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A tuberculose é uma doença granulo- matosa crônica contagiosa, causada pelo Mycobacterium tuberculosis. É uma doença infectocontagiosa, crônica, granulomatosa e necrosante causada pelo bacilo álcool- ácido-resistente (BAAR) Mycobacterium tu- berculosis ou por qualquer patógeno do complexo: Mycobacterium bovis, Mycobac- terium africanum, Mycobacterium canetti, Mycobacterium pinnipedi, Mycobaxterium microti e Mycobacterium caprae. No entanto, o patógeno principal é o M. tucerbulosis, também chamado de Ba- cilo de Koch (BK). A forma mais comum da doença é a forma pulmonar, mas acometi- mentos extrapulmonares também são fre- quentes e dignos de atenção da saúde pú- blica, como as formas pleural, ganglionar, mi- liar, osteomuscular, etc. Comumente, acomete os pulmões, mas pode afetar qualquer ór- gão ou tecido. Tipicamente, os centros dos granulomas tuberculosos são caracteriza- dos por necrose de caseificação. A história natural da tuberculose está estritamente ligada à resposta imunológica do hospedeiro, sendo 3 situações possíveis. • A resposta imune do hospedeiro elimi- nar o agente; • O sistema imune do hospedeiro não controlar a replicação do bacilo, causando a tuberculose; • O sistema imune do hospedeiro con- seguir conter o bacilo em granuloma, de forma latente. É um bacilo álcool-ácido-resistente, ou seja, retêm coloração mesmo com mistura de álcool e ácido, aeróbio, com parede ce- lular rica em lipídeos (como o ácido micó- lico), sua parede celular diminui sua perme- abilidade aos antibióticos e aumenta sua sobrevivência no interior de macrófagos, o que dificulta sua eliminação. É transmitido por via aérea de uma pessoa “bacilífera” com TB pulmonar ou laríngea, que elimina bacilos no ambiente e estes podem ficar sus- pensos em pequenas partículas no ar. O termo “bacilífero” se refere a uma pessoa com TB pulmonar ou laríngea e com amostra positiva no exame de escarro. Essa transmissão ocorre por via respiratória, por meio da inalação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro. As partículas me- nores de bacilos (núcleos de Wells) contêm um a dois bacilos que podem ficar suspen- sas no ar por horas, capazes de infectar ou- tros indivíduos. É por isso que, embora a tuberculose possa se apresentar de diversas formas, a forma pulmonar tem maior relevância no con- texto epidemiológico, por ser a que mais fre- quentemente torna o paciente capaz de transmitir o bacilo. A pessoa bacilífera pode infectar até 10 a 15 pessoas, em média, de uma comunidade no período de um ano. Inicialmente, o M. tuberculosis infecta o organismo e entra nos macrófagos pela fagocitose. A partir daí, ele inibe a matura- ção do fagossomo e a formação do fagoli- sossoma, permitindo sua multiplicação den- tro desta célula incontroladamente, prote- gida da ação dos lisossomos. Logo, a infecção primária ocorre ao primeiro contato com o bacilo de Koch, ha- vendo uma reação do sistema imunológico do indivíduo, particularmente por meio da fagocitose, como forma de controlar a infec- ção. No entanto, a bactéria é extremamente resistente ao fagossomo e inibe sua matura- ção, impedindo sua destruição e ficando em sua forma latente. Assim, durante essa infecção primária, ocorre grande disseminação do bacilo pelo corpo de forma oculta. A infecção pelo M. tuberculosis cursa em etapas, desde a infec- ção inicial, com ataque aos macrófagos, à ativação de células Th1. Essas células T tanto controlam a infecção ao hospedeiro, como também são causa do dano causado pela doença, gerando granuloma e cavita- ção. Há então posterior ativação dos re- ceptores da imunidade inata, iniciando e aumentando este tipo de resposta ao ba- cilo. Uma resposta Th1 é montada após 3 semanas, e essa resposta Th1 irá produzir o IFN-gama. Este, por sua vez, através de um conjunto de processos, estimula a destruição do macrófago infectado, destruindo orga- nelas danificadas e patógenos intracelula- res, como o M. tuberculosis. Porém, essa mesma resposta Th1 que estimula os macró- fagos e destrói micobactérias, gera a forma- ção de granuloma e necrose caseosa. Estes macrófagos, incentivados pelo IFN-gama, se diferenciam em “histiócitos epitelioides”, que se agregam a formam granulomas. Na maioria dos indivíduos, essa res- posta acontece antes que a destruição te- cidual provoque danos maiores. Em outros, a infecção progride, e a resposta contínua gera focos necróticos. Os macrófagos ati- vados também secretam TNF e quimiocinas, que atraem monócitos. A grande maioria dos indivíduos imu- nocompetentes irá passar por essa primeira infecção sem desenvolvimento da forma ativa da doença - apenas 2% a 5% destes irá desenvolver essa forma nos primeiros dois anos do contato com o bacilo. Duas a treze semanas após a infecção primária, a imuni- dade adaptativa específica consegue con- trolar a replicação bacteriana. Após a in- fecção primária, 95% dos indivíduos entra- rão em estado de latência, que é mantida pelo sistema imunológico ativo e compe- tente - a evidência disso ocorre na reativa- ção da tuberculose em momentos de imuno- depressão. A ativação tardia, ou reativa- ção, pode ocorrer em condições imunossu- pressoras, com o desenvolvimento de comor- bidades ou até mesmo sem causa aparente. Essa reativação da doença em hospedeiro com imunidade pré-existente gera resposta inflamatória intensa, com formação de gra- nulomas caseosos e caso o pulmão esteja envolvido – de cavitação pulmonar. E de fato: a forma mais predominante da doença é justamente e tuberculose pulmonar. Logo, ocorre uma resposta imune ativa, porém diminuída, concomitante à re- plicação do bacilo. Devido à inflamação gerada nesse processo, há apoptose in- tensa, depletando as células T ativas contra o patógeno. A patogenia da tuberculose nas pessoas imunocompetentes e não ex- postas está relacionada com o desenvolvi- mento de imunidade mediada por células que confere resistência ao organismo e re- sulta no desenvolvimento de hipersensibili- dade tecidual aos antígenos tuberculares. As características patológicas da tubercu- lose, como os granulomas caseosos e as ca- vitações, são resultantes da hipersensibili- dade destrutiva tecidual que faz parte da resposta imune parcial do hospedeiro. Uma vez que as células efetoras de ambos os processos são as mesmas, o processo tam- bém sinaliza a aquisição de imunidade pelo hospedeiro. Uma vez que uma cepa virulenta de micobactéria ganha acesso aos endosso- mos dos macrófagos, o microrganismo é ca- paz de inibir as respostas microbicidas nor- mais, prevenindo a fusão dos lisossomos com os vacúolos fagocíticos. A prevenção da formação dos fagossomos permite a prolife- ração micobacteriana não controlada. Portanto, a fase mais precoce da tu- berculose (primeiras três semanas) no paci- ente não sensibilizado é caracterizada por proliferação bacilar no interior dos macró- fagos alveolares e espaços aéreos com bacteremia e nidação de múltiplos locais. Apesar da bacteremia, a maioria das pes- soas nessa fase é assintomática ou apre- senta doença similar a uma gripe discreta. O perfil genético do paciente pode influenciar a evolução da doença. Em algu- mas pessoas com polimorfismo do gene NRAMP1, a doença pode progredir desse ponto sem, no entanto, uma resposta imune efetiva. O NRAMP1 é uma proteína transpor- tadora de íon transmembrana encontrada em endossomos e lisossomos que, acredita- se, contribua para o efeito microbicida. O desenvolvimento de imunidade me- diada por células ocorre aproximadamente 3 semanas após a exposição. Os antígenos micobacterianos processados alcançam os linfonodos de drenagem e são apresenta- dos a linfócitos T CD4 pelas células dendrí- ticas e macrófagos. Linfócitos T CD4+ do subtipo TH1 capazes de secretar IFN-g são gerados sob influência da IL-12 secretada de macrófagos. O IFN-g liberado pelos linfócitos T CD4+ do subtipo TH1 é crucial na ativação de macrófagos. Os macrófagosativados, por sua vez, liberam uma variedade de me- diadores e superexpressam genes com im- portantes efeitos inibitórios, incluindo (1) TNF, que é responsável pelo recrutamento de mo- nócitos que sofrem ativação e diferencia- ção em “histiócitos epitelioides” que carac- terizam a resposta granulomatosa; (2) ex- pressão do gene de óxido nítrico sintetase induzível (iNOS), que eleva os níveis de óxido nítrico e a atividade antibacteriana no local da infecção; (3) geração de espé- cies reativas de oxigênio que podem ter ati- vidade antibacteriana. Lembre que o óxido nítrico é um potente agente oxidante que resulta na geração de intermediários reati- vos do nitrogênio e outros radicais livres ca- pazes de destruição oxidativa de diversos constituintes micobacterianos compreendi- dos entre a parede celular até o DNA. Defeitos em qualquer um dos passos da resposta TH1 (incluindo IL-12, IFN-g, TNF ou a produção de óxido nítrico) resultam em granulomas pobremente formados, ausência de resistência e progressão da doença. Pes- soas com mutações herdadas em qualquer componente da via TH1 são extremamente suscetíveis a infecções por micobactéria. Em resumo, a imunidade à infecção tu- berculosa é primariamente mediada por cé- lulas TH1 que estimulam a atividade bacte- ricida dos macrófagos. A resposta imune, se amplamente efetiva, apresenta um ônus adi- cional relacionado com a hipersensibilidade e com a destruição tecidual. Reativação da infecção ou reexposição ao bacilo em hos- pedeiro previamente sensibilizado resulta em mobilização rápida da reação defensiva, porém também aumenta a necrose tecidual. Assim como a hipersensibilidade e a resistência aparecem em paralelo, a perda da hipersensibilidade (indicada pela nega- tividade à tuberculina em paciente turbecu- lina-positivo) pode constituir um sinal omi- noso do enfraquecimento da resistência ao microrganismo. A forma extra-pulmonar da tubercu- lose pode envolver qualquer órgão. A per- sistência desse patógeno em áreas bem oxi- genadas, como o córtex renal e corpos ver- tebrais, pode explicar, em parte, a reativa- ção da tuberculose nessas localidades – já que trata de uma bactéria aeróbia. Tais for- mas extra-pulmonares apresentam, geral- mente, uma patogênese em comum: • secreção de um foco tuberculoso contí- guo em cavidade serosa, podendo esse foco ser de longa duração ou ter surgido recentemente na infecção primária. TUBERCULOSE PRIMÁRIA A tuberculose primária é uma forma de doença que se desenvolve em pacientes não expostos e, portanto, não sensibilizados. Pessoas idosas e pacientes profundamente imunossuprimidos podem perder a sensibili- dade ao bacilo da tuberculose e desenvol- ver tuberculose primária mais de uma vez. Cerca de 5% desses pacientes novamente infectados adquirem doença siginificativa. As principais consequências da tu- berculose primária (1) estão relacionadas com a indução de hipersensibilidade e au- mento da resistência; (2) os focos de cica- trização podem portar bacilos viáveis por anos, talvez por toda a vida, e portanto constituir o ninho para a reativação poste- rior em condições de comprometimento da função imune do hospedeiro; e (3) incomu- mente, pode levar à tuberculose primária progressiva. Essa complicação ocorre em pacientes imunocomprometidos ou com dimi- nuição inespecífica das defesas do hospe- deiro, como a má nutrição em crianças e a idade em idosos. Certos grupos raciais, como os inuítes, também são mais propensos ao desenvolvimento de tuberculose primária progressiva. A incidência de tuberculose pri- mária progressiva é particularmente alta em pacientes HIV-positivos com grau avançado de imunossupressão (isto é, contagem de lin- fócitos T CD4+ abaixo de 200 células/mL). A imunossupressão resulta em inabili- dade de montar uma reação imunológica mediada por linfócitos T CD4+ capaz de conter o foco primário; uma vez que a hiper- sensibilidade e a resistência são quase sem- pre fatores concomitantes, a ausência de re- ação de hipersensibilidade tecidual resulta na ausência dos granulomas caseosos ca- racterísticos (tuberculose não reativa). TUBERCULOSE SECUNDÁRIA É um padrão de doença que surge em hospedeiros previamente sensibilizados. A tuberculose secundária pode surgir logo após a primária, porém, mais comumente, surge da reativação de lesões primárias dormentes muitas décadas após a infecção inicial, particularmente quando há queda na resistência do hospedeiro. Também pode surgir após a reinfec- ção exógena devido à queda na proteção proporcionada pela doença primária ou devido à inoculação de um grande inóculo de bacilos virulentos. Independentemente da origem do microrganismo, poucos paci- entes (menos de 5%) com a doença primária desenvolvem tuberculose secundária subse- quente. Classicamente, a tuberculose pulmo- nar secundária localiza-se no ápice de um ou ambos os lobos superiores. A razão é obscura, porém pode estar relacionada com a alta pressão parcial de oxigênio nos ápi- ces. O bacilo incita uma resposta tecidual rápida e marcada que tende a não se res- tringir ao foco. Como resultado dessa loca- lização, os linfonodos regionais apresentam envolvimento menor nos estágios iniciais da doença quando comparada à tuberculose primária. Por outro lado, a ocorrência de cavi- tação na forma secundária é rápida, indu- zindo à erosão das vias aéreas e dissemina- ção aerógena. Tais alterações tornam-se uma importante fonte de infecção, uma vez que agora o paciente produz esputo com bacilos. A tuberculose secundária deve sem- pre ser uma importante consideração em pacientes HIV-positivos e que apresentem doença pulmonar. É importante destacar que, embora exista um risco aumentado de tuberculose em todos os estágios da AIDS, as manifestações estão relacionadas com o grau de imunossupressão. A tuberculose secundária localizada pode ser assintomática. Quando as manifes- tações aparecem, elas são geralmente insi- diosas no começo, com desenvolvimento gradual de sinais e sintomas sistêmicos e lo- cais. Manifestações sistêmicas provavel- mente relacionadas com a liberação de ci- tocinas por macrófagos ativos (p. ex., TNF e IL-1) frequentemente aparecem cedo no curso da doença e incluem mal-estar, ano- rexia, perda de peso e febre. Comumente, ocorre febre de baixo grau. Com o envolvi- mento pulmonar progressivo, aumenta a quantidade de escarros, que inicialmente se apresenta mucoide e mais tarde purulento. Quando a cavitação está presente, o escarro contém bacilos tuberculosos. TUBERCULOSE PULMONAR A apresentação clínica da tubercu- lose depende do estágio no curso natural da doença (doença primária, pós-primária ou miliar), localização e imunidade do hos- pedeiro. Os sintomas clássicos de febre ves- pertina, tosse, sudorese noturna e emagreci- mento podem ocorrer em quaisquer das apresentações. A primária ocorre logo em seguida ao contato com o bacilo, sendo, portanto, mais comum em crianças. Febre baixa, sudorese noturna e inapetência são sintomas muito frequentes nessa forma. A TB pulmonar pós-primária são mais comuns em adolescentes e jovens adultos. A tosse seca ou produtiva é a principal ca- racterística. Além disso, se a tosse é produ- tiva, a expectoração pode se apresentar como mucoide ou purulenta, com ou sem sangue. Pode haver febre vespertina, que geralmente não ultrapassa os 38,5ºC e não é acompanhada de calafrios. Além disso, fá- cies de emagrecimento ou doença crônica podem estar presentes no exame físico e, à ausculta respiratória, podemos perceber di- minuição do murmúrio vesicular, sopro anfó- rico ou mesmo um exame físico normal. A TB miliar, por sua vez, se refere a um padrão específico de acometimento pulmo- nar, podendo ocorrer nas formas primária e secundária, sendo mais comum em pacientes imunossuprimidos. A apresentação clínica pode ser aguda ou subadguda, e sintomas como febre, astenia, emagrecimento,sudo- rese norturna e tosse ocorrem em até 80% dos casos. Ao exame físico, pode aparecer hepatomegalia (30%), acometimento do SNC (30%) e alterações cutâneas eritemato-pá- pulo-máculo-vesiculosas, mas este último sin- toma é menos comum. Nesses casos, radiografias do tórax mostram opacidades bilaterais múltiplas e pequenas, denominadas “infiltrados miliares”. TUBERCULOSE EXTRA-PULMONAR Aproximadamente 20% dos casos de tuberculose em paciente HIV-negativo são formas extra-pulmonares. Em áreas endêmi- cas, é mais comum ocorrer associadamente com a forma pulmonar e atinge mais crian- ças e jovens adultos. Em áreas não-endêmicas, ocorre de forma afetando mais idosos e representando reativação da doença. Os sinais e sintomas da tuberculose extra-pulmonar dependem do foco, órgão ou sistema atingido. BACTERIOLÓGICO O exame bacteriológico é de extrema importância tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento dos casos confirmados. Principais métodos utilizados em nosso país: – A pesquisa do BAAR (bacilo álcool-ácido- resistente), pelo método de Ziehl-Nielsen, é a técnica mais empregada em nosso meio. Executada corretamente, diagnostica de 60% a 80% dos casos de TC pulmonar em adultos - em crianças, a sensibilidade é di- minuída pela dificuldade em realizá-lo. A baciloscopia está indicada em: • Sintomático respiratório; • Caso de suspeita clínica ou radiológica de TB pulmonar; • Acompanhamento e controle de cura em casos confirmados; A baciloscopia de outros materiais tam- bém está indicada em suspeita de TB extra- pulmonar. Uma baciloscopia positiva e o quadro clínico de TB juntos fecham o diag- nóstico de tuberculose e autoriza início do tratamento. No entanto, a confirmação bacterioló- gica só ocorre com a cultura (padrão-ouro) e/ou testes moleculares. Indicado para o diagnóstico de tubercu- lose pulmonar e laríngea em adolescentes e adultos. Esse teste identifica o DNA dos ba- cilos do complexo M. tuberculosis pela téc- nica de PCR em tempo real e sua sensibili- dade é de 90% em adultos, sendo inclusive superior à baciloscopia. Também detecta resistência à rifampicina, um dos antibióticos usados no tratamento, com sensibilidade de 95% O exame está indicado em: • Diagnóstico de novos casos de TB pul- monar e laríngea em adolescentes e adultos; • Diagnóstico de formas extra-pulmonares em materiais validados (líquor, gânglios e outros); • Triagem de resistência à rifampicina em casos de retratamento ou com suspeita de falência ao tratamento. Amostras recomendadas para reali- zação do teste: escarro, escarro induzido, lavado broncoalveolar, lavado gástrico, lí- quor, gânglios linfáticos e outros tecidos. A cultura tem alta especificidade e sensibili- dade no diagnóstico. A identificação da espécie é feita por métodos bioquímicos e fenotípicos ou por meio de técnicas molecu- lares. Já os testes de sensibilidade identifi- cam possível resistência a algum dos anti- bióticos utilizados no tratamento. A cultura confirma o resultado de micobacteriose, sendo necessário teste adicional para iden- tificar o patógeno específico. RADIOLÓGICO Tuberculose primária: a presença do bacilo de Koch no parênquima pulmonar promove a formação de um processo infla- matório granulomatoso, que pode se mani- festar como uma opacidade (nódulo ou consolidação) chamada nódulo de Ghon ou nódulo primário no raio-x. Em adultos, isso ocorre mais nos lobos superiores. A partir disso, pode progredir para necrose caseosa e disseminação broncogênica. Cavidades, consolidações, massas, nódulos ou opaci- dades reticulo-nodulares podem ser as apresentações radiográficas da doença. A presença de bacilos ou de suas proteínas devido à disseminação ou con- tato anatômico pode acometer a pleura ou pericárdio, com derrame pleural - que pode ser visto no raio-x - e derrame pericárdico. Na TB miliar, opacidades difusas reticulo-mi- cronodulares no raio-x podem aparecer no parênquima pulmonar, devido à dissemina- ção hematogênica. Tuberculose pós-primária: as altera- ções são semelhantes à forma anterior, com predileção por lobos superiores e partes su- periores dos lobos inferiores. Nódulos, massas e cavitações podem aparecer com a con- fluência de granulomas múltiplos. Com a cura, essas cavidades cicatrizam e geram calcificações ou retrações do parênquima. As cavidades também podem perma- necer com as paredes mais finas, represen- tando sequela ou inatividade do processo específico. Em idosos e diabéticos, as cavi- tações tendem a aparecer relativamente com mais frequência em lobos inferiores. Isso pode dificultar a visualização. Em relação a pacientes imunossuprimidos por cortiço-es- teroides ou por deficiência da imunidade celular, consolidações difusas e padrão mi- liar são mais frequentes. Outros achados são o espessamento da parede brônquica e o aspecto de “árvore em brotamento”. HISTOPATOLÓGICO Formas pulmonares difusas e formas extrapulmonares podem requerer diagnós- tico histopatológico. Nesses casos, a identi- ficação de granuloma com necrose de ca- seificação é compatível com o diagnóstico de tuberculose. Se houver granuloma sem necrose, o diagnóstico deve ser bem pen- sado, considerando que outras patologias podem simular outras doenças granulomato- sas, como sarcoidose e silicose. A busca de bacilos nos fragmentos utilizados também é de utilidade. Em paci- entes muito imunocomprometidos, a identifi- cação do granuloma pode ser dificultada e, nesses casos, o achado de bacilos con- tribui fortemente para o diagnóstico. Como a certeza diagnóstica é dada pela cultura e posterior identificação da espécie, um ou dois fragmentos da biópsia devem, sempre que possível, ser armazenados e enviados para cultura. Os antibióticos utilizados no trata- mento da TB interferem na maquinaria enzi- mática ou bloqueiam a síntese de algum me- tabólito essencial à sobrevivência do ba- cilo. Os fármacos só atuam onde existe me- tabolismo, ou seja, onde a infecção está ativa, e não latente. Estes serão destruídos pelo sistema imunológico do indivíduo. O bacilo depende de oxigênio e seu metabolismo se intensifica a depender da quantidade do gás presente na região. Na cavitação pulmonar, existe abundância de oxigênio, pH neutro e substâncias nutritivas. Nessas regiões, há maior quantidade de ba- cilos e estes adquirem resistência mais facil- mente. Por outro lado, em granulomas, o oxi- gênio é mais escasso e, o pH, menos favorá- vel. Ali, o crescimento bacilar adquire um ca- ráter mais intermitente. Por fim, no interior dos macrófagos, há pouco oxigênio e o pH é ácido, além de haver os mecanismos de de- fesa do hospedeiro. Nesses locais, a multipli- cação é lenta e os bacilos são latentes. É por conta dessas populações que o trata- mento da tuberculose precisa ser bem longo. Existem duas fases no tratamento da tuberculose: a fase intensiva e a fase de ma- nutenção. A fase intensiva tem o objetivo de diminuir a população bacilar consideravel- mente, incluindo os resistentes. Já a fase de manutenção visa à eliminação de bacilos latentes ou persistentes e a diminuição da chance de recidiva. Esquema básico: para casos novos e retratamento – sendo este a recidiva após cura ou reingresso após abandono. Válido para todas as formas de tuberculose, em co- infectados por HIV ou não – com exceção da tuberculose meningoencefálica e osteo- muscular. Temos 4 fármacos principais - RIPE/ RHZE: rifampicina(R), isoniazida (I/H), pirazi- namida (P/Z) e etambutol (E). No esquema básico, faremos 2 meses de RIPE/RHZE e 4 meses de RI/ RH. A atuação dos medicamentos vai de- pender da localidade e do ambiente onde o bacilo se encontra. Naqueles bacilos in- tramacrofágicos, agem os medicamentos que melhor se difundem em pH ácido e meio intracelular: rifampicina, pirazinamida e etambutol. Em lesõs caseosas, rifampicina é o mais efetivo e, por fim, nas cavitações,a rifampicina, estreptomicina e isoniazida são mais efetivas devido ao pH do meio. KUMAR, Vianay, et al. Robbins, Patologia Básica. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. SanarFlix. Sanarflix.com.br. Disponível em: <https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala- aula/5daa0b7e132ed4001119e520/5daa0b7e132ed4001119e51f/docu- mento/5e5d55a6b25a92001c62e8da>. Acesso em: 25 Apr. 2021.
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