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A Problemática do Conhecimento na Antiguidade

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autoras
ANDRÉA REGINA ROSIN PINOLA 
VIVIANE LOPES
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
PESQUISA E PRÁTICA 
EM EDUCAÇÃO II 
Conselho editorial luis claudio dallier ; roberto paes; gladis linhares; karen bortoloti; 
marília gomes godinho 
Autoras do original andrea regina rosin pinola e viviane da costa lopes 
Projeto editorial roberto paes
Coordenação de produção gladis linhares
Coordenação de produção EaD karen fernanda bortoloti 
Projeto gráfico paulo vitor bastos
Diagramação ulisses vittori
Revisão linguística roseli cantalogo couto
Imagem de capa grungemaster | dreamstime.com
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida 
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em 
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
R821p Rosin, Andrea
 Pesquisa e prática em educação II / Andrea Rosin ; Viviane Lopes. 
 Rio de Janeiro : SESES, 2015.
 112 p. : il.
 isbn: 978-85-60923-66-3
 1. Ciência. 2. Pesquisa. 3. Conhecimento. 4. Pedagogia. I. SESES. II. Estácio.
cdd 370.7
Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento
Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 5
1. A Problemática do Conhecimento 7
Objetivos 8
1.1 O surgimento do pensamento filosófico-científico 9
1.2 Tipos de conhecimento 11
1.3 Senso comum versus Ciência 19
1.4 Um breve histórico da Ciência 21
Atividades 26
Reflexão 26
Referências bibliográficas 27
2. A Ciência: da Antiguidade à 
Revolução Científica pós Idade Média 29
Objetivos 30
2.1 Filosofia e Ciência na Antiguidade 31
2.2 Ciência na Idade Média 41
2.3 A Revolução Científica nos séculos XVI e XVII 43
Atividades 47
Reflexão 47
Referências bibliográficas 47
3. O Desenvolvimento da Ciência Moderna 49
Objetivos 50
3.1 O desenvolvimento da Ciência moderna 51
3.2 Racionalismo e empirismo 56
3.3 O iluminismo e a contribuição de Immanuel Kant 61
3.4 A filosofia da Ciência no século XX 64
Atividades 66
Reflexão 66
Referências bibliográficas 66
4. A Cientificidade das Ciências Humanas 69
Objetivos 70
4.1 A História do pensamento científico: as ciências 
naturais e as ciências sociais 71
Atividades 89
Reflexão 89
Referências bibliográficas 90
5. A Pesquisa na Formação do Educador 91
Objetivos 92
5.1 O contexto que emerge a Pedagogia 
enquanto curso de graduação 93
Atividades 103
Reflexão 104
Referências bibliográficas 104
Gabarito 105
5
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
A disciplina Pesquisa e Prática em Educação II visa oferecer os elementos teó-
ricos e metodológicos necessários para orientar uma investigação rigorosa sobre 
a prática pedagógica e educativa na sociedade brasileira. Iniciaremos nossos es-
tudos abordando o nascimento da ciência e sua relação com a filosofia. Depois 
discutiremos sobre o desenvolvimento da ciência em períodos mais específicos, 
como na Antiguidade, Idade Média e na modernidade. Destacaremos as diversas 
correntes das ciências e os critérios do conhecimento científico. 
Além de analisarmos o desenvolvimento histórico da ciência, situaremos 
a Pedagogia como ciência da educação, destacando sua produção científica e 
abordagens teórico-metodológicas. 
Ao final esperamos que você compreenda as etapas e fundamentos da cons-
trução do Projeto de Pesquisa (etapas do projeto de pesquisa, tema/problema, 
referencial teórico-metodológico); A elaboração do Trabalho de Conclusão de 
Curso - TCC (pesquisa científica articulada à prática pedagógica).
Bons estudos!
A Problemática do 
Conhecimento
1
8 • capítulo 1
Neste capítulo estudaremos a problemática do conhecimento. Mais precisa-
mente, veremos como a ciência, desde a Antiguidade, foi se desenvolvendo 
no decorrer da busca do homem em encontrar explicações racionais para os 
fenômenos da realidade. Analisaremos todos os tipos de conhecimento des-
tacando as características específicas do conhecimento científico. 
OBJETIVOS
•  Analisar os aspectos do pensamento filosófico-científico na Antiguidade;
•  Analisar criticamente a problemática do conhecimento; 
•  Conhecer os diferentes tipos de conhecimento;
•  Caracterizar o senso comum e a ciência.
capítulo 1 • 9
1.1 O surgimento do pensamento filosófico- 
-científico
Desde a Antiguidade os povos têm desenvolvido um conjunto de saberes para 
explicar a natureza. Na história dos egípcios, por exemplo, encontramos a trigo-
nometria; entre os romanos, a hidráulica; entre os gregos, a geometria, a lógica, 
a mecânica e etc. Em comum todos esses povos buscaram desenvolver formas 
de saber para resolver as necessidades práticas da existência humana. Mas fo-
ram os gregos que de modo sistemático e filosófico que fomentaram as con-
dições para a formação do conhecimento, especialmente na medida em que 
buscaram compreender a natureza mediante um saber racional e não mítico, 
também denominado episteme1. A partir de então fenômenos da natureza, 
por exemplo, até então explicados a partir da alusão a deuses, passaram a ser 
analisados e investigados de modo mais sistemático e criterioso, resultando no 
surgimento do pensamento científico. 
Considera-se que o pensamento filosófico-científico surgiu na Grécia Antiga 
por volta do século VI a.C. quando os primeiros filósofos passaram a explicar ra-
cionalmente a natureza a partir dos fenômenos naturais. As viagens marítimas 
propiciaram a desmistificação do mundo, que passou a exigir, então, uma ex-
plicação da realidade que o mito já não era capaz de oferecer. O tempo passou a 
ser organizado segundo as estações do ano e as horas do dia, sendo concebido 
como algo natural, e não mais como um poder divino fora da compreensão dos 
homens. O surgimento da moeda, a invenção da escrita alfabética e o apareci-
mento de uma classe forte de comerciantes também são aspectos que favorece-
ram a origem da filosofia na Grécia Antiga. 
Os chamados pré-socráticos2 foram os primeiros pensadores por volta do 
séc. VI a.C que buscaram desenvolver formas de explicação do real sem recorrer 
à forças sobrenaturais ou místicas, isto é, fundamentando a explicação do real 
a partir da própria natureza e com bases em causas naturais. No período clás-
sico da filosofia grega, ampliaram-se os temas de discussão, não mais apenas 
cosmológicos, como antes, para assuntos de ética, política, estética, teoria do 
conhecimento. “O filósofo grego também era de certa forma um “cientista”, 
um sábio que refletia sobre todos os setores da indagação humana” (ARANHA, 
2006, p. 22).
1 Termo que em grego significa ciência (MARCONDES, 2002) .
2 A denominação “pré-socráticos” designa os primeiros filósofos que viveram antes de Sócrates (470-399 aC.) 
(MARCONDES, 2002).
10 • capítulo 1
A filosofia nascente formulou um conjunto de noções para explicar racio-
nalmente a origem e a ordem do universo. Aqui, iremos destacar os seguintes 
termos: princípio ou arqué; natureza ou physis; ordem universal ou kosmos 
(cosmos); e o termo logos, que pode significar razão, pensamento ou discurso. 
O termo arqué surgiu na tentativa de os primeiros filósofos postularem, a 
partir da observação dos fenômenos naturais, a existência de um elemento pri-
mordial e gerador de tudo que existe. Arqué significa origem ou princípio, o 
fundamento de toda a existência natural das coisas. O primeiro filósofo-cientis-
ta que formulou essa noção foi Tales de Mileto, afirmando ser a água o elemen-
to primordial de toda a existência.Outra palavra essencial na constituição do pensamento filosófico é physis, 
traduzida para o português como natureza. Segundo Chaui (2002, p. 59), phy-
sis “é o ilimitado, indefinido e indeterminado, o que não sendo nenhuma das 
coisas dá origem a todas elas”. O termo surge para designar a manifestação de 
uma força que cresce, se desenvolve e se renova incessantemente; é a realidade 
primeira e última porque abarca a totalidade de tudo o que é. Por isso, os pri-
meiros filósofos são chamado de physiologos, ou seja, estudiosos ou teóricos 
da natureza. 
A palavra kosmos é traduzida como a ordem da natureza ou do mundo, o 
oposto de caos. O cosmo é o mundo natural, uma realidade ordenada de acordo 
com certos princípios racionais; está relacionado às ideias de ordem, harmonia 
e beleza. A cosmologia é “a explicação da ordem do mundo, do universo, pela 
determinação de um princípio originário e racional que é origem e causa das 
coisas e de sua ordenação” (CHAUI, 2002, p. 37).
Na linguagem grega clássica, logos denota “palavra”, “discurso”, “argumen-
tação”, “pensamento” e “razão”. É o discurso racional e argumentativo que ob-
jetiva explicar o real por meio de causas justificadas, diferente do mythos, que 
recorre aos deuses na descrição do real. Logos é um conceito que possui diver-
sas acepções em diferentes correntes da filosofia, como veremos na sequência 
de nossos estudos. 
Como bem destaca Marcondes (2002, p. 27), um dos aspectos fundamentais 
que se fortalece com os filósofos pré-socráticos é o caráter crítico, isto é, a ideia 
de que as teorias formuladas não são dogmáticas e nem podem ser verdades ab-
solutas e definitivas, mas “passíveis de serem discutidas, de suscitarem diver-
gências e discordâncias e permitirem formulações e propostas alternativas”. 
capítulo 1 • 11
Entre os principais aspectos da atitude filosófico-científica nascente, destacam-se:
– Tendência à racionalidade: a razão é tomada como critério de verdade, acima das 
limitações das experiências imediatas e da explicação mítica. A razão ou pensamento 
(logos) vê o visível e compreende o invisível, que é seu princípio imutável e verdadeiro;
– Busca de respostas concludentes: colocado um problema, sua solução é sempre 
submetida à discussão e à análise crítica, em vez de ser sumária e dogmaticamente 
aceita; o discurso deve ser capaz de provar, demonstrar e garantir aquilo que é dito;
– Acatamento às imposições de um pensamento organizado de acordo com certos 
princípios universais que precisam ser respeitados para que pensamento e discurso 
sejam aceitos como verdadeiros; são princípios lógicos;
– Ausência de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de investigação 
para responder os problemas postos pela natureza;
– Tendência à generalização, isto é, a oferecer explicações de alcance geral (e mesmo 
universal).
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. 1. v. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 39.
1.2 Tipos de conhecimento
O homem, na sua busca pelo conhecimento e domínio da natureza, desen-
volveu diferentes formas para compreender a realidade. Vimos, por exemplo, 
como se deu a construção do conhecimento filosófico-científico na antigui-
dade, resultado da busca dos pré-socráticos em compreender a realidade sem 
buscar explicação fora da realidade. De lá pra cá muita coisa mudou. A história 
da filosofia é o espelho das diversas discussões e correntes que buscaram com-
preender a realidade através de um método racional e real, como veremos no 
decorrer dos capítulos. 
De fato, a ciência se fortaleceu, proporcionando a estruturação de diversas 
áreas do conhecimento. Mas além da ciência e da filosofia, o homem dispõe 
de outros tipos de conhecimentos, como o mito, o senso comum e a arte. Essas 
diferentes abordagens não se excluem necessariamente, podendo coexistir no 
nosso cotidiano:
12 • capítulo 1
Um cientista, com elaborado conhecimento numa área específica (por exemplo, a física), 
não deixa de usar o senso comum na vida cotidiana quando, empiricamente, educa seu 
filho ou, ainda, ao recorrer à filosofia para analisar os fundamentos de sua ciência; uma 
pessoa religiosa aproxima-se de Deus pela fé, mas também busca na filosofia a justifica-
ção racional da existência de Deus; o mesmo acontece com o artista, cuja concepção sen-
sível do mundo coexiste com as demais maneiras de conhecer. (ARANHA, 2006, p. 18).
O mito
O mito é um tipo de conhecimento ou interpretação da realidade que não requer 
fundamentações ou fatores racionais por se basear apenas a intuição ou no pen-
samento imediato. O mito pode ser caracterizado como uma narração “fabulo-
sa, de origem popular e não refletida, na qual agentes impessoais, a maior parte 
das vezes forças da natureza, são representados sob forma de seres pessoais, 
cujas ações ou aventuras tem um sentido simbólico” (LALANDE, 1999, p.688). 
 
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O mito é essencialmente uma narrativa mágica ou maravilhosa, que não se define ape-
nas pelo tema ou objeto da narrativa, mas pelo modo (mágico) de narra, isto é, por 
analogias, metáforas e parábolas. Sua função é resolver, num plano imaginativo, ten-
sões, conflitos e antagonismos sociais que não tem como ser resolvidos no plano da 
realidade. (CHAUI, 2002, p, 36).
capítulo 1 • 13
Nessa perspectiva, as crenças são suficientes para explicar a realidade e o 
mundo que nos cerca, “sem que se exija daquele que crê a compreensão plena 
dos mistérios”, aceitos, por sua vez, “sem discussão e transmitidos cultural-
mente às novas gerações” (ARANHA, 2006, p. 18). Em outras palavras, no pen-
samento mítico, não há provas que fundamentam as explicações da realidade; 
apenas as crenças são suficientes para a sua compreensão.
Um dos elementos centrais do pensamento mítico é a referência ao sobre-
natural, ao mistério e ao divino. O próprio termo grego mythos denota um dis-
curso fictício. Trata-se de uma narrativa imaginária, de linguagem poética, que 
invoca uma série de deuses e heróis para explicar a existência. Os povos tribais 
tem como estrutura dominante a referência aos deuses. Isso fica evidente nos 
poemas épicos fundadores da cultura grega que chegaram até nós. A Ilíada e a 
Odisseia de Homero (séc. IX a.C.), por exemplo, captam a sensibilidade mitoló-
gica3 da Grécia Antiga, cujos eventos da existência humana eram concebidos 
como consequências das ações dos deuses.
Por acreditar na atuação constante dos deuses, o mito primitivo ritualiza todas as ati-
vidades: os instrumentos úteis e as manifestações artísticas tem características mági-
cas; o mesmo ocorre com o plantio e a colheita, a caça, a guerra, as relações entre os 
indivíduos (nascer, tornar-se adulto, casar, morrer), a explicação da origem do universo, 
os valores aceitos. Em suma, no mundo primitivo tudo é mito e tudo se faz por magia. 
(ARANHA, 2006, p. 18).
Contudo, devemos observar que o desenvolvimento do pensamento refle-
xivo ou científico não implica o final da consciência mítica, uma vez que ainda 
ocupa lugar de destaque entre alguns povos.
Senso comum
Entendemos por senso comum o conhecimento que é aceito e compartilha-
do por grupo, independente de ser provado ou não, “cujas experiências fe-
cundas continuam sendo levadas a efeito pelos indivíduos da comunidade” 
(ARANHA, 2006, p. 19). É um “conjunto de opiniões e valores característicos 
daquilo que é correntemente aceito num meio social determinado” (JAPIASSU; 
MARCONDES, 2008, p. 250).
3 Conjunto de mitos característicos de uma determinada cultura ou tradição (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008, 
p. 189).
14 • capítulo 1
Trata-se de um conhecimentofragmentário, difuso, assistemático, razão 
pela qual ele não é produzido com base em procedimentos metodológicos, fei-
tos para conduzir a relação sujeito-objeto. O que resulta dessa relação com o 
mundo é um saber que muitos chamam saber empírico, vulgar ou, ainda, senso 
comum.
O quadro abaixo sintetiza as principais características do senso comum de 
acordo com Chaui (2000, p. 315-316):
SUBJETIVOS
Exprimem sentimentos e opiniões individuais e de 
grupos, variando de uma pessoa para outra, ou de um 
grupo para outro, dependendo das condições em que 
vivemos.
QUALITATIVOS
As coisas são julgadas por nós como grandes ou pe-
quenas, doces ou azedas, pesadas ou leves, novas ou 
velhas, belas ou feias, quentes ou frias, úteis ou inú-
teis, desejáveis ou indesejáveis, coloridas ou sem cor, 
com sabor, odor, próximas ou distantes, etc.;
HETEROGÊNEOS
Referem-se a fatos que julgamos diferentes, porque 
os percebemos como diversos entre si. Por exemplo, 
um corpo que cai e uma pena que flutua no ar são 
acontecimentos diferentes; sonhar com água é dife-
rente de sonhar com uma escada, etc.;
NDIVIDUALIZADORES
Por serem qualitativos e heterogêneos, isto é, cada 
coisa ou cada fato nos aparece como um indivíduo ou 
como um ser autônomo.
GENERALIZADORES
Tendem a reunir numa só opinião ou numa só ideia 
coisas e fatos julgados semelhantes.
capítulo 1 • 15
A Arte
 
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O conhecimento artístico ou o saber das artes tem como característica princi-
pal a valorização dos sentimentos, das emoções e das intuições dos homens. 
Desde a filosofia antiga, o saber das artes se fundamenta nas experiências es-
téticas do homem. É um conhecimento que se baseia na intuição para deci-
frar a realidade; tem a imaginação como mediadora entre o ser a e existência, 
o que possibilita outras formas de compreensão da realidade. 
Segundo explica Aranha (2006, p. 19), a arte é um tipo de conhecimento 
também intuitivo por não recorrer a conceitos “logicamente organizados, 
mas por usar recursos que ‘falam’ ao sentimento e à imaginação”. O artista, 
por meio de objetos concretos, “intui a realidade de modo original, provocan-
do também naquele que frui a obra de arte uma nova interpretação da expe-
riência vivida”. 
16 • capítulo 1
Filosofia 
 
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A palavra filosofia é composta por dois termos gregos: philo e sophia. O pri-
meiro termo significa amizade, amor; o segundo, sabedoria. Filosofia significa, 
portanto, amizade pela sabedoria, a busca do saber. 
A filosofia, ao contrário do mito e do senso comum, é o pensamento sis-
tematizado e fundamentado que busca o verdadeiro significado das coisas, a 
verdade sobre a existência do homem e de todas as coisas do mundo. Os estu-
diosos da filosofia afirmam que o que caracteriza a reflexão filosófica é o mo-
vimento de indagar, de questionar as coisas que “já conhecemos” e as quais, 
ainda, iremos conhecer. É o pensar crítico a respeito das diversas concepções 
(ideais) que podemos construir acerca do mundo e das ações que efetivamos 
no mundo. A filosofia também analisa os valores éticos e os juízos morais; mas, 
diferentemente do senso comum, que apenas formula opiniões simplistas, a 
filosofia almeja a compreensão dos nossos atos e valores. 
 O ato de filosofia implica em não aceitar como óbvias e evidentes as 
coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa 
existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e com-
preendido. De acordo com Marilena Chauí (2000, p.13), o conhecimento filo-
sófico trabalha com enunciados precisos e rigorosos; opera com conceitos ou 
capítulo 1 • 17
ideias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, o que exige a fun-
damentação racional do que é enunciado e pensado. 
Trata-se de um trabalho intelectual sistemático porque não se contenta em 
obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as próprias questões 
sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras, estejam 
relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes 
de ideias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente.
Chaui (2000, p. 11-12) destaca como principais características da Filosofia: 
Perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a ideia, é. A Filosofia pergunta qual é a realidade 
ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa qual;
Perguntar como a coisa, a ideia ou o valor, é. A Filosofia indaga qual é a estrutura e 
quais são as relações que constituem uma coisa, uma ideia ou um valor;
Perguntar por que a coisa, a ideia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia pergunta 
pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma ideia, de um valor.
Ainda segundo Chaui (2000, p. 12), a reflexão filosófica organiza-se em tor-
no de três grandes conjuntos de perguntas ou questões:
1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que faze-
mos. Isto é, quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos, 
dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos?
2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, 
o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que 
pensamos, dizemos ou fazemos?
3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que faze-
mos? Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?
18 • capítulo 1
De acordo com Marilena Chauí (2000. p. 9) a atitude filosófica é, ao mesmo 
tempo, negativa e positiva. A primeira característica da atitude filosófica é ne-
gativa, por contrariar e rejeitar as formulações simplistas e com base no senso 
comum. A segunda característica da atitude filosófica é positiva, por implicar 
num questionamento sobre como as coisas são, “as ideias, os fatos, as situa-
ções, os comportamentos, os valores, nós mesmos”, assim como uma “interro-
gação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo 
isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são 
as indagações fundamentais da atitude filosófica” Mas tanto a atitude negativa 
quanto a atitude positiva da filosofia resulta numa atitude crítica e no pensa-
mento crítico. 
Atividade filosófica capta a Filosofia como análise (das condições da ciência, da reli-
gião, da arte, da moral), como reflexão (isto é, volta da consciência para si mesma para 
conhecer-se enquanto capacidade para o conhecimento, o sentimento e a ação) e 
como crítica (das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e prá-
ticas científicas, políticas e artísticas), essas três atividades (análise, reflexão e crítica) 
estando orientadas pela elaboração filosófica de significações gerais sobre a realidade 
e os seres humanos. Além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do funda-
mento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas indagando o que são, qual 
sua permanência e qual a necessidade interna que as transforma em outras. O que é o 
ser e o aparecer-desaparecer dos seres? (CHAUI, 2000, p. 16)
Ciência
Ciência significa saber, conhecimento. Em sentido amplo, podemos dizer que 
compreende um conjunto de conhecimentos que são adquiridos e sistematiza-
dos metodicamente. Mais precisamente, é a forma de conhecimento que além 
de buscar “apropriar-se do real para explicá-lo de modo racional e objetivo”, 
também “procura estabelecer entre fenômenos observados relações universais 
e necessárias, o que autoriza a previsãode resultados cujas causas podem ser 
detectadas mediante procedimentos de controle experimental” (JAPIASSÚ; 
MARCONDES, 2008, p. 44).
O conhecimento científico não resulta de simples convenções, como no caso 
do senso comum, mas de “relações objetivas que se descobrem gradualmente 
capítulo 1 • 19
e que se confirmam através de métodos de verificação definidos” (LALANDE, 
1999, p. 155). Trata-se de um conhecimento que é sistemático, metódico e que 
não é realizado de maneira espontânea, intuitiva, baseada na fé ou simples-
mente na lógica racional. Ele prevê, ainda, experimentação, validação e com-
provação daquilo a que chega a título de representação do real. Mediante as 
leis que formula, o conhecimento científico possibilita ao ser humano elaborar 
instrumentos os quais são utilizados para intervir na realidade e transformá-la 
para melhor ou para pior.
Uma teoria científica, por sua vez, consiste num “sistema ordenado e co-
erente de proposições ou enunciados baseados em um pequeno número de 
princípios, cuja finalidade é descrever, explicar e prever do modo mais com-
pleto possível um conjunto de fenômenos, oferecendo suas leis necessárias”. 
Ocorre assim que a “teoria científica permite que uma multiplicidade empírica 
de fatos aparentemente muito diferentes sejam compreendidos como seme-
lhantes e submetidos às mesmas leis; e, vice-versa, permite compreender por 
que fatos aparentemente semelhantes são diferentes e submetidos a leis dife-
rentes” (CHAUI, 2000, p. 320).
1.3 Senso comum versus Ciência 
Rubem Alves (1986, p.13), ao explicar os conceitos de ciência e senso comum, 
faz a seguinte observação: 
A aprendizagem da ciência é um processo de desenvolvimento progressivo do senso 
comum. Que é senso comum? Antes, devo informar ao leitor que a expressão senso 
comum não foi criada pelas pessoas de senso comum, mas por aqueles que se julgam 
acima do senso comum. Portanto senso comum é o conhecimento que não é cientí-
fico e as pessoas de senso comum são intelectualmente inferiores, ou, como muitos 
chamam, “leigos”. O que os cientistas talvez não saibam — ou melhor, eles sabem, mas 
fingem que não sabem —, é que a ciência é uma metamorfose do senso comum. Sem 
o senso comum, a ciência não pode existir. 
Para Alves (1986, p.21), o senso comum e a ciência são expressões da mes-
ma necessidade básica, a necessidade de compreender o mundo, a fim de viver 
20 • capítulo 1
melhor e sobreviver. De fato, na diferenciação entre os diferentes tipos de co-
nhecimentos que foram produzidos ao longo da história da humanidade, o 
senso comum aparece como a primeira forma de compreensão do mundo re-
sultante de experiências de um grupo, que foram acumuladas e transmitidas 
de gerações à gerações.
Cotrin (2002, p.46), afirma que os conceitos “nascem no cotidiano (senso 
comum) são apropriados pelo meio científico e tornam-se científicos o rompe-
rem com esse cotidiano, com esse senso comum”; contudo, “vasto conjunto de 
concepções geralmente aceitas como verdadeiras em determinado meio social 
recebe o nome de senso comum”. Para Santos, (2002, p. 56), a ciência moderna 
“construiu-se contra o senso comum”, considerando-o “superficial, ilusório e 
falso” e a ciência pós-moderna vem para reconhecer os valores (“virtualidades”) 
do senso comum que enriquecem a “nossa relação com o mundo”, ou seja, o 
senso comum também produz conhecimento, mesmo que ele seja um “conhe-
cimento mistificado e mistificador”. 
O senso comum se faz presente até mesmo na concepção que temos sobre 
o cientista. Quando pensamos no cientista ligeiramente vem em nossas men-
tes a figura de uma pessoa de branco, descabelada e meio confusa, em amplos 
laboratórios e etc., não é mesmo? Por que será que temos essa impressão dos 
cientistas? Contudo, não há como negar que relacionamos a figura do cientista 
ao conhecimento. Mas até que ponto a ciência é superior ao senso comum? 
Para Alves (1986, p.21), o “senso comum e a ciência são expressões da mesma 
necessidade básica, a necessidade de compreender o mundo, a fim de viver me-
lhor e sobreviver”. Não importam as diferenças que separam o senso comum 
da ciência: ambos estão em busca de ordem. Não se pode negar, por outro lado, 
que o senso comum e a ciência nos apresentam visões de ordem muito diferen-
tes uma da outra. 
Tratando-se especificamente do senso comum, podemos considerar como 
uma de suas características o fato de ser um conhecimento resultante das expe-
riências vividas no cotidiano, que abrangem diferentes aspectos da vida, como 
os costumes, tradições, éticas, normas e etc., e que visam oferecer aos homens 
elementos que possam dar alguma garantia para o viver bem na comunidade a 
qual pertencem.
Outra característica essencial do senso comum é que esse tipo de conhe-
cimento, por ser decorrente da tradição de um povo ou de uma cultura, não 
é datado e não tem autoria. Sua transmissão ocorre no cotidiano, de modo 
capítulo 1 • 21
espontâneo. O senso comum também pode ser visto em ditos populares como 
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”; “Onde há fumaça há fogo”; 
“A pressa é inimiga da perfeição”; “A união faz a força” e etc. 
1.4 Um breve histórico da Ciência
 
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Como temos discutido, o conhecimento humano, nas suas diferentes formas, 
é fruto das condições materiais do homem num determinado tempo histórico. 
Segundo Andery (2007, p. 13), assim como os demais tipos de conhecimento 
produzidos pelo homem, a ciência também é determinada pelas necessidades 
materiais dos homens.
A produção do conhecimento científico não é, pois, prerrogativa do homem 
contemporâneo. Quer nas primeiras formas de organização social, quer nas 
sociedades atuais, é possível identificar a constante tentativa do homem para 
compreender o mundo e a si mesmo; é possível identificar, também, como 
22 • capítulo 1
marca comum aos diferentes momentos do processo de construção do conhe-
cimento científico, a inter-relação entre as necessidades humanas e o conheci-
mento produzido; ao mesmo tempo em que atuam como geradoras de ideias 
e explicações, as necessidades humanas vão se transformando a partir, entre 
outros fatores, do conhecimento produzido.
Considerando assim que a humanidade construiu diferentes sentidos às 
coisas a fim de explicar sua existência, é certo que o conhecimento científico 
apresenta uma historicidade. Desta forma, faremos a seguir uma breve apre-
sentação da história da ciência, que certamente também perpassa na história 
da filosofia, uma vez que : 
1. À medida em que diversas correntes da filosofia se propuseram a entender e a expli-
car a realidade, os sistemas de saber foram se renovando, chamando atenção para as 
ciências técnicas, para a natureza e à experiência vivida. 
2. As ciências, por sua vez, tem sido um recurso dos filósofos para poder abalar os 
sistemas filosóficos estabelecidos (DUTRA, 2005). 
Vimos no começo do capítulo que a ciência iniciou seus trabalhos por vol-
ta do século V a.C., quando os filósofos pré-socráticos almejaram explicar ra-
cionalmente a natureza a partir dela própria, a partir da relação entre physis 
(natureza), arqué (elemento primordial), kosmos (ordem da natureza) e logos 
(pensamento). 
O modelo naturalista dos filósofos pré-socráticos entra em crise com o sur-
gimento da sofística4, que passou a defender uma visão relativa do mundo. A so-
fística também despertou dúvidas quanto à pretensão da filosofia de conhecer 
a verdade absoluta, favorecendo o surgimento do relativismo e do humanismo. 
Contra o movimento sofista, Sócrates contrapunha-se a todo tipo de relativis-mo e acreditava em valores e verdades permanentes. A visão dos sofistas sobre 
a possibilidade do conhecimento, assim como a visão de Sócrates sobre a ver-
dade, será retomada com mais profundidade no capítulo 2 do nosso material. 
4 GLOSSÁRIO: Sofística: “Denominação genérica do conjunto de doutrinas de filósofos contemporâneos de 
Sócrates e Platão, conhecidos como sofistas”. Se caracteriza sobretudo pelo “relativismo em relação à moral e ao 
conhecimento” (JAPIASSU; MARCONDES, 2008, p. 257)
capítulo 1 • 23
O fragmento mais importante que conhecemos do sofista Protágoras (490-421 a.C. 
aproximadamente) afirma que “o homem é a medida de todas as coisas, das que são e 
das que não são”. Protágoras valorizava as explicações do real a partir dos fenômenos 
e das circunstâncias, aproximado-se dos mobilistas e afastando-se dos monistas. O 
sofista Górgias (485-380 a.C. aproximadamente), por sua vez, defendeu a impossibili-
dade do conhecimento definitivo a partir das seguintes formulações: nada é; se é, não 
pode ser conhecido; e se é e é cognoscível, não pode ser comunicado, ou seja, tornado 
significativo para outra pessoa. De acordo com Kerferd (2003, p. 12), os seguintes 
temas prevaleceram nos ensinamentos dos sofistas: a necessidade de aceitar o relati-
vismo nos valores e noutras coisas, sem reduzir tudo ao subjetivismo; e a crença de que 
não há área da vida humana, ou do mundo como um todo, que seja imune à compreen-
são alcançada por meio de debate racional.
Já na Idade Média encontramos um cenário no qual a fé prevalece como 
verdade e fundamento de todo conhecimento. Pensadores cristãos como Santo 
Agostinho e São Tomás de Aquino se aproximaram das obras clássicas da filo-
sofia grega e selecionaram aspectos que diziam ser compatíveis com a religião 
cristã para explicar racionalmente a fé. Santo Agostinho privilegiou a metafísi-
ca platônica, especialmente seu dualismo entre mundo espiritual e material; 
São Tomás de Aquino, a lógica aristotélica e seus recursos demonstrativos e 
sistemáticos. 
Já no período da Modernidade ocorre a revolução científica que ficou co-
nhecida como “Revolução Copérnica”, resultante dos estudos de Nicolau 
Copérnico sobre a revolução dos corpos celestes em 1543. A tese central de 
Copérnico refutava a tese da Terra ser imóvel e ocupar lugar central no univer-
so. Baseando-se em cálculos matemáticos, Copérnico criou o modelo heliocên-
trico, em que defende a tese do Sol ser o centro e a Terra como um astro que gira 
ao redor do mesmo.
De acordo com Marcondes (2002, p. 150), a ciência moderna surge “quando 
se torna mais importante salvar os fenômenos e quando a observação, a experi-
mentação e a verificação de hipóteses tornam-se critérios decisivos, suplantan-
do o aspecto metafísico”. 
Ainda segundo o autor, a revolução científica que marca o surgimento da 
ciência moderna foi resultado de duas grandes transformações:
24 • capítulo 1
1) Do ponto de vista da cosmologia, a demonstração da validade do modelo helio-
cêntrico, empreendida por Galileu; a formulação da noção de um universo infinito, que 
se inicia com Nicolau de Cusa e Giordano Bruno; e a concepção dos corpos celestes, 
principalmente da Terra, em decorrência do modelo heliocêntrico; 2) do ponto de vis-
ta da ideia de ciência, a valorização da observação e do método experimental, isto é, 
uma ciência ativa que se opõe à ciência contemplativa dos antigos; e a utilização da 
matemática como linguagem da física, proposta por Galileu sob inspiração platônica e 
pitagórica e contrária à concepção aristotélica. (MARCONDES, 2002, p. 151)
Características do conhecimento científico
Como temos estudado neste capítulo, a ciência, assim como os demais tipos de 
conhecimentos, é resultado da relação do homem com sua existência material. 
E como a história da humanidade é marcada por diferentes transformações, o 
mesmo se deu com a ciência propriamente. 
A Ciência, segundo Bachelard (1996, p. 18), deve-se opor absolutamente à 
opinião, por esta traduzir necessidades em conhecimentos e designar os obje-
tos pela utilidade. Se o que se busca é o conhecimento científico, nada deve ser 
baseado na opinião; antes de tudo é preciso destruí-la, superá-la. Em todas as 
formas de racionalizações imprudentes, a resposta está muito mais presente e 
nítida do que a pergunta. Em primeiro lugar é preciso saber formular proble-
mas. Se não há perguntas não há conhecimento científico. 
O conhecimento científico pode ser definido assim como o “aperfeiçoa-
mento do conhecimento comum e ordinário obtido por meio de um procedi-
mento metódico, o qual mobiliza explicações rigorosas e ou plausíveis sobre o 
que se afirma sobre um objeto da realidade” (GALLIANO, 1979, p. 21).
CONEXÃO
Para saber mais sobre as técnicas de metodologia científica, leia:
MORAES, João Francisco Régis. Ciência e perspectivas antropológicas hoje. In: CARVALHO, 
Maria Cecilia. Construindo o saber: técnicas de metologia científica. 2ed. Campinas: Papirus, 
1998, p. 9596. 
capítulo 1 • 25
De acordo com Araújo (1998, p. 15), três fatores devem ser levados em consi-
deração na conceituação da ciência:
a) toda ciência se compõe de um conjunto de hipóteses e teorias resolvidas e a resolver; 
b) possui um objeto próprio de investigação que é um determinado setor da realidade 
recortado para fins de descrição e explicação; 
c) possui um método, sem o qual as tarefas acima seriam impraticáveis.
Entre as características do conhecimento científico, Barros e Lehfeld (2007, 
p. 47), destacam os seguintes aspectos:
1) O surgimento do conhecimento científico coincide com a preocupação do homem 
em compreender e exercer algum tipo de domínio e controle sobre a natureza e ou as 
condições de sua existência;
2) É um tipo de conhecimento que exige o emprego de métodos, processos, técnicas 
de análise que fazem desse tipo de conhecimento ser analítico, comunicável, verificável, 
organizado e sistemático. 
No quadro abaixo destacamos as características principais do conhecimen-
to científico de acordo com Chaui (2000, p. 317-318): 
OBJETIVO
Isto é, procura as estruturas universais e necessárias das 
coisas investigadas;
QUANTITATIVO
Isto é, busca medidas, padrões, critérios de comparação 
e avaliação para coisas que parecem ser diferentes. As-
sim, por exemplo, as diferenças de cor são explicadas por 
diferenças de um mesmo padrão ou critériode medida, 
o comprimento das ondas luminosas; as diferenças de 
intensidade dos sons, pelo comprimento das ondas sono-
ras; as diferenças de tamanho, pelas diferenças de pers-
pectiva e de ângulos de visão, etc.
26 • capítulo 1
HOMOGÊNEO
Isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos fenô-
menos, que são as mesmas para fatos que nos parecem 
diferentes. Por exemplo, a lei universal da gravitação de-
monstra que a queda de uma pedra e a flutuação de uma 
pluma obedecem à mesma lei de atração e repulsão no 
interior do campo gravitacional.
DIFERENCIADORES
Pois não reúnem nem generalizam por semelhanças apa-
rentes, mas distinguem os que parecem iguais, desde que 
obedeçam a estruturas diferentes.
ATIVIDADES
01. Com base na leitura do capítulo 1, defina o conceito de ciência. 
02. O que é senso comum?
03. Por que é correto afirmar que a ciência nasce nas discussões filosóficas dos pré-
socráticos?
REFLEXÃO
Neste capítulo, iniciamos uma análise sobre os primórdios da ciência mediante uma leitura de 
alguns aspectos da Filosofia Antiga. Vimos o quanto a ciência, assim como os demais tipos 
de conhecimento, é resultado das condições materiais humanas. Analisamos os diferentes 
tipos de conhecimento e refletimos sobre a relação da ciência com o senso comum. 
LEITURA
Para se aprofundarna discussão sobre a construção da ciência recomendamos a leitura:
 TARNAS, Richard. A epopeia do pensamento ocidental: para compreender as ideias que 
moldaram nossa visão do mundo. Tradução de Beatriz Sidou. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand 
Brasil, 2005. 
capítulo 1 • 27
Para entender mais sobre o pensamento filosófico e sua busca pela verdade leia: 
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: ED. Brasiliense, 
1986. 
ANDERY, Maria Amalia P. A. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: 
Garamond, 2007. 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 2006.
ARAÚJO, Inês Lacerda. Introdução à filosofia da ciência. 2ed. Curitiba: Ed. Da UFPRA, 1998. 
BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos da metodologia científica. São Paulo: Prentice 
Hall, 2007. 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2000.
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. 1. v. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 
COTRIM. Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 15. ed. São Paulo Saraiva, 
2002.
GALLIANO, A. G. (org). O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harper e Row, 1979. 
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 5. edição. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2008.
KERFERD, G. B. O movimento sofista. Tradução de Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2003.
LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. Tradução Fátima S. Correia, M. Emília V. 
Aguiar, J. Eduardo Torres e M. Gorete de Souza. 3. edição. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 13. ed. Porto : Afrontamento, 2002.
28 • capítulo 1
A Ciência: da 
Antiguidade à 
Revolução Científica 
pós Idade Média
2
30 • capítulo 2
Nesse capítulo discutiremos as principais questões da ciência na Antiguida-
de mediante os questionamentos levantados pelos filósofos da época. Depois 
passaremos para o período da Idade Media, destacando as mudanças e os 
conflitos daquele período que suscitaram a transição do modelo feudal para o 
capitalismo, por exemplo, e os fatores que desencadearam a Revolução cien-
tífica nos séculos XVI e XVII. 
OBJETIVOS
•  Conhecer o pensamento filosófico - científico na Grécia Antiga; 
•  Compreender o desenvolvimento da ciência na Idade Média e transição do feudalismo para 
o capitalismo; 
•  Identificar os fatores que possibilitaram a Revolução Científica nos séculos XVI e XVII.
capítulo 2 • 31
2.1 Filosofia e Ciência na Antiguidade
Sobre o surgimento da ciência, sabemos que os filósofos da antiguidade foram 
os primeiros a se interessarem pelo propósito da ciência, ou melhor, pela natu-
reza do conhecimento científico e o que determina sua verdade ou erro. 
Entre as condições que favoreceram o surgimento do pensamento filosófi-
co-científico na Grécia Antiga, Chaui (2002) destaca, sobretudo, o aspecto da 
filosofia como uma visão ordenada do mundo. Os gregos instituíram a política 
e passaram a organizar as cidades a partir de leis e instituições públicas, cujas 
decisões eram tomadas por meio de debates, votos em assembleias que preser-
vavam a ideia de justiça, de coletividade e de cidadão. Esse momento é marcado 
na história do pensamento como sendo a passagem do pensamento mítico-re-
ligioso para um pensamento que se estrutura a partir da razão.
O pensamento filosófico foi despertado pela busca de uma explicação racio-
nal dos fenômenos naturais: a relação entre physis (natureza), arqué (elemento 
primordial), kosmos (ordem da natureza) e logos (pensamento). Os primeiros 
filósofos que se empenharam nessa busca foram os pré-socráticos, que viam na 
natureza a explicação da realidade. 
Os historiadores da filosofia grega costumam distinguir quatro grandes 
tendências ou escolas no período pré-socrático:
ESCOLA JÔNICA 
(ÁSIA MENOR)
cujos principais representantes são Tales de Mileto, Ana-
ximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto e Heráclito de 
Éfeso;
ESCOLA 
PITAGÓRICA OU 
ITÁLICA
que tem como um de seus principais representantes Pitá-
goras de Samos;
ESCOLA ELEATA
cujos representantes são Xenófanes, Parmênides e Zenão 
de Eléia;
ESCOLA 
ATOMISTA
que tem como representantes Leucipo e Demócrito de Abdera. 
32 • capítulo 2
Apresentaremos a seguir um quadro geral dos filósofos pré-socráticos – os 
estudiosos da natureza – e de suas principais ideias, procurando destacar a im-
portância desse movimento para o desenvolvimento da filosofia antiga. 
PRÉ-SOCRÁTICO PRINCIPAL TESE
TALES DE MILETO 
(623-543 A.C. 
APROXIMADAMENTE)
Tales fez algumas descobertas astronômicas, 
como a previsão do eclipse solar e a identifica-
ção da constelação da Ursa Menor. Em busca 
da arqué, Tales afirmou ser a água o princípio de 
todo o universo, por considerá-la um elemento 
natural diretamente vinculado à vida.
ANAXIMANDRO DE MILETO 
(610-547 A.C.)
Defendeu o pensamento como principal meio 
de explicação do mundo e apresentou o ápeiron 
como o elemento primordial da natureza: o que 
é sem fim, imenso, ilimitado, infinito e indetermi-
nado. Nesse aspecto, a physis não poderia ser 
nenhum dos elementos materiais percebidos e 
definidos na natureza.
ANAXÍMENES DE MILETO 
(588-524 A.C.)
Considerou o ar o elemento essencial da natu-
reza, uma vez que é incorpóreo e se encontra 
em toda parte do mundo.
PITÁGORAS DE SAMOS 
(570-490 A.C.)
Afirmou que o princípio de tudo é o número, por 
considerar que as coisas são ritmos, proporções, 
relações, somas, subtrações, combinações e 
dissociações ordenadas e reguladas
capítulo 2 • 33
PRÉ-SOCRÁTICO PRINCIPAL TESE
 HERÁCLITO DE ÉFESO 
(500 A.C. 
APROXIMADAMENTE)
É considerado o principal representante do mo-
bilismo, concepção segundo a qual a realidade 
natural se caracteriza pelo movimento. O caráter 
dinâmico da realidade é simbolizado pelo fogo, 
concebido por Heráclito como o elemento pri-
mordial da natureza. O fragmento mais conhe-
cido de Heráclito é o que diz que “não podemos 
entrar duas vezes no mesmo rio, porque suas 
águas não são nunca as mesmas e nós não 
somos nunca os mesmos”. Esse fragmento ex-
pressa a ideia defendida por Heráclito de que a 
principal característica do mundo é a mudança 
contínua de todas as coisas.
DEMÓCRITO DE ABDERA 
(490-430 A.C.)
Sustentou que a realidade consiste em átomos 
e no vazio: os átomos se atraem e se repelem, 
gerando com isso os fenômenos naturais e o 
movimento.
DEMÓCRITO DE ABDERA 
(490-430 A.C.)
PARMÊNIDES 
(570-470 A.C.)
Afirmou que a realidade consiste no ser imóvel, 
imutável, uno, indivisível e pleno.
CONEXÃO
Para saber mais sobre as oposições entre os pré-socráticos, leia: 
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 
2002. p. 38. 
34 • capítulo 2
E para saber mais sobre as proposições dos principais pré-socráticos, leia o item “Herá-
clito, Parmênides e Demócrito” do capítulo 4 do livro: CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 
São Paulo: Atica, 2000.
Entre os principais conflitos do período pré-socrático, os estudiosos destacam a con-
trovérsia entre dois representantes da Escola Jônica: Heráclito e Parmênides; o primei-
ro defensor do mobilismo e o segundo do monismo. Enquanto Parmênides defendia a 
doutrina de uma realidade única, Heráclito e os mobilistas afirmavam ser o movimento a 
característica da realidade natural. Entre os fragmentos mais conhecidos de Heráclitoé 
o qual o filósofo afirma que não podemos “banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque 
o rio não é mais o mesmo” (MARCONDES, 2002, p. 35).
Com o desenvolvimento das cidades estados (polis) no século V a.C., o mo-
delo explicativo dos pré-socráticos dá espaço para o surgimento do movimento 
sofista. Os sofistas surgiram num período em que a filosofia deixou de se ocu-
par unicamente com explicações da natureza e passou a analisar temas da po-
lítica, da ética e da teoria do conhecimento. Muito do que sabemos dos sofistas 
foi relatado por Platão, que os definiu como falsificadores da filosofia. De um 
modo geral, as acusações de Platão dirigidas aos sofistas reduziam-se a duas: 
que não eram pensadores sérios e não tinham papel nenhum na história da 
filosofia, e que seus ensinamentos eram profundamente imorais.
O profissionalismo dos sofistas, na segunda metade do século V a.C. distin-
guia-os de seus predecessores. O que mais desagradava seus opositores espe-
cialmente Platão, 
[...] não era o fato de cobrarem honorários, mas por venderem instrução em sabedoria 
e virtude. Essas não eram da espécie de coisas a ser vendidas por dinheiro; amizade e 
gratidão deveriam ser recompensa suficiente. O que realmente incomodava nos sofis-
tas, sob esse aspecto, é que eles vendiam sabedoria a todos os que se apresentassem, 
sem discriminação, e por cobrarem honorários, destituíam-se do direito de escolher 
seus alunos. (KERFERD, 2003, p. 46)
capítulo 2 • 35
Desde o final do século XIX, segundo observa Chaui (2002), os historiadores 
da filosofia antiga passaram a considerar os sofistas os fundadores da pedago-
gia democrática, mestres da arte da educação do cidadão. A natureza e a finali-
dade da educação, o papel do professor na sociedade, o que e como ensinar já 
eram problemas formulados e discutidos pelos sofistas, cuja reflexão incluía 
discussões sobre a teoria do conhecimento e da percepção e sobre a natureza 
da verdade, criando uma sociologia do conhecimento dirigida a problemas teó-
ricos e práticos da vida em sociedade. Entre os principais sofistas encontramos: 
Hípias, Pródico, Eutidemo, Protágoras e Górgias.
O movimento sofista surgiu no momento de transição da tirania e da oli-
garquia para a democracia, forma de governo que evocava a igualdade de leis 
para todos e a extinção dos privilégios aristocráticos. Mestres da oratória, os 
sofistas ensinavam a arte de argumentar e persuadir pelo discurso, ou seja, téc-
nicas para argumentar e tornar efetivo um discurso diante de opiniões contra-
ditórias, habilidades necessárias para a participação na vida política. Também 
investigavam temas relativos à ação do homem em sociedade (moral e ética), 
ensinando o caminho da areté, palavra que, na filosofia antiga, indica um con-
junto de valores (físicos, morais, éticos, políticos) que expressa um ideal de ex-
celência e de valor humano para os membros da sociedade.
De fato, o que ensinavam os sofistas? A arte de argumentar e persuadir, decisiva para 
quem exerce a cidadania numa democracia direta, em que as discussões e decisões 
são feitas em público e nas quais vence quem melhor souber persuadir os demais, 
sendo hábil, jeitoso, astuto na argumentação em favor de sua opinião e contra a do ad-
versário. Se a nova areté é a cidadania e se a educação visa à formação do cidadão vir-
tuoso ou excelente, os sofistas de apresentavam como professores de areté ou, como 
ficaram conhecidos na tradição, como professores da virtude. (CHAUI, 2002, p. 162)
De acordo com Kerferd (2003, p. 12), os seguintes temas prevaleceram nos 
ensinamentos dos sofistas: 
•  a necessidade de aceitar o relativismo nos valores e noutras coisas, sem 
reduzir tudo ao subjetivismo;
•  a crença de que não há área da vida humana, ou do mundo como um todo, 
que seja imune à compreensão alcançada por meio de debate racional. 
36 • capítulo 2
Kerferd (2003, p. 10) também retrata alguns problemas formulados e discu-
tidos pelos sofistas no seu ensino: 
•  problemas filosóficos na teoria do conhecimento e da percepção- em que 
grau as percepções sensíveis devem ser consideradas infalíveis e incorrigíveis, 
e os problemas decorrentes neste caso; 
•  a natureza da verdade, a relação entre o que parece e o que é real ou 
verdadeiro;
•  a relação entre linguagem, pensamento e realidade; 
•  sociologia do conhecimento, que reclama por investigação-história da 
cultura humana;
•  problemas teóricos e práticos da vida em sociedade-justiça, atitude e ética;
•  natureza e finalidade da educação e o papel do professor na sociedade- o 
quê e como ensinar?
Como consequência de todos estes aspectos, destaca Kerferd (2003, p. 12) 
temos dois temas dominantes: "a necessidade de aceitar o relativismo nos valo-
res e noutras coisas, sem reduzir tudo ao subjetivismo, e a crença de que não há 
área da vida humana, ou do mundo como um todo, que seja imune à compre-
ensão alcançada por meio de debate racional".
 
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capítulo 2 • 37
O pensamento de Sócrates (469-399 a.C.) marca o nascimento da filosofia 
clássica, desenvolvida por Platão e Aristóteles. Tudo que sabemos a seu respei-
to foi divulgado por Platão, seu principal discípulo, especialmente a partir dos 
diálogos socráticos, nos quais Sócrates é o personagem central e defensor de 
suas próprias ideias. 
Para Sócrates, os homens precisavam reconhecer que tinham conheci-
mentos errôneos, inclusive de si mesmos. Acreditava que essa era uma tarefa 
difícil, mas fundamental. Mostrar-lhes tal ignorância também era sua tarefa. 
A partir desse passo, o conhecimento de si (e daquilo que importava os uni-
versais) era possível e indispensável porque os homens, possuidores de uma 
alma indissociável de seu corpo, aspiravam ao Bem, e só não eram capazes de 
conhecê-lo e praticá-lo por causa de sua ignorância. O homem-suas virtudes, 
seu comportamento e seu conhecimento- era o centro, portanto, das preocu-
pações de Sócrates. (ANDERY; MICHILETTO, 2007, p. 61-62)
Sócrates contraria a visão dos sofistas por defender a necessidade do “co-
nhecimento de uma verdade única sobre a natureza das coisas, afastando-se 
das opiniões e buscando a definição das coisas” (MARCONDES, 2002, p.49). 
Mais especificamente, a crítica de Sócrates aos sofistas consiste em mostrar 
que o ensinamento sofístico limita-se a uma mera técnica ou habilidade argu-
mentativa que visa convencer o oponente daquilo que diz, mas que não leva ao 
verdadeiro conhecimento. 
A consequência disso era que, devido à influência dos sofistas, as decisões polí-
ticas na Assembleia estavam sendo tomadas não com base em um saber, ou na 
posição dos mais sábios, mas na dos mais hábeis em retórica, que poderiam não ser 
os mais sábios ou virtuosos. Os sofistas não ensinavam portanto o caminho para o 
conhecimento, para a verdade única que resultaria desse conhecimento, mas para 
a obtenção de uma verdade consensual, resultado da persuasão. É essa oposição 
que marca, segundo Sócrates, a diferença entre a filosofia e a sofistica, e que 
permite com que Platão e Aristóteles considerem os sofistas como não-filósofos”. 
(MARCONDES, 2002, p. 48)
38 • capítulo 2
O quadro a seguir mostra as principais características dos ensinamentos 
dos sofistas e de Sócrates:
ENSINAMENTOS SOFISTAS ENSINAMENTOS SOCRÁTICOS
•  Professores  de  técnicas  que  preten-
dem ensinar estratégias de argumenta-
ção e conhecimentos que julgam neces-
sário ao convívio social da polis;
•  Ensinavam  que  cada  homem  tem um 
modo próprio de ver e de conhecer as 
coisas, do que resultava a tese de que 
não pode existir uma verdadeiraciência 
objetiva e universalmente válida.”
•  Valorizavam  o  ensino  da  retórica  e  a 
arte de argumentar, por considerarem 
conhecimentos indispensáveis à for-
mação dos indivíduos. Acreditavam que 
o sucesso de um homem era devido à 
sua capacidade de convencer o outro de 
seus argumentos.
•  Ensina  o  diálogo,  o  questionamento, 
como forma de buscar a verdade;
• O método educativo e filosófico de Só-
crates tem como fundamento a maiêuti-
ca, um procedimento dialético que envol-
ve um questionamento de senso comum 
e que objetiva revelar a fragilidade do 
entendimento humano sobre as coisas, 
mas sem deixar de apontar a possibili-
dade de se aperfeiçoarem as ideias me-
diante a reflexão.
Resumindo, de acordo com Chaui (2000, p. 46), a diferença entre os sofistas, 
de um lado, e Sócrates e Platão, de outro, 
[...] é dada pelo fato de que os sofistas aceitam a validade das opiniões e das percep-
ções sensoriais e trabalham com elas para produzir argumentos de persuasão, enquan-
to Sócrates e Platão consideram as opiniões e as percepções sensoriais, ou imagens 
das coisas, como fonte de erro, mentira e falsidade, formas imperfeitas do conhecimen-
to que nunca alcançam a verdade plena da realidade. 
capítulo 2 • 39
Platão, discípulo de Sócrates, foi um filósofo do período clássico da 
Grécia Antiga e fundador da Academia em Atenas. Juntamente com Sócrates 
e Aristóteles, construiu as bases da Filosofia Ocidental, procurando en-
frentar temas no campo da ética, da política, da metafisica e da teoria do 
conhecimento.
A teoria platônica sobre a natureza dos conceitos envolve, ao mesmo tem-
po, o “abandono” do mundo sensível e a busca do mundo das ideias: Platão 
supôs que temos um conhecimento prévio que a alma traz consigo desde o 
seu nascimento e que resulta da contemplação das formas, as essências das 
coisas, às quais contemplou no mundo das ideias antes de encarnar no corpo 
material. No mundo sensível, a alma tem uma visão obscurecida das formas, 
e o papel do filósofo é fazer despertar esse conhecimento esquecido. É impor-
tante observar que, em Platão, a tarefa da filosofia é essencialmente teórica, 
contemplativa e dirigida para uma realidade abstrata e ideal.
No mundo sensível, o homem conheceria as imagens emanadas os obje-
tos pelas sombras, pelos reflexos na água e pela suferfície, nessa ordem, gra-
ças a sua capacidade visual e ao sol que incide sobre eles, permitindo que 
sejam representados. O segundo nível do conhecimento, no mundo sensível, 
estaria relacionado aos objetos que circundam o homem, sendo percebidos 
por ele à medida que se apresentam aos sentidos e podendo ser representa-
dos na forma de crenças, isto é, pela confiança depositada nas sensações e 
na percepção. “No mundo inteligível, os osbjetos do conhecimento científico 
seriam de outra natureza. Eles não seriam vistos pelos olhos nem percebidos 
pelos sentidos, mas seriam apreendidos pelo pensamento como coisas em 
si mesmas, independentes das sensaçoes e percepções humanas” (PAGNI; 
SILVA, 2007, p. 48).
A teoria de dois mundos é defendia por Platão no texto que ficou conhecido como mito 
da caverna. Vejamos agora a explicação de Chaui (2000, p. 47-48) sobre a teoria da 
caverna de Platão: 
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, 
seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados 
de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas 
para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada
40 • capítulo 2
da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na se-
mi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que ali entra provém de uma 
imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há 
um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a 
parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens 
transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas 
as coisas. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros 
enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, 
mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. 
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são 
as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que 
são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da 
caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no 
exterior e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna.
Aristóteles desenvolveu seu sistema filosófico a partir de uma crítica à teo-
ria das ideias de Platão. Ao contrário de Platão, o processo do conhecimento, 
segundo Aristóteles, se inicia com os sentidos ou sensações. “Enquanto Platão 
considerava os sentidos pouco confiáveis, proporcionando apenas uma ‘visão 
de sobras’, Aristóteles os vê como ponto de partida do processo de conheci-
mento e indispensáveis para esse processo” (MARCONDES, 2002, p, 80). A me-
mória é necessária para retermos os dados sensíveis e para que o processo de 
conhecimento prossiga. Com os dados que recebemos dos sentidos, os quais 
guardamos na memória, constituímos a experiência. A experiência é quem 
proporciona os elementos de que precisamos para adquirir a arte e a ciência. 
O objetivo próprio da tékhne é descobrir o porquê das coisas, isto é, as suas 
causas; é o nível em que temos a possibilidade de ensinar, explica Marcondes 
(2002, p. 81), “já que o ensinamento envolve a determinação de regras e de 
relações causais, que transmitimos quando ensinamos”. Ciência é o conheci-
mento sistematizado dos conceitos e princípios que regulam as leis da nature-
za. A última etapa do conhecimento é a sabedoria, o conhecimento das causas 
primeiras e universais: a metafísica1. 
1 Metafísica é definida como a “filosofia primeira”, que examina os princípios e as causas primeiras das coisas 
(JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008, p. 185).
capítulo 2 • 41
O esquema abaixo representa o processo de conhecimento segundo
Sensação Memória Experiência Arte Teoria/Ciência
Aristóteles:
De acordo com Berti (2002, p.4), sãos duas as características da ciência que 
resultam da definição aristotélica: 1) o conhecimento da causa, que deve ser 
entendida como a explicação de um fato, de um comportamento ou de uma 
propriedade (para Aristóteles há quatro tipos de causa-material, formal, moto-
ra e final-, todas suscetíveis de ser objeto de ciência); 2) a necessidade de suas 
conclusões, isto é, a impossibilidade de que, quando se tem ciência de um certo 
estado de coisas, as coisas sejam diversamente de como se sabe que são. Na 
visão de Aristóteles, “ter ciência, isto é, saber, significa, em suma, conhecer não 
somente o ‘quê’, mas também o ‘porquê’ de certo estado de coisas, e saber que 
não é um simples estado de fato, mas uma verdadeira necessidade”. 
2.2 Ciência na Idade Média
A filosofia medieval corresponde ao período que vai do final do helenismo (séc.
VII) até o Renascimento (final do séc. XIV). Com a queda do Império Romano 
(séc.V), já então cristão, e as invasões dos bárbaros pagãos, a Igreja viu na con-
ciliação do conhecimento greco-romano com as doutrinas cristãs um caminho 
oportuno para combater as diversas formas de ceticismo.
A crise do império romano foi acompanhada pelo crescimento e força da 
igreja. O cristianismo surgiu com questionamentos às ideias e valores da so-
ciedade escravista e divulgação das bases cristãs, implantandouma sensação 
de segurança e proteção que a população necessitava, especialmente para os 
adeptos que davam terras e pregavam tributos para adquiri-la. 
O período da Idade Média pode ser dividido em dois períodos. O primeiro 
deles, conhecido como Alta Idade Média, se inicia depois das invasões bárbara 
e se encerra por volta do Ano Mil; recebe esse nome por se agregar “em torno do 
modelo da sociedade feudal, marcada por uma atitude defensiva, por proble-
mas de sobrevivência”. O outro período, conhecido como Baixa Idade Média, se 
42 • capítulo 2
iniciou a partir do Ano Mil e ficou conhecido pelo “despertar das cidades e do 
comércio, das ciências e das artes, pelas lutas sociais e religiosas, pela consti-
tuição de Estados nacionais e etc” (CAMBI, 1999, p.149). Especialmente na 
Baixa Idade Média, ocorre o nascimento da burguesia, implicando uma “re-
volução” cultural e econômica que despertou o fortalecimento da nova clas-
se social “fortemente individualista e autônoma, atenta à produção de bens e 
ao incremento da riqueza que é reinvestida-capitalisticamente- na produção” 
(CAMBI, 1999, p.151). 
No sistema feudalista, a terra é “governada por um senhor que age dentro 
dele como fonte de direito, que se empenha na sua defesa militar, que impõe 
aos habitantes do feudo a obrigação à fidelidade e à submissão, em troca de 
proteção”. A economia do feudo é, em geral, “de subsistência, produzindo e 
consumindo as mercadorias de que tem necessidade, reduzindo ao mínimo o 
intercâmbio e apresentando-se predominantemente agrícola” (CAMBI, 1999, 
p. 155). O nascimento do feudalismo resultou assim de um processo de “despo-
voamento das idades e o deslocamento do centro as vida social para o campo”
Com o renascimento urbano do século XI, as condições da sociedade feudal 
passam por algumas mudanças, como a intensificação do comércio, o cresci-
mento das cidades e da população. Um ponto chave dessa transformação ocor-
re justamente com a mudança do valor de uso para o chamado valor de troca, 
resultando sobretudo no desenvolvimento do comércio e a divisão entre pro-
dutores-mercadores. Tal revolução econômica, “acaba com o modelo feudal”- 
ligado a um sistema econômico fechado, baseado na agricultura, desencadean-
do “uma economia de intercâmbio, baseada na mercadoria e no dinheiro, na 
capitalização, no investimento, na produtividade”. Esse modelo, no entanto, 
implicava
[...] uma racionalização dos recursos (financeiros e humanos) e um cálculo do lucro 
como regra do crescimento econômico. Nasce o sistema capitalista, e nasce indepen-
dente de princípios éticos, de justiça e de solidariedade, para caracterizar-se, ao contrá-
rio, pelo puro cálculo econômico e pela exploração de todo recurso (natural, humano, 
técnico). (CAMBI, 1999, p, 197)
capítulo 2 • 43
A formação e a consolidação da classe burguesa promoveu “o novo processo 
econômico (capitalista)”, delineando uma “nova concepção do mundo (laica e 
racionalista) e novas relações de poder (opondo-se à aristocracia feudal e alian-
do-se à coroa, depois entrando em conflito aberto com seu modelo de Estado-
patrimonial e de exercício absoluto do poder)” (CAMBI, 1999, p.197).
O processo de transição do sistema feudal para o sistema capitalista (séc. 
XV ao XVII), ocorreu mediante diversos conflitos e mudanças, como a forma-
ção dos Estados Nacionais unificados pelo regime da monarquia absolutista; o 
desenvolvimento das grandes navegações e a implantação do sistema colonial 
e escravocrata nas colônias portuguesas e espanholas e etc.
2.3 A Revolução Científica nos 
séculos XVI e XVII
É nos séculos XVI e XVII que ocorre a chamada Revolução científica, que tornou 
“mais importante salvar os fenômenos” mediante a “observação, a experimen-
tação e a verificação de hipóteses” (MARCONDES, 2002, p. 150). No entanto, 
dois movimentos nesse mesmo período influenciaram decisivamente a manei-
ra do homem em se posicionar em relação ao conhecimento: o Renascimento 
e a Reforma Protestante. 
 
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44 • capítulo 2
O período do humanismo inicia-se no século XV com a ideia “renascentista 
da dignidade do homem como centro do Universo”, prosseguindo nos séculos 
XVI e XVII com o “estudo do homem como agente moral, político e técnico-ar-
tístico, destinado a dominar e controlar a Natureza e a sociedade, chegando ao 
século XVIII, quando surge a ideia de civilização, isto é, do homem como razão 
que se aperfeiçoa e progride temporalmente através das instituições sociais e 
políticas e do desenvolvimento das artes, das técnicas e dos ofícios” (CHAUI, 
2000, p. 347). 
O humanismo renascentista foi um movimento que valorizava as artes plás-
ticas com base numa retomada do ideal clássico greco-romano, em oposição à 
escolástica medieval. Entre as principais características desse movimento te-
mos a valorização do homem como um indivíduo e sua livre iniciativa e criativi-
dade. “O humanismo não separa homem e Natureza, mas considera o homem 
um ser natural diferente dos demais, manifestando essa diferença como ser 
racional e livre, agente ético, político, técnico e artístico” (CHAUI, 2000, p. 347).
O séc. XVI é marcado pela Reforma Protestante, movimento que criticava 
a autoridade da Igreja sob a justificativa de todos homens seriam capazes in-
terpretarem as Escrituras Sagradas. Liderada por Martinho Lutero (1483- 1546), 
teólogo e reformador alemão, a Reforma foi um movimento que contestou a au-
toridade exercida pela Igreja Católica desde os últimos séculos da Idade Média. 
Contra a autoridade da Igreja, Lutero foi um defensor da ideia de que qualquer 
indivíduo, mediante sua fé, era capaz de compreender as mensagens dos textos 
bíblicos, não necessitando da intermediação da Igreja. Para os reformadores, a 
verdadeira cristandade advinha unicamente da fé nas Escrituras.
A ruptura provocada pela Reforma é um dos fatores propulsores da modernidade. A 
defesa da ideia de que a fé é suficiente para que o indivíduo compreenda a mensagem 
divina nos textos sagrados, a assim chamada ‘regra da fé’- não necessitando da inter-
mediação da Igreja, dos teólogos, da doutrina dos concílios-, representa na verdade a 
defesa do individualismo contra a autoridade externa, contra o saber adquirido, contra as 
instituições tradicionais, todos colocados sob suspeita” (MARCONDES, 2002, p. 147). 
Do ponto de vista filosófico, a Reforma se apresentava como representan-
te da defesa da liberdade individual e da “consciência como lugar da certeza, 
sendo o indivíduo capaz pela sua luz natural de chegar à verdade (em questões 
capítulo 2 • 45
religiosas) e contestar a autoridade institucional e o saber tradicional, posições 
que se generalizarão além do campo religioso e serão fundamentais no desen-
volvimento do pensamento moderno” (MARCONDES, 2002, p. 148).
A Revolução Científica tornou o conhecimento mais estruturado e mais prá-
tico, absorvendo o empirismo como mecanismo para se consolidar as consta-
tações. Esse período marcou uma ruptura com as práticas ditas científicas da 
Idade Média, fase em que a Igreja Católica ditava o conhecimento de acordo 
com os preceitos religiosos. 
O humanismo renascentista havia colocado o homem no centro de suas preocupações 
éticas, estéticas, políticas. A Reforma protestante valorizara o individualismo e o espírito 
crítico, bem como a discussão de questões éticas e religiosas. A revolução científica 
pode ser considerada uma grande realização do espírito crítico humano, com sua for-
mulação de hipóteses ousadas e inovadoras e com sua busca de alternativas para a 
explicação científica; porém, ao tirar a Terra do centro do universo e ao trazer parao 
primeiro plano a ciência da natureza, se fasta dos temas centrais do humanismo e da 
Reforma, sofrendo em muitos casos a condenação tanto de protestantes quanto de ca-
tólicos. O homem deixa de ser o microcosmo que reflete em si a grandeza e a harmonia 
do macrocosmo, as novas teorias dissociando radicalmente a natureza do universo da 
natureza humana. (MARCONDES, 2002, p. 153).
Como veremos na sequência de nossos estudos, a revolução científica mo-
derna teve seu ponto de partida na obra de Nicolau Copérnico, Sobre a revolução 
dos orbes celestes (1543). O sistema heliocêntrico2 defendido por Copérnico 
consiste num dos fatores de ruptura mais marcantes no início as modernidade, 
“uma vez que ia contra uma teoria estabelecida há praticamente vinte séculos, 
constitutiva da própria maneira pela qual o homem antigo e medieval via a si 
mesmo e ao mundo a que pertencia” (MARCONDES, 2001, p. 149). Os estudos 
de Copérnico foram demonstrados fisicamente no século XVII, quando Galileu 
Galilei (1564-1642), com seu telescópio, comprovou a teoria heliocêntrica e a 
mutabilidade dos corpos celestes. 
2 Heliocêntrico: modelo de cosmo em que o Sol é o centro (sistema heliocêntrico) e a Terra apenas mais um astro 
girando em torno do Sol” (MARCONDES, 2002, p 149).
46 • capítulo 2
De acordo com Chaui (2000, p. 95-96), a revolução copernicana demonstrou 
que o sistema geocêntrico era falso e que:
1. O mundo não é finito, mas é um Universo infinito;
2. Os astros não estão presos em esferas, mas fazem um movimento 
(como demonstrará Kepler, depois de Copérnico), cuja forma é a de uma elipse;
3. O centro do Universo não é a Terra;
4. O Sol (como já fora demonstrado por outros astrônomos) não é um pla-
neta, mas uma estrela, e a Terra, como os outros planetas, gira ao redor dele;
5. O próprio Sol também se move, mas não em volta da Terra.
Fique atento aos apontamentos de Marcondes (2002) sobre as transformações que 
possibilitaram o surgimento da ciência moderna, tema que discutiremos com mais pro-
fundidade no próximo capítulo:
Quadro sinótico
Conceito de modernidade: ruptura com a tradição, oposição entre o antigo e o novo, 
valorização do novo, ideal de progresso, ênfase na individualidade, rejeição da autori-
dade institucional.
Principais causas: Grandes transformações no mundo europeu dos séculos XV-XVI 
como a descoberta do Novo Mundo (Américas); surgimento de importantes núcleos 
urbanos em algumas regiões, principalmente na Itália (Florença); desenvolvimento de 
atividade econômica, sobretudo mercantil e industrial.
Humanismo renascentista: importância das artes plásticas, retomada do ideal greco
-romano em oposição à escolástica medieval, valorização do homem enquanto indiví-
duo, de sua livre iniciativa e de sua criatividade.
Reforma protestante: crítica à autoridade institucional da Igreja, valorização da interpre 
tação da mensagem divina nas Escrituras pelo indivíduo, ênfase na fé como experiência 
individual.
Revolução científica: rejeição do modelo geocêntrico do cosmo e sua substituição 
pelo modelo heliocêntrico, noção de espaço infinito, visão da natureza como possuindo 
uma ‘linguagem matemática’, ciência ativa x ciência contemplativa antiga.
Redescoberta do ceticismo: a oposição entre o antigo e o moderno suscita a proble-
mática cética do conflito das teorias e a ausência do critério conclusivo para a decisão 
sobre a validade destas teorias.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002
capítulo 2 • 47
ATIVIDADES
01. O que desencadeou o processo de transição do sistema feudal para o capitalismo no 
decorrer da Idade média?
02. Por que a descoberta de Copérnico sobre o movimento da Terra é vista como um marco 
na Revolução Científica?
REFLEXÃO
Nessa aula analisamos o nascimento da ciência na Grécia Antiga e sua relação com os 
filósofos da época. Também analisamos o desenvolvimento da Ciência na Idade Média e 
no período de transição do feudalismo para o capitalismo e analisamos alguns fatores que 
possibilitaram o nascimento da ciência moderna. 
LEITURA
Para saber mais sobre as principais formulações filosóficas na Idade média, leia: 
RUBANO, Denize. MOROZ, Melania. A fé como limite da razão: Europa Medieval. IN: In: 
ANDERY, Maria Amália. Para compreender a Ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Ja-
neiro: Garamond, 2007, p. 61-62. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERY, Maria Amália; MICHELETTO, Nilza; SÈRIO, Tereza Maria P. O mundo tem uma 
racionalidade, o conhecimento depende dele. In: ANDERY, Maria Amália. Para compreender a 
Ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
BERTI, Enrico. As razões de Aristóteles. Tradução Dion Davi Macedo. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Trad. Álvaro Lorencini. São Paulo: Fundação Editora da 
UNESP (FEU), 1999. 
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. 1. v. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 5. edição. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2008.
48 • capítulo 2
KERFERD, G. B. O movimento sofista. Tradução de Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2003.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José. O desejo de sabedoria e a paideia justa em Platão. 
In: PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José (Org.). Introdução à filosofia da educação: temas 
contemporâneos e história. São Paulo: Avercamp, 2007. 
O Desenvolvimento 
da Ciência Moderna
3
50 • capítulo 3
Neste capítulo, aprofundaremos nossa análise sobre o nascimento e o desen-
volvimento da ciência moderna, destacando seus principais expoentes e re-
presentantes de diferentes vertentes epistemológicas. 
OBJETIVOS
•  Conhecer o nascimento da ciência moderna (séc. XVII), destacando as contribuições de 
Nicolau Copérnico e Galileu Galilei para o desenvolvimento da Ciência Moderna;
•  Conhecer o desenvolvimento do conhecimento científico (séc. XVII ao séc. XX), diferen-
ciando o racionalismo cartesiano do empirismo inglês;
•  Entender o movimento do iluminismo e a contribuição de Imannuel Kant no século XVIII e 
filosofia da ciência de Popper no século XX. 
capítulo 3 • 51
3.1 O desenvolvimento da Ciência moderna
A história da ciência é resultado de uma série de fatores históricos e sociais, 
assim como de rupturas epistemológicas decorrentes das necessidades identi-
ficadas pelo sujeito do conhecimento acerca do objeto a ser conhecido. Entre 
esses fatores destaca-se a recuperação de “textos matemáticos da Grécia Anti-
ga por eruditos humanistas que forneceram novos meios para a formulação de 
exigências quanto à unidade da matemática, sua utilidade e sua certeza como 
meio de estabelecer a verdade” (HENRY, 1998, p. 23). 
Outros fatores contribuíram para a formação do pensamento moderno, 
como a descoberta do Novo Mundo (1492), o desenvolvimento do mercantilis-
mo como novo modelo econômico que supera progressivamente a economia 
feudal, e o surgimento e a consolidação dos Estados nacionais (Espanha e 
Portugal, Países Baixos, Inglaterra e França), que substituem o modelo político 
do feudalismo (MARCONDES, 2002). A revolução científica gerou um conjunto 
de discussões no campo da filosofia e da ciência em torno da validade e con-
quista do conhecimento. As seguintes questões expressam o ideal da filosofia 
moderna em todo seu período (séc. XVII-séc. XIX): 
•  Como chegar ao conhecimento?
•  Como chegar à verdade?
•  Como é possível o conhecimento: por meio da razão ou da experiência?
 
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