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Aula 36: Doenças neurodegenerativas Definição: grupo de doenças não relacionadas que são caracterizadas por uma deterioração progressiva dos neurônios do SNC, resultando em variedade de sinais e sintomas neurológicos e psiquiátricos; DOENÇA DE ALZHEIMER Caracterizada por perda progressiva das habilidades cognitivas (memória e pensamento), habilidades de linguagem e mudanças de comportamento; É a causa mais comum de demência; acomete pacientes acima de 65/ 85 anos (idosos), predominantemente; A trissomia do 21 (síndrome de Down) tem forte associação com essa doença; Subdivisões: Tipo esporádico de início tardio (mais comum); Tipo esporádico de início precoce (antes dos 65 anos): ➔ Relacionado a defeitos no gene da Apolipoproteína E, que é produzida principalmente por astrócitos e transporta colesterol aos neurônios por meio de receptores ApoE; ➔ ApoE aumenta a degradação proteolítica de beta-amiloide; Tipo familiar de início precoce (< 1% casos); ➔ Mutações da proteína precursora de amiloide (PPA) no cromossomo 21; ➔ Mutações na Presenilina 1 do cromossomo 14; ➔ Mutações na Presenilina 2 no cromossomo 1; Conceitos importantes: 1. papel da proteína Beta amiloide na causa da doença de Alzheimer: - proteína precursora de amiloide (PPA): • precursora da beta amiloide; • normalmente codificada no cromossomo 21; • endocitadas em endossomos de neurônios, onde o ambiente ácido favorece a formação de beta amiloide (o antiepilético Levetiracetam previne esta endocitose) - defeitos no metabolismo de PPA por secretases causam um aumento em beta amiloide e aumento correspondente de neurotoxicidade: • alfa secretases clivam PPA em fragmentos que não podem produzir beta amiloide; • beta secretases seguidas por gama secretases (Presenilina é unidade catalítica) clivam PPA em fragmentos que são convertidos em beta amiloide. - beta amiloide é neurotóxica e danifica os neurônios nos seguintes locais: estruturas do lobo temporal medial; córtex frontal (especialmente o córtex entorrinal – perda de olfato) e hipocampo; - beta amiloide se deposita na parede dos vasos cerebrais (angiopatia amiloide) e se cora positivamente com vermelho congo (tem birrefringência verde-maçã com polarização); 2. papel central da glicogênio sintase quinase- 3beta (GSK-3beta) na neurotoxicidade do beta amiloide: - a ativação da GSK-3beta causa fosforilação de beta amiloide, que por sua vez causa: • disfunção neuronal e sináptica; • sinalização para apoptose neuronal; - o beta amiloide fosforilado também apresenta feedback positivo sobre GSK-3beta, mantendo o ciclo de neurotoxicidade; A ativação de GSK-3beta está relacionada com disfunção dentro da via de sinalização Wnt, que é uma família de genes normalmente envolvidos em: • desenvolvimento neuronal durante a embriogênese; • função neuronal normal; • tem feedback negativo com GSK-3beta, o que impede a fosforilação de beta amiloide e seu efeito deletério nos neurônios; 3. enzima degradadora de insulina (IDE) - envolvido na depuração de beta amiloide; - síndromes de resistência a insulina (DM II, síndrome metabólica) apresentam risco aumentado de desenvolver a doença de Alzheimer; 4. papel da proteína TAU: - função normal: manter e apoiar os microtúbulos nos neurônios; - a GSK ativada aumenta a hiper fosforilação da proteína TAU: • isso faz com que a proteína mude de forma e se agrupe em fibrilas, que aparecem como um emaranhado neuro fibrilar no citoplasma; • melhor visualizados com colorações a base de prata; • neuro fibrilas causam disfunção neuronal, incluindo a morte; • a enzima Pin1 retira o excesso de moléculas de fosfato das neuro fibrilas, restaurando à sua forma original (em alguns casos de Alzheimer, essa enzima está ausente ou disfuncional). A) emaranhado neuro fibrilar; B) placa senil (centro eosinofílico com processos neuronais distendidos localizados perifericamente) A doença de Alzheimer é uma demência cortical e geralmente não cursa com distúrbios motores; Há depleção de Ach e neurotransmissores em neurônios do córtex cerebral: lobos parietais e temporais; hipocampo; núcleos basais (principal fonte de Ach cerebral; possui importantes conexões com sistema límbico); Hipótese colinérgica: tenta explicar muitos dos déficits cognitivos por deficiência de neurotransmissão colinérgica; memória fraca pode ser induzida por drogas anticolinérgicas (evidência); perda de neurônios de projeção colinérgica no núcleo basal de Meynert e a perda de atividade da colina acetiltransferase em todo o córtex se correlacionam com a gravidade da perda de memória; Achados macro e microscópicos: - Atrofia cerebral com dilatação dos ventrículos (hidrocefalia ex vácuo). • A atrofia é causada pela perda de neurônios nos lobos temporal, frontal e parietal; • O lobo occipital geralmente é poupado na doença de Alzheimer. – Presença de neuro fibrilas no citoplasma dos neurônios: • Podem ocorrer em outros distúrbios; incluindo pacientes adultos mais velhos sem demência, doença de Huntington e doença de Niemann-Pick. – Placas senis (neuríticas): • Consiste em um núcleo de Aβ rodeado por processos celulares neuronais contendo proteína tau, células microgliais e astrócitos localizados na substância cinzenta do córtex cerebral; • Aβ cora com vermelho Congo e é melhor visualizado com manchas de prata; • Embora presentes em idosos normais, as placas senis estão marcadamente aumentadas na doença de Alzheimer. - Angiopatia amiloide; • A presença de Aβ em vasos cerebrais; • Provoca enfraquecimento dos vasos com maior risco de hemorragia. Achados clínicos: - Sinal precoce é o declínio da memória de curto prazo e perda do olfato (causado por disfunção no córtex entorrinal); - Pacientes com doença leve a moderada apresentam apenas defeitos cognitivos; - Déficits adicionais se acumulam, incluindo mudanças no comportamento, julgamento, linguagem e pensamento abstrato; - Eventualmente, os déficits funcionais se manifestam como uma capacidade reduzida para o autocuidado (nosoagnosia); - Nenhum déficit neurológico focal está presente no início da doença; - Os pacientes geralmente morrem de uma infecção (geralmente broncopneumonia); Obs.: A tomografia por emissão de pósitrons (PET) é útil para o diagnóstico diferencial da demência (presença de densidades de beta amiloide). - Exame comum de ser feito: MEEM (miniexame do estado mental) DOENÇA DE PARKINSON Um grupo de doenças neurodegenerativas progressivas que alteram as vias dopaminérgicas envolvidas no movimento muscular voluntário; • A doença de Parkinson acomete 1% da população idosa e sua incidência aumenta com a idade; • A doença de Parkinson idiopática é o tipo mais comum de parkinsonismo; • Outras causas: Encefalite (inflamação do cérebro); isquemia (diminuição do fluxo sanguíneo para o cérebro); envenenamento crônico por monóxido de carbono (necrose do Globo Pálido); doença de Wilson (distúrbio no metabolismo do cobre); drogas antipsicóticas. - Via mesolímbica: dopamina relacionada ao pensamento; - Via nigro-estriatal: dopamina estabiliza os movimentos; - Via túberoinfundibular: dopamina na hipófise inibe a prolactina; - Via mesocortical: dopamina atua no controle do apetite; Doença de Parkinson idiopática: Distúrbio neurodegenerativo progressivo caracterizado clinicamente por rigidez, tremor de repouso, reflexos posturais prejudicados e lentidão de movimento (bradicinesia). É o tipo de parkinsonismo mais comum (78%) e apresenta forma esporádica (mais comum) e familiar. O início ocorre entre 45 e 65 anos de idade. A distribuição é igual em homens e mulheres e a maior incidência é em brancos;a menor incidência é em asiáticos e afro- americanos. Evento inicial: degeneração progressiva da substância negra mesencefálica (degeneração e despigmentação de neurônios na substância negra). A substância negra participa do sistema extrapiramidal (automatismo e modulação de movimentos), composto também pelos núcleos da base e pelo córtex pré-motor frontal. Os neurônios da substância negra são dopaminérgicos e inibem os neurônios colinérgicos do corpo estriado, através do feixe nigro-estriatal (hipertonia e rigidez). Na doença de Parkinson, o corpo estriado (putâmen e núcleo caudado) e o globo pálido interno encontram-se ativados. Este último ativa núcleos talâmicos que, por sua vez, mandam fibras inibitórias para o córtex pré-motor (bradicinesia e hipocinesia). Os neurônios contêm corpos eosinofílicos intracitoplasmáticos chamados corpos de Levy. (contêm neurofilamentos ubiquitinados (danificados), bem como agregados de proteínas mal dobradas contendo alfa- sinucleína, proteína tau e beta amiloide). Relembrando: componentes dos gânglios da base → O caudado faz parte da parede lateral do ventrículo lateral. A cápsula interna separa o caudado e o putâmen e o núcleo lentiforme e o tálamo. Observe a proximidade do núcleo subtalâmico e da substância Negra com o núcleo caudado, putâmen e globo pálido. A cápsula interna separa o núcleo subtalâmico e o globo pálido. Comparação entre mesencéfalo normal (direita) e mesencéfalo com doença de Parkinson (esquerda) → neurônios da substância negra diminuídos; Dentro das linhas pontilhadas, normalmente espera-se pigmentação; Corpo de Lewy na substância negra (núcleo eosinofílico hialino e halo pálido) Achados clínicos: - É caracterizada pela tétrade: 1. Tremor de repouso do tipo “contar dinheiro” ou do tipo pronação- supinação. 2. Bradicinesia. 3. Rigidez em “roda denteada”. 4. Instabilidade postural. – O tremor e a rigidez frequentemente são unilaterais ou assimétricos. – Marcha parkinsoniana: Passos curtos, ausência de movimentos dos braços e tronco para frente (“buscando o centro de gravidade”). - Pode haver congelamento (acinesia) e fáscies de múmia (perda de expressão facial). - Sinal de Myerson → não esgotamento do reflexo de piscar após sucessivos toques na glabela. - A força muscular e os reflexos tendinosos e cutâneo-plantar estão normais. - A dificuldade de parar a marcha para frente, para trás ou virar para o lado é frequente, sendo chamada propulsão, retropulsão e lateropulsão, respectivamente. DOENÇA DE HUNTINGTON - Doença neurodegenerativa autossômica dominante caracterizada por um declínio na atividade cognitiva, movimentos involuntários e distúrbios psiquiátricos; - Transtorno de repetição de trinucleotídeos (CAG) envolvendo o cromossomo 4. - Aparecimento tardio dos sintomas até o final dos 30 a 40 anos de idade; sem dominância de gênero. - Atrofia ou perda de neurônios estriados, que incluem o caudado, o putâmen e o Globo Pálido. Achados clínicos: - Coréia: movimentos involuntários irregulares, rápidos e não estereotipados (Chamado coreoatetose se tiver uma qualidade de contorção (como uma cobra)); - Anormalidades oculomotoras (movimentos rápidos dos olhos). - Parkinsonismo em estágios posteriores. - Depressão Diagnóstico: O teste genético está disponível. Obs.: Os estudos de imagem (TC, MRI) mostram atrofia do caudado e putâmen. Atrofia estriatal; alargamento generalizado dos sulcos cerebrais.
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