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Economia e Mercado Otto Nogami Econom ia e M ercado Otto Nogam i Quando o assunto é economia, é comum as pessoas reagirem como se o tema fosse algo complexo e de difícil compreensão; logo imaginam um estudo carregado de modelos, equações algébricas, estatísticas e gráficos difíceis de serem assimilados. Porém, conforme a economia apura, analisa e retrata o dia a dia, percebem que ela é uma ciência lógica, pois carrega uma relação de ação e reação. Tudo o que as pessoas fazem, até mesmo dormir, traz consequências de natureza econômica – uma necessidade biológica que afeta a produtividade no trabalho, por exemplo. Assim, esta obra procura apresentar a economia integrada à vida de todos, de modo compreensível. Assuntos que parecem distantes, como a macroeconomia e as políticas econômicas governamentais, influenciam diretamente o dia a dia das pessoas e de seus negócios. Portanto, entender como a economia e o mercado funcionam e a estreita relação entre eles é fundamental não apenas para estudantes da área de finanças, mas para todos aqueles que queiram saber como o mercado financeiro funciona e aplicar esses conhecimentos para o crescimento econômico pessoal e coletivo.Código Logístico 58799 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6518-9 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 1 8 9 Economia e Mercado IESDE 2019 Otto Nogami © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Sittipong Phokawattana/ImageFlow/THICHA SATAPITANON/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ N696e Nogami, Otto Economia e mercado / Otto Nogami. - 1. ed. - Curitiba [PR]: IESDE, 2019. 144 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6518-9 1. Economia. 2. Macroeconomia. 3. Mercado financeiro. I. Título. 19-59476 CDD: 330 CDU: 330 Otto Nogami Doutor em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Economia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. MBA em Finanças pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais. Bacharel em Ciências Econômicas, pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. É administrador de carteiras de valores mobiliários, credenciado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além de palestrante e conferencista. Atua como professor em programas de pós-graduação lato sensu e educação executiva do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e da Fundace da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. É autor e coautor de livros acadêmicos e artigos científicos. Sumário 1 A importância dos fundamentos econômicos 9 1.1 Noções gerais de economia e mercados 10 1.2 Necessidades e desejos das pessoas 16 1.3 Fluxo circular da atividade econômica 18 1.4 Fronteira de possibilidade de produção 20 2 A percepção estratégica da economia de empresas 25 2.1 Teoria do consumidor 25 2.2 Teoria da produção 37 2.3 Teoria de custos 42 3 A macroeconomia e a conjuntura econômica 51 3.1 Rápido crescimento econômico 51 3.2 Pleno emprego 53 3.3 Inflação sob controle 55 4 Mensuração e estrutura das contas nacionais 63 4.1 A Contabilidade Nacional 63 4.2 Produto Interno Bruto (PIB) 67 4.3 Quantificando o PIB 73 5 Modelo de três economias 77 5.1 Economia simples 77 5.2 Economia fechada 81 5.3 Economia aberta 84 6 A moeda e sua importância 89 6.1 Moeda: definição e origem 89 6.2 Funções da moeda 91 6.3 Características da moeda 94 6.4 Formas de moeda e as quase moedas 95 6.5 Demanda, oferta e equilíbrio monetário 95 6.6 Política monetária 101 7 Política econômica e o tripé macroeconômico 105 7.1 Política econômica 105 7.2 Tripé macroeconômico 110 8 Sistema financeiro e acumulação de riqueza 123 8.1 Sistemas monetário e financeiro 123 8.2 Instituições financeiras 124 8.3 Instrumentos financeiros 125 8.4 Segmentação do mercado financeiro 126 8.5 Sistema financeiro nacional 129 8.6 Acumulação de riqueza 136 Gabarito 141 Apresentação Quando falamos de economia, é comum as pessoas reagirem como se o tema fosse algo complexo e de difícil compreensão; logo imagina-se um estudo carregado de modelos, equações algébricas, estatísticas e gráficos difíceis de serem assimilados. Sim, isso é verdade na medida em que essas ferramentas são necessárias para analisar tanto o passado, como também para entender o nosso presente e, em especial, ter uma ideia do que possa acontecer no futuro. Porém, conforme a economia apura, analisa e retrata o nosso dia a dia, percebe-se que ela é uma ciência lógica, pois carrega uma relação de ação e reação. Tudo o que fazemos, até mesmo dormir, traz consequências de natureza econômica – uma necessidade biológica que afeta a produtividade das pessoas no trabalho, por exemplo. Assim, esta obra procura apresentar essa lógica, que faz parte da vida de todos nós, de forma compreensível. Para tanto, este livro foi organizado em oito capítulos, cada um deles abordando os aspectos econômicos que mais comumente ouvimos e comentamos. No primeiro capítulo temos a abordagem dos princípios econômicos, explicando o significado de alguns termos e do nosso papel na sociedade, mostrando como as famílias interagem com as empresas e, ainda, as preocupações que os governantes têm em relação às necessidades e desejos das pessoas. No segundo capítulo são exploradas as preocupações estratégicas que reinam dentro das empresas, como a leitura do mercado e a análise do comportamento dos consumidores etc.; essas fundamentam os critérios estratégicos de produção, especialmente no que diz respeito à produtividade e, por decorrência, aos seus custos de produção. Desse modo, entender como as empresas analisam as condições de custos, para que possam operar em condições de equilíbrio, ou seja, igualar custos e receita, é um aspecto muito importante. Os aspectos macroeconômicos, que envolvem temas como o crescimento econômico, o pleno emprego e a inflação, são apresentados no terceiro capítulo. Nele temos, também, uma retrospectiva histórica a fim de entendermos como esses aspectos conjunturais se comportaram nas últimas décadas. Para que possamos entender melhor esses aspectos conjunturais, no quarto capítulo abordamos a mensuração e estrutura das contas nacionais. A decomposição das principais contas, como a da produção, famílias, governo, investimentos e setor externo, mostra a estrutura básica da contabilidade nacional e a forma lógica para a apuração do produto interno bruto (PIB). No quinto capítulo procuramos mostrar a lógica existente na relação entre o setor privado, setor externo e o setor público através de identidades que apresentem as reações econômicas, visto que há um desequilíbrio nesses setores, especialmente no público em que o gasto é maior do que a arrecadação. Economia e Mercado8 Outro assunto tão importante, e que inclusive serve de instrumento para o governo controlar a atividade econômica, é explorado no sexto capítulo; estamos falando da moeda, sua origem, suas funções e características. Além disso, o governo controla a atividade econômica por meio da Política Econômica e de seus instrumentos. Este assunto está presente no sétimo capítulo, no qual também falamos do tripé macroeconômico, isto é, de três indicadores importantes para o monitoramento de como anda a economia. Por fim, no oitavo capítulo, trazemos um tema que, para muitos, causa fascínio pelo fato de estar relacionado à perspectiva de ganhar dinheiro no mercado financeiro. Desta forma, são trabalhados o sistema financeiro, seus instrumentos e instituições, e os mercados que permitem esse sistema funcionar. Também falamos de um assunto muito relevante para todos nós, que é o processode acumulação de riqueza. Essa é a jornada que propomos a você. Uma viagem enveredando pelos misteriosos e tortuosos caminhos da Economia e Mercado. 1 A importância dos fundamentos econômicos Uma célebre frase consegue definir, de maneira ampla, o real significado da economia: “não existe almoço de graça”. Essa frase acabou sendo imortalizada no meio econômico pelo prêmio Nobel de Economia Milton Friedman, que a utilizou como título de um de seus livros, There’s no such thing as a free lunch, no qual refuta a ideia de que um governo pode gastar à vontade sem que alguém tenha que pagar por isso. É o fundamento que rege o chamado custo de oportunidade, que significa abrir mão de alguma coisa para poder obter outra. Essa é a essência da ciência econômica, cuja importância está no princípio da escassez. Mas o que isso tem a ver com o nosso dia a dia? Tudo. Todas as relações e decisões tomadas pelos agentes econômicos – famílias, governo e setor externo – afetam a sociedade como um todo. Indicadores como inflação, taxa de câmbio, taxa de juros, Produto Interno Bruto, desemprego, entre outros, são sinalizadores de como anda a atividade econômica. Daí a importância do entendimento dos princípios que regem a economia, especialmente pelo fato de ela impactar tudo o que fazemos. A simples ida a uma padaria para comprar um pão, o ato de ligar a televisão ou de fazer uma anotação em uma folha de papel envolve centenas de atividades, incluindo milhares de pessoas que fazem uma economia funcionar. Friedman contextualizou de maneira brilhante essa questão, utilizando como exemplo um simples lápis com um apagador em uma das pontas – aqui, vamos adaptar para uma situação no Brasil. A madeira desse lápis veio de uma árvore derrubada em alguma área de reflorestamento no país. Para derrubar essa árvore, foi necessário usar uma motosserra, cuja confecção demandou a utilização de aço, que, por sua vez, precisou de minério de ferro. O grafite veio de alguma mina no Estado de Minas Gerais ou da Bahia. A borracha do apagador veio de uma seringueira da região de Xapuri no Estado do Acre, ou da Malásia, importada da Amazônia por alguns homens de negócios no início do século XX, com a ajuda do governo inglês. O envoltório de latão da borracha pode ter vindo de qualquer lugar, muito provavelmente de uma pequena ou microempresa. A tinta utilizada para revestir o lápis e para a impressão da marca foi produzida por alguma grande produtora de tintas e solventes. Percebe-se, portanto, que milhares de pessoas contribuíram para a fabricação de um simples lápis, de valor unitário bastante baixo. Essas pessoas podem, inclusive, não falar a mesma língua, praticar religiões diferentes e talvez se odiassem caso se encontrassem. Isso sem falar das inúmeras empresas envolvidas – micros, pequenas, médias e grandes –, localizadas nas mais diferentes regiões do planeta, o que demanda diversas operações de logística, envolvendo modais diversos. Assim, quando vamos a uma loja comprar um simples lápis, estamos trocando alguns minutos do nosso tempo por alguns segundos de todas aquelas milhares de pessoas envolvidas no processo de produção desse produto. Essa é a magia da economia que procuraremos mostrar neste capítulo. Nossa intenção aqui é desvendar os mistérios da economia. Economia e Mercado10 1.1 Noções gerais de economia e mercados O problema central de todas as economias é o princípio da escassez e, como vários autores costumam dizer, se não fosse ela, não haveria a necessidade de se estudar economia. A existência da escassez decorre do fato de que nossas necessidades e nossos desejos são infinitos e ilimitados, sendo satisfeitos por meio do consumo dos mais diferentes bens (alimentos, bebidas, vestuários etc.) e serviços (transportes, educação, comunicação etc.). Por outro lado, os recursos produtivos (capital físico, capital financeiro, matérias-primas, mão de obra etc.) utilizados nos mais diferentes processos de produção são finitos e limitados, ou seja, não são suficientes para produzir o necessário para atender ao consumo de toda a sociedade. Desse desequilíbrio entre necessidades e recursos e do conceito de escassez é que surgem as três questões econômicas fundamentais: o que produzir, como produzir e para quem produzir. Já que uma sociedade não tem condições de produzir toda a quantidade desejada de bens e serviços, é preciso estabelecer quais deles serão produzidos e em que quantidade em determinado período. Deve-se produzir mais alimentos ou automóveis? Mais bens de consumo ou mais bens de capital? Quantos serviços de educação e quantos de saúde devem ser disponibilizados? Uma vez definido o que e quanto produzir, a sociedade tem, então, que decidir a forma como ela vai produzir esses diferentes bens e serviços. Nesse sentido, deve-se perguntar: qual a melhor combinação de recursos produtivos a serem utilizados? Qual o melhor método de produção para oferecer a melhor eficiência técnica (produtividade) e econômica (lucro)? Respondidas essas duas perguntas, a sociedade deverá estabelecer quem irá receber esses bens e serviços e como será distribuída essa produção entre os integrantes dessa sociedade. 1.1.1 Sistema econômico Um sistema econômico, de acordo com Nogami e Passos (2016), pode ser definido como a forma pela qual uma sociedade está organizada, em termos políticos, econômicos e sociais, para desenvolver as mais diferentes atividades de produção, troca e consumo de bens e serviços. Cada sociedade funciona de acordo com sua cultura, suas regras e sua legislação. Não se pode descartar também o pensamento econômico predominante, o qual define a forma como são conduzidas as três questões fundamentais da economia. É especialmente porque cada sociedade se organiza de maneira diferente que devemos ter muito cuidado ao comparar uma economia à outra. 1.1.2 Necessidades humanas, bens e serviços Desde o nascimento, somos carregados de necessidades e desejos, os quais são paulatinamente satisfeitos ao longo da vida. E, à medida que amadurecemos e temos contato com o mundo em que vivemos, mais essas necessidades e esses desejos se ampliam – em verdade, podemos afirmar que tudo o que fazemos em vida é para satisfazê-los. Podemos classificar essas necessidades em duas categorias: econômicas e não econômicas. As necessidades econômicas são satisfeitas por bens e serviços, relativamente escassos, que precisam ser produzidos e que são denominados bens econômicos, visto que possuem preço. 11A importância dos fundamentos econômicos Quanto à sua natureza, esses bens podem ser classificados em dois grupos: bens materiais e bens imateriais ou serviços. Os bens materiais são tangíveis, ou seja, podem ser medidos, pesados, mensurados e são classificados em bens de consumo e bens de capital. Os bens de consumo são aqueles consumidos por nós para satisfazer nossas necessidades; em outras palavras, são aqueles que estão prontos para o consumo das pessoas. Como exemplos desse tipo de bem podemos citar alimentos, bebidas, vestuário e veículos. Por outro lado, bens de capital são aqueles que serão utilizados para a produção de outros bens, como máquinas, equipamentos, ferramentas, edifícios etc. Tanto os bens de consumo como os bens de capital são denominados bens finais, visto que são produtos prontos para serem utilizados. E temos ainda os chamados bens intermediários, representados por produtos que não estão finalizados e, portanto, ainda precisam sofrer transformações. Os bens imateriais ou serviços são intangíveis, ou seja, não podem ser tocados. Um detalhe importante é que eles também não podem ser estocados. Como exemplos, temos os serviços de transporte, advocatícios, médicos, entre outros. Já as necessidades não econômicas são satisfeitas por bens que não podem ou não precisam ser produzidos, geralmente por serem abundantes, como é o caso do ar que respiramos. 1.1.3 Fatores de produção ou recursos produtivos Aqueles produtos que precisamser produzidos para satisfazer necessidades e desejos das pessoas, tanto bens intermediários como bens finais, demandam um conjunto de elementos denominados fatores de produção ou recursos produtivos. Esses fatores podem ser classificados em quatro grandes grupos: capacidade empresarial, capital, trabalho e terra. A capacidade empresarial ou capacidade empreendedora é fundamental na economia, pois dela depende o surgimento e a existência das empresas, atuando nos mais diferentes ramos da atividade econômica, identificando ou criando desejos nas pessoas. É sob a coordenação dessa capacidade que as empresas buscam sua competitividade e sua produtividade, procurando operar com eficiência técnica e econômica, a fim de maximizar seus lucros. Para colocar em operação uma atividade produtiva, é necessário investir, ou seja, injetar capital, que vai se transformar em capital físico e de giro. O capital físico é direcionado para a aquisição de instalações, máquinas, equipamentos, ferramentas, entre outros. O capital de giro, por sua vez, é composto pelos recursos financeiros necessários para se produzir. O trabalho é representado pela mão de obra necessária – braçal ou intelectual – para fazer a empresa funcionar. Um aspecto importante a ser considerado é a quantidade e a qualidade da mão de obra disponível em uma economia, especialmente para se definir a forma de produção. Em países onde a mão de obra apresenta baixa qualificação, os processos de produção tendem para a manufatura; por outro lado, em países que são intensivos utilizadores de capital, a mão de obra tende a apresentar uma qualificação maior. Economia e Mercado12 O elemento terra é responsável pela disponibilização dos recursos naturais ou das matérias- -primas. Não podemos esquecer que toda matéria-prima é produzida sobre a terra ou é extraída dela. Assim, seu uso depende das condições de solo e de clima que cada país apresenta, o que determina também o tipo de matéria-prima que ele vai produzir. A extensão territorial do Brasil faz com que o país tenha áreas cultiváveis tanto na região tropical como na temperada, o que permite uma diversidade de produção como poucos países no mundo possuem. E as condições climáticas possibilitam ainda, em algumas regiões, a colheita de duas safras ao ano de determinadas culturas, fato impensável em países localizados predominantemente em regiões mais frias. 1.1.4 Agentes econômicos Os agentes econômicos são pessoas de natureza física ou jurídica que fazem o sistema econômico funcionar. Eles são agrupados em: famílias, empresas e governo. As famílias são formadas por todos os indivíduos e unidades familiares da economia que, no papel de consumidores, adquirem os mais diferentes tipos de bens e serviços para atender às suas necessidades de consumo. As famílias são também as proprietárias dos fatores de produção (capacidade empresarial, capital, trabalho e terra). Já as empresas são as unidades responsáveis pela fabricação e comercialização de bens e serviços. A produção é feita com o uso dos fatores de produção de propriedade das famílias e, uma vez processados, transformam-se em bens e serviços. Todo esse processo envolve a preocupação de obter, sempre, o maior lucro possível. Formado por um conjunto de indivíduos e instituições que têm a função de administrar uma unidade política e conduzir os rumos de uma sociedade, o governo, por sua vez, é constituído por todas as instituições que, direta ou indiretamente, estão sob o controle do Estado nas esferas federais, estaduais ou municipais. Ele é o segundo maior consumidor da economia, contratando serviços, adquirindo bens de consumo duráveis e não duráveis e bens de capital. O governo também intervém na atividade econômica por meio de regulamentos e controles, com a finalidade de disciplinar a conduta dos outros agentes econômicos. 1.1.5 Mercados As relações entre os agentes econômicos realizam-se em um ambiente denominado mercado, no qual vendedores (compõem o lado da oferta) e compradores (compõem o lado da demanda) estabelecem contato e realizam suas transações. O lado dos vendedores é representado pelas empresas, que vendem bens e serviços para os consumidores (famílias e governo), e pelos proprietários dos fatores de produção (capacidade empresarial, capital, mão de obra e terra) que os vendem ou arrendam às empresas produtoras em troca de receita (lucros, juros, salários e aluguéis). O lado dos compradores, por sua vez, é constituído tanto pelas famílias, que são compradoras de bens e serviços, quanto pelas empresas produtoras, que são compradoras de fatores de produção 13A importância dos fundamentos econômicos (capacidade empresarial, capital, mão de obra e terra) utilizados na produção de bens e serviços. Segundo Nogami e Passos (2016, p. 17), é importante notar que, para fins de análise econômica, o conceito de mercado não implica, necessariamente, a existência de um lugar geográfico em que as transações se realizam. Na realidade, as mercadorias são vendidas segundo os mais diferentes dispositivos institucionais, tais como feiras, lojas, bolsas de valores etc., podendo o termo mercado aplicar-se a qualquer um deles. Basta, para isso, que compradores e vendedores de qualquer bem (ou serviço, ou recurso) interajam, resultando daí a possibilidade de comercializar esse bem. Devemos observar que os mercados estão no centro da atividade econômica. Essa é a razão pela qual muitos temas importantes em economia estão relacionados com a maneira de funcionar desses mercados. Assim, todas as relações entre famílias e empresas se realizarão em mercados, sejam eles de bens e serviços, sejam de fatores de produção. 1.1.5.1 Mercado de bens finais e serviços Os mercados são caracterizados com base em alguns fatores importantes, como o número de empresas produtoras atuando no mercado e a homogeneidade ou diferenciação dos produtos de cada empresa. Com base nessas características, podemos classificar os mercados nas seguintes formas de estruturas: • Concorrência perfeita: um tipo de mercado em que há grande número de vendedores (empresas) e compradores e no qual nenhum vendedor ou comprador é grande o suficiente para afetar o preço de comercialização. Ou seja, a ação individual de um vendedor ou comprador não afeta o mercado. Portanto, é um mercado atomizado, no qual produtos ofertados são homogêneos perfeitos (princípio da indiferença) e há igualdade de custos e transportes e livre mobilidade (entrada e saída). Por essas características, as empresas são tomadoras de preços. Exemplos: mercados de café, soja, açúcar e petróleo (NOGAMI; PASSOS, 2016). • Concorrência monopolística: também conhecida como concorrência imperfeita, é uma situação de mercado em que existem muitos produtores vendendo produtos diferenciados (intimamente relacionados, mas não idênticos), porém que são substitutos próximos entre si, e muitos compradores. Permite a livre entrada e saída de empresas. A diferenciação pode ser de tecnologia, qualidade, forma, desenho, apresentação etc. “Isso faz com que os produtores sejam praticamente os únicos a produzir tal bem, o que lhes confere, ainda que temporariamente, um certo poder monopolístico” (NOGAMI; PASSOS, 2016, p. 17). Exemplos: creme dental, detergente, televisores etc. • Oligopólio: é uma situação de mercado em que poucas e grandes empresas vendedoras controlam a oferta de um produto, que pode ser homogêneo (oligopólio puro) ou diferenciado (oligopólio diferenciado). A ação de uma empresa pode afetar as demais, e o produtor tem certo grau de controle sobre o preço que cobra. No oligopólio puro, os produtos são homogêneos, tais como o aço, o alumínio, o cimento etc. Por sua vez, Economia e Mercado14 no oligopólio diferenciado, como o próprio nome indica, os produtos são diferenciados. Como exemplos temos a indústria automobilística e a indústria de utilidades domésticas. • Duopólio: de acordo com Sandroni (1999, p. 187), o duopólio é umacondição de mercado semelhante ao oligopólio, na qual apenas dois produtores de um determinado bem ou serviço têm o controle dominante e exclusivo. Em função dessa característica, elas agem de maneira bastante similar, de tal forma que a mudança de comportamento de uma leva à mudança da outra. As empresas que atuam nesse tipo de estrutura de mercado analisam cenários táticos complexos de ações e reações uma contra a outra. Exemplos: em certo momento da economia brasileira, o duopólio da aviação entre Tam e Gol, sistemas operacionais Android e iOS, e Boeing e Airbus, que podem ser consideradas completamente dominantes dentro do setor de fabricação de aviões de grande porte para transporte de passageiros. • Monopólio: situação de mercado em que uma única empresa vende um produto para o qual não há substituto próximo, e o produtor exerce grande influência na determinação do preço a ser cobrado por seu produto. É uma situação totalmente oposta à da concorrência perfeita, uma vez que ao lado da oferta não há concorrência e nem produto concorrente. Nessas condições, ou os consumidores aceitam as condições estipuladas pelo monopolista, ou então abandonam o mercado, deixando de consumir o produto. Essa situação é encontrada, por exemplo, em indústrias nas quais o único produtor tenha patente ou controle sobre uma fonte de recursos essencial para a elaboração do produto. (NOGAMI; PASSOS, 2016, p. 17) Exemplos: monopólio estatal dos Correios e Telégrafos, mercado de fornecimento de energia elétrica, saneamento básico, entre outros. É importante observar que o entendimento do que são essas estruturas é fundamental para a análise de custos, pois as características do mercado em que a empresa atua irão determinar a condição de obtenção do maior lucro. 1.1.5.2 Mercado de fatores de produção No mercado de fatores de produção, as famílias é que se constituem como vendedores ou prestadores de serviços dos recursos produtivos, enquanto as empresas são as demandantes desses itens. Os preços nesse mercado (lucros, juros, salários e aluguéis) também são estabelecidos de modo livre, na relação entre vendedores e compradores. Os pagamentos pela aquisição dos fatores de produção serão efetuados pelas empresas aos indivíduos quando da aquisição ou contratação desses recursos. Portanto, os fatores de produção tornam-se objeto de transações em um determinado tipo de estrutura de mercado, o qual se diferencia pela quantidade de agentes vendedores e compradores e pela homogeneidade ou não do fator de produção (NOGAMI; PASSOS, 2016). 15A importância dos fundamentos econômicos Nesse sentido, as estruturas mercadológicas podem ser classificadas da seguinte forma: • Concorrência perfeita: tem como condições de existência, entre outras, a oferta abundante do fator de produção, o preço constante do fator, o grande número de ofertantes e de demandantes, a homogeneidade dos fatores de produção (do ponto de vista tanto dos vendedores quanto dos compradores), a total transparência de mercado e a inexistência de condições de os ofertantes fixarem preços (são tomadores de preços). Exemplo: mercado de trabalho, mercado de recursos naturais. • Concorrência monopsonística: é uma estrutura do mercado de fatores de produção caracterizada por grande número de pequenas empresas compradoras, que compram insumos semelhantes, mas não idênticos. Essas companhias têm liberdade para entrar e sair da indústria e possuem amplo (mas não perfeito) conhecimento de preços e tecnologia. Quatro são as principais características dessa estrutura de mercado, que em muito se assemelha à concorrência monopolística: grande número de pequenos compradores; produtos semelhantes, mas não idênticos; relativa mobilidade dos recursos; e relativo conhecimento, mas não completo, dos preços e da tecnologia. • Oligopsônio: essa estrutura ocorre quando a compra de fatores de produção está nas mãos de três ou mais compradores. Nesse caso, eles têm o poder de determinar os preços da compra dos recursos produtivos, que podem ser homogêneos (apresentam substitutos perfeitos) ou diferenciados (não apresentam substitutos perfeitos), como apontam Nogami e Passos (2016). Como exemplo, podemos citar o que se verifica em cidades interioranas produtoras de leite, onde existem duas ou três empresas de laticínios que adquirem a maior parte do leite de diversos produtores locais. No setor de fabricação de aeronaves, por sua vez, temos apenas quatro grandes companhias dominando o mercado – Boeing, Airbus, Embraer e Bombardier. No mercado de cacau, observamos três empresas (Cargill, Archer Daniels Midland e Callebaut) adquirindo toda a produção de pequenos países produtores de cacau. • Duopsônio: inversamente ao duopólio, o duopsônio é uma estrutura de mercado em que existem apenas dois compradores de um fator de produção e diversos ofertantes. A produção dos mais de 17 mil produtores de folhas de tabaco da cidade de Santa Cruz do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, é adquirida por apenas duas empresas: a Alliance One Brasil Exportadora de Tabacos e a Universal Leaf Tabacos. • Monopólio bilateral: interessante situação de mercado em que um monopolista se vê diante de um monopsonista. Isso significa que existe um único comprador de determinado fator de produção, o qual é comercializado por um único vendedor. A Embraer, por exemplo, fabrica os aviões de guerra Super Tucano, e o governo brasileiro compra esses aviões; a empresa aparece como monopolista na fabricação, enquanto o governo (Força Aérea Brasileira) é o monopsonista na aquisição. Economia e Mercado16 • Monopsônio: de acordo com Nogami e Passos (2016, p. 18), “é o regime ou estrutura de mercado em que um único comprador concentra em suas mãos a totalidade de compra dos fatores de produção, não obstante ele se defronte com grande número de vendedores ou ofertantes de tais fatores”. Nesse caso, os preços não são determinados pelos vendedores, mas pelo único comprador. É comum dizer-se que o monopsônio, frequentemente, deriva de um monopólio instalado. De fato, o monopólio na venda de um produto pode determinar o monopsônio na compra dos fatores de produção do referido produto. Uma situação típica desse regime é a de um produtor de automóveis que depende de determinado número de fornecedores de algumas peças que não são utilizadas por outros fabricantes. Por essa razão, os pequenos fabricantes produzem apenas para essa marca de automóveis. O produtor de automóveis desse exemplo pode ser entendido como um monopsonista. Agora que já estão mais claros os conceitos de concorrências perfeita e monopsonística, além de oligopsônio, duopsônio, monopólio bilateral e monopsônio, vejamos a relação de todos eles com a renda e a riqueza de uma nação. 1.1.6 Renda e riqueza Existe uma grande distinção entre renda e riqueza. Segundo Nogami e Passos (2016), renda é o que se ganha sob a forma de remuneração em determinado período. Riqueza, por outro lado, é a soma de todas as coisas que se tem (dinheiro em espécie, dinheiro em contas bancárias, aplicações financeiras, ações, conjunto de bens que constituem o patrimônio, propriedades, joias etc.), subtraído tudo o que se deve (hipotecas de residências, débitos em cartões de crédito, empréstimos pessoais, parcelamentos de compra, entre outros). Esses são, portanto, alguns dos conceitos básicos da economia. Entender, de maneira clara, o significado e a importância deles é fundamental para o estudo dessa ciência. 1.2 Necessidades e desejos das pessoas Segundo Nogami (2004), quando observamos atentamente o movimento da atividade econômica, percebemos que, na sua essência, tudo gravita em torno dos indivíduos que, no dia a dia, procuram satisfazer suas necessidades e desejos por meio do consumo. Portanto, podemos afirmar que o consumo é a variável mais importante dentro da economia, pois é ele que faz as coisas acontecerem. Entretanto, para que as pessoas possam consumir, é necessário queelas tenham capacidade e condições de fazer isso, ou seja, precisam ter uma renda. É possível afirmar que o centro dos problemas sociais de todo o mundo está no indivíduo. Mas por quê? De acordo com Nogami (2012), porque carregamos sobre os ombros, todos nós e a todo tempo, uma caixa, à qual denomina caixa de desejos. Segundo o autor, “tudo o que fazemos ao longo da vida visa obter recursos para simplesmente suprir nossas necessidades e desejos que estão dentro dessa caixa” (NOGAMI, 2012, p. 13). A Figura 1 mostra a essência da caixa de desejos aplicada ao dia a dia das pessoas na economia. Figura 1 – Caixa de desejos e a atividade econômica 17A importância dos fundamentos econômicos Renda Capacidade de gastar Capacidade de poupar Estrutura de consumo Preços Bens e serviços ConsumoCaixa de desejos Indivíduo Empresa Fonte: Elaborada pelo autor. Como podemos atender, hoje em dia, às necessidades presentes nessa caixa de desejos? “Utilizando-se da linguagem econômica podemos dizer que é pelo consumo de bens e serviços” (NOGAMI, 2012, p. 14). Porém, os bens e serviços que consumimos não são gratuitos, eles possuem um preço. Dessa forma, é em função dos preços dos bens e serviços que consumimos para satisfazer nossas necessidades e desejos que cada um de nós tem uma estrutura de consumo. Em outras palavras, cada um de nós tem uma estrutura de gastos mensais em alimentos, educação, vestuário, transportes, saúde, diversão e assim por diante, os quais irão satisfazer nossa caixa de desejos. E podemos gastar o quanto quisermos? Claro que não, pois, em tese, temos um elemento limitador para o consumo, denominado renda. Assim, fica fácil entender toda relação econômica: quanto maior a renda, maior o consumo; por outro lado, quanto menor a renda, menor o consumo. Não podemos esquecer que parte da renda também deverá ser utilizada para a formação de nossas economias ou de nossa riqueza (poupança). No campo econômico, essas nossas economias são importantes devido a dois aspectos: (1) para que possamos formar nossa riqueza e então utilizá-la em nossas aposentadorias e, enquanto isso, desde que adequadamente aplicados, (2) auxiliar na formação da poupança nacional, que é a base para os investimentos no setor produtivo da economia. Compreendendo essa ideia, entendemos também por que os candidatos a cargos eletivos sempre defendem a ideia de aumentar a renda mínima e, consequentemente, a qualidade de vida da população. Essa é a razão que faz os governantes sempre estarem preocupados com o crescimento e o desenvolvimento de suas economias. O crescimento se dá com o aumento no uso dos fatores de produção, que irão gerar mais renda para as famílias, visto que passarão a ter mais recursos Economia e Mercado18 para poderem consumir. Esse aumento de recursos é o que levará as empresas a produzirem mais, utilizando mais fatores de produção, e assim sucessivamente. Como decorrência de todo esse ciclo, haverá uma melhoria na qualidade de vida, que é o aspecto mais importante do desenvolvimento. 1.3 Fluxo circular da atividade econômica Conforme vimos na seção anterior, para que as pessoas possam consumir mais, há a necessidade de se ter mais renda – mais lucros, juros, salários e aluguéis sendo gerados na economia. E como isso é possível? Imaginemos, de maneira simplificada, que de um lado estão as famílias e, de outro, as empresas. Para que estas possam existir e funcionar, elas dependem, como já foi visto, dos fatores de produção fornecidos pelas famílias. Nesse grupo, portanto, incluem-se a capacidade empresarial (ou capacidade empreendedora), o capital, a mão de obra e os recursos naturais, todos eles essenciais para que uma empresa possa produzir bens e serviços. Entretanto, as famílias, ao fornecerem esses fatores de produção, não o fazem de modo gratuito; esperam, indiscutivelmente, uma remuneração (a nossa maneira de produzir dinheiro para poder consumir), a qual virá sob a forma de lucros, juros, salários e aluguéis, que respectivamente representam a remuneração da capacidade empresarial, do capital, da mão de obra e dos recursos naturais. Esses quatro tipos de remuneração, de modo agregado, formam o que denominamos renda. E as famílias, quando de posse da renda, irão fazer o quê? Naturalmente, irão satisfazer suas necessidades e seus desejos por meio do consumo de bens e serviços, que são produzidos pelas empresas. Esses bens e serviços, de maneira conjunta, chamamos de produto. Assim, esquematicamente, temos o que é demonstrado na Figura 2, a seguir. Figura 2 – Fluxo circular da atividade econômica (em equilíbrio) Consumo ($1.000) Produto Fatores de produção Renda ($1.000) Famílias Empresas Fonte: Elaborada pelo autor. A esse esquema damos o nome de fluxo circular da atividade econômica, que nos mostra a relação básica de funcionamento de toda a economia (observe que não estamos colocando aqui o governo, nem mesmo o setor externo da economia), para que possamos entender seu princípio. 19A importância dos fundamentos econômicos Essa relação entre famílias e empresas deve estar permanentemente em equilíbrio, ou seja, toda a renda deverá ser utilizada no consumo de bens e serviços (produtos) produzidos pelas empresas. Numericamente, vamos supor que as empresas paguem R$ 1.000,00 de renda às famílias. Para que o fluxo esteja em equilíbrio, é necessário que as famílias consumam R$ 1.000,00. Dessa forma, as empresas faturarão R$ 1.000,00 e terão os R$ 1.000,00 para pagarem de renda no mês subsequente, e assim sucessivamente. Agora, vamos imaginar que as famílias deixem de gastar R$ 100,00 para formar sua poupança. Essa atitude refletirá no faturamento das empresas, que faturarão R$ 900,00, em vez de R$ 1.000,00. As companhias, entretanto, produziram e esperavam vender R$ 1.000,00, fazendo surgir um excedente de produção, ao qual podemos chamar de estoque involuntário, no montante de R$ 100,00. Diante de uma situação dessa, as empresas costumam reduzir ou dispensar fatores de produção, o que implica em uma redução na renda paga às famílias, levando, por fim, a um esfriamento da atividade econômica. Para se evitar isso, partindo do pressuposto de que as famílias aplicaram recursos no valor de R$ 100,00 em uma instituição financeira, a empresa poderá recorrer a esses recursos (em forma de empréstimo de capital de giro), adicionar esse valor ao faturamento e ter o montante necessário para pagar a renda de R$ 1.000,00, permitindo a retomada do equilíbrio. Essa medida pode ser observada na Figura 3. Figura 3 – Fluxo circular da atividade econômica (instituição financeira e a retomada do equilíbrio) Produto Renda ($1.000) Consumo ($900) Fatores de produção Poupança $100 Empréstimo $100 Instituição financeira Empresas (estoque $100)Famílias Fonte: Elaborada pelo autor. Por meio da descrição apresentada na Figura 3, fica fácil entender a importância das instituições financeiras em uma sociedade. Elas são intermediadoras de recursos, recebendo de quem os tem sobrando e emprestando a quem deles necessita (como as empresas). Isso permite a retomada do equilíbrio do modelo econômico, sem que haja contração da atividade econômica. Dessa forma, podemos entender que o mercado financeiro é um conjunto de instituições e instrumentos que possibilitam esse processo de transferência de recursos entre os ofertadores (famílias) e os tomadores (empresas). Economia e Mercado20 Um aspecto importante a salientar é que a poupança das famílias, como já apontamos, é responsável pela formação da poupança nacional. Nesse sentido, em vez de esses recursos serem canalizados às empresas como empréstimo de capital de giro, poderão ser direcionados sob a forma de investimentos – construções, máquinas, equipamentos e ferramentas – para adequar ou ampliar a capacidade de produção do país, o que permitirá o aumento de renda da sociedade como um todo e, consequentemente, o crescimento do país. 1.4 Fronteira de possibilidadede produção O grande problema da economia, que é também a razão de seu estudo, é que as necessidades e os desejos das pessoas são ilimitados, enquanto a disponibilidade de recursos é escassa. Por isso é que os autores costumam definir a economia como uma ciência ligada a problemas de escolha. Para exemplificar, suponhamos uma economia que tem condições de produzir apenas dois tipos de bens: de capital e de consumo. Para um melhor entendimento, vamos considerar alguns pressupostos básicos: i) existe uma quantidade fixa de recursos produtivos; ii) todos os recursos estão sendo plenamente utilizados; iii) a tecnologia permanece sempre constante. Partindo disso, a Tabela 1, a seguir, apresenta as alternativas que essa economia tem na produção de bens de capital e de bens de consumo. Tabela 1 – Possibilidades de produção de uma economia Opção Bens de consumo (milhões de toneladas) Bens de capital (milhares de toneladas) Custo de oportunidade (milhares de toneladas) A 0 900 B 10 750 150 C 20 550 200 D 30 300 250 E 40 0 300 Fonte: Elaborada pelo autor. 21A importância dos fundamentos econômicos Ao colocarmos os dados da Tabela 1 em um gráfico, temos o que é apresentado no Gráfico 1. Gráfico 1 – Curva de possibilidades de produção de uma economia Bens de consumo (milhões de toneladas) Bens de capital (milhares de toneladas) 0 0 100 300 500 700 900 200 400 600 800 1000 10 A B C D HF 3020 40 50 E Fonte: Elaborado pelo autor. Pelo Gráfico 1, podemos observar que, se empregássemos todos os recursos disponíveis na produção de bens de capital, obteríamos, no máximo, 900 mil toneladas desse bem. Se todos os recursos estivessem sendo utilizados na produção de bens de capital, não poderia haver produção de bens de consumo e, portanto, ela seria igual a zero (opção A). No entanto, poderíamos direcionar todos os recursos para a produção de alimentos, obtendo assim 40 milhões de toneladas desses produtos. Nesse caso, conforme gráfico 1, a produção de bens de capital seria zero, uma vez que não existiriam recursos disponíveis para esse fim (opção E). As opções restantes no gráfico e na tabela apresentados, dadas por B, C e D, são de produção combinada entre bens de consumo e bens de capital. Nesse exemplo, todos os pontos sobre a curva de possibilidades de produção indicam que a economia está funcionando com eficiência produtiva, que podemos denominar como uma situação de pleno emprego, pois está utilizando todos os recursos de produção disponíveis. Suponhamos que a economia esteja operando no ponto C da curva. Nesse ponto, estão sendo produzidas 20 milhões de toneladas de bens de consumo e 550 mil toneladas de bens de capital. Se a economia optar por um aumento da produção de bens de consumo, passando a operar, por exemplo, no ponto D, ela passará a produzir 30 milhões de toneladas de bens de consumo. Entretanto, esse aumento de produção (de 20 para 30 milhões de toneladas) só será possível se parte dos recursos utilizados na produção de bens de capital for destinada à produção de bens de consumo. Consequentemente, haverá uma redução na produção de bens de capital, de 550 para 300 mil toneladas. Em outras palavras, podemos dizer que a decisão de produzir mais bens de consumo terá um custo de oportunidade de 250 mil toneladas de bens de capital. Economia e Mercado22 Pode acontecer, muitas vezes, de a economia estar produzindo abaixo de suas possibilidades. Isso pode ocorrer porque os recursos produtivos estão ociosos (desemprego, estoques elevados, baixa utilização da capacidade instalada, entre outros fatores). Essa situação é representada por qualquer ponto no interior da curva de possibilidades de produção (Gráfico 1), a exemplo do ponto F. Em contrapartida, pontos situados além da curva, como o ponto H (no Gráfico 1), são inatingíveis. Isso porque envolvem uma combinação de produção de bens de capital e de consumo que, em virtude dos recursos e das tecnologias disponíveis, não pode ser realizada. Para perceber isso ainda melhor, veja o Gráfico 2 a seguir: Gráfico 2 – Deslocamento da curva de possibilidades de produção 0 10 200 600 1000 400 800 1200 30 5020 40 60 0 Fonte: Elaborado pelo autor. Segundo Nogami (2012, p. 71), é possível concluir que “pontos situados além da fronteira só poderão ser alcançados mediante aumentos na disponibilidade de fatores de produção […] e/ou mediante evolução tecnológica […] que permita o aumento nas possibilidades de produção com os mesmos recursos”, o que possibilitaria também a melhoria da competitividade e da produtividade. Isso significa que, para alcançar pontos como o H (no Gráfico 1), seriam necessários investimentos que permitissem o deslocamento da curva de possibilidades de produção para a direita, como mostra o Gráfico 2. Considerações finais Ao longo deste capítulo, abordamos os principais fundamentos econômicos, os quais irão permitir um melhor entendimento do que será desenvolvido ao longo desta obra. Começamos analisando, de maneira geral, o que é a economia, ressaltando as questões econômicas fundamentais, abordando os sistemas econômicos, as necessidades humanas, os fatores de produção e a forma como os agentes econômicos interagem nas mais diferentes estruturas de mercado. Apresentamos também a maneira como as famílias e as empresas interagem e destacamos o papel de cada uma no funcionamento da economia. Levamos em consideração, para isso, o potencial que cada sociedade apresenta, visto por meio da fronteira de possibilidades de produção. 23A importância dos fundamentos econômicos Ampliando seus conhecimentos • MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2016. Entender o mundo em que vive, ser um participante mais perspicaz da economia e compreender melhor as potencialidades e os limites da política econômica, essas são as três principais razões para se estudar os fundamentos da economia segundo Gregory N. Mankiw. Esse livro se mostra como um bom manual de consulta ao tratar de temas complexos da economia com bastante clareza e objetividade, além de trazer estudos de caso, definições de conceitos-chave, testes, questões para revisão, problemas, aplicações etc. • NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos R. Martins. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. Escrito em linguagem acessível, esse livro apresenta uma abordagem atual e com estatísticas relevantes sobre a economia brasileira, o que permite que se estabeleça contato entre os fundamentos e os conceitos discutidos neste capítulo e que abordam a realidade que nos cerca. Atividades 1. Considerando o que foi abordado neste capítulo, como você definiria ciência econômica? 2. Explique detalhadamente a diferença entre bens, serviços e recursos produtivos. Exemplifique cada conceito. 3. O que são agentes econômicos? Como se classificam? 4. Qual a utilidade da curva de possibilidades de produção? Referências GOVERNO. In: MEUS DICIONÁRIOS. Significado de Governo. Disponível em: https://www.meusdicionarios. com.br/governo. Acesso em: 29 jul. 2019. MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2016. NOGAMI, Otto. Não seja o pato do mercado financeiro: as aventuras do Pato Rico. São Paulo: Avercamp, 2004. NOGAMI, Otto. Economia. Curitiba: IESDE, 2012. NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos R. M. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. SANDRONI, Paulo (Org.). Novíssimo dicionário de economia. 2. ed. São Paulo: Best Seller, 1999. 2 A percepção estratégica da economia de empresas No primeiro capítulo, falamos de dois agentes econômicos que fazem a economia funcionar – as famílias, constituídas de indivíduos, e as empresas. As relações entre esses elementos foram retratadas no fluxo circular da atividade econômica. Assim, torna-se importante entender também como eles interagem nos processos de produção, venda (oferta) e compra (demanda) de bens e serviços. Essas relações de venda e compra, bemcomo a produção e os custos envolvidos nesses processos, são tratados pela microeconomia1, que tem como maior preocupação entender o comportamento dos indivíduos, das empresas e dos proprietários dos fatores de produção, nos mercados de bens e serviços e nos de fatores de produção. Conforme Nogami e Passos (2016, p. 75), os objetivos básicos da Teoria Microeconômica é responder a questões como: • O que determina o preço dos mais diferentes tipos de bens e serviços? • O que determina a remuneração de um trabalhador? • O que determina quanto de cada mercadoria será produzida? • O que determina a maneira como um indivíduo gasta a sua renda entre os mais diferentes bens e serviços? Assim, inicialmente, vamos entender como funcionam os mercados e a maneira como preços e quantidades são determinados, bem como entender como eles reagem à medida que há uma interferência do governo nessas relações. Em seguida, vamos esclarecer o que é o consumidor; como ele reage à sua renda; à propaganda e ao preço dos produtos, tanto dos substitutos (produtos de natureza diferente, mas substitutos um do outro), dos concorrentes (produtos de mesma natureza e com as mesmas características) e dos complementares (produtos de demanda conjunta). Posteriormente, abordaremos as teorias da produção e de custos, cujos conceitos são básicos para o entendimento da precificação de bens e serviços. 2.1 Teoria do consumidor Como visto anteriormente, as famílias, para adquirirem bens e serviços, interagem com as empresas em um ambiente chamado mercado. Nesse ambiente, os consumidores se apresentam sempre querendo pagar o menor preço, enquanto as empresas estão sempre dispostas a cobrar o maior preço. Outro detalhe importante, é que as pessoas têm a predisposição de adquirir maiores quantidades de um bem ou serviço quanto menores forem seus preços, e menores quantidades à medida que o preço aumenta. 1 A Microeconomia é o ramo da economia que estuda o comportamento dos indivíduos em relação às suas decisões de consumir e o comportamento das empresas no que diz respeito à produção e aos custos de bens e serviços. Economia e Mercado26 Analisaremos, então, o comportamento das famílias e das empresas e observaremos como conseguem chegar a um preço que satisfaça ambas as partes para uma determinada quantidade. 2.1.1 A demanda A demanda representa o lado do demandante ou do comprador de um determinado bem ou serviço e se refere à quantidade que ele está disposto e capacitado a comprar em uma unidade de tempo. Este consumidor, na decisão de adquirir um bem ou serviço, é influenciado por um ou mais fatores, tais como: • o preço do bem ou serviço; • o salário ou a renda do consumidor; • os gostos e as preferências do consumidor; • o preço dos produtos substitutos; • o preço dos produtos concorrentes; • a propaganda. Se pegarmos uma relação de preços e quantidades que o mercado está disposto a demandar de um determinado produto, por exemplo, um energético, temos condições de elaborar uma tabela como a apresentada a seguir. Tabela 1 – Escala de demanda de energéticos Preço (R$/garrafa) Quantidade (garrafas/mês) 12,00 0 10,00 5 8,00 10 6,00 15 4,00 20 Fonte: Elaborada pelo autor. Com base nessa escala, podemos montar um gráfico como o que se encontra a seguir. Gráfico 1 – Demanda de mercado por energéticos 14 12 20 30 Quantidade Preço (R$) 10 10 8 6 4 2 0 0 Fonte: Elaborado pelo autor. 27A percepção estratégica da economia de empresas O desenho formado no Gráfico 1 é chamado de curva de demanda (ainda que, nesse caso, tenha se formado uma reta), que nos mostra as quantidades que o mercado está predisposto a consumir a cada nível de preço. Observe que ao preço de R$ 12,00 o consumidor não está disposto a adquirir nenhuma quantidade, mas vai desejando comprar mais à medida que o preço cai. Nesse caso, então, podemos dizer que a reta tem declividade negativa. É importante lembrar que cada produto ou serviço tem sua própria curva de demanda, a qual retrata o comportamento do consumidor com relação às quantidades que ele deseja consumir em função dos mais diferentes níveis de preço por unidade de tempo. 2.1.2 A oferta A oferta representa o lado dos ofertantes ou dos vendedores de determinado bem ou serviço, e nos mostra as quantidades que eles estão dispostos a oferecer ao mercado a cada nível de preço em uma unidade de tempo. Essa disposição, à exemplo da demanda, também depende de um conjunto de fatores, dentre os quais podemos destacar: • o preço do bem ou serviço; • os preços de outros bens ou serviços; • os preços dos fatores de produção; • os métodos de produção disponíveis (tecnologia); • as expectativas; • as condições climáticas. A Tabela 2, a seguir, apresenta as quantidades que os produtores de um bem (energético, conforme o exemplo anterior) estão dispostos a produzir e vender a cada nível de preço. Tabela 2 – Escala de oferta de energéticos Preço (R$/garrafa) Quantidade (garrafas/mês) 14,00 25 12,00 20 10,00 15 8,00 10 6,00 5 4,00 0 Fonte: Elaborada pelo autor. Ao contrário do que acontece com a demanda, podemos observar que o produtor está disposto a vender maiores quantidades quanto maior for o preço do produto, e que, ao preço de R$ 4,00, ele não deseja vender nenhuma unidade. Economia e Mercado28 Os dados apresentados nos permitem elaborar um gráfico representativo da curva da oferta (Gráfico 2), que compila essas características do produtor. Observe que este, ao contrário da curva da demanda, tem uma declividade positiva. Gráfico 2 – Oferta de mercado de energéticos 0 0 4 8 12 2 6 10 14 16 10 205 15 25 30 Fonte: Elaborado pelo autor. De acordo com Nogami e Passos (2016, p. 92), “a oferta de um produto ou serviço qualquer, em determinado período de tempo, varia na razão direta da variação de preços desse produto ou serviço, a partir de um nível de preços tal que seja suficiente para fazer face ao custo de produção do mesmo”. Ou seja, a variação do preço do produto ou serviço está diretamente relacionada à oferta desse produto. 2.1.3 As condições de equilíbrio Apresentadas as características dos demandantes e dos ofertantes, vamos colocá-los frente a frente, no ambiente denominado mercado – cada um deles com seu próprio comportamento. Isso se faz sobrepondo as linhas da demanda e da oferta em um único gráfico, apresentado no Gráfico 3. Gráfico 3 – O equilíbrio de mercado de energéticos 0 0 4 8 12 2 6 10 14 16 10 205 15 25 30 E OfertaPreço (R$) Demanda P0 Q0 Quantidade (unidades) Fonte: Elaborado pelo autor. 29A percepção estratégica da economia de empresas No Gráfico 3, podemos observar que, apesar dos comportamentos diferentes dos vendedores e dos compradores, suas curvas se cruzam no denominado ponto de equilíbrio (ponto E no gráfico). É esse ponto que determina um preço de equilíbrio (R$ 8,00), ou preço de mercado, que satisfaz simultaneamente produtores e consumidores, e uma determinada quantidade de equilíbrio (10 unidades). Assim, quando não houver nenhum tipo de interferência nessa relação entre produtores e consumidores, o preço de comercialização converge a um ponto de equilíbrio que satisfaz ambas as partes a uma determinada quantidade. Para melhor entender como isso ocorre, vamos imaginar que, por uma razão qualquer, o preço esteja acima do ponto de equilíbrio, conforme pode ser visto no Gráfico 4. Ao preço de R$ 10,00, os consumidores estarão dispostos a demandar 5 unidades do produto (ponto A), enquanto os vendedores irão ofertar 15 unidades (ponto B), acarretando um excesso de oferta ou escassez de demanda. Se nada for feito, os vendedores terão um acúmulo de estoques, o que não é interessante para eles. Para se desfazer desses estoques, os vendedores tendem a reduzir o preço, que naturalmente começa a caminhar em direção ao equilíbrio. Gráfico 4 – Excesso de oferta e o ajuste de preço 0 0 4 8 12 2 6 10 14 16 10 205 15 25 30 E A C D B OfertaDemanda P0 Q0 Preço (R$) Quantidade (unidades) Excesso de oferta Fonte: Elaborado pelo autor. Por outro lado, se o preço estiver em R$ 6,00, os ofertantes estarão dispostos a ofertar 5 unidades do produto (ponto C), enquanto muitas pessoas estarão dispostas a adquirir 15 unidades (ponto D). Essa situação ocorrerá porque, a preços mais baixos, poucos serão os produtores dispostos ou em condições de produzir. Dessa forma, com a quantidade a ser demandada maior que a quantidade ofertada, haverá escassez de oferta ou excesso de demanda. Nessa situação, muitos consumidores estarão dispostos a pagar mais pelo produto, fazendo com que o preço comece a caminhar em direção ao equilíbrio, conforme pode ser visto no Gráfico 5. Economia e Mercado30 Gráfico 5 – Escassez de oferta e o ajuste de preço 0 0 4 8 12 2 6 10 14 16 10 205 15 25 30 E C D Oferta P0 Preço (R$) Quantidade (unidades) Escassez de oferta demanda Fonte: Elaborado pelo autor. Toda essa dinâmica de mercado foi pela primeira vez observada e analisada pelo economista britânico Adam Smith, em sua famosa obra A Riqueza das Nações, onde comentou que cada pessoa [...] não está cuidando de promover o interesse público, nem sabe o quanto o está promovendo [...]. Busca apenas seu próprio ganho, e é neste, como em muitos outros casos, que é conduzido por uma mão invisível para promover um fim que não fazia parte da sua intenção. E nem isto é pior para a sociedade do que se não fizesse parte. Buscando seu próprio interesse, ele muitas vezes promove o interesse da sociedade melhor do que se estivesse buscando fazê-lo. (MANKIW, 2001) Em resumo, segundo Mankiw (2001), Adam Smith defende que os participantes da economia estão motivados pelo autointeresse e que a mão invisível do mercado orienta esse autointeresse na busca do bem-estar econômico geral. É importante salientar que essas curvas, tanto da demanda como da oferta, podem se movimentar tanto para direita como para esquerda, em função de fatores que alterem o comportamento do consumidor. Elas tendem a se movimentar para esquerda quando algum fator, que não o preço do produto, afeta negativamente o comportamento do consumidor ou produtor, e para direita quando o fator afeta positivamente, alterando preços e quantidades de comercialização. Como exemplo, vamos considerar que a renda real da sociedade (renda depois de descontada a inflação) aumente ao longo do tempo, aumentando também o poder de compra do consumidor, o que o levará a consumir mais energéticos, tudo o mais mantido constante. Isso fará com que apenas a curva da demanda se desloque para a direita (fator que contribui positivamente para o aumento da demanda), como pode ser observado no Gráfico 6, a seguir. 31A percepção estratégica da economia de empresas Gráfico 6 – Deslocamento da curva da demanda por aumento de renda 0 0 4 8 12 2 6 10 14 16 18 10 205 15 25 30 E E’ Oferta Preço (R$) Demanda P0 P1 Q0 Q1 Quantidade (unidades) Fonte: Elaborado pelo autor. Esse deslocamento da curva, por sua vez, fará com que um novo ponto de equilíbrio surja (E’), que determinará um novo preço (R$ 10,00) e uma nova quantidade de equilíbrio (15 unidades). Ou seja: aumentam as quantidades demandadas e, consequentemente, os preços também aumentam, conforme demonstrado no Gráfico 6. 2.1.4 Intervenções do governo Quando afirmamos que os preços se ajustam naturalmente em direção ao ponto de equilíbrio, frisamos um detalhe que é a de não haver nenhum tipo de interferência. Porém, uma das interferências mais importantes é a atuação do governo nessa dinâmica de mercado, controlando os preços de determinados produtos. O problema é a fixação de preços máximos ou preços mínimos com a intenção de beneficiar o consumidor ou o produtor. Vejamos, a seguir, os movimentos da intervenção do governo na dinâmica do mercado. 2.1.4.1 Preços máximos A fixação de preços máximos é uma política que pode ser adotada pelo governo quando lhe parecer que o preço de determinado produto ou serviço, estabelecido pelo mercado, encontra-se em um nível muito elevado. O preço estabelecido pelo governo, nesse caso, deve ser inferior ao preço de equilíbrio. Nos anos em que nossa economia viveu momentos de inflação alta, o controle de preços foi um instrumento de política econômica muito utilizado pelo governo em defesa do consumidor. Isso porque o estabelecimento de preços máximos permite aos ofertantes venderem seus produtos a qualquer nível de preço, desde que não ultrapasse o teto estabelecido pelo governo. No Gráfico 7, a seguir, temos a representação gráfica desse tipo de medida. Economia e Mercado32 Gráfico 7 – Preço máximo no mercado de gasolina Oferta E A B Demanda Excesso de demanda 0 2 2,5 3 3,5 3,80 4 4,5 5 5,5 40 60 8020 Quantidade (bilhões de litros) Preço (R$) Fonte: Elaborado pelo autor. Na condição de equilíbrio, o preço do combustível está em R$ 3,80 para uma demanda de 40 bilhões de litros/ano. Se o governo fixar um preço máximo de R$ 3,00 para o litro de gasolina, o mercado terá a predisposição de demandar 60 bilhões de litros/ano, enquanto os ofertantes estarão dispostos a vender apenas 20 bilhões de litros/ano. Nessas condições, nem toda a quantidade desejada pelos consumidores estará disponível, acarretando uma escassez de oferta ou um excesso de demanda de 40 bilhões de litros/ano. No gráfico, a escassez de oferta pode ser visualizada pela distância entre os pontos A e B, e ela persistirá enquanto o preço se mantiver em R$ 3,00. Essa condição de escassez pode fazer surgir filas nos postos de gasolina, vendas por “debaixo do pano”, ou mesmo um mercado ilegal. 2.1.4.2 Preços mínimos A política de preços mínimos objetiva beneficiar o produtor, garantindo a ele preços superiores ao preço de equilíbrio de mercado. Um dos que mais se beneficiam desse tipo de prática do governo é o mercado de produtos agrícolas, especialmente quando há intenção de manter o produtor na atividade. Outro contexto em que essa prática é adotada, desde a década de 1930, é no mercado de trabalho, com a fixação do salário mínimo2. Ainda no mesmo exemplo da seção anterior, analisando graficamente o preço mínimo no mercado de gasolina, temos o Gráfico 8, no qual nota-se que, ao preço de R$ 4,60, os consumidores desejam comprar 20 bilhões de litros/ano de gasolina, enquanto os vendedores estarão dispostos a oferecer 60 bilhões de litros/ano desse produto. Por consequência, há um excesso de oferta no mercado de 40 bilhões de litros/ano, dado pela diferença de 60-20 bilhões de 2 No Brasil, o salário mínimo surgiu com a promulgação da Lei n. 185, de 14 de janeiro de 1936 e do Decreto-Lei n. 399, de 30 de abril de 1938. Em 1º de maio de 1940, o então presidente Getúlio Vargas fixou 14 valores do salário mínimo para diferentes regiões do país. Por exemplo, fixou em 240 mil réis no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, e em 220 mil réis para São Paulo. Essas diferenças eram determinadas pela característica da economia regional, algumas mais desenvolvidas que outras. 33A percepção estratégica da economia de empresas litros/ano. Se não houvesse interferência governamental nesse mercado, esse excesso de oferta desapareceria com uma gradual redução de preço. Gráfico 8 – Preço mínimo no mercado de gasolina Oferta Demanda Excesso de oferta 0 2 2,5 3 3,5 3,80 4 4,5 5 5,5 40 60 8020 Quantidade (bilhões de litros) Preço (R$) E A B 4,60 Fonte: Elaborado pelo autor. Nessas condições, o governo pode adotar dois tipos de solução: adquirir o excedente de produção ou criar um programa de subsídio ao combustível. No caso de compra do excedente de produção, o governo compraria os 40 bilhões de litros/ ano ao preço de R$ 4,60, dispendendo, para tanto, R$ 184 bilhões, representado pela área retangular FABG no Gráfico 9, a seguir. Essa aquisição do excedente pode constituir o chamado estoque regulador, mantido pelo governo e desovado no mercado de acordo coma sua conveniência no vai e vem dos preços. Gráfico 9 – Preço mínimo e o programa de compras no mercado de gasolina Excesso de oferta 0 2 2,5 3 3,5 3,80 4 4,60 5 5,5 40 60 8020 Quantidade (bilhões de litros) Preço (R$) A G DemandaOferta F B E Fonte: Elaborado pelo autor. Economia e Mercado34 Já no caso de um programa de subsídio, o governo permite que o preço praticado seja menor que o preço mínimo – por exemplo, R$ 3,00, que corresponde, segundo a curva da demanda, à quantidade que os produtores estarão dispostos a ofertar e os consumidores a comprar. Porém, para manter a receita dos produtores, o governo paga a estes a diferença entre o preço pago pelo consumidor e o preço mínimo, que se constitui no subsídio. Gráfico 10 – Preço mínimo e o programa de subsídio no mercado de gasolina Excesso de oferta 0 2 2,5 3 3,5 3,80 4 4,60 4,5 5 5,5 40 60 8020 Quantidade (bilhões de litros) Preço (R$) DemandaOferta E B M A L Fonte: Elaborado pelo autor. Este subsídio pago é representado pelo retângulo LABM do Gráfico 10, que perfaz um montante de R$ 96 bilhões. O governo deve sempre optar pela política menos dispendiosa para ele – no caso do exemplo aqui citado é o programa de subsídio. 2.1.5 Elasticidade da demanda De acordo com o que vimos até agora, podemos dizer que a demanda por um bem ou serviço depende do seu preço, da renda do consumidor e do preço dos produtos correlacionados (substitutos, concorrentes e complementares). Vimos que a oferta depende do preço, bem como de outras variáveis que fazem a curva da oferta se movimentar. Nesse sentido, se a renda do consumidor aumenta, a demanda também tende a aumentar. No dia a dia de uma empresa, a grande pergunta que surge é: qual será o valor desse aumento? E é nesse sentido que se destaca o conceito de elasticidade, que nos permite mensurar o quanto a quantidade de um determinado bem ou serviço vai se alterar em função da variação do preço do produto, da renda ou dos produtos correlacionados. 2.1.5.1 Elasticidade-preço da demanda O conceito de elasticidade-preço da demanda procura avaliar quanto a quantidade de um bem ou serviço irá variar à medida que seu preço varia, bem como analisar o grau de sensibilidade do consumidor com relação ao preço do produto. E é por meio do grau de sensibilidade que conseguimos saber se o produto é essencial ou supérfluo para o consumidor. 35A percepção estratégica da economia de empresas Genericamente, calculamos a elasticidade-preço da demanda (Ed) por meio da seguinte fórmula: Ed = ΔQ% / ΔP% onde ∆Q% representa a variação da quantidade em termos percentuais e ∆P% a variação de preços em termos percentuais. Como preço e quantidade são inversamente relacionados, o coeficiente elasticidade-preço da demanda é sempre um número negativo. O resultado obtido nos permite classificar o bem ou serviço. A demanda será elástica, característica dos produtos chamados supérfluos, quando o resultado for menor que -1, e inelásticos quando estiver entre -1 e zero. Nos extremos, se a Ed for igual a zero, dizemos que o produto é totalmente inelástico a preço, ou seja, num determinado intervalo de variação de preço, a quantidade demandada não varia. No outro extremo, se a Ed tender a menos infinito, dizemos que o produto é perfeitamente elástico, o que quer dizer que, dado um preço, a quantidade demandada é infinita. Suponhamos que um determinado cereal matinal apresente uma variação de preço de +2% e que, em função desse aumento, a demanda tenha caído 4%. Qual a elasticidade-preço da demanda desse cereal? Ed = ∆Q% / ∆P% Ed = -4 / +2 Ed = -2 O resultado encontrado permite afirmar que esse cereal matinal é elástico a preço, portanto, supérfluo. A cada 1% de aumento no preço, a quantidade demandada cairá 2%; se o preço cair 1%, a quantidade demandada aumentará 2%. 2.1.5.2 Elasticidade-renda da demanda O coeficiente de elasticidade-renda da demanda (Er) mede a variação percentual da quantidade do produto comprado por unidade de tempo, resultando de uma variação percentual na renda do consumidor. Assim: Er = ΔQ% / ΔR% onde ∆Q% é a variação da quantidade demandada em termos percentuais e ∆R% é a variação percentual da renda do consumidor. Quando Er é negativo, dizemos que o produto é um bem inferior, ou seja, um produto cuja demanda cai à medida que aumenta a renda da sociedade. Se Er for positivo, classificamos o produto como um bem normal. Um bem normal é usualmente um bem essencial se Er estiver entre zero e 1; de outra forma, se Er for maior que 1, dizemos que o produto é supérfluo ou de luxo. Dependendo do nível de renda do consumidor, o conceito de Er pode variar de forma significativa. Dessa maneira, um bem pode ser de luxo para pessoas de baixo nível de renda e uma necessidade para os de nível de renda intermediário e ainda um bem inferior para pessoas de alto nível de renda. Economia e Mercado36 Uma pesquisa sobre o mercado de cervejas no Brasil apontou que determinada marca apresenta um Er = -0,26. Considerando que as projeções indicam que a renda deve aumentar 2,5% nos próximos anos, que preocupação começa a surgir na fabricante desse produto? Com base nessas informações, podemos calcular o que acontecerá com a demanda dessa cerveja. Vejamos, fazendo as devidas substituições pelos valores na fórmula: Er = ∆Q% / ∆R% -0,26 = ∆Q% / 2,50 ∆Q% = -0,65 Pelo resultado obtido, temos que a quantidade demandada cairá 0,65%. Genericamente, podemos afirmar que, para cada 1% de aumento na renda do seu público consumidor, eles deixarão de consumir essa cerveja em 0,65%. 2.1.5.3 Elasticidade-cruzada da demanda O coeficiente da elasticidade cruzada (Ec) de um produto X com relação a outro produto Y mede a variação percentual da quantidade de X adquirida em um determinado período, resultante da variação percentual no preço do produto Y. O cálculo é definido pela fórmula: Ec = ΔQx% / ΔPy% Se os produtos X e Y forem bens ou serviços substitutos ou concorrentes, Ec é positivo. Por outro lado, se X e Y são bens complementares, Ec é negativo. Quando as mercadorias não se relacionam (isto é, quando são independentes uma da outra), o Ec é igual a zero. A título de exemplo, consideremos que a elasticidade-cruzada da demanda entre margarina e manteiga é de 1,53, o que nos permite afirmar que estes produtos são substitutos entre si. A cada 1% de variação no preço da manteiga, a demanda por margarina variará 1,53%. Assim, se o preço da manteiga cair 5%, a demanda por margarina deverá cair 7,65%, conforme cálculo a seguir: Ec = ΔQmargarina% / ΔPmanteiga% 1,53 = ΔQmargarina% / -5 ΔQmargarina% = -7,65 Podemos perceber, pelo exemplo, que a elasticidade-cruzada da demanda é uma importante ferramenta para se analisar como um produto se coloca no mercado com relação à sua concorrência, permitindo, inclusive, determinar o grau de relacionamento entre eles. 2.1.6 Elasticidade-preço da oferta Outro importante instrumento para analisar mercados é a elasticidade-preço da oferta (Es), que mede a variação percentual da quantidade ofertada de um bem ou serviço por unidade de tempo, resultante de uma dada variação percentual no preço da mercadoria. Assim, esse coeficiente é calculado utilizando-se a seguinte fórmula: Es = ΔQ% / ΔP% 37A percepção estratégica da economia de empresas Quando a curva da oferta tem inclinação positiva (usual), preço e quantidade movem-se na mesma direção, portanto, o Es será sempre maior que zero. Para melhor compreensão das variações na elasticidade-preço da oferta, a curva da oferta diz-se: • Inelástica, para Es menor que 1 e maior que 0 (0 < Es < 1) • elasticidade unitária, se Es igual a 1 (Es = 1) • elástica, quando Es for maior que 1 (Es > 1) Duas situações extremas podem ocorrer: a de uma oferta perfeitamente inelástica ou rígida, e a de uma oferta infinitamente elástica ou perfeitamente elástica. No caso da oferta perfeitamente inelástica, Es é igual a zero, isto é, as quantidades ofertadasde um produto permanecerão constantes, independentemente das variações que possam sofrer os preços desse bem ou serviço. O melhor exemplo para tipificar essa situação são os produtos agrícolas. Ao longo de uma safra, por mais que os preços variem, a quantidade a ser ofertada - em condições normais - será uma só, e o produtor não tem condições de aumentar ou reduzir a sua área plantada em função do preço. Em outra situação, na qual as empresas apresentam altos níveis de estoque, diante da necessidade de zerá-lo de um dia para outro, a um determinado preço, estaremos diante de uma elasticidade da oferta infinitamente elástica. 2.2 Teoria da produção Esse tema envolve as questões referentes não só ao produto ou serviço a ser produzido, mas também aos tipos e quantidades de insumos – como terra, mão de obra (braçal e intelectual), matérias-primas e materiais processados, máquinas, equipamentos, ferramentas, instalações e capacidade de gestão – que serão utilizados na produção de determinada quantidade do produto. A título de exemplo, para a produção de um automóvel, são necessários vários fatores de produção: trabalho (que inclui o trabalho dos operários, dos engenheiros etc.), capital humano (que inclui o conhecimento e a experiência de cada trabalhador), capital físico (que inclui máquinas, equipamentos e ferramentas, assim como o prédio e suas instalações) e a terra (sobre a qual se construiu o prédio). Além disso, a montadora se utilizou também de muitos outros produtos produzidos por outras empresas, incluindo-se aí motores, vidros, estofamentos, pneus e matérias- primas como cabos, tintas, rebites etc. Assim, utilizando-se de uma determinada tecnologia, que é o método pelo qual os recursos são combinados para produzir bens e serviços, a montadora consegue produzir o automóvel. Esquematicamente, conforme a Figura 1, temos: Figura 1 – Processo de produção Fatores de produção Processos ou métodos de produção Bens e serviços Fonte: Elaborada pelo autor. Economia e Mercado38 Todo esse processo de produção pode ser retratado por uma equação, uma tabela ou um gráfico, desde que mostre as quantidades máximas que se pode produzir de uma mercadoria ou serviço, em determinado período de tempo, utilizando-se de diferentes combinações de insumos e quando a melhor técnica de produção disponível é utilizada. 2.2.1 Função de produção Para que possamos entender os fundamentos que norteiam a teoria da produção, vamos trabalhar com um exemplo bem simples: uma produção agrícola utiliza uma quantidade de mão de obra por unidade de tempo para cultivar uma quantidade fixa de terra. A Tabela 3, a seguir, mostra os volumes possíveis de produção à medida que se varia a quantidade de mão de obra no mesmo espaço de terra disponível. Tabela 3 – Produção agrícola Terra (hectares) Mão de obra (unidades) Produção (toneladas) 10 0 0 10 1 3 10 2 8 10 3 12 10 4 15 10 5 17 10 6 17 10 7 16 10 8 13 Fonte: Elaborada pelo autor. Podemos representar o fator de produção Terra por K, a Mão de obra, por L, e a Produção por Q. Observando a Tabela 3, podemos dizer que a produção total depende da terra e da quantidade de mão de obra, ou seja: Q = f (K, L) Nessa fórmula, K não varia, portanto é um fator fixo de produção, e L varia, então é fator variável de produção. Em outras palavras, a quantidade a ser produzida depende do número de trabalhadores a serem utilizados em um mesmo espaço de terra. Os dados da Tabela 3 estão representados graficamente no Gráfico 11, a seguir. 39A percepção estratégica da economia de empresas Gráfico 11 – Curva da produção agrícola 0 0 3 6 6 1 4 4 72 2 5 8 8 10 12 14 16 18 9 Produção total Número de trabalhadores (L) Produção total (Q) (toneladas) Fonte: Elaborado pelo autor. Observando o Gráfico 11, constatamos que, à medida que se empregam mais unidades de mão de obra, a produção cresce, até atingir a produção total máxima (17 toneladas) com 5 trabalhadores – a inclusão do sexto trabalhador nada acrescenta à produção total. A partir desse ponto, o resultado do emprego de unidades adicionais de trabalho é a diminuição da produção total. Este fenômeno ocorre pela existência de pelo menos um fator fixo de produção, ou seja, a limitação de área ou de equipamentos impede o aumento da produção por um excesso de trabalhadores. 2.2.2 O produto médio e o produto marginal A partir dessas características da produção total, podemos extrair dois conceitos importantes: produto médio (PMe) e produto marginal (PMg). O produto médio do trabalho é definido pela produção total (Q) dividida pelo número de unidades de mão de obra utilizado, como na seguinte fórmula: PMe = Q / L Já o produto marginal do trabalho é dado pela variação da produção total (∆Q) dividida pela variação de uma unidade na quantidade de trabalho utilizada (∆L), como na fórmula a seguir: PMg = ∆Q / ∆L Em outras palavras, por essa definição podemos ter a ideia de quanto cada trabalhador adicional contribui para o aumento da produção total. Economia e Mercado40 Com base nesses conceitos, podemos elaborar a Tabela 4, a seguir, na qual temos os valores do produto médio por trabalhador para cada quantidade utilizada de mão de obra e os valores do produto marginal, que nos mostram quanto cada trabalhador adicional contribui para o aumento da produção total. Tabela 4 – Produto médio e produto marginal na produção agrícola Terra (hectares) Mão de obra (unidades) Produção (toneladas) Produto médio PMe = Q/L Produto marginal PMg = ∆Q / ∆L 10 0 0 - - 10 1 3 3,00 3 10 2 8 4,00 5 10 3 12 4,00 4 10 4 15 3,75 3 10 5 17 3,40 2 10 6 17 2,83 0 10 7 16 2,29 -1 10 8 13 1,63 -3 Fonte: Elaborada pelo autor. Com base nos dados da Tabela 4, podemos elaborar o Gráfico 12, apresentado a seguir, no qual estão representados os produtos médio e marginal associados as várias quantidades de trabalho utilizadas e a produção total. Gráfico 12 – Curvas da produção total, de produto médio e produto marginal Número de trabalhadores (L) PMg, Produto Marginal PMe, Produto Médio Q, Produção Total 0 0 2 4 6 81 3 5 5 -5 10 15 20 7 9 Pr od uç ão T ot al (Q ) ( to ne la da s) Fonte: Elaborado pelo autor. Segundo Nogami e Passos (2016), considerando que o PMg foi definido como a variação na produção total decorrente da variação de uma unidade da mão de obra – um dentre outros exemplos de fator de produção variável –, cada valor do produto marginal deve ser representado no ponto médio do intervalo entre duas unidades. A forma da curva de produção total correspondente é o que determina as formas das curvas de PMe e PMg. Assim, verificamos que tanto o PMe quanto o PMg crescem, atingem um máximo e então decrescem. É possível perceber, também, que o PMg 41A percepção estratégica da economia de empresas está acima do PMe enquanto este aumenta, iguala-se ao PMe quando este atinge seu ponto de máximo e fica abaixo do PMe à medida que este diminui. 2.2.3 Rendimentos de escala O comportamento do produto médio e do produto marginal está também relacionado ao que denominamos rendimentos de escala, que é a relação entre a produção e a utilização de fatores de produção. O rendimento de escala pode ser utilizado para as análises de eficiência técnica de produção, e é medido pela quantidade de produto obtido por unidade de fator de produção empregado, ou seja, pela produtividade. O aumento da produção só pode chegar até certo volume, pois a produtividade começa a cair, fazendo decrescer a eficiência produtiva. 2.2.3.1 Rendimentos crescentes de escala O fenômeno do rendimento crescente de escala ocorre pela especialização no uso do capital e do trabalho. Como exemplo, podemos citar as seguintes situações: • A mão de obra se torna mais especializada à medida que o tempo passa, devido ao processo de aprendizagem que ocorre conforme o trabalhador permanece mais tempo no exercício de sua função. • Um aumento no volume de produção, num primeiro
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