Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Educação, Corpo e Movimento Ed uc aç ão , C or po e M ov im en to Ana Cristina Arantes Max Gunther Haetinger EduCação, Corpo E MoviMEnto Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-3685-1 9 7 8 8 5 3 8 7 3 6 8 5 1 Ana Cristina Arantes Max Gunther Haetinger Educação, Corpo e Movimento IESDE BRASIL S/A Curitiba 2013 1.ª edição Edição revisada © 2006 – IESDE BRASIL S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________________________ A684e Arantes, Ana Cristina, 1952- Educação, corpo e movimento / Ana Cristina Arantes, Max Gunther Haetinger. - 1. ed. rev. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL, 2013. 164 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3685-1 1. Educação física para crianças. 2. Educação pelo movimento. 3. Psicomotricidade. I. Haetinger, Max Gunther, 1964- II. Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. III. Título. 13-01475 CDD: 372.868 CDU: 372.8:612.763 __________________________________________________________________________________ 28/05/2013 28/05/2013 Capa: IESDE BRASIL S/A Imagem da capa: IESDE BRASIL S/A IESDE BRASIL S/A Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. Sumário Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico .........................................................7 Movimentos iniciais ....................................................................................................................................7 A divisão de função e os movimentos .........................................................................................................8 A Educação Física: conceito e história ........................................................................................................8 Por que entender, praticar e implementar os conteúdos da Educação Física? ...........................................10 Bebês e humanidade: uma história paralela ..........................................................................13 Movimento humano: aspectos introdutórios .............................................................................................13 A ontogênese repete a filogênese: um pouco de história do corpo e de suas modificações ......................13 Definição do processo de crescimento humano ........................................................................................16 Definição sobre o processo de desenvolvimento humano ........................................................................16 Fatores intervenientes ................................................................................................................................17 Fundamentos do desenvolvimento motor ..............................................................................21 Habilidades motoras básicas .....................................................................................................................23 O corpo e o movimento na Educação Infantil .......................................................................31 Fatores físicos das atividades motoras infantis .........................................................................................31 A criança da atualidade .............................................................................................................................36 Psicomotricidade ...................................................................................................................41 Entendendo a Psicomotricidade ................................................................................................................41 A dimensão multidisciplinar da Psicomotricidade ....................................................................................45 Sedentarismo e incapacidade motora ........................................................................................................47 Fatores das atividades motoras infantis .................................................................................51 As múltiplas inteligências e o movimento .................................................................................................51 Visão construtivista do desenvolvimento motor .......................................................................................56 A dança e a música na Educação Infantil ..............................................................................61 A dança na escola .....................................................................................................................................61 A música no universo infantil ...................................................................................................................64 Recreação e lazer ...................................................................................................................71 Recreação e lazer na Educação .................................................................................................................71 A escola contemporânea ...........................................................................................................................75 O espaço físico para as atividades da Educação Infantil ...........................................................................77 Criatividade e sua importância para a Educação ...................................................................81 A criatividade e o brincar ..........................................................................................................................81 Criatividade: a revolução na sala de aula ..................................................................................................85 A avaliação na Educação Infantil ...........................................................................................91 Avaliação: um desafio à mudança .............................................................................................................91 Avaliação das habilidades motoras na infância .........................................................................................93 A função da escola e da Educação Física ..............................................................................99 O sistema escolar brasileiro e as aulas de Educação Física para as Séries Iniciais .................................100 Considerações sobre as aulas de Educação Física e os temas ou eixos transversais ...............................102 Possíveis blocos de conteúdos para as aulas de Educação Física ...........................................................103 Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física .............107 Alunos entre 6 e 10 anos de idade segundo a teoria piagetiana ..............................................................108 Objetivos da Educação Física para os alunos das primeiras séries da escolarização básica segundo os PCN (1997) .......................................................................................................................................110 Desenvolvimento do conhecimento e controle do corpo (esquema corporal) ........................................112 Os alunos do Ensino Fundamental e as aulas de Educação Física ......................................117 Características dos alunos ........................................................................................................................117 As aulas de Educação Física Escolar e o processo de inclusão e integração .......................125 As funções das agências de Educação Infantil ........................................................................................125O atendimento segundo as classes sociais ou o que se deliberou para as crianças .................................125 Definição de gênero .................................................................................................................................128 A coeducação nas aulas de Educação Física ...........................................................................................129 Sugestões e orientações para a elaboração de programas ou atividades destinadas às crianças .............134 A Educação Física e a interdisciplinaridade ........................................................................137 A visão legal acerca do componente curricular Educação Física ............................................................137 O movimento é o início de tudo ..............................................................................................................137 A questão do movimento e a sua relação com a construção dos conceitos .............................................138 As sensações, a motricidade e a formação de conceitos .........................................................................139 Dos primeiros passinhos ao jogo e ao esporte ........................................................................................140 O significado do movimento para os idosos: uma prática cuja ideia se inicia na escola ........................140 Movimento e cultura ...............................................................................................................................141 A nova Educação Física: participante do Projeto Escolar .......................................................................141 Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações .................................147 Ação docente e a avaliação .....................................................................................................................148 Abordagens ou correntes pedagógicas aplicáveis às aulas de Educação Física .....................................148 Referências ..........................................................................................................................159 Apresentação Oi, amigos e colegas! H oje iniciamos uma nova caminhada. Nossa meta é a compreensão do desenvolvimento motor infantil e do modo como ele contribui no desenvolvimento integral da criança. Vamos estu-dar conceitos, realizar atividades e agregar nossas experiências de magistério para que juntos possamos explorar o universo da criança e do movimento. A cada passo de nosso percurso, aprofundaremos o tema por meio de textos específicos e práticas em grupo. Também vamos abordar alguns assuntos relacionados à educação escolar na in- fância. Estaremos sempre buscando entender que a sala de aula transcende o educar e representa um prolongamento do lar das crianças, sendo uma experiência decisiva para o desenvolvimento de meninos e meninas. Como educadores, precisamos ter em mente que a aprendizagem está fundamentada em um processo de troca no qual todos os agentes da Educação (professores, alunos, funcionários, pais e comunidade) devem compartilhar seus conhecimentos sem preconceitos, nem pré-conceitos, estabe- lecendo uma “avenida de duas mãos”, destacada por Paulo Freire como a essência do ato de educar. Assim, aprendemos e ensinamos ao mesmo tempo. Portanto, vamos compartilhar nossos saberes e nos entregar à aventura de uma educação interativa, que promove a integração, o conhecimento, o brincar e a alegria em todos os cantos da sala de aula. Procurem aproveitar o máximo as experiências proporcionadas por nossa disciplina, pois elas representam uma grande oportunidade para vocês construírem novos conhecimentos. Como diz Edgar Morin, o aprender constante é um meio de percebermos os problemas do complexo mundo em que vivemos. Ana Cristina Arantes Max Gunther Haetinger 7 Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico Ana Cristina Arantes* O movimento é uma característica dos seres humanos vivos. Entretanto, ele pode ser estudado e compreendido sob vários aspectos que se relacionam, favore- cendo seu entendimento de maneira articulada. Historicamente falando, o movimento é considerado como uma atividade humana muito importante e tem recebido a atenção de estudiosos das mais di- ferentes áreas do conhecimento: medicina, antropologia, educação física, entre outras. Praticado e investigado pelo homem desde as primeiras civilizações, o movimento tem por fim último a sobrevivência – pessoal e da espécie humana. Movimentos iniciais Nos primórdios da civilização o homem era nômade. Caminhava pelos campos em busca de alimento e de um lugar melhor para se instalar, visando à proteção para seu clã. O movimento ou a atividade física exercida por ele consistia na caça, na pesca e na obtenção de alimentos disponíveis nas árvores, uma vez que era, em princípio, um ser extrativista. Naquela época – é interessante que se esclareça – não havia divisão de fun- ções tal como conhecemos hoje. Entretanto, sabe-se que à medida que o grupo se desenvolvia os homens assumiram funções externas, tornando-se responsáveis por trazer a caça e a pesca para os seus. À mulher coube, além do plantio das sementes (feito nas proximidades da moradia), a organização do espaço interno, a confecção do vestuário, o preparo dos alimentos e o cuidado com a prole. Pouco a pouco, a organização humana foi sendo ampliada, gerando muitas outras funções. Quando o ser humano deixou de ser nômade e criou vínculo com o lugar em que vivia, passou a defendê-lo de outros clãs. A partir dessa situação, surgiram os guerreiros, cuja atribuição era a de lutar e defender seu núcleo. Por isso havia a necessidade de sempre estarem fisicamente preparados para os eventuais ataques de outros grupos. Havia, portanto os que caçavam e pescavam; as mulheres que cuidavam da casa e das crianças; os guerreiros protegiam o núcleo humano; e havia o sacerdo- te, pagé ou xamã, cuja função era a de aconselhar, orar, cumprir e orientar rituais para as diferentes necessidades do grupo, as celebrações da vida e da morte, da semeadura e da colheita, pedidos e invocações para todas as urgências dos ho- mens. Muitas vezes, essas celebrações, pedidos e invocações eram praticados sob Doutora em Histór ia e Fi losofia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Mes- tre em Educação Fís ica pela USP. Pedagoga e especial is ta em Admi- nis t ração e Supervisão Escolar (FFCL-Tibir içá , SP) . Graduada em Edu- cação Fís ica pela USP. Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico 8 a forma de dança individual e coletiva. Infere-se então que o movimento – ativi- dade física – está envolvido em todas as práticas humanas. Seja na caça, na pesca, na construção do abrigo, nas atividades caseiras como semear, fazer a panela de barro, preparar o alimento e as infusões, costurar as roupas, defender o território (o vigor físico decorrente da prática da atividade física mais intensa favorecia a vitória) e dançar reverenciando os deuses. Tudo indica que essa ampliação de funções gerava um significativo aumen- to das demandas, aumentando as necessidades e criando novos produtos para o seu sustento. E por certo isso favoreceu o aumento do acervo cultural humano. A divisão de função e os movimentos A fixação dos grupos humanos na terra fez com que surgisse a agricultura planejada. Assim, o ser humano passou a planificá-la tendo em vista as caracte- rísticas das estações do ano; estabeleceu o tempo de colheita e armazenamento das sementes, e para essa tarefa tratou de domesticar os animais, que passaram a executar os serviços pesados. Ao mesmo tempo, ocorria o aprimoramento das habilidades físicas para otimização dos gestos cotidianos, ou ainda para a cons- trução de vários objetos e ferramentas. Com o aumento do acervo cotidiano, também aumentaram as situações de expressão corporal maisespecíficas. Vale ressaltar que o ser humano também possuía, desde o início, um tempo dedicado ao trabalho e outro – por certo menor, mas não menos importante – para seu descanso e recreação, tendo como estraté- gia as danças e os rudimentos dos jogos. Portanto, a atividade física e o movimento passaram a apresentar formas va- riadas, possuindo também objetivos específicos. É importante salientar que embo- ra houvesse intencionalidade no gesto, na ação física, essas atividades não podem ainda ser consideradas como Educação Física. A Educação Física: conceito e história A gênese do movimento e sua relação com a cultura O movimento corporal humano é uma necessidade instintiva, que busca solu- cionar um problema. Pode representar também uma prática que se adapta perma- nentemente, uma vez que o homem sofre influência da seleção natural, da herança genética, dos fatores ligados ao processo biológico e da própria evolução cultural. Em poucas palavras, ao longo do tempo o ser humano passou por proces- sos de ajuste e adaptação para que se chegasse àquilo que somos e como nos Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico 9 movimentamos na atualidade. Se pensarmos que somos um produto histórico, muitos dos nossos gestos foram refinados ao longo do tempo, podendo dizer que esses gestos podem ser entendidos como um traço cultural que varia de acordo com o grupo social. A atividade física e a macroestrutura Nos primórdios, além do sentido utilitário do movimento, a atividade física também podia ser entendida como uma linguagem, uma vez que expressava e comunicava uma ideia ou um sentimento humano. Assim, progressivamente, foi se adequando de maneira a tornar-se ao mesmo tempo um poderoso instrumento de expressão e um eficiente, eficaz e econômico meio de construção de inúmeros artefatos, entre outros fins. Valendo-se da utilização e da observação cotidiana, o movimento humano foi paulatinamente alterado e ampliado, tendo finalidades mais complexas. Assim sendo, estabeleceram-se alguns princípios e critérios para a sua execução. Propósitos do movimento humano: ideias iniciais Historicamente, no tocante da intenção, pode-se afirmar que o movimento foi gradualmente se caracterizando por uma prática com vários objetivos, válidos inclusive para os dias atuais: visa ao bem-estar, a prevenção de doenças, a manutenção da saúde; prepara o indivíduo para disputas; e desenvolve aptidão física específica para determinados fins, como a guerra. Quanto a sua nomenclatura (atividade física ou Educação Física), o movi- mento apresenta importante distinção. Pode-se afirmar que é a partir da elaboração e da divulgação das escolas ou dos cinco métodos ginásticos europeus, a partir de 1800 (LANGLADE; LAN- GLADE, 1970, p. 23), que o conhecimento acumulado desde a Grécia antiga foi revisto, ampliado e analisado, por assim dizer, formando a essência desta impor- tante área de conhecimento, de pesquisa e de prática profissional. A Educação Física atual se fundamenta nos estudos da filosofia, da psicolo- gia, da sociologia e da fisiologia, além dos aspectos didático-pedagógicos propria- mente ditos (FONSECA, 1987, p. 12). Portanto, para o professor que irá orientar um adequado programa para seus alunos, ou uma pessoa que deseja praticar exer- cícios físicos com segurança, é indispensável observar, informar-se, conhecer e estudar os tópicos de filosofia, psicologia, sociologia e fisiologia demandados pela área da atividade física e da Educação Física. Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico 10 Por que entender, praticar e implementar os conteúdos da Educação Física? A prática saudável dos exercícios físicos pode levá-lo ao bem-estar e ao prazer. Se você até agora não pensou na contribuição que eles podem oferecer para você e seus alunos viverem melhor e com mais saúde, pense nos aspectos a seguir. As profundas mudanças no sistema de vida, o aumento das horas de tra- balho sobre as atividades de lazer, as atribulações cotidianas e o excesso de preocupações da vida moderna nos tornam pessoas mais sobrecarre- gadas (física e psiquicamente), apresentando a cada dia questões mais complexas e de mais difícil solução. A especialização no trabalho faz com que todos nós pratiquemos tarefas quase sempre na mesma posição (em pé ou sentados) e quase sempre utilizando os mesmos grupos musculares, causando dores, encurtamento dos grupos musculares, degenerações e alterações posturais muito des- confortáveis. Em muitos casos, passamos muitas horas em situações de confinamento, fechados em salas, em frente a computadores, aparelhos eletrônicos ou eletrodomésticos; dentro de casa ou do apartamento; em apertadas cadei- ras ou em transportes coletivos superlotados; dentro de automóveis; em ruas de trânsito congestionado. Enfim, estamos quase sempre enfrentando situações semelhantes às de uma punição imposta ou de grande imo- bilidade, o que pode gerar significativos conflitos internos, insatisfação e inquietação pessoal e coletiva – sempre crescentes. Então, a prática de exercícios físicos faz bem, traz uma compensação que chamamos de catarse, que pode servir como uma forma de equilíbrio diante das ten- sões do mundo atual. Assim, esses exercícios físicos podem ser pratica- dos sob a forma de ginástica, da capoeira e dos esportes individuais e coletivos, para aqueles que gostam de competir. Por certo, um corpo saudável facilita a nossa aproximação com as outras pessoas, em termos de estética, do juízo do bom e do belo – afinal, o corpo se expressa e possui uma linguagem própria, que deve ser entendida e respeitada. Os exercícios físicos podem possuir o sentido de uma prática compensató- ria para os desvios posturais, para os períodos de crescimento físico, gra- videz, convalescença, contribuindo para a longevidade de seu praticante. Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico 11 A escola dos animais (REAVIS, 1995) Certa vez, os animais decidiram que deveriam fazer algo heroico para resolver os problemas de “um novo mundo”. Assim, organizaram uma escola. Adotaram um currículo de atividades que compreendia corrida, alpinismo, natação e voo. Para ministrar o currículo mais facilmente, todos os animais teriam todas as matérias. O pato era excelente em natação, na verdade era até melhor que o seu instrutor, mas teve apenas notas satisfatórias em voo e era bem ruim na corrida. Como era lento na corrida, precisou treinar depois das aulas e também abandonar a natação para praticar corrida. Continuou fazendo isso até seus pés palmados ficarem gravemente feridos e passou a ter um aproveitamento apenas regular em natação. Mas como regular era aceitável na escola, ninguém se preocupou com isso, a não ser o próprio pato. O coelho começou como o melhor da classe em corrida, mas teve um colapso nervoso por causa de tantos treinos de natação. O esquilo era excelente em alpinismo até ficar frustrado com seu aproveitamento nas aulas de voo, quando sua professora mandou que partisse do chão para cima, e não do topo da árvore para baixo. Além disso, desenvolveu cãibras devido a uma estafa e então tirou um C em alpinismo e um D em corrida. A águia era uma criança problema e foi severamente disciplinada. Na aula de alpinismo, ven- ceu todos os outros em direção ao topo da árvore, mas insistiu em utilizar seu próprio caminho para chegar lá. Ao final do ano, uma excepcional enguia que sabia nadar extremamente bem, além de correr, subir e voar um pouco, obteve a melhor média e foi a melhor da turma. As marmotas ficaram fora da escola e protestaram contra as mensalidades, porque a admi- nistração não quis incluir escavação e construção de tocas no currículo. Matricularam seus filhos como aprendizes de um texugo e mais tarde juntaram-se aos porcos-da-terra e aos geômios para fundarem uma bem-sucedida escola particular. Qual a moral da história? Platão, grande filósofo grego, sobre a educação das crianças, recomendava“Música para a alma e ginástica para o corpo”. Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico 12 1. Você já havia pensado sobre a história do movimento humano, como ele foi utilizado e quais as transformações por que passou ao longo da história? Comente. 2. Você agora está convencido que a prática da Educação Física é muito importante e que para favorecer a sua compreensão é necessário conhecimento sobre seu conteúdo? Comente sua res- posta. OLIVEIRA, Vitor Marinho de. O que É Educação Física. São Paulo: Brasiliense, 1989. 13 Bebês e humanidade: uma história paralela Ana Cristina Arantes Movimento humano: aspectos introdutórios Sabe-se que somos um ótimo exemplo de um extenso processo de ajuste e evolução permanente iniciado há milhares de anos. Hoje, podemos nos sentir orgulhosos com a nossa evolução biológica e espiritual, e também com todo o acervo cultural que, ao longo do tempo, criamos e utilizamos tanto na nossa vida recreativa e anímica como para resolver os nossos problemas cotidianos. Entretanto, esse longo processo de adequação biológica, psíquica e social foi acompanhado por importantes alterações corporais que são, em escala menor, repetidas por todo ser humano desde o seu nascimento. A ontogênese repete a filogênese: um pouco de história do corpo e de suas modificações O ser humano, à semelhança de um animal quadrúpede, apoiava seu corpo em quatro pontos: duas pernas e dois braços igualmente desenvolvidos. A sua coluna vertebral possuía pequenas curvas, a sua cabeça era sempre voltada para o chão, para que os seus olhos observassem principalmente os objetos do solo. Com o passar do tempo, o homem tornou-se um ser que se apoia em apenas dois pés e essa posição impôs a seu corpo modificações que são muito importantes e repercutiram inclusive na sua relação com o mundo. Quando o homem assumiu a posição bípede, a força da musculatura dos seus membros inferio- res aumentou, para ele se sustentar sobre duas pernas. A sua coluna precisou alterar-se, passando paulatinamente a apresentar o que hoje denomi- namos curvaturas secundárias: curvatura cervical, dorsal, lombar e a sacroilíaca. Essas curvaturas possibilitaram uma significativa mobilidade para as tarefas de sobrevivência, tais como as longas caminhadas, as corridas, os saltos e as atividades aquáticas – todas com caráter de sobrevivência pessoal e da espécie. As adaptações da coluna vertebral também favoreceram o distanciamento da crista ilíaca, de modo que fosse obtido um melhor equilíbrio na posição vertical. A liberação dos membros superiores para outras e novas funções fez com que as mãos se tornassem instrumentos para a colheita e para a caça, auxiliando também a escalada do homem nas árvores e nos planos mais altos. Bebês e humanidade: uma história paralela 14 Ao elevarem-se os braços para atirar objetos, recolher plantas, dependurar- -se, ampliaram a visão periférica e a visão macular (visão discriminativa ou pon- tual, centrada em um foco), muito necessária em atividades finas como a escrita e a costura. As mãos, por sua vez, foram redesenhadas com o polegar opositor, o que permitiu a execução do movimento de pinça, favorecendo a preensão, a constru- ção e a obtenção de objetos muito pequenos. Cabe lembrar que há um grande refinamento de gesto e da coordenação olhos-mãos, favorecendo uma exata focalização do objeto – o que, por sua vez, contribui para o aumento da habilidade para lançar, tecer e costurar, por exemplo. Nesta descrição do processo evolutivo humano, também é preciso registrar que ocorreu o distanciamento entre os olhos, modificação que favoreceu a am- pliação da área de observação do ambiente – a chamada visão periférica, muito importante para a tomada de posição, para o controle do território, por exemplo. Tanto a visão macular quanto a visão periférica foram aprimoradas gradu- almente. O processo de crescimento dos bebês: uma história paralela Você já parou para pensar no processo de crescimento de um bebê? Um bebê recém-nascido apresenta uma curvatura chamada cifose inicial. Assim como a humanidade as curvaturas secundárias, cervical, dorsal, lombar e sacroilíaca aparecerão à medida que o bebê cresce e inicia o seu deslocamen- to pelo espaço. Partindo da posição de decúbito ventral (barriga para baixo) ele gradativamente arrasta-se pelo quarto, explorando tudo a sua volta. Em pouco tempo a musculatura de suas pernas já está fortalecida, favorecendo a ampliação de horizontes por meio da quadrupedia. Essa posição possibilita o aparecimento da curvatura secundária, assim como uma melhor visão do mundo a sua volta, en- quanto os músculos do pescoço também se fortalecem ao sustentarem a cabeça e os olhos tudo percebem. Em poucos meses, a criança senta-se e põe-se de pé com ajuda. Esse processo termina quando ela experimenta a marcha inicial efetuada com os braços lateralmente, o que proporciona o equilíbrio necessário para uma locomoção ainda muito rudimentar (GESELL, 1942). Quanto ao processo de comunicação, a linguagem utilizada pelo bebê nos primeiros meses de vida é a não verbal, a dos movimentos reflexos, que, por sua natureza, não necessitam de alta organização mental ou aprendizado. Por movimentos reflexos entendem-se aqueles como o de agarrar um objeto (reflexo palmar); quando o bebê crispa os dedos ao perceber-se tocado na planta dos seus pés (reflexo plantar); ou o movimento de sugar realizado pela boca (utili- zado para mamar o leite). Esses são alguns exemplos de respostas não aprendidas e que muitas vezes aparecem em situações de desconforto ou de sede, de fome ou dor, pois a linguagem articulada e inteligível ainda não está desenvolvida. Bebês e humanidade: uma história paralela 15 Esses movimentos corporais são, em última análise, uma forma de comuni- cação e de expressão que a criança recém-nascida estabelece com o mundo. Os movimentos reflexos são manifestações humanas que, embora muito ru- dimentares, evidenciam ao outro as sensações, comunicam algo que o bebê está sentindo e, por consequência, favorece o pronto atendimento por parte dos entes queridos. Como comunicação com o mundo externo, o bebê pode ainda simular um pequeno sorriso quando percebe uma figura familiar, como a mãe, pois desde mui- to pequeno a reconhece pelo olfato e pelo tom de voz. Paulatinamente, o cérebro e o aparelho fonador deixam os sons guturais (assim como fez o homem primitivo) e passam a processar e repetir os sons produzidos pelo meio. Entre dois e quatro anos de idade, afirma Wadsworth (1989), a criança aumenta significativamente a linguagem falada: os balbucios dão lugar às primeiras palavras. As crianças imitam os sons dos animais ou dos objetos que estão à sua vol- ta: au-au, miau, fon-fon e piuiiiiii. As palavras proferidas virão como resposta de um aprendizado baseado na imitação e, conforme o meio cultural em que se vive, serão em maior ou menor quantidade. No tocante ao processo de aprimoramento dos gestos que envolvem a co- ordenação olhos-mãos ou óculo-manual, recrutada por exemplo para a escrita, o movimento de pinça – com o polegar opositor – vai se aperfeiçoando à medida que as estruturas físicas e o processo de amadurecimento neuromotor se ampliam. Concomitantemente, ocorre o fortalecimento da coordenação próximo-dis- tal (da região peitoral para as mãos) propriamente dita, que também é influenciada pela prática e pela exaustiva repetição ou o jogo do exercício (ARANTES, 1996). Essa movimentação se refina gradualmente e o gesto, que é guiado sobretudo pela imensa necessidade de conhecer, de explorar e de varrer o mundo a sua volta, amplia-se. Esta fase do processo de crescimento e desenvolvimento humano possui a missão de favorecer o reconhecimento do ambiente e recolher a maior quantidade de informações concretas do meio circundante (WADSWORTH, 1989). Quanto à formação de conceitos, o processo humano de obtenção de infor- mação passou por situação semelhante àquela dacriança na primeira infância. Nos primórdios da civilização, a compreensão dos fatos e o estabelecimento de causa e efeito eram carregados de significação anímica: tal como a criança pe- quena o faz, o ser humano atribuía os fatos a fatores externos, figuras mitológicas e mágicas assentadas sobre uma lógica muito particular que desaparece quando crescemos. O processo de crescimento está intimamente relacionado ao processo de desenvolvimento humano. Entretanto, embora sejam interdependentes não devem ser entendidos como sinônimos. Bebês e humanidade: uma história paralela 16 Definição do processo de crescimento humano O processo de crescimento representa algo diretamente mensurável: o au- mento do peso e da estatura de uma pessoa. Essa alteração pode ser vista a olho nu, pois mesmo sem a utilização de instrumento sabemos que uma criança cresceu (aumentou seu tamanho) ou engordou (aumentou sua massa corporal) valendo-nos apenas da observação cotidiana. Cabe aqui a ressalva de que esse aumento da massa corporal pode se dar por duas maneiras: pelo aumento do número de células; pelo aumento do tamanho das células – gerando o peso excessivo, por exemplo. A compleição física pode ser definida como a quantidade de massa corporal distribuída pela estatura. Observa-se que, muitas vezes, uma pessoa tem o mesmo peso e a mesma estatura que outra e, no entanto, a massa se distribui de forma diferente, dando a falsa impressão que a primeira é mais magra que a segunda ou vice-versa (ARANTES, 1990, p. 3). Definição sobre o processo de desenvolvimento humano O processo de desenvolvimento humano está ligado a aspectos indiretamen- te mensuráveis, tais como os intelectuais e os de ordem socioafetiva. Em ambos os casos, será indispensável criar instrumentos de medida que nos ofereçam indicati- vo de que houve alteração de entendimento ou de comportamento. Fazem parte desse conjunto as provas, testes, fichas de observação, análise ob- jetiva do comportamento, chamadas orais, provas escritas, trabalhos em grupo etc. O processo de crescimento e o processo de desenvolvimento são interde- pendentes e se apoiam mutuamente, favorecendo o desenvolvimento integral do indivíduo. Esse fato se dá principalmente nos dois primeiros anos de vida ou no período sensório-motor (WADSWORTH, 1989), cuja tônica é a da sensação, a da impressão que o corpo oferece pelos órgãos dos sentidos. Nos dois primeiros anos de vida, a criança recolhe informações do meio e as leva ao cérebro, gerando dados e conhecimento sobre o mundo físico – em uma progressão infindável. Esse desejável processo dá à criança a enorme pos- sibilidade de pertencer ao grupo dos indivíduos que não apresentam necessidades especiais. O contrário também ocorre e é importante ressaltar que, se uma criança nasce destituída dos órgãos dos sentidos, se não é capaz ou não se movimenta, por Bebês e humanidade: uma história paralela 17 certo deixa de recolher as informações do meio em que vive e certamente sofrerá ausência de repertório para expressar e comunicar as suas ideias, podendo ser entendida como uma pessoa imatura ou ainda deficiente, carecendo de assistência profissional diferenciada. Assim, visto que o movimento é um importante instrumento de crescimento físico e desenvolvimento cognitivo e afetivo, conter a criança e não deixá-la brincar pode dificultar o bom desenvolvimento global do ser humano em formação, o que irá se refletir negativamente nas aulas e nas tarefas que preparamos. Fatores intervenientes Atualmente, sabemos que somos fruto da hereditariedade1 que determina o nosso fenótipo: cor dos olhos, cor do cabelo, estatura, peso, compleição física, e nascemos com a capacidade de realizar certas tarefas descritas por Froebel como “dons”, tais como sermos capazes de aprender a ler e escrever, observar a natu- reza, cuidar de nosso corpo e desenvolver as habilidades manuais (ARANTES, 1997, p. 116; ARANTES et al., 2001). Um segundo fator é representado pelo meio ambiente que nos molda, muitas vezes agindo de maneira positiva ou negativa, ampliando ou inibindo as nossas capacidades, transformando-as em habilidades (MAGILL, 2000). Quanto ao patrimônio genético, não podemos intervir, mas como educa- dores talvez possamos alterar alguns aspectos da vida de nossos alunos para que ocorram mudanças que os auxiliem a compreender os saberes escolares. Aqui os fatores intervenientes não são provenientes da herança genética. Assim postulando, todas as condições não hereditárias, aquelas ligadas ou de- pendentes do nível socioeconômico e a tudo que for “externo” ao sujeito, estão inseridas nos fatores do meio ambiente. Meio socioeconômico: quando a família possui condições, seus filhos dor- mem em quartos ventilados e limpos, a água servida é tratada, filtrada e fervida, evitando a contaminação por doenças. A família com condições econômicas fa- voráveis alimenta seus entes de forma equilibrada, com carne (alimento plástico responsável pelo crescimento e a reparação de células), vegetais (legumes e verdu- ras); oferece condições para o desfrute das horas de estudo, de trabalho, ocupação e de lazer (importante elemento de descarga psíquica), dando oportunidade para prática de atividade física (elemento de autotestagem, autoconhecimento, sociali- zação e formação de conceitos do mundo concreto). Uma família interessada em um bom e adequado processo de crescimento e de desenvolvimento de seus filhos também deve nutrir seus familiares com afeto e segurança espiritual, fazendo com que todos se sintam acolhidos por um ben- querer recíproco. 1 Hereditariedade: herança genética dos nossos ante- passados. Bebês e humanidade: uma história paralela 18 A relação entre aspectos de hereditariedade e meio ambiente e as aulas de Educação Física: considerações importantes Com esta formação e expectativa a criança chega à escola de Educação Infantil e posteriormente ao Ensino Fundamental por volta dos seis/sete anos de idade. Cabe ao docente conhecer a história pregressa das crianças e, na condição de herdeiro do pai (GUSDORF, 1970), dar continuidade ao processo de educação, iniciando formalmente a escolarização dos estudantes sob a sua responsabilidade. A criança que chega à escola possui uma história de vida e a cultura da comuni- dade, e esses aspectos devem ser conhecidos e avaliados em nome de uma apren- dizagem adequada e significativa, tanto para docentes como para estudantes, in- clusive nas aulas de Educação Física, nas quais as experiências anteriores servem como importantes dados para a estruturação dos programas futuros. Rousseau, sobre a educação das crianças: “Cultivai a inteligência de vossos alunos, mas cultivai antes de tudo seu físico porque é ele que vai orientar o desenvolvimento intelectual: fazei primeiro vosso aluno são e forte para vê-lo inteligente e sábio.” Reúna seus colegas e procure responder as questões propostas. 1. Por que as adaptações corporais foram necessárias para o desenvolvimento humano? Bebês e humanidade: uma história paralela 19 2. O que o movimento de pinça favorece e amplia? Cite dois exemplos. 3. Qual é a relação entre as adaptações pelas quais a humanidade passou e o processo de desenvol- vimento do bebê? TANI, Go et al. Educação Física Escolar: uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: Edusp, 1980. OLIVEIRA, Vitor Marinho de. Educação Física Humanista. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1985. Bebês e humanidade: uma história paralela 20 21 Fundamentos do desenvolvimento motor Max Gunther Haetinger* A primeira linguagem que a criança compreende é a linguagem do corpo, a linguagem da ação. Jean Piaget O corpo e o movimento são elementos relevantes para a socialização e a aprendizagem das crianças, desde seus primeiros anos de vida. O desen-volvimento motor infantil está vinculado ao corpo, ao movimento e ao desenvolvimento integral do homem, podendo ser observado a partir das interações entre nossa biologia,nosso comportamento, as tarefas que realizamos e as condições do ambiente em que vivemos. Essas ideias talvez pareçam óbvias, mas no passado o estudo do desenvolvi- mento motor funda men tou-se nos processos cognitivos e afetivos do ser humano. Diversos autores e educadores enfatizavam somente as dimensões cognitiva e afetiva da aprendizagem. Nos anos 1970, as pesquisas voltadas para o desenvolvimento motor passaram a considerar as atividades físicas, abarcando diferentes áreas do conhecimento, como a fisiologia do exercício, a biomecânica, a psicologia desenvolvimentista e social, a aprendizagem e o controle motor. No entanto, o desenvolvimento motor foi aborda- do a partir de modelos que separavam o corpo humano de sua afetividade e de sua cognição. Atualmente, entendemos o desenvolvimento motor como um processo dinâmi- co que se concretiza ao longo de nossa vida, uma ecologia que relaciona o indivíduo, suas ações e seu ambiente, como no quadro a seguir. (G A LL A H U E; O ZM U N , 2 00 1, p . 6 ) Individual Hereditariedade Biologia Natureza Crença Fatores intrínsecos Ambiente Experiência Aprendizado Encorajamento Vivências Tarefa Fatores físicos e mecânicos * Doutor em Informá- tica na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Educação pela American World Universiy - Esta- dos Unidos. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Candido Mendes e em Informá- tica na Educação pela UFRGS. Graduado em Educação Física pela UFRGS. As aulas do professor Max tiveram como colaboradores os professores Daniela Ha- etinger e Luis Lucini. Fundamentos do desenvolvimento motor 22 Outro fator importante para a abordagem do desenvolvimento motor é a clas- sificação das fases da vida humana, pois as habilidades motoras estão associadas à idade dos indivíduos. Segundo Gallahue e Ozmun (2001), existe uma correspondên- cia entre o período da vida e a idade cronológica, o que é destacado pelos autores no quadro a seguir. Período Idade aproximada (G A LL A H U E; O ZM U N , 2 00 1, p . 1 5) 1. Vida pré-natal a) período de zigoto b) período embrionário c) período fetal (concepção ao nascimento) concepção – 1 semana 2 semanas – 8 semanas 8 semanas – nascimento 2. Primeira infância a) período neonatal b) início da infância c) infância posterior (nascimento aos 24 meses) nascimento – 1 mês 1 – 12 meses 12 – 24 meses 3. Infância a) período de aprendizado b) infância precoce c) infância intermediária/avançada (2 – 10 anos) 24 – 36 meses 3 –5 anos 6 – 10 anos 4. Adolescência a) pré-pubescência b) pós-pubescência (10 – 20 anos) 10 – 12 anos (f); 11 – 13 anos (m) 12 – 18 anos (f); 14 – 20 anos (m) 5. Idade adulta jovem a) período de aprendizado b) período de fixação (20 – 40 anos) 20 – 30 anos 30 – 40 anos 6. Meia-idade a) transição para a meia-idade b) meia-idade (40 – 60 anos) 40 – 45 anos 45 – 60 anos 7. Idade terciária a) início da terceira idade b) período intermediário da terceira idade c) sensibilidade (a partir dos 60 anos) 60 – 70 anos 70 – 80 anos a partir dos 80 anos O desenvolvimento motor pode ser tratado pelos educadores e pesquisadores como um processo ou um produto. Como produto, ele é visto apenas sob a perspectiva do desempenho das habilidades motoras do sujeito. Mas visto sob uma óptica mais am- pla, como um processo, ele é definido pela observação das aptidões humanas ( relações entre o homem, seu ambiente, seu comportamento e suas habilidades motoras). Esta última abordagem compreende, então, o desenvolvimento integral do indivíduo. O desenvolvimento motor é uma alteração contínua do comportamento motor ao longo do ciclo da vida. Pode ser estudado tanto como processo quanto como produto. Como um pro- cesso, o desenvolvimento motor envolve as necessidades biológicas subjacentes, ambien- tais e ocupacionais, que influenciam o desenvolvimento motor e as habilidades motoras do indivíduo desde o período neonatal até a velhice. Como produto, o desenvolvimento mo- tor pode ser considerado como descritivo ou normativo, sendo analisado por fases (período neonatal, infância, adolescência e idade adulta), que refletem o real interesse do pesquisador. (GALLAHUE; OZMUN, 2001, p. 22) Fundamentos do desenvolvimento motor 23 Ainda abordando conceitos básicos para o estudo do desenvolvimento motor in fantil, destacamos alguns termos que precisam estar esclarecidos antes de avançar- mos no assunto. Motor: aspectos biológicos e mecânicos que propiciam e influenciam os movimentos. Aprendizado motor: variações do comportamento motor em função das ex- periências vividas pelo indivíduo. Comportamento motor: expressão do desenvolvimento e do aprendizado motor. Abrange a aprendizagem motora e os processos maturacionais do indivíduo. Controle motor: observação e análise dos mecanismos responsáveis pelo movimento. Desenvolvimento motor: variações do comportamento motor que ocorrem ao longo da vida, conforme as relações entre indivíduo, ambiente e tarefas. Habilidade motora: padrão de movimento baseado na precisão, no controle e na acuidade do indivíduo. Habilidades esportivas: habilidades motoras específicas, utilizadas para a prática de um esporte. Movimento: alteração na(s) posição(ões) de quaisquer partes do corpo. Padrão de movimento: série de movimentos correlacionados. Habilidades motoras básicas O corpo é o meio para se conhecer a realidade. Platão Quando observamos os adultos praticando um esporte, dançando ou cami- nhando, podemos fazer comentários como: “Olha como ele dança fora do ritmo”, “O João não consegue nem chutar a bola em movimento”, “Veja como ela caminha desajeitada.” Essas frases representam uma forma popular de análise das habilidades motoras demonstradas em inúmeros atos cotidianos. Estamos constantemente expressando nossas habilidades motoras, adquirindo novas habilidades ou retomando algumas aprendidas durante a infância. Por isso, um amplo desenvolvimento motor na infância acaba qualificando o comportamento motor do adulto e até mesmo influenciando a sua vida social. Na Educação Infantil, devemos nos preocupar em colaborar para o desenvolvi- mento de três habilidades motoras fundamentais. Locomoção: quando a criança explora os potenciais motores de seu corpo, movimentando-se em relação aos espaços onde se encontra. Estabilidade: é a batalha travada diariamente contra a força da gravidade. Essa habilidade dá maior controle sobre a musculatura e permite que o indi- víduo fique em pé, contrariando a força da gravidade. Fundamentos do desenvolvimento motor 24 Manipulação: engloba a progressão dos atos de alcançar, segurar e soltar objetos, até que a criança atinja maior controle e precisão na manipulação de objetos da vida cotidiana. Habilidades básicas como correr, pular, arremessar, apanhar e chutar são adquiridas na infância e determinarão as habilidades esportivas e a execução de tantas outras tarefas na adolescência, na idade adulta e na terceira idade. O domínio das habilidades motoras é um fator fundamental no desenvolvimento da criança e na vida adulta. Portanto, desde os primeiros anos de vida, é preciso explorar as habili- dades motoras. O educador infantil tem um papel de destaque nesse processo. Ele deve propiciar o ambiente e os estímulos necessários para que a criança desenvolva seus potenciais motores. Vejamos então, detalhadamente, as habilidades motoras básicas e seus res- pectivos padrões de movimento. Assim, fica mais fácil identificar e entender as ações motoras realizadas por crianças de seis meses a seis anos. Esses padrões são classifi cados para fins de estudo e análise, indicando-se a idade aproximada em que acontecem. No entanto, esse parâmetro da idade serve apenas como uma indicação e não como regra – afinal, cada pessoa tem um ritmo de desenvolvimento. Habilidades de estabilidade A habilidade de estabilidade é expressa por três padrões de movimento. Movimentosaxiais: são os movimentos como inclinação, alongamento, giros, rotações, entre outros, que a criança executa a partir da postura cor- poral estática. Esses movimentos evoluem a partir dos dois meses de idade e, posteriormente, influenciam os padrões de movimentos manipula tivos como lançar, aparar, chutar e bater. Equilíbrio estático: engloba ações corporais de equilíbrio. A criança começa a apresentar essa habilidade a partir dos dez meses, ao ficar em pé. Também se manifesta no equilíbrio em um pé (aproximadamente aos cinco anos) ou nos apoios invertidos (equilíbrio com a cabeça virada para baixo). Equilíbrio dinâmico: compreende ações que a criança pratica para manter o seu equilíbrio usando o próprio corpo ou um objeto. Engloba atos como ca- minhar em linhas retas e circulares, equilibrar-se em cima de objetos ( traves ou cadeiras) ou alternar os pés sobre objetos – ações realizadas por crianças a partir dos três anos. Já aos seis anos, inclui as atividades de rolamento do corpo para a frente. Habilidades locomotoras As habilidades locomotoras aparecem dos 13 meses aos seis anos de idade e estão distribuídas em seis padrões de movimento. Caminhada: deslocamento de um pé e outro, alternadamente, mantendo sempre um deles em contato com o chão. Começa aos 13 meses, quando a criança já fica em pé e dá os seus primeiros passos, progredindo para a ação de andar para trás (18 meses), até subir e descer escadas (2 anos). Fundamentos do desenvolvimento motor 25 Corrida: é uma caminhada veloz. A pessoa chega a perder o contato com o chão durante seu deslocamento. A caminhada rápida surge por volta de um ano e meio. Porém, a corrida começa aos dois ou três anos e fica mais eficiente somente aos cinco. Salto: movimento que envolve um impulso a partir de um ou dois pés, mas o pouso final é feito necessariamente com os dois pés. Em termos espaciais, os saltos podem ser em distância (horizontal), em altura (vertical) e a partir de uma altura fixa (do alto de um objeto, por exemplo). A criança apresenta esse comportamento a partir dos 18 meses, ao subir e descer de objetos. O salto com os dois pés começa aos 28 meses. Aos cinco e seis anos, a criança efetiva os saltos em distância e altura. Saltito: é a ação de saltar e pousar com o mesmo pé. A criança apresenta esse movimento a partir dos três anos. Nessa idade, geralmente ela consegue saltar e cair até três vezes com o mesmo pé. Aos quatro anos, amplia para até seis vezes. Aos cinco anos, já consegue alguma distância em um saltito. Mas somente aos seis anos ela está apta a executar saltitos com alternância rítmica. Galope: movimento que as crianças executam quando alternam caminhadas e saltos, traçando uma rota. Este padrão motor demonstra-se a partir dos quatro anos de idade, tornando-se eficiente aos seis anos. Skipping: é a habilidade de executar movimentos alternando passadas e saltos com a elevação dos joelhos, de modo ritmado. Essa combinação de movimentos requer um grau de maturidade só alcançada aos quatro anos e será eficiente somente aos seis. Habilidades manipulativas As habilidades manipulativas são fundamentais para o desenvolvimento motor desde os primeiros momentos de vida, pois representam uma condição básica para a interação com os objetos (aqui se entendendo objeto como qualquer coisa que não seja o próprio sujeito). Elas podem ser apresentadas desde os dois meses de idade e estão classificadas nos padrões de movimento a seguir. Alcançar, segurar e soltar objetos: a criança apresenta essa habilidade desde os dois meses, quando começa a segurar os dedos da mãe, por exemplo. O ato de pegar com a mão inteira acontece aos cinco meses. Já o pegar e soltar com controle ocorre somente depois de um ano. Pegar: corresponde a receber um objeto em movimento com as mãos. Quando esse domínio motor evolui, a criança consegue receber e controlar objetos menores. Aos dois anos, a criança tende a perseguir uma bola para pegá-la, por exemplo. Com dois e meio, responde a bolas aéreas, mas ain- da não coordena a ação do corpo para pegá-las. Por volta dos cinco anos, consegue apanhar uma bola em movimento usando somente as mãos. Lançar: ato de imprimir força a um objeto, lançando-o na direção desejada. Essa é uma ação mais elaborada e requer maior desenvolvimento motor. Por Fundamentos do desenvolvimento motor 26 isso, apresenta-se geralmente a partir dos dois ou três anos. Nessa idade, a criança consegue ficar parada e lançar algo em direção de outro objeto (por exemplo, lançar uma bolinha na cabeça de um boneco). Entre quatro e cinco anos, ela já pode realizar um lançamento combinado com o movimento de seu corpo (por exemplo, dar um passo ou girar o corpo e lançar o objeto). Chutar: significa imprimir força sobre um objeto com o pé para que esse ob- jeto se desloque. Essa ação começa com a criança empurrando a bola com o pé, com 18 meses de idade. Aos dois anos, ela chuta com a perna reta e poucos movimentos corporais. Com três anos, começam a se esboçar movi- mentos mais elaborados (flexão da perna e balanço do corpo). Somente aos cinco anos é realizado um chute mais definido e equilibrado. Bater: ação realizada para efetivar um contato súbito do braço com objeto(s), ou entre objetos, batendo-os com as mãos. A partir dos dois anos de idade, esse movimento acontece no plano vertical. Aos quatro anos, a criança con- segue mover os braços horizontalmente para bater. Já aos cinco anos, gira o tronco e o quadril, projetando o peso de seu corpo. Lembramos que os padrões motores descritos representam um potencial mé- dio das crianças. O desenvolvimento dessas habilidades depende das características físico-biológicas e biomecânicas do indivíduo, das tarefas que realiza, do ambiente em que vive e dos aspectos afetivos e sociais vivenciados. Os conceitos apresentados servem de referência para você observar e compre- ender a realidade de seus alunos, sem avaliá-los por suas performances motoras ou cobrar padrões de habilidade incompatíveis com o nível de desenvolvimento dos edu- candos. Considerar o ser integralmente, sua cultura, seu ambiente e suas expe riências é uma tarefa essencial para todo educador que pretende colaborar na aprendizagem de seus alunos. Destacamos o texto do professor João Luiz Martins, um educador preocupado com as relações entre movimento e aprendizagem. Seu artigo aborda a importância do brinquedo no universo infantil e a relação da criança com o ato de brincar. O lúdico e o aprendizado (MARTINS, 2003, p. 123-134) O brinquedo: a essência da infância Brincar não constitui perda de tempo, nem é simplesmente uma forma de preencher o tempo. A crian ça que não tem oportunidade de brincar está como um peixe fora da água. O brinquedo possibilita o desenvolvimento integral da criança, já que ela se envolve afetiva- mente, convive socialmente e opera mentalmente; tudo isso de uma maneira envolvente, em que a Fundamentos do desenvolvimento motor 27 criança despende energia, imagina, constrói normas e cria alternativas para resolver os imprevis- tos que surgem no ato de brincar. O brinquedo facilita a apreensão da realidade e é muito mais um processo do que um pro- duto. Não é o fim de uma atividade ou o resultado de uma experiência. É, ao mesmo, a atividade e a experiência, envolvendo a participação total do indivíduo. Exige movimentação física, envol- vimento emocional, além do desafio mental que provoca. E neste contexto, a criança só ou com companheiros integra-se ou volta-se contra o ambiente em que está. Por ser essencialmente dinâmico, o brinquedo possibilita a emergência de comportamentos espontâneos e improvisados. Os padrões de desempenho e as normas podem ser criados pelos participantes; há liberdade para se tomar decisões. A direção que o brinquedo assume é determinada pelas variáveis de personalidade da crian- ça, do grupo e do contexto social em que as crianças vivem. O brinquedoé a essência da infância; é o veículo do crescimento, é um meio extremamen- te natural que possibilita à criança explorar o mundo, tanto quanto o adulto, possibilitando-lhe descobrir-se e entender-se, conhecer os seus sentimentos, as suas ideias e a sua forma de reagir. Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas compatíveis com o seu crescimento físico e o seu desenvol vimento. E, o fundamental, a criança vai se socializando. Que fatores influenciam o comportamento de brincar? Muitos seres vivos brincam, mas somente os seres humanos organizaram a brincadeira em forma de jogo. A capacidade de jogar surgiu nas mais antigas civilizações, em todos os recantos do globo. Os jogos e os brinquedos desempenham papéis relevantes no desenvolvimento infantil e na transmissão da cultura, de geração em geração. Originariamente, muitos jogos tinham um sentido religioso ou supersticioso. Jogos de azar, de tabuleiro e dados tais como ludo remontam há pelo menos cinco mil anos. O xadrez da Índia, o go do Japão e o wan da África são jogos de estratégia muito antigos que aguçam a capacidade de planejar e de calcular. Faz de conta, vestir-se de gente grande, para imitar os adultos, fazer o que o manda o mestre (mestre mandou), esconde-esconde, pegador, pique, e jogos de adivinhação estão entre os muitos passatempos que desenvolvem a capacidade infantil em qualquer parte do mundo. No que diz respeito a jogos e brinquedos, as crianças de famílias de recursos menores po- dem, em certos casos, ser mais bem servidas do que as crianças privilegiadas. Os brinquedos que elas próprias confeccionam com barro, palha, madeira, pregos e restos de materiais disponíveis envolvem criatividade e destreza, ao passo que os jogos eletrônicos, de plástico, produzidos em larga escala e comercializados de forma agressiva, muitas vezes promovem uma brincadeira soli- tária e passiva. A obsessão com a violência em muitos desses jogos, por sua vez, tem despertado preocupação a nível internacional. De acordo com vários autores e pedagogos, que estudam o comportamento de brincar da criança, o brinquedo é influenciado pela idade, sexo, presença de companheiros e de outras pesso- as, além dos aspectos ligados à novidade, surpresa, complexidade e variabilidade. Portanto, cabe ao educador: valorizar o brinquedo para encorajá-lo nos educandos, sem ter a sensação que está perdendo tempo; reconhecer as limitações do elemento competitivo no brinquedo infantil; equilibrar o brinquedo diretivo e espontâneo; Fundamentos do desenvolvimento motor 28 observar o brinquedo infantil para conhecer melhor as crianças e para que possa avaliar até que ponto a atividade está oferecendo prazer à criança; estimular os brinquedos sociais que favorecem os comportamentos interativos entre as crianças. A criança pode brincar só, brincar perto de um companheiro, brincar sem conseguir um grau elevado de cooperação e pode conseguir brincar a partir de uma divisão de tarefas para atingir um objetivo comum. O brinquedo pode prever uma diferenciação de papéis, pode ser cooperativo, compe titivo ou impregnado de momentos de cooperação e de competição. Muitas são as habilidades sociais reforçadas pelo brinquedo: cooperação, comunica- ção eficiente, competição honesta, redução da agressividade. O brinquedo permite às crianças progredirem até atin girem um nível de proficiência formidável. As brincadeiras permitem às crianças identificar, generalizar, classificar, agrupar, ordenar, seriar, simbolizar, combinar e estimar. E, juntamente com estas operações, a atenção está sendo desenvolvida, o mesmo ocorrendo com respeito às relações espaciais e temporais. A expressão corporal e todo o desenvolvimento de gestos, posturas, a relação que se estabelece entre o corpo e a mente da criança e o ambiente em que se encontra, tudo isso se reveste de uma enorme importância ao desenvolvimento infantil. Há uma infinidade de brinquedos e brincadeiras que seduzem a criança e a envolvem inte- gralmente. Quanto mais o brinquedo possibilitar a exploração livre da criança, melhor. Quanto menos isso ocorrer, mais a criança estará na condição de mera espectadora. Ela se envolve afe- tivamente, com o mundo, tanto quanto o adulto, possibilitando-lhe descobrir-se e entender-se, conhecer os seus sentimentos e forma de reagir. Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona ideias, melhora a sua parte motora e se prepara para o aprendizado futuro. O esporte é em muitas ocasiões intensamente trabalhado, o que gera tanto interesse como a apatia por parte daquelas crianças que não conseguem adquirir habilidades rapidamente e, conse- quentemente, não se destacam como atletas, por isso devemos trabalhar principalmente atividades interativas, que são atividades em que o papel do grupo e das habilidades individuais é ressaltado. Vamos agora compartilhar um texto sobre o Tempo. Pode parecer que isso não importa para a edu- cação, mas lembre-se: o tempo está presente em tudo, em todos os processos de desenvolvimento huma- no, no ensino e na aprendizagem. O aluno precisa de tempo, assim como o professor, a escola e os pais. O texto de Débora Dias Gomes, apresentado a seguir, sintetiza a importância do tempo em nos- so cotidiano, com a precisão e a sensibilidade que só existe no coração dos poetas. Tempo (Débora Dias Gomes) Imagine que você tenha uma conta corrente e a cada manhã você acorde com um saldo do dia para o dia seguinte. Todas as noites o seu saldo é zerado. Mesmo que você não tenha conseguido gastá-lo durante o dia, o que você faz??? Irá gastar cada centavo, é claro! Fundamentos do desenvolvimento motor 29 Pois bem, todos nós somos clientes deste banco de que estamos falando. Ele se chama tempo. Todas as manhãs, são creditados na sua conta 86 400 segundos, porém todas as noites esse saldo é debitado, como perda. Não é permitido acumular esse saldo para o dia seguinte. Todas as manhãs a sua conta será reinventada e todas as noites as sobras do dia se evaporam. Não há volta. Você precisa viver o momento presente, gastando o seu tempo com inteligência e vontade, selecionando apenas ações essenciais. Utilize o seu depósito diário. Não desperdice. Invista no que for melhor, na sua saúde, felicidade e sucesso e na daqueles que estiverem ao seu alcance. O relógio está correndo. Doe-se ao momento presente com entusiasmo. Faça o melhor para o seu dia a dia e para o dos outros que estão ao seu redor. Você acredita? Para você perceber o valor de um Ano, pergunte a um estudante que repetiu a série. Para você perceber o valor de um Mês, pergunte a uma mãe que teve o seu bebê prematura- mente. Para você perceber o valor de uma Semana, pergunte a um editor de um jornal semanal. Para você perceber o valor de uma Hora, pergunte aos amantes que estão esperando um grande encontro. Para você perceber o valor de um Minuto, pergunte a uma pessoa que perdeu um trem. Para você perceber o valor de um Segundo, pergunte a uma pessoa que conseguiu evitar um acidente terrível. Para você perceber o valor de um Milésimo de segundo, pergunte a quem venceu a medalha de prata de uma olimpíada. Valorize cada minuto de sua vida. Que você possa dividir todos os momentos da sua vida com pessoas especiais o suficiente para você gastar o seu tempo com sentimento de prazer por estar sendo útil. Lembre-se: o tempo não espera por ninguém. O ontem pertence a uma ciência chamada história. O amanhã é um mistério que não deve causar ansiedade. O hoje é dádiva. Por isso é chamado de presente!!! 1. A tarefa agora é explorar e refletir sobre o dia a dia com os alunos, sob a perspectiva do desen- volvimento motor. Formulamos um quadro que relaciona as principais habilidades motoras, seus respectivos padrões de movimento, as atividades abrangidas nesses movimentos, e a idade da criança que os realiza. Reunidos em gruposde três, vocês deverão preencher a tabela a seguir. Descrevam uma atividade pedagógica para cada um dos padrões de habilidades motoras apresentados, indicando a idade dos alunos que participaram dessas práticas propostas em sua sala de aula. Fundamentos do desenvolvimento motor 30 Habilidades de estabilidade Descrição da atividade Idade Movimentos axiais Equilíbrio estático Equilíbrio dinâmico Habilidades locomotoras Descrição da atividade Idade Caminhada Corrida Salto Satito Galope Skipping Habilidades manipulativas Descrição da atividade Idade Alcançar, segurar e soltar Pegar Lançar Chutar Bater 31 O corpo e o movimento na Educação Infantil Max Gunther Haetinger* Fatores físicos das atividades motoras infantis A s habilidades motoras e seus padrões são elementos fundamentais para o estudo do desenvolvimento motor infantil. Devemos sempre respeitar a pro-gressão dessas habilidades quando propomos atividades para nossos alunos. Agora, vamos conhecer os fatores físicos e mecânicos relacionados com o de- senvolvimento motor. Os fatores mecânicos estão vinculados a três aspectos inter- -relacionados: os fatores estabiliza dores; os fornecedores de força; os receptores de força. O fator de estabilidade relaciona-se com o fator força, pois todos estamos su- jeitos à lei da gravidade. E isso representa uma influência no centro e na linha de gravidade do corpo e na base de apoio do indivíduo. Já os fornecedores de força são as leis da física que alteram os movimentos de pessoas e objetos, como a inércia, a aceleração e a ação-reação. Por essa razão, os fatores mecânicos acabam relacionando-se também com os espaços, as superfícies e as distâncias percorridas no meio ambiente, e variam conforme a interação entre sujeitos, objetos e meio. Para melhor compreensão desses conceitos, vamos considerar as habilidades motoras (locomotoras, de estabilidade e manipulativas) e observar o diagrama apre- sentado por Gallahue e Ozmun (2001). * Com a colaboração de Daniela Haetinger e Luis Lucini. O corpo e o movimento na Educação Infantil 32 (G A LL A H U E; O ZM U N , 2 00 1, p . 8 8)Fatores físicosHabilidades motorasFatores mecânicos Fatores estabilizadores Centro de gravidade Linha de gravidade Base de apoio Inércia Aceleração Ação-reação Área de superfície Distância Fase reflexiva Fase rudimentar Fase especializada Fase reflexiva Fase rudimentar fundamental Fase especializada Fase reflexiva Fase fundamental Fase especializada Força Resistência aeróbica Flexibilidade Composição corporal Velocidade Agilidade Coordenação Equílibrio Energia Fatores fornecedores de força Fatores receptores de força Habilidades locomotoras Habilidades manipulativas Habilidades estabilizadoras Fatores de aptidão física Fatores de aptidão motora Esse diagrama demonstra as relações existentes entre fatores mecânicos e físi- cos e habilidades motoras. Os fatores físicos abrangem as propriedades necessárias à execução das habilidades motoras, influenciando os fatores mecânicos e sendo in- fluenciados por eles. Os fatores físicos agrupam as aptidões físicas e motoras. As aptidões físicas incluem a força muscular, a resistência aeróbia, a flexibilidade e a composição cor- poral do indivíduo. Já as aptidões motoras referem-se às características da execução de movimentos: velocidade, agilidade, coordenação, equilíbrio e energia. Ou seja, as aptidões motoras relacionam-se constantemente com as aptidões físicas durante a realização de um movimento. Agora, vamos definir cada um dos fatores físicos, pois é preciso reconhecê-los para propor atividades adequadas às capacidades físicas e motoras do indivíduo, co- laborando para um desenvolvimento sadio na infância. Fatores de aptidão física Força muscular – habilidade de nossos músculos para exercer força. As crianças devem desenvolver esse fator de forma natural, por meio de ati- vidades rotineiras como andar de triciclo ou bicicleta, correr, caminhar, balançar-se nas barras do parquinho, erguer objetos etc. Resistência aeróbia – é a capacidade dos músculos para executar um traba- lho com numerosas repetições, fatigante, que requer amplo uso do sistema circulatório e respiratório. Flexibilidade – está relacionada às habilidades de movimento das articu- lações do corpo. Divide-se em dois tipos: estática e dinâmica. A flexibili- dade estática ocorre quando alongamos lentamente uma articulação até o seu limite. A flexibilidade dinâmica envolve o movimento rápido das ar- ticulações. Os exercícios físicos de alongamento são recomendados para trabalhar a flexibilidade. Durante a infância, o ser humano tende a ser mais flexível, mas isso não significa que a criança deve praticar atividades físicas que sobrecarreguem suas articulações. O corpo e o movimento na Educação Infantil 33 Composição corporal – refere-se à massa corporal magra e à massa cor- poral adiposa. A análise desse fator depende de medições executadas por profissionais da área da saúde (médicos, professores de Educação Física e fisioterapeutas). Fatores de aptidão motora Velocidade – habilidade para o percurso de distâncias no menor tempo pos- sível. A velocidade é impactada pelo tempo de reação (chamado também de tempo motor), que é o tempo entre o início e o término de um movimento corporal. E esse tempo, por sua vez, relaciona-se com a velocidade das rea- ções neurais (tempo que o cérebro leva para responder a um estímulo). Agilidade – habilidade de movimentar o corpo com rapidez e precisão. É fun damental para várias ações cotidianas, como atravessar uma rua movi- mentada, correr e desviar-se de obstáculos. A agilidade das crianças pode ser aprimorada com atividades que envolvam interação com objetos, desvio de obstáculos, subir e descer de objetos ou carregá-los. Equilíbrio – habilidade de manter a postura corporal inalterada ao trocar de posição. O equilíbrio é um fator elementar para a execução dos movimentos e para a estabilidade. Os estímulos visuais, cinéticos, táteis e vestibulares alteram o equilíbrio. Quando a criança apresenta continuamente problemas de equilíbrio, isso pode indicar alguma disfunção. Nesse caso, oriente os pais para um acompanhamento médico. Coordenação – habilidade de reunir simultaneamente as ações de diferen- tes sistemas motores (por exemplo, encostar o dedo polegar no indicador, mexer o braço e a perna ao mesmo tempo). A coordenação vai aprimorando- -se à me dida que aumenta o grau de dificuldade das tarefas executadas. Ou seja, quanto mais elaborado for o movimento executado, maior é o nível de coordenação exigido. O equilíbrio, a velocidade e a agilidade são elemen- tos relacio nados à coordenação. As crianças desenvolvem sua coordenação com movimentos sequenciais, ritmados e simultâneos. Existem a coordena- ção fina (de monstrada em movimentos de pouca amplitude, como escrever, desenhar, recortar, encostar os dedos ao ritmo de uma música) e a coordena- ção ampla (engloba movimentos corporais mais amplos, como dançar, bater palmas, jogar futebol). Energia (ou força explosiva) – habilidade de desempenho de um esforço físico e muscular máximo, no menor tempo possível. Ela envolve a força, a velocidade e a coordenação dos músculos. A criança desenvolve essa habili- dade com práticas físicas como jogar, pular, bater, rebater, arremessar etc. A atividade física é sempre recomendada para o desenvolvimento integral da criança. Porém, não vamos confundir atividade física com atividade formal e regra- da. O desenvolvimento motor da criança ocorre em função das práticas corporais usuais da infância, como brincar na pracinha, caminhar e jogar. O corpo e o movimento na Educação Infantil 34 Aquisições-chave do desenvolvimento motor (MIR, 2004, p. 33-52) Segundo McGraw, na atividade motora podem se diferenciar: Um primeiro momento de atividade motora difusa e generalizada, que corresponde aos primeiros mesesda existência. A atividade está sob a orientação dos centros subcorticais. A criança se move sem que seus movimentos respondam a um comportamento intencio- nal, sem um objetivo concreto. A partir do quarto mês, inicia-se a atividade motora coordenada, dado que já se põe em marcha a intervenção da influência diretiva e inibidora do córtex cerebral. Por exemplo, os movimentos de abrir e fechar as mãos, na criança, já não têm o caráter mecânico e automático, mas mostram uma tentativa de utilização instrumental, embora sua eficácia ainda não seja mui to boa. Até o final do primeiro ano, a participação ativa do córtex permite que a atividade motora tenha coordenação suficiente para possibilitar atividades de manipulação e deslocamento com uma eficácia adaptativa significativa. A criança é capaz de engatinhar, às vezes an- dar, segurar objetos, pô-los e tirá-los de determinados recipientes. Em torno dos dois anos, a atividade cortical alcança níveis de funcionamento conside- ráveis e a criança já dispõe de seus mecanismos perceptivo-motores em possibilidades de utilização plena. A precisão, a desenvoltura, a eficácia e a flexibilidade com que os utiliza dependerá da influência ambiental e das oportunidades que seu meio lhe tenha proporcionado para deslocar-se, manipular. Já é capaz de correr, subir e descer escadas, por exemplo. Desenvolvimento postural Dentro deste item podemos distinguir: sustentação da cabeça; posição sentado; posição de pé. [...] em todas as aprendizagens que a criança deve realizar, é muito importante dar-lhe o oportunidade de experimentar e vivenciar, sem forçar a aquisição. As escolas infantis devem, entre uma de suas tarefas fundamentais, criar ambientes enriquecidos que proporcionem a maior quanti dade possível de oportunidades. Nosso texto em destaque aborda as habilidades motoras estudadas até o momento sob o ponto de vista prático. A autora, Gloria Medrano Mir, fornece-nos dicas muito interessantes sobre como trabalhar essas habilidades na Educação Infantil. O corpo e o movimento na Educação Infantil 35 Formas de deslocamento anteriores à marcha As crianças utilizam diversas formas de deslocamento antes de chegar à posição bípede e ao domínio da marcha. Primeiro arrastam-se sobre a barriga, dando impulso com os braços e as pernas, em um mo- vimento de reptação, para depois, em torno dos oito ou nove meses, engatinhar ou deslocarem-se sentadas com pequenos saltos, dando impulso com os braços. O passo intermediário entre enga- tinhar e andar costuma ser caminhar como um urso, braços e pernas estendidos e mãos e pés no chão. Domínio da marcha Sustentando-se com uma mão, é capaz de fazer os movimentos da marcha, para deslocar-se, aos nove meses. Aos 11, caminha com certa desenvoltura se tiver ajuda e entre os 12 e os 14 meses caminha sozinha. Manipulação É de considerável importância, visto que está relacionada ao desenvolvimento afetivo e cog- nitivo. Constituirá uma das condutas instrumentais básicas para a adaptação da criança ao meio e à descoberta e estruturação do espaço. Para que possa ser efetivada com orientação intencional e eficácia, é necessário um processo de maturação e treinamento com relação a duas funções básicas, preensão e visão, e coordenação entre ambas. [...] Ao longo da infância, a criança deverá adquirir o progressivo controle e o domínio de sua capacidade de manipulação para realizar aprendizagens básicas como rasgar, cortar, desenhar, escrever, entre outras. Lateralidade A base orgânica da motricidade e da percepção é constituída pelo sistema nervoso. Neste, cada hemisfério cerebral é responsável pelo controle da atividade de uma parte do organismo. O hemisfério esquerdo controla a atividade da parte direita do corpo e o direito, da parte esquerda. Existe um hemisfério dominante. As pessoas cujo hemisfério dominante é o esquerdo são destras e aquelas nas quais domina o direito são canhotas. Existem pessoas sem uma dominância definida, que podem ser ambidestras. Parece, inclusive, que há diferenças sexuais quanto à domi- nância hemisférica ou lateralidade: as mulheres são menos lateralizadas do que os homens. [...] No caso dos homens destros, a linguagem, o manejo dos números, a solução de problemas lógicos, o processamento de materiais sequenciais, entre outros, dependem fundamentalmente da atividade do hemisfério esquerdo. O desenho, a imaginação, o gosto musical, por exemplo, dependem do direito. No caso dos homens canhotos e das mulheres, a especialização não está tão definida. Entretanto, ainda não há um acordo entre os pesquisadores sobre se a dominância hemisférica funciona também de maneira especia lizada com relação às emoções. Apesar da espe- cialização, os dois hemisférios atuam de maneira conjunta e complementar. O corpo e o movimento na Educação Infantil 36 A criança da atualidade Na Educação Infantil, as crianças são o foco, a razão, a motivação, a causa e o efeito de nosso trabalho. Por isso, é tão importante entendermos a criança que faz parte da nossa realidade, reconhecendo-a em um sentido mais amplo, considerando todas as nuances de seu universo. As crianças da atualidade fazem parte de uma geração nascida em uma épo- ca de intensa revisão de paradigmas. Na Educação, estamos reavaliando nossas práticas pedagógicas e centrando o processo de aprendizagem no aluno (e não mais no professor). No campo filosófico, revê-se o conceito de verdade (já não existem certezas absolutas) e as relações entre homens, tempo e espaço, as quais se encon- tram em plena transformação por causa do avanço tecnológico. No âmbito social, são adotados novos valores, comportamentos, meios de produção, de informação e de comunicação. Refletindo sobre esses aspectos, destacamos a relação das crianças com a mí- dia. Mesmo com a crescente difusão das novas tecnologias de informação e comu- nicação (computadores em rede, ferramentas digitais, realidades virtuais etc.), a te- levisão ainda é a ferramenta comunicativa e informativa que mobiliza a maior parte da população. Nas últimas décadas, a tevê foi responsável pela formação cultural de milhares de pessoas, o que também afeta a Educação Infantil. Segundo o professor José Manuel Moran, A criança também é educada pela mídia, principalmente pela televisão. Aprende a informar- -se, a conhecer – os outros, o mundo, a si mesma –, a sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo, ouvindo, “tocando” as pessoas na tela, pessoas estas que lhe mostram como viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. A relação com a mídia eletrônica é prazerosa – ninguém obriga que ela ocorra; é uma relação feita através da sedução, da emoção, da exploração sensorial, da narrativa – aprendemos vendo as histórias dos outros e as histórias que os outros nos con- tam. Mesmo durante o período escolar a mídia mostra o mundo de outra forma – mais fácil, agradável, compacta – sem precisar fazer esforço. Ela fala do cotidiano, dos sentimentos, das novidades. A mídia continua educando como contraponto à educação convencional, educa enquanto estamos entretidos. (MORAN, 2005) Das crianças que reproduziam pequenos adultos antigamente, hoje convivemos com crianças ativas e críticas, capazes de lidar com uma enorme quantidade de infor- mação – algo nunca sonhado pelas gerações anteriores. São meninos e meninas que dominam os controles remotos e deslizam seus dedinhos sobre botões com maestria e coordenação inigualáveis. Elas já não se contentam em serem meros espectadores sociais e cumpridores de ordens: desde muito cedo, apresentam uma postura ativa e seus questionamentos são cada vez mais constantes nas salas de aula, desde o jardim de infância. Também parece que as pessoas têm estilos hemisféricos, isto é, dão preferência a um ou a ou- tro hemis fério em suas atuações. As analíticas e verbais parecem preferir o hemisfério dominante e as intuitivas e globais, o hemisfério menor. Importa conhecer a realidade da diferença hemisférica
Compartilhar