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A cópia do material didático utilizado ao longo do curso é de propriedade do(s) autor(es), não podendo a contratante vir a utilizá-la em qualquer época, de forma integral ou parcial. Todos os direitos em relação ao design deste material didático são reservados à Fundação Getulio Vargas. Todo o conteúdo deste material didático é de inteira responsabilidade do(s) autor(es), que autoriza(m) a citação/divulgação parcial, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Adicionalmente, qualquer problema com sua turma/curso deve ser resolvido, em primeira instância, pela secretaria de sua unidade. Caso você não tenha obtido, junto a sua secretaria, as orientações e os esclarecimentos necessários, utilize o canal institucional da Ouvidoria. ouvidoria@fgv.br www.fgv.br/fgvmanagement SUMÁRIO 1. PROGRAMA DA DISCIPLINA ........................................................................... 1 1.1 EMENTA .......................................................................................................... 1 1.2 CARGA HORÁRIA TOTAL ................................................................................... 1 1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 1 1.4 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ............................................................................. 1 1.5 METODOLOGIA ................................................................................................ 2 1.6 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................... 2 1.7 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA .......................................................................... 2 CURRICULUM VITAE DO PROFESSOR ....................................................................... 3 2. TEXTO PARA ESTUDO - EVOLUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO COMPLIANCE.. 3 2.1 CASE GESTÃO INTEGRADA DE RISCOS ............................................................... 3 2.2 NOÇÕES GERAIS ............................................................................................. 7 2.3 FCPA .............................................................................................................. 9 2.3.1 EXCEÇÕES DO FCPA .....................................................................................11 2.4 CONVENÇÕES INTERNACIONAIS .......................................................................11 2.4.1 CONVENÇÃO SOBRE O COMBATE DA CORRUPÇÃO DE FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS EM TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS – OCDE – 1997 .......11 2.4.2 CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA A CORRUPÇÃO – OEA – 1996 ..............12 2.4.3 CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO – ONU – 2003 .........13 2.5 UK BRIBERY ACT.............................................................................................14 2.5.1 ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DO UK BRIBERY ACT .......................15 2.5.2 INFRAÇÕES .................................................................................................15 2.5.3 SUJEITOS ATIVOS ........................................................................................18 2.5.4 APLICAÇÃO EXTRATERRITORIAL ....................................................................18 2.5.5 DEFESAS .....................................................................................................19 2.5.6 SANÇÕES ....................................................................................................21 2.5.7 “DPA CODE” ................................................................................................22 2.6 OUTRAS LEIS ESTRANGEIRAS ..........................................................................23 2.6.1 ALEMANHA ..................................................................................................23 2.6.2 ARGENTINA .................................................................................................24 2.6.3 CHINA ........................................................................................................24 2.6.4 FRANÇA ......................................................................................................26 2.6.5 ITÁLIA ........................................................................................................27 2.6.6 MÉXICO ......................................................................................................27 2.6.7 RÚSSIA .......................................................................................................28 2.7 INTERAÇÃO MULTIJURISDICTIONAL ..................................................................28 2.8 CASE CUIDADOS EM OPERAÇÃO INTERNACIONAL ..............................................30 2.9 CASE MAGYAR TELEKOM – INSPIRADO EM FATOS REAIS .....................................30 2.10 COMPLIANCE NO BRASIL ...............................................................................31 2.10.1 LEI ANTICORRUPÇÃO BRASILEIRA E SEUS PRINCIPAIS ASPECTOS ...................31 3. ASPECTOS GERAIS E PENAIS DA LEGISLAÇÃO ANTICORRUPÇÃO E ANTISSUBORNO ............................................................................................... 34 3.1 CÓDIGO PENAL ...............................................................................................34 3.2 COMBATE À LAVAGEM DE DINHEIRO .................................................................35 3.2.1 MODUS OPERANDI .......................................................................................36 3.2.2 BEM JURÍDICO .............................................................................................36 3.2.3 CRIME ANTECEDENTE ...................................................................................37 3.2.4 CONSUMAÇÃO .............................................................................................38 3.3 LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ............................................................39 3.4 LEI DE LICITAÇÕES (LEI 8.666/93) ...................................................................41 3.5 O PROCESSO ADMINISTRATIVO SANCIONADOR .................................................43 3.5.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO SANCIONADOR ....43 3.6 O RITO DO PAR FEDERAL (DECRETO 8.420/15) ..................................................45 3.6.1 COMPETÊNCIA .............................................................................................45 3.6.2 COMPETÊNCIA DO MINISTRO DA TRANSPARÊNCIA (CGU) .................................46 3.6.3 SINDICÂNCIA, PAR OU ARQUIVAMENTO .........................................................46 3.6.4 DEFESA E PRODUÇÃO PROBATÓRIA ...............................................................47 3.6.5 ALEGAÇÕES FINAIS ......................................................................................48 3.6.6 PRINCÍPIOS INFORMADORES DO PAR POSITIVADOS NO DECRETO ....................48 3.6.7 INTIMAÇÕES ...............................................................................................48 3.6.8 PRAZOS E CONTAGEM ..................................................................................49 3.6.9 PODERES INSTRUTÓRIOS DA COMISSÃO ........................................................49 3.6.10 RELATÓRIO FINAL, JULGAMENTO E COMUNICAÇÕES EXTERNAS ......................50 3.6.11 A PUBLICAÇÃO DA DECISÃO ........................................................................50 3.6.12 RECURSO DE RECONSIDERAÇÃO..................................................................51 3.6.13 TRÂNSITO EM JULGADO E EXECUÇÃO DA DECISÃO SANCIONADORA ...............51 3.6.14 PENALIDADES ............................................................................................51 3.6.15 OS ENCAMINHAMENTOS JUDICIAIS ..............................................................51 3.7 DESCONSIDERAÇÃODA PERSONALIDADE JURÍDICA ...........................................51 3.8 SISTEMA CGU-PJ: CNEP E CEIS ........................................................................52 3.9 ACORDOS DE LENIÊNCIA E DELAÇÃO PREMIADA ................................................52 3.9.1 DELAÇÃO PREMIADA ....................................................................................52 3.9.2 ACORDO DE LENIÊNCIA ................................................................................54 3.9.3 LEI 9.613/98 – LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS ................................................55 3.10 COMPLIANCE FISCAL .....................................................................................57 3.10.1 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO .......................................................................58 3.10.2 EVASÃO E ELISÃO FISCAL ...........................................................................59 3.10.3 TEORIA DO ABUSO DE DIREITO ...................................................................59 3.10.4 CLÁUSULA GERAL ANTIELISIVA....................................................................61 3.10.5 SPED - SISTEMA PÚBLICO DE ESCRITURAÇÃO DIGITAL ..................................62 3.10.6 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA ................................................................63 3.11 CASE COMPLIANCE FISCAL.............................................................................67 3.12 COMPLIANCE REGULATÓRIO...........................................................................67 3.13 COMPLIANCE DE CONTRATOS .........................................................................67 4. POLÍTICAS E SISTEMAS DE COMPLIANCE ..................................................... 69 4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO.......................................................................................69 4.2 ISO 19600 – SISTEMAS DE GESTÃO DE COMPLIANCE .........................................69 4.3 ISO 37001 –SISTEMAS DE GESTÃO ANTISSUBORNO ..........................................70 4.4 A FIGURA DO COMPLIANCE OFFICER (CCO) .......................................................71 5. SISTEMA DE GESTÃO DE COMPLIANCE ......................................................... 73 5.1 NOÇÕES BASILARES SOBRE GOVERNANÇA ........................................................73 5.2 CARACTERÍSTICAS E PILARES ..........................................................................75 5.3 BOAS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA ....................................................................78 5.4 CONFIANÇA....................................................................................................79 5.5 LEI SABANES-OXLEY – SOX .............................................................................80 5.6 OS PILARES DA GOVERNANÇA NO NOVO CONTEXTO REGULATÓRIO .....................82 5.7 FASES DA PREPARAÇÃO DE UM PROGRAMA DE COMPLIANCE ...............................82 5.8 PILARES E ESTRUTURA ....................................................................................84 5.9 ELEMENTOS DE UM PROGRAMA DE COMPLIANCE CONFORME DECRETO 8.420 .......84 5.10 DOCUMENTOS PRINCIPAIS DE UM PROGRAMA DE COMPLIANCE .........................90 1 Compliance 1. PROGRAMA DA DISCIPLINA 1.1 Ementa Histórico do Compliance no Mundo e no Brasil. O FCPA, U.K. Bribery Act e outras Legislações Anticorrupção Estrangeiras. Lei Anticorrupção (Lei 12.846/2013). Aspectos Penais da Legislação Anticorrupção e Antissuborno. Políticas de Compliance. Programas Sistema de Gestão de Compliance. Investigações Internas. Processos Sancionadores e Acordos de Leniência. Delação Premiada. ISO 19.600 e ISO 37.001. Governança e Gestão de Riscos. Due Diligence de Integridade e Aspectos Fiscais. Estudo de Casos Práticos. 1.2 Carga horária total 24 horas-aula. 1.3 Objetivos Transmitir os conceitos e fundamentos pertinentes às competências relacionadas ao compliance, permitindo que, com uma visão estratégica corporativa, os alunos o apliquem em seu cotidiano corporativo. 1.4 Conteúdo programático Eixo Temático 1 Conteúdo programático mínimo Objetivos de aprendizagem 1. Histórico do Compliance • Conhecer a evolução histórica do compliance no mundo e no Brasil; • Compreender as principais leis de compliance, como Foreing Corrupct Practices Act - FCPA - e U.K. Bribery Act; • Conhecer a Lei Anticorrupção brasileira e seus principais efeitos. Eixo Temático 2 Conteúdo programático mínimo Objetivos de aprendizagem 2. Aspectos Gerais e Penais da Legislação Anticorrupção e Antissuborno • Conhecer a legislação aplicada; • Compreender as implicações penais das leis de anticorrupção e antissuborno; • Conhecer os processos sancionadores, em especial, Processo Administrativo de Responsabilização - PAR; • Analisar os limites dos acordos de leniência e delação premiada; • Avaliar os aspectos fiscais e empresarias do compliance. 2 Compliance Eixo Temático 3 Conteúdo programático mínimo Objetivos de aprendizagem 3. Políticas e Sistemas de Compliance • Avaliar o processo decisório na escolha de programas de compliance; • Compreender sistemas de compliance, como os modelos da ISO 19.600 e ISO 37.001, da DSC 10.000 e do Pró- ética; • Analisar a relevância de um processo de Certificação; • Verificar a importância do Compliance Officer. Eixo Temático 4 Conteúdo programático mínimo Objetivos de aprendizagem 4. Compliance e governança corporativa • Verificar a relação entre governança corporativa, o compliance e a gestão de riscos; • Entender a ética e a responsabilidade corporativa dentro do novo contexto empresarial; • Analisar ferramentas de programas de compliance, como: investigações internas; due diligence; normas organizacionais e empresariais; e, auditoria; • Avaliar o processo de elaboração de um programa de compliance. 1.5 Metodologia O curso será desenvolvido por meio de aulas com método participativo, estudo de caso, exercícios e leituras complementares, de modo que os conceitos sejam aplicáveis à realidade prática dos profissionais. Durante o curso será solicitado o estudo prévio de determinados temas pelos participantes, de modo a nivelar o conhecimento e fornecer subsídios para as aulas. 1.6 Critérios de avaliação Avaliação do curso é feita por meio de prova escrita com peso 7,0 (sete) e avaliação de trabalho em sala de aula com peso 3,0 (três), somando 10,0 (pontos). O critério para aprovação é atingir nota total 7,0 (sete) no curso. 1.7 Bibliografia recomendada CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO (CGU). Programa de integridade. Diretrizes para Empresas Privadas. Brasília, 2015. Disponível em: <https://www.cgu.gov.br/Publi cacoes/etica-e-integridade/arquivos/programa-de-integridade-diretrizes-para-empresas- privadas.pdf>. FGV Projetos. Compliance, Gestão e Cultura Corporativa. In Cadernos FGV Projetos nº 28, novembro de 2016, ano 11. Disponível em <https://shar.es/1LVVnN>. 3 Compliance IBGC. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa. v. 5, 2015. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/userfiles /2014/files/codigoMP_5edicao _web.pdf>. IBGC. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Governança – Governança Corporativa – Origem da Governança – Principais Modelos. Disponível em: <http:// www.ibgc.org.br/index.php/governanca/origens-da-governanca/principais-modelos>. Curriculum vitae do professor Fernando Silva Moreira dos Santos Mestre (2014) em Direito Processual Civil pela USP. Doutorando (2020) em Engenharia de Produção pela UFSCAR, onde estuda governança corporativa e compliance na linha de pesquisa Instituições, Organizações e Trabalho. Parte dos créditos deste doutorado foi cursada no doutorado de Economia dos Negócios do INSPER. Especializado (2007) em Direito Público pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus. Graduado (2005) em Direitopela PUC-SP. Professor da FGV desde 2008. Membro da Comissão Jurídica do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC. Consultor e Advogado atuante em Direito Empresarial, sendo sócio fundador de Moreira dos Santos Sociedade de Advogados. 2. TEXTO PARA ESTUDO - EVOLUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO COMPLIANCE 2.1 Case Gestão Integrada de Riscos A companhia O Banco MC é o terceiro maior banco privado do país em total de ativos e operações de crédito. No último ano, os ativos totais do banco atingiram R$ 159,6 bilhões. A missão do Banco MC é ser reconhecido por prestar serviços financeiros de qualidade exemplar aos seus clientes, gerando resultados sustentáveis para todos os públicos com os quais se relaciona. A empresa conta atualmente com mais de 33 mil funcionários e 4 milhões de correntistas. No ano passado, a companhia teve uma receita total de R$ 16,5 bilhões e um lucro líquido de R$ 2,975 bilhões. Há um ano e meio, o consórcio formado pelos bancos SFC, FC e Black Bank comprou o MCI, controlador do MC. As operações do Banco MC ficaram com o SFC e, desde o início do ano passado, fazem parte do Grupo SFC. Nesse texto, nos referimos ao MCI como antigo controlador global do Banco MC, no qual o processo de gerenciamento integrado de riscos foi iniciado. GESTÃO INTEGRADA DE RISCOS O assunto Gestão integrada de riscos entrou na agenda estratégica do MCI há 4 anos. O MCI iniciou, em uma das suas unidades de negócio, um projeto que visava definir o objetivo, o conceito, as políticas e o framework de enterprise risk management ou ERM (sigla utilizada globalmente pelo grupo ABN AMRO, equivalente a “gestão integrada de 4 Compliance riscos”). Esse projeto foi apresentado e aprovado pelo managing board1 do MCI. A partir de então, já no início do ano seguinte, a matriz assumiu a responsabilidade de liderar o esforço de difusão e implementação de ERM em todas as unidades de negócio do grupo. Em sua gestão integrada de riscos, o MCI busca garantir a correta e adequada identificação, reporte e gerenciamento integrado de todos os riscos materiais, permitindo um processo de tomada de decisão mais eficiente e melhor informado, que resulte no aumento do valor da empresa. Ou seja: a função da gestão integrada de riscos para o MCI é disponibilizar a informação e o conhecimento dos riscos significativos da organização, para que as pessoas certas, no tempo adequado, tenham as condições necessárias para tomar decisões mais acertadas e eficientes. A implantação da gestão integrada de riscos no MCI permitiu a captura de sinergias, ganho de eficiência e aumento da competitividade do banco por meio das atividades do modelo holístico2 que já estava em funcionamento. O quadro 1 detalha as principais características dos diferentes estágios dos modelos de gestão de riscos. Quadro 1 — Características dos modelos de gestão de riscos Fragmentado Holístico Integrado ▪ Não identificados riscos relevantes para a organização e não faz sua priorização. ▪ Diversas iniciativas com diferentes graus de maturação (identificação, mensuração, monitoramento e mitigação). ▪ Metodologias múltiplas em diferentes estágios de maturação. ▪ Métricas distintas espalhadas pela organização (deficiência na comparabilidade). ▪ Taxonomia fragmentada. ▪ Identifica os riscos relevantes para a organização e faz sua priorização. ▪ Atividades isoladas. ▪ Metodologias múltiplas. ▪ Métricas múltiplas (deficiência na comparabilidade). ▪ Taxonomia parcialmente comum. ▪ Identifica os riscos relevantes de forma abrangente, considerando a interdependência entre eles e permitindo que sejam comparados. ▪ Metodologia única. ▪ Métricas consolidadas (conferindo comparabilidade). ▪ Taxonomia comum. Em seu modelo holístico, MCI já adotava classificação de riscos com nove categorias: ▪ risco de crédito: risco de perda devido à falha da contraparte ou do emissor em cumprir suas obrigações com o banco; ▪ risco legal: risco de falha no cumprimento das obrigações estatutárias ou regulatórias, ou risco associado a incertezas devido a ações legais ou incertezas na aplicabilidade ou interpretações de contratos, leis ou regulamentações; 1 Em português, “alta administração”. 2 Identifica os riscos relevantes para a organização e faz sua priorização. 5 Compliance ▪ risco de liquidez: risco de perda de capacidade financeira em obter ativos e não cumprimento de suas obrigações, por conta do descasamento nos fluxos financeiros de ativos e passivos; ▪ risco de mercado: risco de queda da carteira de investimentos por conta de variações de preços de mercado; ▪ risco de taxa de juros: risco dos ativos do MC perderem valor ou o montante de suas obrigações aumentar por conta de mudanças nas taxas de juros; ▪ risco operacional: risco de perdas resultantes de processos ou sistemas inadequados, comportamento humano ou eventos externos. Engloba problemas com tecnologia da informação (TI), falhas na estrutura organizacional, falhas ou controles internos inadequados, falhas humanas, fraudes e ameaças externas; ▪ risco de reputação: risco de perdas devido a opiniões negativas do público (baseadas em fatos reais ou apenas em percepção). Pode gerar aumento no custo de captação, bem como impedir a geração de receita planejada; ▪ risco estratégico: risco da utilização de estratégias inadequadas ou mudanças no ambiente de negócios; e, ▪ risco de negócio: risco de o banco ter resultados abaixo do esperado ou aumento de custos acima do esperado, não causado por nenhum dos riscos anteriores. O processo de implantação do modelo integrado demandou a revisão da classificação do modelo holístico. O Banco MC criou dois macrogrupos de risco, dividindo-os em modeláveis (crédito, mercado, liquidez e operacional) e parcialmente modeláveis (estratégico e de reputação). No caso do Banco MC, a transição para uma gestão integrada de riscos foi realizada mediante um projeto. Nele, procurou-se, primeiramente, alavancar a sinergia entre os riscos modeláveis. A implantação da gestão integrada de riscos levou a mudanças organizacionais na diretoria de riscos responsável pela implantação do modelo. Foram criadas as seguintes áreas: ▪ ERM — responsável pela coordenação da gestão integrada de riscos e pela definição de políticas, processos e procedimentos, e desenvolvimento de um dashboard3 local consolidado; e, ▪ risk services — responsável pelo gerenciamento de projetos, mapeamento de processos e geração de relatórios com foco em riscos modeláveis. Além das mudanças organizacionais, a implantação do modelo integrado provocou uma mudança de comportamento no Banco MC. O modelo integrado demanda uma análise interdisciplinar dos riscos, das suas interdependências e das respectivas ações mitigadoras. Os fóruns responsáveis por essas atividades, denominados grupos de trabalho, coordenados pela área de ERM, se reúnem periodicamente. A implantação do modelo de gestão integrada de riscos no Banco MC está em diferentes níveis de maturidade: • riscos de crédito, mercado e liquidez — estágio avançado, considerando-se políticas, melhores práticas, controles e governança, entre as quais existe uma integração natural e os assuntos são frequentemente discutidos conjuntamente; • risco operacional — estágio médio, com metodologias claras, limites, governança e ferramentas de controle, embora precise ainda evoluir no que diz respeito à unificação de metodologias e procedimentos com outras áreas correlatas e melhorar a governança corporativa. A existência dos grupos e do dashboard de ERM, porém, contribui para que as questões sejam discutidas de forma integrada; e, 3 Em português: “painel de controle”. 6 Compliance • riscos estratégicos e de reputação — estágio inicial, em que é preciso ser mais desenvolvido no que diz respeitoà quantificação e às metodologias preventivas e alinhamento com outros riscos. Os próximos passos para a gestão integrada de riscos no Banco MC são: ▪ criar a base integrada de riscos e controles; ▪ criar framework único para riscos parcialmente modeláveis; ▪ aprofundar a consistência nas priorizações; e, ▪ aprimorar os relatórios. Benefícios A implantação da gestão integrada de riscos gerou, até o momento (2017), os seguintes benefícios para Banco MC: ▪ aumento da competitividade por meio de sinergia e aumento da eficiência; ▪ aprimoramento da qualidade da tomada de decisão; ▪ maior conscientização da organização para a existência dos vários tipos de risco e suas interdependências não percebidas anteriormente; e, ▪ melhor decisão advinda de comparabilidade e priorização com o uso de dashboard. Desafios No processo de implementação da gestão integrada de riscos, o Banco MC tem se deparado com diversos desafios, entre eles: ▪ resistência à colaboração entre as áreas que não enxergam como a gestão integrada de riscos pode contribuir para um melhor gerenciamento dos riscos em uma área específica e no banco como um todo; ▪ dificuldade em fazer o link entre gestão integrada de riscos e tomada de decisão; ▪ falta de metodologia of the shelf4 para homogeneizar as métricas usadas por diferentes áreas; e, ▪ escassez de profissionais no mercado com expertise e experiência no gerenciamento integrado de riscos. Exemplo — expansão de crédito imobiliário O Banco MC incluiu a área de gestão de riscos na avaliação da sua expansão na atividade de crédito imobiliário em 2017. O desafio da área de negócio era expandir essa atividade de forma relevante em um ambiente altamente regulado, com atividades que dependiam de diversas áreas do banco e cujos processos internos tinham baixo grau de automação. Foi criado um grupo de trabalho composto por representantes de todas as áreas envolvidas na avaliação, concessão e recuperação de crédito. Esse grupo mapeou o macroprocesso. A partir desse mapeamento, foi possível identificar a lista geral dos riscos e depois fazer a priorização dos mais significativos e da interdependência entre eles. O grupo de trabalho também identificou que as decisões relacionadas aos riscos de crédito poderiam impactar os riscos operacionais e vice-versa. A aplicação da visão integrada de riscos na expansão da atividade de crédito imobiliário gerou os seguintes benefícios: 4 Em português, “de prateleira” ou “pré-pronta”. 7 Compliance ▪ metodologia de cenários aplicada à quantificação das perdas oriundas de riscos operacionais e de crédito; ▪ análise detalhada dos custos dos processos e controles, vis-a-vis os riscos incorridos e mitigados; e, ▪ aprimoramento da qualidade da tomada de decisão. Principais características Entre várias características importantes da visão integrada de riscos do Banco MC, acreditamos ser oportuno destacar: ▪ a necessidade de metodologia única de comparação dos riscos que considera a interdependência; ▪ a definição das dimensões relevantes e da metodologia de cálculo permitindo a comparabilidade com o uso de dashboard; ▪ a segmentação dos riscos em modeláveis e parcialmente modeláveis; ▪ a criação da área de risk services, responsável pelo gerenciamento de projetos, mapeamento de processos e geração de relatórios com foco em riscos modeláveis; e, ▪ a criação de grupos de trabalho, fóruns para a análise interdepartamental dos riscos, de suas interdependências e das respectivas ações mitigadoras. 2.2 Noções gerais No começo do século XX surge nos Estados Unidos a ideia de programas de compliance, em especial em 1906, com a promulgação do Food and Drug Act e a criação do Food and Drug Administration – FDA, instalando-se um modelo de fiscalização centralizado para regular atividades relacionadas à saúde alimentar e ao comércio de medicamentos. Em 1913, ainda nos Estados Unidos, cria-se o Federal Reserve System, com o objetivo de conferir maior estabilidade e segurança para o sistema financeiro, reforçando a ideia de compliance. Em 1977, após o escândalo Watergate, promulga-se o Foreign Corrupt Practices Act – FCPA – com o objetivo de normatizar regras anticorrupção transnacional norte- americana, obrigando as companhias a manterem livros e registros que refletissem precisamente as suas transações, além de estabelecer um sistema adequado de controles internos. Foi a primeira no mundo a proibir e punir subornos oferecidos por empresas americanas a dirigentes, oficiais e funcionários de governo estrangeiro, bem como partidos políticos e candidatos políticos estrangeiros, de maneira direta ou indireta, responsabilizando-as, por isso, objetivamente. A origem da palavra compliance vem do verbo em inglês “to comply”,5 que se traduz em agir de acordo com a regra, norma, política ou comando, ou seja, estar em conformidade. Utilizar compliance significa que será adotada a melhor forma, maneira ou processo mais adequado para executar determinado trabalho dentro de uma organização. 5 To act in accordance with rules, wishes, etc; be obedient (to) – COLLINS COBIULD. Disponível em:<https://www.collinsdictionary.com/dictionary/english/comply>. Acesso em: 24.04.2018. 8 Compliance Compliance é o dever de estar em conformidade e fazer cumprir as leis, diretrizes, regulamentos internos e externos, buscando mitigar riscos atrelados à reputação e o risco legal/regulatório.6 Trazendo o termo à aplicabilidade no mundo corporativo, tem-se que se trata de um conjunto de normas e regras que devem ser observadas na consecução dos negócios ou atividades dentro de um ramo, por meio de ferramentas que auxiliam nesse controle. Compliance é o conjunto de disciplinas para fazer cumprir as normas legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes estabelecidas para o negócio e para as atividades da instituição ou empresa, bem como evitar, detectar e tratar qualquer desvio ou inconformidade que possa ocorrer através de ferramentas de controle.7 Sendo assim, podemos afirmar que, no mundo corporativo, compliance são os conjuntos de disciplinas para cumprir as normas legais e regulamentadoras, políticas ou diretrizes estabelecidas para um negócio ou atividades da organização, com a utilização de ferramentas que auxiliam esses controles. Através das atividades de monitoramento efetuadas pelo compliance, qualquer desvio em relação à operacionalização pode ser identificado e evitado.8 Discutir compliance requer a compreensão da natureza e dinâmica da corrupção nas organizações. A conduta em conformidade com a regra (compliance) ou a corrupta apresentam diferentes causas e são influenciadas pelas circunstâncias. Na origem da conduta corrupta ou da compliance encontra-se a percepção moral, o entendimento do indivíduo acerca de sua atitude em presença da moral e das regras organizacionais. Segundo entendimento de Candeloro e Rizzo,9 as finalidades da implantação de uma política de compliance são numerosas, contudo, entre os principais, temos: cumprir com a legislação nacional e internacional, além das regulações do mercado e das normas internas da empresa; prever demandas judiciais; obter transparência na condução dos negócios; resguardar a confidencialidade da informação concedida à instituição por seus clientes; obstar o conflito de interesse entre os vários atores da instituição; evitar lucros pessoais indevidos por meio da criação de condições artificiais de mercado, ou da manipulação e utilização da informação privilegiada; evitar o ilícito da lavagem de dinheiro; e, difundir os valores de compliance na cultura organizacional por meio de treinamento e educação. Para Gonçalves, com a implementação da política de compliance, a empresa tende a direcionar as suas ações para as finalidades definidas; empregar os recursos de modo mais eficaz, porquantoas decisões passam a ser mais econômicas, pois uniformes para casos semelhantes; proteção contra as pressões das emergências; apresentar uniformidade e consistência em seus atos e decisões, cooperando com a transparência dos processos; promover a adaptação de novos empregados à cultura organizacional; disponibilizar aos gestores mais tempo para repensar políticas e agir em questões estratégicas; aumentar e aprimorar o conhecimento da organização por todos os seus atores.10 6 OLIVEIRA, Fabio Rodrigues de & SOUZA FILHO, Paschoal Naddeo de. O Compliance Tributário. Migalhas. Disponível em <http://m.migalhas.com.br/depeso/242766/o-compliancetributario>. Acesso em: 24.04.2018. 7 FERREIRA, Renan. Você sabe o que é o Compliance Tributário? Bluesoft. Disponível em: <https://blog.bluesoft.com.br/2015/06/voce-sabe-o-que-e-o-compliance-tributario/>. Acesso em: 24.04.2018. 8 ANDRADE, Diogenes. O que é o compliance fiscal e como ele pode contribuir para as empresas. Disponível em: <http://www.quirius.com.br/como-o-compliance-fiscal-contribui-com-as-empresas/>. Acesso em: 24.04.2018. 9 CANDELORO, A.P.P.; RIZZO, M.B.M. de; PINHO, V. Compliance 360º: riscos, estratégias, conflitos e vaidades no mundo corporativo. São Paulo: Trevisan Editora Universitária, 2012, p. 37-38. 10 GONÇALVES, J.A.P. Alinhando processos, estrutura e compliance à gestão estratégica. São Paulo: Atlas, 2012, p. 64-65. 9 Compliance Uma vez implantada essa política e funcionando efetivamente, a empresa obtém maior confiança por parte dos investidores e mais confiabilidade no mercado, dessa forma, atingirá altos níveis de cooperação interna e externa, com o concludente aumento de lucro, contudo sempre de modo sustentável, trazendo benfeitorias à organização, a seus empregados e à sociedade. No entanto, há muitos desafios da realidade corporativa que precisam ser trabalhados para que seja possível a implementação do compliance, como: avaliação ética; contexto regulatório abrangente, inclusive, redunda em um desencorajamento do inovador e criativo; burocratização dos processos; desenvolvimento de movimento de gestão baseado em evidências; custos dos programas de compliance e a realidade concorrencial; cultura individual e organizacional. O programa precisa ainda estar fundamentado na realidade da firma, considerando seu porte, suas atividades e o mercado em que se insere. Coimbra e Manzi referem que para o implante de uma política de compliance, a empresa deverá primeiramente elaborar um programa fundamentado na sua realidade, cultura, atividade, área de atuação e local de operação, que deverá ser implementado “em todas as entidades que a organização participa ou possui algum tipo de controle ou investi- mento”, sobretudo mediante o implemento de políticas, elaboração de um Código de Ética, criação de comitê exclusivo, o treinamento permanente e a disseminação da cultura, moni- toramento de risco de compliance, revisão periódica, incentivos, assim como a criação de canal confidencial para recebimento de denúncias, com a procedente investigação e determinação de penalidades em vista de ocasional inadimplemento da conduta almejada.11 2.3 FCPA As penalidades previstas para o descumprimento do FCPA são de natureza cível e penal, inclusive para pessoas jurídicas. As multas pecuniárias variam em razão da pessoa (física ou jurídica), sendo maiores, no entanto, caso refira-se às diretrizes contábeis. Há responsabilização objetiva decorrente da necessidade de se punir baseado no modo de operação peculiar pelo qual se concretiza a corrupção. Os instrumentos normativos até então disponíveis mostravam-se insuficientes para coibir a corrupção. Válido frisar que a corrupção privada não se encontra na esfera da lei, sendo, portanto, desconsiderada na aplicação das sanções. Outras leis americanas, contudo, podem ser usadas para tratar de corrupção privada. Os sujeitos ativos, previstos no FCPA, irão depender do tipo de violação, que, no caso de corrupção, podem ser três: - issuers: companhias de capital aberto americanas ou estrangeiras, cujos valores mobiliários são registrados para negociação nos Estados Unidos. - domestic concerns: pessoas naturais ou jurídicas. Em relação às pessoas naturais, faz-se necessário que gozem de cidadania americana ou residam nos Estados Unidos, e, no caso das pessoas jurídicas, que estas sejam sediadas em território americano ou sejam constituídas segundo a lei deste país. - foreign nationals or entities: todos os demais, ou seja, os estrangeiros que não tenham valores mobiliários negociados nos Estados Unidos. Mas para que estrangeiros 11 COIMBRA, M.A.; MANZI, V.A. (Coord.). Manual de Compliance: preservando a boa governança e a integridade das organizações. São Paulo: Atlas, 2010, p. 20-21. 10 Compliance sejam sujeitos ativos, o ato deve ocorrer nos Estados Unidos ou ter uma conexão com os Estados Unidos. O FCPA se baseia numa lei federal que já havia desde 1934. O FCPA se estrutura, basicamente, numa divisão de dois agrupamentos: um deles trata sobre a corrupção e os subornos, enquanto o outro se refere às diretrizes contábeis, reforçando a criação de controles internos que detalhem os fluxos de caixa, e aplica-se a todo indivíduo, empregado, administrador, agente, representante ou sócio que atue em nome da empresa. As condutas proibidas pelo FCPA não se resumem ao oferecimento de propina (ou seja, o oferecimento direto), incluem-se no rol, ainda, aquelas oferecidas de maneira indireta, mediante o oferecimento de qualquer coisa de valor. Além disso, a contrapartida do suborno não necessariamente se consubstancia em celebração de contratos, como também em obtenção de benefícios, tais quais redução de impostos, subsídios governamentais, dentre outros. É de se notar que o FCPA não prevê a chamada “corrupção passiva”, ou seja, é uma lei voltada exclusivamente para os “corruptores”. Percebe-se, com isso, uma dupla função do FCPA: coibir as práticas de suborno praticados em território estrangeiro, através de sua criminalização e, ao mesmo tempo, instituir exigências rígidas em relação a controles internos. Além disso, é previsto, em legislação suplementar, outras sanções, dentre as quais destaca-se o direito de contratar com a administração pública e de receber financiamentos. O UKBA visa ter uma abrangência maior do que o FCPA, pois refere-se à corrupção praticada não somente na esfera estrangeira, mas também na esfera doméstica no Reino Unido, além de inovar, prevendo a punição na esfera não apenas pública, mas também particular. O UKBA é uma lei que exige extrema diligência, pois, além da possibilidade de punição dos atos de corrupção oriundos da própria empresa, também o são os atos praticados por terceiros (parceiros, prestadoras de serviços, dentre outras), desde que em benefício da empresa; vale notar que a possibilidade desta responsabilização também existe no FCPA, mas exige-se a intenção de corromper – atual ou presumida, no conceito do willful blindness –, e o UKBA acaba permitindo mais facilmente a responsabilização. Verifica-se as disposições do UKBA o tornam uma lei ainda mais rígida do que o FCPA. Com sua edição, os normativos anteriores foram revogados, sendo o UKBA, portanto, a fonte direta das disposições anticorrupção vigente no Reino Unido. No mesmo sentido que nosso Código Penal, a corrupção é punida tanto no âmbito ativo quanto passivo. A responsabilização objetiva também é prevista, não apenas em relação às empresas que ajam finalisticamente, mas também em relação àquelas que foram beneficiadas pelos atos de corrupção que tenham sido praticados por outrem. O sujeito ativo da prática delituosa pode ser tanto uma pessoa física quanto jurídica, a depender, evidentemente, do ilícito envolvido, contudo, ressalta-se que alguns só podem ser cometidos pela pessoa jurídica – como, por exemplo,ausência de prevenção à corrupção – e outros apenas por pessoas físicas – como, por exemplo, a corrupção passiva. A disposição que responsabiliza empresas por falhar em prevenir a corrupção aumenta a necessidade de um programa de compliance bem estruturado, que seja capaz de identificar as áreas sensíveis e realizar as devidas diligências, evitando relações que não sejam pautadas em um rígido sistema de controle. 11 Compliance 2.3.1 Exceções do FCPA O FCPA não pune o pagamento de suborno quando decorrente de ação governamental de rotina ou de defesas afirmativas. • Ação governamental de rotina: • Pagamento de facilitação ou agilização a um funcionário do governo para a realização de uma ação governamental de rotina. • É a ação que é normal e comumente realizada por um dirigente estrangeiro ao... • Obter autorizações, licenças ou outros documentos oficiais para qualificar uma pessoa a conduzir negócios em um país estrangeiro (exemplo: China); • Processar documentação governamental, tais como vistos e ordens de trabalho; • Fornecer proteção policial, coleta e entrega de correspondência ou agendamento de inspeções relacionadas ao cumprimento de contratos ou inspeções relacionadas ao trânsito de bens pelo país; • Fornecer serviço telefônico, elétrico, de água, carregamento e descarregamento de carga, ou proteger produtos perecíveis ou produtos básicos contra a deterioração; ou, • Empreender ações de natureza semelhante. • Não inclui a tomada de decisão por parte de dirigente estrangeiro, de outorga ou não de novos contratos, bem como de prorrogá-los. • Defesas afirmativas: • Ações, com despesas razoáveis e legítimas, para promover, demonstrar ou explicar produtos/serviços ou a execução/cumprimento de um contrato. 2.4 Convenções Internacionais Após a adoção do FCPA, os Estados Unidos começaram a pressionar a comunidade internacional pela adoção de medidas semelhantes de combate à corrupção. O fenômeno da corrupção não é características apenas da cultura brasileira, mas afeta toda a comunidade internacional, exigindo a ampliação e o fortalecimento das relações de cooperação entre os países e organismos internacionais para contribuir com a prevenção e o combate à corrupção. Algumas convenções internacionais foram celebradas e o Brasil é signatário e ratificou: (i) a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, da OCDE, de 1997, ratificada mediante o Decreto nº 3.678/2000; (ii) a Convenção Interamericana contra a Corrupção, da OEA, de 1996, ratificada mediante Decreto nº 4.410/2002; e (iii) a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, de 2003, ratificada mediante o Decreto nº 5.687/2006. Entre as obrigações assumidas por essas convenções está o compromisso de combater a corrupção por brasileiros no exterior, que resultou em alterações ao Código Penal, bem como o compromisso de responsabilizar empresas corruptas que resultou na adoção da Lei Anticorrupção. 2.4.1 Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais – OCDE – 1997 A Convenção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem por objetivo prevenir e combater o delito de corrupção de funcionários públicos estrangeiros na esfera das transações comerciais internacionais. Considera funcionário público estrangeiro qualquer pessoa que ocupe o cargo nos Poderes Legislativo, Judiciário 12 Compliance e Executivo de um país estrangeiro, independentemente de ser essa pessoa nomeada, eleita ou concursada; e, qualquer pessoa que exerça função pública internacional do nível federal ao municipal.12 Em seu art. 2º, responsabilizou as pessoas jurídicas que subornarem funcionários públicos estrangeiros. Com a entrada em vigor desta Convenção, aumentou-se o número de investigações e condenações nos Estados signatários, com a responsabilização de indivíduos e empresas por suborno transnacional, tendo havido aplicação de multas. A Convenção trata de normas contábeis e tributárias, como a proibição de “caixa dois” e de operações inadequadamente explicitadas; proibição de alguns atos e ocultações dos funcionários públicos estrangeiros, como registro de despesas inexistentes, lançamento de obrigações tributárias inadequadas e uso de documento falso por empresa com propósito de corromper os funcionários públicos. Tratou também da lavagem de dinheiro, exigindo que os ordenamentos internos tipificassem as práticas de corrupção transnacional. O Brasil criminalizou as práticas de corrupção transnacional pela alteração da Lei nº 9.613/1998, o que foi feito pela Lei nº 10.467/2002. 2.4.2 Convenção Interamericana contra a Corrupção – OEA – 1996 Em 1994, foi assinada a Declaração de Belém do Pará, manifestando apoio a estudos de medidas de combate à corrupção, de melhoria da eficiência da gestão pública e de promoção da transparência e probidade administrativa. Por meio da Resolução AG/RES 1294 (XXIV-O/94), a Assembleia-Geral determinou ao Conselho Permanente o estabelecimento do Grupo de Trabalho sobre Probidade e ética, o que resultou no projeto da Convenção Interamericana contra a Corrupção, da Organização dos Estados Americanos (OEA), concretizada em Caracas, em 1996. O objetivo desta Convenção é “promover e fortalecer o desenvolvimento de mecanismos necessários para prevenir, detectar, punir e erradicar a corrupção, além de promover, facilitar e regular a assistência e a cooperação técnica entre os Estados Partes”. Define medidas para o combate em nível regional, sendo elas: “1 - Criação de normas de conduta para o correto, honrável e adequado cumprimento das funções públicas; 2 - A adoção de sistemas para a contratação de funcionários públicos e para a aquisição de bens e serviços pelo Estado que assegurem a publicidade, equidade e eficiência de tais sistemas; 3 - A criação de órgãos de controle superior, com a finalidade de desenvolver mecanismos modernos para prevenir, destacar, sancionar e erradicar práticas corruptas; 4 - O estabelecimento de “mecanismos para estimular a participação da sociedade civil e das organizações não governamentais nos esforços para combater a corrupção;” 5 - A instituição de sistemas de arrecadação fiscal que impeçam a prática de corrupção; 6 - A criação de sistemas para proteger os funcionários públicos e cidadãos particulares que denunciarem de boa-fé atos de corrupção;” 12 Sobre o tema, ver MEYER-PFLUG, S. R; OLIVEIRA, V. E. T. O Brasil e o combate internacional à corrupção. Brasília, ano 46, n] 181, jan/mar, 2009, p. 187-194. Disponível em <https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/46/181/ril_v46_n181_p187. pdf>. Acesso em: 25.04.2018 13 Compliance Para atingir tais objetivos, a Convenção da OEA tipifica alguns atos como crimes de corrupção, como: “l Esta Convenção é aplicável aos seguintes atos de corrupção: a - a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens para si mesmo ou para outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas; b - a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens a esse funcionário público ou outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas; c - a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de suas funções, a fim de obter ilicitamente benefícios para si mesmo ou para um terceiro;d - o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de qualquer dos atos a que se refere este artigo; e e - a participação, como autor, co-autor, instigador, cúmplice, acobertador ou mediante qualquer outro modo na perpetração, na tentativa de perpetração ou na associação ou confabulação para perpetrar qualquer dos atos a que se refere este artigo”. Prevê dois delitos que devem ser tipificados pelo Estado signatário: suborno transnacional e enriquecimento ilícito. O suborno transnacional, inserido pela Convenção da OCDE e internalizado pela Lei nº 10.467, foi definido pela Convenção da OEA como: Estado Parte proibirá e punirá o oferecimento ou outorga, por parte de seus cidadãos, pessoas que tenham residência habitual em seu território e empresas domiciliadas no mesmo, a um funcionário público de outro Estado, direta ou indiretamente, de qualquer objeto de valor pecuniário ou outros benefícios, como dádivas, favores, promessas ou vantagens em troca da realização ou omissão, por esse funcionário, de qualquer ato no exercício de suas funções públicas relacionado com uma transação de natureza econômica ou comercial. O enriquecimento ilícito caracteriza-se pelo “(...) aumento do patrimônio de um funcionário público que exceda de modo significativo sua renda legítima durante o exercício de suas funções e que não possa justificar razoavelmente”. A Convenção da OEA define atos de corrupção, estabelece a obrigação de tipificar o suborno transnacional e o enriquecimento ilícito e é implementada pelo mecanismo de monitoramento e acompanhamento (MESICIC) no sentido de tornar-se efetivo o combate à corrupção no Brasil. 2.4.3 Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção – ONU – 2003 As discussões sobre corrupção iniciaram-se na Organização das Nações Unidas (ONU) com a Resolução 3514 de 15 de dezembro de 1975, condenando as práticas corruptas, dirigindo as ações dos Estados à cooperação nessa matéria, principalmente ao suborno em transações comerciais internacionais. Elaborou-se um código de conduta para as transações internacionais, com a Resolução da Assembleia Geral da ONU 50/106 de 20 de dezembro de 1995. 14 Compliance Em 12 de dezembro de 1996, por meio da Resolução 51/59, adotou o Código Internacional de Conduta para Funcionários Públicos e, em 16 de dezembro de 1996, adotou sua Declaração contra a Corrupção e Suborno em Transações Internacionais Comerciais por meio da Resolução 51/191. Em 1999, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) lança o Global Programme Against Corruption (GPAC) com o intuito de combate à corrupção. Em 1999, UNODC lança Global Programme Against Corruption (GPAC) com o intuito de combate à corrupção. Em 2000, com a Convenção contra o Crime Organizado Transnacional da Organização das Nações Unidas, há o desenvolvimento de instrumento real de coerção estatal em nível internacional, criminalizando a corrupção ativa e passiva, tendo as seguintes diretrizes: 1 - necessidade de órgãos de prevenção contra práticas de corrupção pelos países signatários; 2 - importância do princípio da eficiência no setor público; 3 - elaboração de códigos de conduta para funcionários públicos; e, 4 - participação da sociedade civil, das organizações governamentais e das organizações com base na comunidade, na prevenção e luta contra a corrupção. Em 2003, vem a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção – ONU. A Convenção prevê que os países devem criminalizar uma série de atividades corruptas, adotar medidas para prevenir a corrupção, promover a integridade nos setores públicos e privados e cooperar com outros países. Estabelece, pela primeira vez, mecanismos legais para o repatriamento de bens e recursos obtidos por meio de atos corruptos e remetidos para outros países. Define, em seu art. 6º, a necessidade da existência de um órgão ou órgãos de prevenção à corrupção. Trata ainda de lavagem de dinheiro, crimes que devem ser tipificados pelos Estados signatários e de cooperação internacional. 2.5 UK Bribery Act O Bribery Act (“UK Bribery Act”), também conhecido como 2010 Bribery Act ou UKBA, foi promulgado em 08 de abril de 201013 para consolidar e fortalecer a legislação antissuborno do Reino Unido. Ele começou a produzir efeitos apenas em 1º de julho de 2011 por determinação do Ministério da Justiça britânico.14 Anteriormente ao UK Bribery Act, o Reino Unido contava apenas com leis antigas de difícil aplicação,15 como o Public Bodies Corrupt Practices Act de 1889, o Prevention of Corruption Act de 1906 e o Prevention of Corruption Act de 1916, revogados pela nova lei.16 13 Ou seja, após o procedimento de análise, alterações e aprovação pelo parlamento (House of Lords e House of Commons), recebeu o Royal Assent em 08 de julho de 2010, que é a sanção pela Rainha do Reino Unido que transforma o projeto de lei (bill) em lei (Act). Para informações esquematizadas de maneira simples sobre o processo legislativo aplicável, consultar o site do parlamento britânico (http://www.parliament.uk/about/how/laws/passage-bill/lords/lrds-royal-assent/). Acesso em: 24.04.2018. 14 Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. <http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act- 2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018. 15 Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015. < https://www.hugheshubbard.com/index.php?p=actions/vmgHhrUtils/download/asset&id=619 Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015>. Acesso em: 24.04.2018. 16 Schedule 2 do UK Bribery Act. 15 Compliance 2.5.1 Órgãos responsáveis pela aplicação do UK Bribery Act O Criminal Justice Act de 1987 criou o Serious Fraud Office (“SFO”), um órgão independente que investiga e indicia casos complexos de corrupção, atuando na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. Além disso, o SFO responde diretamente ao Procurador Geral do Reino Unido, sendo esse o principal órgão de aplicação do UK Bribery Act. O SFO pode requerer a qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica, que forneça documentos relevantes, inclusive sigilosos, ou que respondam perguntas sobre quaisquer assuntos relevantes, confidenciais ou não, para o caso analisado.17 O SFO só pode realizar os atos de sua competência caso o procedimento já esteja formalmente aprovado. No entanto, com relação a casos de corrupção que supostamente ocorreram fora de sua jurisdição, os atos de investigação de sua competência poderão ser realizados antes do início de uma investigação formal.18 Ademais, o SFO possui um departamento de Assistência Internacional que auxilia autoridades estrangeiras em todo o mundo em suas investigações de fraude e suborno. Há, ainda, a Financial Conduct Authority (“FCA”), criada pelo Financial Act de 2012, é um órgão regulador financeiro com atuação independente do governo do Reino Unido. A FCA tem como objetivo a manutenção da integridade dos mercados financeiros do Reino Unido e consumidores, bem como promover a competição. Ela possui os poderes de: (i) investigar pessoas jurídicas ou naturais; (ii) regular condutas relacionadas à comercialização de produtos financeiros; (iii) requerer que as empresas retirem imediatamente promoções enganosas e que publiquem tais decisões; entre outros. Por fim, há o Ministério da Justiça do Reino Unido, que possui como prioridades proteger a sociedade e aumentar a confiança da sociedade no poder judiciário. Em relação ao UK Bribery Act, antes de sua entrada em vigor, o Ministério de Justiça do Reino Unido editou um guia em março de 2011 (“MOJ Guidance”) que estabelece (i) os procedimentos adequados para que as pessoas jurídicas e seus funcionários não se envolvam em casos de corrupção, (ii) o alcance jurisdicional do UK Bribery Act e (ii) diretrizes sobre o uso de terceiros ou agentes, oferecimento de hospitalidade e pagamentos de taxa de urgência.19 2.5.2 Infrações O UK BriberyAct estabelece quatro categorias de infrações distintas: (i) o ato de oferecer vantagem indevida,20 (ii) o ato de aceitar vantagem indevida,21 (iii) o suborno de funcionário público estrangeiro;22 e, (iv) a falha na prevenção de corrupção por uma pessoa jurídica.23 Para os fins do UK Bribery Act, diferentemente do Foreign Corrupt Practices Act norte-americano (“FCPA”) e da Lei Federal nº 12.846/2013 (“Lei Anticorrupção Brasileira”), as infrações se referem tanto a oferecimento de vantagens a funcionários públicos quanto a pessoas de direito privado, naturais ou jurídicas. Ou seja, no âmbito da legislação em tela, a corrupção privada também é uma infração e o UK Bribery Act não visa proteger apenas a administração pública do Reino Unido. 17 Ver <https://www.sfo.gov.uk/about-us/>. Acesso em: 24.04.2018. 18 Ver <https://www.sfo.gov.uk/about-us/>. Acesso em: 24.04.2018. 19 Ver Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. p. 18. <http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act-2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018. 20 Section 1 do UK Bribery Act. 21 Section 2 do UK Bribery Act. 22 Section 6 do UK Bribery Act. 23 Section 7 do UK Bribery Act. 16 Compliance (i) Oferecimento de vantagem indevida: A primeira categoria proíbe uma pessoa (natural ou jurídica) a oferecer, prometer ou dar vantagem financeira ou de outra natureza a outra pessoa com a finalidade de induzi- la ou premiá-la pela realização inadequada da sua função ou atividade. Além disso, também constitui infração caso uma pessoa ofereça, prometa ou dê vantagem financeira ou de outra natureza a outra pessoa tendo ciência de que apenas a aceitação já configuraria realização inadequada de sua função ou atividade. Dessa forma, de acordo com a Section 1 do UK Bribery Act, a ciência da pessoa, natural ou jurídica, de que a vantagem é indevida já, por si só, consubstanciaria a conduta infratora, ainda que o oferecimento não tenha o objetivo de induzir quem a recebeu a realizar suas funções inadequadamente. O UK Bribery Act ressalta que há infração ainda que quem receba a vantagem não seja a pessoa que deva realizar sua função inadequadamente ou caso o oferecimento da vantagem seja feito por terceiro. Portanto, conforme melhor explicado a seguir quando tratarmos das proteções que deverão ser mantidas pela pessoa jurídica, o oferecimento de vantagem indevida por agente ou terceiro contratado também gera responsabilidade para quem será beneficiado ou solicitou o ato. Similares à primeira infração do UK Bribery Act, há na legislação brasileira o crime de corrupção ativa (Artigo 333 do Código Penal), certos atos previstos na Lei Federal nº 8.429/1992 (“Lei de Improbidade Administrativa” – conforme seu Artigo 3º), algumas infrações previstas no Artigo 5º da Lei Anticorrupção brasileira e outros. (ii) Recebimento de vantagem indevida: A Section 2 do UK Bribery Act, por sua vez, foca na infração cometida por quem recebe a vantagem indevida. De acordo com a disposição respectiva, será considerada infração quando alguém:24 1. solicita, aceita receber ou recebe vantagem financeira ou de outra natureza com a finalidade de realizar sua função ou de outra pessoa inadequadamente; 2. solicita, aceita receber ou recebe vantagem financeira ou de outra natureza sendo que a solicitação, aceitação para receber ou recebimento seja por si só considerado a realização inadequada de sua função. 3. Solicita, aceita receber ou recebe vantagem financeira ou de outra natureza como prêmio pela realização inadequada de sua função ou de outra pessoa; ou, 4. Realiza sua função inadequadamente, ou requere ou concorda que terceiro realize sua função inadequadamente, com a intenção de solicitar, aceitar receber ou receber vantagem financeira ou de outra natureza. Para todos os casos, assim como para a primeira categoria de infração, há infração ainda que quem receba a vantagem não seja a pessoa que deva realizar sua função inadequadamente ou caso o recebimento da vantagem seja feito por terceiro. Para as situações indicadas de (2) a (4) acima, a infração será configurada mesmo se o receptor acredita ou tem ciência de que a realização da função foi inadequada.25 24 Section 2 (1) to (5) do UK Bribery Act. 25 Section 2 (7) do UK Bribery Act. 17 Compliance Essa infração de recebimento de vantagem indevida se assemelha ao crime de corrupção passiva (Artigo 317 do Código Penal), atos de improbidade administrativa previstos na Lei de Improbidade Administrativa, certas infrações previstas na Lei Federal nº 8.666/1993 (“Lei de Licitações”) e outros. (iii) Suborno de funcionário público estrangeiro: A terceira categoria de condutas ilícitas compreende o suborno de funcionário público estrangeiro – aqui entendido como qualquer membro de governo fora do Reino Unido. Apesar de tal conduta já, em tese, estar inserida na primeira infração (oferecimento de vantagem indevida), optou-se por criar disposições particulares para o suborno de funcionários públicos estrangeiros especialmente considerando que o UK Bribery Act também tem a finalidade de proteger as relações privadas. De acordo com a Section 6 do UK Bribery Act, uma pessoa cometerá a infração lá prevista caso suborne funcionário público estrangeiro com a intenção de influenciá-lo e para obter ou reter negócio ou vantagem relacionada a negócio. Nos termos da lei, para que a conduta seja considerada ilícita o indivíduo estrangeiro não poderá ser autorizado ou obrigado pela lei escrita aplicável a ser influenciado em sua capacidade como funcionário público pela oferta, promessa ou vantagem recebida. A omissão no exercício das funções respectivas e a utilização da posição enquanto funcionário público estrangeiro, ainda que não dentro de sua autoridade, também será considerada influência para os fins do UK Bribery Act.26 Novamente, assim como nos casos anteriores, a infração será configurada se a conduta ocorrer com a intermediação de terceiro ou não. Será considerado funcionário público estrangeiro aquele que: 1. possui posição legislativa, administrativa ou judicial de qualquer tipo, por nomeação ou eleição, em país ou território ou divisão fora do Reino Unido; 2. exerce função pública (a) para ou em nome de país ou território ou divisão fora do Reino Unido ou (b) para qualquer agência ou sociedade pública em país ou território ou divisão fora do Reino Unido; ou, 3. é oficial ou agente de organização pública internacional. Essa infração se assemelha ao crime de corrupção ativa (Artigo 316 do Código Penal), certas infrações previstas na Lei Anticorrupção Brasileira e outros. (iv) Falha na prevenção de corrupção por uma pessoa jurídica: A quarta e última categoria de condutas ilícitas, e a mais relevante para sociedades empresárias com atuação global, é a falha na prevenção de corrupção por uma pessoa jurídica com responsabilidade objetiva. De acordo com o UK Bribery Act,27 uma pessoa jurídica poderá ser considerada culpada caso uma “pessoa associada” cometa as infrações (1) e (3) acima para ajudá-la a conseguir ou manter negócios ou vantagens comerciais. Para os fins do UK Bribery Act,28 “pessoa associada” poderá ser qualquer um que forneça serviços para ou em nome da pessoa jurídica, e inclui e empregados, agentes, subcontratados e fornecedores. 26 Section 6 (4) do UK Bribery Act. 27 Section 7 do UK Bribery Act. 28 Section 8 do UK Bribery Act. 18 Compliance Não há infração diretamente similar na legislação brasileira. No Brasil, a existência de programa de compliance não é obrigatória e, na verdade, é atenuante para a aplicação da multa sob a Lei Anticorrupção Brasileira. 2.5.3 Sujeitos ativos O UK Bribery Act prevê que as infrações poderão ser praticadas tanto por pessoas jurídicas quanto por pessoas naturais. Esse éo caso das infrações de corrupção ativa e passiva,29 bem como corrupção de funcionários públicos estrangeiros.30 Especificamente quando a infração for praticada por pessoa jurídica, o administrador também será pessoalmente responsabilizado se demonstrado que consentiu ou foi conivente com a prática criminosa.31 Tanto o “consentimento” quanto a “conivência” requerem um conhecimento dos fatos, mas, enquanto para a “conivência” esse conhecimento pode ser apenas tácito (“turning a blind eye”), para o “consentimento” deverá ocorrer um acordo explícito entre as partes.32 A infração prevista na Section 7, por sua vez, somente poderá ser praticada por pessoas jurídicas. Isto porque a redação do dispositivo estabelece que praticarão a infração de falhar na prevenção da corrupção as pessoas jurídicas que exercerem atividades econômicas (commercial organisation). Cabe ressaltar, ainda, que as associações e organizações não governamentais estariam englobadas entre as pessoas jurídicas capazes de praticar essa infração caso exerçam qualquer tipo de atividade comercial.33 O UK Bribery Act não se aplicará às empresas estrangeiras que apenas tenham títulos ou ações listadas na London Stock Exchange caso não haja efetiva realização de negócios no país,34 sendo, portanto, um pouco mais restritivo em sua aplicação do que o FCPA nesse quesito – aplicável a quaisquer empresas estrangeiras que tenham ações ou títulos negociados em bolsas de valores nos Estados Unidos. 2.5.4 Aplicação extraterritorial De forma geral, pode-se dizer que o UK Bribery Act tem aplicação extraterritorial plena, tornando-se irrelevante o local da prática dos atos preparatórios da corrupção ou de sua consumação.35 Em outras palavras, o requisito para aplicação extraterritorial do UK Bribery Act é o grau de vínculo do sujeito ativo com o Reino Unido e a infração praticada. 29 Section 1 e Section 2 do UK Bribery Act. 30 Section 6 do UK Bribery Act. 31 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 50. 32 Mayer Brown LLP. Guide to Anti-corruption Laws in Major Jurisdictions, 2011. p. 70. 33 Transparency International UK. Anti-Bribery Principles and Guidance for NGOs. Disponível em: <http://www.transparency.org.uk/our-work/publications/10-publications/128-anti- briberyprinciples- and-guidance-for-ngos>. Acesso em: 24.04.2018. 34 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 50. 35 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 58. 19 Compliance Quando a infração for prática de corrupção ativa, passiva ou corrupção de funcionários públicos estrangeiros, o UK Bribery Act é aplicável sempre que qualquer ato ou omissão que configurem a infração ocorra ou devesse ocorrer no Reino Unido. Além disso, aplica-se o UK Bribery Act ainda que o ato ou omissão que compõe a infração não seja praticado no Reino Unido, sempre que tal ato ou omissão constituam infração se praticado no território e o sujeito ativo possua um vínculo próximo com o Reino Unido. Consideram-se pessoas com vínculo próximo ao Reino Unido:36 (i) os cidadãos britânicos e diversas outras pessoas que possuem passaporte britânico, v.g. súditos e nacionais britânicos e dos territórios além-mar; (ii) as residentes no Reino Unido; e, (iii) as pessoas jurídicas criadas sob as leis de quaisquer integrantes do Reino Unido ou uma parceria escocesa. Por outro lado, a infração de falhar na prevenção da corrupção é aplicável às pessoas jurídicas que mantenham negócios no Reino Unido. Embora possua um conceito amplo, como dito anteriormente, o UK Bribery Act não se aplicará às pessoas jurídicas estrangeiras que apenas tenham títulos ou ações listadas na London Stock Exchange, se não houver efetiva realização de negócios no país.37 Além disso, o MOJ Guidance ainda afirma que o fato de possuir uma subsidiária no Reino Unido não significará que a controladora estrangeira mantém negócios no Reino Unido, uma vez que a empresa subsidiária pode agir com autonomia em relação à sociedade controladora ou ao grupo empresarial. No entanto, no caso de subsidiária de um amplo grupo corporativo, a exposição ao UK Bribery Act é aumentada, pois facilitaria a configuração da presença da controladora no Reino Unido.38 O Reino Unido tem uma das legislações de maior alcance extraterritorial e começou a aplicá-la impondo sanções, recentemente. No início do ano, o Reino Unido sentenciou a empresa Smith & Ouzman Ltd. por propinas a oficiais da Mauritânia e Quênia. A sociedade tinha conexão com o Reino Unido, pois era baseada no Reino Unido, mas as condutas ocorreram inteiramente no exterior. 2.5.5 Defesas Conforme anteriormente explicitado, o UK Bribery Act prevê como infração o ato de falhar na prevenção da corrupção. Portanto, pode-se perceber que o diploma permite e incentiva a autoproteção das pessoas jurídicas, que terão o ônus de prevenir a prática de atos que violem as disposições do UK Bribery Act. Nesse sentido, na Section 7 (2) do UK Bribery Act, está prevista uma modalidade de defesa das pessoas jurídicas que pode diminuir o âmbito de aplicação da infração, uma vez que esta seria responsável por atos ilícitos praticados em seu interesse ou benefício por quem possua qualquer ligação com a pessoa jurídica. O UK Bribery Act dispôs que a existência e aplicação de procedimentos de 36 Section 12 (4) do UK Bribery Act. 37 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 50. 38 Mayer Brown LLP. Guide to Anti-corruption Laws in Major Jurisdictions, 2011.p. 68. 20 Compliance compliance considerados adequados e suficientes constitui uma defesa integral.39 Ou seja, a pessoa jurídica que possuir um programa de compliance (ou integridade) que satisfaça os requisitos da legislação poderá alegá-lo como excludente de culpabilidade. No entanto, o UK Bribery Act não define quais são os critérios para que um programa de integridade seja adequado e suficiente, uma vez que há uma série de variáveis que determinam o grau de rigidez das regras de compliance aplicáveis a cada caso. Assim, a pessoa jurídica deve realizar uma análise de risco, contemplando o cenário em que atua40 e as diretrizes estabelecidas pelo MOJ Guidance, a fim de estabelecer as melhores práticas de acordo com a sua realidade e seus riscos. O MOJ Guidance dispõe sobre seis princípios que devem ser observados pelas pessoas jurídicas sujeitas à aplicação do UK Bribery Act. Tais princípios se coadunam com as práticas internacionais e dos Estados Unidos.41 Além disso, o guia ainda traz, em seu anexo, exemplos de aplicação dos princípios em casos do dia-a-dia das empresas. O primeiro princípio é o da proporcionalidade dos procedimentos. De acordo com tal princípio, as pessoas jurídicas devem possuir procedimentos e políticas acessíveis e adequadas aos riscos, natureza, tamanho e complexidadede suas atividades comerciais. O MOJ Guidance classifica como de alto risco a exposição de terceiros que negociam com agentes públicos estrangeiros e, embora também reconheça as dificuldades de fazer com que tais terceiros também sigam suas políticas e procedimentos de compliance, encoraja que as pessoas jurídicas apliquem tais procedimentos a relações futuras e já existentes. Em regra, quanto maior a pessoa jurídica e quanto mais variado seus parceiros comerciais, mais abrangente e detalhado deve ser o programa de compliance.42 O segundo princípio, e uma das principais preocupações das autoridades do Reino Unido, prevê o compromisso da alta administração da pessoa jurídica com o programa de compliance. De acordo com o MOJ Guidance, a alta administração deverá deixar claro para todos os colaboradores da empresa e para terceiros que a política e a cultura internas são contra a prática de atos corruptos, bem como deverá demonstrar seu comprometimento na prevenção da corrupção – e.g. apoio e auxílio no desenvolvimento do código de conduta e programa de compliance, publicidade do programa junto aos seus colaboradores e terceiros, entre outros exemplos.43 O terceiro princípio estabelece que as pessoas jurídicas devem realizar uma avaliação de riscos. Assim como os procedimentos, a profundidade da avaliação de riscos variará de acordo com uma série de fatores, devendo ser proporcionais ao seu tamanho e estrutura e a natureza, dimensão, local e setor de suas atividades comerciais. Além disso, segundo o MOJ Guidance, para que a avaliação de riscos seja eficaz, deverá possuir alguns requisitos: supervisão da alta administração, identificação de todos os riscos relevantes, 39 Section 7 (2) do UK Bribery Act. 40 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 48. 41 Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015, p. 308. < https://www.hugheshubbard.com/index.php?p=actions/vmgHhrUtils/download/asset&id=619 Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015>. Acesso em: 24.04.2018. 42 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 48-49. 43 Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. p. 23-24 <http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act-2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018. 21 Compliance identificação de fontes internas e externas de informação relacionadas aos riscos, possuir entrevistas de verificação prévia dos riscos e assegurar a documentação precisa e apropriada da avaliação de riscos e suas conclusões.44 O quarto princípio versa sobre auditoria prévia (due diligence), a qual consiste em procedimentos de diligência, baseados na avaliação de risco, de todos que possuam um relacionamento comercial com a pessoa jurídica, incluindo agentes e intermediários, joint ventures e cadeia de fornecedores. A pessoa jurídica deverá, portanto, verificar o histórico de tais terceiros e a existência de procedimentos de compliance. O quinto dispõe sobre comunicação e treinamento. A empresa deverá promover treinamentos sobre as políticas e procedimentos de compliance existentes, devendo esse ser periódico e mantido atualizado. No que tange à comunicação, esta poderá ocorrer por meio de um canal seguro e confidencial, onde colaboradores e terceiros poderão denunciar possíveis casos de corrupção. Além disso, a empresa deve promover ampla divulgação das políticas e do código de conduta, que assegurarão a implementação do programa e o conhecimento das consequências aplicáveis em caso de descumprimento.45 Por fim, o sexto princípio prevê o monitoramento e revisão do programa de compliance, devendo a empresa periodicamente reavaliar os riscos a que está sujeita e verificar se os procedimentos já implantados são adequados e suficientes para a prevenção da corrupção, realizando as devidas readequações sempre que necessário.46 2.5.6 Sanções Quando pessoas naturais praticarem as infrações de corrupção passiva, ativa e/ou de funcionários públicos estrangeiros,47 as sanções aplicáveis serão: (i) no caso de condenação sumária, prisão por um período não superior a 12 (doze) meses e/ou uma multa não superior ao máximo legal; e (ii) no caso de condenação em processo, prisão por um período não superior a 10 (dez) anos e/ou multa, sem limite de valor. Quando uma pessoa jurídica48 praticar os mesmos crimes acima mencionados, caso considera culpada por condenação sumária, deverá pagar uma multa não superior ao máximo legal. Por outro lado, se for condenada em processo, estará sujeita ao pagamento de multa sem limite de valor. Essa última sanção também é aplicável aos casos de falha de prevenção da corrupção.49 Além disso, no caso de pessoas jurídicas, também poderão ser aplicáveis sanções de outros diplomas legais, e.g. ordens de reembolso, ordens de confisco, impedimento de participar de licitações públicas, proibição de exercer atividade de diretor de qualquer empresa do Reino Unido por até 15 (quinze) anos, entre outros. 44 Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. p. 25. <http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act-2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018. 45 Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. p. 29-30. <http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act-2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018. 46 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 49. 47 Section 11 (1) do UK Bribery Act. 48 Section 11 (2) do UK Bribery Act. 49 Section 11 (3) do UK Bribery Act. 22 Compliance 2.5.7 “DPA Code” Em 14 de fevereiro de 2014, o Diretor do Ministério de Justiça Britânico e o Diretor do SFO publicaram a versão final do Deferred Prosecution Agreements Code of Practice – (“DPA Code”), o qual fornece orientação para promotores para a negociação de DPAs. Após o lançamento do DPA Code, os promotores foram autorizados a começar a celebrar DPAs a partir 24 de fevereiro de 2014.50 O DPA é o acordo assinado por uma pessoa jurídica e o Ministério de Justiça quando há grande probabilidade da pessoa jurídica ser condenada sob o UK Bribery Act ou quando há ao menos uma suspeita razoável baseada em evidências lícitas. No entanto, para que os procuradores possam conceder esse benefício às pessoas jurídicas que praticaram atos corruptos, deverão observar dois requisitos. Quanto mais a empresa atender tais requisitos, maior será a chance de celebrar um DPA com as autoridades e, pelo contrário, quanto menos requisitos ela atender, maior será a probabilidade de ser indiciada. O primeiro requisito está ligado à produção razoável de provas. As provas deverão indicar que a pessoa jurídica praticou a infração e que a produção de provas será feita em um período de tempo razoável, sendo este último conceito amplo e variando de acordo com as nuances do caso. O objetivo do DPA Code é incentivar a cooperação das pessoas jurídicas com as investigações e, consequentemente, demonstrar a efetividade do programa de compliance da pessoa jurídica envolvida no ilícito. Isto porque os procuradores deverão levar em conta os esforços empreendidos pela pessoa jurídica para
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