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FILOSOFIA-CONTEMPORÂNEA

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CURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL 
FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESPÍRITO SANTO 
 
 
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 
 
 
 
1 
 
1. SUMÁRIO 
1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO UTILITARISMO .............................. 2 
2. O CÁLCULO UTILITARISTA ................................................................... 3 
3. EXISTENCIALISMO ................................................................................ 4 
4. ORIGEM .................................................................................................. 4 
5. HISTÓRIA DO EXISTENCIALISMO ........................................................ 5 
6. FÉ E EXISTENCIALISMO ....................................................................... 7 
7. O INDIVÍDUO VERSUS A SOCIEDADE ............................................... 10 
8. HEGEL .................................................................................................. 12 
9. PENSAMENTO DE HEGEL .................................................................. 14 
10. KARL MARX .......................................................................................... 16 
11. PRIMEIROS TRABALHOS .................................................................... 18 
12. BILIOGRAFIA BÁSICA .......................................................................... 19 
LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................... 20 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
2. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO UTILITARISMO 
 
Fonte: http://www.cursinhoparamedicina.com.br 
Cinco princípios fundamentais são comuns a todas as versões do utilitarismo: 
Princípio do bem-estar (the greatest happiness principle em inglês) – O 
―bem‖ é definido como sendo o bem-estar. Diz-se que o objetivo pesquisado em toda 
ação moral se constitui pelo bem-estar (físico, moral, intelectual). 
Consequencialismo – As consequências de uma ação são a única base 
permanente para julgar a moralidade desta ação. O utilitarismo não se interessa desta 
forma pelos agentes morais, mas pelas ações – as qualidades morais do agente não 
interferem no ―cálculo‖ da moralidade de uma ação, sendo então indiferente se o 
agente é generoso, interessado ou sádico, pois são as consequências do ato que são 
morais. Há uma dissociação entre a causa (o agente) e as consequências do ato. 
Assim, para o utilitarismo, dentro de circunstâncias diferentes um mesmo ato pode ser 
moral ou imoral, dependendo se suas consequências são boas ou más. 
Princípio da agregação – O que é levado em conta no cálculo é o saldo 
líquido (de bem-estar, numa ocorrência) de todos os indivíduos afetados pela ação, 
independentemente da distribuição deste saldo. O que conta é a quantidade global de 
bem-estar produzida, qualquer que seja a repartição desta quantidade. Sendo assim, 
é considerado válido sacrificar uma minoria, cujo bem-estar será diminuído, a fim de 
aumentar o bem-estar geral. Esta possibilidade de sacrifício se baseia na ideia de 
 
 
3 
 
compensação: a desgraça de uns é compensada pelo bem-estar dos outros. Se o 
saldo de compensação for positivo, a ação é julgada moralmente boa. O aspecto dito 
sacrificial é um dos mais criticados pelos adversários do utilitarismo. 
Princípio de otimização - O utilitarismo exige a maximização do bem-estar 
geral, o que não se apresenta como algo facultativo, mas sim como um dever. 
Imparcialidade e universalismo - Os prazeres e sofrimentos são 
considerados da mesma importância, quaisquer que sejam os indivíduos afetados. O 
bem-estar de cada um tem o mesmo peso dentro do cálculo do bem-estar geral. 
Este princípio é compatível com a possibilidade de sacrifício. A princípio, todos 
têm o mesmo peso, e não se privilegia ou se prejudica ninguém – a felicidade de um 
rei ou de um cidadão comum são levadas em conta da mesma maneira. 
O aspecto universalista consiste numa atribuição de valores do bem-estar que 
é independente das culturas ou das particularidades regionais. Como o universalismo 
de Kant, o utilitarismo pretende definir uma moral que valha universalmente. 
 
 
Fonte: www.mensagenscomamor.com 
3. O CÁLCULO UTILITARISTA 
Um dos traços importantes do utilitarismo é seu racionalismo. A moralidade de 
um ato é calculada, ela não é determinada a partir de princípios diante de um valor 
intrínseco. Este cálculo leva em conta as consequências do ato sobre o bem-estar do 
maior número de pessoas. Ele supõe então a possibilidade de se calcular as 
consequências de um ato, e avaliar seu impacto sobre o bem-estar dos indivíduos. 
 
 
4 
 
Para alguns utilitaristas, como o filósofo Peter Singer, o cálculo utilitarista de 
prazer e dor deve incluir todos os seres dotados de sensibilidade, sendo legítimo 
assim incluir os animais no cálculo da moralidade de um ato. Singer se refere ao 
cálculo utilitarista que seja exclusivo para o ser humano, como uma forma de 
"especismo", ou seja, preconceito de espécie. 
4. EXISTENCIALISMO 
O existencialismo é uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade 
individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo 
considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu 
destino. 
O existencialismo afirma a prioridade da existência sobre a essência, segundo 
a célebre definição do filósofo francês Jean-Paul Sartre: "A existência precede e 
governa a essência." Essa definição funda a liberdade e a responsabilidade do 
homem, visto que este existe sem que seu ser seja pré-definido. Durante a existência, 
à medida que se experimentam novas vivências redefine-se o próprio pensamento (a 
sede intelectual, tida como a alma para os clássicos), adquirindo-se novos 
conhecimentos a respeito da própria essência do que é o homem. Esta característica 
do ser é fruto da liberdade de eleição. Sartre, após ter feito estudos sobre 
fenomenologia na Alemanha, criou o termo utilizando a palavra francesa "existence" 
como tradução da expressão alemã "Da sein", termo empregado por Heidegger em 
Ser e tempo. 
Após a Segunda Guerra Mundial, uma corrente literária existencialista contou 
com Albert Camus e Boris Vian, além do próprio Sartre. É importante notar que Albert 
Camus, filósofo além de literato, ia contra o existencialismo, sendo este somente 
característica de sua obra literária. Vian definia-se pata físico. 
5. ORIGEM 
O existencialismo foi inspirado nas obras de Arthur Schopenhauer, Søren 
Kierkegaard, Fiódor Dostoiévski e nos filósofos alemães Friedrich Nietzsche, Edmund 
 
 
5 
 
Husserl e Martin Heidegger, e foi particularmente popularizado em meados do século 
XX pelas obras do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre e de sua companheira, 
a escritora e filósofa Simone de Beauvoir. Os mais importantes princípios do 
movimento são expostos no livro de Sartre "L'Existentialisme est un humanisme" ("O 
existencialismo é um humanismo"). O termo existencialismo foi adotado apesar de 
haver o termo: existência filosófica, usado inicialmente por Karl Jaspers, da mesma 
tradição. 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
6. HISTÓRIA DO EXISTENCIALISMO 
O existencialismo é um movimento filosófico e literário distinto pertencente aos 
séculos XIX e XX, mas os seus elementos podem ser encontrados no pensamento (e 
vida) de Sócrates, Aurélio Agostinho e no trabalho de muitos filósofos e escritores pré-
modernos. Culturalmente, podemos identificar pelo menos duas linhas de pensamento 
existencialista: Alemã-Dinamarquesa e Anglo-Francesa. As culturas judaica e russa 
também contribuíram para esta filosofia. Após ter experienciado vários distúrbios civis, 
guerras locais e duas guerras mundiais, algumas pessoas na Europa foram forçadas 
a concluir quea vida é inerentemente miserável e irracional. Heidegger e Kierkegaard 
foram os pioneiros neste debate sobre a crise da existência humana. Hoje, o 
existencialismo não morreu de fato, pelo contrário, continua a produzir, quer na 
filosofia, quer na literatura, no cinema, ou até na ideologia de vida. 
 
 
6 
 
 
Temáticas 
Os temas existencialistas são férteis no terreno da criação literária, 
nomeadamente na literatura francesa, e continuam a exibir vitalidade no mundo 
filosófico e literário contemporâneo. 
As principais temáticas abordadas sugerem o contexto da sua aparição (final 
da Segunda Guerra Mundial), refletindo o absurdo do mundo e da barbárie 
injustificada, das situações e das relações quotidianas ("L'enfer, c'est les autres", ["O 
inferno são os outros"], Jean-Paul Sartre). Paralelamente, surgem temáticas como o 
silêncio e a solidão, corolários óbvios de vidas largadas ao abandono, depois da 
"morte de Deus" (Friedrich Nietzsche). A existência humana, em toda a sua natureza, 
é questionada: quem somos? O que fazemos? Para onde vamos? Quem nos move? 
É esta consciência aguda de abandono e de solidão (voluntária ou não), de 
impotência e de injustificabilidade das ações, que se manifesta nas principais obras 
desta corrente em que o filosófico e o literário se conjugam. 
 
Relação com a religião 
Apesar de muitos, senão a maioria, dos existencialistas terem sido ateístas, os 
autores Soren Kierkegaard, Karl Jaspers e Gabriel Marcel propuseram uma versão 
mais teológica do existencialismo. O ex- marxista Nikolai Berdyaev desenvolveu uma 
filosofia do Cristianismo existencialista na sua terra natal, Rússia, e mais tarde na 
França, na véspera da Segunda Guerra Mundial. 
 
 
7 
 
7. FÉ E EXISTENCIALISMO 
 
Fonte: oseminario.webnode.com.br 
O existencialismo não é uma simples escola de pensamento, livre de qualquer 
e toda forma de fé. Ajuda a entender que muitos dos existencialistas eram, de fato, 
religiosos. Pascal e Kierkegaard eram cristãos dedicados. Pascal era católico, 
Kierkegaard, um protestante radical marcado pelo ríspido antagonismo com a igreja 
luterana. Dostoiévski era greco-ortodoxo, a ponto de ser fanático. Kafka era judeu. 
Sartre realmente não acreditava em força divina. Sartre não foi criado sem religião, 
mas a Segunda Guerra Mundial e o constante sofrimento no mundo levaram-no para 
longe da fé, de acordo com várias biografias, incluindo a de sua companheira, Simone 
de Beauvoir. Curiosamente, Sartre passou seus últimos anos de vida explorando 
assuntos de fé com um judeu ortodoxo. Apenas podemos imaginar suas conversas, 
já que Sartre não as registrou. 
Para os existencialistas cristãos, a fé defende o indivíduo e guia suas decisões 
com um conjunto rigoroso de regras em algumas vertentes cristãs e para outras como 
o espiritismo, as decisões são guiadas pelo pensamento, pela alma. Para os ateus, a 
"ironia" é a de que não importa o quanto você faça para melhorar a si ou aos outros, 
você sempre vai se deteriorar e morrer. Muitos existencialistas acreditam que a grande 
 
 
8 
 
vitória do indivíduo é perceber o absurdo da vida e aceitá-la. Resumindo, você vive 
uma vida miserável, pela qual você pode ou não ser recompensado por uma força 
maior. Se essa força existe, por que os homens sofrem? Se não existe, por que não 
cometer suicídio e encurtar seu sofrimento? Essas questões apenas insinuam a 
complexidade do pensamento existencialista. 
É um conceito da corrente filosófica existencialista. A frase foi primeiramente 
formulada por Jean-Paul Sartre, e é um dos princípios fundamentais do 
existencialismo. 
O indivíduo, no princípio, somente tem a existência comprovada. Com o passar 
do tempo ele incorpora a essência em seu ser. Não existe uma essência pré-
determinada. 
Com esta frase, os existencialistas rejeitam a ideia de que há no ser humano 
uma alma imutável, desde os primórdios da existência até a morte. Esta essência será 
adquirida através da sua existência. O indivíduo por si só define a sua realidade. 
Em 1946, no "Club Maintenant" em Paris, Jean Paul Sartre pronuncia uma 
conferência, que se tornou um opúsculo com o nome de "O Existencialismo é um 
Humanismo". Nele, ele explica a frase, desta forma: "... se Deus não existe, há pelo 
menos um ser, no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de 
poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz 
Heidegger, a realidade humana. Que significa então que a existência precede a 
essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no 
mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se 
não é definível, é porque primeiramente é nada. Só depois será, e será tal como a si 
próprio se fizer.” 
 
Liberdade 
Com essa afirmação vemos o peso da responsabilidade por sermos totalmente 
livres. E, frente a essa liberdade de eleição, o ser humano se angustia, pois a liberdade 
implica fazer escolhas, as quais só o próprio indivíduo pode fazer. Muitos de nós 
ficamos paralisados e, dessa forma, nos abstemos de fazer as escolhas necessárias. 
Porém, a "não ação", o "nada fazer", por si só, já é uma escolha; a escolha de não 
agir. A escolha de adiar a existência, evitando os riscos, a fim de não errar e gerar 
 
 
9 
 
culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a 
autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender 
em busca de si mesmo. 
Os existencialistas perguntaram-se se havia um Criador. Se sim, qual é a 
relação entre a espécie humana e esse criador? As leis da natureza já foram pré-
definidas e os homens têm que se adaptar a elas? Esses homens estiveram tão 
dedicados aos seus estudos que se tornaram antissociais, enquanto se preocupavam 
com a humanidade. 
Kierkegaard, Nietzsche e Heidegger são alguns dos filósofos que mais 
influenciaram o existencialismo. Os dois primeiros se preocupavam com a mesma 
questão: o que limita a ação de um indivíduo? Kierkegaard chegou à possibilidade de 
que o cristianismo e a fé em geral são irracionais, argumentando que provar a 
existência de uma única e suprema entidade é uma atividade inútil. 
Nietzsche, frequentemente caracterizado como ateu, foi, sobretudo um crítico 
da religião organizada e das doutrinas de seu tempo. Ele acreditou que a religião 
organizada, especialmente a Igreja Católica e Protestante, era contra qualquer poder 
de ganho ou autoconfiança sem consentimento. Nietzsche usou o termo rebanho para 
descrever a população que, de boa vontade, segue a Igreja. Ele argumentou que 
provar a existência de um criador não era possível nem importante. 
Na verdade, Nietzsche valorizava e exaltava a vida como única entidade que 
merecia louvor. Prova disso é o eterno retorno em que ele afirmava que o homem 
deveria viver a vida como se tivesse que vivê-la nova e eternamente. A implicação 
disso é uma extrema valorização da vida, imaginemos cada segundo, cada minuto 
vivido igual e eternamente? E quanto à Igreja, Nietzsche a condenava, pois ela é um 
traço das influências que negavam o valor da vida na sociedade contemporânea; ele 
era sim ateu, e para ele, dentre os mais inteligentes, o pior era o padre, pois conseguia 
incutir nos pensamentos do rebanho, fundamentos falsos, exteriores e metafísicos 
demais, que só contribuíam para o afastamento da vida. 
 
 
10 
 
8. O INDIVÍDUO VERSUS A SOCIEDADE 
O existencialismo representa a vida como uma série de lutas. O indivíduo é 
forçado a tomar decisões e frequentemente as escolhas são ruins. Nas obras de 
alguns pensadores, parece que a liberdade e a escolha pessoal são as sementes da 
miséria. A maldição do livre arbítrio foi de particular interesse dos existencialistas 
teológicos e cristãos. 
As regras sociais são o resultado da tentativa dos homens de planejar um 
projeto funcional. Ou seja, quanto mais estruturadaa sociedade, mais funcional ela 
deveria ser. 
Os existencialistas explicam por que algumas pessoas se sentem atraídas à 
passividade moral baseando-se no desafio de tomar decisões. Seguir ordens é fácil; 
requer pouco esforço emocional e intelectual fazer o que lhe mandam. Se a ordem 
não é lógica, não é o soldado que deve questionar. Deste modo, as guerras podem 
ser explicadas, genocídios em massa podem ser entendidos. As pessoas estavam 
apenas fazendo o que lhes fora mandado fazer. 
Importantes Filósofos para o Existencialismo 
 
 Jean-Paul Sartre 
 Søren Kierkegaard 
 Edmund Husserl 
 Friedrich Nietzsche 
 Arthur Schopenhauer 
 Martin Buber 
 
 
 
11 
 
Há duas linhas existencialistas famosas, quer de impulsionadores, quer de 
existencialistas propriamente ditos. 
A primeira, de Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger é agrupada 
intelectualmente. Esses homens são os pais do existencialismo e dedicaram-se a 
estudar a condição humana. A segunda, de Sartre, Camus e Beauvoir, era uma linha 
marcada pelo compromisso político. Enquanto outras pessoas entraram e saíram, 
esses sete indivíduos definiram o existencialismo. 
 
 
Fonte: www.escritas.org 
O filosofar heideggeriano é uma constante interrogação, na procura de revelar 
e levar à luz da compreensão o próprio objeto que decide sobre a estrutura dessa 
interrogação, e que orienta as cadências do seu movimento: a questão sobre o Ser. 
A meta de Heidegger é penetrar na filosofia, demorar nela, submeter seu 
comportamento às suas leis. O caminho seguido por ele deve ser, portanto, de tal 
modo e com tal direção, que aquilo de que a Filosofia trata atinja nossa 
responsabilidade, vise a nós homens, nos toque e, justamente, nos transforme. 
O pensamento de Heidegger é um retorno ao fundamento da metafísica num 
movimento problematizador, uma meditação sobre a Filosofia no sentido daquilo que 
permanece fundamentalmente velado. 
A Filosofia sobre a qual ele nos convida a meditar é a grande característica da 
inquietação humana em geral, a questão sobre o Ser, ou seja, o que significa ―estar 
no mundo ou ―ser no mundo. 
 
 
12 
 
9. HEGEL 
 
Fonte: www.benitopepe.com.br 
Filósofo e ideólogo alemão nascido em Stuttgart, Wurttemberg, um dos mais 
influentes da filosofia alemã e considerado o último dos grandes criadores de sistemas 
filosóficos dos tempos modernos, o pensamento Hegeliano, cuja obra serviu de base 
para a maior parte das tendências filosóficas e ideológicas posteriores, como o 
marxismo, o existencialismo e a fenomenologia. 
Filho de um funcionário público entrou para a Universidade de Tubingen (1788), 
onde se dedicou ao estudo de teologia e de literatura e filosofia gregas e fez amizade 
com o poeta Friedrich Holderlin e o filósofo Friedrich Schelling este, junto com Hegel, 
se tornaria uma das maiores figuras do idealismo alemão no início do século XIX. 
Após o curso, deu aulas como professor particular, viveu depois em Berna, na 
Suíça. Fixou-se em Frankfurt (1796), onde Holderlin lhe conseguira um lugar de 
preceptor e, depois (1801), tornou-se livre-docente na Universidade de Jena, 
passando a estudar o idealismo de Johann Gottlieb Fichte e de Schelling, o que 
originou sua publicação Differenz des Fichte’schen und Schelling’schen Systems der 
Philosophie (1801) e foi nomeado professor-visitante (1805). Na Universidade deu 
início ao desenvolvimento dos conceitos que viria a aprofundar na Fenomenologia do 
 
 
13 
 
espírito (1808) e sistematizar na Ciência da lógica (1812), duas monumentais obras 
do pensamento ocidental. 
Com a ocupação da cidade e o fechamento da universidade pelas tropas de 
Napoleão, Hegel foi para Bamberg trabalhar como editor. Mais tarde passou a ocupar 
a cátedra de filosofia da Universidade de Heildelberg. 
Fascinado pelas obras de Spinoza e Kant, Hegel é considerado por muitos o 
maior representante do idealismo alemão do século XIX, e teve impacto profundo no 
materialismo histórico de Karl Marx e em toda filosofia do século XX. 
Em Berlim publicou seu mais importante trabalho de filosofia política, Elementos da 
filosofia do direito (1821), marcando profundamente o pensamento político europeu 
durante todo o século XIX e XX. 
Assumiu a direção de um jornal, o Bamberger Zeitung, mas depois de um ano 
foi forçado a partir por causas das guerras napoleônicas, voltando à filosofia, como 
reitor do Aegidiengymnasium, em Nuremberg. Casou-se (1811) com Marie von Tucher 
e começou a trabalhar em sua obra Science of Logic (1812-1816). Com ela teve dois 
filhos, sendo que o mais velho tornou-se um excelente historiador. 
O sucesso desse trabalho deu-lhe um contrato como professor pela 
Universidade de Heidelberg (1816-1818) que deixou para substituir Fichte na 
Universidade de Berlim (1818), onde lecionou pelo resto da vida, tornando seus cursos 
uma referência em todas as partes da Europa. Também escreveu sobre psicologia, 
direito, história, artes e religião e, depois de sua morte, vítima de uma epidemia de 
cólera, foram publicadas várias coletâneas de aulas sobre religião, estética e história 
da filosofia, e morreu em Berlim. 
 
Frases 
 O homem não é mais do que a série dos seus atos. 
 A necessidade, a natureza e a história não são mais do que instrumentos 
da revelação do Espírito. 
 A necessidade geral da arte é a necessidade racional que leva o homem 
a tomar consciência do mundo interior e exterior e a lazer um objeto no qual 
se reconheça a si próprio. 
 Nada existe de grandioso sem paixão. 
 
 
14 
 
 Grandeza, entidade variável, mas que, apesar da sua variação, continua 
sempre a ser a mesma. 
 Nada de grande se realizou no mundo sem paixão. 
10. PENSAMENTO DE HEGEL 
 
Fonte: ficus.pntic.mec.es 
A filosofia de Hegel é a tentativa de considerar todo o universo como um todo 
sistemático. O sistema é baseado na fé. Na religião cristã, Deus foi revelado como 
verdade e como espírito. Como espírito, o homem pode receber esta revelação. Na 
religião a verdade está oculta na imagem; mas na filosofia o véu se rasga, de modo 
que o homem pode conhecer o infinito e ver todas as coisas em Deus. 
O sistema de Hegel é assim um monismo espiritual, ou seja, um monismo no 
qual a diferenciação é essencial. Somente através da experiência pode a identidade 
do pensamento e o objeto do pensamento serem alcançados, uma identidade na qual 
o pensar alcança a inteligibilidade progressiva que é seu objetivo. Assim, a verdade é 
conhecida somente porque o erro foi experimentado e a verdade triunfou; e Deus é 
infinito apenas porque ele assumiu os limitações de finitude e triunfou sobre elas. 
Similarmente, a queda do homem era necessária se ele devia atingir a bondade moral. 
 
 
15 
 
O espírito, incluindo o Espírito infinito, conhece a si mesmo como espírito somente por 
contraste com a natureza. 
O sistema de Hegel é monista pelo fato de ter um tema único: o que faz o 
universo inteligível é vê-lo como o eterno processo cíclico pelo qual o Espírito Absoluto 
vem a conhecer a si próprio como espírito (1) através de seu próprio pensamento; (2) 
através da natureza; e (3) através dos espíritos finitos e suas auto-expressões na 
história e sua auto- descoberta, na arte, na religião, e na filosofia, como Um com o 
próprio Espírito Absoluto. 
O compêndio do sistema de Hegel, a “Enciclopédia das Ciências Filosóficas”, 
é dividida em três partes: Lógica, Natureza e Espírito. O método de exposição é 
dialético. Acontece com frequência que em uma discussão, duas pessoas que a 
princípio apresentam pontos de vista diametralmente opostos depois concordam em 
rejeitar suas visões parciais próprias, e aceitar uma visão nova e mais ampla que faz 
justiça à substância de cada uma das precedentes. Hegel acreditava que o 
pensamento sempre procede deste modo: começa por lançar uma tese positiva que 
é negada imediatamente pela sua antítese; então um pensamentoseguinte produz a 
síntese. Mas esta síntese, por sua vez, gera outra antítese, e o mesmo processo 
continua uma vez mais. O processo, no entanto, é circular: ao final, o pensamento 
alcança uma síntese que é igual ao ponto de partida, exceto pelo fato de que tudo que 
estava implícito ali foi agora tornado explícito, tudo que estava oculto no ponto inicial 
foi revelado. 
Assim o pensamento propriamente, como processo, tem a negatividade como 
um de seus momentos constituintes, e o finito é, como a auto- manifestação de Deus, 
parte e parcela do infinito mesmo. O sistema de Hegel dá conta desse processo 
dialético em três fases. 
O sistema começa dando conta do pensamento de Deus “antes da criação da 
natureza e do espírito finito”, isto é, com as categorias ou formas puras de 
pensamento, que são a estrutura de toda vida física e intelectual. Todo o tempo, Hegel 
está lidando com essencialidades puras, com o espírito pensando sua própria 
essência; e estas são ligadas juntas em um processo dialético que avança do abstrato 
para o concreto. 
 
 
16 
 
Se um homem tenta pensar a noção de um ser puro (a mais abstrata categoria 
de todas), ele encontra que ela é apenas o vazio, isto é, nada. No entanto, o nada “é”. 
A noção de ser puro e a noção de nada são opostas; e no entanto cada uma, quando 
alguém tenta pensá-la, passa imediatamente para a outra. Mas o caminho para sair 
dessa contradição é de imediato rejeitar ambas as noções separadamente e afirmá-
las juntas, isto é, afirmar a noção do vir a ser, uma vez que o que ambas vem a ser é 
e não é ao mesmo tempo. O processo dialético avança através de categoria de 
crescente complexidade e culmina com a ideia absoluta, ou com o espírito como 
objetivo para si mesmo. 
11. KARL MARX 
 
Fonte: www.salon.com 
Economista, filósofo e socialista alemão, Karl Marx nasceu em Trier em 5 de 
Maio de 1818 e morreu em Londres a 14 de Março de 1883. Estudou na universidade 
de Berlim, principalmente a filosofia hegeliana, e formou-se em Iena, em 1841, com a 
tese Sobre as diferenças da filosofia da natureza de Demócrito e de Epicuro. Em 1842 
assumiu a chefia da redação do Jornal Renano em Colônia, onde seus artigos radical-
 
 
17 
 
democratas irritaram as autoridades. Em 1843, mudou-se para Paris, editando em 
1844 o primeiro volume dos Anais Germânico-Franceses, órgão principal dos 
hegelianos da esquerda. Entretanto, rompeu logo com os líderes deste movimento, 
Bruno Bauer e Ruge. 
Em 1844, conheceu em Paris Friedrich Engels, começo de uma amizade íntima 
durante a vida toda. Foi, no ano seguinte, expulso da França, radicando-se em 
Bruxelas e participando de organizações clandestinas de operários e exilados. Ao 
mesmo tempo em que na França estourou a revolução, em 24 de fevereiro de 1848, 
Marx e Engels publicaram o folheto O Manifesto Comunista, primeiro esboço da teoria 
revolucionária que, mais tarde, seria chamada marxista. Voltou para Paris, mas 
assumiu logo a chefia do Novo Jornal Renano em colônia, primeiro jornal diário 
francamente socialista. 
Depois da derrota de todos os movimentos revolucionários na Europa e o 
fechamento do jornal, cujos redatores foram denunciados e processados, Marx foi 
para Paris e daí expulso, para Londres, onde fixou residência. Em Londres, dedicou-
se a vastos estudos econômicos e históricos, sendo frequentador assíduo da sala de 
leituras do British Museum. Escrevia artigos para jornais norte-americanos, sobre 
política exterior, mas sua situação material esteve sempre muito precária. Foi 
generosamente ajudado por Engels, que vivia em Manchester em boas condições 
financeiras. 
Em 1864, Marx foi co-fundador da Associação Internacional dos Operários, 
depois chamada I Internacional, desempenhando dominante papel de direção. Em 
1867 publicou o primeiro volume da sua obra principal, O Capital. Dentro da I 
Internacional encontrou Marx a oposição tenaz dos anarquistas, liderados por 
Bakunin, e em 1872, no Congresso de Haia, a associação foi praticamente dissolvida. 
Em compensação, Marx podia patrocinar a fundação, em 1875, do Partido Social-
Democrático alemão, que foi, porém, logo depois, proibido. Não viveu bastante para 
assistir às vitórias eleitorais deste partido e de outros agrupamentos socialistas da 
Europa. 
 
 
18 
 
12. PRIMEIROS TRABALHOS 
Entre os primeiros trabalhos de Marx, foi antigamente considerado como o mais 
importante o artigo Sobre a crítica da Filosofia do direito de Hegel, em 1844, primeiro 
esboço da interpretação materialista da dialética hegeliana. Só em 1932 foram 
descobertos e editados em Moscou os Manuscritos Econômico-Filosóficos, redigidos 
em 1844 e deixa-os inacabados. É o esboço de um socialismo humanista, que se 
preocupa principalmente com a alienação do homem; sobre a compatibilidade ou não 
deste humanismo com o marxismo posterior, a discussão não está encerrada. Em 
1888 publicou Engels as Teses sobre Feuerbach, redigidas por Marx em 1845, 
rejeitando o materialismo teórico e reivindicando uma filosofia que, em vez de só 
interpretar o mundo, também o modificaria. 
Marx e Engels escreveram juntos em 1845 A Sagrada Família, contra o 
hegeliano Bruno Bauer e seus irmãos. Também foi obra comum A Ideologia alemã 
(1845-46), que por motivo de censura não pôde ser publicada (edição completa só em 
1932); é a exposição da filosofia marxista. Marx sozinho escreveu A Miséria da 
Filosofia (1847), a polêmica veemente contra o anarquista francês Proudhon. A última 
obra comum de Marx e Engels foi em 1847 O Manifesto Comunista, breve resumo do 
materialismo histórico e apelo à revolução. 
O 18 Brumário de Luís Bonaparte foi publicado em 1852 em jornais e em 1869 
como livro. É a primeira interpretação de um acontecimento histórico no caso o golpe 
de Estado de Napoleão III, pela teoria do materialismo histórico. Entre os escritos 
seguintes de Marx Sobre a crítica da economia política em 1859 é, embora breve, 
também uma crítica da civilização moderna, escrito de transição entre o manuscrito 
de 1844 e as obras posteriores. A significação dessa posição só foi esclarecida pela 
publicação (em Moscou, 1939-41, e em Berlim, 1953) de mais uma obra inédita: 
Esboço de crítica da economia política, escritos em Londres entre 1851 e 1858 e 
depois deixados sem acabamento final. 
Em 1867 publicou Marx o primeiro volume de sua obra mais importante: O 
Capital. É um livro principalmente econômico, resultado dos estudos no British 
Museum, tratando da teoria do valor, da mais-valia, da acumulação do capital etc. 
Marx reuniu documentação imensa para continuar esse volume, mas não chegou a 
 
 
19 
 
publicá-lo. Os volumes II e III de O Capital foram editados por Engels, em 1885 e em 
1894. Outros textos foram publicados por Karl Kautsky como volume IV (1904-10). 
13. BILIOGRAFIA BÁSICA 
CHAUÍ, Marilena. Convite á Filosofia. São Paulo: Ática, 1999. 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000. 
PRADO JUNIOR, C. O que é Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1983. 
REALE, M. Introdução a Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1988. 
SANCHEZ VASQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 
 
 
 
20 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
O ENSINO DE FILOSOFIA E A CRIAÇÃO DE CONCEITOS 
SIMONE GALLINA 
Mestra em educação pela Universidade Federal de 
Santa Maria (UFSM) e doutoranda na Faculdade de 
Educação da Universidade Estadual de Campinas 
RESUMO: Ao pensar as linhas e os traçados do ensino em filosofia, tem-se 
que levar em conta que esta atividade pedagógica deve se constituir numa atividade 
filosófica e, ainda dependendo da concepção de atividade filosófica, que devemos 
modificar significativamente a própria concepção do que consiste o ensino e a 
aprendizagem em filosofia. Neste sentido, torna-se importante esclarecer em que 
consiste a atividade filosófica para se mapear os territórios do ensino em filosofia. 
Tarefa esta quenos propomos a partir da contribuição do filósofo francês Gilles 
Deleuze, o qual, em seus inúmeros escritos, afirma que a atividade do filósofo implica 
uma dimensão de criação: criação de conceitos. 
Palavras-chave: Filosofia. História. Ensino. Leitura. Conceito.. 
Ensino de filosofia e a história da filosofia 
A ausência de clareza acerca do ensino de filosofia resulta da atribuição de 
uma certa primazia do que convencionamos chamar de temas próprios da atividade 
filosófica. Ao que parece, não são somente os conteúdos empregados no ensino de 
filosofia que a constituem como atividade filosófica, mas, antes, o que a torna uma tal 
atividade propriamente filosófica. Convém observar que ao dizermos isso não 
estamos querendo negar a pertinência da didática, mas tão-somente que ela depende, 
em última instância, da delimitação daquilo que consiste propriamente no ensino de 
filosofia como atividade filosófica. 
Na década de 1980 ocorreram intensos debates sobre o ensino de filosofia, os 
quais são importantes na medida em que nos mostram não somente o que pensam 
os filósofos brasileiros sobre a filosofia e o seu ensino, mas também a sua influência 
 
 
21 
 
às futuras gerações de professores de filosofia. Um bom exemplo pode ser encontrado 
no livro intitulado O ensino da filosofia no 2°grau, organizado em 1986 por Henrique 
Nielsen Neto. Nele podemos observar que, para alguns filósofos, o ensino de filosofia 
deve ser orientado tanto pelo estudo da história da filosofia quanto pela discussão dos 
temas filosóficos concernentes ao cotidiano. Propõe-se também que a disciplina seja 
pensada mediante atividades de exposição temática e discussão sobre tais temas, 
perfazendo o percurso que vai desde a filosofia antiga até as questões da filosofia 
contemporânea. Nesse mesmo livro também encontramos argumentos em defesa de 
temas específicos a serem ensinados. Certamente essa abordagem do ensino de 
filosofia, como estritamente vinculado à escolha dos conteúdos, está mais preocupada 
com as concepções individuais dos professores da disciplina no ensino médio, 
estabelecendo assim uma espécie de programa mínimo para o ensino de filosofia. 
Objetivo que também fica manifesto nos manuais didáticos, nos quais frequentemente 
lemos que o ensino de filosofia requer uma visita ao mundo da filosofia e aos 
conteúdos que nele se encontram. 
Por um lado, a amplitude e abrangência do que pode servir de tema para o 
ensino de filosofia, conforme se pode perceber nas propostas acima mencionadas, 
mostram que não se pode determinar a priori o que irá servir como conteúdo para o 
ensino de filosofia. Por outro, a determinação dos temas não assegura que a atividade 
desenvolvida pelo professor de filosofia seja uma atividade propriamente filosófica. 
Mesmo que as propostas temáticas representem a tradição filosófica e mesmo 
que a escolha dos temas seja oriunda de uma decisão pautada por critérios filosóficos, 
ainda assim, apoiar o ensino de filosofia na história da filosofia, como fonte de 
problemas e de soluções, pode resultar numa atividade que perde de vista uma 
condição inerente à atividade do filósofo: a criação conceitual, o nascimento do novo: 
 
A maior parte do tempo, quando me colocam uma questão, mesmo que ela 
me interesse, percebo que não tenho estritamente nada a dizer. As questões 
são fabricadas, como outra coisa qualquer. Se não deixam que você fabrique 
suas questões, com elementos vindos de toda parte, de qualquer lugar, se as 
colocam a você, não tem muito o que dizer. A arte de construir um problema 
 
 
22 
 
é muito importante: inventa-se um problema, uma posição de problema, antes 
de se encontrar a solução. (Deleuze & Parnet, 1998 , p. 9) 
 
Contudo, há um aspecto importante no debate da década de 1980: o resgate 
do cotidiano para o ensino de filosofia. Porém, esse resgate acontece somente à 
medida que é tomado como um acontecimento. 
 
O que a história capta do acontecimento é a sua efetuação em estados de 
coisas, mas o acontecimento em seu devir escapa à história. A história não é 
a experimentação, ela é apenas o conjunto das condições quase negativas 
que possibilitam a experimentação de algo que escapa à história. Sem a 
história, a experimentação permaneceria indeterminada, incondicionada, mas 
a experimentação não é histórica. (...) O devir não é história; a história 
designa somente o conjunto das condições, por mais recentes que sejam, 
das quais se desvia a fim de “devir”, isto é, para criar algo novo. ( Deleuze, 
1992, p. 210-211) 
 
O ensino de filosofia não pode prescindir do acontecimento, de onde emergem 
os devires que orientam a elaboração de problemas. Os problemas filosóficos não se 
encontram nos textos dos filósofos e sequer podem ser comunicados pelos 
professores de filosofia; eles estão submetidos aos devires, às orientações e às 
direções que não pertencem à história da filosofia, mas do acontecimento. Mesmo que 
os problemas estejam orientados para o passado ou para o futuro, eles estão 
submetidos às multiplicidades, aos devires que emergem como forças que operam 
em silêncio. Os problemas emergem dos acontecimentos e das experimentações. 
Os agenciamentos da leitura 
Uma outra consequência da ausência de clareza acerca do ensino de filosofia 
resulta de algumas incompreensões geradas a partir de uma suposta necessidade de 
métodos, de procedimentos próprios à atividade filosófica e, consequentemente, da 
 
 
23 
 
sua necessidade para o ensino de filosofia. Sem dúvida as técnicas e os 
procedimentos são importantes para a filosofia, mas isso não significa que o método 
seja o meio pelo qual se aprende filosofia. 
O trabalho de Sonia Maria Ribeiro de Souza trouxe significativas contribuições 
para o ensino de filosofia, a sua abordagem histórico-didática é importante na medida 
em que permite um diálogo sobre a relação entre método e ensino. Segundo a autora, 
a utilização do método visa à obtenção de um fim determinado, isto é, ele tem “a 
finalidade de produzir nos alunos mudanças de atitudes expressas nos objetivos 
educacionais” (Souza, 1992, p. 100). O recurso a esta concepção genérica de método 
se dá em função da dificuldade da apropriação de um método filosófico para o ensino 
de filosofia. O método seria uma espécie de “característica essencial da filosofia”, 
contudo não há um único método, antes sim métodos, os quais seriam “peculiares a 
cada filósofo, são na verdade, únicos e irrepetíveis e, neste sentido, há tantos métodos 
filosóficos quanto os filósofos que existiram e que existem na face da Terra” (idem, 
ibid.). 
Além dessa gama de métodos, o que causa um certo embaraço quanto à 
escolha daquele que seria o mais apropriado, o problema com eles é que são 
“irrepetíveis”, isto é, a sua singularidade implica a impossibilidade de serem separados 
de seus próprios autores. A conclusão sobre um método genuinamente filosófico é 
que os métodos da filosofia “não se configuram como os mais adequados para o 
ensino da filosofia” (idem, ibid.). Mesmo assim, existem alguns métodos comuns a 
outras áreas do saber que podem ser utilizados no ensino de filosofia. Entre eles figura 
o “método expositivo”, o “método interrogativo”, o “método de exposição dialogada”, o 
“método de leitura e análise de textos”, o “método de análise linguística” e o “estudo 
dirigido” (idem, ibid.). A utilização desses métodos depende do professor, contudo 
cada um deles obedece a uma lógica própria, o que não impede que o professor 
estabeleça inovações no sentido do aprimoramento deles. 
Os dois métodos destacados como mais pertinentes são o método de 
exposição dialogada e o método de leitura e análise de textos. O primeiro é, “do ponto 
de vista de muitos educadores, o mais adequado para o processo de ensino-
aprendizagem da referida disciplina” (idem, ibid., p. 105), ao passo que o segundo, 
por sua vez, é importante porque as suas metas “condensama finalidade central da 
 
 
24 
 
disciplina no 2° grau: ensinar o aluno a filosofar” (idem, ibid., p. 108). Como se pode 
observar, dos dois o preferido pela autora é o concernente à leitura, visto que ele 
cumpriria uma finalidade própria ao ensino de filosofia, ou seja, ensinar a filosofar. 
As “metas pedagógicas”, apresentadas como finalidades do método de leitura 
e análise de textos, próprias ao ensino de filosofia de acordo com Souza são as 
seguintes: “compreensão global do pensamento de um autor, bem como de uma 
escola ou corrente filosófica de um determinado período do qual o filósofo é um 
representante; o acesso à filosofia por meio desse pensamento e, por último, a 
aquisição de uma técnica intelectual e de análise filosófica” (ibid., p. 108). Ocorre que, 
a despeito da ênfase dada pela autora, parece pouco crível que uma tal compreensão 
da leitura de fato ensine a filosofar. Afora as expressões que denotam uma relação 
com a filosofia, a caracterização dessas metas pode servir para a leitura em qualquer 
outra disciplina. 
Ao finalizar a explicitação do referido método, a autora afirma que este “implica 
um esforço de compreensão da linguagem dos filósofos, isto é, uma abordagem dos 
termos, dos enunciados, dos encadeamentos discursivos e das várias expressões 
usadas pelos autores lidos, por meio das quais o filósofo procura comunicar o produto 
de sua reflexão filosófica” (idem, ibid., p. 112). Será que o esforço para compreender 
termos, enunciados, encadeamentos, expressões nos conduzem à criação 
conceitual? Ou talvez nos sejam extremamente úteis para assimilar e reter um 
“produto” pronto e acabado? 
Pode-se concordar com a autora que os textos dos filósofos exercem influência 
e são determinantes para as atividades filosóficas. Também parece acertado dizer 
que a relação com tais textos é uma relação de leitura. Contudo, a afirmação de que 
os textos dos filósofos comunicam o produto da sua reflexão, o qual poderá ser 
compreendido com a aplicação do método de análise, parece não levar em conta a 
diferença entre uma leitura filosófica e uma leitura histórica desses textos. Mas o que 
seria propriamente uma leitura apenas histórica dos textos dos filósofos e por que ela 
pode pôr em risco o ensino de filosofia? 
Uma leitura histórica nada mais é que uma atualização de lembranças. Pascal 
Chabot diz que uma lembrança atualizada perde o virtual “porque ela é uma diferença 
selecionada” (1998, p. 43), ou seja, ao serem atualizadas, as intensidades acabam 
 
 
25 
 
“coaguladas em estados de coisas definidos” (ibid., p. 43), transformam-se em formas 
estáveis. Ao contrário, “uma arte imanente de interpretação” (ibid., p. 40) mantém o 
movimento que caracteriza as densidades como multiplicidades virtuais, como 
singularidades. A leitura filosófica, na qualidade dessa arte imanente, dissolve o que 
é coagulado na representação, conservando as forças e as intensidades passadas 
que dão consistência e coerência à diversidade de atualizações produzidas pelo 
virtual. 
Apoiar a leitura no método de análise inviabiliza o caráter filosófico da própria 
leitura. Se o problema for reduzido a uma instância proposicional, a verdade desse 
problema consistiria somente em que ele possui uma solução. Ao contrário disso, 
poderíamos pensar que, se há um sentido na interpretação, este está no problema e 
não no emaranhado de proposições que tecem e tramam o texto. Um tal sentido 
estaria longe de qualquer posição que prime pela resolução e também daquelas que 
veem no método um bom guia para a busca de sentido para o texto. 
Pensar um problema, mesmo a partir de um texto, é antes de tudo engendrar 
descontinuidades, gerar soluções, evitando com isso a velha ilusão de que um 
problema sempre visa a uma determinada solução. Também é preciso atentar para a 
existência de uma diferença de natureza entre proposições e problemas. Problemas 
não podem ser decalcados das proposições, sob pena de se perder a própria 
aprendizagem da multiplicidade de relações. 
 
A boa maneira para se ler hoje, porém, é a de conseguir tratar um livro como 
se escuta um disco, como se vê um filme ou um programa de televisão, como 
se recebe uma canção: qualquer tratamento do livro que reclamasse para ele 
um respeito especial, uma atenção de outro tipo, vem de outra época e 
condena definitivamente o livro. Não há questão alguma de dificuldade nem 
de compreensão: os conceitos são exatamente como sons, cores ou 
imagens, são intensidades que lhes convêm ou não, que passam ou não 
passam. (...) Gostaria de dizer que é um estilo (...). É um agenciamento, um 
agenciamento de enunciação. Conseguir gaguejar em sua própria língua, é 
isso um estilo. É difícil porque é preciso que haja necessidade de tal gagueira. 
Ser gago não em sua fala, e sim ser gago da própria linguagem. Ser como 
um estrangeiro em sua própria língua. Traçar uma linha de fuga. (Deleuze & 
Parnet, 1998, p. 11-12) 
 
 
26 
 
 
Talvez seja justamente essa maneira de ler os livros, como uma espécie de 
língua estrangeira, que tenha atraído a atenção de Deleuze para a obra de Proust. A 
maneira como Proust se refere à leitura de um livro, a partir do qual os contrassensos 
criam uma língua no interior da língua, obrigam o leitor a usar o livro e a saber lidar 
com as linhas de fuga que lhe são inerentes. Porém, esse agenciamento da leitura 
nos coloca um problema com relação ao ensino da filosofia na medida em que o 
pensamos como uma atividade de leitura regrada por um método. Da proposta 
anterior sobre a leitura, segundo o que foi afirmado nas metas e nos resultados, pode-
se inferir que nos textos dos filósofos se encontram verdades, cujo acesso depende 
do esforço de compreensão e da utilização correta do método. Mesmo que a autora 
não tenha afirmado e sequer feito menção a esta questão, a possibilidade de uma tal 
inferência nos remeteria a um outro problema implicado na utilização do método de 
leitura, ou seja, que a atividade filosófica consiste em descobrir verdades escondidas 
nos textos. Sobre esta questão a referência de Deleuze a Proust é muito relevante: 
 
A crítica de Proust toca no essencial: as verdades permanecem arbitrárias e 
abstratas enquanto se fundam na boa vontade de pensar. Apenas o 
convencional é explícito. Razão pela qual a filosofia, como a amizade, ignora 
as zonas obscuras em que são elaboradas as forças efetivas que agem sobre 
o pensamento, as determinações que nos forçam a pensar. Não basta uma 
boa vontade nem um método bem elaborado para ensinar a pensar, como 
não basta um amigo para nos aproximarmos do verdadeiro. Os espíritos só 
se comunicam no convencional; o espírito só engendra o possível. Às 
verdades da filosofia faltam a necessidade e a marca da necessidade. De 
fato, a verdade não se dá, se trai; não se comunica, se interpreta; não é 
voluntária, é involuntária. (Deleuze, 2003, p. 89) 
Por um lado, dizer que existem verdades nos textos filosóficos parece ser um 
bom pressuposto para requerer um método que permita encontrá-las, por outro, isso 
se torna tão problemático quanto afirmar que existem textos verdadeiros e, 
consequentemente, outros que seriam falsos. Neste sentido, não há por que 
reivindicar a pertinência de um método para se alcançar a verdade. Isso somente tem 
 
 
27 
 
sentido para aqueles que, a partir de uma imagem do pensamento como cogitatio 
natura universalis, pensam que a filosofia tende naturalmente para o verdadeiro. A 
filosofia não requer uma boa vontade do pensador e uma natureza reta do 
pensamento, sequer decisão e método, porque não é a verdade e sim o interesse que 
serve de inspiração para a filosofia e para o fazer filosófico. 
Os territórios da atividade filosófica 
Deleuze critica a concepção da história da filosofia como imagem do 
transcendente, como se a história da filosofia pudesse ser comparada com um retrato. 
Para ele, esta concepção operapor decalques, por estagnação do fluxo das 
intensidades, concebendo a filosofia como uma busca de verdades, apoiando-se 
numa imagem do pensamento cujos pressupostos são morais. A ideia de uma 
cogitatio natura universalis confere ao pensamento uma natureza boa e, 
consequentemente, o pensador é dotado de uma boa vontade que lhe permite 
alcançar o verdadeiro (Cf. Deleuze, 1988, p. 215-235). Deleuze atribui esta imagem 
do pensamento ao modelo da recognição. Um modelo que orienta a análise do que 
significa o pensar, e que tem na teoria da representação seu apogeu, mais 
precisamente numa teoria para a qual a identidade do objeto está fundada na unidade 
do sujeito pensante e na relação de concordância das suas faculdades, dos seus 
modos. 
O problema com esta imagem do pensamento é que ela perde de vista a 
diferença e a repetição em si mesmas, fazendo com que o objeto, o que é signo para 
a alma, deixe de ser ou de suscitar um problema. O objeto acaba sendo o Mesmo, tal 
como um retrato, e a filosofia, a arte de retratar. Contudo, na atividade filosófica “não 
se trata de ‘fazer parecido’, isto é, de repetir o que o filósofo disse, mas de produzir a 
semelhança, desnudando ao mesmo tempo o plano de imanência que ele instaurou e 
os novos conceitos que criou” (Deleuze & Guattari, 1992, p. 74). A verdade dos 
escritos e mesmo do próprio pensamento está pressuposta na possibilidade da 
criação de conceitos filosóficos, ela é somente o que o pensamento cria, pois o 
pensamento é criação. Ora, se “a filosofia supõe enunciados diretos e significações 
explícitas saídos de um espírito que quer a verdade”, então “erramos quando 
acreditamos na verdade: só há interpretações” (Deleuze, 2003, p. 86). Com isso, 
 
 
28 
 
Deleuze afasta-se daqueles que, como os filósofos modernos, pressupõem uma 
imagem do pensamento. 
Talvez esta seja a razão para que Deleuze insista na desconfiança filosófica 
apregoada por Nietzsche, o qual aconselhava os filósofos a desconfiarem dos 
conceitos que por eles mesmos não tivessem sido criados. Neste sentido se pode 
compreender o quanto é imprescindível à atividade do filósofo uma relação com a 
tradição filosófica de desconfiança, pois é a partir do território do dado que será 
possível atualizar conceitos. Ou seja, fabricá-los e não somente “fazê-los reluzir” (Cf. 
Deleuze & Guattari, 1992, p. 14). Mas isso nos põe em contato com uma das principais 
características atribuídas à atividade do filósofo, qual seja, a condição de que no 
conceito criado esteja implícita a singularidade daquele que o criou. Pois ao dizer que 
“pensar e ser são uma só e mesma coisa” (idem, ibid., p. 54), afirma-se que o conceito 
é sempre acompanhado de um estilo, de uma assinatura própria daquele que pensa 
e cria um determinado conceito. 
A atividade de criação do filósofo é um agenciamento que garante um registro 
único, singular, perante a tradição filosófica. A capacidade para constituir ou inventar 
problemas, cuja solução depende da multiplicidade de relações, das singularidades e, 
sobretudo, depende da determinação das condições do próprio problema, é a 
capacidade que torna possível o surgimento do filósofo. Ao problematizar, o filósofo 
institui um plano de imanência, no qual a atividade filosófica criadora deixará de ser o 
tipo de atividade que historicamente a ela tem sido atribuído, ou seja, que a atividade 
própria do filósofo é a contemplação, reflexão, discussão ou comunicação. Tais 
denominações podem ser invocadas pela ciência ou pela arte, mas jamais pela 
filosofia, mesmo que esta mantenha uma condição de “vizinhança” com aquelas. 
Poderíamos perguntar: Por que a filosofia é a única que produz conceitos? Por 
não poder criar o Uno, “a filosofia faz surgir acontecimentos com seus conceitos”, ao 
passo que “a arte ergue monumentos com suas sensações, a ciência constrói estados 
de coisas com suas funções” (idem, ibid., p. 255). Os conceitos são cifras sem 
preexistência e é isso que faz deles acontecimentos singulares. Acontecimentos 
cifrados, garantia de uma temporalidade ao conceito que não se refere nem ao 
passado, nem ao presente e muito menos ao futuro. Uma temporalidade que diz da 
ordem do “adormecido”, em que o imprescindível para o conceito é poder fazer parte 
 
 
29 
 
de uma nova cena: “O acontecimento é talvez a figura contemporânea do álteron, do 
que não pode ser integrado, nem identificado, nem compreendido, nem previsto. 
Outras palavras que podem nomear também, ainda que de outro modo, o 
acontecimento são, por exemplo, interrupção, novidade, catástrofe, surpresa, 
começo, nascimento, milagre, revolução, criação, liberdade” (Larrosa, 2001, p. 282). 
Contudo, será que podemos com esta noção de filosofia, como atividade criadora de 
conceitos, afirmar que a tradição filosófica se constitui numa fonte de acontecimentos 
importantes para o ensino da filosofia? 
A condição atribuída ao conceito de ser um começo, um nascimento, uma 
criação, uma novidade, traz consigo a necessidade de concebê-lo como pertencendo 
ao domínio do porvir. Esta condição implica de antemão que qualquer contribuição da 
tradição filosófica está intimamente relacionada com uma atividade cuja principal 
característica seja a intensa criação. Uma atividade que permite surgir, a partir do 
mesmo, a heterogeneidade, a diferença. 
É possível darmos uma definição sobre a filosofia? Ou, podemos chegar a um 
consenso sobre o que é a filosofia? Sim, mas desde que a verdade implicada nessa 
definição não seja mais entendida no sentido da adequação ou correspondência, tal 
como ocorre com a concepção do conhecimento em termos de representação. Mas, 
ao mudarmos o referencial pelo qual se orienta a verdade, deixamos de pensar a 
definição como indicador de essências ou de propriedades de coisas, como se dá no 
conhecimento, passamos a pensá-la como comportando uma dimensão produtiva. 
Neste sentido, podemos dizer que “a filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que 
consiste em criar conceitos” (Deleuze & Guattari, 1992, p. 13). Com isso, a própria 
definição do conceito sofre uma mudança, pois, se “a filosofia não é uma simples arte 
de formar, de inventar ou de fabricar conceitos”, implica que os “conceitos não são 
necessariamente formas, achados ou produtos” (idem, ibid., p. 13). O conceito é algo 
criado e, como tal, implica uma habilidade que só ao filósofo pertence, uma atividade 
à qual consiste propriamente o nome de filosofia. 
 
Nunca se sabe de antemão como alguém vai aprender – que amores tornam 
alguém bom em Latim, por meio de que encontros se é filósofo, em que 
 
 
30 
 
dicionários se aprende a pensar (...). Não há método para encontrar tesouros 
nem para aprender, mas um violento adestramento, uma cultura ou uma 
paideia que percorre inteiramente todo o indivíduo (um albino em que nasce 
o ato de sentir na sensibilidade, um afásico em que nasce a fala na 
linguagem, um acéfalo em que nasce pensar no pensamento). (Deleuze, 
1988, p. 270) 
 
A atividade filosófica ocupa-se com as condições que permitem a formulação 
de problemas, e nisso consiste a aprendizagem em filosofia. Mesmo que os problemas 
estejam na base da produção conceitual, esta não é uma decorrência direta do 
método, como se o método permitisse uma passagem direta do não-saber ao saber. 
Ou seja, mesmo que a produção conceitual seja um momento da aprendizagem, isso 
ocorre somente porque ela resulta de uma intensa atividade na qual o método não 
tem nenhuma significativa importância. Pois a aprendizagem dá-se na constituição 
dos problemas e estes se passam sempre pelo e no inconsciente. 
Que toda filosofia dependa de uma intuição, que seus conceitos não cessam 
de desenvolver até o limite das diferenças de intensidade, esta grandiosa perspectiva 
leibniziana ou bergsoniana está fundada se consideramos a intuição como o 
desenvolvimento dos movimentos infinitos do pensamento, que percorremsem cessar 
um plano de imanência. Não se concluirá daí que os conceitos se deduzam do plano: 
para tanto é necessária uma construção especial, distinta daquela do plano, e é por 
isso que os conceitos devem ser criados, do mesmo modo que o plano deve ser 
erigido. (...) Se a filosofia começa com a criação de conceitos, o plano de imanência 
deve ser considerado como pré-filosófico. Ele está pressuposto, não da maneira pela 
qual um conceito pode remeter a outros, mas pela qual os conceitos remetem eles 
mesmos a uma compreensão não conceitual. (Deleuze & Guatarri, 1992, p. 56-57) 
Ao definirmos a filosofia como uma atividade, estamos excluindo dessa 
definição outras noções que habitualmente são identificadas como próprias da 
filosofia. A filosofia não pode mais ser pensada como uma reflexão, uma comunicação 
ou ainda uma contemplação, formas pelas quais ela sempre foi considerada, mas 
como uma operação de criação de conceitos. O conceito não pode ser confundido 
com uma proposição, porque ele não tem um valor de verdade, não se refere a 
 
 
31 
 
estados de coisas, como é o caso das proposições da ciência. Como criação singular, 
o conceito reporta-se a um acontecimento, ele próprio é um acontecimento. Ora, 
considerar o conceito um acontecimento implica também considerar que o filosofar 
deve se ater às circunstâncias implicadas na criação conceitual, aos casos, onde, 
quando, como etc. Pois são estes elementos circunstanciais que caracterizam o 
conceito como singularidade, como algo datado, mas também como algo que muda, 
conforme são operadas as relações que o definem. 
Se o conceito está implicado num conjunto de relações em constante devir, 
então a própria história da filosofia também precisa ser pensada como um devir 
filosófico. Como devir, a história da filosofia não pode ser considerada mediante uma 
noção de temporalidade que se restringe à relação presente-passado, antes sim à 
relação atual-virtual. Desta concepção da história da filosofia como virtual pode surgir 
uma nova concepção de leitura: a leitura da história da filosofia passa a ser uma 
atualização de intensidades virtuais. Talvez desse modo estaremos evitando 
transformar a filosofia e o seu ensino numa atividade de doxografia, contentando-se 
apenas com proposições ou simples opiniões: 
 
É sempre a mesma melancolia que se eleva das Questões disputadas e dos 
Quodlibets da Idade Média, em que se aprende o que cada doutor pensou, 
sem saber por que ele o pensou (o Acontecimento), e que se encontra em 
muitas histórias da filosofia onde se passam em revista as soluções, sem 
jamais saber qual é o problema (a substância em Aristóteles, em Descartes, 
em Leibniz...), já que o problema é somente decalcado das proposições que 
lhe servem de resposta. (Deleuze & Guattari, 1992, p. 105) 
 
Da mesma forma que, em filosofia, a aprendizagem não tem sua origem na 
atividade orientada pela objetividade metodológica, também não pode ser vista como 
uma atividade cujo fim remete a uma simples aquisição de saberes. Pois, se tem 
sentido falar de aprendizagem em filosofia, esta deve ser reportada à constituição de 
problemas na qual estão envolvidos agenciamentos de desejos. Pois aquele que se 
envolve com a filosofia é como um nômade, cuja criação conceitual se parece com a 
 
 
32 
 
atividade daquele cuja experiência se dá num território onde os relevos 
constantemente se modificam. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
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Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: 34, 1992. 
DELEUZE, G.; PARNET, C. Diálogos. Trad. de Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: 
Escuta, 1998. 
 
 
33 
 
DELEUZE, G. Diferença e repetição. Tradução de Luiz Orlandi e Roberto Machado. 
Rio de Janeiro: Graal, 1988. 
DELEUZE, G. Conversações. Trad. de Peter Pál Pelbart. Rio de Janeiro: 34 , 1992. 
DELEUZE, G. Proust e os signos. 2 . ed. Trad. de Antonio Carlos Piquet e Roberto 
Machado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. 
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LARROSA, J.; SKLIAR, C. (Org.). Habitantes de Babel: políticas da diferença. Belo 
Horizonte: Autêntica, 2001. p. 281-295. 
NIELSEN NETO, H. (Org.). O ensino da filosofia no 2º grau. São Paulo: Sofia, 1986. 
SOUZA, S.M.R. Por que Filosofia? Uma abordagem histórico-didática do ensino de 
filosofia no 2º grau. 1992. 116p. Tese (doutorado) – Faculdade de Educação. 
Universidade Estadual de São Paulo, São Paulo. 
-P. O Ser e o Nada. 7ª ed., Petrópolis: Vozes, 1999.

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