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[música de fundo] LOCUÇÃO: Está no ar o Podcast: O SUAS no enfrentamento as Violências. OBSERVAÇÃO: a trilha sonora usada em todos os podcast é "O sapato de Lú", de autoria do DJ Angelis Sanctus Aka - Claudio Manoel Duarte. É uma música com sons de atabaques mesclada com eletrônicos como teclado e pratos. [SINDELY ]: Olá vamos dar início ao nosso primeiro podcast. Eu sou Sindely Alchorne professora e pesquisadora da PUC-Rio, assistente social da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, atuando na política de assistência social desde o ano de 2003. Hoje falaremos sobre vulnerabilidade social e risco pessoal e social, violação de direitos, violência e o SUAS com professor Edilson Tavares de Araújo que é pesquisador e professor da Universidade Federal da Bahia, doutor em Serviço Social pela PUC São Paulo, com uma ampla trajetória de estudos e militância no campo da política de assistência social. A gente queria que você falasse um pouco sobre as principais causas da violência na atualidade e como elas se relacionam com as vulnerabilidades e os riscos sociais? [música de fundo] [EDGILSON]: A violência é um fenômeno multifacetado que possui, sem dúvidas, inúmeras causas, mas dessas causas mais estruturais né, mais estruturantes, relacionadas a diferentes opressões, devido a classe social, devido a questões de Gênero, a questão Racial, mas também outros tipos de opressão que são muito relacionadas eu diria, principalmente, e que elencaria como causas principais, a processos de preconceito, que são muitas vezes materializados em torno de questões discriminatórias. Dentro dos sistemas de proteção social, de maneira geral, especialmente no Sistema Único de Assistência Social, entender como se dão essas relações de poder e opressão que envolvem as pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social e entender, principalmente, como se materializa e como se criam esses imaginários em torno de determinados preconceitos. Preconceitos das mais variadas ordens como o próprio Racismo, o machismo, a lógica do capacitismo, ou seja, preconceito contra as pessoas com deficiência, a própria lógica da aporofobia né, do preconceito e as fobias com relação as pessoas pobres, entre outros tipos de preconceito. Assim, eu acho que é muito importante que cada trabalhadora e cada trabalhador do SUAS pare e reflita um pouco, principalmente compreenda que nós vivemos nessa sociedade que, culturalmente, nos impõem alguns preconceitos, entender por exemplo, fazendo uma primeira pergunta em que eu sou preconceituoso ou preconceituosa? Transcrição Podcast Unidade 1 - Vulnerabilidade social, risco pessoal e social, violação de direitos, violência e o SUAS ENTREVISTADORA: Sindely Alchorne ENTREVISTADO: Edgilson Tavares de Araújo DURAÇÃO DO PODCAST: 10’08” [música de fundo] Entender as diversidades perpassa anteriormente por uma outra coisa que é desenvolver um olhar e uma escuta atenta, de fato, para diferentes visões do mundo, diferentes formas de enxergar o mundo e passa não só por compreender ou entender, mas principalmente por desenvolver sensibilidades, desenvolver empatia. Temos que pensar nas causas estruturantes colocadas pelo próprio sistema capitalista em que nós vivemos, que é promotor sim das desigualdades sociais, do não respeito às diversidades e consequentemente das múltiplas formas de violência, mas pensarmos, principalmente, em como nós conseguimos mudar culturalmente as lógicas que existem com relação a esses preconceitos, com relação ao não respeito às diferenças, que não é simplesmente uma questão de tolerar, não é simplesmente uma questão de aceitar, mas é uma questão de ter sensibilidades e acima de tudo entender que todos e todas, dentro das suas diversidades, são cidadãos e cidadãs sujeitos de direitos. [música de fundo] [SINDELY]: A gente queria que você falasse um pouquinho mais sobre o papel do SUAS em relação a essas violências. Quais os principais desafios para a proteção social nesse sentido? [música de fundo] [EDGILSON]: O SUAS tem um papel fundamental considerando a sua característica de um sistema que materializa uma política pública de maneira Universal, ou seja, sem fazer acepção de quem deve ou não deve ser atendido, logo, ele é, digamos, talvez, uma das, não apenas a única, grandes portas de entrada para esses casos em que há um agravamento da situação de violação de direitos por violências. Assim, o SUAS tem um papel fundamental no âmbito preventivo, como também no âmbito protetivo. Então a gente tem que entender que todas as pessoas que passam por situações de vulnerabilidade e risco social têm cor, essas pessoas têm sexo, essas pessoas têm gêneros, essas pessoas têm orientação sexual, têm ou não uma deficiência, ela é idosa, ela tem uma faixa etária, tem um território onde essa pessoa vive, então é muito importante que no âmbito do SUAS se exerça um papel protetivo entendendo as vulnerabilidades que são mais preponderantes e estão presentes nos territórios, sem também estigmatizar os territórios como: esse território é violento, esse território não é violento, que é papel do SUAS compreender os diferentes tipos de violências. Muitas vezes é dado a maior visibilidade a violência quando essa envolve agressão, quando é uma violência física, porém nós sabemos que existem outros tipos de violência que não necessariamente envolvem agressão. Violências que estão, inclusive, silenciadas ou mais silenciosas e violências psicológicas, que existem violências morais, financeiras, violência do próprio Estado. [música de fundo] [SINDELY]: Isso nos remete a levantamentos e pesquisas nacionais e internacionais que mostram a incidência dessas violências e públicos específicos de crianças e adolescentes, mulheres, pessoas idosas, pessoa com deficiência que tem aumentado cada vez mais. Como você analisa, então, a incidência de violação de direitos agravadas por violência para esses públicos? [música de fundo] [EDGILSON]: Um primeiro desafio que nós temos de fato, diz respeito a termos de modo mais consolidado e disseminado esses dados. Muitas vezes a gente sabe da incidência por dados pontuais de algumas bases como do próprio SUS, do SUAS também, dos registros mensais de atendimento do SUAS, mas existe ainda pouca coisa consolidada com relação a incidência de alguns tipos de violência e, talvez essas violências que eu citei, que considero violências silenciosas e silenciadas, quando a gente pega por exemplo o caso da pessoa com deficiência, muitas vezes, esses casos sequer chegam a ser contabilizados porque sequer eles são identificados e são denunciados, então a gente tem um problema muito grande ainda que, apesar da existência desses dados, que são dados extremamente relevantes os dados do Disque 100, os dados do Atlas da violência e outros dados sobre violência de maneira geral, mas ainda existe uma certa subnotificação. O SUAS precisa investir em estudos e pesquisas mais aprofundados, estudos e pesquisas talvez até mais censitários com relação a isso e estudos que fomentem o caráter mais preventivo da violência né, porque, muitas vezes, se há subnotificação, isso acontece por uma série de questões inclusive os medos, temores que as pessoas que são violentadas sofrem, precisamos, cada vez mais, integrar as nossas bases de dados. Elas são muito desintegradas. Precisamos investir em processos de meta avaliação desses dados, ou seja, pensar na avaliação das avaliações e discutir esses dados de maneira intersetorial. Queria aqui destacar que existem duas questões fundamentais para a gente avançar no tratamento dos dados sobre violência: tratar esses dados de modo interseccional, ou seja, verificando os fatores causadores de determinadas opressões devido a características identitárias de raça, de gênero, de classe social, e aí a gente pode ir colocando outras questões também, mas principalmente a questão racial e a questão de gênero, devem ser pontudase analisadas no intercruzamento dessas bases de dados e, além da questão interseccional, nós devemos pensar na análise desses dados com base na lógica intersetorial, ou seja, não é simplesmente o SUAS, não é simplesmente o SUS, o sistema de Justiça, mas nós precisamos integrar tudo isso para, inclusive, fomentar o planejamento de algumas estratégias que gerem serviços, ações, programas, projetos e benefícios, no sentido do enfrentamento às situações de violência. É importante a gente entender também o processo de disseminação desses dados. Esses dados ainda são muito restritos aos próprios serviços públicos que são prestados ou ao âmbito acadêmico. Nós precisamos fazer com que esses dados cheguem a ponta, com que esses dados cheguem às populações dos territórios para que as pessoas consigam entender a gravidade que é o problema público da violência. [música de fundo] [SINDELY]: Eu agradeço imensamente as valiosas contribuições do professor Edgilson Tavares de Araújo. [LOCUÇÃO]: Sigamos juntos e juntas na defesa do sistema único de assistência social. Esse foi o Podcast: O SUAS no enfrentamento às Violências.
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