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DESCRIÇÃO Alfabetização e letramento no processo de educação bilíngue para crianças e adultos surdos e a experiência visual do surdo como artefato cultural. PROPÓSITO Compreender os pressupostos teóricos e metodológicos do letramento e da alfabetização de surdos no contexto bilíngue para desenvolver habilidades profissionais e educacionais no trabalho, levando em conta a cultura e a experiência visual dos surdos. PREPARAÇÃO Tenha à mão um dicionário de Linguística para consultar os termos específicos da área. Na internet, você pode acessar o Dicionário de Termos Linguísticos, hospedado no Portal da Língua Portuguesa. Também tenha um dicionário de Libras instalado em seu smartphone. Você pode utilizar o aplicativo gratuito Hand Talk, disponível na internet, para consultar os sinais aos quais nos referimos neste conteúdo. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o lugar da Libras e do Português no processo de educação bilíngue MÓDULO 2 Reconhecer os impactos da experiência visual na alfabetização e letramento de surdos INTRODUÇÃO Você já parou para pensar por que consideramos a Libras como primeira língua e o Português como segunda língua dos surdos? Já se perguntou como surdos são alfabetizados? Já pensou como é aprender o código escrito de uma língua da qual não temos acesso à oralidade? Para compreender essas questões, convidamos você a conhecer um pouco sobre a aquisição da linguagem de surdos e seus impactos no processo de alfabetização e letramento de pessoas surdas, levando em conta sua cultura e experiência visual. MÓDULO 1 Identificar o lugar da Libras e do Português no processo de educação bilíngue AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS Para compreendermos o processo de alfabetização e letramento dos surdos, precisamos entender que isso somente será possível a partir da aquisição da primeira língua, ou seja, da língua de sinais. Se perguntarmos a uma pessoa ouvinte como ela começou a falar, como aconteceu o processo de desenvolvimento da língua oral, ela, certamente, não saberá explicar, haja vista a naturalidade de como isso acontece na vida de uma criança. Nesse sentido, temos a primeira característica importante que diferencia o processo de aquisição de qualquer outra forma de aprendizado: a forma natural como acontece esse processo. Antes de continuarmos a falar sobre a aquisição da língua de sinais, precisamos distinguir as diferenças envolvidas no processo de aquisição e de aprendizagem. AQUISIÇÃO Ocorre de forma inconsciente, sem necessidade de uma instrução explícita, somente por meio de uma interação significativa com a língua alvo, uma comunicação natural. APRENDIZAGEM Acontece de forma consciente, por meio de um ensino formal, no qual as correções e o feedback são importantes para o aprendiz. Talvez você encontre outros materiais e textos que não apresentem essa distinção entre os dois processos, uma vez que há diferentes perspectivas teóricas que tratam do desenvolvimento da linguagem. No entanto, no que se refere aos surdos, há uma predominância em destacar como acontece a aquisição e o aprendizado de línguas, em razão das especificidades linguísticas desses sujeitos. Mas, como as crianças ouvintes começam a falar? O que é necessário para que isso aconteça? E ainda, o que as diferenciam de uma criança surda? Apesar de existirem no Brasil várias línguas, sejam elas as indígenas, de imigração ou de comunidades isoladas, o Português é a língua falada em grande parte do território brasileiro. Desse modo, as crianças ouvintes, a partir do contato com essa língua no contexto familiar, começam a adquiri-la, passando por estágios que vão desde o balbucio até a formação de frases completas. Um ponto a se destacar, no caso das crianças ouvintes, é que a língua compartilhada no ambiente é o Português e, no caso de não haver nenhum impeditivo cognitivo ou físico, a criança irá desenvolvê-la. Foto: Shutterstock.com NO CASO DA CRIANÇA SURDA, SERÁ QUE ELA CONSEGUE ADQUIRIR O PORTUGUÊS NATURALMENTE? RESPOSTA A resposta é não. Mesmo que essa língua seja a falada nos espaços onde a criança está inserida, o acesso às produções/falas não ocorrerá em razão da surdez. Logo, os surdos não desenvolverão de forma natural o Português em sua modalidade oral. javascript:void(0) O que poderá acontecer é um aprendizado da fala, o que chamamos de oralização, diante de técnicas específicas para isso. Nesse caso, conseguimos visualizar na prática a distinção entre aquisição e aprendizagem, com as crianças ouvintes adquirindo de forma inconsciente e natural a língua, o Português. Diferentemente dos surdos, que aprenderão por meio de instrução, de atividades de repetição, para conseguir oralizar o Português. Se a língua oral não é adquirida de forma natural pelo sujeito surdo, então, qual é a sua língua? A aquisição de uma língua pelo sujeito surdo ocorrerá por meio do contato com uma língua da modalidade visual/espacial, uma língua de sinais. Para isso, é preciso que a criança tenha acesso a essa língua desde os primeiros anos de vida, o que lhe possibilitará passar pelos mesmos estágios de aquisição da linguagem de uma criança ouvinte. Como vimos, o que determina a língua que uma criança vai falar/sinalizar são as produções que ela ouve/vê em sua volta, o que chamamos de input linguístico. É importante mencionar que, em uma perspectiva inatista de aquisição da linguagem, a criança diante de um input linguístico ativará a sua capacidade para a linguagem, independentemente do tipo de input, ou seja, mesmo diante de um input pobre, a criança pode desenvolver a linguagem. O que determina o não desenvolvimento de uma língua é a ausência do input, a falta de acesso à língua. ATENÇÃO Uma grande diferença das crianças surdas e ouvintes no desenvolvimento da linguagem é justamente a ausência/presença do input linguístico. Enquanto os ouvintes têm o seu primeiro contato com a língua no ambiente familiar, por meio de interações significativas com todos ao seu redor, as crianças surdas nascem, em sua maioria, em lares ouvintes, onde a língua de sinais não se faz presente. Em contrapartida, os que nascem em famílias de surdos e possuem acesso à língua de sinais, a adquirem de forma plena e passam por etapas de aquisição análogas às crianças ouvintes. Quadros e Cruz (2011, p. 16) apresentam as características principais nas produções das crianças surdas e ouvintes, mostrando as peculiaridades de cada fase e de cada língua, de acordo com a modalidade visual/espacial ou oral/auditiva. IDADE AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO Do 1º ao 3º mês Emissão de sons guturais. Sorriso social. Choro com intenção comunicativa. Emissão de vocalizações. Emissão de sons consonantais. Murmúrios. Emissão de produção manual. Do 4º ao 6º mês Início do balbucio: escuta e joga com seus próprios sons ou gestos e trata de imitar os sons ou a produção manual emitidos pelos outros. Do 7º ao 9º mês Enriquecimento da linguagem infantil. Aparecimento das primeiras sílabas orais ou manuais. Idade dos monossílabos (oral: “bo” pode significar consistentemente “bola” e a configuração de mão aberta no rosto pode significar, de forma consistente, mãe). Do 10º ao 12º mês Primeiras palavras em forma de sílabas duplas (mama-papa) e, de forma análoga, sinais repetidos, compreendendo a entonação e a expressão facial associada às frases que acompanham a fala ou a sinalização. Do 10º ao 18º mês Sabe algumas palavras. Compreende o significado de algumas frases habituais do seu entorno. Acompanha sua fala com gestos e expressões. Pode nomear imagens. Compreende e responde a instruções. Seu vocabulário compreende cerca de 50 palavras. Frases holofrásicas (uma palavra pode representar uma frase completa). Aos 2 anos Usa frases com mais de um elemento. Usa substantivos, verbos, adjetivos e pronomes. Primeiras combinações substantivo-verbo e substantivo-adjetivo. Uso frequente do “não”. Seu vocabulário varia de 50 a algumas centenas de palavras. Aos 3anos Linguagem compreensível para estranhos. Usa cláusulas. Começa a diferenciar tempos e modos verbais. Idade das “perguntas”. Usa artigos e pronomes. Inicia singular e plural. Há a chamada “explosão de vocabulário”, ou seja, a criança incorpora ao seu dicionário mental uma quantidade grande de palavras. Aos 4 anos Melhora a construção gramatical e a conjugação verbal tanto na língua falada como na língua de sinais. Usa elementos de ligação. Joga com palavras. Etapa do monólogo individual e coletivo (a criança conversa consigo mesma em sinais ou usando a fala). Aos 5 anos Progresso intelectual que conduz ao raciocínio. Compreende termos que estabelecem comparações. Compreende contrários. É capaz de estabelecer semelhanças e diferenças, noções espaciais etc. Construção gramatical equivalente ao padrão do adulto. A partir desta fase, incrementa o léxico e o grau de abstração. Uso social da linguagem Aos 6 anos Progressiva consolidação das noções corporal, espacial e temporal. Lectoescrita (Habilidade de ler e escrever.) . Aquisição dos últimos aspectos da linguagem, ou seja, construção de estruturas sintáticas mais complexas de forma progressiva. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Principais características nas produções das crianças surdas e ouvintes. Extraído de: Quadros e Cruz, 2011, p. 16. As características mencionadas por Quadros e Cruz (2011), nas diferentes faixas etárias, ocorrem dentro dos chamados estágios de aquisição da língua de sinais: Foto: Shutterstock.com PERÍODO PRÉ-LINGUÍSTICO São as primeiras produções da criança, denominadas de balbucio. Foto: Shutterstock.com ESTÁGIO DE UM SINAL Fase que começa entre os 12 meses e se encerra por volta dos 2 anos, sendo o período em que a criança começa a apontar, usar gestos e alguns sinais congelados. Foto: Shutterstock.com javascript:void(0) ESTÁGIO DAS PRIMEIRAS COMBINAÇÕES A partir dos 2 anos, as crianças começam a fazer as primeiras combinações de sinais. Foto: Shutterstock.com ESTÁGIO DAS MÚLTIPLAS COMBINAÇÕES Inicia no período dos 2 anos e 6 meses a 3 anos, no qual a criança começa a produzir muitos sinais com a chamada explosão de vocabulário. SINAIS CONGELADOS. Os sinais congelados referem-se ao uso de uma palavra para significar algo mais amplo. Por exemplo, a criança utiliza o sinal de “PASSEAR” para dizer “eu quero passear”, “papai saiu” e “eu quer sair” (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 19). Será que, além do input linguístico, há algum outro fator importante que influencie na aquisição da criança surda? ACESSO À LÍNGUA Como destacamos anteriormente, é fundamental que a criança tenha acesso à língua para conseguir passar pelas etapas de aquisição e possa, até os seis anos de idade, já ter adquirido a base linguística da sua primeira língua. DIAGNÓSTICO TARDIO Entretanto, o diagnóstico tardio ou a demora em buscar o contato com a língua podem ser decisivos para o desenvolvimento linguístico da criança surda. No Brasil, apesar do reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais como forma de comunicação e expressão da comunidade surda, a partir da Lei nº 10.436/2002, e dos avanços ocorridos desde então, no que se refere à consolidação do status linguístico dessa língua, do protagonismo surdo em diferentes espaços e implementação gradativa da formação de profissionais para atuarem na educação de surdos, ainda vivenciamos dificuldades em proporcionar o acesso à língua de sinais desde a mais tenra idade às crianças surdas. Em um levantamento realizado com 890 surdos brasileiros, Quadros et al. (2018) apontam que, embora o diagnóstico, em sua maioria, esteja ocorrendo antes dos quatro anos, 80% dos surdos adquirem a língua após a idade mencionada. Ainda destacam que essa aquisição ocorre com mais frequência dos cinco aos doze anos idade, sendo o contexto escolar o espaço de mais contato com a Libras. Diante disso, faz-se necessário mencionar que há vários ambientes de aquisição da língua de sinais, sendo os principais: o lar, a escola, os contextos religioso e clínico, as associações de surdos e os espaços de lazer. Levando em conta o papel da família na constituição do sujeito, precisamos ressaltar a importância do uso da língua de sinais por familiares ouvintes que possuem filhos surdos, a fim de garantir o desenvolvimento linguístico no período certo. Entretanto, há muito a avançar para que essa realidade seja vivenciada pela maioria das crianças surdas. Enquanto isso, os outros contextos que mencionamos acabam sendo os locais que proporcionam os primeiros contatos com a língua de sinais. Foto: Shutterstock.com Não é possível definir um único perfil ao caracterizar as crianças surdas, em razão da heterogeneidade desses sujeitos, marcada pelas especificidades de suas experiências. O que podemos afirmar é que a língua de sinais será a primeira língua desse sujeito, independentemente do momento e da idade em que esse contato aconteça. A língua de sinais, em sua modalidade espaço/visual, é o artefato linguístico da comunidade surda, a base para a construção do conhecimento, inclusive para o aprendizado de uma segunda língua. No entanto, o que queremos dizer ao destacar a importância da aquisição da língua de sinais para o aprendizado da segunda língua? Para definir isso, vamos problematizar alguns pontos em relação às crianças ouvintes e o português oral: As crianças ouvintes chegam à escola com algum conhecimento do Português, em sua modalidade oral? As crianças ouvintes, em seus primeiros anos de vida, experienciam momentos de práticas orais, como contação de histórias, brincadeiras com músicas, cantigas de rodas? As crianças ouvintes encontram no espaço escolar professores falantes da sua primeira língua preparados para o ensino da modalidade escrita do Português? A resposta é sim para todas as perguntas. Parece óbvio pensar nessas questões, uma vez que isso é comum para grande parte das crianças ouvintes. E as crianças surdas? Elas chegam à escola com conhecimento da sua primeira língua, a Libras? Elas, em seus primeiros anos de vida, experienciam momentos de práticas sinalizadas, como contação de histórias, brincadeiras, dramatizações? Elas encontram no espaço escolar professores que utilizam a sua primeira língua e que estão preparados para o ensino do Português escrito como segunda língua? Não temos uma única resposta, pois tudo depende do processo de aquisição da língua de sinais vivenciado por cada criança surda e do contexto de ensino e aprendizagem onde ela será inserida. Por esses motivos, precisamos pensar em aquisição para: entender o processo de apropriação do Português escrito pela criança surda, considerar as experiências que ela traz nessa língua e entender que o encantamento pelo mundo imaginário somente será proporcionado por meio da contação de histórias em Libras e que as interações cotidianas que constituem o conhecimento enciclopédico da criança somente acontecerão se for em língua de sinais. Essas questões representam a visualidade, as experiências visuais dos surdos e que, embora tenham como ponto de partida a língua de sinais, vão além disso. Skliar (2001 apud LEBEDEFF, 2017, p.13) problematiza essa discussão e diz que a experiência visual envolve os aspectos linguísticos e todo tipo de significações comunitárias e culturais, citando como exemplo que “os surdos utilizam apelidos ou nomes visuais; metáforas visuais; imagens visuais, humor visual; definição das marcas do tempo a partir de figuras visuais, entre tantas outras formas de significações”. São aspectos que diferenciam os ouvintes dos surdos e impactam diretamente na alfabetização e letramento das crianças surdas. A Literatura é uma ferramenta importantíssima para a construção da base linguística, além de possuir um papel fundamental na construção da subjetividade. Proporcionar que ela seja apresentada na primeira língua da criança é um direito fundamental. Para os surdos,a Literatura se constitui como uma das maiores representações da visualidade e da cultura surda, tanto pela forma como ela se manifesta em suas produções, pelo uso do corpo, da língua e das expressões faciais, quanto por aquilo que ela simboliza da história e das especificidades dos surdos. Foto: Shutterstock.com No entanto, por muito tempo, as produções literárias que se fizeram presentes no cotidiano das crianças surdas foram aquelas que traziam a perspectiva dos ouvintes, pois estes eram os autores e protagonistas das histórias. Entretanto, nos últimos anos, percebe-se um movimento da comunidade surda no que se refere ao registro e à disseminação das produções culturais dos surdos, motivado pela necessidade de constituir um acervo literário que possa ser uma referência, principalmente, para as crianças surdas. [...] UMA DAS JUSTIFICATIVAS PARA A REALIZAÇÃO DE PESQUISAS SOBRE AS PRODUÇÕES CULTURAIS EM COMUNIDADES SURDAS RELACIONA-SE À NECESSIDADE DE CONHECERMOS HISTÓRIAS EM LIBRAS, HISTÓRIAS CONTADAS POR SURDOS, SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS PENSADAS E VIVIDAS. (KARNOPP, 2013, p. 408) É a partir disso que se constitui a Literatura Surda, marcada pela cultura e língua da comunidade surda, a qual impacta diretamente o processo de aquisição da língua de sinais e, consequentemente, a alfabetização das crianças surdas. Mas, de que forma isso acontece? Lembra daqueles questionamentos anteriores sobre o conhecimento que as crianças trazem a partir da sua experiência oral, o que inclui as diferentes interações, as brincadeiras e também a contação de histórias? Muitas vezes, as crianças surdas são expostas às práticas pautadas na oralidade, na Língua Portuguesa, e deixam de ter acesso ao conhecimento necessário para o seu desenvolvimento linguístico e identitário. Por isso, a importância de se falar em exposição à língua de sinais e em Literatura Surda, pois somente dessa forma as crianças surdas vão deixar de estar em desvantagem quando iniciarem a escolarização e o aprendizado da modalidade escrita do Português. Perceba que essa construção do conhecimento com base na língua de sinais está diretamente relacionada ao sucesso no aprendizado de uma segunda língua. Os alunos que passam por esse processo de aquisição no período ideal (primeiros anos de vida), isto é, antes de entrar no ensino fundamental, possuem vantagens significativas se comparados aos surdos que chegam à escola sem conhecimento da língua de sinais. Além de trazer consigo experiências significativas em sua primeira língua, esses alunos dominam a estrutura de sua língua e a utilizam como referência no processo de apropriação da escrita, mesmo que seja em uma língua de outra modalidade. Eles tendem a ter um melhor desempenho na alfabetização e maior facilidade na compreensão leitora, haja vista a capacidade de ativar conhecimentos prévios com base em suas experiências, por trazer uma boa leitura de mundo. Considerando a aquisição da primeira língua e o aprendizado da segunda língua, devemos reconhecer que a aquisição tardia da língua de sinais afeta a capacidade de aprender outras línguas, pois a apropriação de uma segunda língua acontece com base nas experiências da primeira língua, na compreensão da estrutura linguística e narrativa, além da memorização, julgamento gramatical e compreensão leitora. Todas essas habilidades são fundamentais e servem como ponto de partida para a alfabetização das crianças surdas e ratificam a importância de pensar em proporcionar o desenvolvimento da língua de sinais no período ideal para que elas possam ter a primeira condição básica para aprender uma segunda língua, em sua modalidade escrita. Foto: Shutterstock.com RESUMINDO O aprendizado de uma segunda língua pressupõe a aquisição de uma primeira. Logo, só podemos falar de Português como segunda língua se considerarmos a Libras ou outra língua de sinais como primeira língua das crianças surdas. PORTUGUÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA PARA SURDOS Até aqui, discutimos sobre a importância da aquisição da língua de sinais desde a mais tenra idade e as suas implicações no processo de alfabetização das crianças surdas. Além disso, conhecemos a diferença entre o conceito de aquisição e aprendizado, em que um está relacionado ao desenvolvimento natural de uma língua e o outro ao aprender uma língua de forma consciente, por meio de instrução. Assim, concluímos que o Português para o surdo se dará por meio de um processo de aprendizagem, por meio de estratégias e metodologias voltadas para o aprendizado da modalidade oral ou escrita dessa língua. Mesmo não sendo o foco da nossa discussão e também das práticas voltadas para o ensino de segunda língua para surdos, precisamos ressaltar que o sujeito surdo tem o direito de optar ou não pelo aprendizado da modalidade oral do Português. A incumbência da escola é a responsabilidade de oferecer o ensino do Português escrito como segunda língua a partir de metodologias que promovam a língua de sinais como primeira língua. Foto: Shutterstock.com Você talvez esteja se perguntando o porquê de o Português ser caracterizado como uma segunda língua para os surdos, uma vez que eles são brasileiros e vivem em uma sociedade onde essa língua é usada majoritariamente por boa parte da população. No entanto, essa definição está ligada aos significados das línguas para os surdos e à forma como elas se fazem presentes em seu cotidiano. ATENÇÃO Lembremos que uma segunda língua é aquela que é ensinada e utilizada em um processo de socialização, a partir da necessidade de uma comunicação; e a primeira língua, independentemente da ordem da aquisição, é aquela que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da criança, por cumprir as funções essenciais cognitiva, emotiva e social. Desse modo, o Português é considerado uma segunda língua para surdos, sendo fundamental para as relações entre a comunidade surda e os ouvintes, além de ser uma forma de possibilitar aos surdos acesso pleno às informações que circulam nessa língua em nossa sociedade. Ao falar do aprendizado da segunda língua para os surdos, vamos focar na escrita do Português. Sabemos que, mesmo para os ouvintes, diferentemente da aquisição oral, a escrita de uma língua requer ensino formal, pois escrever exige um aprendizado, não se dá de forma natural, embora muitos surdos acreditem que todos os ouvintes escrevam bem por serem falantes do Português, o que não é uma verdade. Assim como alguns surdos acreditam em tal fato, também é comum identificarmos entre os ouvintes a visão de que há uma escrita de surdo, o que também não é uma verdade. Em muitos momentos, o primeiro contato com o texto escrito por um surdo desperta estranhamento, por apresentar características diferentes das produções escritas de ouvintes que aprendem o Português como primeira língua. No entanto, é muito comum encontrarmos nos textos dos estrangeiros, aprendizes de Português como segunda língua, marcas que se assemelham às produções dos surdos. Foto: Shutterstock.com A seguir, escolhemos alguns textos produzidos por aprendizes de Português como segunda língua para que você consiga perceber essas especificidades (SALLES et al., 2004): Imagem: Shutterstock.com TEXTO 1 a. Eu tomo banho e coloco roupa. Eu ligo máquina de lavar. Eu como café da manhã. Eu como almoço. Eu faço lanche por meus filhos. Eu dormo às 22:00. b. Português é muito difícil para mim. De gramática de português confunde me. c. Eu moro em Brasília, até hoje é 2 mêses. Dos brasilienses estão pessoas feliz. Eu tenho os amigos brasilienses. Eles são pessoas boa. Eles ajudam para mim. Eu gosto morar aqui, mas tenho problema com falando. Falar português é difícil. Eu estu do todos os dias. Eu gosto da comida aqui. Eles comem muito feijoas e churrasco é muito bem. Eu escrevo mais. Tchau. Imagem: Shutterstock.com TEXTO 2 a. Entender um texto escrito em português é não fácil, mas não demais para mim. (...) minha português émais pobre (...) b. Eu vou à loja da internet para receber passar e-mail mensagens. Imagem: Shutterstock.com TEXTO 3 (...) eu tenho muitas saudades para ele. Si eu estou na minha casa de novo, eu vou trabalhar muito e depois eu tenho dinheiro para comprar um ticket para Alexandre e ele pode visitar mim a janeiro au próximo ano. Você acha que uma boa idea? Dos textos apresentados, há algum que você acredita que tenha sido escrito por um surdo? Você consegue identificar alguma forma de registro que já tenha visto em algum texto escrito por surdo? Apesar dos textos possuírem características semelhantes aos escritos pelos surdos aprendizes do Português como segunda língua, como a omissão de artigos, o uso inadequado das preposições, uso de frases curtas, todos eles foram produzidos por ouvintes estrangeiros. De acordo com Salles et al. (2004, p. 120), os textos 1 (a, b, c) foram escritos por falantes do tailandês L1 e inglês L2; os textos 2 (a, b) por um falante de holandês L1 e inglês L2; e o texto 3, por um falante de holandês L1, francês e inglês L2 Mesmo diante de um grupo de estrangeiros tão heterogêneo, que possuem conhecimentos em línguas variadas, é possível identificar as tentativas em produzir um texto mais aproximado o possível da língua- alvo. No entanto, percebemos que são textos que apresentam produções que não estão de acordo com o português padrão, inclusive com expressões escritas não comuns nos registros dos falantes de Português como L1. É comum que as pessoas passem por isso no aprendizado de uma segunda língua, pois buscarão articular as propriedades da língua-nativa e da língua-alvo para originar o que chamamos de interlíngua (SALLES et al.,2004). javascript:void(0) Diante disso, é possível perceber que as produções escritas por um surdo se assemelham muito às de outras pessoas que estão aprendendo o Português como língua estrangeira, sejam elas pessoas surdas ou ouvintes. Vajamos alguns exemplos de textos de alunos surdos (BROCHADO, 2003): INTERLÍNGUA O termo interlíngua (IL) foi criado pelo linguista norte-americano Larry Selinker no ano de 1972. O referido autor define IL como um sistema linguístico, no qual o aprendiz de segunda língua produz enunciados que apresentam características da sua primeira língua e tentativas de produções da língua-alvo. TEXTO 1 Amanhã sexta- feira Nós vamos brincar de várias brincadeiras exemplo = futebol, volei, corda, desenho e etc porque a Mari falou que pode todo mês e do ultima a sexta-feira. Vai a 1º , 2º , 3º B, 4º A e 4º B. (4) Nós vamos 4:00 até 5:30. TEXTO 2 Mamãe, eu vontade comprar presente varias roupas, sapatos, calcas para te dar junto com o Bruno. Feliz dia das mães. Obrigado carinho mim. Beijos se filho fel. TEXTO 3 A mamãe eu gosta muito você. Eu quero comprar uma blusa de frio para voce. Mamãe obrigado pelo carinho. Assim como nos textos escritos pelos estrangeiros, podemos identificar nas produções dos surdos algumas características como: inconsistência no uso das preposições, o uso inadequado de pronomes e frases mais curtas. Brochado (2003), a partir da análise dos textos escritos por surdos, identificou diferentes estágios de interlíngua e os agrupou em três estágios. Em cada um deles, a autora destaca quais os processos envolvidos e as características na produção escrita. ESTÁGIO INTERLÍNGUA I Brochado (2003) menciona a predominância das estratégias de transferência da língua de sinais para a escrita do Português e destaca como principais especificidades: o uso de frases sintéticas, construções frasais muito semelhantes à Libras; predomínio das palavras de conteúdo (substantivos, adjetivos, verbos); falta ou inadequação de artigos, preposições e conjunções; uso de verbos, em sua maioria, no infinitivo e emprego raro de verbos de ligação, dentre outras ocorrências. ESTÁGIO INTERLÍNGUA II Brochado (2003) destaca a utilização de elementos das duas línguas, sendo possível observar emprego da estrutura linguística da Libras e do Português. Dentre as características mencionadas pela autora, destacam-se: o uso intenso de elementos das duas línguas; oscilação quanto à estrutura frasal, em momentos com estrutura do Português e em outros da Libras; utilização de verbos no infinitivo e também flexionados, e uso inconsistente de elementos funcionais. ESTÁGIO INTERLÍNGUA III Por fim, Brochado (2003) mostra que os textos escritos pelos surdos começam a apresentar um emprego maior da gramática do Português em todos os níveis, como a utilização de estruturas frasais na ordem direta dessa segunda língua; uso adequado dos artigos, preposições e conjunções; maior consistência nas flexões verbais e nominais, assim como maior uso de verbos de ligação. A partir dos exemplos que apresentamos, você consegue perceber que, assim como outras pessoas que estão aprendendo uma segunda língua, os surdos passam pelo mesmo processo de aprendizagem? A principal diferença realmente se dá pelo fato de terem a língua de sinais como primeira língua, a qual possui uma modalidade diferente, a visual/espacial. Além disso, o aprendizado do Português é voltado principalmente à escrita, o que reforça a necessidade de a língua de sinais ser a forma de mediação para a construção desse conhecimento. Diante disso, precisamos pensar em metodologias voltadas para o ensino de segunda língua que contemplem as especificidades envolvidas na apropriação do Português escrito, para que os surdos consigam avançar nos estágios de interlíngua e fazer uso dessa língua de forma plena. Infelizmente, essa não é a realidade vivenciada pela maioria dos aprendizes surdos, especialmente em razão do contexto escolar no qual estão inseridos, o qual pode ser na perspectiva inclusiva ou bilíngue. Entenda as diferenças entre os seguintes contextos escolares: CONTEXTO INCLUSIVO O aluno surdo está inserido em uma turma de ouvintes, falantes do Português como primeira língua. O professor, normalmente, prepara as suas aulas para o ensino de Português como L1, isto é, parte do pressuposto de que todos os que estão naquele espaço trazem conhecimentos decorrentes da experiência oral. Certamente, são aulas baseadas majoritariamente numa metodologia para o ensino de primeira língua, com o uso do Português oral como língua de instrução. Para os surdos, garante-se a comunicação com a presença do tradutor intérprete de Libras em sala de aula. CONTEXTO DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE Os surdos estudam com outros alunos surdos, usuários da língua de sinais como primeira língua. O professor, preferencialmente, possui conhecimento acerca da L1 dos alunos e prepara suas aulas de Português na perspectiva de uma segunda língua, explorando conhecimentos linguísticos e culturais trazidos pelos alunos, além de proporcionar momentos de reflexão intensa entre as duas línguas. É nesse espaço que poderão ser explorados os aspectos inerentes a cada língua, por meio de um ensino baseado também em uma Linguística Contrastiva. SAIBA MAIS De acordo com Quadros (1997, p. 101), “a Linguística Contrastiva ― LC ― é uma forma de trabalhar com o conhecimento explícito no conhecimento da L2. Envolve a comparação entre duas ou mais línguas quanto aos níveis fonológico, semântico/ pragmático, morfológico e sintático”. Embora seja constante a relação entre o Português e a Libras desde os primeiros registros escritos da criança surda, sugerimos que a prática baseada em uma análise contrastiva das duas línguas seja utilizada principalmente com adolescentes e adultos surdos, por possuírem uma maior consciência das diferenças linguísticas das duas línguas. Quadros (1997) apresenta alguns exemplos que nos permitem visualizar como pode ser feita a análise contrastiva entre a Libras e o Português no nível sintático: PORTUGUÊS LIBRAS (1) O homem caminhou em cima do teto e caiu. (2) João convida Maria para a festa. (1) TETO HOMEM CAMINHOU CAIU (2) Verbos com concordância em que o ponto inicial é o sujeito e o ponto final é o objetoda oração. Dar/Dizer/Convidar. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Diferenças sintáticas entre Libras e Português. Extraído de: Quadros, 1997, p. 104. Ter consciência dos aspectos linguísticos que envolvem as duas línguas é uma das formas de desenvolver a competência comunicativa em uma segunda língua, mas não se restringe a isso. Reconhecemos a importância dos conhecimentos lexicais, fonológicos e sintáticos do Português e também da Libras no processo de apropriação da escrita, mas ressaltamos que o aprendizado de uma língua vai além disso e inclui o desenvolvimento de conhecimentos sociolinguísticos e pragmáticos, que são construídos, sobretudo, em contextos reais de uso da língua em práticas sociais e culturais que envolvem a leitura e a escrita. LIBRAS E PORTUGUÊS NA EDUCAÇÃO BILÍNGUE Confira o resumo do primeiro módulo com explicação e exemplificação dos principais pontos ou conceitos. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A LIBRAS E A LÍNGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS, TENDO EM VISTA QUE PESSOAS SURDAS SE CONSTITUEM COMO SUJEITOS BILÍNGUES. A PARTIR DESSA PERSPECTIVA E DO PAPEL DAS DUAS LÍNGUAS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) O Português e a Libras devem ser ensinados na escola para os surdos com metodologias de primeira língua. B) O Português escrito deve ser ensinado na escola com metodologias de primeira língua e a Libras é opcional. C) A Libras é considerada como primeira língua dos surdos e o português escrito deve ser ensinado na escola com metodologias de segunda língua. D) A Libras e o Português escrito devem ser ensinados na escola com metodologias de segunda língua, já que os surdos aprendem essas línguas no ambiente escolar. E) O ensino de Libras é necessário na escola, mas o aprendizado de Português é desnecessário por ser uma língua oral. 2. A CRIANÇA SURDA PASSA POR DOIS DIFERENTES PROCESSOS NO DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO DA PRIMEIRA E SEGUNDA LÍNGUAS. CADA UM DELES É MARCADO POR CARACTERÍSTICAS DISTINTAS, SENDO A AQUISIÇÃO ALGO QUE OCORRE DE FORMA NATURAL, INCONSCIENTE E SEM NECESSIDADE DE INSTRUÇÃO, ENQUANTO A APRENDIZAGEM ACARRETA A NECESSIDADE DE UM ENSINO FORMAL. NESSE SENTIDO, QUAL AFIRMATIVA CONTRARIA OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS APRESENTADOS AQUI SOBRE AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM ENVOLVENDO LIBRAS E UMA LÍNGUA ORAL? A) Para a criança surda, o Português (oral ou escrito) sempre ocorrerá por meio de uma instrução, ou seja, por meio de um processo de aprendizagem. B) Mesmo que o contato com a Língua Brasileira de Sinais ocorra tardiamente, a criança surda, se tiver contato com essa língua, passará por um processo de aquisição. C) A Língua Brasileira de Sinais e o Português oral são adquiridos pela criança surda de forma natural, caracterizando-se como um processo de aquisição. D) O Português escrito exige metodologias para o ensino de segunda língua, por meio de um ensino formal a partir da língua de sinais. E) Aquisição e aprendizagem são conceitos distintos desde uma perspectiva linguística em relação às línguas naturais. GABARITO 1. Estudamos sobre a relação entre a Libras e a língua portuguesa na educação de surdos, tendo em vista que pessoas surdas se constituem como sujeitos bilíngues. A partir dessa perspectiva e do papel das duas línguas no processo de ensino aprendizagem, é correto afirmar que: A alternativa "C " está correta. Na perspectiva de que surdos são sujeitos bilíngues, a Libras sempre será sua primeira língua, ou língua materna, e o português escrito sua segunda língua, já que não possuem o retorno auditivo necessário para adquirir essa língua de forma natural. Assim, no contexto escolar, a perspectiva metodológica do ensino de Libras deve levar em conta abordagens linguísticas de primeira língua dos surdos. A perspectiva metodológica do ensino do português escrito, por sua vez, deve considerar metodologias de segunda língua, mas sem ignorar as experiências do aluno surdo com a língua de sinais. 2. A criança surda passa por dois diferentes processos no desenvolvimento linguístico da primeira e segunda línguas. Cada um deles é marcado por características distintas, sendo a aquisição algo que ocorre de forma natural, inconsciente e sem necessidade de instrução, enquanto a aprendizagem acarreta a necessidade de um ensino formal. Nesse sentido, qual afirmativa contraria os estudos linguísticos apresentados aqui sobre aquisição e aprendizagem envolvendo Libras e uma língua oral? A alternativa "C " está correta. Para os surdos, o processo de aquisição somente acontecerá quando eles tiverem contato com uma língua de sinais. A partir do acesso à Libras, as crianças surdas desenvolvem a sua primeira língua, de forma natural, passando por todos os estágios de aquisição da linguagem. O Português ocorrerá por meio de um processo de aprendizagem, seja a modalidade escrita ou modalidade oral. A oralização requer instrução explícita e treinamento, diferentemente do que acontece com os ouvintes. E a apropriação da escrita também requer um ensino formal, adequado às especificidades linguísticas dos surdos. MÓDULO 2 Reconhecer os impactos da experiência visual na alfabetização e letramento de surdos CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Os estudos surdos, desde os anos 1990, vêm trazendo nova perspectiva à educação de surdos, na medida em que as práticas pedagógicas desde então passam a considerar como ponto de partida a cultura e a identidade surdas e a condição dos surdos como sujeitos bilíngues, que têm a Libras como primeira língua e o Português escrito como segunda língua. Nesse sentido, pensar a alfabetização e o letramento de surdos é pensar também no papel que a Libras e a cultura surda, esta predominantemente visual, desempenham na apropriação do português escrito como segunda língua. Para início de conversa, precisamos entender as bases dos conceitos de alfabetização e de letramento, para, então, discutirmos o letramento visual para surdos. O conceito de alfabetização pode ser definido como um processo envolvendo a codificação e a decodificação de sinais linguísticos, os quais são combinados de modo a formar palavras e frases. Sabe-se que a alfabetização, em um nível mais simplificado, envolve habilidades mecânicas que podem ser desenvolvidas por meio de diferentes técnicas, sendo considerado alfabetizado quem domina tais habilidades e, portanto, é capaz de ler e de escrever. Contudo, é preciso ter claro que o processo de alfabetização apresenta aspectos mais complexos que o simples codificar/decodificar sinais gráficos, se levarmos em conta os diferentes estágios que vão desde a representação do som em grafemas até níveis mais complexos como representar interlocutores ausentes no discurso. Perceba, portanto, que a alfabetização já é um processo por si mesmo complexo para aqueles que estão sendo alfabetizados na sua língua materna. O que diríamos então de alguém que precisa dominar o código escrito de uma língua que nunca ouviu e com a qual mantém uma relação de segunda língua, como é o caso dos surdos? Mas, por que os surdos precisam dominar o português escrito? A resposta para essa questão está no fato de vivermos em uma cultura grafocêntrica, ou seja, centrada na escrita e que supervaloriza a cultura dominante, a qual está atrelada à língua escrita. No senso comum, a nossa identidade linguística, que nos permite dizer que falamos português, está muito vinculada à modalidade escrita da língua e ao que aprendemos na escola, em vez de estar mais ligada à oralidade. Por isso, é muito comum dizer que fulano ou sicrano não sabe português porque não sabe ler ou escrever. Foto: Shutterstock.com Por outro lado, pense, por exemplo, em todo o material escrito que circula diariamente na sua vida, seja no papel ou no meio digital. Todo esse português escrito também circula na vida dos surdos brasileiros, e eles precisam ter acesso a essa informação.Além disso, o conhecimento acadêmico e científico é produzido no Brasil quase que na sua totalidade na forma da palavra escrita. Em outras palavras, isso significa que a nossa cultura letrada está, de diversas maneiras, muito mais vinculada à escrita do que à fala, o que indica a valorização da escrita em detrimento da fala. No entanto, os estudos na área de alfabetização e letramento têm mostrado ao longo dos anos que não basta a pessoa ser alfabetizada, ou seja, saber codificar e decodificar os sinais linguísticos, é preciso, mais do que isso, saber usar esse sistema em práticas reais de uso da leitura e da escrita. É aqui que chegamos ao conceito de letramento. O conceito de Letramento, segundo Soares (1999), passou a ser discutido no Brasil, nas áreas da Educação e da Linguística, a partir da década de 80, sendo uma versão em português do termo Literacy em inglês, o qual significa “o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever” (SOARES, 1999, p. 17). Esse conceito, segundo a autora, está ligado à ideia de que a escrita está condicionada a questões culturais, sociais, políticas, econômicas, cognitivas e linguísticas. Sendo assim, enquanto a alfabetização diz respeito ao aprendizado do sistema convencional de escrita, o letramento está ligado à capacidade de o indivíduo desenvolver habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e de escrita em práticas sociais envolvendo a língua escrita. Portanto, é o conceito de práticas sociais que distingue os termos alfabetização e letramento, sendo mais adiante difundida a ideia da alfabetização na perspectiva do letramento. Foto: Shutterstock.com A partir dessas primeiras ideias sobre alfabetização e letramento, os estudos na área ganharam novas perspectivas até chegarmos ao que temos hoje em termos de múltiplos letramentos. Nesse sentido, é possível considerar desde o letramento mais próximo ao dia a dia, como em práticas de escrita que vão desde um indivíduo com uma apropriação mínima da escrita que consegue identificar o valor do dinheiro ou o ônibus que vai pegar, mas que não tem condições de escrever uma carta ou de ler um jornal, até um indivíduo cujo letramento lhe permite desenvolver tratados de Filosofia ou Matemática, ou mesmo escrever romances. Você já deve ter percebido a importância das práticas sociais no processo de alfabetização e letramento, e que, quando falamos de letramento, estamos tratando também de um processo complexo. É do contato com os mais variados textos escritos, nas mais variadas práticas sociais de uso da escrita, que nos tornamos sujeitos letrados ao longo de toda a nossa vida. Sendo assim, a alfabetização na perspectiva do letramento vai muito além de saber usar o código escrito, pois parte de uma perspectiva de língua como fenômeno social no que diz respeito às relações existentes entre língua, cultura e sociedade. E sabe por quê? Porque o aprendizado da leitura e da escrita destina-se, em última instância, à interação social dentro de uma mesma cultura e também com culturas diferentes. O papel da alfabetização na perspectiva do letramento é formar cidadãos letrados, com habilidades para fazer uso social da leitura e da escrita. Rojo (2009) reforça essa questão quando afirma que conhecer o alfabeto e saber codificar e decodificar as letras não é suficiente para uma leitura efetiva. O indivíduo pode ler sem compreender o que lê se não for capaz de tecer relações entre textos, inferir conceitos, fazer comparações e generalizações, estabelecer relações entre temas, levar em conta o contexto de produção de cada texto, bem como o contexto no qual este leitor está inserido, o que o levará a interpretar e, assim, compreender o que lê e o que escreve. Já que a escola tem como um de seus principais objetivos possibilitar aos educandos o acesso às mais variadas práticas sociais de leitura e de escrita de forma ética, crítica e democrática, é imprescindível que a alfabetização caminhe lado a lado com o letramento (ROJO, 2009, p. 109). ATENÇÃO Rojo (2009) vai além do conceito inicial de letramento e sustenta o uso do termo no plural, isto é, letramentos, entendido no plural, pois, na sociedade atual, estamos, cada vez mais, diante de uma variada gama de práticas sociais de leitura e de escrita que apresentam outros tipos de linguagens, em textos multissemióticos. Um exemplo bem presente no nosso dia a dia são os textos encontrados em aplicativos de conversa, os quais apresentam não somente a palavra escrita, mas emojis, stickers, gifs e outros tantos recursos. Embora as práticas sociais da atualidade apresentem cada vez mais textos multimodais, ainda há, por parte das práticas pedagógicas aplicadas na escola e nos livros didáticos, um trabalho acentuado com textos lineares. Além disso, também é muito comum uma abordagem voltada para os letramentos que se inserem em práticas sociais de escrita e de leitura valorizadas pela cultura dominante. Rojo (2009, p. 108) apresenta três tipos de letramento: Imagem: Shutterstock.com OS LETRAMENTOS VERNACULARES Compreendem as práticas sociais de leitura e de escrita das culturas locais de seus agentes (professores, alunos e comunidade escolar) e que são valorizadas, universais e institucionais. Imagem: Shutterstock.com OS LETRAMENTOS MULTISSEMIÓTICOS Envolvem outras linguagens para além da escrita, no campo da imagem, do som, das cores, do design e de outras atividades, que decorrem das novas práticas comunicativas possibilitadas pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). Imagem: Shutterstock.com OS LETRAMENTOS CRÍTICOS E PROTAGONISTAS Dizem respeito ao “trato ético dos discursos em uma sociedade saturada de textos e que não pode lidar com eles de maneira instantânea, amorfa e alienada” Como você pode perceber, o processo de letramento (ou letramentos) é complexo e acontece ao longo da vida do indivíduo, desde o seu primeiro contato com textos escritos, mesmo antes de ser alfabetizado, até o desenvolvimento de letramentos mais específicos, como aqueles voltados para os gêneros textuais da esfera acadêmica, ou ainda letramentos emergentes, multissemióticos e críticos impulsionados pelas tecnologias da informação e da comunicação. Ou seja, não há um fim da linha para o letramento, o que temos é o aprimoramento contínuo do nosso letramento em práticas sociais de leitura e de escrita. Você pode estar se perguntando sobre o estudante surdo e as possibilidades de seu letramento, já que os estudos sobre esse tema estavam voltados, inicialmente, para pessoas ouvintes, cujos processos de alfabetização e letramento acontecem na sua língua materna, não é mesmo? Então, como ficaria o caso dos surdos, que precisam aprender a ler e escrever em uma língua que, como vimos, eles não podem adquirir de forma natural? E mais, levando em conta a perspectiva bilíngue para a educação de surdos, de que modo se dá a alfabetização e o letramento de pessoas surdas? É o que veremos no próximo tópico. Foto: Shutterstock.com ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE SURDOS A Legislação acerca da Libras e da educação de surdos, desde a Lei 10.436/2002 até a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (13.146/2015), já apresenta as diretrizes necessárias para a educação bilíngue de surdos, o que dá protagonismo à Libras como primeira língua e de língua de instrução dessa minoria linguística. A legislação prevê também a necessidade da apropriação do português escrito como segunda língua pelos surdos, levando em conta suas especificidades linguísticas e culturais. Foto: Shutterstock.com Pelo que estudamos até aqui, já entendemos por que consideramos o português escrito como segunda língua de surdos, uma vez que, sem o retorno auditivo, eles não têm como acessar o input linguístico adequado e suficiente para a aquisição do português como primeira língua. Também já apontamos que a maioria dos surdos brasileiros é de nascidos em famílias ouvintes, o que dificultaem maior ou menor medida o acesso deles à língua de sinais. EXEMPLO Pois bem, pensemos na melhor das hipóteses: um estudante surdo chega à escola com a fluência necessária em Libras para se apropriar do português escrito. Mas, veja que, enquanto um estudante ouvinte chega à escola para aprender o código escrito da sua língua materna, o estudante surdo se depara com uma alfabetização pautada em metodologias de ensino que levam em conta a oralidade. É só você puxar da memória como foi o seu processo de alfabetização e se lembrará da correspondência que a professora fazia entre as letras gráficas do alfabeto e os sons da língua. Porém, como isso poderá funcionar para um estudante surdo que na maioria das vezes conhece fragmentos do português, já que essa não é a sua língua materna? Em outras palavras, como alfabetizar um estudante surdo com metodologias e estratégias próprias para ouvintes, que têm internalizada a imagem acústica do som, já que dominam o português como primeira língua? A ALFABETIZAÇÃO, EM SENTIDO ESTRITO, CONTRARIA A NATUREZA DO PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA ESCRITA PELOS SURDOS, SIMPLESMENTE PORQUE A CODIFICAÇÃO E DECODIFICAÇÃO PRESSUPÕEM A HABILIDADE DE RECONHECER LETRAS E SONS (!!!). SE OS SURDOS NÃO TÊM ACESSO A EXPERIÊNCIAS AUDITIVAS QUALITATIVAS, QUE LHES PERMITAM FAZER DISTINÇÕES PERCEPTIVAS ENTRE FONEMAS E GRAFEMAS, SUA INCURSÃO AO MUNDO DA ESCRITA ESTARIA INVIABILIZADA POR ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS QUE [PARTAM DA] A ORALIDADE. (FERNANDES, 2006) As práticas de alfabetização baseadas na oralidade são incompatíveis com o processo de apropriação da escrita pelos surdos. Confira alguns procedimentos adotados na alfabetização de ouvintes e suas implicações na aprendizagem dos alunos surdos. Procedimentos adotados na alfabetização Implicações para a aprendizagem de alunos surdos Parte-se do conhecimento prévio da criança sobre a língua portuguesa, explorando-se a oralidade: narrativas, piadas, parlendas, trava-línguas, rimas etc. Não há conhecimento prévio internalizado: a criança não estrutura narrativas orais e desconhece o universo “folclórico” da oralidade. O alfabeto é introduzido relacionando-se letras a palavras do universo da criança: nomes, objetos da sala de aula, brinquedos, frutas etc. Ex. A da abelha, B da bola, O do ovo. Impossibilidade de estabelecer relações letras X som; a criança desconhece o léxico (vocabulário) da língua portuguesa, já que, no ambiente familiar, sua comunicação restringe-se a gestos naturais ou caseiros (na ausência da língua de sinais). As sílabas iniciais ou finais das palavras A percepção de sílabas não ocorre, já que a são destacadas para a constituição da consciência fonológica e percepção que a palavra tem uma organização interna (letras e sílabas). palavra é percebida por suas propriedades visuais (ortográficas) e não auditivas. A leitura se processa de forma linear e sintética (da parte para o todo); ao pronunciar sequências silábicas, a criança busca a relação entre as imagens acústicas internalizadas e as unidades de significado (palavras). A leitura se processa de forma simultânea e analítica (do todo para o todo); a palavra é vista como uma unidade compacta; na ausência de imagens acústicas que lhes confiram significado, as palavras são memorizadas mecanicamente, sem sentido. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Implicações do processo de alfabetização para estudantes surdos. Extraído de: FERNANDES, 2006 Muitos aspectos foram discutidos anteriormente, como o protagonismo que as experiências orais ocupam no espaço escolar, fazendo-nos reforçar a necessidade de promover a construção desse conhecimento prévio em língua de sinais e, a partir dele, o aprendizado da segunda língua. Outro aspecto interessante é a introdução do alfabeto por meio da relação de letras e palavras, algo que provavelmente fez parte da sua vida como estudante. Quem não se lembra daquelas salas cheias de letras do alfabeto com imagens e nomes? Algo muito comum, mas que para os surdos não representa significado algum, haja vista a impossibilidade de estabelecer uma relação entre a letra e o som, além do fato de desconhecer as palavras que lhes são associadas. Uma alternativa, nesse caso, é partir da configuração de mão para explorar a criação de sinais, como no exemplo a seguir, no qual a configuração de mão apresentada é a base para vários sinais da Libras: avião, avisar, boi, informação, gordo, orgulho, dentre outros. Imagem: Shutterstock.com Fernandes (2006) também problematiza as práticas de alfabetização pautadas no trabalho com a consciência fonológica e na leitura linear e sintática, em que as palavras são percebidas em suas sequências silábicas, o que não acontece com as crianças surdas. Os surdos não recorrem às relações letra-som ao realizarem a leitura: [...] DESDE OS PRIMEIROS CONTATOS COM A ESCRITA, AS PALAVRAS SÃO PROCESSADAS MENTALMENTE COMO UM TODO, SENDO RECONHECIDAS EM SUA FORMA ORTOGRÁFICA (DENOMINADA ROTA LEXICAL), SERÃO FOTOGRAFADAS E MEMORIZADAS NO DICIONÁRIO MENTAL SE A ELAS CORRESPONDER ALGUMA SIGNIFICAÇÃO. (FERNANDES, p. 9, 2006) Diferentemente da rota fonológica, na qual as palavras são identificadas a partir da sua estrutura sonora por meio de uma relação entre os sons e os sinais gráficos, na rota lexical há um reconhecimento visual da palavra. Veja um exemplo de como se dá a leitura a partir da rota lexical: De aorcdo com uma ppsieusa de uma universidade ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Irtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Conseguiu compreender o texto? Foi possível reconhecer as palavras mesmo com as letras invertidas? Acreditamos que sim. É assim que se dá a identificação da palavra com base na rota lexical, cada vez mais utilizada por fluentes de uma língua. Para os surdos, é assim que acontece a leitura do Português, já que a língua escrita é percebida visualmente, ou seja, a palavra é vista como um todo. Para alcançar essa competência na segunda língua, a criança surda passa por um processo de construção inicial da escrita muito similar ao das crianças ouvintes. Segundo Peixoto (2006), mesmo sem passar pelo processo de fonetização, as crianças alcançam uma compreensão da escrita alfabética, na qual ocorre a representação da linguagem e não dos objetos. Segundo a autora, as crianças surdas desenvolvem a apropriação da escrita de uma forma mais subjetiva, inicialmente. A escrita não representa o nome das coisas, e sim, as coisas, até se compreender a escrita como uma representação da linguagem. FONETIZAÇÃO O conceito de fonetização está relacionado ao ato de representar adequadamente os sons da língua por meio de letras. Estudos como o de Peixoto (2006) mostram que as crianças surdas se alfabetizam porque compreendem a lógica da escrita, isto é, percebem que as letras e toda a sua organização exige uma padronização que representa um determinado significado. Em razão da modalidade visual/espacial da língua de sinais, pode ser que as crianças surdas sejam mais perspicazes ao observar as particularidades da escrita, por ser um registro gráfico, ou seja, visual. No entanto, para que essa compreensão e desenvolvimento da escrita ocorra, é imprescindível que a criança surda tenha uma língua internalizada, ou seja, a língua de sinais. javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com Ao longo da nossa reflexão, destacamos a relevância da língua de sinais para o aprendizado do Português escrito. No entanto, de que modo se apresenta a relação intrínseca entre as duas línguas nesse processo? A pesquisa de Peixoto (2006) aponta os espaços de interface da Libras com o Português e comprova a relação direta entre as duas línguas nos primeiros registrosda criança surda, o que também confirma que não é necessário existirem referências aos elementos da fala. Dentre os trechos destacados pela autora, selecionamos duas ocorrências, nas quais são perceptíveis a influência da língua de sinais na construção da escrita. Quadro: Configuração de mão do sinal utilizada como primeira letra e o restante da palavra apresenta leve ou nenhuma semelhança com a escrita correta. Extraído de Peixoto, 2006, p. 223, adaptado por Allan Gadelha. Nos exemplos anteriores, podemos ver dois sinais e as produções escritas pelas crianças. As palavras “memória” e “mau” são sinalizadas com a configuração de mão em “M”, que é a primeira letra da palavra em Português. Trata-se de sinais com empréstimo do Português, em que o elemento dessa língua ― a letra ― foi incorporado ao sinal, por meio de uma configuração de mão (CM). Nas produções escritas, as crianças representam essa CM na primeira letra escrita e o restante não possui nenhuma relação com a grafia correta da palavra. Vejamos agora outro exemplo: Imagem: Peixoto, 2006, p. 225, adaptado por Allan Gadelha. Escritas para o sinal “Iguatemi”. Nesse exemplo, é possível identificar claramente a forma como a criança surda relaciona os dois sistemas linguísticos. Ao representar o sinal de Iguatemi (sinal usado apenas em Fortaleza), “algumas crianças não apenas converteram a CM [I]13 na letra “i”, como também tentaram transformar a segunda CM [5] em letra, mesmo não sendo ela equivalente a nenhuma das 26 letras do alfabeto digital”. Houve uma tentativa das crianças em registrar a “CM + o movimento de tamborilar os dedos, que se parecem se assemelhar a um ´m´ em cursiva” (PEIXOTO, 2006, p. 224). Fica evidente, a partir dos exemplos citados acima, a relação direta entre a alfabetização da criança surda e a sua primeira língua. A língua de sinais é para o surdo aquilo que o Português oral é para o ouvinte: a base para a construção do conhecimento, para a criação de hipóteses acerca da produção escrita. Assim como as crianças ouvintes em processo de alfabetização, os surdos apresentam inicialmente uma escrita sem correspondência entre o que é falado/sinalizado e o que é escrito, até compreender que se trata de uma representação da linguagem, mesmo que em um primeiro momento ocorra a tentativa de registrar a língua de sinais para, em seguida, partir para uma representação gráfica do Português. O professor precisa estar ciente das diferentes situações que serão apresentadas pelo surdo nesse processo de construção da escrita e, mais do que isso, precisa conhecer a língua de sinais em sua estrutura para entender o caminho percorrido por esse sujeito. Perceba que essa língua atravessa as produções textuais dos surdos desde os primeiros momentos até os níveis mais elevados, como vimos nos estágios de interlíngua. Cabe ao professor conduzir a criança para que ela se torne cada vez mais consciente das diferenças entre as duas línguas em seus diferentes níveis linguísticos (sintático, morfológico, fonológico, semântico/pragmático e discursivo). Desse modo, ratifica-se a importância da aquisição da língua de sinais desde a mais tenra idade, para que a criança surda possa iniciar seu processo de alfabetização em língua de sinais, explorando-a de todas as formas no contexto educacional. ATENÇÃO Quando destacamos a importância de trazer a língua de sinais para o ambiente escolar, estamos enfatizando a necessidade do planejamento de práticas pedagógicas que explorem essa língua, por meio de atividades voltadas para as expressões faciais, para o uso do corpo, para o uso de classificadores, configurações de mão, fazendo com que o surdo conheça cada vez mais os aspectos linguísticos de sua primeira língua. Com as crianças ouvintes, isso é realizado desde a educação infantil, quando as práticas de oralidade surgem para estimular a organização das ideias e sua transmissão em diferentes situações comunicacionais. Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por exemplo, a oralidade ocupa um lugar de destaque no processo de alfabetização, como ponto de partida para a construção da escrita, haja vista a priorização do método fônico, e para o trabalho com os diversos textos orais. Nesse sentido, espera-se que as crianças surdas também vivenciem práticas significativas em língua de sinais, por meio da inserção dos mais diversos textos sinalizados em sala de aula e de interações que envolvam essa língua, a fim de oportunizar a esse público habilidades que lhes permitam organizar e expor suas ideias, expressar sentimentos e emoções, e interpretar o mundo à sua volta. Imagem: MEC. Base Nacional Comum Curricular. Além de proporcionar a imersão dos surdos em momentos de interação em língua de sinais, precisamos também garantir o acesso irrestrito a diferentes gêneros textuais escritos em Português. Lembra-se do conceito de input linguístico e da sua importância para a aquisição da língua de sinais? Aqui, estamos nos referindo a um outro tipo de input, aquele relacionado aos registros escritos em suas diferentes formas e funcionalidades. Não se trata da mesma naturalidade presente no desenvolvimento da primeira língua, mas sabemos que o acesso aos conhecimentos da segunda língua ocorrerá predominantemente pela leitura, pelo acesso aos variados textos. O trabalho com gêneros textuais é fundamental para qualquer público, pois somente assim se consegue oferecer contato direto com textos reais e autênticos, diferentes daqueles que, por muito tempo, estiveram presentes na escola. No caso de surdos, trabalhar nessa perspectiva é possibilitar o entendimento da língua como um todo, com suas significações em diferentes contextos, e não somente a memorização de palavras isoladas. Fernandes (2006) propõe para o trabalho de leitura e produção escrita um planejamento, a partir das seguintes etapas: Contextualização visual do texto Leitura do texto em Libras (conhecimento prévio de elementos lexicais, gramaticais e intertextuais) Percepção de elementos linguísticos significativos, com funções importantes no texto, relacionados à sua tipologia e estilo/registro Leitura individual/verificação de hipóteses de leitura (Re)elaboração escrita com vistas à sistematização de aspectos estruturais Você consegue perceber que a proposta de Fernandes (2006) para o desenvolvimento da leitura e escrita vai além do trabalho com o texto? Observe como a autora aponta a necessidade de exploração dos aspectos visuais, do conhecimento prévio, da organização textual, elementos que vão além do reconhecimento das palavras, do processo de decodificação e codificação. Essa perspectiva, então, compreende que a leitura passou a não se limitar apenas à decifração de letras, pois considera as relações entre diferentes linguagens. Como, por exemplo: a relação entre uma foto e sua legenda, a relação dos aspectos gráficos e imagéticos de uma página com o texto escrito. RESUMINDO Em linhas gerais, além de garantir práticas de alfabetização e letramento específicas para o público surdo, é preciso ampliar essa discussão e refletir também acerca do impacto do letramento visual no processo de aprendizagem do português escrito. LETRAMENTO VISUAL Pensemos agora no papel do letramento visual para a educação de surdos. A experiência dos surdos acontece, em grande medida, via experiência visual, pois a visão é o principal canal de contato e comunicação do surdo com o mundo ao seu redor. javascript:void(0) LETRAMENTO VISUAL O termo letramento visual remonta aos estudos de Lucia Reily, na área de Artes Visuais e Educação Especial, em trabalhos cujo foco era o ensino de Artes (TAVEIRA; ROSADO, 2013). A experiência visual é, portanto, o primeiro artefato da cultura surda. Exemplo: os surdos percebem e interagem com o mundo através de seus olhos e na percepção visual dos acontecimentos do dia a dia. Os latidos de um cão, por exemplo, são percebidos pelo abrir e fechar da boca do animal e pela expressãofacial e corporal bruta (STROBEL, 2008, p. 41). A experiência visual, portanto, é a base da cultura surda, a qual se materializa na língua de sinais como sua principal expressão. Foto: Shutterstock.com Pensando que a alfabetização de surdos deve se dar na perspectiva do letramento, podemos nos perguntar de que modo deve ser encaminhado o processo de alfabetização e letramento de surdos, tendo como ponto de partida a experiência visual de estudantes surdos? A resposta passa, certamente, pelo protagonismo da língua de sinais como língua de instrução nesse processo e também pela valorização de práticas pedagógicas visuais que estejam alinhadas à cultura e identidade surdas. É importante salientar que não é o bastante fazer uso de imagens nas práticas pedagógicas de alfabetização e letramento de surdos, mas sim disponibilizar ao surdo estratégias visuais de leitura e de compreensão de mundo que o levem ao letramento visual (LEBEDEFF, 2010, p. 178). Perceba que, quando falamos de letramento, estamos falando de práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. No caso do letramento visual para a surdez isso não é diferente, mas acrescido da valorização das singularidades linguísticas e culturais de surdos, os quais leem e interpretam o mundo por meio de sua experiência visual. O impacto dessas singularidades é o uso, por parte dos surdos, de estratégias diferentes das dos ouvintes na relação estabelecida com a leitura e com a escrita. Mas, o que é afinal letramento visual para a surdez? Segundo Lebedeff (2010), é a área de estudo que trata sobre o que pode ser visto e como o que é visto pode ser interpretado e entendido. O letramento visual para a surdez deve levar em conta as práticas sociais e culturais de leitura e compreensão de imagens. Isso significa que a leitura e a compreensão de imagens não são inatas nos surdos, como muitos tendem a entender, devido à condição de experiência visual desses sujeitos. A leitura e a compreensão de imagem são habilidades que precisam ser desenvolvidas e aprimoradas nas práticas pedagógicas que objetivam o letramento visual dos surdos. Foto: Shutterstock.com Aqui, é importante retomar a concepção de que o letramento deve ser visto como um contínuo, ou seja, como uma habilidade que aprimoramos ao longo da vida. Isso não seria diferente para os surdos. Significa ir além do uso da imagem como pretexto ilustrativo para o texto escrito, fazendo uso de linguagem visual, que pode acontecer de diversas maneiras, pelo uso propositivo e significativo de imagens, gráficos, diagramas, tabelas, mapas etc. Ou ainda por estratégias de ensino e aprendizagem que levem em conta a visualidade da língua de sinais. Nesse sentido, o papel da escola no letramento para a surdez é proporcionar aos surdos condições e estratégias que os levem a aprimorar sua leitura e compreensão de imagens em práticas sociais e culturais de leitura e de escrita, levando em conta a experiência visual desses sujeitos e pautada nas especificidades linguísticas e culturais deles. Essa perspectiva se alinha com o que defende a Pedagogia visual, área da pedagogia que leva em conta as especificidades de estudantes surdos no que diz respeito à sua imersão em um mundo visual a partir do qual se dá a construção do seu conhecimento. Sendo assim, o conceito de semiótica imagética alinha-se à exploração da visualidade por meio da cultura surda e do olhar surdo, ou seja, a constituição da imagem visual do surdo, que pode ser explorada como recurso didático. Trata-se de um trabalho com signos em língua de sinais que explorem a visualidade dessa língua, levando em conta a expressão corporal e facial no que diz respeito ao uso do corpo, dos braços, das pernas e da face com uma significação mais ampla e que faz uso da semiótica imagética (LACERDA; SANTOS, 2014). Foto: Shutterstock.com Vejamos agora alguns exemplos de uso da linguagem visual com vistas ao letramento visual de surdos. Apresentado por Lacerda e Santos (2014, p. 189), o mapa conceitual é considerado um recurso interessante para uma primeira abordagem ou apresentação de conceitos novos. MAPA CONCEITUAL Mapas conceituais são a representação visual da relação entre ideias. Outro exemplo mostrado pelas autoras é a disposição de fotografias em sequência para o ensino do processo digestivo de forma que os estudantes surdos compreendam o seu devido funcionamento, por javascript:void(0) meio da leitura de imagens: Foto: Lacerda; Santos (2014, p. 193) É importante salientar que não basta apresentar a figura anterior, é necessário obviamente que esta estratégia esteja inserida em contextos de ensino-aprendizagem e que passem pela mediação docente. Isso porque, como linguagem visual, a sequência de imagens está representando um fenômeno do mundo. Imagem: Shutterstock.com Um exemplo de desenvolvimento das habilidades de leitura e interpretação de imagem que contribui para o letramento visual é o uso de histórias em quadrinhos que apresentam apenas linguagem visual. Nesse caso, é possível desenvolver aspectos da narração em Libras para depois passar para o português escrito, de modo que o estudante surdo primeiro compreenda a sequência de imagem numa lógica narrativa pela visualidade, consiga interpretar a história em Libras para, a partir daí, então, construir o texto em português escrito. Outro exemplo de práticas pedagógicas que envolvem o letramento visual é apresentado por Taveira e Rosado (2013, p. 36-37), no qual os professores criaram um percurso explicativo e contextual para os estudantes surdos, diante dos inúmeros questionamentos referentes a um exercício (uma imagem de uma menina em seu quarto e cuja tarefa era responder perguntas como “Onde está a menina?” e “Onde ela deixou os chinelos?”). Esse percurso começou com a imagem de uma planta baixa com e sem móveis, passando para o desenho de uma planta baixa do quarto da estudante, depois fotografias de casas sendo construídas, colagem de objetos de uma casa em uma planta baixa, escrita de frases descritivas a partir da observação do cômodo de uma casa, escrita de palavras envolvidas na descrição realizada e, finalmente, retorno à tarefa de descrição, com o uso da palavra escrita. Imagem: Shutterstock Taveira e Rosado (2013) ressaltam ainda a importância da leitura do texto verbal escrito por meio da visualidade, por parte dos surdos, isto é, ler o texto escrito em português como imagem. Isso porque os surdos acessam a palavra escrita por meio de outras modalidades, que não a sonora, sem a referência que os ouvintes têm com a oralidade, mas sim pelo desenvolvimento de habilidades de compreensão da imagem referente à palavra escrita. ATENÇÃO Perceba, portanto, que a alfabetização de surdos, na perspectiva do letramento, apresenta características próprias, na medida em que o ensino do código escrito precisa estar pautado numa concepção de língua como interação, ou seja, o ponto de partida da alfabetização deve ser as práticas sociais e culturais de uso da leitura e da escrita, levando em conta o conhecimento de mundo desses estudantes. Ao mesmo tempo, a experiência visual dos surdos deve ser a base de sua alfabetização e de seu letramento. A escola precisa desenvolver suas habilidades de leitura de imagem, tanto de leitura do português escrito como imagem, quanto a leitura e a compreensão de imagem por meio de estratégias e práticas pedagógicas que trabalhem com letramentos multissemióticos e multimodais. Nesse sentido, é importante salientar que tais estratégias devem levar em conta a Libras como primeira língua dos surdos e como língua de instrução e de mediação, explorando inclusive seu caráter visual e espacial, e o português escrito como segunda língua com metodologias adequadas. LIBRAS E PORTUGUÊS NA EDUCAÇÃO BILÍNGUE No vídeo a seguir, serão apresentados os principais pontos abordados no módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. EM RELAÇÃO AOS CONCEITOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO, ÉCORRETO AFIRMAR QUE: A) A alfabetização trata da apropriação do sistema de escrita e conquista desse sistema, que possibilita ler e escrever com autonomia, e o letramento trata do processo de inserção e participação na cultura escrita. B) O letramento é um processo que envolve a decodificação e a codificação de sinais linguísticos, bem como a combinação desses sinais, formando palavras e frases no ambiente escolar. C) A alfabetização, diferentemente do letramento, tem início nos primeiros contatos com a língua escrita e se prolonga por toda a vida. D) O letramento e a alfabetização são processos que ocorrem cada um a seu tempo, sendo o primeiro ligado à capacidade de codificar e decodificar a escrita e o segundo relacionado à oralidade. E) Apenas o conceito de alfabetização encontra correspondência na Libras e na escolarização do aluno ouvinte, enquanto o letramento é exclusivo e restrito ao português na sua modalidade oral. 2. APRENDEMOS QUE A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO DE SURDOS APRESENTAM CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS. EM RELAÇÃO A ESSA QUESTÃO, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) Os surdos são alfabetizados depois que aprendem os sons da língua e seu letramento se dá por meio de sua experiência visual. B) A alfabetização e o letramento de surdos acontecem de forma natural porque sua experiência visual os auxilia na leitura da palavra escrita. C) Ensinar surdos a ler e escrever em português requer que eles aprendam a relacionar os sons da língua com as letras, pois isso contribuirá com o seu letramento visual. D) O processo de letramento e alfabetização de alunos surdos somente terá sucesso quando o português for língua primária. E) O processo de alfabetização e letramento de surdos deve se pautar em sua experiência visual, de tal modo que a escola desenvolva suas habilidades para leitura de imagens. GABARITO 1. Em relação aos conceitos de alfabetização e letramento, é correto afirmar que: A alternativa "A " está correta. A alfabetização, na perspectiva do letramento, diz respeito ao aprendizado do código escrito levando em consideração a concepção de língua como interação, de modo que o sujeito tenha autonomia na leitura e na escrita inseridas nas práticas sociais de uso da língua. 2. Aprendemos que a alfabetização e o letramento de surdos apresentam características específicas. Em relação a essa questão, é correto afirmar que: A alternativa "E " está correta. O processo de leitura e de escrita de surdos deve ter como base a experiência visual do aluno surdo. Essa experiência visual precisa ser desenvolvida, de modo que o surdo aprenda a ler o português escrito como imagem, levando em conta sua cultura visual. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos a alfabetização e o letramento de surdos, iniciando com a discussão a respeito da aquisição da linguagem, a fim de compreendermos por que a Libras é considerada como primeira língua para surdos e o português escrito é a sua segunda língua, evidenciando a condição bilíngue de crianças e adultos surdos. Entendemos também o conceito de alfabetização na perspectiva do letramento, bem como a importância do letramento visual para a apropriação da leitura e da escrita pelos surdos. Evidenciamos, por fim, que a experiência visual dos surdos não é condição suficiente para a leitura e a interpretação de imagens, mas a sua valorização é fator imprescindível para o desenvolvimento do letramento visual para a surdez, uma vez que constitui a cultura e a identidade surda. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BROCHADO, S. M. D. A apropriação da escrita por crianças surdas usuárias da língua de sinais brasileira. Tese de Doutorado. Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, UNESP, São Paulo, 2003. FERNANDES, S. Letramentos na educação bilíngue para surdos. In: BERBERIAN, A.P.; MASSI, G.A. Letramento: referenciais em saúde e educação. São Paulo: Plexus, 2006. KARNOPP, L. Produções culturais em Língua Brasileira de Sinais. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 48, n. 3, p. 407-413, 2013. LACERDA, C. B. F.; SANTOS, L. F. Tenho um aluno surdo, e agora? Introdução à Libras e educação de surdos. São Paulo: EdUFSCAR, 2014. LEBEDEFF, T. Aprendendo “a ler” com outros olhos: relatos de oficinas de letramento visual com professores surdos. Cadernos de Educação, Pelotas, v. 36, p. 175-196, 2010. LEBEDEFF, T. Letramento visual e surdez. Rio de Janeiro: Wak, 2017. PEIXOTO, R. C. Algumas considerações sobre a interface entre a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a Língua Portuguesa da construção inicial da escrita pela criança surda. Cad. Cedes, Campinas, v. 26, n. 69, p. 205-229, 2006. QUADROS, R. M. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997. QUADROS, R. M. et al. Língua brasileira de sinais: patrimônio linguístico brasileiro. Florianópolis: Garapuvu, 2018. QUADROS, R. M.; CRUZ, Ca. R. Língua de sinais: instrumentos de avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2011. ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. SALLES, H. M.M. L. et al.. (Org). Ensino de Língua Portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília: MEC, SEESP, Volume 1, 2007. SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. STROBEL, K. As imagens do outro sobre a Cultura Surda. Florianópolis: UFSC, 2008. TAVEIRA, C. C.; ROSADO, L. A. S. Por uma compreensão do letramento visual e seus suportes: articulando pesquisas sobre letramento, matrizes de linguagem e artefatos surdos. Espaço, Rio de Janeiro, n. 39, 2013. EXPLORE+ Aprofunde seu conhecimento linguístico sobre a Libras lendo o e-book Língua Brasileira de Sinais: patrimônio linguístico brasileiro, publicado pela UFSC e disponibilizado em seu portal. Avance no seu estudo lendo o artigo “Letramentos de surdos: práticas sociais de linguagem entre duas línguas/culturas”, de Ana Lodi, Elaine Bortolotti e Maria Cavalmoreti, publicado na Revista Bakhtiniana. Leia o artigo “Alfabetização e o ensino de língua de sinais”, de Ronice Quadros, publicado no portal português Por sinal. Para conhecer melhor o conceito de interlíngua e suas implicações, leia o artigo “Interlíngua”, de Larry Selinker, publicado pela Revista Diadorin da UFRJ. Assista ao vídeo “Libras: o que é esta língua?”, com as pesquisadoras Ronice Quadros e Marianne Stumpf, disponibilizado no canal da Revista Roseta no YouTube. CONTEUDISTAS Bruna Crescêncio Neves CURRÍCULO LATTES Fabíola Sucupira Ferreira Sell CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); javascript:void(0);
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