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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ESTELITA: ESTÁGIO UBS
1. Fundamentação Teórica
A psicoterapia tende a se concentrar na resolução de problemas e é orientada para objetivos. Isso significa que no início do tratamento, o paciente e o psicólogo decidem sobre quais mudanças específicas você gostaria de fazer em sua vida. Esses objetivos serão muitas vezes divididos em objetivos alcançáveis ​​menores e colocados em um plano de tratamento formal. A maioria dos psicoterapeutas hoje trabalha e se concentra em ajudar a alcançar esses objetivos. Isso é feito simplesmente através da conversa e discussão de técnicas que o terapeuta pode sugerir. Podem ajudá-lo a navegar melhor as áreas difíceis da sua vida. Muitas vezes, a psicoterapia também ajudará a ensinar as pessoas sobre sua desordem e sugerir mecanismos de enfrentamento adicionais que a pessoa possa encontrar mais efetiva. (LIMA, 2015).
Gomes et al (2014) citam que o Pensamento Sistêmico, ganhou um arcabouço teórico e reconhecimento na primeira metade do século XX. Embora suas bases tenham sido formuladas entre as décadas de 30 e 40, o processo de mudança do paradigma mecanicista para o ecológico tem ocorrido de forma não linear há muitos séculos, com retrocessos e avanços nos vários campos da ciência. Quando se fala em Teoria ou Pensamento Sistêmico, geralmente se conhece apenas seus principais conceitos e aplicabilidades, de forma que seus fundamentos históricos e epistemológicos dificilmente são aprofundados nos artigos científicos. 
A teoria mecanicista, a ecologia a teoria cibernética e a teoria da comunicação foram pressupostos teóricos para o olhar sistêmico, Vasconcellos (2010) ressalta que o primeiro dos critérios fundamentais do Pensamento Sistêmico se refere à mudança das partes para o todo, a partir do entendimento de que as propriedades essenciais são do todo de forma que nenhuma das partes as possui, pois estas surgem justamente das relações de organização entre as partes para formar o todo. Outro critério diz respeito à capacidade de deslocar a atenção de um lado para o outro entre níveis sistêmicos.
Por fim, o último critério se refere à mudança da ciência objetiva para a epistêmica; o método de questionamento torna-se parte integral das teorias científicas. A compreensão do processo de conhecimento precisa ser explicitamente incluída na descrição dos fenômenos naturais, de forma que tais descrições não são objetivas (CAPRA, 2006; GRANDESSO, 2000; VASCONCELLOS, 2010).
Gomes et al (2014) falam até a década de 1940, a prática terapêutica era orientada pela Psicanálise e a ideia hegemônica era a de que o comportamento humano era regido por forças intrapsíquicas. Como consequência da Segunda Guerra Mundial, houve um movimento de união das famílias e tornaram-se mais fortes as críticas à Psicanálise por não dar a ênfase necessária aos contextos ambientais. A Teoria Sistêmica passa a ganhar força trazendo a proposta de mudança no foco das teorias clínicas do indivíduo para os sistemas humanos, ou seja, do intrapsíquico para o interrelacional. Dessa forma, nas décadas de 50 e 60, ocorre um movimento de combinação entre abordagens já consolidadas, tais como a psicanalítica, e novos conceitos baseados na Teoria dos Sistemas, na Cibernética e na Teoria da Comunicação.
Os autores ainda ressaltam que dentro da Psicologia, o Pensamento Sistêmico pode ser utilizado tanto para o embasamento teórico de pesquisas quanto na intervenção clínica com indivíduos, famílias e grupos sociais. Pensar sistemicamente, embasando-se na ciência novo paradigmática, implica reconhecer o sujeito no seu contexto; o terapeuta ou pesquisador se inclui no sistema no qual intervém ou que estuda, entendendo que a realidade não é estática e nem presumível. Assim, pensar sistemicamente não significa negar os fenômenos intrapsíquicos, e sim buscar compreender e trabalhar os fenômenos psíquicos de uma complexa rede de relações interpessoais. Trabalham principalmente com os significados da família em relação ao sintoma e do paciente identificado com o objetivo de encontrar a presença e a ausência de consensos.
Dentro do pensamento sistêmico, é necessário que faça uma entrevista com o paciente a fim de conhecê-lo melhor. Zordan, Dellatorre e Wieczoreck (2012) falam que a estrutura de uma sessão dos adeptos desta modalidade terapêutica é a entrevista dividida em quatro fases: 1) reunião preparatória; 2) entrevista; 3) intervenção sistêmica e 4) reunião pós-entrevista. Dentro da entrevista encontra-se a técnica de questionamento circular, cujo objetivo é basicamente o de obter informações que irão confirmar ou não as hipóteses formuladas. 
Quando falando da saúde pública, apesar dos investimentos consideráveis, há a percepção geral de que os sistemas de saúde geram insatisfações com a qualidade e o volume dos serviços prestados. Marciano, Vaccaro e Scavarda (2019) citam que um fator importante que explica essas falhas na gestão da saúde consiste no uso inadequado de ferramentas e métodos para analisar, projetar e implementar ações e políticas de caráter gerencial eficazes. Ocorre que, em sistemas com elevado grau de complexidade, como o próprio Sistema Único de Saúde, uma ação isolada dentro do contexto de uma parte do sistema pode perturbar o equilíbrio de todo o sistema. Os autores ainda falam que neste caso, uma abordagem mais adequada pode ser o emprego de Pensamento Sistêmico e Dinâmica de Sistemas. 
Koelling e Schwandt (2005) citam o método da Dinâmica de Sistemas como sendo uma forma adequada de tratar a complexidade envolvida nos sistemas de saúde pública. Tal método envolve o desenvolvimento de casualidade com o suporte de avançadas tecnologias de simulação e modelagem em computador. Pensando assim, o pensamento sistêmico possibilita vantagens em termos de modelagem e análise nos sistemas de saúde, por isso tem sido amplamente utilizado para auxiliar decisões de gestão. 
Para Lebcir (2006), as principais intervenções da Dinâmica de Sistemas consistem na análise de mecanismos de propagação de doenças infecciosas, na concepção de sistemas de cuidados primários e para encontrar os principais motivos que levam às listas de espera. Esse tema contempla uma rica variedade de áreas em que a Dinâmica de Sistemas pode desempenhar um papel significativo na formulação de políticas de saúde. 
No cenário atual, as políticas públicas de saúde brasileiras são organizadas e regidas pelas leis do Sistema Único de Saúde (SUS), que foi sancionado pela Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, também chamada de “Lei Orgânica da Saúde”, que é conhecida pelo princípio constitucional da saúde como direito de todos e dever do Estado e estabelece, no seu artigo 7º, que “as ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal”, obedecendo aos princípios de universalidade do acesso, integralidade da assistência, direito a informação, participação da comunidade, dentre outros. O SUS está amparado em uma vasta legislação, cujo tripé principal é formado pela Constituição Federal de 1988 e pelas Leis nº 8.080 e nº 8.142, ambas de 1990; complementarmente, existiram várias normas operacionais (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2012). 
As diretrizes do SUS são, portanto, o conjunto de recomendações técnicas e organizacionais voltadas para problemas específicos, produzidas pelo Ministério da Saúde, com o concurso de especialistas de reconhecido saber na área de atuação, de abrangência nacional, e que funcionam como orientadores da configuração geral do sistema em todo o território nacional, respeitadas as especificidades de cada unidade federativa e de cada município (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2012).
Em 1994, há a criação do Programa Saúde da Família ou PSF no Brasil, conhecido hoje como “Estratégia Saúde da Família”, por não se tratar mais apenas de um “programa”, teve início em 1994 como um dos programas propostos pelo governo federal aos municípios para implementara Atenção Primária. A Estratégia Saúde da Família visa à reversão do modelo assistencial vigente, em que predomina o atendimento emergencial ao doente, na maioria das vezes em grandes hospitais. A família passa a ser o objeto de atenção, no ambiente em que vive, permitindo uma compreensão ampliada do processo saúde-doença. O programa inclui ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2012).
Em 2006, cria-se o Pacto pela Saúde, que é um conjunto de reformas institucionais pactuado entre as três esferas de gestão (União, estados e municípios) do Sistema Único de Saúde, com o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de gestão. Sua implementação se dá por meio da adesão de municípios, estados e União ao Termo de Compromisso de Gestão (TCG), que, renovado anualmente, substitui os anteriores processos de habilitação e estabelece metas e compromissos para cada ente da federação (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2012).
Em vista dos princípios do SUS, para desenvolver a atenção integral à saúde que abranja a complexidade do processo saúde-doença, o trabalho interdisciplinar se torna uma real necessidade do profissional de saúde. O psicólogo, nesse contexto, oferece uma importante contribuição na compreensão contextualizada e integral do indivíduo, das famílias e da comunidade (BOARINI; BORGES, 2009). 
Considerando a Atenção Básica como o conjunto de ações
em saúde, tanto no âmbito individual como no coletivo, que visa a
desenvolver uma atenção integral que impacte positivamente nas
necessidades de saúde das coletividades e que busca, assim, minimizar
as condições de vulnerabilidade da população, delineia, portanto,
o papel imprescindível da (o) psicóloga (o) nesses espaços de
atuação, como afirma um dos princípios fundamentais do Código
de Ética do Psicólogo: 
(...) II. O psicólogo trabalhará visando a promover
a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e
contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Nessa perspectiva esta referência se apresenta como um importante
instrumento técnico e político para a demarcação do espaço
de atuação da Psicologia, demonstrando a relevância das contribuições das práticas psicológicas nos serviços específicos. Além disso, ancora o fazer profissional com os princípios do SUS, ressaltando que atuar nestes espaços exige uma postura em defesa das políticas públicas como instrumentos de garantia de direitos. Assim, atuar na Atenção Básica à Saúde convoca o profissional a reafirmar na sua prática a máxima garantida na Constituição Federal de 1988 de que “A saúde é direito de todos e dever do Estado” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005).
Pela teoria dos sistemas de saúde, a atenção básica deve se responsabilizar por 80% dos problemas de saúde de sua população no âmbito individual e coletivo, por meio da promoção e proteção da saúde, da prevenção de agravos, do diagnóstico, do tratamento e da reabilitação (JIMENEZ, 2011).
Sabe-se, portanto, que as frequentes demandas envolvendo queixas emocionais ou somáticas estão relacionadas a diversos fatores, dessa forma, os sujeitos individuais e familiares que vivem em um contexto social, acabam promovendo expressões de saúde e de adoecimento, o processo de adoecer é também coletivo, portanto, a abordagem psicológica na atenção básica deve incluir subsídios sensíveis à percepção e compreensão dos movimentos das coletividades e das instituições que abarcam e, ao mesmo tempo, extrapolam as individualidades (JIMENEZ, 2011).
2. Referências
BOARINI, M. L; BORGES, R. F. O psicólogo na atenção básica à saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 29, p. 602-613, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/r7M7zPzQQdVVrSV4ncXvBty/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 11 set. 2021.
CAPRA, F. A teia da vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix. 2006.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional Psicólogo. 2005. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf. Acesso em: 13 set. 2021.
GRANDESSO, M. A. Sobre a reconstrução do significado: Uma análise epistemológica e hermenêutica da prática clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
GOMES, L. et al. As Origens do Pensamento Sistêmico. Pensando Famílias, Florianópolis, v. 2, n. 18, p.1-14, dez. 2014.
JIMENEZ, L. Psicologia na atenção básica à saúde: demanda, território e integralidade. Psicologia & Sociedade, v. 23, p. 129-139, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/ZWFDHkf3v37hBsVvrXYBb8f/abstract/?lang=pt. Acesso em: 13 set. 2021.
KOELLING, P; SCHWANDT, M. J. Health systems: A dynamic system-benefits from system dynamics. In: Proceedings of the Winter Simulation Conference, 2005. IEEE, 2005. p. 7. Disponível em: https://ieeexplore.ieee.org/abstract/document/1574393?casa_token=qToJOFKo88MAAAAA:p4KJBywncOcJD470A6Pu5rg9OF4Zz_WgvyTlpEg8KllFFkwRc9RwpjNuLHuo6PLucS7RZtdH-rzjMQ. Acesso em: 13 set. 2021.
LEBCIR, M. Health care management: the contribution of systems thinking. 2006. Disponível em: https://uhra.herts.ac.uk/handle/2299/683. Acesso em: 10 set. 2021.
LIMA, L. P. Psicoterapia para psicoterapeutas: luxo, obrigação ou necessidade? Igt na Rede, São Paulo, v. 13, n. 24, p.60-84, set. 2016. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/igt/v13n24/v13n24a05.pdf>. Acesso em: 09 set. 2021.
MARCIANO, M. A; VACCARO, G; SCAVARDA, A. Qualidade de sistema de saúde pública: uma compreensão sistêmica no sul do Brasil. Gestão & Produção, v. 26, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/gp/a/WQDPLdg6kwmkmxFZzyKDdpJ/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 09 set. 2021.
REIS, D. O; ARAÚJO, E. C; CECÍLIO, C. O. Políticas públicas de saúde: Sistema Único de Saúde. UNA-SUS, v. 25, 2012. Disponível em: https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/pab/7/unidades_conteudos/unidade02/unidade02.pdf. Acesso em: 09 set. 2021.
VASCONCELLOS, M. J. E. Pensamento sistêmico: O novo paradigma da ciência. 9. ed. Campinas: Papirus. 2010.
ZORDAN, R.; DELLATORRE, E. P.; WIECZOREK, L. A ENTREVISTA NA TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS, MODELOS E TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO. Perspectiva, Erechim, v. 36, n. 136, p.133-142, dez. 2012. Disponível em: <http://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/136_314.pdf>. Acesso em: 09 set. 2021.

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