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Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Sp2 - Bota pressão nisso! Objetivos: Diferenciar trombose e embolia. Compreender como os fatores de risco levam à aterosclerose, relacionando com a fisiopatologia e suas possíveis complicações. (Hipertensão, hipercolesterolemia e DM) Entender a fisiopatologia e fatores de risco para a formação do trombo arterial. Discutir a fisiopatologia, manifestações clinicas e diagnóstico (DD) da dissecção da aorta. Estudar a indicação e importância da necrópsia. Trombose versus embolia Trombose Ocorre em decorrência de uma placa aterosclerótica. Normalmente, a classificação da placa que causa o trombo são as “placas ateroscleróticas vulneráveis”, pois, uma vez que são vulneráveis, elas possuem maior risco de se romper. Não existe um método diagnóstico para a própria aterosclerose que indique se uma placa é vulnerável ou não; contudo, segundo dados de autopsia, verifica-se que as placas que possuem maior propensão a se romper costumam ter mais conteúdo lipídico e menos fibrose - ou seja, são mais “moles”. Quando essa placa vulnerável se rompe, seja qual for o motivo, há, novamente, exposição do colágeno e fragmentos de tecido conjuntivo, que desencadeiam, por sua vez, uma cascata de coagulação, fazendo com que plaquetas comecem a ficar aderidas no local de rompimento, resultando na formação de um trombo. Ou seja, o trombo é na verdade um coágulo anormal que se desenvolveu no vaso sanguíneo. Além da aterosclerose, outras situações, como tecido traumatizado ou necrótico no corpo, pode causar uma coagulação intravascular disseminada Embolia Por sua vez, a embolia caracteriza-se como um bloqueio de qualquer artéria ou veia provocado por uma materia, seja ela sólida, semissólida ou gasosa, que percorre a corrente sanguínea, normalmente causada deslocamento de um trombo (a matéria predominante causadora de bloqueio), até o local/órgão onde formará uma obstrução. Isso acontece pois, uma vez formado/desenvolvido o trombo, o fluxo contínuo do sangue que passa pelo coágulo provavelmente vai soltá-lo e causar seu escoamento pelo sangue - esses copagulos que circulam livrimente são conhecidos como êmbolos. Nesse momento, o local de origem desse trombo que virou êmbolo irá predizer onde formará a oclusão, pois os êmbolos, originados em grandes artérias ou no lado esquerdo do coração, podem circular para a periferia e ocluir artérias ou arteríolas no cérebro, nos rins e em outros locais; já os êmbolos, originados no sistema venoso ou no lado direito do coração, geralmente fluem para os pulmões e causam embolia arterial pulmonar. FONTE: Aterosclerose e sua relação com as doenças cardiovasculares - Paula Regina (2018); Fisiologia de Guyton. Aterosclerose - fatores de risco que levam a ela, fisiopatologia, possíveis complicações É um complexo mecanismo fisiopatológico em que ocorre interação de processos imunilógicos, infecciosos e inflamatórios, mediados por fatores de risco ambientais e predisposição genética que favorecem a proliferação intimal (camada íntima do endotélio) e consequentemente o desenvolvimento da doença aterosclerótica. A marca da doença é seu curso heterogêneo, apresentando longo período de incubação silencioso seguido de manifestações clínicas agudas ou crônicas, em diversas partes do corpo - essas manifestações normalmente começam quando ocorre a progressão de simples placa para trombo ou êmbolo. Tudo começa, e evolui, quando agressores - fatores de risco e substratos que fazem parte de sua formação (lipoproteínas) - causam resposta na parede endotelial da artéria. Alguns dos fatores de risco são: Hipercolesterolemia, tabagismo, diabetes, HAS. Estes predispõem a modificação das lipoproteínas por meio da geração de “espécies reativas de oxigênio”. Relembrando... Numa artéria fisiológica, existem basicamente dois tipos de células que estão associadas à gênese da placa aterosclerótica: as células endoteliais (CE) e as células musculares lisas (CML). As CE estão em direto contato com o sangue, localizadas na camada íntima da artéria e, por isso, são ativas na homeostasia, permitindo que o sangue possa fluir dentro do lúmen. As CML localizam-se na camada média do vaso, tendo como função a contração e o relaxamento; ainda são capazes de regular o fluxo de sangue em diversos locais da artéria. As CML fazem parte da gênese da aterosclerose pois, durante o desenvolvimento da doença, podem sintetizar matriz extracelular e migrar para a camada íntima (mais externa). O Endotélio Sp2 - Bota pressão nisso! https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2018/08/082_ATEROSCLEROSE-E-SUA-RELA%C3%87%C3%83O-COM-AS-DOEN%C3%87AS-CARDIOVASCULARES-.pdf Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Em sua função normal, ele é considerado uma estrutura que promove condição dinâmica a favor da produção de fatores antiaterogênicos sobre os fatores pró-aterogênicos. Por meio de uma atividade metabólica contínua, ele mantém-se integro, permanecendo impermeável às células e macromoléculas presentes na circulação. Contudo, em sua função anormal, essa atividade metabólica contínua se perde e o endotélio, por si, facilita o acúmulo de diversas células inflamatórias - isso é uma resposta à uma lesão; ele perde seu poder de autoregulação. Esse fator determina quais são os fatores de risco que tem o poder de desregular o endotélio, sendo estes os responsáveis por iniciar uma série de eventos que culminarão na formação da placa. Nesta mesma linha de pensamento, uma ruptura da estrutura do endotélio expõe o sangue aos diversos estímulos pró- trombóticos presentes nas células do íntimo - essa exposição é o marco inicial e principal evento desencadeador do processo de formação da placa, através da exposição e ativação das plaquetas. O endotélio normal, entre outras coisas, produz um vasodilatador: o óxido nítrico. Este possui, além de ser um vasodilatador, outras funções antiaterogênicas e anti- inflamatórias, como a inibição da adesão leucocitária ao endotélio, evitar proliferação das CML e é um antitrombótico, pois limita a agregação plaquetária. Contudo, na presença de fatores de risco, essas defesas são perdidas. Em relação a composição das artérias, os pontos relevantes a se entender são: a túnica íntima, ou mais interna, é composta pelas células endoteliais que repousam diretamente sobre a membrana basal (lâmina elástica interna). É descrita como uma camada única de células que repousa sobre a lâmina elástica interna; está, por sua vez, contém tipos de colágeno não fibrilares como o tipo IV, a laminina, a fibronectina e outras moléculas da matriz extracelular que separam essa camada da túnica média, que, por sua vez, é rica em CML - estrutura adaptada para o armazenamento de energia cinética da sístole do ventrículo esquerdo sobre a parede das grandes artérias. Fisiopatologia Fase inicial A inflamação é presente em todas as fases de desenvolvimento da aterosclerose: início, desenvolvimento, eventos finais e, até mesmo, nas possíveis complicações trombóticas. 1. A resposta da parede arterial a agentes agressores A formação da placa será uma resposta a inúmeros agentes agressores e se constitui através de um processo proliferativo + deposição de lipídios + um processo inflamatório que será caracterizado, principalmente, pela presença de macrófagos, monócitos, linfócitos e outras células em diferentes fases da formação da placa. Cabe ressaltar que, como vários dos processos químicos que levam ao desenvolvimento da placa dependem de substâncias produzidas por tais células, a doença tem sido considerada inflamatória. Através deste entendimento de que a resposta vascular à lesão induzidas por fatores de risco é inflamatória, passou a conhecer quais são os grupos celulares envolvidos: CE, monócitos/macrófagos, linfócitos T, mastócitos, plaquetas e CML. A primeira lesão no endotélio, ou as primeiras lesões, ocorrerão em locais do vaso onde o fluxo sanguíneo, que deveria ser um fluxo laminar, passa a ser um fluxo turbulento (emdecorrência de um fator de risco). Esse fluxo turbulento interfere no chamado “shear stress” que é a tensão de cisalhamento, e, por consequência, nas características do endotélio, causando, primariamente, a diminuição da produção de óxido nítrico. Acredita-se que a CE possam sentir as diferenças de fluxo através dos cílios presentes em sua superfície e pelos receptores de adesão em sua parede lateral. Essas estruturas seriam responsáveis por fazer a transdução de um sinal mecânico em químico, por meio da ativação de uma cascata de sinalização intracelular. Obs. Cisalhamento é um fenômeno de deformação ao qual um corpo está sujeito quando as forças que sobre ele agem provocam um deslocamento em planos diferentes, mantendo o volume constante. Por sua vez, a A tensão de cisalhamento é a tensão gerada pela atuação de uma força paralela ao movimento em uma superfície onde temos um fluido. Então, quando o fluido é submetido a uma tensão cisalhante, por menor que ela seja, ele não resiste! Obs. O fluxo laminar permite com que ocorra uma hemostasia adequada, com mecanismos antiaterogênicos presentes, com a expressão de uma enzima antioxidante, a superóxido dismutase. Após isso, a formação da placa ocorre de maneira contínua, passando pelas seguintes fases fundamentais: I. Disfunção do entolétio; II. Penetração de lipoproteínas de baixa densidade colesterol (LDL) e leucócitos circulantes (linfócitos T e monócitos na região subendotelial); III. Oxidação do LDL; IV. Formação das células espumosas; V. Migração e proliferaçãi da CML para o espaço subdendotelial e síntese de matriz extracelular (MEC); VI. Lesão estrutural do endotélio, com deposição de plaquetas e formação do trombo. 2. Adesão leucocitária Uma vez que o fluxo turbulento causado pelo excesso de substâncias anormais no sangue (HAS, cigarro, dieta rica em gorduras) causou um lesão nas células endoteliais, teremos a adesão de leucócitos. Essa adesão + sua penetração no espaço subendotelial são mediadas por diversas moléculas de adesão, Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG expressa tanto pelas próprias células endoteliais como nas circulantes. Primariamente, os leucócitos aderem ao endotélio disfuncional, através do rolamento em sua superfície para uma posterior ação de migração e adesão entre as células endoteliais para sua localização definitiva - o espaço subendotelial. Em primeiro lugar, a primeira forma de adesão - o rolamento - acontece por meio das selectinas. Em decorrência do aumento da expressão das três formas de selectina, os leucócitos tem sua velocidade reduzida na circulação (como ímas) e entram em contato próximo com o endotélio. Após essa rolação, a proximidade dos leucócitos, elas são expostas a fatores locais, como as quimiocinas e as citocinas, que promovem, nos leucocitos, a expressão das integrinas beta-2 para uma fixação mais definitiva - ou seja, ativa a célula. As quimiocinas, acima das citocinas, promovem uma alteração de afinidade dos receptores de leucócitos ao endotélio, estabilizando essa recé ligação e alterando a conformação da célula, tornando-a mais achatada. Entre essas moléculas de adesão, destacam-se a VCAM-1 (células vascular de adesão molecular), a ICAM-1 (molécula de adesão intracelular), a E-Selectina (molécula de adesão da fase aguda e a ELAM-1 (molécula endotelial de adesão leucocitária). O processo de fixação dos leucócitos ao endotélio se faz à custa de ligações entre integrinas dos leucócitos as imunoglobulinas ICAM-1, ICAM-2 e VCAM-1 expressa nas células endoteliais. Por meio de suas interginas alfa-2 de alta afinidade, as CD11/18 - ligante ao ICAM-1 - e da intregrina alfa1 - ligante ao VCAM-1 - essas células se fixam ao endotélio e iniciam a sua migração final para o espaço endotelial Obs. O VCAM-1 liga-se tanto a monócitos quanto a linfócitos T; os principais tipos de leucócitos encontrados no início da formação da placa. A regulação da expressão destas moléculas que irão promover a adesão leucocitária vem de citocinas sintetizadas em pequenas concentrações pelo próprio endotélio, como a IL-1, IL-4, IL-6 e IL-18. Além destas, a Angiotensina II e a PCR também favorecem a expressão de moléculas de adesão. Por ser um processo de início inflamatório, na presença de disfunção endotelial, a concentração dessas citocinas irá se se elevar, estimulando a adesão dos leucócitos. Além dos leucócitos, os monócitos também são atraídos pela área, causando a sua adesão na superfície endotelial. O sistema CD40/CD40L é uma proteína da membrana celular que é expressa em todos os tipos de celulas atuantes na formação da placa. Essa informação é relevante pois, além das interleucinas presentes no local pela resposra inflamatória induzirem a produção das moléculas de adesão, esses sistema também irá, pois ele também é ativado por células do sistema imune. Tanto o composto CD40 quanto o CD40L são uma proteína de membrana da família do fator de necrose tumoral alfa. A expressão de CD40/CD40L nas células é induzida pela alta concentração de LDL circulante, principalmente, em seu formato de LDL oxidada e, por sua vez, causa a produção, também, de E-selectina, citocinas, VCAM-1 e ICAM-1, facilitando ainda mais o recrutamento de leucócitos para o endotélio. Outro ponto de extrema relevância ao fator sobre citocinas, é o recém descoberto papel da IL-18, tanto no quesito de recutramento de células que irão promover a adesão plaquetária, quanto seu papel na instabilidade da placa (futura Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG formação de trombo). Sua diminuição na corrente sanguínea é inclusive objetivo terapêutico uma vez que notou-se que a perda de peso reduz seus níveis circulantes 3. Lipoproteína de baixa densidade colesterol oxidade e lectina Também nos primórdios da formação da placa, observa-se a ocorrência de um acumulo extracelular de lipidio na intima, que se da pela ligação das partículas de LDL, através de um sítio específico da apo B, aos proteoglicanos. Outro mecanismo responsável pela retenção da LDL na íntima seria a ação da lipoproteína lipase local da íntima e a ação de fosfolipases. Uma vez no espaço intimal, as lipoproteínas apresentam maior suscetibilidade aumentada à oxidação, dada a escassez de antioxidante nessa região. As ações aterogênicas da LDL oxidade ocorrem, principalmente, por meio do receptor semelhante a lectina - o LOX-1, responsável por ativar o LDL. Esse receptor está presente nas CE, em macrófagos e CML. Na presença de fatores de risco, o LOX-1 é encontrado em grande quantidade nos vasos sanguíneos e, seu aumento, aumenta também a captação de LDL oxidado pelas células, o que por sua vez, aumenta ainda mais a síntese de LOX-1, reduzindo a disponibilidade de NO, agravando a disfunção endotelial. O aumento do LOX também está envolvido no aumento da apoptose, elevação da expressão de E-Selectina, VCAM e ACAM-1, desencadear a atuação da via de sinalização CD40/CD40L e aumenta a expressão de ERO. Pois isso, devido a sua ampla grama de atuação, a hiper-regulação da LOX-1 tem grande importância na fisiopatologia da placa. Além disso, o próprio processo inflamatório pode contribuir para a oxidação das lipoproteínas por diversos mecanismos; assim como a LDL oxidada pode aumentar o processo inflamatório Obs. A redução de NO ocorre pois agentes como a angiotensina II, que é um antagonista do NO, está envolvida no feedback positivo causado pelo aumento do LOX-1.. 4. Mónocitos, macrófagos e a formação das células espumosas. Uma vez aderidos ao endotélio, os monócitos migram para a região subendotelial, passando por entre as células endoteliais (diapedese), via interação com o receptor de monócitos CCR2. Um papel importante nessa locomoção é feita pela proteína MCP-1, um poderoso agente quimiotático, responsável por recrutar os monócitos de caráter inflamatório. Agora dentro da íntima, os monócitos se diferenciam em macrófagos e passam a expressar receptores removedores, como o CD36, LOX-1 e SR-A, que, por sua vez, internalizam lipoproteínas modificadas.Fase de desenvolvimento da estria gordurosa A diferenciação neste espaço, da íntima, de monócito para macrófago e a proliferação destes devem, em grande parte, à ação do M-CSF. Os macrófagos, por sua vez, expressão receptores scavenger, permitindo a internalização de lípidos, principalmente, o LDL oxidado - vale lembrar que esse LDL está presente uma vez que chegaram via CE + Macrófagos presentes no espaço subendotelial, pode ocorrer a formação de células espumosas. Essa formação ocorre em decorrência de um processo de oxidação realizada via ERO, substância que está sendo secretada pelas CE, além da presença dos macrófagos e das CML também. Nesse espaço endotelial, o LDL será “ingerido” pelos macrófagos afim de destruir essas partículas de gordura, contudo, em certo ponto, essa destruição irá falhar, fazendo com que comece a acumular no espaço endotelial as “células gordurosas” - lesão inicial da aterosclerose através do ácumulo de ésteres de colesterol no citoplasma de macrófagos. As células gordurosas, por sua vez, irão produzir citocinas que mantém o estímulo para a atração de leucóticos e fatores de crescimento - destaque de que isso é um processo feito naturalmente pelos monócitos/macrófagos por eles são células de defesa, por isso recrutam mais células de defesa para ajudar a combater o agente anormal encontrado - que, ao chegarem ao local, replicam para macrófagos e aumentam sua expressão local, aumentando também a formação de células espumosas. Um fator estimulados para dessa colônia de macrófagos é o M-CSF, hiperrestimulado a nível de placa. A presença de numerosos macrófagos transformados em células espumosas na ímtima vascular caracteriza-se como uma lesão de estria gordurosa, lesão precusora de outras fases - a situação aqui ainda é reversível e não causa repercussões clínicas. 5. linfócitos e mastócitos Até o ponto de ação inflamatória mediada por macrófagos, a imunidade que está agindo é a inata, aquela que não precisa da interação de linfócitos. Contudo, atualmente, sabe-se que a resposta imune adaptativa também está presente e contribui para a formação da placa Na instalada bagunça de citocinas e quimiocinas, uma família de quimiotáticos linfocitários atrai linfócitos T para o subendotélio, principalmente os TCD4 e TCD8. Eles surgem, em primeira linha, para tentar controlar uma situação que os macrófagos não conseguiram, isso pois os linfócitos são a fonte principal de gamainterferona, cuja ação principal é sobre as CML, impedindo-as de sintetizar matriz extracelular, além de induzir a apoptose de macrófagos e das células musculares lisas, pela estimulação do receptor-1 de TNF. Os linfócitos T são chamados através da ação de células dendríticas teciduais ou os próprios macrófagos provenientes da circulação que atuarão como células apresentadoras de antígeno para esses linfócitos T. os antígenos apresentados são varíaveis, como porções de lipoproteínas, entre outros. A partir dessa ativação, as células TCD4 irão passar por sua cascata de ativação que culminará em aumento da resposta Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG inflamatória (via Th1). Contudo, pela via Th2, é responsável por secretar outros tipos de citocina, como a IL-4 e IL-10, que atuam diminuindo a inflamação, inclusive controlando a resposta de Th1. Já os linfócitos TCD8, estão relacionados ao processo de apoptose de células, como os macrófagos, CE e CML, por meio da expressão do fator citotóxico de membrana Faz ligante. Já os mastócitos, por sua vez, são células inflamatórias que também são encontradas na situação. Quando ativados, eles podem contribuir para o estado inflamatório e, infelizmente, a progressão das lesões. Isso acontece pois eles produzem proteases séricas, citocinas e proteoglicanos, substâncias como TNF que ativam as células endoteliais para expressão a molécula de adesão, especialmente P-selectina e VCAM-1. Além disso, ainda atuam diretamente no recrutamente de leucócitos para a região subendotelial, além de induzirem a apoptose de CE e CML. Dessa maneira eles são associados ao crescimento e instabilidade da placa. 6. Receptores ativados de proliferação peroxissomal O PPAR são receptores nucleares ativado por ácidos graxos e derivados e são os responsáveis por modular os estágios iniciais da aterogênese, pois regulam a quimiotaxia e a adesão de células circulantes. Eles fazem isso modulando a proliferação de linfocitos T e resposta imune. Além disso, regulam também a agregação plaquetária medianta a redução da expressão de tromboxano A2 e reduzem a expressão de receptores ativados de plaquetas e fator tecidual. 7. Lipoproteína de alta densidade Em condições pré-existentes de placa, o HDL apresenta um efeito paradoxal. Nessas condições, ele iria aumentar o recrutamente e ativação de macrófagos, elevar a expressão de moléculas de adesão ao endotélio e participar da oxidação da LDL. Fase de progressão para a placa complexa 8. Formação da placa Além da participação nas fases iniciais da formação da placa, os processos inflamatórios continuam operantes e são, na verdade, essenciais na progressão da placa. Assim, a progressão das estriais gorduroas para lesões iniciais complexas requer a infiltração de células inflamatórias e a proliferação de células musculares lisas. Como visto, macrófagos e linfócitos T infiltram as lesões ateroscleróticas e se localizam preferencialmente nas margens, onda a inflamação é mais ativa e por onde começa o crescimento da placa. Nessa fase, as CML sintetizam a matriz extracelular. Essas células irão migrar da túnica média para a íntima em resposta a produção de um fator de crescimento derivado de plaqueta e secretado pelos macrófagos, ambos ativados. Uma vez na íntima, as CML proliferam sob influência de vários fatores de crescimento e secretram proteínas da matriz, entre eles o colágeno. Em contrapartida, observa-se também a apoptose de CML, mediada, sobretudo, pelos linfócitos T, via interação das proteínas Fas de membrana. Embora a proliferação de CML ocorra de forma gradual, pequenas roturas de placas em formação podem gerar surtos proliferativos desencadeados pela trombona - coagulação - produtos da matriz extracelular. Outro ponto relevante é que, mesmo com a placa formada, os macrófagos não param de proliferar; está continuidade é causada por mitógenos e comitógenos como o M-CSF. Além da formação da matriz, ocorre também a mineralização da placa, também por ação das CML. Esse processo parece ser mediado pelo sistema RANK/RANK ligante e osteoprotegerina, de maneira análoga a mineralização no tecido ósseo. Outro processo importante na progressão da placa é a formação de novos vasos sanguíneos a partir de vasa vasorum - ou neovascularização. Mais tarde, estes vasos podem ser aqueles que favorecem a hemorragia intraplaca e trombose in situ. A placa aterosclerótica madura apresenta, além de células, dois componentes estruturais: um núcleo lipídico, pouco denso, e uma capa fibrosa, que é seu componente fibrótico, que representa cerca de 70% do tamanho da placa. O conteúdo desse núcelo é altamente trombogênico, uma vez que é fromado por lipidios extracelulares, principalmente cristais e ésteres de colesterol. A capa fibrosa é formada por CML, matriz extracelular e células inflamatórias. A matriz consiste em colágeno, elastina, proteoglicanos e microfibrilas proteícas. Citocinas e fatores de crescimento regulam a síntese da matriz. Vulnerável versus estáveis As placas vulneráveis são caracterizadas por rico componente lipídico, fina capa fibrosa, pouco colágeno e um núcleo necrótico. Ao contrário, as placas estáveis tendem a possuir uma grossa capa fibrose que contém CML e colágeno fibrilar em quantidade significativa. Nas placas vulneráveis, o processo inflamatório ainda está ativo. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Complicação A maior gravidade da aterosclerose está relacionada com fatores de risco clássicos, como dislipidemia, diabetes, tabagismo, hipertensão arterial, entre outros, mas, a nível celular, cristais decolesterol, microfilamentos liberados por neutrófilos, isquemia e alterações na pressão de arrasto hemodinâmico têm sido implicados na ativação de complexo inflamatório, que se associa com ruptura da placa aterosclerótica ou erosão endotelial. Hipertensão Arterial Entre as doenças que a HAS pode estar associada, destacam- se as doenças cardiovasculares e as arteriopatias causadas por obstrução de vasos, como a doença isquêmica do coração e a aterosclerose, esta associação resulta em aumento da prevalência da DCV e suas complicações. Quando investigada a presença de aterosclerose e de cardiopatia hipertensiva, o presente estudo encontrou forte associação, uma vez que 75% dos indivíduos apresentavam acentuada aterosclerose na artéria aorta. Estudo que avaliou as características morfológicas da aterosclerose em indivíduos autopsiados relata significante correlação entre o grau de aterosclerose e a presença de doença cardiovascular(9). A dislipidemia favorece a severidade da HAS, uma vez que há associação significativa entre o aumento dos níveis séricos de triglicerídeos, lipoproteína de baixa densidade, lipoproteína de muito baixa densidade e apolipoproteína B100, e aumento da pressão arterial e risco de cardiopatias em indivíduos hipertensos(18). O depósito contínuo de colesterol na camada íntima desencadeia a ativação endotelial, o recrutamento de monócitos e células musculares lisas, a síntese de mediadores inflamatórios e a neoformação de colágeno, por exemplo. Consequentemente, a progressão da aterosclerose está relacionada ao prejuízoda função endotelial e à redução da elasticidade decorrentes do comprometimento da organização, função e vias de sinalização entre os componentes da artéria aorta(19). Indivíduos com HAS apresentam maior espessura da artéria aorta decorrente da aterosclerose(7,19)e, consequentemente, menor distensibilidade do vaso, quando comparado aos não hipertensos; ressaltando que o aumento da pressão arterial favorece não só os depósitos de gordura, mas também a progressiva rigidez(5,7)e disfunção endotelial da aorta(5)na cardiopatia hipertensiva. A gravidade da aterosclerose apresenta forte correlação ao aumento do risco de doenças cardiovasculares e não cardiovasculares(19). Estudo aponta que a aterosclerose complicada (placas de ateroma severas, a presença de rupturas, ulcerações e trombos), associada à HAS, diabetes mellitus, dislipidemia e tabagismo, por exemplo, favorece a incidência da doença da artéria coronária. Além disso, a hipertensão arterial é fator independente do risco cardiovascular e sabe-se que existe uma relação entre ela e resistência à insulina. Os mecanismos envolvidos seriam vários, entre eles, aumento da ativação do sistema nervoso simpático, que ocorre em pessoas obesas e aquelas insulino- resistentes onde há aumento na reabsorção renal de sódio e água estimulada pela insulina(15). A hipertensão está frqüentemente associada com fatores de risco cardiovascular como hipercolesterolemia, deficiência de estrógenos e hiperinsulinismo. Estudos recentes mostram que estes fatores de risco CV poderiam aumentar a expressão de receptores AT-1 no endotélio, que resultaria em aumento de estresse oxidativo, crescimento acelerado da célula vascular lisa e vasoconstrição exagerada. Talvez, o aumento da expressão do receptor AT-1 seja acompanhado pelo incremento de AGE vascular e potencialmente outros componentes locais do sistema renina-angiotensina. Estes eventos deletérios poderiam então, aumentar o risco de aterosclerose no paciente diabético Diabetes Melitus Várias são as evidências clínicas e epidemiológicas que sustentam o conceito de que indivíduos com diabetes melito tipo 2 apresentam risco cardiovascular aumentado. O fenótipo lipídico frequentemente encontrado nesta população consiste de hipertrigliceridemia e HDL-c baixo. A concentração média do LDL-c não apresenta diferenças quantitativas, distinguindo-se, entretanto, pelo perfil de alta aterogenicidade pela presença de partículas pequenas e densas. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Hiperglicemia e aterosclerose A hiperglicemia representa um fator de risco independente na disfunção endotelial, comprovado a partir de estudos em animais e pacientes diabéticos, que mostram uma diminuição de NO derivado do endotélio(3). A hiperglicemia induziria uma série de eventos celulares que elevaria a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) nas mitocôndrias via cadeia respiratória. A biodisponibilidade do NO nessa condição estaria diminuída, já que o excesso de ERO, como o ânion superóxido, reagiria com óxido nítrico, transformando-o em peroxinitrito, radical altamente reativo, capaz de alterar proteínas e modificar suas funções. Este radical livre de oxigênio também oxida o co-fator tetraidrobiopteridina do óxido nítrico sintetase (NOS) inativando a enzima, diminuindo a produção de NO, predominando então, a produção de ânion superóxido sobre a produção de óxido nítrico(9,11-14). O radical livre superóxido de Oxigênio iniciaria uma cascata de reações no processo endotelial, resultando em aumento da produção de mais radicais livres de oxigênio(9,11,12,15) que degradariam o NO e aumentariam a expressão de moléculas de adesão nas células endoteliais. Isto aconteceria pela capacidade da hiperglicemia provocar o incremento na produção de radicais livres de oxigênio o que favorece a glicação não - enzimática tanto da glicose, de proteínas e lipoproteínas plasmáticas com a conseqüente produção de produtos de glicação avançada (AGE) (3,16). A presença de AGE nas placas ateromatosas, assim como de proteínas glicadas, sugeriria um maior estresse oxidativo que contribuiria para o desenvolvimento gradual das complicações da diabetes(2,3,6,17). O acúmulo destes AGE, acelerados pela hiperglicemia, promovem inativação do NO, ativação de moléculas de adesão (VECAM -1, ICAM -1 ) e quimocinas como a MCP-1, (quimocina que atrai macrófagos para o interstício vascular), favorecendo a migração de monócitos e linfócitos T em áreas suscetíveis da íntima arterial(18) onde aconteceria a oxidação de LDL e LDL glicadas(10,16,19). Nos estados de resistência à insulina e nas hiperglicemias há estímulo da síntese de fatores endoteliais que estimulam a proliferação de células musculares lisas, como o fator derivado de plaquetas (PDGF) e fator -1 de crescimento insulina-símile (IGF-1) A hiperinsulinemia, além de diminuir a produção de prostaciclina, substância vasodilatadora e antiagregante, estimula a síntese endotelial de endotelina 1, potente hormônio vasoconstritor(9,20), e aumenta as taxas de dimetil L-arginina, antagonista competitiva de NOS(16, 21,22). O fato de indivíduos com diabetes tipo 1 e 2, apresentarem recuperação na vasodilatação endotélio-dependente quando tratados com Vitamina C além do ascorbato restaurar a vasodilatação endotélio-dependente inibida pela hiperglicemia aguda em individuos normais, reforça a idéia de que o estrese oxidativo estimulado pela hiperglicemia resultaria em disfunção endotelial em pacientes diabéticos. Insulina e disfunção endotelial A insulina tem efeito vasodilatador por estimular a produção de óxido nítrico pelas células endoteliais, através da ativação do sistema fosfatidilinositol-3 quinase (PI3 - kinase) e Akt quinase (2,3,14). Além do efeito vasodilatador da insulina, que é bloqueada ou reduzida nos quadros insulino-resistentes, este hormônio atua sobre a musculatura lisa dos vasos, favorecendo a migração e proliferação de células musculares. No diabetes, há um aumento da produção de endotelina pelo endotélio que provoca inflamação e contração da célula muscular lisa vascular(2,10,11). A insulina, o aumento da pressão arterial, a elevação de ERO e o incremento na taxa de LDLcolesterol, presentes no paciente diabético e outros estados insulino- resistentes (2,3) induzem maior produção de endotelina-1 ( ET-1) por ativação da enzima conversora da endotelina que transforma bigendotelina em endotelina-1 com grande efeito vasoconstritor (24) (Fig. 2). A insulina, comojá dito, ativa tanto a produção de NO como de ET-1 (10), esta última induz a expressão de NAD(P)H oxidase no endotélio com a conseqüente produção de ânion superóxido oxidase no endotélio da aorta (3,22) Ambos os fatos sugerem que a insulina poderia provocar disfunção endotelial através do aumento doa disponibilidade de ET-1 e posterior aumento do estresse oxidativo. Hipercolesterolemia O que acontece é: no paciente com hipercolesterolemia - taxas elevadas de colesterol no sangue - possuem aumento da disponibilidade de liproproteínas a nível de plasma; isto favorece a agregação destas na parte da artéria. Essa agregação se dá através da modificação de oxidação dessas lipoproteínas no plasma (proporcional; quanto mais oxidadas, mais se agregam) e de outras estruturas presentes no espaço da íntima, como os proteoglicanos. Ou seja, para que ocorra a agregação, é preciso de anomalias a nível de plasma e a nível de endotélio. Lesões ateroscleróticas iniciais, como a presença de células espumosas e estrias gordurosas, têm sido identificadas em fetos de mães com hipercolesterolemia e em crianças de primeira infância. Essa lesão progride continuamente durante toda a vida, até constituir o ateroma, em torno da quinta década de vida. Um dos principais pontos causais de ateroscleroses por hipercolesterolemia é a disfunção do óxido nítrico produzido pelas células endoteliais, deixando que a alta de colesterol promova a deposição de leucócitos sobre o endotélio. FONTE: Clínica Médica, Tratado de Cardiologia - SOCESP, Correlação entre cardiopatias hipertensivas e aterosclerose na artéria aorta - Pedro paulo (2017), Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017, Diabetes Mellitus como fator de risco na aterogênese - Rodrigo Dal Moro Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Trombo Arterial A aterosclerose é uma doença vascular crônica que ocorre principalmente em artérias grandes e médias e, como sequência, pode levar a oclusão destes vasos, culminando no infarto agudo do miocárdio, isquemia vascular cerebral ou periférica. A aterosclerose normalmente, não tem clínica, conduto, sua expressão clínica é determinada quando a ruptura dessa placa leva à trombose e à obstrução do fluxo sanguíneo arterial. O conceito atual de trombose arterial é que microrrupturas repetidas dessa placa aterosclerótica, seguida por uma situação de trombose subclínica, contribuem de forma progressiva e lenta para a ocorrência do evento trombótico final. Nessa situação, os trombos arteriais se caracterizam por redes compactas de plaquetas e fibrina - isso as diferencia dos trombos venosos, que possuem redes mais extensas e menos compactas de fibrina, hemácias e leucócitos. Atualmente, as características das placas ateroscleróticas que determinam sua vulnerabilidade à ruptura e seu potencial trombogênico são objeto de intensa investigação. Papel das proteínas envolvidas na hemostasia na fisiopatologia Apesar de não ter evidências clínicas da participação de agentes antiplaquetários e anticoagulantes na aterogênese, ou seja, não há evidências de interferência do sistema hemostático na formação da aterosclerose, dados experimentais demonstram que as plaquetas e as proteínas da coagulação são importantes determinantes na progressão da aterosclerose para a trombose. As plaquetas, por exemplo, exercem vários efeitos pró- aterogênicos e aterotrombóticos, ao atuarem como interface entre a hemostasia, inflamação e a resposta imune inata no contexto da aterosclerose. Em relação à coagulação, as lesões ateroscleróticas humanas constituem um microambiente em que ocorre produção ativa de fatores da coagulação, com aumento da geração de trombina em placas instáveis em comparação a placas estáveis. Fatores de risco Fatores de risco relacionados à progressão da aterosclerose são amplamente conhecidos Tabela 73.2) e devem ser avaliados em todos os pacientes com trombose arterial. A ocorrência de tromboses arteriais em pacientes com múltiplos fatores de risco não costuma suscitar dilemas diagnósticos ou terapêuticos. No entanto, quando tromboses arteriais ocorrem em indivíduos jovens (homens < 55 anos e mulheres < 65 anos) e sem fatores de risco, o hematologista é frequentemente chamado a opinar na expectativa de que possa identificar biomarcadores que expliquem a ocorrência do evento, e/ou que possam servir como alvos terapêuticos. Nessas avaliações, podemos presumir que, tal como em qualquer evento trombótico, a ocorrência e a extensão de uma trombose arterial dependerão do resultado final da interação entre estímulos protrombóticos locais (no caso, relacionados à aterosclerose) e mecanismos individuais antitrombóticos e de reparo vascular. De fato, podem ocorrer circunstâncias especiais em que condições sistêmicas menos comuns amplifiquem estímulos pró-trombóticos locais, aumentando o risco de tromboses. A pesquisa dessas condições, guiada pelas características de cada caso, deve fazer parte da avaliação do hematologista (Tabela 73.3). Na maioria das vezes, no entanto, nenhuma dessas condições é encontrada, o que torna a avaliação da hemostasia um exercício frequentemente frustrante para todas as partes envolvidas. Em casos em que as características clínicas sugiram inequivocamente a participação de fatores de risco não convencionais − tais como pacientes com tromboses arteriais em idade muito precoce, sem a presença de fatores de risco convencional e com história familiar importante −, caberá ao hematologista deixar claro ao paciente e a outros membros da equipe médica que o resultado negativo da investigação não afasta o risco de novos eventos, recomendando a manutenção do tratamento antitrombótico adequado e a otimização do controle de fatores de risco modificáveis que possam aumentar ainda mais o risco trombótico daquele paciente. Fisiopatologia A erosão da placa aterosclerótica permite o contato direto de substâncias trombogênicas - como o colágeno - em seu interior com plaquetas circulantes e proteínas de coagulação. Essa interação desencadeia o processo de trombose sanguínea por duas vias distintas. Inicialmente, a lesão vascular da placa instável com exposição da matriz subendotelial promove a adesão das plaquetas circulantes ao colágeno intersticial. Essa Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG adesão pode acontecer por via direta pelas glicoproteínas de superfície ou indiretamente por meio do fator de Von Willebrand - as proteínas de superfície seriam o colágeno exposto e o fator são substância liberadas que ativam a adesão das plaquetas. Independente da via, a adesaõ ao colágeno subendotelial irá promover a ativação das plaquetas, caracterizando mudanças conformacionais com aumento de sua superfície de contato e liberação de susbtâncias retidas em seus grânulos - como, por exemplo, o próprio fator de Von Willebrand e expressão de receptores específicos de superfície, principalmente a glicoproteína IIb/IIIa que, juntamente as moléculas plasmáticas de fibrinogênio, permitem a agregação plaquetária. Nesse processo, parte dos mediadores formados pelas plaquetas ativadas, como adenosina difosfato e fibrinogênio, induzem agregação plaquetária e buscam a estabilização do trombo; enquanto outros estimulam o sistema de coagulação ou promovem a vasoconstricção local. A fase plaquetária da trombose é responsável pela formação de um coágulo hemostático que visa interromper o sangramento, está, por sua vez, será seguida pela formação do coágulo através da formação, pela cascata de coagulação, da malha de fibrina. A interação entre as substância pró-trombóticas geradas durante o evento de instabilização da placa e as antitrombóticas, naturalmente presentes no vaso, determina a intensidade de ativação do sistema de coagulação e a progressão do trombo e, portanto, o grau de obstrução vascular e a forma clínica da trombose arterial. Uma vez percebida a obstrução do vaso pela formação do trombo acima da placa aterosclerótica, o endotélio vascular acima uma posição de importância.Uma série de substâncias anticoagulantes, antiplaquetárias, fibrinolíticas e vasodilatadoras é produzida continuamente pelo endotélio com o intuito de interromper a progressão do trombo formado na luz e, assim, permitir a manutenção do fluxo sanguíneo. Em situação de disfunção endotelial causada por fatores de risco cardiovasucular - como a HAS, diabetes, tabagismo - o endotélio é incapaz de sintetizar quantidades adequadas de tais substâncias, predispondo ao aparecimento de formas mais graves dessa condição. Os principais agentes anticoagulantes formados pelo endotélio são: antitrombina III, que atua ligando-se irreversivelmente à trombina para inativá-la e facilitar sua depuração plasmática; trombomodulina; proteínas C e S, que atuam para acelerar a degradação dos fatores de coagulação Va e VIIIa; e o inibidor da via do fator tecidual, que se combina ao fator Xa para bloquear o complexo formado pelo fator tecidual e fator VII. Além disso, o endotélio também é capaz de secretar o ativador do plasminogênio tecidual, grando a plasmina. FONTE: Tratado de Hematologia e Clínica Médica da USP Dissecção da aorta A dissecção da aorta é um evento patológico agudo, caracterizado pela delaminação da camada média - em consequência de uma ruptura da camada íntima, criando uma falsa passagem , por onde o sangue começa a passar em paralelo a verdadeira luz do vaso, através de uma extensão variada. Essa nova cavidade está em comunicação com a luz do vaso, por isso o fluxo sanguíneo acaba seguindo por ela. Essa ruptura da camada íntima ocorre principalmente em algumas áreas, como os pontos de fixação do vaso, pois é onde a tensão superficial é maior - ou seja, a tensão na camada íntima. Os principais locais são a junção sinotubular, na porção ascendente da aorta, e no istmo da aorta. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Obs. O istmo por sua vez se localiza na parte torácica da aorta, sendo um pequeno estreitamento, seguido de uma dilatação. Relembrando... A aorta é uma artéria elástica. Estas são constituídas por uma túnica íntima, mais externa, seguindo de uma túnica médica e uma túnica adventícia. A túnica intima é constituída pelo endotélio (tecido epitelial pavimentoso simples) que reveste o vaso internamente, e pelo tecido conjuntivo subendotelial (delicada camada de tecido conjuntivo frouxo). Entre a túnica íntima e a média observa-se uma lâmina elástica interna. A túnica média, camada mais espessa, é constituída principalmente por lâminas elásticas dispostas concentricamente, e entre elas situam-se células musculares lisas. A lâmina elástica externa não pode ser distinguida. A túnica adventícia é constituída de tecido conjuntivo frouxo rico em fibras colágenas e fibrócitos e fibroblastos, e torna-se gradualmente contínua com o tecido conjuntivo do órgão pelo qual o vaso sanguíneo está passando. Distingui-se a túnica adventícia do tecido conjuntivo que envolve o vaso por esses último ser mais desorganizado, como observa-se na imagem. Classificação A primeira classificação é quanto ao tempo - quando o inicio do evento é menor que 2 semanas, defini-se como dissecção aguda; processos mais tardios são considerados dessecção crônica. Outra forma de classificação é quanto o segmento da artéria aorta que foi acometido. Dividi-se em: I. Tipo I: Acometimento da aorta ascendente com a delaminação estendendo-se pelo arco aórtico e aorta descendente por extensões variadas. II. Tipo II: Delaminação restringe-se a aorta ascendente III. Tipo III: Delaminação estende-se a partir da atéria subclávia esquerda em direção ao: IIIa: Diafragma ou; IIIb: Abdome. A última forma de classificação, divide a delaminação em duas: I. Stanford tipo A - quando ocorre o comprometimento da aorta ascendente; II. Stanford tipo B - quando o acometimento foi a partir da artéria subclávia esquerda. Obs. Nessa classificação, quando a delaminação acometer o arco aórtico, sem o comprometimento da aorta ascendente, classifica-se como Stanford tipo B. Manifestações Clínicas Aguda Dor intensa, de início súbito, de caráter migratório e geralmente descrito como sensação de rasgamento ou pontada. A localização inicial dessa dor sugere o local de início da dissecção. É a manifestação soberana. Além disso, destaca-se que não melhora com decúbito, nem como uso de vasodilatadores coronários ou analgésicos habituais. Nas dissecções proximais (tipo I e II e Stanford tipo A), a dor tem início no precórdio, irradiando-se para o pescoço, braços e mandíbula; segue, logo após, para a região das costas, região lombar ou membros inferiores. Nas dissecções distais (Tipo Artéria subclavia esquerda Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG III e Stanford tipo B), é referida dor nas costas, irradiando para o dorso, abdome ou membros inferiores. Um dos principais pontos a se pensar são os acometimentos das artérias emergentes da aorta; este ocorre em 30% dos pacientes com dissecção da aorta. A perfusão coronariana possui prejuízo em 3% dos casos, caracterizando angina. Além disso, pode ocorrer o acometimento do vasos do arco aórtico em 7% dos casos, caracterizando-se por agitação psicomotora, perda da consciência e AVC. A isquemia medular ocorre em 1 a 2,5% dos pacientes, causando déficit motor em membros inferiores secundariamente. Outros possíveis acometimentos são: insuficiência renal, angina abdominal, isquemia de membros inferiores. O comprometimento da valva aórtica ocorre em torno de 2/3 dos pacientes com dissecção a nível proximal e, em mais da metade dos casos, as manifestações deste comprometimento são a dispneia, causada pela insuficiência cardíaca secundária a regurgitação da aorta comprometida. O tamponamento cardíaco, um dos grandes vilões (principal causa de óbito) e responsáveis pela instabilidade hemodinâmica nos pacientes com comprometimento da aorta proximal, pode estar presente em 20 e 40% dos casos. Pode acontecer também a ruptura da aorda descendente o abdominal, manifestando-se por meio de hemotórax, hemoperitônio ou sangramento para o retroperitôneo. Obs. Apenas aproximadamente 20% dos pacientes com dissecção da aorta têm deficits de pulso. Pode haver diferença na pressão arterial dos membros, às vezes > 30 mmHg; esse achado sugere prognóstico reservado. Ao exame físico, Ausculta-se um sopro da regurgitação aórtica em cerca de 50% dos pacientes com dissecção proximal. Fisiopatologia A partir de uma causa primária, como por exemplo, a hipertensão arterial, surge a nível de camada média, os pequenos focos conhecidos como medionecrose idiopática cística. Essas necroses são pequenas fendas ou cistos entre as células da camada médica, que acabam por constituir pontos fracos que irão, eventualmente, ceder ao impacto do pulso sanguíneo sistólico - como um papel rasga mais facilmente em uma área que já está picotada. Uma vez ocorriada a ruptura inicial, há pouco resistência à progressão para formação da luz e evolução do hematoma intramural para uma dissecção. A ocorrência da dissecção da aorta tem como substrato celular uma degeneração na camada médica da aorta, conhecida como “médico necrose cística” ou “medionecrose idiopática cística”. O enfraquecimento gerado por um hematoma intramural (é um sangramento dentro da parede do vaso que ainda não criou luz) determina a lesão primária na íntima (uma laceração linear), permitindo então passagem do sangue para a camada média, podendo, enfim, delaminá-la tanto no sentido anterógrado quanto retrógado. As forças mecânicas presentes nas artérias, como a contração cardíaca, podem ajudar nesse processo - uma vez que, a cada ejeção do sangue, flexões e torções acontecem repetidamente na parede da aorta em locais fixos. Uma vez formado o hematoma, ele irá funcionar como um aríete, movido pela onde de pulso que chegará na aorta. Algumas doenças predispõem o aparecimento da dissecção, como hipertensão arterial, valva aórtica bicúspide, estenose valvar aórtica, coarctação da aorta, síndrome de Marfan, síndrome de Turner, síndrome de Ehler-Danlos, síndrome Behçet,policondrite recorrente, além de pacientes portadores de próteses valvares aórticas com ectasia da aorta ascendente. Além disso, pode ocorrer também em mulheres gravidas, através da embebição edematosa da parede aórtica e alteração da composição de mucopolissacarídeos. Vale ressaltar acerca do tamponamento cardíaco. Ele ocorre inicialmente por extravasamento de pequenas quantidades de sangue através da adventícia delaminada da aorta ascendente, podendo evoluir para a ruptura dessa camada e causar óbito imediatamente. Situações que podem elevar a pressão arterial devem ser evitadas, uma vez que o paciente tenha conhecimento de sua condição, para evitar que aumente a tensão na adventícia da aorta. O controle da dor do paciente é fundamental para contornar crises hipertensivas. Diagnóstico Deve-se considerar o diagnóstico de dissecção da aorta em qualquer paciente com dor torácica, dor na região dorsal, síncope, dor abdominal inexplicável, acidente vascular encefálico ou insuficiência cardíaca de início agudo, especialmente quando os pulsos ou pressão arterial nos membros forem desiguais. Esses pacientes devem ser submetidos à radiografia do tórax e, em 60 a 90% dos casos, evidencia-se alargamento do mediastino, geralmente com abaulamento localizado, que significa ponto de origem. Cabe ressalva de que esse Raio-x não irá diagnosticar, mas irá encaminhar o raciocínio clínico. O derrame pleural esquerdo é comum. No contexto histórico, o método clássico no estudo das doenças da aorta foi a arteriografia. Em função da invasividade do método, das suas limitações e de seus efeitos Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG adversos, hoje é um exame pouco utilizado. A ecocardiografia, a tomografia e a ressonância magnética constituem modalidades não invasivas eficientes e comumente disponíveis para o estudo da aorta. Se a radiografia de tórax sugerir dissecção, após a estabilização do paciente, efetua-se, imediatamente, ETE e ARM ou angiografia com TC. Os achados de retalho de íntima e lúmen duplo confirmam a dissecção. A ETE (ecocardiograma transtorácico) multiplanar tem sensibilidade de 97 a 99% e, com o ecocardiograma modo M, a especificidade aproxima-se de 100%. Pode ser efetuada à beira do leito em < 20 minutos e não requer o uso de meios de contraste. É barato, não invasivo e pode ser feito à beira do leito, fornecendo importantes informações na identificação da lâmina intimal, que é o rótulo do diagnóstico. É muito sensível e específico na dissecção do tipo A, sendo pouco informativo na dissecção da aorta descendente, em que o ecocardiograma transesofágico se mostra superior. Também permite verificar a presença de hemopericárdio, quantificar a insuficiência aórtica e, ainda, a alteração de movimentação da parede ventricular, o que poderia sugerir infarto atual ou doença arterial coronária associada. na dissecção tipo A, pode ser o único exame necessário para estabelecer a conduta, dispensando o transesofágico, a tomografia ou a ressonância, quando o paciente estiver em situação hemodinâmica muito crítica. No entanto, ATC (angiografia por tomografia computadorizada) é tipicamente a modalidade de imagem de primeira linha porque muitas vezes está disponível mais rapida e amplamente do que a ETE. A sensibilidade da ATC excede 95% e tem valor preditivo positivo de 100% e valor preditivo negativo de 86%. Além disso, fornece importantes informações nos diversos subtipos de dissecção e permite verificar o acometimento dos diversos ramos que saem da aorta com a presença ou não de heterotaxia visceral; também é possível observar os extravazamentos de sangue para o mediastino, bem como para as pleuras. A visão, portanto, é mais tridimensional quando comparamos com os outros exames A ARM tem sensibilidade e especificidade próximas a 100% para dissecção da aorta. Mas é demorada e não é adequada para emergências. Provavelmente seja mais adequada para pacientes estáveis, com dor torácica subaguda ou crônica, quando houver a presunção de dissecção. É imprópria para a fase aguda, pois os pacientes com dor não conseguem permanecer dentro da câmara por períodos apropriados; é mais utilizada nas fases crônicas para acompanhamento dos pacientes, considerada, assim, padrão de referência nessas situações. Se a cirurgia for considerada, a aortografia contrastada é uma opção. Além de identificar origem e extensão da dissecção, gravidade da regurgitação aórtica e extensão do comprometimento dos principais ramos da aorta, a aortografia ajuda a determinar se há necessidade de cirurgia de revascularização do miocárdio simultânea. A ecocardiografia também deve ser empregada para averiguar a existência de regurgitação aórtica e, dessa forma, determinar se a valva aórtica deve ser reparada ou substituída concomitantemente. Eletrocardiografia (ECG) é quase universalmente feita. Mas os resultados variam de normais a notoriamente anormais (na oclusão arterial coronariana aguda ou regurgitação aórtica), assim esse exame não é útil para o diagnóstico da própria dissecção. Encontram-se em fase de estudo ensaios para compostos solúveis de elastina e proteína de cadeia pesada da miosina do músculo liso; os dados parecem promissores, mas os ensaios não estão disponíveis rotineiramente. Os níveis séricos de CK-MB e troponina podem auxiliar a diferenciar a dissecção da aorta do infarto do miocárdio, exceto quando a dissecção causar infarto do miocárdio. Os exames laboratoriais de rotina podem detectar leucocitose e anemia leves, se houver extravasamento de sangue da aorta. O aumento da desidrogenase láctica pode ser um sinal inespecífico de comprometimento do tronco celíaco ou da artéria mesentérica. Deve-se consultar um cirurgião cardiotorácico precocemente no decorrer da avaliação diagnóstica. Dessa maneira, com a associação da ecocardiografia à tomografia com contraste, é possível estabelecer o diagnóstico com todas as informações necessárias, incluindo de artérias coronárias, para o planejamento na imensa maioria dos casos, ficando a ressonância magnética reservada para o acompanhamento ambulatorial. Ateriografia É um método de vizualização direta da aorta e foi, até pouco tempo, considerado como a melhor forma para o diagnóstico das doenças da aorta. É capaz de mapear toda a aorta e, por meio de imagem bidimensional, caracterizá-la tridimensionalmente completamente, fornecendo, entre outros dados, o local de ruptura da dissecção, por exemplo. Suas limitações se devem a fato de proporcionais somente a avaliação endovascular (luz do vaso), não possibilitando a identificação de trombos ou do estado da parede da aorta. Ademais, pode ocasionar complicações devido o uso de cateteres, contrate e complicações neurológicas. Obs. Pacientes com dor torácica de forte intensidade, alterações eletrocardiográficas de infarto do miocárdio agudo de parede inferior e sopro previamente não documentado de insuficiência aórtica (IA) devem suscitar alta suspeita de dissecção da aorta tipo I até a artéria coronária direita (causando infarto do miocárdio de parede inferior) e da valva aórtica (causando insuficiência aórtica). Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG FL = falsa luz; FV = Verdadeira luz Conduta terapêutica As dissecções proximais deverão sempre ser encaminhadas para a cirurgia o mais precocemente possível pela sua história natural - o risco de ruptura total nas primeiras 24 a 48h varia de 1 a 2% por hora e no final de 2 semanas, a mortalidade é variável entre 60 a 90% dos casos. Já nas dissecções distais, que apresentam-se com comportamentos mais benignos na fase aguda, com mortalidade em torno de 10% não justificando tratamento cirúrgico, exceto quando está associado às suas complicações de ruptura ou isquemia. FONTE: Clínica Médica da USP, Manual MSD para profissionais de saúde, Tratado de Cardiologia da SOCESP. Indicação e importância da necrópsia A necropsia, ou autópsia, pode ser definida como um minucioso exame cadavérico realizado na tentativa de esclarecer as causas de um óbito. Há duas modalidadesdistintas de necrópsias que, sob certas circunstâncias, são indissociáveis e complementares: a necrópsia com enfoque médico-legal e a necrópsia realizada em casos de morte natural. A necrópsia médico-legal - ou seja, a palavra do fato médico- científico a respeito do fato jurídico - destina-se a avaliar os casos de morte comprovada ou supostamente violenta - resultante de trauma acidental, homicídio ou suicídio -, os casos de morte comprovada ou supostamente decorrente de intoxicação exógena e os casos de morte causada por suposto erro médico, em especial se resultante de negligência ou má-fé. Em atendimento à requisição formal de autoridade competente, é realizada por perito oficial (médico-legista) ou por perito médico designado para essa finalidade pelo juiz, constituindo imperativo de ordem legal. A necrópsia em casos de morte natural, restrita, geralmente, às instituições acadêmicas, tem por objetivo não somente a identificação da causa do óbito, mas também a correlação dos dados clínicos, observados intra vitam, com os achados anatomopatológicos, macro e microscópicos, observados post mortem. Por conseguinte, além de funcionar como um controle da qualidade da assistência prestada ao paciente. Nos últimos anos, em face do incontestável avanço tecnológico e do refinamento dos métodos de diagnóstico, acentuou-se um fenômeno que já se observava desde os anos 1970: movidos por excesso de confiança, como se fossem imunes ao erro, os médicos passaram a relegar a plano secundário, por julgá-las desnecessárias, as tentativas de correlação anatomoclínica baseadas no exame do cadáver, o que explica, em parte, o enorme declínio no número de necrópsias em casos de morte natural. FONTE: Necrópsia e educação médica A autopsia, ou necropsia, continua sendo um muito importante procedimento médico para a determinação da causa da morte, do diagnóstico principal e dos diagnósticos secundários, pois compreende, em sua primeira parte, a avaliação macroscópica (exames externo e interno da cabeça, pescoço, tórax, abdome, pelve e membros superiores e inferiores), estabelecendo-se os diagnósticos mais prováveis, correlacionados com a história clínica do paciente, para o preenchimento da declaração de óbito. Tais diagnósticos são confirmados, ou não, e acrescidos de outros importantes, após o exame histopatológico (estudo microscópico dos fragmentos teciduais de todos os órgãos, segundo o procedimento operacional padrão), completando-se o estudo necroscópico. O laudo final da necropsia é firmado buscando-se a correlação dos achados macroscópicos e microscópicos com os diagnósticos e as informações clínicas, cirúrgicas, de imagem e laboratoriais clínicas contidas no prontuário médico. Apesar da perene importância da realização da necropsia, mesmo diante de prontuários médicos enciclopédicos (vários volumes), hoje, a correlação entre a Patologia Clínica e a Imagenologia, na prática, ocupou o lugar da clássica correlação anatomoclínica, sendo, por vezes, negligenciados a anamnese e o exame físico dos pacientes. Além disso, o avanço tecnológico nos diagnósticos por imagem, que, sem dúvida, tornaram-se de ótima qualidade, com imagens detalhadas do corpo, tem reforçado a desvalorização deste procedimento, julgando-se não ser mais necessário, ou mesmo Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG redundante. Inclusive, defende-se a substituição da necrópsia real pela virtual, ou seja, baseada nos diagnósticos por imagem. Acresce que não é incomum ler-se nos laudos de diagnósticos por imagem descrições com termos histopatológicos (fibrose, esteatose, hemangioma, ateroma, etc), como sendo diagnósticos conclusivos e não hipóteses diagnósticas, assim como ser questionada a veracidade de um laudo final de necropsia, com diagnósticos histopatológicos, com base apenas nos diagnósticos do imagenologista. Contribuem, igualmente, para desvalorizar a realização das necropsias: os exames laboratoriais clínicos, cada vez mais sofisticados, as questões médico-legais, que podem surgir com a descoberta de diagnósticos "errôneos," ou não feitos, em vida do paciente, e o desconhecimento de muitos profissionais da área da saúde, incluindo médicos, do que é realmente uma necropsia, favorecendo-se o desinteresse médico e uma abordagem inadequada dos familiares, para que a necropsia seja autorizada. Apesar do correto exercício médico basear-se, inicialmente, nos diagnósticos mais prováveis, sabe-se que, na prática de todas as especialidades médicas, incluindo a Patologia, assim como na vida em geral, "nem tudo que parece, é," e que, "nem tudo que não parece, não é!" Assim, toda necropsia completa, bem feita, traz informações importantes, é fonte de rico aprendizado para todos, incluindo o médico patologista, e, o mais importante, contribui para o desenvolvimento da virtude da humildade. FONTE: Departamento de patologia da UFRJ Quando um cadáver deve ser encaminhado para exame no IML? Existem três indicações clássicas previstas em lei para a necropsia no IML: morte violenta (por acidente de trânsito ou de trabalho, homicídio, suicídio etc.); morte suspeita ou morte natural de pessoa não identificada. Nos casos de morte por falta de assistência médica ou por causas naturais desconhecidas os corpos são encaminhados para o Serviço de Verificação de Óbito (SVO), subordinado à administração municipal. O que vem a ser o Serviço de Verificação de Óbitos - SVO? O Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) constitui-se no exame dos corpos de pessoas que morrem sem assistência médica ou por causas naturais desconhecidas, excluídas aquelas que foram vítimas de violência. FONTE: Instituto de medicina legal de SP O atestado de óbito é o documento que fornece todos os dados da mortalidade, identificação civil e a definição da causa do falecimento, oficializando-o para os interesses de ordem legal e médico-sanitária. A importância do atestado de óbito é muitas vezes relegada por alguns profissionais da medicina, que não tão a devida importância ao documento. É o atestado de óbito (que será transformado em certidão de óbito no cartório) que garante ao falecido à possibilidade de cremação, sepultamento ou até mesmo a abertura de inventário por seus herdeiros. Portanto, importante que os profissionais competentes se atentem a preencher o documento de forma completa para evitar quaisquer problemas no momento da lavratura no cartório. O preenchimento destes documentos é atividade PRIVATIVA do médico, não podendo ser preenchido, ainda que parcialmente, por técnicos de enfermagem, enfermeiros ou auxiliares, conforme já decidiu ao Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo no Parecer nº 027/2014. A única exceção para tal regra será quando o falecimento tiver sido decorrente de morte natural e a localidade não possua médicos, ocasião em que o responsável pelo falecido, acompanhado de duas testemunhas, deverá comparecer ao Cartório de Registro para preencher a declaração de óbito perante o oficial. Em casos demortes naturais 1. Morte natural COM assistência médica => Competência do médico que vinha prestando assistência e na sua falta por médico substituto pertencente à instituição. 2. Morte natural SEM assistência médica => Competência do S. V. O (Serviço de Verificação de Óbitos). 2.1. Na falta deste serviço na localidade do falecimento, a declaração de óbito deverá ser fornecida pelos médicos do serviço público de saúde mais próximo do local e, na sua ausência, qualquer médico da localidade. Nos locais onde não exista médico, o óbito poderá ser declarado por duas testemunhas que tiverem presenciado o evento.E se o corpo não puder ser identificado? “Em se tratando de cadáver por morte natural, sem qualquer documentação ou identificação civil, que impossibilite a emissão da declaração de óbito, deverá ser encaminhado ao S. V. O., ou ao IML, se não existir S. V. O. Na localidade. Caso o corpo não seja identificado ou reclamado junto às autoridades públicas, num prazo de 30 dias, conforme prevê os artigos da Lei Nº 8.501, de 30 de novembro de 1992,que dispõe sobre a utilização de cadáver não reclamado, para fins de estudos ou pesquisas científicas e dá outras providências, poderá ser utilizado pelas faculdades de medicina. Em casos demorte violenta De forma resumida, nada mais é que aquela morte ocorrida por fatores externos não naturais, como acidentes de carros. Assim, a competência para a realização do atestado de óbito será definida a partir da seguinte maneira: 1. Morte Violenta => Deverá ser encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) para a realização do atestado de óbito; http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/127760/lei-8501-92 Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG 2. Caso a localidade possua apenas 1 médico (muito comum em pequenas cidades do Nordeste), caberá a este a realização do atestado. O médico não poderá emitir um atestado de óbito sem a identificação civil do falecido, pois a falta de quaisquer dados no preenchimento do mesmo causará a recusa do Cartório de Registro Civil para lavrar o ato, consequentemente, negando a possibilidade de sepultamento, cremação, etc. Ou seja: - O médico só atestará o óbito após tê-lo verificado pessoalmente; - É dever do médico atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando assistência, ainda que o mesmo ocorra fora do ambiente hospitalar, exceto quando tratar-se de morte violenta ou suspeita; - Quando o óbito ocorrer em hospital caberá ao médico que houver dado assistência ao paciente a obrigatoriedade de fornecimento do atestado de óbito, ou em seu impedimento, ao médico de plantão; - No caso de morte violenta ou suspeita é vedado ao médico assistente atestar o óbito, o que caberá ao médico legalmente autorizado; - Entende-se por morte violenta aquela que é resultante de uma ação exógena e lesiva, mesmo tardiamente; - Entende-se por morte suspeita aquela que decorre de falecimento inesperado e sem causa evidente; - É vedado cobrar qualquer remuneração pelo fornecimento do atestado de óbito, pois considera-se a expedição desse documento como uma extensão do ato médico. FONTE: JusBrasil