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TRANSTORNO DEPRESSIVO – TBL 3 DANIELA FRANCO QUADRO CL ÍNICO O transtorno depressivo maior tem a prevalência mais alta ao longo da vida (quase 17%) de todos os transtornos psiquiátricos. Com maior prevalência em mulheres. Em média 30 anos de idade. Um transtorno depressivo maior ocorre sem uma história de um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco. O episódio depressivo maior deve durar pelo menos duas semanas, e normalmente uma pessoa com esse diagnóstico também experimenta pelo menos quatro sintomas de uma lista que inclui alterações no apetite e peso, alterações no sono e na atividade, falta de energia, sentimento de culpa, problemas para pensar e tomar decisões e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio. O humor deprimido e perda de interesses ou prazer são os sintomas fundamentais da depressão. Os indivíduos podem dizer que se sentem tristes, desesperançados, na “fossa” ou inúteis. Para um paciente, o humor deprimido muitas vezes adquire uma qualidade distinta que o diferencia da emoção normal de tristeza ou luto. Com frequência, os pacientes descrevem os sintomas de depressão como uma dor emocional angustiante e, às vezes, se queixam de serem incapazes de chorar, um sintoma que se resolve quando melhoram. Quase todos os deprimidos (97%) se queixam de redução da energia, têm dificuldade de terminar tarefas, têm mau desempenho na escola e no trabalho e menos motivação para desenvolver novos projetos. Cerca de 80% se queixam de dificuldades para dormir, especialmente de despertar matinal precoce (i.e., insônia terminal), e de despertares múltiplos ao longo da noite, durante os quais ruminam sobre seus problemas. Muitos têm diminuição do apetite e perda de peso, mas outros experimentam aumento do apetite e de peso e dormem por mais tempo do que o habitual. Esses pacientes são classificados com aspectos atípicos. A ansiedade é um sintoma comum da depressão e afeta até 90% de todas as pessoas deprimidas. As várias mudanças na ingestão de alimentos e no repouso podem agravar condições clínicas coexistentes, como diabetes, hipertensão, doença pulmonar obstrutiva crônica e doenças cardíacas. Outros sintomas vegetativos incluem anormalidade na menstruação e diminuição do interesse e do desempenho nas atividades sexuais. Depressão em crianças e adolescentes. Fobia escolar e apego excessivo aos pais podem ser sintomas de depressão em crianças. Mau desempenho escolar, abuso de drogas, comportamento antissocial, promiscuidade sexual, ociosidade e fuga de casa. Depressão em idosos. A depressão é mais comum em pessoas mais velhas do que na população em geral. Pode estar correlacionada a condição socioeconômica baixa, perda de um cônjuge, doença física concomitante e isolamento social. TEORIAS BIOLÓGICAS DA DEPRESSÃO NOREPINEFRINA. A correlação entre a down regulation dos receptores beta-adrenérgicos e as respostas clínicas aos antidepressivos é provavelmente a evidência isolada mais convincente indicando um papel direto do sistema noradrenérgico na depressão. Outras evidências implicaram também os receptores beta2 pré-sinápticos na depressão, visto que sua ativação resulta em redução da quantidade de norepinefrina liberada. Esses receptores também estão localizados nos neurônios serotonérgicos e regulam a quantidade de serotonina liberada. SEROTONINA. Com o forte efeito que os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) – por exemplo, a fluoxetina – têm tido sobre o tratamento da depressão, a serotonina se tornou a amina biogênica neurotransmissora mais comumente associada à depressão. A depleção da serotonina pode precipitar depressão, e alguns pacientes com impulsos suicidas têm concentrações baixas de metabólitos da serotonina no líquido cerebrospinal (LCS) e concentrações baixas de zonas de captação de serotonina nas plaquetas. DOPAMINA. sua atividade pode estar reduzida na depressão e aumentada na mania. Os medicamentos que reduzem as concentrações da dopamina – por exemplo, a reserpina – e as doenças que também têm esse efeito (p. ex., doença de Parkinson) estão associados com sintomas depressivos. Em contraste, medicamentos que aumentam suas concentrações, como a tirosina, a anfetamina e a bupropiona, reduzem os sintomas de depressão. Duas teorias recentes sobre dopamina e depressão são que a via mesolímbica da dopamina pode ser disfuncional e que seu receptor D1 pode ser hipoativo na depressão. ACETILCOLINA (ACH). Os neurônios colinérgicos têm relações recíprocas ou interativas com todos os três sistemas de monoamina. Níveis anormais de colina, que é um precursor de ACh, foram encontrados na necropsia de cérebros de alguns pacientes deprimidos, talvez refletindo anormalidades na composição de fosfolipídeo das células. Os agonistas podem produzir letargia, falta de energia e retardo psicomotor em indivíduos saudáveis, exacerbar os sintomas na depressão e reduzir os sintomas na mania. Esses efeitos em geral não são suficientemente fortes para ter implicações clínicas, e os efeitos adversos são problemáticos Os agonistas colinérgicos podem induzir alterações na atividade hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal (HHS) e no sono que imitam aquelas associadas com depressão grave. GABA. tem um efeito inibidor sobre as vias ascendentes monoaminérgico, particularmente os sistemas mesocortical e mesolímbico. Reduções dos níveis plasmático, do LCS e cerebral de GABA foram observadas na depressão. Por sua vez, os receptores de GABA sofrem regulação ascendente por antidepressivos, e alguns medicamentos GABAérgicos têm efeitos antidepressivos fracos. Os aminoácidos glutamato e glicina são os principais neurotransmissores excitatórios e inibitórios no SNC. Esses aminoácidos ligam-se a sítios associados com o receptor de N-metil-D-aspartato (NMDA), e um excesso de estimulação glutamatérgica pode causar efeitos neurotóxicos. Significativamente, existe alta concentração de receptores de NMDA no hipocampo. O glutamato, portanto, pode operar em conjunto com a hipercortisolemia para mediar os efeitos neurocognitivos prejudiciais da depressão recorrente grave. ALTERAÇÕES HORMONAIS: Estudos com animais indicam que mesmo períodos transitórios de privação materna podem alterar as respostas subsequentes a estresse. A atividade do gene codificando para o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) neuroquinina é diminuída após estresse crônico, assim como o processo de neurogênese. Estresse prolongado, portanto, pode induzir alterações no estado funcional dos neurônios e acabar levando a morte celular. Pessoas deprimidas revelam que uma história de trauma precoce está associada com atividade HHS aumentada acompanhada de alterações estruturais (i.e., atrofia ou diminuição de volume) no córtex cerebral. Atividade de HHS elevada é uma característica de respostas a estresse em mamíferos e uma das ligações mais claras entre depressão e a biologia do estresse crônico. Hipercortisolemia na depressão sugere um ou mais dos seguintes distúrbios centrais: tônus inibitório de serotonina diminuído; impulso aumentado de norepinefrina, ACh ou hormônio liberador de corticotrofina (CRH); ou diminuição da inibição do feedback do hipocampo. ATIVIDADE DO EIXO TIREOIDIANO. 5 a 10% das pessoas avaliadas para depressão têm disfunção tireoidiana ainda não detectada, conforme refletido por nível basal do hormônio estimulante da tireoide (TSH) elevado ou resposta de TSH aumentada a uma infusão de 500 mg do neuropeptídeo hipotalâmico hormônio liberador de tireotrofina (TRH). Essas anormalidades muitas vezes estão associadas com níveis elevados de anticorpos antitireoidianos e, a menos que corrigido com terapia de reposição hormonal, podem comprometer a resposta ao tratamento. A principal implicação terapêutica deuma resposta de TSH embotada é a evidência de um risco aumentado de recaída apesar da terapia antidepressiva preventiva. HORMÔNIO DO CRESCIMENTO. O hormônio do crescimento (GH) é secretado da hipófise anterior após estimulação por norepinefrina (NE) e dopamina. A secreção é inibida por somatostatina, um neuropeptídeo hipotalâmico, e por CRH. Níveis de somatostatina do LCS diminuídos foram relatados na depressão e níveis aumentados foram observados na mania. ALTERAÇÕES DA NEUROFISIOLOGIA DO SONO. A depressão está associada com perda prematura do sono profundo (de onda lenta) e aumento no despertar noturno. Este último é refletido por quatro tipos de distúrbio: (1) aumento nos despertares noturnos, (2) redução no tempo de sono total, (3) aumento do sono de movimentos oculares rápidos (REM) fásico e (4) aumento da temperatura corporal DISTÚRBIOS IMUNOLÓGICOS. Os transtornos depressivos estão associados com várias anormalidades imunológicas, incluindo diminuição da proliferação de linfócitos em resposta a mitógenos e outras formas de imunidade celular comprometida. Esses linfócitos produzem neuromoduladores, como o fator liberador de corticotrofina (CRF), e citocinas, peptídeos conhecidos como interleucinas. Parece haver uma ligação com gravidade clínica, hipercortisolemia e disfunção imunológica, e a citocina interleucina-1 pode induzir atividade gênica para a síntese de glicocorticoide. NEUROANATOMICO. Quatro regiões cerebrais na regulação das emoções normais: o córtex pré-frontal (CPF), o cingulado anterior, o hipocampo e a amígdala. DIAGNÓSTICO Transtorno depressivo maior, episódio único A depressão pode ocorrer como um episódio único ou ser recorrente. A diferenciação entre esses pacientes e os que têm dois ou mais episódios de transtorno depressivo maior é justificada pelo curso incerto do transtorno dos primeiros. Transtorno depressivo maior, recorrente Indivíduos que estão vivenciando pelo menos um segundo episódio de depressão são classificados com transtorno depressivo maior, recorrente. O principal problema ao diagnosticar episódios recorrentes de transtorno depressivo maior é escolher o critério para designar a resolução de cada período. As duas variáveis são o grau de resolução dos sintomas e a duração da resolução. O DSM-5 exige que episódios distintos de depressão sejam separados por pelo menos dois meses, durante os quais o paciente não tenha sintomas significativos de depressão. CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO DEPRESSÃO MAIOR A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. 1. Humor deprimido na maior parte do dia 2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta, ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. 4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão 9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL COM DISTIMIA É um transtorno depressivo persistente, é a presença de um humor deprimido que dura a maior parte do dia e está presente quase continuamente. Caracterizados pela presença de sintomas menos graves do que os de transtorno depressivo maior e de transtorno bipolar I, respectivamente. A distimia é caracterizada por pelo menos dois anos de humor deprimido não grave o suficiente para receber o diagnóstico de episódio depressivo maior. O transtorno ciclotímico é caracterizado por pelo menos dois anos de ocorrência frequente de sintomas hipomaníacos (é um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável que dura pelo menos uma semana) que não podem ser diagnosticados como um episódio maníaco e de sintomas depressivos que não podem ser diagnosticados como um episódio depressivo maior. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA DEPRESS ÃO COM OUTRAS DOENÇAS CL ÍNICAS Pacientes adolescentes deprimidos devem ser testados para mononucleose, e aqueles que estão acentuadamente acima ou abaixo do peso devem ser testados para disfunção suprarrenal e tireoidiana. Homossexuais, homens bissexuais e pessoas que abusam de drogas intravenosas devem ser testados para a aids. Pacientes mais velhos devem ser avaliados para pneumonia viral e outras condições clínicas. Outros transtornos mentais (p. ex., transtornos de ansiedade) podem mimetizar ou obscurecer o diagnóstico de depressão. Algumas vezes, há mais de um transtorno. O transtorno de depressão maior (transtorno unipolar) deve ser distinguido do transtorno bipolar. Em pacientes idosos, a depressão pode se manifestar como demência da depressão, que provoca muitos dos sinais e sintomas de demência como retardo psicomotor e diminuição da concentração. Entretanto, demência inicial pode causar depressão. Em geral, quando o diagnóstico é incerto, o tratamento do transtorno depressivo deve ser tentado. Diferenciar transtornos depressivos crônicos, tais como a distimia, dos transtornos por abuso de substâncias pode ser difícil, particularmente porque eles podem coexistir e um pode contribuir para o outro. O hipotireoidismo frequentemente provoca sintomas de depressão e é comum, principalmente entre idosos. A doença de Parkinson , em particular, pode se manifestar com sintomas que mimetizam a depressão (p. ex., perda de energia, falta de expressividade, pobreza de movimentos). Medicamentos cardíacos, anti-hipertensivos, sedativos, hipnóticos, antipsicóticos, antiepilépticos, antiparkinsonianos, analgésicos, antibacterianos e antineoplásicos são todos comumente associados com sintomas depressivos. EXAME PSICOPATOLÓGICO DA DEPRESSÃO. O retardo psicomotor generalizado é o sintoma mais comum de depressão,ainda que também seja observada agitação psicomotora, sobretudo em pacientes mais velhos. Torcer as mãos e arrancar cabelos são os sintomas mais observados da agitação. De forma clássica, o indivíduo deprimido tem uma postura encurvada, sem movimentos espontâneos e com o olhar desviado para baixo, sem encarar Humor, afeto e sentimentos: reclusão social e redução generalizada da atividade. Fala: redução da taxa e do volume da fala; demoram a responder a perguntas e o fazem de forma monossilábica. Distúrbios da percepção: Mesmo na ausência de delírios ou alucinações, tem depressão psicótica para alguns pacientes cuja regressão é visível – mudos, sem tomar banho e evacuando nas roupas. Delírios congruentes com o humor em uma pessoa deprimida incluem os de culpa, pecado, inutilidade, pobreza, fracasso, perseguição e doenças somáticas terminais (tais como câncer ou “apodrecimento” do cérebro). Pensamento: visões negativas do mundo e de si próprios Orientação. A maioria dos pacientes deprimidos está orientada em relação a pessoa, lugar e tempo, embora alguns possam não ter energia ou interesse suficientespara responder a perguntas sobre esses assuntos Memória. 50 a 75% de todos os pacientes deprimidos têm um comprometimento cognitivo, algumas vezes referido como pseudodemência depressiva. Esses pacientes comumente se queixam de dificuldade de concentração e de esquecimento. Controle dos impulsos: 10 a 15% de todos os indivíduos deprimidos cometem suicídio, e cerca de dois terços têm ideação suicida. Os que apresentam aspectos psicóticos às vezes consideram matar alguém como resultado de seus sistemas delirantes, mas os mais gravemente deprimidos com frequência não têm a motivação e a energia para agir de forma impulsiva ou violenta. Julgamento e insight: muitas vezes hiperbólicas; eles enfatizam demais seus sintomas, seu transtorno e seus problemas de vida. É difícil convencê-los de que a melhora é possível. Confiabilidade: dão grande ênfase ao ruim e minimizam o bom. Um erro clínico comum é acreditar sem questionamento em um indivíduo deprimido que declara não ter funcionado em uma tentativa anterior com medicamentos antidepressivos. Essas afirmações podem ser falsas e necessitam de confirmação de outras fontes. ESCALAS DE AVALIAÇÃO OBJETIVA DA DEPRESSÃO Zung. A Escala de Autoavaliação da Depressão de Zung é um relato de 20 itens. A pontuação normal é de 34 ou menos; a pontuação deprimido é de 50 ou mais. A escala fornece um índice global da intensidade dos sintomas depressivos do paciente, incluindo a expressão afetiva da depressão. Raskin. A Escala de Depressão de Raskin é avaliada pelo médico, que mede a gravidade da depressão, conforme o que ele observa e o paciente relata, em uma escala de 5 pontos de três dimensões: relato verbal, comportamento exibido e sintomas secundários. A escala tem uma variação de 3 a 13; a pontuação normal é 3, e a pontuação deprimido é 7 ou mais. Hamilton. A Escala de Avaliação da Depressão de Hamilton (HAM-D) é amplamente utilizada com até 24 itens, sendo cada um classificado de 0 a 4 ou de 0 a 2, com a pontuação total de 0 a 76. O médico avalia as respostas do paciente a perguntas sobre sentimento de culpa, pensamentos de suicídio, hábitos de sono e outros sintomas de depressão, e as pontuações são derivadas da entrevista clínica. TRATAMENTO Tratamento do transtorno depressivo. Conhecer as classes e mecanismos de ação dos antidepressivos e estratégias de tratamento para depressão refratária. Hospitalização: quanto a hospitalizar o paciente ou tentar um tratamento ambulatorial. Indicações claras para hospitalização são o risco de suicídio ou homicídio, a capacidade acentuadamente reduzida do indivíduo de obter alimento e abrigo e a necessidade de procedimentos diagnósticos. Terapia psicossocial: uma combinação de psicoterapia e farmacoterapia é o tratamento mais eficaz para transtorno depressivo maior, alguns dados sugerem outra visão: tanto uma quanto a outra isoladas são eficientes, pelo menos em episódios depressivos maiores leves, e o uso regular da terapia combinada aumenta o custo do tratamento e expõe o paciente a efeitos adversos desnecessários Estimulação do nervo vago: estudos sobre o tratamento de epilepsia verificou que os pacientes apresentavam melhora do humor. Estimulação magnética transcraniana (EMT) é promissora comovtratamento para depressão. Ela envolve o uso de pulsos muito curtos de energia magnética para estimular células nervosas no cérebro. É indicada especificamente para o tratamento de depressão em adultos que não conseguiram obter uma melhora satisfatória com um medicamento antidepressivo anterior na dose e duração efetivas mínimas ou acima delas no episódio atual Fototerapia: as pessoas costumam experimentar depressão à medida que o fotoperíodo do dia diminui com a chegada do inverno. A fototerapia em geral envolve expor o paciente afetado a luz brilhante 1 a 2 horas antes do amanhecer de cada dia, embora alguns também possam se beneficiar da exposição após o anoitecer Farmacoterapia: A utilização da farmacoterapia específica quase duplica a chance de que um paciente deprimido se recupere em um mês. Todos os antidepressivos atualmente disponíveis podem levar até 3 a 4 semanas para exercer efeitos terapêuticos significativos. O tratamento antidepressivo deve ser mantido por pelo menos seis meses ou de acordo com a duração de um episódio anterior, o que for maior. O tratamento profilático com antidepressivos é eficaz para reduzir o número e a gravidade de reincidências. Quando o tratamento antidepressivo é interrompido, a dose do medicamento deve ser diminuída gradualmente ao longo de 1 a 2 semanas Pacientes com transtorno depressivo maior com aspectos atípicos podem responder preferencialmente a tratamento com IMAOs ou ISRSs. Antidepressivos com ação dupla tanto em receptores serotonérgicos como noradrenérgicos demonstram maior eficácia nas depressões melancólicas. Pacientes com depressão sazonal do inverno podem ser tratados com terapia luminosa. Para aqueles com sintomas atípicos, existe forte evidência da eficácia dos IMAOs. Os ISRSs e a bupropiona também são úteis na depressão atípica. Quando o tratamento inicial for malsucedido, a mudança para um tratamento alternativo ou um reforço ao atual é uma opção comum. A escolha entre mudar de um tratamento inicial único para um novo tratamento único (em oposição a acrescentar um segundo tratamento ao primeiro) baseia-se na história de tratamento anterior do paciente, no grau de benefício alcançado com o tratamento inicial e na preferência do paciente. Via de regra, mudar em vez de acrescentar é preferível após a falha de um medicamento inicial. No entanto, estratégias de acréscimo são úteis com pacientes que obtiveram algum benefício com o tratamento inicial, mas que não alcançaram a remissão. As estratégias de acréscimo mais bem documentadas envolvem lítio ou hormônio tireoidiano. Uma combinação de um ISRS e bupropiona também é muito utilizada. SUICÍDIO Epidemiologia, fatores de risco, fatores de proteção, abordagem e manejo do comportamento suicida. EPIDEMIOLOGIA Em 2012, cerca de 804 mil pessoas morreram por suicídio em todo o mundo. A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, e a cada três segundos uma pessoa atenta contra a própria vida. As taxas de suicídio vêm aumentando globalmente. Estimase que até 2020 poderá ocorrer um incremento de 50% na incidência anual de mortes por suicídio em todo o mundo, sendo que o número de vidas perdidas desta forma, a cada ano, ultrapassa o número de mortes decorrentes de homicídio e guerra combinados. Além disso, cada suicídio tem um sério impacto na vida de pelo menos outras seis pessoas. O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios. Em 2012 foram registradas 11.821 mortes, cerca de 30 por. dia FATORES DE RISCO Os dois principais fatores de risco são: • Tentativa prévia de suicídio: É o fator preditivo isolado mais importante. Pacientes que tentaram suicídio previamente têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar suicídio novamente. Estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já haviam tentado previamente. • Doença mental: Sabemos que quase todos os suicidas tinham uma doença mental, muitas vezes não diagnosticada, frequentemente não tratada ou não tratada de forma adequada. Os transtornos psiquiátricos mais comuns incluem depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras drogas e transtornos de personalidade e esquizofrenia. Pacientes com múltiplas comorbidades psiquiátricas têm um risco aumentado, ou seja, quanto mais diagnósticos, maior o risco. • Desesperança, desespero, desamparo e impulsividade: Sentimentos de desesperança, desamparo e desespero são fortemente associados ao suicídio. Impulsividade, principalmente entre jovense adolescentes, figura como importante fator de risco. • Idade: O suicídio em jovens aumentou em todo o mundo nas últimas décadas e também no Brasil, representando a terceira principal causa de morte nessa faixa etária no país. Os comportamentos suicidas entre jovens e adolescentes envolvem motivações complexas, incluindo humor depressivo, abuso de substâncias, problemas emocionais, familiares e sociais, história familiar de transtorno psiquiátrico, rejeição familiar, negligência, além de abuso físico e sexual na infância. O suicídio também é elevado entre os idosos, devido a fatores como: perda de parentes, sobretudo do cônjuge; solidão; existência de enfermidades degenerativas e dolorosas. • Gênero: Os óbitos por suicídio são em torno de três vezes maiores entre os homens do que entre mulheres. Inversamente, as tentativas de suicídio são, em média, três vezes mais frequentes entre as mulheres. • Doenças clínicas não psiquiátricas: As taxas de suicídio são maiores em pacientes com câncer; HIV; doenças neurológicas, como esclerose múltipla, doença de Parkinson, doença de Huntington e epilepsia; doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico; doença pulmonar obstrutiva crônica; além de doenças reumatológicas, como o lúpus eritematoso sistêmico • Eventos adversos na infância e na adolescência: Maus tratos, abuso físico e sexual, pais divorciados, transtorno psiquiátrico familiar, entre outros fatores, podem aumentar o risco de suicídio • História familiar e genética: O risco de suicídio aumenta entre aqueles com história familiar de suicídio ou de tentativa de suicídio. • Fatores sociais: O sociólogo Emile Durkheim assinalou. Quanto maiores os laços sociais em uma determinada comunidade, menores seriam as taxas de mortalidade por suicídio. Este conceito sociológico pode ser transposto para o nível individual: quanto menos laços sociais tem um indivíduo, maior o risco de suicídio. FATORES PROTETORES autoestima elevada; bom suporte familiar; laços sociais bem estabelecidos com família e amigos; religiosidade independente da afiliação religiosa e razão para viver; ausência de doença mental; estar empregado; ter crianças em casa; senso de responsabilidade com a família; gravidez desejada e planejada; capacidade de adaptação positiva; capacidade de resolução de problemas e relação terapêutica positiva, além de acesso a serviços e cuidados de saúde mental. Durante uma avaliação do risco de suicídio em um indivíduo, os fatores de proteção não devem ser usados para obscurecer aqueles fatores que identificam o risco de suicídio. AVALIAÇÃO E MANEJO DO PACIENTE O primeiro passo é a identificação dos indivíduos de risco por meio da avaliação clínica periódica, considerando que o risco pode mudar rapidamente. A OMS aponta três características psicopatológicas comuns no estado mental dos suicidas. São elas: 1. Ambivalência: o desejo de viver e de morrer se confundem no sujeito. Há urgência em sair da dor e do sofrimento com a morte, entretanto há o desejo de sobreviver a esta tormenta. Muitos não aspiravam realmente morrer, apenas queriam sair do sentimento momentâneo de infelicidade, acabar com a dor, fugir dos problemas, encontrar descanso ou final mais rápido para seus sofrimentos. Se for dado oportunamente o apoio emocional necessário para reforçar o desejo de viver, logo a intenção e o risco de suicídio diminuirão. 2. Impulsividade: o suicídio, por mais planejado que seja, parte de um ato que é usualmente motivado por eventos negativos. O impulso para cometer suicídio é transitório e tem duração de alguns minutos ou horas. Pode ser desencadeado por eventos psicossociais negativos do dia a dia e por situações como: rejeição; recriminação; fracasso; falência; morte de ente querido; entre outros. Acolher a pessoa durante a crise com ajuda empática adequada pode interromper o impulso suicida do paciente. 3. Rigidez: quando uma pessoa decide terminar com a sua vida, os seus pensamentos, sentimentos e ações apresentam-se muito restritivos, ou seja, ela pensa constantemente sobre o suicídio e é incapaz de perceber outras maneiras de enfrentar ou de sair do problema. Estas pessoas pensam rígida e dramaticamente pela distorção que o sofrimento emocional impõe. Todo o comportamento está inflexível quanto à sua decisão: as ações estão direcionadas ao suicídio e a única saída possível que se apresenta é a morte; por isso é tão difícil encontrar, sozinho, alguma alternativa. Todas as avaliações devem incluir: a) Doença mental b) História pessoal e familiar de comportamento suicida c) Suicidabilidade d) Características de personalidade Resiliência e) Fatores estressores crônicos e recentes f) Fatores psicossociais e demográficos g) Presença de outras doenças COMO ABORDAR O PACIENTE? 1. Muitas vezes os pacientes com possível risco de suicídio chegam ao profissional de saúde da atenção primária com queixas diferentes daquelas que chegariam ao psiquiatra. O que os levam a buscar a consulta são, geralmente, queixas somáticas. É importante saber ouvir o paciente e entender suas motivações subjacentes. 2. Todo paciente que fala sobre suicídio tem risco em potencial e merece investigação e atenção especial. São fundamentais a escuta e o bom julgamento clínico. Não é verdade que “quem fala que vai se matar, não se mata”. Por impulsividade ou por erro de cálculo da tentativa, a fatalidade acontece. 3. O manejo se inicia durante a investigação do risco. A abordagem verbal pode ser tão ou mais importante que a medicação. Isso porque faz com que o paciente se sinta aliviado, acolhido e valorizado, fortalecendo a aliança terapêutica. 4. Identificação e tratamento prévio de transtorno psiquiátrico existente, como: depressão; transtorno afetivo bipolar; uso/abuso de álcool e outras drogas etc. 5. O profissional de saúde não deve ficar receoso de investigar se aquele paciente tem risco de suicídio. O tema deve ser abordado com cautela, de maneira gradual. Três delas para todos os pacientes: 1. Você tem planos para o futuro? A resposta do paciente com risco de suicídio é não. 2. A vida vale a pena ser vivida? A resposta do paciente com risco de suicídio novamente é não. 3. Se a morte viesse, ela seria bem-vinda? Desta vez a resposta será sim para aqueles que querem morrer. Se o paciente respondeu como foi referido acima, o profissional de saúde fará estas próximas perguntas: 4. Você está pensando em se machucar/se ferir/fazer mal a você/em morrer? 5. Você tem algum plano específico para morrer/se matar/tirar sua vida? 6. Você fez alguma tentativa de suicídio recentemente? Bibliografia básica: 1. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11ª.ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Capítulo 8 (Transtornos Depressivos e Distimia). 2. Suicídio: informando para prevenir. Brasília: Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 2014, disponível em https://www.abp.org.br/cartilha-combate-suicidio.
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