou glaciais. Localizam-se ao norte do círculo polar Ártico - 66°33' de latitude norte (zona polar ou glacial Ártica) - e ao sul do círculo polar Antártico - 66°33' de latitude sul (zona polar ou glacial Antártica). Os raios solares atingem essas zonas de modo muito inclinado e somente durante parte do ano, o que as torna as mais frias da Terra.
A longitude é essencial para saber as diferenças de horário de um lugar para outro. Essas diferenças dependem da localização do lugar em relação ao meridiano de Greenwich. Veja mais sobre esse assunto no Capítulo 3.
FONTE: Adaptado de: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6ª ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 18. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
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Diálogos
Atividade interdisciplinar: Geografia e História.
A descoberta da longitude
Numa época como a de hoje, em que é possível saber a localização exata de qualquer ponto do planeta simplesmente acionando o GPS, e viajar ao redor do mundo ficou muito mais acessível, é quase impossível imaginar que muitas das maiores descobertas realizadas pelos grandes navegadores ocorreram quase às escuras, ou seja, sem uma noção precisa da posição da embarcação rumo ao desconhecido.
Desde a Antiguidade, o ser humano tem se lançado ao mar, ao sabor dos ventos e das correntes marinhas. Durante os anos de apogeu das conquistas ibéricas, os navegadores dispunham somente da bússola e do astrolábio. Todas as descobertas marítimas realizadas por Portugal e Espanha nos séculos XV e XVI foram fruto de empreitadas que envolviam enormes riscos e uma dose incrível de ousadia, pois ainda não havia o pleno domínio de técnicas que permitissem definir o local exato em que se encontrava uma embarcação. Apesar dos relatos de diversas viagens bem-sucedidas, são inúmeras as histórias de naufrágios e incidentes trágicosprovocados pela falta de orientação dos navegantes.
A falta de direção
Saber a latitude não era problema. Os círculos que "cortam" o planeta paralelamente à linha do equador, baseados na posição da Terra em relação ao Sol ou à Lua, já eram conhecidos desde a Antiguidade. Estabelecer a longitude sempre foi uma tarefa difícil; afinal, não havia um ponto fixo natural que pudesse servir de referência. Com o crescimento do comércio marítimo entre o Oriente e o Ocidente e a expansão do poder das nações mais adiantadas para além de suas fronteiras, surgiu a necessidade de conhecer rotas seguras. Era, portanto, vital conhecer um método para medir com precisão a longitude.
Guiar-se pelas estrelas era a prática mais utilizada, mas resultava ineficaz durante o dia ou em noites nubladas ou sob nevoeiro. Determinar a longitude passou a ser uma das mais graves questões científicas dos séculos XVII e XVIII, e grandes cientistas, como Galileu Galilei, Cassini e Isaac Newton, dedicaram tempo e talento para solucioná-la. Na época, com a invenção da luneta, havia um fascínio pela observação dos astros celestes, e muitos buscavam nas estrelas as respostas para problemas terrenos. O próprio Galileu deu um importante passo ao descobrir os satélites de Júpiter, cuja trajetória ajudaria a estabelecer um parâmetro para medir a longitude.
LEGENDA: Astrolábio do século IX.
FONTE: Bridgeman Art/Keystone/Biblioteca Nacional de Cartografia, Paris, França.
LEGENDA: Livros e instrumentos - entre eles, um relógio de pêndulo do século XVII - que pertenceram a Galileu Galilei.
FONTE: Erich Lessing/Album/Latinstock
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Devido ao incremento empreendido por países capitalistas como Inglaterra, França e Holanda ao tráfego marítimo, era mais do que urgente tornar a navegação uma atividade mais confiável e segura, sob o risco de se perder uma carga valiosa ou, pior ainda, de ceifar vidas humanas. Foi justamente uma tragédia que precipitou a busca por uma solução. Em 1707, quando a frota de cinco navios de guerra ingleses comandada pelo Almirante Clowdesley Shovell tentava retornar ao porto de Londres, após vencer um combate com tropas francesas, formou-se um denso nevoeiro que durou doze dias. O capitão consultou seus oficiais e, seguindo a intuição de todos, concluiu que apesar da intensa neblina os navios estavam em posição segura e podiam seguir rumo ao norte para atingir a Inglaterra. No entanto, eles estavam cerca de 32 quilômetros fora da rota pretendida. O engano foi fatal: três embarcações se chocaram contra os rochedos e o acidente provocou a morte de 2 mil homens.
O Decreto da Longitude
Depois desse grave acidente, empresários, capitães e marinheiros e a força militar naval da Inglaterra pressionaram o governo inglês para estabelecer métodos mais seguros de navegação. Para isso, fazia-se urgente descobrir como medir a longitude. Várias medidas foram adotadas, porém nenhuma de efeito prático, até que, em 1714, o Parlamento Inglês promulgou o Decreto da Longitude, uma lei que estabelecia um prêmio de 20 mil libras para quem descobrisse como medir a longitude. Foi criado um comitê especificamente voltado para avaliar as propostas, formado pelos mais renomados cientistas da época, entre os quais, o astrônomo Edmond Halley, diretor do Observatório de Greenwich.
Havia, na ocasião, duas vertentes para as quais as pesquisas se direcionaram. Uma delas, defendida pelos adeptos da Astronomia, acreditava que, assim como a latitude podia ser encontrada pela observação do céu, a longitude também dependia de referências estelares. Outra corrente achava que, para medir a longitude, era preciso construir um relógio preciso e resistente.
A longitude e as horas
A divisão da Terra em meridianos era um conceito conhecido havia muito tempo. Sabia-se que, para dar uma volta completa em torno do seu próprio eixo, o planeta levava 24 horas. Como a Terra pode ser representada por uma esfera que pode ser dividida em 360 graus, em sua rotação ela avança 15 graus a cada hora. Assim, bastava comparar o horário local com a hora do ponto de partida, naquele mesmo instante, para saber quantos graus se avançou. Uma vez definido um meridiano como marco zero, seria possível definir em que longitude a embarcação se encontrava. No entanto, para que se pudesse medir esse percurso com uma margem razoável de erro, era necessário um relógio muito preciso e que suportasse as condições adversas a bordo de um navio, como variações de temperatura, balanço provocado pelas tempestades, etc.
CHINEN, Nobu. Conhecimento prático - Geografia. São Paulo: Escala Educacional, 2009. n. 24, p. 34-39.
LEGENDA: Relógio H4, primeiro cronômetro marinho, criado em 1759 pelo inglês John Harrison.
FONTE: Oli Scarff/Getty Images
Ícone: Não escreva no livro.
- Com base no que você estudou no capítulo e no texto anterior, faça o que se pede.
1. Explique o que foi o episódio conhecido como o "Decreto da Longitude".
2. Situe o contexto histórico-econômico em que o meridiano de Greenwich foi definido como o meridiano inicial.
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Refletindo sobre o conteúdo
Ícone: Atividade interdisciplinar.
Consulte um atlas geográfico para responder às questões 1, 2 e 3.
1. Atividade interdisciplinar: Geografia, História e Física. Leia abaixo um texto de historiadores brasileiros sobre a bússola.
LEGENDA: Bússola
FONTE: AlexStar/istockphoto/Getty Images
A bússola, já integrada à navegação mediterrânea desde o século XI, ao que parece, foi acoplada à rosa dos ventos pelos nautas portugueses e a partir daí amplamente utilizada. Sua aplicação liberava os nautas de complicados cálculos astronômicos e sua importância prática já foi comprovada à precisão do relógio mecânico. Na verdade, a imposição da bússola como instrumento de navegação pode ser enquadrada na tendência de superação de supersticiosas influências medievais que o ciclo das navegações propiciou...
AQUINO, Rubim Santos Leão de et al. Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 81.
a) Comente qual foi a importância da bússola para as navegações.
b) Explique o que é um relógio mecânico.
c) Dê um exemplo do que se pode entender como uma "supersticiosa influência medieval".
2. Indique o(s) principal(is) paralelo(s) ou meridiano(s) que atravessa(m) os seguintes lugares:
a) Brasil.
b) Índia.
c) Austrália.
d) Finlândia.
e) África do Sul.
f) Argentina.
g) África.
3. Determine a latitude e a longitude aproximadas dos seguintes lugares:
a) Valência (Espanha).
b) Kiev (Ucrânia).
c) Sydney (Austrália).
d) Divinópolis (Minas Gerais, Brasil).
4. Em um planisfério político, trace as coordenadas geo gráficas indicadas a seguir e identifique que lugares foram localizados, aproximadamente, em cada uma delas.
a) 60° de latitude norte e 10° de longitude leste.
b) 32° de latitude sul e 116° de longitude leste.
c) 30° de latitude norte e 90° de longitude oeste.
d) 40° de latitude norte e 10° de longitude leste.
5. Leia o texto a seguir.
[...] ao longo de 85 anos, os marinheiros portugueses tinham procurado atingir a Índia navegando em direção ao sul - eles foram descendo pela costa da África até encontrar uma passagem que os levasse para o Oriente. E nada faria com que, naquele momento, eles modificassem sua rota e seguissem para oeste, tal qual fez o genovês Cristovão Colombo que, ao navegar em direção contrária aos portugueses, não descobriu a Índia - como jurava ter descoberto - mas sim a América.
VELHO, Álvaro. O descobrimento das Índias: o diário da viagem de Vasco da Gama. São Paulo: Objetiva, 1998. p. 11.
- Explique o erro dos marinheiros portugueses.
6. Atividade interdisciplinar: Geografia e Matemática. A construção de coordena das não é de uso exclusivo da Geografia. Procure aplicar o que você já aprendeu em Matemática e as noções deste capítulo para escrever um texto que estabeleça a relação entre coordenadas geográficas e coordenadas cartesianas. Se necessário, converse com os professores das duas disciplinas.
7. Justifique a importância do conhecimento das coordenadas geográficas e do traçado das linhas imagináriaspara o estudo dos fenômenos geográficos.
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capítulo 3. A medida do tempo no espaço geográfico
LEGENDA: Nestas imagens podemos notar que o tempo é um dos aspectos fundamentais da transformação das paisagens no espaço geográfico. 
A: Bairro da Cidade Velha com Catedral da Sé e baía do Guajará ao fundo. Na imagem é possível distinguir também, em segundo plano, o mercado Ver-o-Peso (construção de 1625). Belém (PA), foto de c. 1910. 
B: A mesma vista de Belém, mais aproximada, com destaque para o mercado Ver-o-Peso. Belém (PA), 2015.
FONTE: (A) Coleção particular/Arquivo da editora; (B) Fernando Araújo/Futura Press
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O movimento de rotação, os dias e as noites
A organização do espaço geográfico é resultado dos movimentos da sociedade através do tempo. Para entender essa relação, pensemos nas diferentes escalas de tempo.
Nossa vida é regulada por horas, dias, meses e anos; espaços de tempo que definem períodos mais longos, como as eras, que medem o tempo geológico desde as primeiras manifestações de vida na Terra, e os séculos, que usamos para datar a história da humanidade.
Se considerarmos os fatores naturais, o tempo no espaço geográfico é determinado pelos dois principais movimentos que a Terra realiza no espaço: o movimento de rotação e o movimento de translação.
A Terra leva 24 horas para realizar o movimento de rotação em torno de si mesma ou de seu eixo imaginário. Nesse movimento, o planeta gira de oeste para leste, a uma velocidade média de 1.649 km por hora, na altura do equador, e vai diminuindo em direção aos polos.
O tempo que a Terra demora para dar uma volta completa em torno de si mesma é chamado dia solar e dura 24 horas, baseado no nascer e no pôr do sol. Porém, a nossa vida diária é regulada pelo dia civil, estabelecido em 1925 em um acordo internacional. O dia civil tem a mesma duração de 24 horas, mas, ao contrário do dia solar, não é marcado pelo aparecimento e desaparecimento do Sol no horizonte. Pela convenção, ficou determinado que o dia civil começa depois da meia-noite.
FONTE: Adaptado de: INSTITUTO GEOGRÁFICO MILITAR (IGM). Atlas de la República de Chile. Santiago (Chile): IGM/Ministerio de Educación Pública, 2014. p. 12. Ilustração esquemática, sem escala. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
Consequências do movimento de rotação
Quando há um campeonato mundial de futebol, de vôlei ou uma corrida de Fórmula 1 em países do Oriente, quem quiser acompanhar a transmissão do evento ao vivo, no Brasil, tem de levantar muito cedo ou ficar acordado de madrugada.
Eventos esportivos em horários tão diferentes dos nossos podem ser explicados pela diferença de horário existente entre os países. A hora local de uma cidade é dada pelo fuso horário, recurso criado para medir o tempo nas diferentes partes do mundo (veja mais detalhes sobre fusos horários no próximo item). A cidade de Pequim (ou Beijing, como também é conhecida), por exemplo, que está localizada a leste do meridiano de Greenwich e já foi sede dos Jogos Olímpicos, tem seu horário adiantado em 11 horas em relação à cidade de Brasília, capital do Brasil, que fica a oeste desse meridiano. Assim, enquanto em Brasília são três horas da tarde (15 horas), em Pequim já são duas horas da manhã do dia seguinte.
Além dos fusos horários, outro critério estabelecido pelo ser humano para lidar com fenômenos e aspectos naturais do nosso planeta é a definição dos pontos cardeais, que permitem a orientação no espaço geográfico: norte e sul, os dois extremos do eixo de rotação da Terra; leste (onde o Sol desponta) e oeste (onde o Sol se põe), fixados pelo próprio movimento de rotação.
São consequências do movimento de rotação da Terra:
- a sucessão dos dias e das noites, que regula a organização e o planejamento das nossas atividades;
- o movimento aparente do Sol, que surge no Oriente e se oculta no Ocidente;
- a formação das correntes marítimas, que podem ser alteradas pelo desvio dos ventos, influindo na navegação marítima e na localização de áreas pesqueiras.
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Além disso, vale também ressaltar que a comunicação entre os continentes tem sido beneficiada pela utilização de satélites artificiais que acompanham o movimento de rotação da Terra.
Os fusos horários
A diferença de horas entre os vários lugares da Terra criou a necessidade de estabelecer uma forma comum de marcar a hora local. Foi definido um sistema de 24 fusos horários, 12 faixas para leste e 12 para oeste, que resultam da divisão da circunferência terrestre pelas 24 horas do dia. Esse sistema pode ser explicado da seguinte maneira:
Ao girar, a Terra expõe ao Sol a superfície terrestre, que tem 360° de circunferência. Considerando que o planeta leva 24 horas para realizar seu movimento de rotação, veremos que, a cada hora, o Sol ilumina uma faixa de 15° na superfície terrestre (360° : 24 = 15°). Essas faixas são chamadas fusos horários.
Exatamente no meio de cada uma dessas faixas (7°30') passa um meridiano que determina a hora local do fuso, chamada hora legal. Geralmente, a hora legal de cada lugar é determinada pela hora legal de seu fuso. Para economizar energia, alguns países adiantam a hora legal no verão. É o horário de verão, que altera ainda mais as diferenças entre os fusos.
A contagem dos fusos inicia-se no meridiano de Greenwich, o meridiano inicial. A hora marcada nesse meridiano é conhecida como GMT (Greenwich Mean Time - Hora Média de Greenwich), e o primeiro fuso - o fuso de Londres - está compreendido entre 7°30' O e 7°30' L do meridiano inicial, totalizando os 15° que formam um fuso horário. Levando em consideração que a Terra, em seu movimento de rotação, gira de oeste para leste e que o Sol surge primeiro nos lugares situados a leste, sempre que caminhamos nessa direção as horas aumentam. No sentido contrário (oeste), as horas diminuem. Portanto, todos os fusos a leste do meridiano de Greenwich têm seus horários adiantados e todos os fusos a oeste têm seus horários atrasados em relação ao meridiano inicial.
Alguns países estabeleceram modificações no traçado dos fusos para que as horas coincidissem dentro do limite de países, estados, etc. Essa modificação distingue a divisão das faixas em fuso horário teórico (em que a divisão das faixas é exata) e fuso horário político ou civil (em que ocorre a acomodação de determinada faixa em relação aos limites estaduais ou nacionais de um país). Observe a acomodação dos traçados dos fusos no mapa abaixo.
LEGENDA: A adoção do fuso horário político ou civil facilita as relações entre comércio, bancos e meios de transporte.
FONTE: Adaptado de: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6ª ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 35. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
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Boxe complementar:
Fusos horários do Brasil e horário de verão
A principal consequência de o Brasil estar localizado totalmente no hemisfério ocidental é que os fusos horários do país são todos atrasados em relação ao meridiano de Greenwich.
Em razão de sua grande extensão territorial, o Brasil apresenta quatro faixas de fusos horários. A hora oficial do Brasil é a de sua capital, Brasília.
Veja abaixo o mapa de fusos horários do Brasil.
Os fusos horários brasileiros são alterados durante a vigência do horário de verão, adotado com o objetivo principal de reduzir o consumo de luz artificial. Durante os meses de verão, o Sol aparece antes que a maioria das pessoas tenha se levantado. Quando os relógios são adiantados, a luz do dia é mais bem aproveitada, pois a maioria da população passa a acordar, trabalhar, estudar, etc. em consonância com a luz do Sol.
Veja a seguir o mapa de fusos horários brasileiros com os estados que adotam o horário de verão.
FONTE: Adaptado de: OBSERVATÓRIO NACIONAL. Disponível em: http://pcdsh01.on.br/Fus.br.htm. Acesso em: 20 set. 2015. * Fusos horários adotados na hora legal brasileira em referência ao Tempo Universal Coordenado (UTC). CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
FONTE: Adaptado de: OBSERVATÓRIO NACIONAL. Disponível em: http://pcdsh01.on.br/FusoBR_HVCorrente.htm. Acesso em: 20 set. 2015. * Fusos horários adotadosna hora legal brasileira em referência ao Tempo Universal Coordenado (UTC). CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
O contexto internacional do horário de verão
A Alemanha foi o primeiro país a adotar o horário de verão, em 1916, pois havia a necessidade de economizar energia a fim de se fortalecer para a guerra. A partir de então, diversos países do mundo passaram a adotar a medida, sempre com o objetivo de usar de forma racional a energia elétrica.
Atualmente, vários países no mundo adotam o horário de verão, alterando o horário convencional para aproveitar a luminosidade natural. No Brasil, o horário de verão tem vigorado anualmente desde 1985, embora a medida tenha sido aplicada desde 1931/1932, em períodos não consecutivos. O período de vigência é variável, mas em média a duração tem sido de 120 dias por ano, nos últimos vinte anos.
Boa parte dos países que adotam essa medida está situada nas regiões consideradas tropicais, como Brasil e Paraguai, na América do Sul; Cuba, Honduras, Guatemala e Haiti, na América Central; México, na América do Norte; Austrália, na Oceania; Egito e Marrocos, na África.
Nos Estados Unidos, o horário de verão começa geralmente no primeiro domingo de abril e dura até o último domingo de outubro. No entanto, os estados da Federação têm certa autonomia para definir as regras dessa medida.
Na União Europeia também é adotado o horário de verão, que se inicia no último domingo de março e finaliza no último domingo de outubro.
Fim do complemento.
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A Linha Internacional de Data
A Linha Internacional de Data - oposta ao meridiano de Greenwich - determina a mudança de data civil no planeta. Por isso, ao cruzar essa linha, a data deve ser alterada, dependendo da direção para a qual se viaja. Por exemplo, quem sai do México, do Brasil ou dos Estados Unidos em voo direto para Tóquio numa segunda-feira chegará lá na terça-feira. Leia mais sobre esse assunto no texto da seção Ampliando o conhecimento, a seguir, e você vai entender por que isso acontece.
Boxe complementar:
Ampliando o conhecimento
O lugar onde o calendário muda
Existe uma linha que corta o globo de polo a polo, onde a data dá um salto de um dia.
Imagine que você resolva fazer uma viagem diferente no fim do ano: uma travessia pelo oceano Pacífico, a bordo de um transatlântico. Uma noite, no final do jantar, o navio em mar aberto, o comandante anuncia: "Atenção, senhoras e senhores! Vamos brindar o Ano-Novo!".
É exatamente meia-noite de 30 de dezembro. Como é possível pular o dia 31? Os passageiros ficam intrigados. O que existe de diferente nesse pedaço do mundo? É como se ali, num ponto qualquer, perdido em pleno mar, o tempo de repente sofresse uma descontinuidade, fazendo o calendário pular de 30 de dezembro para 1º de janeiro. O mais estranho de tudo é que a hora continua a mesma: meia-noite. Você saberia resolver esse enigma?
É que, exatamente à meia-noite de 30 de dezembro, o navio cruzava a Linha Internacional de Data. Essa linha corta o globo terrestre do polo norte ao polo sul, seguindo mais ou menos o meridiano de 180°, do lado oposto ao meridiano de Greenwich, na Inglaterra. A partir de Greenwich são acertados os relógios de todo o mundo, pelos fusos horários. A leste dele, adianta-se uma hora, a cada 15 graus.
Só que, quando se chega à Linha Internacional de Data, não é o relógio que muda, e sim a folhinha: a leste da linha, voltamos 24 horas no tempo. Ou seja, quem atravessa essa linha de oeste para leste volta para ontem. Sabe por quê? Para acertar o calendário.
Veja a seguir o problema que teríamos, por exemplo, se apenas contássemos as horas, a cada fuso horário.
Suponha que é meia-noite do dia 30 de dezembro e você está em São Paulo (desconsidere o horário de verão). Se ligar para outra cidade, mais a leste, digamos a Cidade do Cabo, na África do Sul, vai ver que lá serão 4 horas da manhã do dia 31 de dezembro, porque a cidade fica cinco fusos horários a leste. Quanto mais a leste mais tarde será. No Japão já será meio-dia, e, no Havaí, 6 horas da tarde. Da mesma forma, no Peru seriam 23 horas, também do último dia do ano. Assim, se completasse a volta ao mundo, você chegaria à conclusão de que seu vizinho de oeste já estaria vivendo a meia-noite do dia 31, mas você ainda estaria no dia 30.
Para assinalar uma única data, é preciso fazer um acerto em algum ponto. Então, por convenção, diminui-se um dia quando se passa pela Linha Internacional de Data, de oeste para leste. Para evitar problemas no dia a dia das pessoas, a Linha Internacional de Data não segue exatamente o meridiano de 180°. Ela faz algumas curvas, desviando-se de ilhas e regiões em terra firme onde possam existir comunidades.
Veja um exemplo da confusão que reinaria numa cidade cortada pela Linha Internacional de Data. No caso de inflação alta, o cliente de um banco poderia ganhar um bom dinheiro apenas atravessando a rua. Bastaria fazer um depósito na agência bancária do lado leste da cidade e retirar o dinheiro em outra agência, do lado oeste. Ele lucraria os juros de um dia em poucos minutos. E mais: os compromissos teriam de ser marcados levando em conta o lado da cidade onde cada pessoa mora. Ou seja, todos teriam de manipular duas agendas.
DAMINELI NETO, Augusto. O lugar onde o calendário muda. Superinteressante, São Paulo: Abril, n. 98, nov. 1995. p. 82-84.
LEGENDA: Placa em local turístico onde passa a Linha Internacional de Data, em Taveuni Island, nas ilhas Fiji, em 2015.
FONTE: Bonnie Jackson/www.equatordiving.com
Fim do complemento.
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O movimento de translação e as estações do ano
Observe as paisagens.
LEGENDA: Dia de sol e calor na praia de Jatiúca, em Maceió (AL), em janeiro de 2015.
FONTE: Rubens Chaves/Pulsar Imagens
LEGENDA: Cidade de Boston, nos Estados Unidos, coberta de neve, em janeiro de 2015.
FONTE: Matthew J. Lee/ Boston Globe/Getty Images
Essas imagens retratam situações vividas na mesma época do ano, porém em países localizados em hemisférios opostos. Assim, enquanto os brasileiros, no mês de janeiro, desfrutam do calor no hemisfério sul, os estadunidenses se protegem do frio e da neve no hemisfério norte.
Nessa época do ano, o hemisfério sul fica mais exposto à luz e ao calor do Sol, enquanto o hemisfério norte é atingido com menor intensidade pelos raios solares. Por isso, no hemisfério sul é verão e no hemisfério norte, inverno. No mês de junho ocorre exatamente o contrário.
Você sabe por que isso acontece?
Quando você vai para casa mais cedo para aproveitar as longas noites frias de inverno, ou quando aproveita a luminosidade dos dias quentes de verão, você está sentindo as consequências do movimento de translação da Terra, cujas duração e características exercem influência direta sobre nossa vida.
O movimento de translação é o que a Terra realiza ao redor do Sol com os outros planetas. Nesse movimento, ela percorre um caminho que tem a forma de uma elipse, à qual chamamos órbita.
A Terra, em sua órbita, não mantém a mesma velocidade, que é maior quanto mais o planeta se aproxima do Sol (periélio) e menor quanto mais se afasta dele (afélio). O Sol não está no centro da elipse; por isso, a Terra não está sempre à mesma distância do Sol.
Glossário:
Periélio: ponto da órbita em que um planeta está mais próximo do Sol.
Afélio: ponto da órbita em que um planeta está mais afastado do Sol.
Fim do glossário.
FONTE: Adaptado de: INSTITUTO GEOGRÁFICO MILITAR DE CHILE (IGM). Atlas geográfico para la educación. Santiago (Chile): IGM/Ministerio de Educación Pública, 2014. p. 13. Ilustração esquemática, sem escala. CRÉDITOS: Luis Moura/Arquivo da editora
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O tempo que o planeta Terra demora para dar uma volta completa ao redor do Sol é chamado ano. O ano civil, adotado por convenção, tem 365 dias. Como o tempo real do movimento de translação (ano sideral) é de 365 dias e 6 horas, a cada quatro anos temos um ano de 366 dias, o ano bissexto. São bissextos aqueles anos que são divisíveis por 4, e se o ano terminar em 00 (dois zeros) é preciso que o número seja divisível por 400.
No seu caminho ao redor do Sol,a Terra segue realizando também o seu movimento de rotação. O eixo imaginário, em torno do qual a Terra faz a rotação, tem uma inclinação de 23°27' em relação ao plano da órbita terrestre. Por esse motivo, a iluminação do Sol não é igual em todos os lugares da Terra ao longo do ano.
Consequências do movimento de translação
O movimento de translação tem como consequência um fato fundamental para a vida na Terra: as estações do ano, que condicionam as atividades agropecuárias e a existência de variados tipos de vegetação e espécies animais em diferentes lugares do planeta. Elas são determinadas pela posição da Terra em relação ao Sol. Em razão da inclinação do eixo terrestre, as estações não são iguais nos dois hemisférios, alternando-se em relação à linha do equador.
Veja o quadro abaixo. As datas que marcam o início das estações do ano determinam também a maneira e a intensidade com que os raios solares atingem a Terra em seu movimento de translação. Esses dias recebem a denominação de equinócio e solstício. Veja a ilustração a seguir.
Quadro: equivalente textual a seguir.
	Hemisfério sul
	Entre os dias
	Hemisfério norte
	Início da primavera
	22 e 23 de setembro
	Início do outono
	Início do verão
	21 e 23 de dezembro
	Início do inverno
	Início do outono
	20 e 21 de março
	Início da primavera
	Início do inverno
	21 e 23 de junho
	Início do verão
FONTE: CENTRO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL. Disponível em: www.cdcc.usp.br/. Acesso em: 20 set. 2015.
FONTE: Adaptado de: INSTITUTO GEOGRÁFICO MILITAR DE CHILE (IGM). Atlas geográfico para la educación. Santiago (Chile): IGM/Ministerio de Educación Pública, 2014. p. 13-14. Ilustração esquemática, sem escala. CRÉDITOS: Luis Moura/Arquivo da editora
Equinócio
Entre os dias 20 e 21 de março, os raios de Sol incidem perpendicularmente sobre a linha do equador, fazendo com que o dia e a noite tenham a mesma duração (exatamente 12 horas) na maior parte dos lugares da Terra. Daí o nome equinócio (noites iguais aos dias). Nesse dia, no hemisfério norte, é o equinócio de primavera e, no hemisfério sul, o equinócio de outono.
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Entre os dias 22 e 23 de setembro ocorre o contrário: é o equinócio de primavera no hemisfério sul, e o equinócio de outono no hemisfério norte.
Solstício
Entre os dias 21 e 23 de junho os raios solares chegam verticalmente ao trópico de Câncer (23°27' N). Nesse momento, ocorre o solstício de verão no hemisfério norte. É o dia mais longo e a noite mais curta do ano, que marcam o início do verão. No hemisfério sul, acontece o solstício de inverno, com a noite mais longa do ano, marcando o início da estação fria.
Entre os dias 21 e 23 de dezembro, os raios de Sol incidem verticalmente sobre o trópico de Capricórnio (23°27' S). É o solstício de verão no hemisfério sul, com o dia mais longo do ano e o início do verão. No hemisfério norte, é a noite mais longa do ano e o início do inverno.
Nas regiões intertropicais, principalmente nas proximidades do equador, a duração dos dias e das noites quase não varia, e as estações do ano são pouco diferenciadas.
Refletindo sobre o conteúdo
Ícone: Atividade interdisciplinar.
1. Segundo o Atlas geográfico escolar do IBGE,
O movimento que a Terra realiza ao redor de seu próprio eixo imaginário é chamado de rotação e leva aproximadamente 24 horas para se completar. Chamamos esse período de dia. Durante este intervalo de tempo uma parte do planeta está iluminada enquanto outra está escura, dando origem aos dias e às noites.
IBGE. Atlas geográfico escolar. 6ª ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 10.
a) Explique uma consequência para a vida no planeta Terra caso não ocorresse o movimento de rotação.
b) Identifique um país em que neste exato momento seja dia e um em que seja noite.
2. Leia abaixo o texto de uma professora de Geografia da Universidade Federal do Ceará.
A localização do estado, próximo à linha do equador, favorece uma intensa insolação durante o ano todo e, dessa forma, muito calor, caracterizando-o como uma área típica de climas quentes.
ZANELLA, Maria Elisa. As características climáticas e os recursos hídricos do estado do Ceará. In: BORZACCHIELLO, José; CAVALCANTE, Tércia; DANTAS, Eustógio (Org.). Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007. p. 170.
- Pesquise em um atlas geográfico e responda: por que o Ceará tem menores variações de temperatura durante o decorrer do ano?
3. Identifique duas implicações políticas ou econômicas do fato de as principais cidades do mundo terem diferença de horas e até mesmo de dias.
4. Atividade interdisciplinar: Geografia e Matemática. Um avião saiu de uma cidade A , localizada a 135° L, às 12 horas, com destino a uma cidade B, situada a 15° O. Sabendo que a viagem dura 9 horas, calcule:
a) a diferença de horas entre a cidade A e o meridiano inicial;
b) a diferença de horas entre a cidade B e o meridiano inicial;
c) a hora em que o avião chegou à cidade B.
5. Observe o mapa a seguir, depois responda às questões.
FONTE: Adaptado de: www.brasilescola.com/geografia/horario-verao.htm. Acesso em: 16 set. 2015. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
a) O que se busca ao adotar o horário de verão no Brasil?
b) Por que muitos estados brasileiros não adotam o horário de verão?
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Concluindo a Unidade 1
Leia os textos, reflita e depois responda às questões propostas.
TEXTO 1. Patrimônio natural, território e soberania
Numa abordagem geográfica, a história humana pode ser vista como uma progressiva apropriação da superfície terrestre pelos diferentes grupos sociais. Nesse movimento, tais grupos imprimem nos espaços que acolhem características das relações que ordenam seu modo de vida. Portanto, as formas espaciais criadas pelos homens expressam muito das relações sociais vigentes na época em que foram produzidas.
A este relacionamento contínuo e progressivo entre as sociedades e a superfície terrestre denomina-se processo de valorização do espaço. Valorização, pois a relação objetivada pelo trabalho humano implica a apropriação e criação de valores. Trata-se de riquezas naturais transformadas em objetos de consumo e de formas constituídas que se agregam ao solo sobre o qual estão erguidas. Em outras palavras, trabalho materializado na paisagem, valor depositado nos lugares - é em função disso que os espaços passam a se diferenciar: por características humanas, e não apenas por condições naturais variáveis.
MORAES, Antonio Carlos R. Meio ambiente e ciências humanas. São Paulo: Annablume, 2005. p. 35.
TEXTO 2. Geografia: sociedade-natureza
Considerando a Geografia uma ciência que estuda o espaço, no contexto da relação sociedade-natureza, sendo esse espaço formado por elementos artificiais e naturais, os que estudam tal campo do conhecimento sabem da dificuldade de "fazer geografia" e "ensinar geografia", já que é uma ciência que trabalha com fenômenos naturais e humanos.
Ao transformar a natureza por meio do trabalho, o homem começou a produzir alimentos, ferramentas, habitações, estradas, ou seja, começou a produzir o espaço geográfico. Esse espaço produzido pelo homem apresenta-se como uma segunda natureza, uma natureza social, humanizada. Assim, há a primeira natureza, aquela que é produzida sem a ação humana (rios, florestas, montanhas, etc.); e a segunda natureza, aquela produzida pela ação do homem (cidades, agricultura, estradas, etc.).
É pela apropriação e transformação da natureza que o homem produz os recursos necessários para a sua sobrevivência, pois, desde o surgimento da humanidade, a natureza sempre foi um recurso para a sobrevivência do homem. Assim, o trabalho é visto como mediador universal na relação do homem com a natureza.
A produção do espaço geográfico, sob as relações capitalistas de produção, tem originado espaços desiguais e inter-relacionados, decorrentes principalmente da ação do Estado e do capital, que cria espaços com níveis diferenciados de desenvolvimento.
É importante ressaltar que o espaço geográfico não é só resultado da produção social, mas também da ação da natureza transformando esse espaço. Assim,

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