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Análise jurídica da canção: Esse é o meu País – Câmbio Negro. SALVADOR 2021 Análise jurídica da canção: Esse é o meu País – Câmbio Negro. ISABELLE AMORIM FREITAS DOS SANTOS JENIFER RÊGO DOS SANTOS SANTOS PAOLA MORAES PINHEIRO BRANCO LUIZ PATRIQUE ALMEIDA DOS SANTOS TIAGO RIBEIRO RODRIGUES VALNEI VIANNA SOUZA Atividade Complementar do 2º semestre do Curso de Graduação em Direito da UNIFTC, Disciplina Direito e Arte; Turma: DIR5AN aos sábados. Professora: Camila Pina Brito SALVADOR 2021 INTRODUÇÃO Lançada em 1998 pelo grupo de Rap “Câmbio Negro” no álbum Círculo Vicioso, num cenário político de insegurança econômica e escândalos de corrupção, a canção “esse é o meu país’, de forma irônica aborda as desigualdades e o desejo de ver um país melhor, um Brasil utópico, onde todas as pessoas são felizes, pois possuem o que a CF/88 define como elementos essenciais para uma vida digna. A canção apresenta dupla acepção: uma utópica, ao promover uma construção idealística do Brasil, e outra distópica, ao inferir a imensa distância entre o sonho e a realidade trazendo para a letra um tom irônico. O grupo “Cambio Negro” surgiu em 1990, na Ceilândia-DF, formado originalmente por Edson X (Écz), Jeferson Alves (Dj Jamaika) e o Dj Chocolate. Eles trouxeram uma nova roupagem para as letras de rap, abordando os mesmos temas, todavia fazendo uso de mecanismos linguísticos mais sofisticados como a ironia e a utopia. O grupo ficou por aproximadamente 15 anos longe dos palcos por questões ideológicas, mas retornou ao showbusiness em 2015 quando gravou um DVD. DESENVOLVIMENTO À primeira vista, percebe-se que na música reproduzida por Câmbio Negro "Esse é o meu país", o autor idealiza um país onde todos possuem seus direitos e garantias fundamentais assegurados, tornando assim, o Brasil um país sem desigualdade e ideal para se viver. Desta forma, observamos que a composição é incoerente com a realidade dos brasileiros, na qual nem todos são amparados pelos direitos e garantias fundamentais, bem como, pelos direitos sociais que são garantidos pela Constituição Federal de 1988. Como se pode perceber alguns artigos da Constituição no que trata dos princípios fundamentais estão presentes na letra da música como no verso que inicia a letra “Igualdade racial social”, que pode ser encontrado no art. 3º, IV da Constituição de 1988, que trata de promover o bem de todos, sem preconceito de origem, sexo, raça, idade, cor idade e qualquer outra forma de discriminação. No mesmo artigo, que trata dos princípios fundamentais, “Pobreza não se vê erradicada”, há esse dispositivo de forma objetiva no inciso II, da nossa carta magna. Há ainda neste art. 3º da CF/88 outro verso quando diz “Prêmio Nobel dado a um físico nordestino” e “povo da periferia não é mais humilhado”, que no mesmo inciso trata de reduzir as desigualdades sociais e regionais. Com relação ao art. 5º da Constituição brasileira, este, trata dos direitos e deveres individuais e coletivos e são de suma importância, pode ser explicitado nos versos encontrados em “Negro e branco tratado de igual para igual” e Mulheres no governo com certeza invejável tratadas como se deve com respeito devido não mais como cadelas e sim como indivíduo”. No que tange os direitos sociais à saúde, educação, moradia, segurança, estes podem ser contemplados nos artigos 6º da CF/88, esses podem ser vislumbrados nos versos “todos tem moradia, ninguém ao relento” e “Saúde em alta e bons hospitais atendimento eficiente” e “Boas escolas analfabetismo inexistente” (também presente no art. 205 da CF/88). Com relação aos direitos dos trabalhadores, encontrados positivados no art. 7º, da mesma Constituição, estão nos versos “Recebem salário digno equipamento moderno” e “Aposentadoria nunca atrasa bem remunerados” e quando se refere aos direitos dos idosos no verso “Idosos tem seus direitos assegurados, há conformidade com o art. 230 da CF. Com relação aos direitos assegurados para proteção da família, maternidade, infância, adolescência e a velhice, encontrados no art. 203, I, CF estão explicitados no verso “Mortalidade infantil há muito eliminada” e da segurança pública como dever do Estado presente no verso “Criminalidade cai 90% e “Policiais educados segundo grau completo”. No que diz respeito aos investimentos assegurados para inovação e tecnologia encontrados nos versos “Cientistas brasileiros sempre no topo” e ‘vendemos tecnologia para o mundo todo”, estão no art. 218 da CF/88. No que trata o trecho de “RAP nacional sempre difundido” há de se observar que também há artigos na Constituição para tratar deste tema quando diz que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional e apoiará e incentivará a valorização e difusão das manifestações culturais.” Há vários pontos presentes na Constituição que está presentes na música. Além da Carta Magna, que nos rege e nos molda, há uma série de leis infraconstitucionais que tratam, em específico de temas próprios, como a lei 14.192/21, que combate a violência política contra as mulheres, a Lei de incentivo ao esporte (nº 11.4358/06) nos versos “ Atletas inigualáveis apoio total do governo” e “Escolas de atletismo pelo Brasil inteiro” e encontrado também no art. 217 CF e o Estatuto da criança e do adolescente (Lei nº 8.069/90), porém estas não são efetivamente exercidas ou empregadas em sua totalidade. Em consequência, ainda há em nosso país muito racismo, misoginia, falta de oportunidades para todos, entre outras questões para a plena efetividade da Constituição da República Federativa do Brasil. CONCLUSÃO Considerando a formatação da Constituição Federal de 1988, percebemos a importância dada às questões sociais vigentes em nosso país, alocando até mesmo a estrutura própria do Estado a um segundo plano. Dentro desta perspectiva, percebemos na música “Esse é o meu país”, uma condensação de inúmeras críticas à ausência de tais serviços e condições sociais na esfera nacional. Vale ressaltar que a música foi lançada em 1998, sendo 10 anos após a promulgação da nossa constituição. Se por um lado a obra é produzida em um momento de crise econômica brasileira, que se inicia nesse ano e culmina no ano seguinte, podemos perceber a importância da denúncia social, feita na obra, através da atualidade dos temas abordados ainda hoje. Como já mencionado, situações como a violência contra a mulher, devidamente abordada na Lei Maria da Penha ( Lei nº 11.340/06 ) , promulgada 7 anos após a obra do Câmbio Negro, e ainda em processo de aperfeiçoamento, conforme mudanças promovidas em 2021 , já se fazia presente como preocupação em nossa sociedade, mantendo ainda suas feridas abertas na sociedade. Desta forma, percebe-se, na música avaliada, sua importância no contexto de crítica aos direitos sociais previstos pela Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 6° delimita como sendo o direito “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados” (BRASIL, 1988). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOCADA FORTE. X: ‘Se fôssemos do exército seríamos Comandos, Forças Especiais. Como somos músicos, somos Câmbio Negro!’. 2019. Disponível em: https://www.bocadaforte.com.br/destaque-bf/x-se-fossemos-do-exercito-seriamos- comandos-forcas-especiais-como-somos-musicos-somos-cambio-negro. Acesso em: 30 set. 2021. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Imprensa Nacional. CÂMBIO NEGRO. Esse é o meu país. Disponível em: https://www.vagalume.com.br/cambio-negro/esse-e-o-meu-pais.html. Acesso em:29 set. 2021. GTherapyShock. Câmbio Negro-Esse é meu país [video] (1998). Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=X5-giTuK74A>. Acesso em: 29 set. 2021. RAP NOSSO GRITO. Facção Central: 20 anos depois da censura no Rap Nacional. Disponível em: https://www.rapdab.com.br/2020/08/06/faccao-central-20- anos-depois- da-censura-no-rap-nacional/. Acesso em: 30 set. 2021. RESENHA DO RAP. Podcast Resenha do Rap #06 X Câmbio Negro. Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Romq3ZCwpSU>. Acesso em: 29 set. 2021. RODRIGUES, Afonso Celso Carvalho. RITMO E POESIA: a lírica da periferia urbana. 2009. 155 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Estudos Literários, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2009. Disponível em: https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/3421/1/afonsocelsocarvalhorodrigues.pdf. Acesso em: 26 set. 2021. VIEIRA, Paulo. Hip Hop Nacional: câmbio negro põe o rap a serviço do bem. Câmbio Negro põe o rap a serviço do bem. 1999. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq27019919.htm. Acesso em: 30 set. 2021. WIKIPEDIA. Câmbio Negro. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2mbio_Negro. Acesso em: 29 set. 2021. Rap. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rap. Acesso em: 29 set. 2021. http://www.bocadaforte.com.br/destaque-bf/x-se-fossemos-do-exercito-seriamos- http://www.bocadaforte.com.br/destaque-bf/x-se-fossemos-do-exercito-seriamos- http://www.vagalume.com.br/cambio-negro/esse-e-o-meu-pais.html http://www.vagalume.com.br/cambio-negro/esse-e-o-meu-pais.html http://www.youtube.com/watch?v=X5-giTuK74A http://www.rapdab.com.br/2020/08/06/faccao-central-20- http://www.rapdab.com.br/2020/08/06/faccao-central-20- http://www.youtube.com/watch?v=Romq3ZCwpSU https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/3421/1/afonsocelsocarvalhorodrigues.pdf https://pt.wikipedia.org/wiki/Rap
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