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DIDÁTICA Alex Ribeiro Nunes A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a trajetória histórica da didática, observando os seus diferentes pressupostos teóricos, filosóficos e sociais. Identificar os principais marcos históricos fundamentais na constituição da didática. Analisar as mudanças e os avanços da didática nos dias atuais. Introdução A didática está presente na vida de qualquer professor: estratégias de sala de aula, formação teórico-prática, metodologias, posturas e ativida- des diversificadas. Esses e tantos outros fatores importantes constituem o fazer pedagógico e desenham os caminhos do conhecimento, que procura realizar a mediação entre as teorias educacionais e as práticas em sala de aula. Neste capítulo, você terá a oportunidade de navegar e construir co- nhecimentos sobre a trajetória histórica da didática, bem como conhecerá diferentes pensadores e as suas teorias educacionais. Nessa perspectiva, poderá reconhecer os principais marcos históricos de constituição da didática e, ainda, ponderar sobre as transformações e os avanços dos estudos e das práticas didáticas na atualidade. 1 A trajetória histórica da didática: pressupostos teóricos, filosóficos e sociais Não é incomum ouvirmos, quando o assunto é escola ou educação, falas como “esse professor sabe muito, mas não sabe ensinar”, ou “essa professora não tem didática”, ou, ainda, “a didática desse professor é muito ruim”. São inúmeras as expressões relacionadas às práticas da sala de aula que reafi rmam a sua importância e necessidade para o processo de construção do conhecimento. É nesse cenário que emerge a didática como o caminho para o saber, ou seja, a consumação da teorização. Vale ressaltar que a palavra didática surge do grego didaktiké, com o abrangente significado de “a arte de ensinar tudo a todos”. O termo foi em- pregado pela primeira vez por Ratke, em 1629, e por Comenius, em 1657. Foi a partir de Comenius que a didática ganhou força e notoriedade. Também foi o grande pensador Comenius quem escreveu, entre diversas outras obras, a Didática Magna, uma das mais importantes escritas do cenário educacional mundial. Portanto, ele trouxe a prática do ensinar e aprender como pauta fundamen- tal para esse contexto, imaginando ter descoberto um método eficaz para se chegar à aprendizagem, de modo ágil e prazeroso. Comenius (2001, p. 13) ressalta que: Nós ousamos prometer uma didática magna, ou seja, uma arte universal de ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo para obter resultados; de ensinar de modo fácil, portanto sem que docentes e discentes se molestem ou enfadem, mas ao contrário, tenham grande alegria; de ensinar de modo sólido, não superficialmente, de qualquer maneira, mas para conduzir à verdadeira cultura, aos bons costumes, a piedade mais profunda. No século XVIII, surgiu outro importante expoente que trouxe conhecimentos revolucionários para a didática: Rousseau. Ele não pode ser considerado um sistematizador da educação, porém a sua obra apresenta algo que se tornaria fundamental para compreender melhor os processos de ensino e aprendizagem: um novo e inovador conceito de infância. Rousseau surgiu como um continuador das ideias dos didatas, no entanto, com os seus estudos e pesquisas, certamente deu um passo muito mais além, colocando em evidência a condição do ser criança. Assim, ele transformou o que era método em um processo natural, que aconteceria de maneira tranquila, sem excessos, sem livros e sem nenhuma pressa. Na tentativa de percorrer o conceito e o histórico da didática, faz-se im- prescindível considerar os aspectos políticos, sociais e culturais, bem como as percepções e construções de alguns pensadores e pensadoras a respeito A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar2 desse conceito em diferentes momentos da história. Inicialmente, Pestalozzi (1826), nos seus escritos e na sua atuação, deu dimensões sociais à problemática educacional. O aspecto metodológico da didática encontra-se sobretudo em princípios, e não em regras, transportando-se o foco de atenção às condições para o desenvolvimento harmônico do aluno. Para Candau (1986, p. 12), a “[...] didática deve ser compreendida como reflexão sistemática em busca de alternativas para os problemas da prática pedagógica”. Nessa perspectiva, pode-se dizer que ela compõe a pedagogia. Outro importante autor que traduz, no decorrer da história, a sua percepção sobre a didática é Libâneo (1992, p. 26): A didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Investiga os funda- mentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. Segundo essa ideia, a ela cabe converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses obje- tivos, estabelecendo os vínculos entre o ensino e a aprendizagem. De acordo com Masetto (1997), vemos em ensinar, instruir e fazer apren- der uma reflexão sistemática sobre o processo de ensino e aprendizagem que ocorre na escola (na sala de aula), buscando alternativas para os problemas da prática pedagógica — portanto, tentativas de aproximação ao sentido da didática. Nesse cenário, é possível perceber que o processo de reflexão sis- temática visa ao estudo das teorias de ensino e de aprendizagem associadas ao processo educativo realizado no contexto escolar (escola e sala de aula), bem como aos resultados obtidos, em busca de alternativas para a teoria e a prática. Como processo de ensino e aprendizagem, a didática atua em três dimensões: humana, político-social e técnica. Para Anastasiou e Pimenta (2002), a didática é vista como uma ação de ensinar que está inteiramente ligada às relações entre os mais velhos e os mais jovens, entre crianças e adultos, na família e nos demais espaços sociais e públicos. Já para Martins (2008), a didática é a disciplina que busca compreender o processo de ensino em suas múltiplas determinações, para intervir nele e reorientá-lo na direção política almejada. Portanto, a didática recebe influências dos direcionamentos políticos, mas tem o poder de atuar sobre eles. Por fim, Morandi (2008), apoiado em Chavellard, afirma que a didática descreve as modalidades do trabalho pedagógico sobre e com o saber. Esse trabalho transforma um objeto–saber a ser ensinado em um objeto de ensino. 3A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar Considerando as diferentes concepções defendidas por esses e diversos ou- tros autores e autoras, encontramos na história da educação períodos históricos nos quais emergiram novas tendências educacionais, que foram se sustentando e se materializando como importantes correntes didático-pedagógicas. Entre elas, destacam-se a pedagogia tradicional, a pedagogia renovada, a pedagogia tecnicista e a pedagogia crítica. Nessa perspectiva, para pensarmos as novas práticas educativas e vislum- brarmos as novas possibilidades didático-pedagógicas, faz-se fundamental que façamos um paralelo da didática com essas teorias. Dessa forma, trazer as diferentes concepções e os períodos históricos nos ajuda a perceber os processos de mudanças e transformações, bem como todos os atravessadores que influenciaram — e influenciam — a educação e a didática. É fundamental, também, problematizar todas essas teorias de modo a refletir sobre a necessidade de diálogo entre elas. Além disso, é importante termos a possibilidade de visualizar as tantas oportunidades de apoio e intervenção ao sujeito no processo de ensino e aprendizagem, inclusive às crianças. O processo histórico da didática no Brasil Compreende-se que, a partir da década de 1980, mais enfaticamente nos anos 1990, foi iniciada uma nova fase na educação, coma perspectiva de uma ruptura que favorecesse a urgência em interpretar e compreender a dinâmica de ensino e aprendizagem em sua vasta dimensão, integrando, ainda, os seguintes aspectos: técnico, humano e político. Vale ressaltar que esse movimento teve estreita relação com a modifi cação da perspec- tiva nos estudos sobre o currículo (especialmente nos Estados Unidos e na Europa). Nesse contexto, o currículo constitui um dispositivo no qual que se concentram as relações entre a sociedade e a escola, assim como entre os saberes, as práticas socialmente construídas e os conhecimentos escolares. Podemos dizer, então, que os primeiros constituem as origens dos segundos. Em outras palavras, os conhecimentos escolares provêm de saberes e de conhecimentos socialmente produzidos nos diversos espaços de referência do currículo. Desse modo, é de máxima importância que você compreenda o processo ocorrido na segunda metade do século XX, que reflete na prática de ensino dos docentes até os dias atuais. Entre 1960 e 1970, eram sinônimos de qualidade na prática de ensino: A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar4 abordagem tecnicista; construção de planejamentos rígidos; domínio da sala de aula; enorme valorização das técnicas; valorização enfática nos recursos didáticos, etc. Em 1980, ocorreu um grande marco no desenvolvimento da didática: ocasião do Encontro de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE); enorme produção acadêmica; professores discutindo a sua própria prática; o aluno é visto como um ser historicamente concebido, etc. De 1990 até os dias atuais, o processo didático e a prática de ensino e aprendizagem se fortaleceram: a didática passa a ser tema de interesse de grandes pesquisas; busca-se a compreensão do cotidiano e do fazer pedagógico; o professor é visto como agente reflexivo, pesquisador e transformador; a didática é assumida como disciplina prática, etc. Enfim, a didática — e tudo o mais que a atravessa — busca a compreensão, a análise e o entendimento dos fatos associados ao campo dos conhecimentos pedagógicos. Assim, no decorrer da história, vai-se ampliando e transformando, dadas as inúmeras pesquisas e os mais diversos pensadores que se debruçam a discutir, problematizar e levantar novas formas de ensinar e aprender. Você sabia que a didática é considerada uma ciência que estuda os saberes necessários à prática docente e é um dos principais instrumentos para a formação do professor? É nela que os docentes se baseiam para adquirir os ensinamentos necessários à prática. De acordo com Libâneo (1992, p. 26), “[...] a didática trata da teoria geral do ensino”. Como disciplina, é entendida como um estudo sistematizado, intencional, de investigação e de prática (LIBÂNEO, 1992). Como importante área da pedagogia, a didática procura pesquisar e estudar o fenômeno do “como ensinar”. As recentes modificações nos sistemas escolares, especialmente na área de formação de professores, configuram uma “explosão didática”. A ressignificação da didática aponta para um balanço do ensino como prática social, ou seja, essas modificações têm provocado consideráveis transformações na prática social de ensinar. 5A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar 2 Principais marcos históricos que foram fundamentais para a constituição da didática A didática se manifesta nas práticas sociais de várias maneiras: enquanto dis- ciplina, enquanto campo do conhecimento, enquanto ação humana, enquanto organização institucional, etc. De acordo com Araújo (2008), como disciplina, a didática é desenvolvida em cursos de graduação, licenciaturas e cursos de formação de professores, de modo a oferecer as ferramentas teórico-práticas necessárias para que o futuro docente possa lecionar em sala de aula. Enquanto área do conhecimento, ela aponta os grupos que pesquisam e constroem saberes específi cos nessa área. Como ação humana, a didática expressa a preocupação dos seres humanos em preparar o ensino, organizar as aulas e escolher as metodologias próprias para ensinar determinado conteúdo. Como organização institucional, ela busca técnicas e metodologias que organizem os processos institucionais de ensino e aprendizagem, para que estes favoreçam o processo de construção do conhecimento. Para compreender os principais marcos históricos que foram fundamentais para a constituição da didática, faz-se necessário saber que, embora muitos filósofos tenham se debruçado sobre a educação de modo geral, foi a partir do século XII que surgiram os primeiros tratados sistemáticos sobre os processos de ensinar e aprender. De acordo com Araújo (2008), são exemplos marcantes: Eruditio didascalia, de Hugo de San Victor, no século XII; De disciplinis, de Juan Luis Vives, no século XVI; Aporiam didactici principio, de Wolfgang Ratke, no século XVII. Certamente, todas essas obras foram fundamentais para as compreen- sões, mudanças e evoluções em suas respectivas épocas. Contudo, é preciso reafirmar que nenhuma delas apresenta tanta notoriedade e grandiosidade como a Didática Magna, de João Amós Comenius, publicada em 1657. Tanta repercussão possivelmente se deve à complexidade e à audácia da proposta, apresentada ali como o tratado que propunha ensinar tudo a todos. Em seus estudos, Comenius traçou reflexões sobre a divisão social do trabalho, que vai se tornando uma forte característica de seu tempo. Para ele, foram quatro as modalidades de escolas: a escola do regaço materno, a escola da língua nacional, a escola latina e a academia ou universidade. Outro aspecto que, sem dúvida, precisa estar listado como um marco histórico para a constituição da didática refere-se às teorizações de Rousseau. O pensador ajudou a desenhar o caminho da didática de modo marcante, A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar6 apresentando algo que influenciaria todos os estudos subsequentes. A valo- rização da infância, por ele defendida, está carregada de consequências para a pesquisa e a ação pedagógicas, mas estas irão, ainda, aguardar mais de um século para se concretizarem. Enquanto Comenius, ao seguir as “pegadas da natureza”, pensava em “domar as paixões das crianças”, Rousseau partiu da premissa da bondade natural do homem, corrompido pela sociedade. É em sua obra O contrato social que ele discute a reforma da sociedade, tão necessária quanto a reforma da educação. Foi em virtude dessa vertente de seu pensamento que ele participou da renovação ideológica que precedeu à Revolução Francesa. Para Damis (1988, 1988, p. 13): Há uma evolução da Didática em paralelo com a história da educação, visto que, desde os jesuítas, passando por Comênio, Rousseau, Herbart, Dewey, Snyders, Paulo Freire, Saviani, dentre outros, a educação escolar percorreu um longo caminho do ponto de vista de sua teoria e prática. Vivenciada através de uma prática social específica – a pedagogia –, esta educação organizou o processo de ensinar-aprender através da relação professor aluno e sistematizou um conteúdo e uma forma de ensinar (transmitir-assimilar) o saber erudito produzido pela humanidade. Desse modo, observa-se que a educação foi ganhando forças, e a pedagogia foi se sustentando como ciência particular, desvinculando-se, aos poucos, da filosofia e da teologia e reafirmando-se no cenário educacional. Contudo, as histórias da pedagogia e da didática se misturam no tempo. Em alguns momentos, ao resgatarmos os estudos que compõem a história da pedagogia, muitas vezes nos referimos a teólogos e filósofos, entre outros. Algo similar acontece quando contamos a história da didática. Foram muitos os marcos históricos que contribuíram para que a didática evoluísse e chegasse onde chegou. Destacam-se os seguintes nomes: Jean-Jacques Rousseau (1712–1778): foium pensador que procurou interpretar essas aspirações, propondo uma concepção nova do ensino, com base nas necessidades e nos interesses imediatos da criança. Henrique Pestalozzi (1746–1827): deu grande importância ao ensino como meio de educação e desenvolvimento das capacidades humanas. Johann Friedrich Herbart (1766–1841): foi um pedagogo alemão com grande influência e relevância na didática e na prática docente. Para ele, o fim da educação é a moralidade; a instrução é introduzir ideias corretas na mente do homem. 7A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar A. Diesterweg (1790–1866): didata alemão que estudou e pesquisou sobre o desenvolvimento do professor. John Dewey (1859–1952): foi um destacado representante de uma das tendências do pragmatismo didático. Na didática, a sua maior contri- buição está no ensino laboral e na relação do ensino com a vida. Paulo Freire (1921–1997): sem dúvida, é um dos maiores pedagogos do século XX. Como ocorreu em outras épocas, grandes pedagogos se converteram também em grades didatas — ou, ainda, grandes didatas se tornaram grandes pedagogos. Enfim, é preciso ressaltar que a didática, desde a sua origem, como qualquer outra ciência particular, estuda e pesquisa o seu próprio objeto e, dentro dele, o seu campo de ação. No decorrer da história, muitos foram os estudos e as pesquisas que se instituíram como marcos evolutivos e contribuíram para a ampliação, a renovação e o alcance dos processos didáticos, bem como para as transformações da educação. A didática é uma disciplina obrigatória no currículo dos cursos de licenciatura no Brasil desde o início do século XX — um marco para os processos de formação de professores e para a educação brasileira. De acordo com Libâneo (1992), a disciplina de didática investiga os fundamentos, as condições e os modos de realização da instrução e do ensino. Assim, busca-se revelar, no decorrer da história, elementos e características que marcaram formas de se pensar o ensino e a aprendizagem no âmbito dessa disciplina, principalmente no que se refere às questões relacionadas a como ensinar e ao trabalho docente. 3 Mudanças e avanços da didática na atualidade Para falarmos das transformações e dos avanços da didática na contemporanei- dade, faz-se fundamental considerarmos o fato de que, com a redemocratização do Brasil, passou a ser necessária uma formação diferenciada do corpo docente. Assim, passou-se a buscar a formação política do professor, percebendo a educação como ato político e social. Nesse novo cenário da educação e da didática, o professor passou a ser visto como agente intelectual transformador, cujo trabalho deveria ser orientado por determinada ética valorativa e cuja prática precisaria ser abrangente e efi caz. A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar8 Pensar na didática para a atualidade requer pensar nos diferentes movi- mentos que a sociedade produz e nas diversas demandas que emergem a todo tempo. Requer, também, compreender as muitas dimensões que atravessam os sujeitos, bem como os múltiplos contextos nos quais eles estão inseridos. São características dos novos tempos: o ensino e aprendizagem e a prática educativa vistos como prática social. Desse modo, a didática precisa se rein- ventar e propor novos alcances, novas propostas e novos vieses. Nesse novo cenário, a didática é convocada a debater a formação dos professores, com questões que giram em torno da discussão sobre como se ensina a ensinar, ou mesmo sobre quais são os saberes necessários ao exercício da docência. Nessa perspectiva, é importante considerar o que dizem Marin, Penna e Rodrigues (2012): A Didática não é um receituário que deve informar a prática de ensino, mas uma área de conhecimento para a compreensão dessa prática, valendo-se da teoria como hipóteses de análise e compreensão. Trata-se de compreender as situações de ensino, não para prescrever a prática, mas para ampliar o domínio sobre ela, e assim contribuir nos processos de formação dos professores em todos os âmbitos. Hoje, no processo educacional, o professor não é mais o eixo da ação educativa, como se pensava anos atrás. Na contemporaneidade, concebe-se o educando como ser ativo, procedente das experiências vivenciadas em seus múltiplos aspectos de conhecimento, tornando-se, assim o centro da prática pedagógica. Ao professor cabe o papel de mediar a cultura elaborada. Em suma, o ensino e aprendizagem é uma atividade dinâmica e criativa, um acontecimento eminente, interpessoal e social que ocorre na mobiliza- ção mental da subjetividade e da experiência sociocultural concreta, como sugere Libâneo (1992). Na perspectiva de se pensar os processos inovadores da didática na atualidade, emerge uma proposta que tem se firmado cada vez mais como transformadora e eficaz junto à prática docente e à construção do conhecimento: as metodologias ativas. As metodologias ativas se configuram como uma inovadora prática do- cente, a qual consiste em um processo amplo cuja principal característica é a inserção do estudante como agente principal e responsável pela sua aprendi- zagem. É necessário ressaltar que o processo de construção do conhecimento, devido a diversos fatores (p. ex., a agilidade na produção de conhecimento, a provisoriedade das verdades construídas no saber científico e, principalmente, a facilidade de acesso à vasta gama de informação), deixou de ser baseado na mera transmissão de conhecimentos. 9A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar Nesse contexto, as metodologias ativas surgem como proposta para focar o processo de ensino e aprendizagem na busca da participação ativa de todos os envolvidos, centrados na realidade em que estão inseridos. Assim, o estudante torna-se protagonista no processo de construção de seu conhecimento, sendo responsável pela sua trajetória e pelo alcance de seus objetivos. Portanto, ele deve ser capaz de autogerenciar e autogovernar o seu processo de formação. Confira, a seguir, alguns exemplos de metodologias ativas. Flipped classroom – sala de aula invertida Na sala de aula invertida, os alunos fazem uma leitura prévia do conteúdo fora da sala de aula. Durante a aula, o professor aproveita o tempo para discussões em grupos e para a realização de exercícios e projetos. Problem based learning – aprendizagem baseada em problemas (PBL) Essa metodologia ativa de ensino e aprendizagem se utiliza de problemas da realidade para mobilizar o aprendizado. Team-based learning – aprendizagem baseada em times (TBL) A TBL contempla a formação de times pelos estudantes, que, gerenciados pelo pro- fessor, devem se responsabilizar pela autoaprendizagem e pelo desenvolvimento da aprendizagem do grupo. Peer instruction – instrução por pares ou instrução pelos colegas (IpC) É um ensino para a compreensão que se baseia no estudo prévio de matérias disponibi- lizadas pelo professor e na apresentação de questões conceituais para serem discutidas. O objetivo é promover a aprendizagem de conceitos fundamentais utilizando-se da interação entre os estudantes. World café Os participantes sentam-se em grupos e, após as explicações em relação ao processo de trabalho, é iniciada uma conversação sobre um tema predefinido. Design thinking Busca diversos ângulos e perspectivas para a solução de problemas, priorizando o trabalho colaborativo em equipes multidisciplinares, atrás de soluções inovadoras. A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar10 Os avanços na área da didática têm contribuído muito para a transformação do currículo escolar. Este, por sua vez, para ser eficaz e ter qualidade, deve possibilitar a formação continuada dos professores, perceber o aluno como principal agente no processo de aprendizagem efazer uso inteligente das novas tecnologias. Além disso, o currículo escolar deve estimular a utilização de metodologias que sejam significativas e que alcancem os diferentes tipos de alunos, de modo a proporcionar a participação destes como sujeitos do processo educativo. Não basta incluir algumas aulas de informática e vídeo, é preciso criar situações de aprendizagem em que o aluno construa autonomia e motivação na sua utilização. Finalmente, para que isso seja possível, faz-se necessário um planejamento de ensino que una os profissionais da educação nesse processo (professores, coordenadores, agentes educacionais, diretores), ou seja, um trabalho em equipe, para que as novas propostas didáticas sejam compreendidas e se construa uma educação para os novos tempos. Oficinas As oficinas proporcionam momentos de interação e troca de saberes a partir de uma horizontalidade na construção do saber inacabado. A sua dinâmica toma como base o pensamento de Paulo Freire no que diz respeito à dialética/dialogicidade na relação entre educador e educando. Gamificação A gamificação utiliza elementos encontrados em jogos e os insere em contextos diferentes, buscando transportar o aspecto lúdico e motivacional dos games para outros ambientes. Grupo de verbalização e grupo de observação (GVGO) Essa metodologia é muito utilizada quando há uma grande quantidade de partici- pantes, pois exige que o grupo maior seja dividido em dois subgrupos. Um subgrupo interno (GV) formará um círculo, ao passo que um subgrupo externo (GO) formará um semicírculo e ficará ao redor das paredes da sala. Dramatização A dramatização na escola tem como finalidade buscar a participação dos alunos, o es- tímulo e o convívio social, além do crescimento cultural e da linguagem oral e corporal. 11A didática e a sua contextualização histórica: uma abordagem sobre o ontem e o hoje na arte de ensinar Na metodologia denominada World café, as ideias-chave são anotadas em uma folha de papel, da forma como os participantes julgarem melhor. Terminado o tempo da primeira rodada (20–30 minutos), os participantes do grupo, exceto um (chamado de host ou anfitrião), deverão mudar para outros grupos. Aquele que permaneceu tem a responsabilidade de receber os novos companheiros, apresentar o que foi sintetizado e estimular que sejam compartilhadas as conversações experimentadas nos outros grupos. Nesse momento, inicia-se o processo de polinização cruzada, que ocorre durante todas as demais rodadas do World café. É importante delimitar o tempo para o consenso do grupo (3 min). Esse conteúdo deverá ser incorporado ao registro daquele grupo. Terminada aquela rodada, os participantes (menos o host) novamente mudam de mesa e, dependendo do objetivo, continuam debatendo a mesma questão ou recebem um novo detalhamento ou um novo foco. Todos os participantes, exceto o host, deverão percorrer todos os grupos. ANASTASIOU, L. G. C.; PIMENTA, S. G. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002. v. 1. ARAÚJO, C. B. Z. M. (Org.). Educação sem fronteiras: pedagogia. 2. ed. Campo Grrande: UNIDERP, 2008. CANDAU, V. M. (Org). A didática em questão. Petrópolis: Vozes, 1986. CASTRO, A. D. A trajetória histórica da didática. São Paulo: FDE, 1981. COMENIUS, I. A. Didactica Magna. Porto: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. Dispo- nível em: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2018. DAMIS. O. T. Arquitetura da aula: um espaço de relações. In: DALBEN. S. I. L. F. et al. (Org.). 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